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Ó sino da minha aldeia

     Ó sino da minha aldeia,


     Dolente na tarde calma,
     Cada tua badalada
     Soa dentro da minha alma.

 5   E é tão lento o teu soar,


     Tão como triste da vida,
     Que já a primeira pancada
     Tem o som de repetida.

      Por mais que me tanjas perto


 10 Quando passo, sempre errante,
     És para mim como um sonho.
     Soas-me na alma distante.

    A cada pancada tua


 15 Vibrante no céu aberto,
     Sinto mais longe o passado,
     Sinto a saudade mais perto.

Gato que brincas na rua

Gato que brincas na rua


Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
 
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
 
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
 
Tenho tanto sentimento

Tenho tanto sentimento


Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,


Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é verdadeira


E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

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