Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Diagnóstico Diferencial Entre Psicose e Autismo PDF
Diagnóstico Diferencial Entre Psicose e Autismo PDF
RESUMO
DIAGNÓSTICO
Este artigo propõe tratar o
diagnóstico diferencial entre psi- DIFERENCIAL ENTRE
cose e autismo infantis conside-
rando que ambas as psicopato- PSICOSE E AUTISMO:
logias referem-se a diferentes
impasses no transitivismo ma- IMPASSES DO
terno, função constituinte do
sujeito e do Outro do bebê. TRANSITIVISMO E DA
Autismo e psicose são aborda-
dos como distintas funções do CONSTITUIÇÃO DO
Outro.
Descritores: diagnóstico; psi- OUTRO
cose; autismo; transitivismo;
Outro.
Sandra Pavone
Yone Maria Rafaeli
33
35
37
39
Se ela lhe diz “você tem frio” quer dizer que ela apela a um
saber no filho, a um sujeito que sabe. São significantes que a mãe
endereça a este filho na medida em que ele saberia, ou seja, em que
ele seria sujeito de um saber. Uma vez que a mãe supõe seu filho
habitado por um saber, quando lhe faz a hipótese, testemunha com
isso, não que ela seria ela mesma o sujeito suposto saber, mas que
ela está marcada pelo Nome-do-Pai, referindo seu discurso transiti-
vista a uma lei terceira.
O que Bergès e Balbo (2003) propõem é muito diferente de
pensarmos que o Outro da criança constitui-se numa diferenciação
gradativa do Outro da mãe. A tese clássica propõe um Outro co-
mum à mãe e ao filho, do qual pouco a pouco a criança vai se dife-
renciar, se individuar. Nesse caso a criança precisaria tomar em-
prestado o Outro materno, até que possa constituir o seu próprio.
Para os autores essa tese ignora a questão do sujeito tal como pro-
posta por Lacan e, assim eles propõem situar que o transitivismo
materno indica uma criança sujeito e o Outro na criança.
Quando a mãe lhe demanda apropriar-se do que ela diz, partin-
do do princípio de que o filho já sabe, há então um sujeito na crian-
41
enviar significantes desde a sua posi- seu Outro. Há saber e há Outro, mas
ção de sujeito. “E, é sem dúvida, des- apenas um – o da mãe.
se lugar que advém o grande Outro No autismo o que se apresenta é
do bebê, tesouro do que ela tem a di- a impossibilidade materna de fazer a
zer ao filho”. (Bergès & Balbo, 2003, hipótese de uma demanda do lado do
p. 9-10) filho.
A mãe de um garoto autista em
tratamento diz à analista:
O Outro nos impasses do Ele fala algumas coisas, doutora:
transitivismo PAPAPA, MAMAMA, palavras que
não têm sentido.
Bergès e Balbo (2003) propõem A mãe não faz a hipótese de um grande Ou-
abordar a questão do autismo e da tro no filho: este não é mais que um puro
psicose na criança a partir destes re- real e ela não força esse real a fim de que
surja um Outro....Eis então uma criança que
ferentes clínicos, ou seja, de impasses
tem um grande Outro vazio de qualquer sig-
que se dão nos dois tempos do tran- nificante e que tem como grande Outro ape-
sitivismo que é o fato da mãe: 1) não nas um signo real: o grande Outro da criança
fazer nenhuma hipótese de um saber é apenas um puro real, um buraco. (Bergès &
no filho e 2) que este saber lhe seja Balbo, 2003, p. 123).
outro. É dizer que ela faz de um modo
que não haja, para ele, nenhum Ou- Assim também podemos ouvir
tro possível. Nos casos em que falha no relato emocionado da mãe de um
um dos tempos do transitivismo, o autista, que olhava de canto de olho.
Outro do filho não tem nenhum sig- A analista lhe diz:
nificante ou está referido a significan-
tes que não lhe são próprios. Essas – Tá me provocando, hein? Quer
teses colocam a problemática tanto do brincar de pega-pega?!
autismo como da psicose.
No autismo a mãe não se afeta A mãe espantada pergunta:
pelo que afeta o bebê e assim ela não
fará a suposição nem de um sujeito, – Como você consegue se enganar as-
nem de um saber na criança. Essa sim? Eu gostaria muito de poder me
ausência terá como consequência o enganar assim!
caso em que a mãe diz “isso vomita,
isso chora, isso mija.” Esse pequeno relato revela que
Na psicose o que a mãe articula é por meio de seu imaginário, no seu
não supõe que o significante que es- discurso, por seu discurso, que uma
taria do lado dela, também estaria pre- mãe imaginariza a demanda do filho.
sente do lado do filho. Ela priva-o de Como consequência dessa impossibi-
43
45
Transitivismo e o corpo na
psicose e no autismo
autismo..
47
_ “É um disfarce”.
_ “E para que um disfarce?”
_ “Essa é a única forma de surpreender a minha mãe”.
49
Calligaris, C. (1989). Introdução a uma clínica diferencial das psicoses. Porto Alegre:
Artes Médicas.
Figueiredo, A. C., & Machado, O. M. R. (2000). O diagnóstico em psicanálise: do
fenômeno à estrutura. Ágora, 3(2), 65-86. Recuperado em 05 de maio de 2011,
de www.scielo.br
Jerusalinsky, A. (1993). Psicose e autismo na infância: uma questão de linguagem.
Revista da APPOA, (9), 62-73.
Jerusalinsky, A. (1996a). Para uma clínica psicanalítica das psicoses. Estilos da Clí-
nica: Revista sobre a Infância com Problemas, 1(1), 146-62.
Jerusalinsky, A. (1996b). Autismo: a infância do real. Am(a)relinhas. À margem da
infância. Um estudo transdisciplinar da psicose e do autismo. Biblioteca Freudiana de
Curitiba, n. 3, pp. 9-14.
Jerusalinsky, A. (2005). Quem analisa crianças? Correio da APPOA, 134 , 7-14.
Kupfer, M. C. M., & Voltolini, R. (2008). Uso de indicadores em pesquisas de
orientação psicanalítica: um debate conceitual. In R. Lerner & M. C. M. Kupfer
(Orgs.), Psicanálise com crianças: clínica e pesquisa (pp. 93-107). São Paulo: FAPESP/
Escuta.
Lerner, R., & Kupfer, M. C. M. (Orgs.). (2008). Psicanálise com crianças: clínica e
pesquisa. São Paulo: FAPESP/Escuta.
Soler, C. (2007). O inconsciente a céu aberto da psicose. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Zenoni, A. (1991). “Traitement” de l’autre. Préliminaire, Antenne 110(3), 101-13.
spavone@pucsp.com.br
yrafaeli@pucsp.com.br
Recebido em maio/2011.
Aceito em junho/2011.
51