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(Novo Testamento 2 comecar uma explica- edo do Novo Testamento tive de reconhecer que néo sow o primeiro a encetar a tarefa, Durante os séculos Passados muitos exposito- res eruditos tém contribul- e fim, e até em nossos dias alguns mestres Brados tém escrito sobre 0 mesmo assunto, j niin me atrevi a tentar um trabalho origi- fazer caso da contribuigdo de outros. Con- sultei os\escritos de Bullinger, Gray, Scofield, Serox- gie, Goodman, Thompson ¢ outros, e quando me pa- receu conveniente, traduzi as préprias palavras deles citando seus nomes. proposito deste tivro é apanhar o ensino princi- pal dos capitulos, notar os pensamentos sugeridos por um estudo cuidadoso, e apontar as ligdes que po- demos aproveitar. Mas foi preciso atender ao espaco dispontvel e evitar fazer um livro grande demais. Por isso as explicagdes sdo resumidas, e ainda resta algu- ma coisa por dizer. ‘Nao quis fazer um estudo meramente intelec- tual, mas antes colher as verdades que mais influem em nossa vida espiritual e que reforcam nosso dnimo para seguir com paciéncia @ carreira cristé. Contudo, néo podia totalmente fugir de encarar 0s udrios problemas textuais ou criticos que chamam a atencdo do leitor estudioso. Estes tém sido trata- dos resumidamente. Fiz o possivel para explicar os verstculos que ds vezes sd0 mal compreendidos, ou, no caso de o problema parecer insoliivel, confesso minha incopa- cidade para resolvé-lo, Hé alguns aspectos da verda- de que talvez nunca poderemos elucidar completa ‘mente até “conhecermos como somos conbiecidos" (1 Co 14.12). Para esta segunda edigao, 0 “Novo Testamento Explicado foi escrito inteiramente de novo, com a exposigdo, muito ampliada ¢ aproveitando tudo quanto era mais essencial na primeira edi Para dar lugar a tanta matéria nova, foi necessd- rio omitir o texto da Escritura, de maneira que o lei- Prefacio tor precisard ter a sua Biblia aberta para poder ‘acompanhar as explicacées. Desta vez, como no “Velho Testamento Explica- do", geralmente traduzi as Introduces do dr. C.1. Scofield e as Andlises do dr. Graham Scroggie. Con- sultei também ‘The Numerical Bible” de F.W.Grant, e outros expositores de confianga, a fim de pér ao alcance do leitor 0 ensino de alguns dos mais eruditos dos ensinadores biblicos cujas obras ainda ndo foram traduzidas pare o portugués. Séo repetidas as propostas emendas de tradugdo ‘que apareceram na primeira edicdo, fazendo referéncia quase sempre aos livros em que o motivo da emenda €araplamente discutido. Rejeitar qualquer proposta emenda de traducdo sem primeiro investigar as suas razdes seria uma imperdodvel leviandade, tendo-se em conta a importdncia do assunto. Mas é preciso notar que quem aceita o texto grego de Nestle como infativel nda poderd compreender @ maioria das cor- regdes que 08 mais eruditos mestres tém aprovado. Se 0 espaco tivesse permitido, muitas outras ‘emendas de tradugdo poderiam ter sido feitas. Al- meida poderia ser muitissimas vezes corrigida de acordo com a V.B. A Versio Brasileira pode também ser corrigida por Almeida, certamente em todos 08 lugares onde Almeida tem letra itdlica e a V.B, ndo tem. Isto é especialmente importante em Hebreus 8.8. O préprio leitor pode fazer algumas emendas. Por exemplo: substituir por bispo, “superintendente”; Por didcono, “servo”; por igreja, “congregacdo”’; mas nem. sempre (veja Le 11.38) por batizar, “imergir”. Convém saber que os tradutores da V,B, omitiram centenas de vezes a palavra grega “kai Almeida essa palavra sempre se encontra no seu de- vido lugar. Nenhum dos tradutores até agora (1946) tem respeitado a freqtiente omissdo do artigo defini- do antes de “‘esptrito santo”, e por isso eles vérias ve- zes confundém 0 divino Doador com seus dons. Este assunto é amplamente discutido na “Biblioteca Evangélica”, Livro 2, pags. 57-64, A ~ The Christian's Armoury, por W.R. Bra- dlaugh. AL = Vornio de Almeida. Angus —Histéria, Doutrina, ete., por J. Angus CH Life and Epistles of St. Paul, por Cony- beare & Howson. c ~Causes of Corruption, por Burgon & Miller. Fig. _—_~ Versio de Figueiredo. G ~ The Giver and His Gifts, por Bullinger. GAS ~The Book of the Twelve Prophets, por George Adam Smith. Goodman-Dr. Geo. Goodman, om Notas Diérias, ete. Grant ~The Numerical Bible, por F_ W. Grant. SAbreviaturas ~How to Enjoy the Bible, por Bullinger. “ae Decne of the Prophet, por Kirk- J K ee the Outline Bible, por Robert Lee. 0 = Our Translated Gospels, por C.C. Tor- rey. R ~The Romance of the Hebrew Language, por Saulez. RR. The Revision Revised, por Burgon. Scofield - The Scofield Bible, por on C.L. Scofield. Scroggie - Dr. Graham Scroggie, em Notas Diarias, am ~The ‘Treasury of Scripture Knowledge. V.B. —_- Versio Brasileira. escritor do primeiro evangelho no nosso Novo Testamento foi Mateus, chamado também de Levi, um judeu da Gafiléia, que aceitara o cargo de cobrador de impostosfob o opressor romano, tornando-se, por conseguintg um dos odiados “publicanos” A data go Evangelho de Mateus tem sido muito itida, Shas néo ha motivo convincente para se duvidar da data tradicional de 75 d.C. Tema. O escopo e propésito deste Evangelho vao indicados no primeiro versiculo: 60 “livro da geragdo de Jesus Cristo, filho de Davi, fitho de Abrado”. Esta declaragio liga-o imediatamente com duas das mais importantes aliancas do V.T.: a alianea davidica de soberania e a alianca abradmica da promessa (2 Sm 7.8-16; Hb 11.17-19). ‘Mas a caracteristica predominante de Cristo em Mateus ¢ a do Rei prometido, o Renovo de Davi (Jt 23.5; 88.15). Mateus registra: a genealogia de Cris seu nascimento em Belém, a cidade de Davi, de acordo com Miquéias 5.2; o ministério do seu precur. sor, segundo Malaquias 3.1; o ministério do Rei; sua rejeig&o por Israel, e as suas predigdes de uma segun- da vinda em poder e grande gloria. Somente depois de ter apresentado Cristo como Rei é que Mateus volta alianga anterior, relatando 4 morte expiatéria do Filho de Abrado (Mt 26-28). Essas consideragdes determinaram o propésito e aestrutura de Mateus, que ¢, em primeiro lugar, 0 Evangelho para Israel, e, extensivamente, pela mor- te expiatéria de Cristo, um Evangelho para todo 0 mundo, livro divide-se em trés partes prin 1. A manifestagdo de Jesus cristo Fil Filho de Davi, a Israel, e a sua rejeicdo (1.1 a 25.46). As subdivisdes desta parte so: a) a genealogia oficial do Rei, e seu nascimento (1.1-25); b) a infancia e obscuridade do Rei (2.1-23); ¢) o reino que se aproxima (3.1 a 12.50); (Mateus ) 08 mistérios do reino (13.1-52); ) © ministério do Rei rejeitado (13.53 a 23.39); f) a promessa do Rei de bars em a bodes gloria (24.1 a 25.46). crificio e reesurrei¢do de Jesus Cristo, Fi- lho: ay Abra ao 8. 1a 28.8). enhor em. ressurreicdo, ministrando aos seu ea 350) (Scofield). foi primeiramente escrito em hebraico ou oan visando especialmente aos judeus, por isso 0 V.T. é citado muitas vezes”. Mateus retrata Cristo como Rei. A palavra reino ‘encontra-se 55 vezes, reino dos céus 32 vezes, e Filho de Davi 7 vezes. O Evangelho do reino pregado por Cristo e seus discipulos (4.23; 10,7) ndo ¢ idéntico a0 Evangelho pregado hoje. Aquele era a boa noticia de que Deus estava para estabelecer sobre a terra um reino politi- co e espiritual, governado por Jesus, como o Filho de Davi. Este se ocupa com o dominio espiritual de Cristo. O Evangelho do reino foi pregado até a rejei- 40 e crucificagao de Cristo, e serd pregado nova- mente durante a Grande Tribulacdo (24.14) e antes da Segunda Vinda de Cristo como Rei. “As boas- Novas que pregamos hoje sio concementes a salva- ‘go por Cristo, e a chamada de um povo seu. Isto ¢ 0 10 da graga de Deus” (Lee). Mateus, Marcos, e Lucas so chamados ds evan- gel indticos” (da palavra latina “Synopticos” “que tem forma de sinopse; resumido", Candido de Figueiredo), porque narram a vida de Jesus de modo mais ou menos idéntico, e apresentam uma vista ge- ral dos incidentes mais notdveis. Jodo, porque trata do assunto com outro propésito ¢ sob um outro pris- ma, ndo 6 um dos evangelhos “‘sindticos”. O titulo “sinético” foi primeiro empregado por Griesbach (F. W. Grant). ANALISE DE MATEUS 1. A preparagdo do Rei (caps. 1 a 4.16). LL. A descendéneia do Rei (1.1-17). Mateus 2. 0 advento do Rei (1.18 a 2.23), .3. O embaixador do Rei (3.1 4. A progressio do Rei (3.13 a 4.16), Programa do Rei (4.17 a 16.20). .1. 0 comego do Reino (4.17.25). .2. 0 manifesto do Reino (caps. § a 7). 2.3, Os sinais do Reino (caps, 8 e 9). 2.4. Os mensageiros e mensagens do Reino (caps. 10 e 11). 2.5. Os principios do Reino (cap. 12). 2.6. Os mistérios do Reino (13.1-52). . A ofensa do Reino (13.53 a 16.20), do do Rei (16.21 a cap. 28). revelacdo do Rei (16.21 a 17.27). doutrina do Rei (caps. 18 a 20), |. A rejeico do Rei (caps. 21 a 22). A acusagao do Rei (cap. 23) . As predigdes do Rei (caps. 24 © 25) 3.6. Os sofrimentos do Rei (caps. 26 ¢ 27). 3.7. A vitéria do Rei (cap. 28) - (Scroggie). A MENSAGEM DE MATEUS © propésito deste Evangelho é mostrar que Je- sus, a quem os judeus crucificaram, era o Messias predito, por isso abundam as referéncias ao V.T. em niimero superior a oitenta, havendo mais de quaren- ta citagdes verbais. A frase “que fosse cumprido” ocorre nove vezes, © mais nove vezes se encontram “cumprir” ou “cum- prido”. Jesus nasceu de uma virgem, como foi predito por Isaias (Mt 1.23), nasceu em Belém, de acordo com a profecia de Miquéias (Mt 2.5,6); desceu ao Egito, de acordo com Oséias (Mt 2.15); morou em Nazaré, cumprindo a esperanca (Mt 2.23). Deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, para cumprit a profecia (Mt 4.13-16); ¢ Ele veio, no para destruir a Lei, mas para cumpri-la (Mt 5.17.18). Quando cura- va, fazia-o de acordo com a profecia (Mt 8.16,17), € seus discursos eram 0 cumprimento das Escrituras (33.10-15). A sua entrada em Jerusalém, a deniincia, a cap- tura no Jardim, a sua morte e a maneira pela qual se realizou, a sua vor na cruz, 0 seu enterroe a sua res- surreigao, todos estes fatos se deram de acordo com as Eserituras, para que fossem cumpridas, No monte da Transfiguragio, o Pai testificou dele por citagées tiradas das trés partes das Sagra- das Escrituras: a Lei, os Profetas, e 0s Salmos, e, mediante essas mesmas Escrituras, Jesus derrotou 0 Diabo no deserto, ‘Tao intimamente esto ligados a vida e ministé- rio de Jesus revelago do V.T. que para entender a Cristo ¢ necessério conhecer as Escrituras do V. para entender ossas mesmas Escrituras preciso shecer a Cristo. E desta verdade Mateus ¢ o exposi- tor. 1 i 1 2.0 2, 2. Capitulo 1 A genealogia de Cristo (1-17). Lemos aqui da des- cendéncia de Jesus desde Abraio; em Lucas, da sua ascendéncia até Adio. Ha algumas diferencas nos nomes citados nas duas genealogias, mas ndo pode- mos reproduzir aqui todas as explicagdes que temos lido a respeito, A mais comum é que em Mateus te- mos a genealogia de José, e em Lucas a de Maria. 310 (Veja-se, porém, a nota explicativa de Lucas 3.23- 38.) O nascimento de Jesus Cristo (18-25). Podemos notar os seguintes fatos: a concei¢ao milagrosa; 0 propésito de José; a declaragao do anjo; os dois no- mes do Filho; a obediéncia ¢ a continéncia de José. Aprendemos: que Deus tem poder para realizar uma encarnagéo milagrosa; que uma resolugdo hu- mana pode ser corrigida por uma revelacdo divina; que uma profecia foi cumprida; que temos aqui 0 exemplo de um casal submisso Palavra de Deus. © versiculo 23 refere-se a Isaias 7.14. Sobre este versiculo escrevemos no Velho Testamento Explica- do: “Sabemos de Mateus 1.21-25 que o completo e fi- nal cumprimento desta estranha profecia deu-se com 0 nascimento de Cristo. Contudo, havemos de entender que, em algum sentido, houve um cumpri- mento parcial e suficiente nos dias de Acaz para ser- vir-lhe de ‘sinal’ e provar a veracidade do profeta”. Capitulo 2 A visita dos magos (1-12). Nao sabemos se eram trés, nem se eram reis, mas vemos que eram sdbios e vieram do Oriente, guiados por uma estrela, tendo tido a revelacdo referente a um menino que havia de “nascer rei”. Geralmente quem vai ser rei nasce principe herdeiro, Notenios: a perturbacio ¢ a oposigio de Herodes, © Grande, que jé estava reinando havia 40 anos na Judéia; a informacao dos sacerdotes e escribas, ins- truidos na verdade, mas indiferentes sua apli io; a astiicia do rei; a homenagem dos magos e sua obediéncia a ordem divina, Jesus nao esté mais na manjedoura da estala- gem, mas em casa (v. 11); e alguns entendem que jé tinha um ano de idade, e que Maria, depois de pas- sar 12 meses em Nazaré, estava de visita em Belém pela segunda ver (v. 16). F. W. Grant observa que no versiculo 6 0s sacer- dotes e escribas néo citam Miquéias 5.2 textualmen- te, pois trocam a palavra “reinar” por “‘pastorear”. Ele pensa que isso pode ser para reprovar o rei Hero- des, que estava muito longe de ser um pastor para seu povo. Porém pode também ter sido para néo pensar que qualquer outro reinasse em Israel sendo ele. Aprondemos deste trecho: que neste mundo um poder maligno costuma opor-se a0 Sumo Bem; que um governador iniquo pode ter receio de uma crian- ga santa nescida que Jesus é digno da nossa adoragio e nossas didivas; que convém mais obede- cer a Deus que a homens. A fuga para o Egito e a matanca dos inocentes (13-18). Nestes dois capitulos um anjo do Senhor (A- RA) fala trés vezes a José - mas sempre em sonhos. ‘Na segunda vez (v.13) mandou-the fugir para o Egito “até que eu te diga”’; assim mais uma profecia cum- priu-se (Os 11.1). Lendo em Oséias, 0 trecho parece, primeira vis: ta, ndo ter nenhuma referéncia a0 Messias, mas quando examinamos a literatura judaica verificamos que Exodo 4.23, sobre o qual Oséins 6 baseado, “era aplicado pela antiga sinagoga ao Messias” (E- dersheim citado por Ingram). Herodes, irritado, manda matar os inocentes, e, inconscientemente, cumpre outra profecia (Jr 31.15). Raquel, mulher predileta de Jacé, é aqui a figura de Israel. Alguns entendem que havia uma localida- de perto de Belém chamada Rama. Edersheim calcula que o mimero de meninos mortos por ordem de Herodes em Belém e arredores podria ser de uns 20, Um mimero relativamente pe- queno, em vista do grande niimero de assassinatos que esse rei mandou cometer durante seu longo rei- nado. E na prépria familia mandou matar Hircano, avd de sua mulher Mariana, depois a propria Maria- na, seus dois filhos Alexandre e Aristébulo, e, apenas cinco dias antes do sou proprio falecimento, a seu fi- tho primogénito Antipater, e outros (Ingram). ‘Aprendemos deste trecho a escutar a voz divina, que pode falar pela Sagrada Escritura ou pela voz do pregador. Notemos quo desde esses tempos muitos inocentes tém sofrido. Um édio cego contra Cristo tem motivado muitas perseguigies. “'Serd chamado nazareno” (y. 23). Bates palavras ndo foram escritas por nenhum dos profetas, mas po- diam ter sido ditas por algum deles. “Temos visto que foi dito pelos profetas que Cris- to, durante sou ministério terreno, teria um nome de desprezo e oprébrio, e Mateus resume estas profecias nas palavras figuradas mas corretas, serd chamado nazareno” (Neil). Contudo pode ser preferivel a emenda de tradu- $40 “seré chamado Renovo” (Ze 6.12), a palavra hebraica “nezer”, renovo, vara, sugerindo nazareno. Capitulo 3 Yodo Batista prega o arrependimento (1-12), “Jodo Batista é a tinica pessoa do N.T., exceto nosso Senhor, cuja obra foi predita no V.T. Em Isafes 40.3 ele é a ‘voz do que clama no deserto: preparai 0 ca- minho do Senhor’. Em Malaquias 4.6 fala-se dele: ‘Bis que eu vos envio o profeta Elias, antes que ve- nha o dia grande e terrtvel do Senhor’. © Senhor diz- nos em Mateus 11.14 que isto se rofere a Joao” (Goodman). Aqui Jodo Batista aparece de repente. Em Lucas Lemos a sua histéria anterior. Nos versiculos 1-6 de nosso capitulo temos um resumo do seu aspecto, ser- vigo e éxito, Comendo gafanhotos (v. 4). “O erudite e verda- deiro escritor Burckhard assim fala deste assunto: “Todos os arabes habitando as vilas de Nejd e Hed- jaz comem gafanhotos. Tenho visto em Medina e ‘Tayf lojas onde se vendem gafanhotos por medida. ‘No Egito, na Nubia, so comidos apenas pelos mais pobres. Os drabes, para preparar os gafanhotos como alimento, péem-nos vivos a ferver em Agua em que ha bastante sal. Depois de alguns minutos tiram-nos. ¢ secam-nos no sol. Entdo sio tiradas as cabecas, pernas e asas. Os corpos quando bem secos sfo pos- ‘tos em sacos. As vezes comem-se em manteiga” (The Land and the Book). (Veja-se Levitico 11.22.) © reino dos céus (v. 2) refere-se ao reino terrestre prometido a Israel no V.T. sob 0 dominio do Mes- sins. E © governo dos céus sobre a terra (Dn 2.44; Mt 6.10). Quando Israel rejeitou seu Rei, esse reino foi adiado até a sua volta gloriosa. @s crentes provam ji as bencdos espirituais do governo de Cristo. “Pari queno Diciondrio Biblice.) Diz-se que o batismo com agua (v.6,13;ete.) era um rito usado pelos judeus quando faziam prosélitos dentre os gentios. saducous, escribas". (Veja-se no Pe- Joao Batista, nao podendo sugerir uma pessoa em nome de quem batizasse 0 povo, apontou para o arrependimento como centro espiritual dos piedosos, e falou de outrem, que usaria outro batismo, nao de agua, mas com o Espirito Santo ¢ com fogo, Os cren- tes (0 trigo), seriam batizados com o Espirito, os descrentes, a palha (futuramente), no fogo. O embaixador do Rei (1-12). que Jesus dis- se de Joiio Batista no capitulo 11.7-15, considerando neste trecho: 1) 0 homem (1-4), notando com cuida- do suas caracteristicas. 2) Sua missdo (5,6) que era bastante limitada. Ele 6 chamado o “batista”” por- que seu trabalho era batizar. Paulo ndo podia ser chamado o batista porque disse: “Cristo enviou-me, néo para batizar, mas para evangelizar” (1 Co 1.17). © batismo de Jodo nao era o batismo cristo (em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo), mas do arrependimento, a fim de “preparar 0 caminho do Senhor”. 3) A sua mensagem (7-12). De acordo com a dispensacao que ele representava, a mensagem ndo era de conforto, mas de aviso. Notemos as palavras empregadas: viboras, ira, machado, fogo, palha, queimar. Estas ndo sio palavras evangélicas, mas a Lei era uma preparacio necessiria ao Evangelho. ‘Antes de poder haver conversdo precisa haver con- viegdo (Scroggie). Capitulo 4 0 conflito entre Cristo e Satands (1-11). 0 dr. Scroggie estuda este trecho assim: 1) Os combatentes no conflito: Jesus ¢ o Diabo. Sendo Jesus uma pessoa, ndo é razodvel dizer que 0 Diabo 6 uma mera influéncia. B certo que o Diabo ¢ pois do batismo, da descida do Espirito, da voz do Céu. Mas antes de Jesus entrar no seu ministério publico. 3) O propésito do conflito. Por.parte de Satanis, tentar; pelo lado de Deus, provar. De um lado, uma provaciio para derrotar Jesus; do outro lado, a prov edo para comprova-lo. Cada tentagdo ¢ u1 $80, mas nem toda provacdo é ume tentacio. 4) A cena do conflito: Um deserto. Lembremo- nos de que a primeira tentagdo se deu num jardim. Nao ha nenhuma circunsténcia em que nio possa- ‘mos ser tentados. Nao ¢ mudanga de lugar que ne- cessitamos para ganhar a vitéria, mas mudanca de coragio. Adio caiu no jardim; Jesus prevaleceu no deserto. 5) A determinagéo do conjlito. Jesus foi “condu- zido pelo Espirito". Marcos diz que foi “impelido pelo Espirito”, 6) A duracdo do conflito. Por 39 dias Jesus foi acomotido de perseguigdes diabélicas, mas 0 conflito principal foi no quadragésimo dia. © que fazemos durante os 39 dias determinaré nossa vitéria ou der- rota no Ultimo ¢ grande dia da prova. 7) 0 plano do canflito (Hb 4.16). A primeira ten- taco referia-se ao apetite; a segunda a ventura; a tereeira & ambigi 8) 0 éxito do conjlite. Jesus venceu! Os nossos préprios conflitos com o mal resultam em vitérias? derrotas? ou indecisses? Podemos estudar oste trecho de outra maneira, usando as divisdes: 1) © preparo para a tentacdo, 2) O poder contra a tentagio, 3) © proveito da tentacdo, Bil Mateus 1) O preparo para a tentagdo comega: a) por néo negligenciar nenhum dever, mas “cumprir toda a justica”; b) por eacutar a vor de Deus e pensar no bom prazer dele; c) por submeter-se a diregdo do Espirito Santo; d) por um tal afastamento do mundo que Deus seja 0 nosso tinico recurso, 2) O poder contra a tentacdo adquiri-se: a) pelo reforgo espiritual que vem do conhecimento do amor de Deus (3.17); b) pela dedicagao que quer agradar 20 Pai antes de tudo; c) pela dependéncia que consi: dera 0 tinico e suficiente recurso; d) pelo conheci- mento da Palavra, e sujeigdo a ela; e) pelo desprezo das riquezas ¢ honras mundanas sem Deus. 3) O proveito da tentasdo pode ser: a) em u1 compreensdo mais viva da nossa dependéncia; major conhecimento do socorro divino; c) em maior confianca para enfrentar conflitos futuros. Cada um deve pensar: como costuma ser tenta- do; por que tem sido vencido; como pode ser vence- dor. ‘Aprendemos deste trecho: que depois de uma ex- periéncia espiritual (3.16), segue-se uma tentagdo carnal; que as mais fortes tentagSes nos assaltam quando estamos sozinhos; que nem sempre é0 Diabo que nos tenta (Tg 1.14); que a Palavra de Deus ¢ 0 nosso recurso; que ndo devemos pedir milagres des- necessirios; que 0 inimigo pode citar a Escritura; que depois do Diabo vém 08 anjos. Jesus inicia o seu ministério (12-25). No estudo deste trecho podemos considerar: 1) O cardter do ministério de Jesus. Ele: a) prega- va o arrependimento, a fim de levar o povo a odiar o mal; b) pregava o reino (veja-se Romanos 14.17), para que 0 povo encontrasse o bem, submetendo-se a0 dominio divino; c) curava, para demonstrar 0 po- der de Deus e a sua compaixéo pelos sofrimentos hu- manos. 2) Os companheiros do ministério, Escolhendo companheiros, Jesus ensinou: a) que nao ¢ ideal tra- balhar sozinho; b) que o obreiro deve pensar em ‘sinar outros obreiros; c) que convém aprender prat camente; d) que Deus prefere chamar gente ocupa- da, e no os ociosos; e) que para servir a Jesus pode ser necessdrio deixar alguma coisa; f) que a obedién- cia & chamada divina deve ser imediata (v. 22), 3) As conseqiiéneias do ministério: a) luz, para quem estava nas trevas e na sombra da morte; b) satide, para os doentes; ¢) servigo, para os discipulos (v. 19). Perguntas: Que significa para nés 0 ministério de Jesus? Porventura obtivemos dele nova satide espiri- tual? Temos ouvido a sua chamada ao servico? O que temos deixado para o seguir? Capitulo 5 0 sermdo da montanha: o manifesto do Rei (1- 16), no qual se nos diz quem so os stiditos do reino, ‘quais as suas verdades fundamentais, e como se en- tra nele, (Lucas também registra este serméo, mas dos 107 versiculos citados por Mateus ele menciona apenas 30.) 3s stiditos do reino, seu cardter e sua influéncis (3-16). Cardtere influéncia so intimamente ligados, ois a influéncia nao pode ser melhor do que seu ca- rater. O que somos é sempre mais importante do que © que fazemos. 312 icas daquel podem ser stiditos do reino: Humildade (3), simpatia (4), mansidao (5), retidio (6), misericérdia (7), pureza (8), tranquilida- de (9), lealdade (10-12). Estas ndo sio qualidades que os homens teriam escolhido. A palavra ““bem-aventurado” repete-se nove ve- zes. Nao quer dizer precisamente “feliz”, mas antes Util, prestavel, bem-sucedido na vida espiritual. Podemos tomar estas “bem-aventurangas” como quadro do progresso espiritual de uma alma: Versiculo 3 ~ O humilde de esptrito (VB) talvez nem sempre fosse assim antes de ter conhecimento de Cristo, mas, tendo-se comparadocom Ele, perdeu seu orgulho préprio, reconheceu seu pecado, e arre- pendeu-se. Versiculo 4 ~ Vai mais além: chora 0 mal, ¢ entéo experimenta as consolagdes do Evangelho de Cristo. Versiculo 5 - Vemo-lo depois revestido de Cristo, €“manso e humilde de coragao”. Cresce em graga € no conhecimento de Deus. Versiculo 6 ~ Progride ainda na vida espiritual. Aprecia os valores verdadeiros; ambiciona, ndo pra- zeres, riquezas, comodidades, mas justia na sua propria vida e em redor de Versiculo 7 ~ Ainda mais: pratica o bem, é mise- ricordioso, é altruista como era Cristo. Versiculo 8 - No intimo da sua vida, ele € puro em desejo, pensamentos e palavras. Versiculo 9 ~ Além disso, ¢ ativo em promover a harmonia entre seus semelhantes, nao olhando ape- nas os interesses proprios, mas cuidando dos interes- ses de Deus. Versiculo 10 ~ E mesmo quando mal-entendido, perseguido pelos maus, ele ndo deixa de ser bem- aventurado; e se a perseguicdo chegar ao extremo e ele for morto, conta que o resultado serd uma “me- Ihor ressurreicdo” (Hb 11.35), a qual seri a consu- magao da sua bem-aventuranca. ‘O Rei anunciou a proximidade do seu reino, ¢ agora pronuncia as suas leis. Estas tém dupla aplica- so: futuramente: depois do reino estabelecido; ¢ agora, de algum modo, ao cristdo da atualidade” (Gray). Antes de enunciar os preceitos do reino, Jesus aponta os que poderiio gozar do seu governo, “Bem- aventurado” ndo é 0 mesmo que “feliz”, como o versiculo 4 nos mostra. Significa ser enriquecido por Deus, e esse enriquecimento é no carater, nao nas Possessdes. B “‘o que sou”, e néo ‘‘o que tenho”, que me torna verdadeiramente enriquecido ou bem- aventurado (Goodman). Os pobres de esptrito sio os que, em ver de nagit quando 0 “eu” é ofendido, ocupam-se mais com a honra do Rei. Os que choram, os que lamentam, ndo tanto os prejuizos pessoais, mas a perversidade que hé.no mundo, Os mansos, os que, om vez de se ofen- derem, sabem responder brandamente. Os que ‘amam a justica ¢ a praticam sdo 08 que praticam a misericérdia em obras de caridade. Os puros, os que podem esperar mais clara compreensio de Deus. Os acificadores, 08 que sabem acalmar as contendas. 0s perseguidos e injuriados por amor de Cristo, so os que nada tém aqui, mas esperam um futuro galar- dao. Vemos nos versiculos 13-16 que 0s crentes silo se- melhantes ao “sal”, 4 “luz”, ea uma “cidade”. O sal conserva da corrupsdo, ¢ a luz descobre e manifesta; ‘Mateus uma cidade é um centro de cooperagdo, harmonia, e governo, e, colocada sobre um monte, é bem visivel, Sal que perde seu valor. “Um negociante de Si- dom, havendo obtido do govemo 0 monopiilio do sal, trouxe uma quantidade imensa dos péntanos de Chipre, ¢ alugou sessenta e cinco casas na aldeia de June para armazenar o sal. Estas casas ndo tinham soalhos, e em poucos anos 0 sal depositado no chao perdeu seu sabor. Vi uma grande quantidade atirada 4 rua e pisada pelos homens. Semelhantes armazéns sao comuns na Palestina desde tempos remotos” (The Land and the Book). Cristo e o Velho Testamento (17-30). Ele veio dar cumprimento ¢ atualidade as sombras e s figuras do V.T. Também veio para dar uma interpretago mais espiritual aos preceitos da Lei, coma vemos, por exemplo, no versiculo 28. Versiculo 20. A nossa justica deve exceder a dos escribas e fariseus no seguinte: 1) Nao sendo somente uma pratica exterior, mas nascendo do coracdo. 2) Nao sendo para obter honra dos homens, mas para servir a Deus, 3) Nao sendo limitada por nossos gostos, mas obedecendo toda a vontade de Deus. 4) Néo sendo apenas ocasional, mas sim hdbito, regra da nossa vida (Goodman). Nos versiculos 21,22, “réu de jutzo” refere-se a um tribunal inferior em cada cidade, de 23 membros, que punin 08 criminosos por estrangulac&o ou decapitacdo. “Rew do sinédrio” refere-se ao tribu- nal superior de 72 ancidos, que aplicava a pena de apedrejamento. E preciso ndo “espiritualizar” o versiculo 25, fa- zendo o “adversdrio” uma figura de Deus! E mais prudente tomar as palavras ao pé da letra, com a sua evidente aplicacdo as experitncias desta vida, Os vers{culos 29,30 empregam a linguagem enér- gica do Oriente, que, como ¢ evidente, nao se deve entender ao pé da letra, porque todos compreendem que 0 culpado ndo é olho ou a mao, mas 0 coragdo erverso que desejou tal pecado. A base das boas relacées sociais (27-48). Neste trecho certos males sio reprovados: adultério (27- 30); divéreio (31,32); imprecagdes (33-37); represd- io (43-48). trecho contém também ensino sobre a conduta cristé, e descreve: 1) O cardter da conduta do erente - & submisso (39); € bondoso (40); ¢ altruista (40); é prestavel, e empresta, embora evite tomar emprestado, para nada dever a ninguém (Rm 13.8); é beneficente, nao somente aos bons mas também aos maus, e diz bem até aos maldizentes; ¢ dado a oracio, pedindo pelos amigos e inimigos, desejando a sua felicidade espiri- tual. 2) O padréo da vida do crente 6 “como faz tam- bém 0 vosso Pai” (v. 45). 3) A recompensa da conduta do crente sera prin- cipalmente em ter a aprovagio de Deus; também sentiré a intima satisfacdo em ter procedido bem - a aprovacao da propria consciéncia, e, ainda mais, pode ver o fruto imediato na apreciagdo que seus vi- zinhos ho de manifestar. Sobre a recompensa, devemos estudar com cui- dado Lucas 6.35,38. E sempre verdade que “com a medida com que medirdes, também vos medirdo’ Capitulo 6 Avisos contra a hipocrisia (1-18), no que diz r Peito az 1) Esmolas (1-4): aqui a coisa principal é o moti- vo, que pode ser egoista, mas deve ser espiritual. 2) Oracdo (5-15), que pode ser motivada pela o8- tentacdo (5,6), e por repeticdes vas (7,8). A oragéo modelo, que podemos chamar “Oragdo dos Discipulos” (porque Jesus thes ensinou), ¢ uma oracao perfeita, visto que contém: adoragao, confis- siio, petigao, intercessiio, agdes de gracas (9-13). 3) Jejum (16-18). Sobre o jejum podemos consul- tar Isaias 58.3-7. Diz 0 dr. Goodman: “Jejuar é negar-se a si mes- mo para a gloria de Deus ou para a disciplina do pré- prio corago. Nao é uma observancia religiosa ou uma demonstracdo de piedade”. Avisos contra 0 materialismo (19-34), Aqui temos quatro: 1) Contra a acumutacdo de bens materiais (19- 21), com desprezo de valores espirituais. 2) Contra a falta de sinceridade (22,23). Singele- za de propésito é luz; duplicidade é trevas; sinceri- dade 6 satide; insinceridade 6 doenca. 3) Contra um coracdo dividido (24). 4) Contra a ansiedade (25-34), com respeito a duas coisas comuns, alimento e vestusrio. Os versiculos 25-34 ensinam confianga na prote- gio do Pai, ¢ contemplam o homem cuja primeira ocupacdo é “a reino de Deus e a sua justi¢a”. Aos tais Jesus declara que suas necessidades materiais serio supridas. A maneira, Ele nao a explica. versiculo 28 deve ser traduzido, provavelmen- te: "Considerai as lirios do campo: ndo cardam nem fiam”. Capitulo 7 Néo julgueis (1-6). 0 que aqui ¢ reprovado nao é © discernimento sensato ¢ necessério, mas uma incli- nagao para a censura, que é condenada por dois mo- tivos: porque prejudica o préprio cariter (1,2) e im- pede-nos de servirmos aos outros (3-5). A ilustragéo do argueiro e a trave é penetrante e humoristica. Pretender que no possa haver ministério que remo- ‘va os argueiros, é um erro. O que o Senhor diz é que quem tiver trave no proprio olho néo pode ver clara- mente para tirar 0 argueiro do olho de outro. Quando julgamos pequenas as nossas proprias culpas é certo que havemos de pensar que as dos outros sido grandes (Scroggie). ‘Nossas “pérolas”, no versiculo 6, podem ser as preciowas verdades que somente os crentes tém capa- cidade para apreciar. Por exemplo, o parentesco es- piritual que une a familia de Deus. Mas temos ouvi- do alguém, conversando com descrentes, falar-thes do “irmao Fulano”. Para o mundo esse Fulano ndo é “irmao", mas um cidadio. Oragao (7-12). Notemos quantose trata deste as- sunto no sermio. A oragdo deve ser sincera, confia- da, definida, perseverante. Cardter e destino (15-23). O manifesto do Rei (caps. 5 a 7) fala de trés coisas, a Ultima das quais se considera neste trecho. Elas sio: os stiditos do reino (6.1-16); @ doutrina do reino (5.17 a 7.6); 0 caminho para o Reino (7.7-29). Sob este tiltimo titulo temos diresGes (7-14) e avisos (15-28), 313 “Mateus. Aprendemos dos versiculos 15-20 que devemos conhecer os “profetas” pelos “frutos” do seu ensino e exemplo. Quando qualquer ensino novo produz dis- cérdias entre os crentes, aniquila a espiritualidade dos adeptos, diminui o amor e a caridade, promove discussdes e contendas, podemos saber que quem 0 traz 6 “falso profeta”’ A prova do verdadeiro servo de Deus é que ele faz ‘a vontade do Pai (v. 21). O Senhor gostava de ensi- nar por contrastes; o serméo termina com trés: cami- ho largo e caminho estreito; arvore boa e drvore ruim; fundamento de rocha e fundamento de areia. Os dois alicerces (24-29). O ensino de Jesus é Para ser posto em pratica. Quem basear seu cardter sobre as verdades do Salvador, suportard as tempes- tades © as provagdes. Podemos notar que a palavra grega traduzida “combater” no versiculo 25 nao é a mesma do versi- culo 27. Contudo, o diciondrio no faz muita diferen- a no sentido dessas palavras. Jesus “ensinava como tendo autoridade, endo como os escribas” (v. 29). Os homens necessitam comprovar as suas afirmagdes, citando documentos ou autoridades competentes. Jesus podia afirmar sem necessidade de comprovantes. Capitulo 8 Lepra, paralisia e febre (1-17). Podemos notar que, até o capitulo 8 de Mateus, ndo lemos de ne- nhum milagre de Cristo, e entio temos sete, um apos ‘outro, nos capitulos 8 e 9. Depois das leis do reino (caps. 5 a 7) temos aqui as credenciais do rei em obras milagrosas. Neste capitulo e até 09.8, encontramos um grupo de curas milagrosas que servem para ilustrar mila- gres semelhantes no mundo espiritual, Vernos que 0 pecado contamina (1-4), incapacita (5-13), perturba (14-17), endemoninha (28-34), etc. Notemos que 0 contato com Cristo importava, entiio, como ainda hoje importa, em béngao para to dos. A diivida do leproso curado (v. 2) era referente a vontade de Cristo. Em Mareos 9.22, a divida ¢ do seu poder. “A oferta do leproso curado est determinada em Levitico 14. Abrangia um ritual elaborado. Tinha, como se observa, um sentido tipico. Acompanhando até 0 templo este leproso favorecido por Cristo, e ob- servando a ceriménia, aprendemos como o pecado pode ser expiado, o pecador santificado e recebido entre 0 povo de Deus” (Goodman). O testemunho do homem curado devia estar de acordo com a lei de Deus e nfo com a vontade pré- pria_(v. 4). O centurido crente (5-13) 1) Antes de estar com Cristo podemos acreditar que 0 centurifio ora: @) Um homem disciplinado. Tinha chegado ao grau de-capitao no exército romano depois de alguns anos de disciplina militar. Estava acostumado co: ordem, pontualidade, obediéncia, prontidiio, vigi- lancia, e a convivéncia com companheiros igualmen- te habilitados. 6) Um homem acostumado a mandar e ser obe- decido. ¢) Um homem caridoso, ao menos para com os empregados. 314 d) Um homem que reconhecia as limitagdes dos médicos. ¢) Um homem acostumado a acreditar em pode- res sobrenaturais. Este homem, hayia muito ou pouco tempo, ouvi- ta falar de Jesus. Soubera das curas maravilhosas que Ele fazia, Talver tivesse ouvido alguma coisa dos seus ensinos. Podia té-lo visto e ficado impressio- nado pelo seu aspecto benévolo. 2) Quando estava com Jesus 0 centurido: 4) Mostrou-se respeitoso: rogou-lhe. b) Mostrou-se humilde: disse: “ndo sou digno”. ©) Mostrou-se confiado: pediu uma cura imedia- ta, 4) Mostrou-se contente com pouco: pediu apenas “uma palavra”” da boca de Jesus, porque tinha £6 que seria suficiente. e) Mostrou-se obediente. Quando Jesus Ihe disse “Vai, e como creste te seja feito”, ele foi, © achou servo curado, f) Mostrou-se piedoso: amava a Israel e fizera uma sinagoga para os judeus seus vizinhos (Le 7.5). Notemos que os judeus disseram “ele é digno”’e ele mesmo disse “ndo sou digno”. Vemos que Lucas conta o caso diferentemente: diz que o centuriao, em vez de ir ter com Jesus, man- dou alguns ancidos dos judeus com o recado. Depai cle mandou uns amigos, dizendo: “Senhor, ndo te in- comodes, porque ndo sou digno de que entres debai. x0 do meu telhado” (Le 7.6). Podemos acreditar que ambas as narrativas di- zem a verdade. Que depois de mandar 08 ancifios ¢ amigos o homem mesmo foi ter com Jesus. 3) Depois de estar com Jesus: 2) O centuridio achou satide e satisfagao, de sofrimento ¢ enfermidade. b) O centurido valou-se novamente dos servigos do bem-estimado empregado. ©) O centurido teve preciosas recordags trovista com Jesus sua simpatia e interesso: om lugar 1a voz carinhosa; seu sereno poder; sua palavra autorizada; sou olhar benigno; seu discemimento e apreciacdo da fé ~ e tudo isto ele teria perdido se ndo tivesse mu- dado de propésito e ido pessoalmente ter com Jesus. 4) O centurido tem servido de exemplo e inspira- cdo a milhares através dos ‘séculos, que tém imitado a sua fé, que tém recorrido a Jesus para achar a sal. vagio desejada. A sogra de Pedro (14-17) ¢ um exemplo do lema “salvo para servi uezas humanas (18-34). Os versiculos 18-22 ensinam-nos que o caminho de servigo pode ser 0 ca- minho de sacrificio. Seguir a Cristo importa ter fé: isto 6, ter tanta confianca nele que desejamos partilhar da sua sorte, € com Ele ficamos contentes, quaisquer que sejam as conseqiiéncias, Neste trecho descobrimos: 1) Decisdo apressada: “Mestre, onde quer que fo- res, eu te seguirei” (v. 19). Quando a pesson estd emocionada, a carne aprossa-se a agir. A boa semen: te 6 recebida com gozo mas, ndo tendo raiz, murcha. Por isso o Senhor adverte o discfpulo apressado no versiculo 20, 2) Obediéneia adiada, Aqui temos um caso dife- rente: “Permite-me que primeiramente..." Para o cristo, Cristo deve ser o primeizo de tudo. 3) Pouca fé. E uma coisa estranha que a “grande fé" se encontra num gentio (v. 10) e a “pouca fé” nos diseipulos na companhia do Senhor (v. 26). Pouca fé liga-se com grande medo. 4) Obsessdo diabdlica. Aqui vemos o pecado na sua expresso mais terrivel. Os endemoninhados, ‘um perigo para os outros e uma tortura para si mes- mos (v. 28). Notemos que Mateus fala de dois endemoninha- dos, Marcos e Lucas de um, Também em 20.30 hé dois cegos, e nos outros evangelhos um. E de enten- der que Marcos e Lucas se referem em cada caso apenas ao mais destacado. ‘Neste capitulo encontramos a frase “Fitho do ho- mem" que Jesus emprega a seu proprio respei vumas 80 vezes. Néo devemos pensar que isso signifi- que “filho de um homem”, porque Jesus nao 0 era. Provavelmente é uma alusdo a Daniel 7.13, ¢ tam- bém quer frisar o fato de que Jesus participou da verdadeira humanidade. Jesus nunca falou de si como “filho de Israel”. Parece certo que 2 localidade deste milagre foi Gergesa, como diz. Mateus e nfo Gadara, como tra- duzido em Marcos e Lucas. O nome do lugar hoje & Kersa ou Gersa. 0 assunto ¢ plenamente discutido no “The Land and the Book” p. 371. Capitulo 9 O paralitico de Cafarnaum (1-8). Tem-se dito com razdo: ‘‘Se a vossa religido néo é suficiente para vos impedir de pecar, por que pensar que é suficiente para salvar a vossa alma de perecer?” E. essa a ligio que podemos aprender do incidente do homem pa- ralitico. Aquele que perdoa os pecados é 0 mesmo que nos manda andar em novidade de vida (v. 6). Se nio ando direito, por que pensar que meus pecados esto perdoados? A reconciliagdo pelo sangue vem sempre acompanhada da regencracdo (pelo poder di- vino). Em palavras simples: 0 pecador perdoado sempre anda em novidade de vida (Goodman). A cura do paralitico ensina duas ligdes: que a fé dos amigos pode cooperar na salvacdo de alguém, trazendo-o a Jesus, e que o perdao dos pecados tem intima relagdo com a cura do corpo (Tg 6.15). Os construtores de casas podem estranhar 0 fato de se ter feito, rapidamente, um buraco no telhado suficiente para baixar uma cama com um doente. O caso néo é explicado, porque ndo tem interesse espi- Titual. Nao é impossivel que um dos quatro amigos tenha sido pedreiro, ¢, sabendo que o telhado estava em obras de renovagdo nesse dia, tenha podido fazer um grande buraco com rapidez. (Consulte-se tam- bém a explicagio de Marcos 2.1-12.) Na Escola Dominical estudamos o incidente as- sim: 1) Os amigos do paralitico, Notemos que: a),mui- tas vezes alguém (ou alguns) se empenha em le- var-nos a Jesus; b) os amigos eram persistentes, e venceram as dificuldades (Me 2.4). 2) 0 pasado do paralitico: a) Sua docnga era re- sultado dos seus pecados. b) Ele necessitava de per- dao quanto ao passado antes de obter sade para 0 resent, c)Jenus (¢ somente le) podia pode per '3) A cura do paralitico: a) Seu contato com Jesus deu-lhe uma nova saiide. b) 0 mandado de Jesus deu-Ihe uma nova diregao na vida: em vez de ficer deitado, inutil, ele se levanta e anda. na sua vida impressionow os vizinh A vocagdo de Mateus (9-13) en: chama a quem conhece (Rm 8.29,30); qt da de Jesus pode resultar em mudanga de emp: que uma pessoa chamada por Jesus pode querer zer-lhe um grande banquete” (Le 4.29); que Mateus era um dos doentes que necessitava de médico. “Misericérdia quero e ndo sacrificio" (13). O Se- nhor cita duas vezes Oséias 6.6; aqui com referéncia a Ele comer com publicanos e pecadores (v. 18), em Mateus 12.7, quando os fariseus se queixaram que os discipulos violavam 0 sébado ao comerem espigas. © que Deus, em Ostias, pede de seu povo nao é sacrificio e oferta queimada, mas misericérdia ¢ 0 co- nhecimento de Deus. E a mesma verdade que Sa- muel ensinou ao rei Saul: “Obedecer é melhor do ut goer, € a ntender do ques gorcara'da ove 10s”. Porém Jesus, nos dois trechos, dé as palavras uma conotagao diferente; ambas as vezes emprega- as com o seguinte sentido: “Eu, 0 Senhor, desejo mostrar-vos misericérdia, ¢ ndo exigir sacrificios” (Goodman). Sobre v jejum (14-17). Este trecho dé-nos a idéia de que jejuar é semelhante a “estar de luto” por um Salvador, um esposo, tirado deste mundo por uma morte violenta. O novo ensino do Evangelho nio veio para re- mendar o velho judaismo (v.16). —A filha de Jairo ea mulher com fluxo de sangue (18-26). Este caso é relatado mais detathadamente por Marcos e Lucas. Eles contam que o nome do pai de crianga era Jairo, que a menina tinha 12 anos € que Jesus mandou que Ihe dessem de comer. ‘A cura desta mulher vem no meio da historia da filha de Jairo. Marcos ¢ Lucas também relatam a sua cura, Estas curas seguem o trecho sobre o jejum. Delas aprendemos coisas preciosas: que Jesus atende & chamada da {6; que Ele corresponde a confianca do necessitado (v. 21); que a simpatia acompanha 0 seu poder (22) que Jesus, as vezes, exige fé da parte de quem Ele vai curar (28) e outras vezes néo (8.28-32). ———Dois cegos ¢ um mudo curados (27-34). Notemos a expresailo "‘Seja-vos feito segundo a vossa fé” (v. 29). Toda béneao & segundo a medida da 6 (Rm 12.6). Se trouxermos um copo pequeno ao oceano da grace, serd cheio. Se trouxermos um maior, néo ha- veré falta. Deus nao é limitedo. Nés 0 limitamos, trazendo a nossa pequena vasilha. Porventura cre- mos que Ele pode? (28). Cremos que pode mais do que pedimos ou pensamos? (Goodman) A seara ¢ os ceifeiros (35-38). Notemos que a sea- ra: a) s6 vem depois da sementeira; o evangelista lida com gente em cujos coragdes o Espirito Santo ja tem operado. (Como..,,? Jé 33.14-22); b) é uma obra grande, que necessita de grandes recursos espirituais e materiais, de grande entusiasmo, abnegacéo, pa- ciéncia; c) é um servigo que deve ocupar as nossas oragdes (v. 98). Capitulo 10 Os discfpulos, os ceifeiros: ) Seu preparo: “orde- nou aos doze que estivessem com Ele, para que os mandasse a pregar” (Mc 3.14). b) Seu poder resultou do seu contato imediato com Cristo. c) Sua mensa- 315 Mateus ‘gem: o reino de Deus (Rm 14.17). d) Seu servico: cu- ras milagrosas (podem ser comparadas com as curas milagrosas de hoje). e) Seu prémio (v. 32). Notemos que agora & que se fala pela primeira vez de apéstolos, ou “enviados” (v. 2), cujo ministé- rio seria o de anunciar, somente a Israel, que 0 reino estava proximo. Os poderes referidos nos versiculos 1 €8 acompanhavam esta pregacdo do reino. Os “dig- nos" (v, 11) eram os que esperavam o Messias pro- metido, O Evangelho da graca de Deus é pregado ho- je, ndo aos dignos, mas a todos (Gray). A expresso "nem alforges para 0 caminho” (v. 10) refere-se ao costume dos roligiosos ambulantes de entio de levarem um saco para receber os donati- vos dos fiéis. Nao importa em uma proibigdo ao evangelista hoje de levar a sua mala ou capoteira contendo a muda de roupa. Podemos notar os seguintes pontos referentes aos doze apdstolos: 9.38 - Seu preparo: oragao. 10.1 ~ Seu fornecimento: poderes sobrenaturais, 2-4 - Sua cumpanhia: dois a dois, 5-6 - Seu objetivo: a casa de Israel, 7-8 ~ Seu gervica: pregar, orar, purificar, expul- sar, tudo gratuitamente. 9-15 - Seu sustento: fornecido pelos ‘‘dignos”. 16-25 - Seus perigos: acoites e prisdes, 26-27 - Seu testemunho: piblico, corajoso, de acordo com o que ouviram de Jesus. 28-32 ~ Sua protecdo: os cuidados do Pai. 33-39 ~ Seu conflito: is vezes com os proprios pa- rentes. 40-42 ~ O galarddo de quom recebe um diseipulo de Cristo € amplo, ¢ de acordo, e é garantido pelo Proprio Deus. Os expositores concordam em entender que ¢ Deus que pode destruir no Inferno a alma e 0 corpo (w, 28), Uma exigéncia estupenda (v. 37).“Ninguém que no fosse Deus teria o direito de fazer tamanha ex géncia. Colocar-se acima de pai, mie, filho, filha, nas nossas afeigdes, seria absurdo se partisse de um mero homem. Que o Senhor Jesus faz tal exigéncia é uma prova da sua divindade, porque somente Deus ‘pode colocar-se acima de pai ou mae nas nossas afei. ‘ges. Que se fizesse tal exigéncia é um fato extraordi- nario, porém mais extraordindrio ainda 6 que todo cristo a considera razodvel e justa, e que milhares a tém obedecido. Mas ha compensagées: a) Perder a vida por amor de Cristo é aché-la (39). b) Receber a Cristo é receber o Pai (40). ©) Ha galardao futuro pelo menor ato de servigo de amor (42) (Goodman). A palavra traduzida “vida’’ (v. 39) € a que sem- pre se emprega para “alma”. A alma é a prépria pes- soa. O homem é uma alma (Gn 2.7; 1 Co 16.45). Ele tem um corpo, pelo qual est em contato com seus semelhantes, ¢ um espirito, pelo qual se relaciona com Deus. Perder a alma (vida), como em Mateus 16.25, & perder-se a'si mesmo; falhar no propésito para o qual a vida nos foi dada, sendo lancado fora como inttil. “Achar a vida" (39) é viver para si mesmo e assim perder a verdadeira “vida”. “Perder a vida” por amor de Jesus ¢ negar-se a si mesmo, gastando a vida toda por Ele, 0 mundo considera perdida uma 316 wae ‘esas condicdes, mas o Senhor a considera “a- chada”. Propostas emendas de tradugdo: No versiculo 10 em vez de “alforges" ler 'saco de mendigo” (J. 237). Capitulo 11 Jodo Batista (1-19). Um ministério que termina encontra um ministério que comega (1-3). O recado de Joao Batista revela certa decepedo. O reino ndo se manifestou tal qual ele esperava. Jesus aponta alguns dos beneficios mais eviden- tes do sou proprio ministério (4-6) e depois (7-19) d& testemunho da nobreza espiritual do profeta que ja- zia na masmorra de Herodes. Notemos algumas das caracteristicas que tornam Joao Batista um grande profeta: a) Seu cardter intransigente. b) Seu oficio exaltado; mais que profeta: um pre- cursor de Cristo. ¢) Seu alto privilégio: 0 de ver os céus abertos ‘sobre Jesus. d) Sua maravilhosa mensagem em chamar uma nagdo ao arrependimento, e apontar o Messias. €) Seu paciente sofrimento as maos de Herodes. Sua morte de mértir. ‘ontudo, quem ¢ menor no reino, maior do que ele. Quem, mediante o renascimento, entra na nova criagdo é maior queo melhor dos anteriores, as- sim como nenhum membro do reino snimal é com- pardvel a outro da raga humana” (Goodman). Alguém pode pedir ainda mais explicagio do versiculo 11, “aquele que é 0 menor do reino dos céus € maior do que ele.” ‘Traduzimos 0 seguinte: “No que diz respeito aoe privilégios, o menor crente nesta dispensagio ¢ tasior que o chef da dispensapto anterior. A dite renga é determinada pel distancia entre o Evange- Iho e a Lei” (Seroggie.) Podemos fazer uma relago dos pontos de supe- rioridade do cristdo de hoje ao maior dos profetas da velha dispensagdo, Ele descansa numa obra redento- ra consumada; conhece a Deus como Pai bondoso, revelado em Cristo; no seu servigo tem parte no jugo de Cristo; tem a esperanca de um glorioso porvir na companhia do seu Salvador, ete. “Pode haver duas interpretagdes do versiculo 12, uma exterior e outra interior. Na primeira, os inimi- ‘gos de Jesus e Jodo sido os ‘violentos’ que violenta- mente rejeitam o reino; na segunda, os ‘violentos’ ssdo aqueles que apesar de oposigio, se esforcam para entrar nele” (Gray), ‘Mas o dr. Bullinger prefere a traducdo: “Desde os dias de Jodo Batista o reino de Deus se impée [a0 po- vo] ¢ 08 enérgicos lancam mdo dele". Notemos o testemunho que Jesus dé de Josio Ba- tista: a) Mais que profeta. Fala dele como “Meu men- segeiro”, um precursor para anunciar a sua vinda. “b) Nao era uma cana abalada pelo vento; nfo era nenhum volivel, ¢ sim um espirito forte. “c) O maior dos que tém nascido de mulher, por isso. o maior dos homens, a ndo ser, talvez, Adao, 0 0- nico que néo nasceu de mulher. “‘d) Elias, Isto 6, nele se cumpriu a profecia de Malaquias 4.5, como esté confirmado em Lucas 1.17” (Goodman). Mateus Soberania divina ¢ responsabilidade humana {20-30). Do equilfbrio destas duas coisas depende a ‘balanca da verdade. O ensino de nosso Senhor con- Serva perfeitamente este equilibrio. Ca i da dé a gléria a Deus. Cada alma perdida sabe que é por sua escolha pecaminosa. ‘Somos convidados a porta da culpa do pecado; descanso da mente, ‘do receio de castigo; descanso da vontade, do dom{- Bier 2 tania do pocado; descanso do coracio no amor b) Para tomar seu jugo, isto é, submeter-nos em ‘obediéncia a sua disciplina. A liberdade, temo-la so- ‘mente na submissio. ¢) Para aprender dele, pois em salvar-nos 0 Se- hor propde santificar-nos. Nossa triplice be: aventuranca estd em achar descanso nele, prestar- The obediéncia e ser conforme a sua somelhanca poecenen) capitulo aprendemos que podem scontecer ie at ‘que dosanizaam o servo oe Deus (v. 3), mas desus convida a tomar sentido do seu poder, e espe- rar (vv. 4-6). Que Ele pode discemir grandeza apesar de haver um aspecto humilde (v. 11). Que Ele repro- ‘yao espirito queixoso (vv. 16-19). Que trabalhar com 6 uma ocupagio “suave e leve”. O grande convite do Evangelho é um triplice ape- "lo: “Vinde a mim; tomai meu jugo; aprendei de mim”. Abrange toda a oxtensio da vida crista: sal- “vacio ~ servigo - santificagio. ‘Proposta emenda de traduedo (v. 23 - V.B.). Pre- ferir Almeida: “E tu, Cafarnaum, que te ergues até ‘aos eéus” (R. 54), Capitulo 12 Cristo e 0 sdbado (1.8). F. W. Grant, na exposi- {io dostetrecho, chama atenedo para o cardter dali do sébado nos dez mandamentos. Um 0 depois de seis sins labetioes on tenvottde's rael como privilégio: o sinal da alianca entre Israel e Jeova (Bx 31.17). Nao era baseado nos eternos principios da moralidade como os outros manda- mentos; seu cardter era mais cerimonial que moral, e condi¢do do povo perante Deus, mostrando que devi do a sua descrenca nele, o Senhor do sdbado, os deus, rejeitando-o, perderam o direito ao sdbado. Davi, o rei ungido, mas rejeitado, tinha necessi dade de pao, e a alianca, com seus privilégios e ceri- ménias, estava suspensa, devido a rejeigao do ungido do Senhor. Por isso 0 pdo consagrado era, num senti- do, comum. Quanto mais quando o antitipo de D: estava no mundo, mas rejeitado, e eles estavam ocu- pados com a santidade do dia de descanso que Deus hes tinha dado! Como podia o sdbado permanecer para aqueles que rejeitaram o Senhor do sibado? Néo convém introduzir em nosso estudo do sdba- do judaico pensamentos referentes 4 guarda pela igreja crist& do primeiro dia da semana, tio clara- mente ensinada em outros lugares do N.T. Deste incidente aprendemos: que sempre exis- tem pessoas dispostas a criticar as agdes dos discipu- Jos de Cristo; que os incidentes do V.T. podem ter valor para a nossa instrucdo na atualidade; que uma pessoa divinn importa mais do que uma ordenanga (v8). Em que sentido ¢ Cristo Senhor do Sabado? - 1) Porque Ele o criou; 2) Porque Ele podia abolir 0 sétimo dia de obrigaeao legal para dar lugar ao pri- meiro dia, de guarda voluntéria, caracterizado pelo goz0 e culto que resultam da sua ressurrei¢do (Good- man). ‘A mdo mirada (9-21). Notemos: que Jesus que- ria obrigar os adversdrios a fazer uma apreciagao mais espiritual da lei do Sdbado; que, antes de obter a salvagdo de Deus, talvez soja necessirio expor 0 mal (v, 13); que aqui temos o motivo por que Jesus proibiu publicar as suas obras milagrosas (v. 16-20); que Cristo havia de ser a esperanca, nio s6 de Israel mas de todo 0 mundo (v. 21). [Sobre o pecado imperdodvel (82) consulte a ex- plicagdo de Marcos 3.28-30.] “A blasfémia contra o Espirito Santo é essa per- versa e obstinnda rocusa do seu testemunho a Cristo como Senhor e Salvador, que nasce de um coragdo mau, expressando a sua inimizade contra Cristo em palavras que difamam o bendito Filho de Deus” (Goodman). “A miserieérdia ndo mais podia ser mostrada onde o poder do Espirito de Deus tinha sido manifes- tado, mas atribuido a Satands. Esta blasfémia era mais do que uma incredulidade ignorante: era uma aberta e consciente oposi¢iio a Deus ea tudo que ¢ de Deus. Uma palavra falada contra o Filho do homem podia ser perdoada; o lugar humilde que Ele tomara podia ocultar a sua gléria dos olhos dos homens car- nais; mas havia aqui aquilo que precisava ser reco- nhecido e que ndo podia ser ocultado. O 6dio mani- festado por pessoas esclarecidas nio podia ser per- doado. Os judeus esperavam misericérdia mais am- pla na época vindoura'~ no dia do Messias ~ do que na ent&o presente época da Lei; mas esse seu pecado podia ser perdoado, nem neita época nem na vindoura” (Grant). Os frutos revelam a drvore (33-37). Jesus, mais que ninguém, podia submeter-se a essa prova, como também podia reprovar os fariseus, porque o fruto que produziam revelava a perversidade de seus cora- goes. O sinat de Jonas (38-42). Jesus aponta trés teste- munhas: Jonas, 08 ninivitas, ¢ a rainha de Saba, que presenciaram poder e graga de Deus e creram. A casa desocupada (43-45). ensino dos versfeu- Jos 39 a 45 ¢ dirigido a “uma geracdo md e adiiltera”. Sobre a palavra “‘geracdo” F. W. Grant diz: “Gera- cdo na Escritura muitas vezes se emprega com uma aplicagdo moral mais do que um sentido cronolégico — uma sucessiio de pessoas com as mesmas carac- teristicas morais (veja Salmo 12.7). Sem duvida é este o sentido aqui, “Na pardbola da casa desocupada, trata-se de ‘uma pessoa que ja esta desiludida do inimigo das al- mas, mas quo ainda nfo se chegou a Deus; afastou aquele, porém ndo acolheu este. Na nossa revolta contra o erro, se ndo dermos entrada a verdade, é certo que 0 erro voltara reforcado” (Scroggie). A familia de Jesus (46-50). O Senhor foi rejeitado até pela propria familia (Mc 3.21). Por isso Ble no atende a chamada, mas fain de uma nova parentela espiritual (Gray). 317 Proposta emenda de traducdo. No versiculo ler “grande peixe” como na V.B. e néo “baleia como em Almeida. Capitulo 13 Comentdrio de Scofield: Podemos discemir neste capitulo um novo come- ¢0. Jesus, rejeitado por Israel (Jo 1.11), ¢ tido por desvairado pela propria familia (Mt 12.46; Mc 3.21), toma o cardter de um semeador que, no encontran- do os frutos que procura, semeia, e espera uma co- Iheita futura. No fim do capitulo 12 Jesus estd den- tro da casa; ‘no comego do 13 (mas no mesmo dia) j4 ‘sai e chegou a beira-mar. No versiculo 36 Ele volta para casa, Jesus apresenta sete pardbolas: quatro a multi- dio, publicamente, na praia, e trés aos discipulos, particularmente, em casa. Todas apresentam aspec- tos do reino; quatro tém aspecto exterior e as outras trés um aspecto mais intimo, As duas primeiras tém a particularidade de se- rem explicadas pelo priprio Jesus. Por isso ndo exis- te divida quanto sua interpretagio. Pardbola do semeador (1-9). Notemos: a) Sementeira abundante, sem economias; até mesmo no caminho cai alguma semente. b) Terreno de uma 86 qualidade - nao devemos imaginar diferentes terras no mesmo campo, mas terreno em diferentes condigdes: terra pisada pelo muito transito; terra rasa ¢ escassa, devido no lagedo de pedra que Ihe fica por baixo; terra previamente ocupada, com espinhos, ete.; terra boa, preparada para a semente: capinada, arada, regada. c) A semente é sempre a “palavra do reino” e hoje é 0 Evangelho da graca de Deus. O dr. Camp- bell Morgan, e, mais recentemente, Alexandre Fra- zer, tém chamado a atengéio para o caso que “a boa semente sdo 0s fithos do reino”’: pessoas, nao as ver- dades do Evangelho. Pensam que isto deve-se enten- der na pardbola do Semeador tanto como na do trigo € joio. Que fruto tem esta sementeira produzida em nés? O evangelista é hoje 0 semeador, semeando al- ‘gume coisa de Deus revelado em Cristo, e esperando ver 08 frutos: alguma coisa do carter de Cristo nos seus ouvintes, Recentemente um expositor notou que em Ma- teus a “semente” éa palavra grega “sperma”, ou se- mente humana, e a interpretago se encontra no versiculo 38, ‘‘a boa semente so os filhos do reino”. Em Lucas 8 a “semente” é a palavra grega ‘'sporos”, vegetal, e a interpretacao esté no versi- semente ¢ a palavra de Deus' Ensinando por pardbolas (10-17). A linguagem é figurada, ocultando o sentido aos indiferentes ilus- trando-o para os sinceros. Um mistério (segredo, v.11) é uma verdade ou- trora escondida mas agora divinamente revelada. Comentdrio de Goodman: reino dos céus ¢ esse reino que hd de ser estabe- lecido na terra. Senhor Jesus alega trés motivos por que Ele fa- Jou em pardbolas. 1) “Porque a vés é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles ndo thes €dado” (11). Um mistério é um segredo de Deus que ndo pode ser co- nhecido a nio ser mediante uma revelacdio. Mesmo quando revelado & muitas vezes incompreensivel 318 como, por exemplo, o grande mistério da piedade (1 Tm 3.16); mas a f6 regozija-se no fato revelado, sem compreender como pode ser (Mt 11.25). Quem so esses “'vés” que ouvem a revelagdo? Certamente sao aqueles que o buscam (Mt 7.8; Rm 2.7), eo temem (Sl 26.14), e que querem fazer a sua vontade (Jo 7.17). Ele nao langa as suas pérolas aos Porcos, 2) Porque “aos que tém, dar-se-d" (12). Esta lei natural encontra-se também no mundo spiritual. O forte, aumenta as forcas; 0 sdbio, sabedoria; o rico, a riqueza, enquanto os outros, por falta de uso e exercicio, perdem o que tém. Assim, quem ouve e ob- serva a Palavra de Deus, cresce, enquanto 0 pregui- oso deseja enada tom. Ele é preguicoso demais par: quebrar a casca (a pardbola) ¢ por isso ndo alcanca a noz (a verdade). 3) “Para que vendo, ndo vejam, e ouvindo, ndo eqtendam"" (13-16), O Senbor aqui cita Isaias 6.9,10. O profeta foi mandado declarar uma cegueira judi- sobre a geracdo pecaminosa do seu tempo. As- sim o Senhor adverte a geracdo ma do seu tempo quo, devido a dureza dos seus coracdes, Deus Ihes ce- gard os olhos. Comentdrio de Scroggie: Pardbola do trigo e joio (24-30 ¢ 36-43). Na meira pardbola a semente era de uma s6 espécie, mas havia diferenca nas condigées do terreno. Agora. © campo - 0 mundo - 6 um s6, mas hé mistura de se- mentes. A boa semente nao é, aqui, a palavra do Evange- tho, mas que o Evangelho produz: "os filhos do rei- no" (v.38). Estes esto semeados entre os homens, ¢ Satands semeia justamente o “joio". O ensino é que ndo podemos tirar 0 joio do mun- do, embora as muitas perseguigdes religiosas do pas- sado tentassem fazé-lo. Mas na igreja pode haver uma disciplina purificada, Desta paribola aprendemos que, quando Cristo ‘age, Satands opera também; que um dos seus modos prediletos de agir ¢ pela imitagio; que ele opera ocultamente, e nés devemos agir cautelosamente (29); que no fim tudo ser acertado, Comentério de Gray: = Pardbolas da mostarda e do fermento (31-35). A figura da semente de mostarda ensina o rapido e anormal crescimento da cristandade. As aves do céu simbolizam descrentes de diversas classes que, por motives de interesse, abracam o cristianismo e acham abrigo nos seus ramos. (Compare Daniel 4.20,22 e Apocalipse 18.2.) ‘0 fermento representa um principio de corrup- do, operando sutilmente. A figura do fermento é ipregada sempre com sentido ruim (Gn 19,3; Mt 16.11,12; Me 8.15; 1 Co 5.6-8, ete.) O ensino da para- bola é que o Evangelho seré misturado com ensino falso, que aumentard até o fim”. ‘A mais pequena de todas as sementes” (v. 32).. “Tomadas ao pé da lotra, estas palavras podem pa- recer erradas, pois hi muitas sementes menores que @ mostarda, algumas, como as dos fetos, to peque- nas que 86 podem ser vistas através do microscépio! ‘Mas nosso Salvador falava como galileu aos campo- neses da Galiléia, e suas palavras, conforme todos os seus ouvintes entenderiam, contém a figura de elipse ‘ou omissio, significando simplesmente ‘que é a me- nor de todas as sementes’ (usadas por vis na agricul- tura)” (Neil). Mateus Pardbolas do tesouro escondido, da pérola e da rede (44-58). Estas foram ditas aos discipulos em ca- 8a, ¢ dio um aspecto mais intimo, menos evidente, do reino. 0 campo é 0 mundo (v.38) que o homem (Cristo) comprou com seu sangue (2 Pe 2.1), A pérola simboliza a Igreja, que o negociante (Cristo) comprou (Ef 5.25-33). “Um hino diz ‘Achei a pérola de grande preco', querendo dizer Cristo, mas inso nio pode ser a significagéo, a néo ser que 8 salvagdo seja pelas obras. Que significam, pois, estas duas parabolas? Suponhamos que o tesouro da o as- pecto plural © a pérola o aspecto singular da mesma coisa, representando um, os cristdos ¢ outra, a Igroia, e sendo Cristo em ambos os casos. Certamente Ele sacrificou tudo por amor da Igreja. Ele comprou o mundo para possuir a Igreja; o prego foi seu sangue, Esta interpretacdo apresenta menor niimero de diff. culdades” (Scroggie). “A rede no é o Evangelho, mas é uma figura do que acontecord no fim, depois do arrebatamento da Igreja” (Gabelein). Propostas emendas de traducdo. No versiculo 32 leia-se “é maior que as hortalicas”. No versiculo 36 “tendo despedido” como em A. e ndo “tendo deixa- ” como na V.B. (R. 195). Nos versiculos 39 e 40 ler im da época" em ver de “fim do mundo”. Capitulo 14 Até aqui temos visto, em nosso estudo de Ma- teus, o Mesias chegado, o reino proclamado, suas leis promulgadas, mas o Rei praticamente rejeitado pela nacao. Do capitulo 13 em diante Jeaus nao fala mais da aproximacio do reino, mas em sete pardbo- las revela o que ha de suceder entre as nagdes na au- séncia do Rei, A morte de Jodo Batista (1-12). “O nome Hero- des esta coberto de sangue. Herodes, ‘o Grande’, ma. tara os inocentes. Herodes Agripa matou Tiago, ir- mio de Jodo, aqui Herodes Antipas mata Jodo Ba- tista” (Scroggie). Este trecho revela-nos os despotismos dos tempos antigos. Consideragdes de Goodman: “Segundo o historiador Josefo, a morte de Joao Batista deu-se no castelo de Machaerus, na Peréia, e cle nos relata também que Herodes foi banido pelo imperador Caio a cidade de Lyon (na Franga) e de- pois levado 4 Espanha, onde morreu na miséria. “Sua primeira esposa era filha de Aretas, rei de Damasco, mencionado em 2 Corintios 11.32. Hero- dias era esposa de seu irmao (por parte de pai) Filipe (niio 0 Filipe de Lucas 3.1). Ela era filha de Aristé- bulo, o filho que Herodes matou, e por isso era sobri- nha de ambos os seus maridos” (Elicott). As més qualidades no cardter de Herodes aparecem neste trecho: 1) Era supersticioso. Pensava que Jesus podia ser Jodo Batista ressuscitado. Como muitas vezes acon- ‘tece, o assassino tinha receio da sua vitima. 2) Era vingativo e cruel. Jodo Batista somente apontara aquilo que Herodes bem sabia ser verda- deiro © vergonhoso. 3) Era covarde, como geralmente sdo 0s cruéis. ‘Tinha medo da multido, como temia o reapareci- mento de Jodo Batista, 4) Era licencioso. Excitado pela danca da entea- da, e provavelmente embriagado, ele cumpriu Promessa temerdria. 5) ra louco. Prometer sem saber que seri dido, ora colocar-se & mercé de uma mulher vingati- va e ma. Nao € que tivesse Pois queria maté-lo (6), mas ficou triste porque ia incorrer na ira do. ‘Povo por seu ato abomindvel. Tais sdo as misérias dos iniquos. ‘Melhor é 0 mancebo pobre e sdbio do que o rei velho ¢ insensato, que se ndo deixa admoestar’ (Ec 4.13)" (Goodman). A primeira multiplicagao de Ges (13-21). Jesus retira-se para um lugar deserto, por ter sido Ele re- Jeitado, e morto o seu precursor. Mas ndo podia es- conder-se, € 0 povo o seguia. Notemos: Os discipulos acharam necessirio despedir a multidao. Jesus tinha um recurso melhor, Como ha- vemos de agir hoje? Os pies e peixes, por Ele abencoados (v. 19), bas- taram para suprir a necessidade. © que os dise{pulos receberam dele, puderam re- partir com 0 povo. Diz F. W. Grant: “Os discipules tém apenas cin- co pies e dois peixes! Que evidente quadro de nds mesmos, Com nossos recursos diminutos! Por que co- locar uma proviséo tao intima na sua mao para ser- vir a tanta gente? Mas Jesus ndo despreza a oferta, ndo a recusa, para agir sem ela. Se fosse a realizagdo de um milagre 0 que Ele tinha em vista, seria natu- ral que a desprezasse, mas, pelo contrario, Ele prefe- re tomar mais singelo o milagre a deixar de lado a Pessoa que quer identificar-se consigo e empregar-se no seu servico. Esta precisa verificat que o pouco: que tem 6 suficiente, uma vez que a béngiio divina a acompanha ~ e assim também serd conosco, “Mas os discipulos devem levar-lhe esse pouco, para depois receberem dele. Entéo Jesus manda o Povo descansar sobre a relva. Ele dé descanso pri- meiro, e depois sustento. Entao abencoa o pao, ¢ 0 Parte, e torna a entregi-lo aos discipulos, para que eles o distribuam todo - e ha mais que suficiente para toda a multiddo. Como é bom saber que nessa insignificante proviso ha o suficiente para cada um dentre o povo ali, e mais do que suficiente. No fim hd mais do que no principio. E isso que acontece cons- tantemente com os bens espirituais - abundante dis- tribuigdo, e, contudo, aumento... Cada particula da verdade que possuimos leva consigo uma responsa- bilidade correspondente, um privilégio proporcional, ¢ oportunidede para aumento”. Jesus anda por cima do mar (22-36). Notemos a diferena entre este incidente maritimo ¢ o do capi- tulo 8.23-27. Ali Jesus estava presente, dormindo, e ‘08 discipulos sozinhos no barco. O incidente de Pe- dro andando sobre as ondas 6 registrado 86 por Ma- teus. Temos aqui uma figura do “andar por fé em Cristo”. Notemos que isso: 1) E impossivel 4 carne. 2) Deve ser em obediéncia a Palavra de Deus, 3) Necessita-se de coragem para fazer a aventura da fé. 4) A {@ no se preocupa com as condigdes e cir- cunstancias. 5) O que a f8 comega, deve continuar. Pedro fa- Ihou nisto, embora tivesse comegado bem. 319 ‘Mateus. A f6 ndo é apenas um ato, mas uma atitude de toda a vida. "A quarta vigilia da noite”. Os judeus dividiam a noite em quatro vigilias: das 6 ds 9; das 9 as 12; das 12 is 3, das 3 as 6 da manha. Por isso era provavel- mente de madrugada quando Jesus foi visto pelos ipulos. Em verdade este vulto sobre a égua nio ¢ dis- cemnido sendo pela f6; até os dise{pulos podem pen- sar que é um fantasma, e recear em vez de serem atraidos. Notemos que é 4 alma que ¢ dirigido 0 con- vite que a voz faz: ‘Vem!" Néo fala a mais ninguém. ‘Nem fala sendo com aprovaco, embora o convidado provasse completamente a fraqueza da sua propria resposta ao convite... Mas ele ndo é censurado pela sua ousadia. Os outros discipulos podem té-lo feito, mas o Senhor apenas diz: ‘Por que duvidaste?’ E cer: tamente essa divida 6 to insensata como desastro- sa. Por um momento, ao menos, Pedro tinha prova- do o poder de Cristo; tinha realmente andado sobre a gua, ¢ por que haviam os ventos fortes de enché-lo agora de receios? O poder nao era seu, e ele podia contar com o poder do Mestre, tanto nas ondas pro- celosas como na calma. Mas quando o olhar se des- via de Cristo, torna-se impossivel a resolucdo acerta- da. Pedro duvide, ¢ comeca a afundar, mas quando clama, uma forte mao se lhe estende, ¢ ele é susten- tado, Nao é a embarcagdo que o socorre, nem é ele ti- rado do caminho, sendo sustentado nele. Bom é Jembrarmo-nos de que assim a graca de Cristo pode ainda hoje valer-nos em nossos fracassos” (Grant). versiculo 36 ensina-nos que o mais leve contato éom Cristo importa em béngilo. Capitulo 15 Jesus repreende escribas e fariseus (1-20). “A tradicio dos anciios’ (v. 2) significa a lei oral, que os judeus acreditavam ter sido transmitida verbalmen- te desde os tempos de Moisés. Foi, afinal, escrita por Judas, 0 Santo, em wm livro chamado Mishneh, e para explicar esse livro escreveram-se as duas Gema- ras ou Talmudes, chamadas a de Jerusalém ¢ a de Babilénia” (Treasury). A queixa nio era de que os discipulos faltassem com 0 asseio, mas que no observaram uma tradicgo dos ancidos, e nao praticaram a purificacdo cerimo- nial (Me 7.1-4). Jesus, longe de apoiar as tradigdes, reprovou-as. Notemos que, as vezes, na Escritura, “honrar” significa “fornecer mantimentos, ete.” (1 ‘Tm 5.17,18). A tradicéo que invalidava o mandamento de Deus, ensinava a um filho que ele, alegando que 08 mantimentos eram dedicados a Deus e que por isso nao podiam servir para sustento de seus velhos pais, ficava isento da sua obrigacio. “Nao devemos entender que a declaragao da pa- lavra votiva ‘Corba’ , embora significando ‘um dom’, ou ‘dado a Deus’, necessariamente dedicasse o obje- to ao Templo. O sentido podia ser, e geralmente era, que o objeto era para ser considerado como ‘Corba isto 6, em relacdo as pessoas interessadas, esse objeto devia ser tido como se fosse ‘Corbi’, posto sobre o al- tar, e por isso fora do seu aleance. Embora o nome fosse 0 mesmo, havia duas espécies de voto: uma consagracio a Deus, e uma obrigacho pessoal; este Ultimo era o mais freqiente” (Grant) A mulher cananéia (21-28). A descricdo da filha da mulher cananéia 6 deveras triste: “miseravel- 320 mente endemoninhada” (22). Nao 6 d que alguma menina esteja hoje nesse caso, mas ve- mos, infelizmente, mocas e moos dominados por vicios, vaidades, e desejos carnais, e, as vezes, in- fluenciados demasiadamente pelos servos de Sata- nis, que procuram arrasté-os para o pecado e a per- igdio. A ligdo principal do incidente parece ser que Cristo, afinal, corrésponderd a f6, ainda que Ele pa- rega por algum tempo néo fazer caso, Podemos con- siderar os motivos por que os homens se chegam a Cristo: Curlosidade? atimiraclo? doengas? tanta: gdes? necessidades de parentes? Neste incidente te- mos: 1) Uma grande necessidade: Descobrimos: a) um caso terrivel: uma moga sujeita a um espirito malig- ‘no, mas, ndo nos parece ser sem o consentimento de- la. A carne estd em todos nés, mas hé quem fran- que entrada a espiritos malignos. Na China tem- se verificado repetidas vezes que um acesso de cdlera doixa a porta aberta para a entrada de um espirito mau. Quem se mete com o espiritismo esté sujeito ao poder dos espiritos malignos; b) um caso sem remé- dio por quaisquer meios conhecidos; c) um mal que afligia a mae ¢ toda a familia. Sem divida a necessi- dade era grande, 2) Uma grande esperanca: a) A mulher ouvira de Jesus e seus milagres. b) Dirigiu-se a Ele inconve- nientemente, porque ela nada tinha com “o filho de Davi”, e parece que quis fingir-se israelita. c) Ela persistiu, porque ndo tinha outra esperanca, mas mudou sua maneira de tratar 0 Senhor. 3) Uma grande fé manifestada: a) na humilde confissdo da sua necessidade; b) na sua stiplica fer- vorosa; c) na sua ea. Jesus quis experi- mentar a sua fé, porque sabia que ela resistiria & pro- va, A segunda multiplicagdo de pdes (29-39). Nee trecho vemos Jesus: a) curando os doen mentando a multidao; e) ensinando o povo. Para a explicagao da segunda multiplicagdo de aes consulte sobre Marcos 8.1-10. Os cestos do versiculo 37 eram maiores do que as alcofas de 14-20, Proposta emenda de traduedo. O versiculo 8 deve ser: “Este povo chega para mim com a boca e honra- me com os ldbios, mas 0 seu coracdo estd longe de mim’ (C. 136). Capitulo 16 O fermento dos fariseus (1-12). “O sinal do profe- ta Jonas (v. 4) significa a ressurreicao de Cristo (Mt 12.39,40). “Em Marcos 0 aviso (v. 6) abrange também os herodianos. As trés classes representam Principios do mal: Fariseus - o'formalismo; saduceus - raciona- lismo; = secularismo. Essas seitas nfo existem mais, porém ainda hé o que elas representa- ram. A tragédia 6 que estes males ttm invadido as igrojas, e tém substituido a realidade, fé e adoragdo” (Scroggie). A confissdo de Pedro (13-23). A ignorancia do Povo com respeito ao Senhor Jesus, revelada nestes vera(culos, existe ainda hoje. Muito tem sido escrito referente as palavras ‘sobre esta pedra edificarei a minha igreja”. Um dos ato ensinos esta no livro “Problema Religioso”” de E. C. Pereira. Mateus Entendemos que a “pedra” era a confissdo de Pe- dro: “Cristo, o Filho do Deus vivo", a verdade funda- mental da Igreja (1 Co 3.11). ‘Versiculo 18. Muitos podem ter notado que as pa- lavras “Tu és Pedro” (sobre as quais tem havido tan ta controvérsia) parecem néo ter referéncia ao assun- to em publicaedo na lingua inglesa, com as iniciais W. A. as evidéncias tendem a provar que a5 palavras de Jesus ndo eram ‘su ei Petros’ (tu és Pedro) mas ‘su eipas’ (tu falaste a verdade), uma forma de expresso empregada varias vezes pelo Se- nhor (Mt 26.64, etc.) A Vulgata latina tem ‘Tu és Pe. dro’, mas sabemos que essa foi uma traduco por S Jerénimo encomendada pelo entéo bispo de Roma Mas Jerdnimo nos seus escritos particulares empre- ga.as palavras gregas ‘su eipas' (tu disseste) e 0 gran- de S. Agostinho (d.C. 295) da 0 equivalente em la tim: “Tu dexiste’ (tu diaseste), que concorda muito melhor com 0 contexto”, ‘Bu te darei as chaves do reino dos céus" (v. 19). A interpretagdo comum ¢ bem apresentada pelo dr. Goodman: ‘'As chaves dadas a Pedro representam a essencial honra que Ihe foi concedida: a de ser o p meiro a anunciar o Evangelho aos judeus (no Pento- coste) € 20s gentios (na casa de Comélio), tendo sido © Espirito Santo dado do Céu em cada uma dessas ocasides. Pedro mesmo descreve seu privilégio as- sim: ‘Deus me elegeu dentre ués, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do Evangelho, cressem’ (At 15.7). Assim ele anunciou o perdio de pecados a todos os que créem. Deus confirmou do Céu 0 perdao que todos os seus servos podem decla- rar sobre a terra (v. 19; 18.18; Jo 20.23)". F.W. Grant interpreta o versiculo diferentemen- comum salientar o lugar notdvel de Pedro no dia de Pentecoste, abrindo o Reino aos judeus, e de- pois, na pessoa de Cornélio, aos gentios. Mas pode. mos admitir que ele ocupava um lugar eminente, en- quanto negamos que fosse um lugar exclusivo. E de fato nfio podemos excluir os outros disc{pulos no dia de Pentecoste; nem no caso de Comélio podemos concordar que esse fosse 0 tinico uso das chaves com relagdo aos gentios, nem admitir que fosse necessdria outra chave diferente daquela que abrira o reino aos Judeus. Um sé ato nao havia de esgotar 0 uso da cha- ve, nem seriam dues chaves para abrir a porta duas vezes. “Podemos entender que a porta, uma vez aberta, ‘assim permaneceu para nunca mais precisar de cha. ve? Pelo contrario, ereio que se pode demonstrar eoncludentemente que a administracao do reino, simbolizada por estas chaves, ainda néo terminou: nio findou num ato inicial de autoridade. Os ho. mens ainda recebem 0 reino e sido recebidos no reino; ee as chaves falam de admissdo ao reino, ¢ 0 reino 6 esfera do discipulado, entdo a chave é de fato #0 mente autoridade para discipular. “Ora, hé chaves, endo simplesmente uma chave; se nosso pensamento é acertado, isto significa uma dupla mancira de admitir. A primeira é a que 0 Se- nhor chama ‘a chave da ciéncia’, a qual ele diz que ‘0s doutores da lei tiravam do povo (Le 11.52). Seme- Ihantemente Ele denuncia os fariseus por fecharem 0 reino do.céu aos homens: ‘Nem ods entrais, nem dei- xais entrar aos que estdo entrando’ (Mt 23.13). “Pedro no recobeu as chaves da Igreja, mas do reino. Uma chave é sinal de autoridade (Is 22.22), €0 que esse poder de ligar e desligar significava para Pe- dro, significa 18.18)", E erro pensar que o versiculo 19 ensina que tudo quanto uma igreja local determina é aprovado no Céu! Quem aprova um mal, tem a mesma culpa que © malfeitor, mas Deus nunca aprovou uma deciséo errada. Uma igreja local pode, por exemplo, resolver excomungar todos os crentes que nfo tém uma certa compreensdo sobre o batismo, mas ndo vamos pen- far que por isso os taisexcluidos ficam reprovados no eu. ‘As condicées do discipulado apontados nos versi- culos 24-27 merecem séria atengao - renunciar; to- mar; seguir. A expresso “tome sobre si a sua cruz" (v. 24) ou “tome cada dia a sua cruz” (Lc 9.23) no parece tao estranha e incompreensivel a nés que nos gloriamos na cruz de Cristo (G1 6.14), como deve ter soado aos ouvidos dos disc{pulos de Jesus, que nada sabiam da morte violenta que Ele havia de sofrer, ¢ que conhe- ciam a crucificacio somente como o suplicio dos eri- ‘minosos e escravos rebeldes. O dr. C. C. Torrey suge- re que devemos ler “jugo” em ver de cruz, pois o jugo era feito em forma de cruz e, por isso, uma palavra equivalia a outra. Assim pelo menos obtém-se um sentido compreensivel, de 0 verdadeiro discipulo de Cristo, em cada dia da sua vida, tomar o servico que the toca e fazé-lo na companhia do seu Senhor (Mt 11.29), Assim entendido, “‘o seu jugo” seria o mesmo que “o me’ jugo” de Mateus 11.29, ¢ o discipulo teria a convi yo de néo ter nunca que trabalhar sozinho, hem ir adiante ou ficar atrés do.seu Mestre. A nota completa do dr. Torrey é assim: “A frase ‘tomar a sua cruz e seguir-me’ ocorre cinco vézes nos evangelhos sinéticos (Mt 10,38; 16.24; Mc 8.34; Le 9,23 ¢ 14.27), E geralmente precedida pelas palavras ‘negue-se a si mesmo’. A primeira vez, em Marcos, a exortagao é dirigida ndo meramente a discipulos, mas ao povo, como também no trecho paralelo em Lucas, onde o advérbio “diariamente" é acrescenta- do. Muitos tém observado que o que podiamos espe- tar ler aqui ndo 6 cruz mas jugo, tomando a exorta- 40 compreensivel aos ouvintes. A palavra (aramai- ca) é certamente “zoif”, que nés conhecemos somen- te com o sentido de “cruz”. Quando, porém, se nota que o jugo dos animais que puxam o arado tem pre- cisamente a forma de cruz, uma vara com outra transversal na extremidade, parece quase certo que na linguagem popular da Galiléia « palavra signifi- cava também “jugo”. também para os outros discipulos Capttuto 17 “A transfiguragdo (1-13) é relatada nos trés evan- gelhos sindticos com poucas diferengas. & somente Mateus que tem as palavras “o seu rosto resplande- eeu como 0 sol”, e 0 versiculo 6 deste capitulo, “Para os dise{pulos esta foi uma oportunidade precisa para ver seu amigo e Mestre glorioso e res- Plandecente, ainda que falasee da hora que se apro- ximava, de seu ultraje e crucificagdo (Le 9.31). “Notemos a maravilhosa reunido de pessoas: Deus Pai, Cristo, Moisés, Elias, Pedro, Tiago, Jodi sete pessoas. O eterno Pai; o Redentor do mundo representante da Lei; o representante dos profetas: niicleo da Igreja ‘Duas personagens da velha 321 Mateus dispensagao; trés da nova, uma de todas as dispen- sagées, e Deus sobre todos!” (Scroggie). 0 “alto monte” era provavelmente Hermom e nao Tabor (Scroggie). Para mais explicacdes sobre a transfiguracfo, veja 0 comentario de Marcos 9 ¢ Lucas 9. “Elias vird primeiro” (v.11). “Em Malaquias 3.1 4.5 ha duas profecias distintas, A primeira se cum- priu na pessoa de Jodo Batista, que veio no espirito e poder de Blias (Le 1.1 ‘segunda se cumprird an- tes de o Senhor voltar em gloria, ¢ sem divida depois do arrebatamento da Igreja"’ (Gray). Aexperiéncia sublime sobre a montanha era pas- ‘sageira. No podemos suportar por longo tempo uma suprema exaltagdo. Desceram ao vale, onde acha- ram: © jovem lundtico (14-23). Quem usa a Versio rasileira verd que nela o doente é chamado um “e- pilético”, mas 0 fato é que o pai, que nada entendia de ciéncia médica do século XX, disse “meu filho é lundtico", atribuindo (na sua simplicidade) o mal a influéncia da lua, Aprendemos do versiculo 18 que 0 mal nao era causado pela tua, nem pela epilepsia, mas por um espirito maligno, como pode acontecer ainda hoje, principalmente a algum adepto do espiritismo em todas as suas formas. “Os nove discipulos nada podiam fazer em prol do rapaz aflito ou do pai entristecido. O miasma do baixio entrara nas suas almas, Os discipulos que- riam saber por que fracassaram, e Jesus lhes esclare- eu 0 motivo (19-21). ‘Um grdo de mostarda’ é referi- do aqui por ser uma coisa diminuta. Uma fé pequena pode fazer coisas grandes, mas naturalmente, uma £ maior pode conseguir ainda mais. Remover mon- tanhas era uma expressdo proverbial para vencer obstéculos que parecem intransponiveis. A fé forta- lecida pela oragiio e pelo sacrificio tudo pode vencer” (Scroggie). “Mas isto pressupde que estamos na senda da vontade divina, pois na verdade, a fé ndo pode ser exercida em outras circunstancias. E a figura da montanha fala claramente do desaparecimento dos maiores obstéculos em tal senda. No caminho da vontade ou da indulgéncia prépria seria debalde es- perar semelhantes vitérias” (Grant). Jesus paga o tributo (24-27). A palavra “didrac- mas” quer dizor “‘duas dracmas”. Um estéter valia 4 dracmas, por isso era a quantia justa “por mim e por ‘edro disse que sim (v. 25) sem refletir. A con- tribuiggo era para o templo em Jerusalém, e Jesus, como Senhor do templo, nao devia pagar o tributo, Como ‘Filho’ de Deus (v. 26), devia estar livre da obrigacdo. Isso seria bem comproensivel para Pedro, que logo antes 0 confessara Filho de Deus (Mt 16.16). Porém muitas vezes convém fazer uma coisa sem ser obrigado, ‘para que os nifo escandalizemoe’, “Estas palavras ddo-nos um exemplo da graga que concede um ponto sem importancia, para ndo ofender. O Senhor nunca ofendeu a ninguém sem ne- cessidade. Ele ndo era como esses que lutam até-a morte (ou, ainda pior, até dividir a igreja) sobre as- suntos sem importancia pratica. ‘Aos fracos fiz-mé como fraco, para ganhar os fracos’ (1 Co 9.22). Mui- tas vezes podemos pela graca fazer concessdes sem. transigir, © assim evitar contendas" (Goodman). 322 Propostas emendas de tradugdo (v, 11): “Porven- tura Elias hd de vir e restaurar tudo? Digo-vos que Elias jd veio” (O. 56). Versiculo 9 leia-se: “dentre os ‘mortos”. Versiculo 20 leia-se: “Por causa da vossa incredulidade” (R. 140). Capitulo 18 Entrando no reino (1-10). Vemos quanto o ensino de Jesus acentuava a necessidade de preparo espiri- tual para se gozar as bénedos do reino. Ele ilustra seu ensino por meio de um menino posto entre os discipulos. Aprendemos: que um discipulo pode ca- recer de converséo; que a entrada no reino depende de um estado espiritual competente; que humildade como a de uma crianga é necesséria; que “receber” uma crianca, por amor de Jesus, é, ainda hoje, seme- thante a receber Cristo mesmo; que “ofender” uma crianca, prejudicando a sua vida espiritual, é um grande pecado; que “desprezar” as criancas ¢ ato in- sensato, pois elas sdo representadas perante o Pai Por seus “anjos de guarda”. A verdade ensinada é que uma crianga, por sua natural de fraqueza, etc., é uma pardbola y ) importante. 2) E humilde. 3) E objeto de benevo- léncia. 4) Vive pela fé. 5) Cresce, e aprende a falar. Diz T. Gasquoine: Os versiculos 8 e 9 ilustram a verdade que a letra mata, mas o espirito vivifica, Evidentemente, o ensi- no no é para se tomar ao pé da letra, porque o mal néo est na mao ou no olhos, mas no coracdo perver- 80. Deus e as criancinkas (11-14). “Consideremos 0 amor de Deus para com as criancinhas. E 1) Amor de todo altruista. 2) Amor de quem tem prazer nelas, 3) Amor de compaixdo para com 4) Amor de esperana nas suas possibilidades in- finitas. O pecado de um irméo (15-22). B impossivel exa- gerar a importancia do ensino do versiculo 15, mas quantas vezes é desprezado! Uma pessoa se queixa de um irméo a outro, ou chega mesmo a acusé-lo pe- rante a igreja, om vez de ir ter com ele! Porém uma adverténcia é necessdria: antes de “ir ter com ele” é preciso uma preparagéo espiritual su- ficiente para poder “ganhar teu irmdo”’. Somente em wltimo recurso pode ser necessirio levar o caso a igreja. Alguns manuscritos antigos ndo tém as palavras “contra ti” no versiculo 15. “Quando # disciplina da igreja é exercida com cuidado e simpatia (vv. 18-20), as decisdes da irman- dade crista sdo aprovadas por Deus 0 serio ‘ligadas no céu’; mas a direcdo divina precisa ser procurada mediante a oragéo (19,20)” (Scroggie). “A igreja tem autoridade para agir... mas autori- dade para agir ndo garante a acdo. Se a aco ndo esta de acordo com a vontade de Deus, ndo sera abonada por Ele. Deus nao havia de atribuir pecado sobre al- guém que no pecara, nem desligd-lo. Fazer isso se- ria chamar ao bem mal e ao mal bem, e pér a igreja acima do seu Senhor” (Grant). ‘Acordo em ora¢do (19,20). Esta promessa espe- cial para os que concordam em ora¢do merece cuida- Mateus doso estudo. Néo devemos esperar que todos os fre- _giientadores da reunidio de oragdo necessariamente “concordem”’. Para haver esse acordo deve haver 0 mesmo ardente desejo, a mesma compreensio da ne- scessidade, 0 mesmo propésito de cooperar com Deus ‘em promover 0 resultado pedido, a mesma experién- cia de respostas as oracdes passadas, a mesma espe- Tanga de uma resposta no presente, 0 mesmo desejo de banir da vida propria qualquer coisa que impeca a béngao divina, Esta necessidade de acordo, para dois ou mais poderem orar juntos, deve impedir o grupo de fazer quaisquer oragdes extravagantes ou ridiculas, pois seria dificil dois ou mais concordarem em fazer uma petigao insensata, na plena persuasio que pediram de acordo com a vontade divina. © versiculo 20 afirma um fato mas ndo contém uma promessa. Nisto é bem diferente de Mateus 28,20: “Bis que estou convosco todos os dias até a consumagdo dos séculos”, ou a promessa ainda mais maravilhosa de Jodo 14.23: “Se alguém me ama, Auardard a minha palavra, e meu Pai o amard, e vi- remos para ele, e faremos nele morada”. A parébola do credor incompassivo (23-35). O dr. Graham Scroggie apresenta o seguinte estudo: 1) Como orei tratou seu servo. Aprendemos desta parabola: 8) Que Deus faz contas com os homens, no so- mente depois da morte, mas aqui e agora (v. 23). b) Que todos os homens Ihe devem uma divida inealeulivel, e que ndo podem de maneira alguma pagé-la (v. 24,25), ©) Que ¢ necessdrio a divida ser page, se ndo pelo dovedor, entdo por outro (v. 25). 4) Que o servo acusado nao apelou contra a sen- tenga, mas apenas pediu prazo para pagar ~ coisa que evidentemente néo podia fazer to cedo (v. 25). ©) Que o Senhor misericordiaso libertou-o e per- doou-Ihe (v. 27). No nosso enso podemos conhecer a deste perdio: a satisiacdo oferecida pela obra lentora. 2) Como 0 servo tratou seu companheiro, Note- Mos 0s seguintes pontos: a) Que 6 possivel receber a graca de Deus em vio (2.Co 6.1), sem que ela produza em nés uma corres- pondente bondade em nosso trato com os semelhan- tes. b) Que é muito fécil fazer maior questio das pe- quenas ofensas dos outros contra nds mesmos, do que das nossas grandes ofensas contra Deus. ©) Que é caracteristico da natureza carnal er exi- gente, intolerante, incompassivo. 3) Que devemos aprender da pardbola: ) A ndo sermos intransigentes, visto que deve- mos tudo a graca divina. b) A ver na dificuldade do nosso semelhante uma oportunidade para sermos magnénimos, ¢) A sermos “imitadores de Deus”, no somente na sua graca perdoadora, mas também na sua pa- ciéncia, longanimidade, simpatia e tolerdncia, Proposta emenda de tradugdo. Ponha-se no texto © versiculo 11, omitido pele V.B. (R. 92): “Porque o Filho do homem veio salvar 0 que havia perecido”. Capitulo 19 Acerca do divdrcio (1-12). Notemos que Jesus considera 0 matriménio no seu aspecto mais nobre e sublime: como unio feita pelo propésito ¢ vontade de Deus. Em tais casos - unido de clientes, realizada em plena submissao 4 vontade de Deus — nem em s0- nhos deve alguém pensar em desfazé-la. Depois, perante a insisténcia dos fariseus, Ele admite o divércio ser licito, quando o que se manifes- ta no é a vontade de Deus mas a perversidade hu- mana; e quase da a entender que nem todos podem contemplar o matriménio pelo prisma sublime que Ele apontou (v. 11). Depois fala de trés classes de eunucos (pessoas impotentes para a procriacdo). E evidente que a ter- coira classe se entende espiritual e ndo fisicamente, Jesus recebe e abencoa meninos (13-15). Estes versiculos preciogos justificam a Escola Dominical, que nio é referida diretamente na Biblia, O moco rico (16-30). Néo sabemos em que senti- do o mogo empregou as palavras aramaicas que Ma- teus traduz, no versiculo 16, “zoem aionion”, ou vida eterna. Literalmente vida da época (mileniar)”. inamos que o moco néo tinha nenhuma idéia de viver para sempre nem tampouco de atingir uma extraordindria longevidade, mas podemos acre- ditar que tivesse ouvido Jesus, ou um dos disc{pulos, falar dessa vida mais abundante (espiritualmente falando), e sentiu o desejo de entrar numa vida mais do que a existéncia mesquinha ¢ trivial que via em redor de si. ‘Vemos em Jodo 5.39 que os judeus se preocupa- vam bastante com “a vida da época”” vindoura. Com isto concorda a resposta de Jesus: ‘Se queres entrar na vida...” A porta de entrada nessa vida mais abun- dante, pensavam os israclitas piedosos, que fosse a obediéncia santa lei divina (mas, na verdade era pela fé, porque pela lei ninguém foi salvo). Isto é a parte quo se referia a entrada na vida, mas o gozo dela na sua plenitude havia de ser estrei- tamente ligado com o proprio Senhor Jesus, median- te a intimidade de uma {6 continua (Jo 3.16) e um andar na companhia dela (v. 21), depois de se ter de- sembaracado de qualquer empecilho, que, no caso do mogo, eram as suas riquezas. Esta é a primeira vez que lemos de “vida eterna” nos evangelhos. Devemos preferir o sentido de “vida da época (vindoura)”, que dé a idéia de uma vida sobremaneira excelente, no futuro, No versiculo 17 0 dr. Torrey traduz: “O bom & um”. Quem ¢ esse “um” entende-se melhor de Mar- 0s 10.18 e Lucas 18.19 (0. 20). Jesus quis corrigir a maneira de pensar e falar do mogo. O titulo "Bom Mestre” tinha tom de lisonja, Sem falar da vida etema, Jesus explica que a manei- ra de entrar na vida ésubmeter-se a lei de Deus, isto é, guardar inteiramento essa Lei {mas ninguém ja- mais conseguiu isso]. Entdo deu a entender que de- pois de se desembaracar das suas riquezas 0 moco poderia provar uma vida mais sublime, mais aben- oada, seguindo-o. Consulte-se também a explicagdo do mesmo incidente em Marcos 10. No versiculo 24 temos, provavelmente, um exem- plo da figura de retérica chamada hipérbole (exage- to), empregada vérias vezes na Biblia (18.8,9; 19.12, etc.) Também pode ser, como alguns entendem, que 0 fundo de uma agutha era onome de uma portinho- Jana porta da cidade, onde um camelo (animal bem maior que 0 cavalo) s6 passava depois que Ihe tiras- sem toda a carga. 323

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