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Indígenas Guarani Protestam Contra Construção de Condomíno No Jaraguá
Indígenas Guarani Protestam Contra Construção de Condomíno No Jaraguá
ENTREVISTA
Os Guarani Mbya alegam que a Tenda S.A não realizou nenhum estudo de impacto
socioambiental do empreendimento na comunidade indígena de sete aldeias e
cerca de 500 moradores, o que contraria um decreto do Ibama. Em protesto, os
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5/26/2020 Indígenas guarani protestam contra construção de condomíno no Jaraguá
indígenas
ocupam a área comprada pela empresa — que obteve na justiça liminar
para a reintegração de posse que pode ocorrer a qualquer momento.
“Nós já avaliamos que vai ser um impacto definitivo, vai colocar em risco, significar
a extinção de um dos nossos núcleos, do nosso modo de vida tradicional. Não
existe compensação para isso, você vai acabar com famílias, com a nossa
ancestralidade”, afirma Thiago Henrique Karai Jekupe, líder guarani no Jaraguá.
De acordo com Thiago Jekupe, o luto Guarani Mbya dura tempos indeterminados,
seguindo orientações espirituais e outros sinais vindos do próprio meio ambiente.
“Nós viemos rezar por diversas árvores caídas. Observamos a lua, o tempo de
chuva, são questões tradicionais nossas”, defende o indígena.
Em sua ação de reintegração de posse, a Tenda S.A afirma que a derrubada das
árvores foi aprovada pela Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da Cidade de
São Paulo (SVMA) e que representa um “baixo impacto ambiental”, e portanto não
estaria sujeita a licenciamento ambiental.
A área de mais de 8 mil metros quadrados adquirida pela Tenda S.A está
abandonada há cerca de 15 anos. A Tenda S.A respondeu, em nota, ter adotado
todos os procedimentos necessários para a legalização do empreendimento. Para
os guarani, no entanto, a empresa está se embasando na legislação municipal e
estadual de São Paulo, e ignorando as leis federais que protegem os direitos
indígenas.
Após uma reunião no Ministério Público Federal de São Paulo (MPF-SP) na última
quinta-feira, os guarani alegaram que há representantes da Tenda e da Prefeitura
Municipal de São Paulo que não entrarão em nenhum acordo com a empresa, que,
segundo as lideranças Guarani, chegou a considerar abrir mão de até 50% da área
adquirida.
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Reprodução
Jekupe afirmou ainda que durante a reunião a Funai negou ter autorizado a obra,
como escrito na ação de reintegração de posse, e afirma apenas ter sido consultada
sobre a localização do terreno em relação à T.I Jaraguá.
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No
final da reunião do MPF, o procurador Matheus Baraldi Magnani afirmou que
vai pedir pronunciamento formal do Ibama sobre a necessidade do estudo de
impacto socioambiental antes de tomar qualquer decisão.
Julia
Dolce/Agência
Pública
Thiago Jekupe repassa informações da reunião com o MPF em assembleia com os demais indígenas
e apoiadores da ocupação
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Na
reunião com o MPF as lideranças guarani mencionaram terem duas
propostas para a Tenda S.A: o estudo de impacto socioambiental e a
negociação com a Prefeitura para a transposição da obra. Vocês
acreditam que a Tenda S.A aceitaria a opção de realizar o estudo?
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Na
verdade, se forem fazer um estudo hoje, conforme a lei manda, a comunidade
iria participar, para avaliarmos o impacto da obra na comunidade. Nós já
avaliamos que vai ter um impacto definitivo, vai nos colocar em risco, significar a
extinção de um dos nossos núcleos, do nosso modo de vida tradicional. Não existe
compensação para isso, você vai acabar com famílias, com a ancestralidade.
Você diz que eles fizeram uma conversa corrupta, por que isso? Por
que passaria por cima do estudo ambiental?
Porque isso é crime, a legislação é clara: eles têm que fazer o estudo de impacto. Se
fosse para tentarem qualquer tipo de negociação, eles teriam que acionar o
Ministério Público e a Funai e fazer esse trabalho junto a eles. Nós poderíamos,
sim, ter uma tentativa de acordo, mas tem que ser legítimo, não pode
simplesmente a empresa tentar fazer a comunidade aceitar um crime ambiental.
Quando vieram falar com a gente disseram que seriam 4 mil árvores “isoladas”
derrubadas, falaram que seriam cinco torres construídas, falaram que não tinham
animais silvestres, que tinham todas as licenças e que tinham uma autorização da
Funai. Eles bateram o pé nisso e a gente tem prova que falaram. E agora eles
negam, porque a Funai cobrou eles. Hoje isso caiu por terra, porque a Funai exigiu
do MPF e da Tenda que ela não use mais esse argumento, porque o que eles têm é
o mapa que pediram à Funai para ver se a área fazia parte da TI.
Julia
Dolce/Agência
Pública
Após derrubada das árvores, comunidade Guarani Mbya realizou o plantio de mudas na área
adquirida pela Tenda S.A
É o que é mais viável para a Tenda fazer. Se quiserem seguir os trâmites legais
agora, o que seria necessário, o embasamento legal que tem que ser feito, não tem
como nós fugirmos disso, se a legislação for cumprida, nós teremos que respeitar.
O mais viável para eles é conseguir outro terreno, com a Prefeitura. Se não querem
fazer isso, vamos continuar lutando para que a legislação seja colocada em prática,
e se tentarem forçar a barra se abraçando nas leis municipais e estaduais, podemos
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judicializar
essa situação e levar para frente na justiça.
Julia
Dolce/Agência
Pública
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Crianças Guarani Mbya percorrem livremente a ocupação na área comprada pela Tenda S.A, e estão em r
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E
sobre a situação do despejo? O que vocês discutiram com a Tenda?
Que o nosso luto termina no outro sábado, isso é certo. Porém, a decisão de sair
vem em coletivo e por uma decisão espiritual também, a gente vai fazer uma última
reza e o Xeramõí (guia espiritual) vai receber dos Tupã Kuery, do nosso Deus (em
todas suas evoluções), o que a gente deve fazer a partir desse momento. É um luto
tradicional. Nós viemos para rezar por diversas árvores caídas.
Algumas crianças já passam a não falar mais a língua guarani, isso vai acontecendo
aos poucos, e isso com a especulação imobiliária afastada da gente. Agora imagina
mais de 300 apartamentos grudados na nossa aldeia, um monte de brancos
olhando para nós de cima de prédios, 24 horas, o trânsito de pessoas, o contato que
vamos ter, porque serão nossos vizinhos. Como eles vão nos tratar? No próprio
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já tem pessoas que nos tratam com racismo muito grande depois desse
acampamento, falando absurdos para a gente. Não tem como a gente aceitar.
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