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13/09/2019

Direito 1

Comercial
2. OS ACTOS DE COMÉRCIO

DOCENTE: PEDRO DIAS VENÂNCIO

4.º ANO (UC ANUAL)

LICENCIATURA EM DIREITO PÓS-LABORAL

ESCOLA DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO MINHO – ANO: 2019/2020

Bibliografia recomendada Legislação aplicável 2


 JORGE MANUEL COUTINHO DE  Código Civil
ABREU, Curso de Direito
Comercial – I, 9.ª Ed., Almedina,  Código Comercial
Coimbra, 2013 (pp. 65 a 108)

 MIGUEL PUPO CORREIA, Direito


Comercial - Direito da Empresa,
Ediforum, Lisboa, 2011,(p. 413 a AVISO IMPORTANTE
444)
OS PRESENTES APONTAMENTOS SãO
MEROS ESquEMAS dAS AulAS E
NãO dISPENSAM O ESTudO dA
bIblIOgRAfIA REcOMENdAdA!

Material de estudo de consulta obrigatória!

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NOÇÃO DE
ACTO DE
COMÉRCIO
NOTAS INTRODUTÓRIAS AO CAPÍTULO

NOÇÃO DE “ACTO DE COMÉRCIO” 4


Do artigo 2ª do Código Comercial resulta que certos actos jurídicos –
certos acontecimentos juridicamente relevantes – são qualificados
como comerciais, sendo a estes que se aplica o Direito Comercial,
enquanto ramo de direito privado especial.

Assim, a delimitação dos “actos de comércio” é relevante:


 enquanto delimitação do objecto do estudo científico do Direito Comercial;
 enquanto delimitação do objecto do Direito Comercial enquanto direito
privado especial do Direito Civil;
 enquanto delimitação dos actos jurídicos a que se aplica o regime especial
comum aos actos de comércio;
 classificação dos sujeitos como comerciantes.

Esta delimitação far-se-á, essencialmente, através da conjugação de
dois preceitos - os artigos 2º e 230º do Código Comercial !

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NOÇÃO DE “ACTO DE COMÉRCIO” 5


Artigo 2.º do Código Comercial
Actos de comércio

“Serão considerados actos de comércio todos aqueles que se acharem


especialmente regulados neste Código, e, além deles, todos os
contratos e obrigações dos comerciantes, que não forem de natureza
exclusivamente civil, se o contrário do próprio acto não resultar.”

 Duas primeiras questões se colocam:

◦ Qual o conceito de “acto” para este artigo?

◦ O que caracteriza a “comercialidade” do acto?

NOÇÃO DE “ACTO DE COMÉRCIO” 6


1ª questão: Conceito de “acto” no art. 2.º do Código Comercial.

 No entendimento de PUPO CORREIA (obra citada, pp. 413 e 414), enquanto o


“acto jurídico” em sentido estrito é apenas o facto jurídico voluntário, o “acto
de comércio” tem neste artigo 2º do Código Comercial um sentido mais
amplo, abrangendo quaisquer factos jurídicos verificados na esfera das
atividades mercantis e ao qual sejam atribuídos efeitos jurídicos, sejam eles:
 naturais ou involuntários
 voluntários, lícitos ou ilícitos (atos jurídicos);
 negócios jurídicos

 Em sentido diverso, COUTINHO DE ABREU (obra citada, pp. 49 a 54), define os


atos de comércio como «os factos jurídicos voluntários especialmente
regulados na lei comercial e os que, realizados por comerciantes, respeitem
as condições previstas no artigo 2º do Código Comercial».
 Este autor excluí, assim, os factos naturais ou involuntários da qualificação
de actos de comércio!

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NOÇÃO DE “ACTO DE COMÉRCIO” 7


2ª questão: elemento de “comercialidade”

Do mesmo artigo 2º do Código Comercial devemos entender que o conceito de


ACTOS DE COMÉRCIO, abrange:
 Quer os factos isolados ou ocasionais, que podem ser praticados por
comerciantes ou não comerciantes (cfr. Art. 1.º CCom):
◦ o saque, aceite ou endosso de uma letra,
◦ a compra de um bem para revenda,
 Quer os actos jurídicos integrados numa actividade comercial visando fins
comuns:
◦ fim imediato – a exploração de um negócio;
◦ fim mediato – a obtenção de lucro;

É a integração deste conceito de «actividade comercial», essencial à
caracterização de actos jurídicos como «actos de comércio», que nos remete
para o artigo 230º do Código Comercial !

NOÇÃO DE “ACTO DE COMÉRCIO” 8

O Artigo 230.º do Código Comercial apresenta uma classificação das


“Empresas comerciais”, nos seguintes termos:

 Os “números” 1.º a 7.º estabelecem as actividades tidas como


comerciais (regime regra)

 Os “parágrafos” § 1.º a 3.º– estabelecem as actividades tidas como


sendo exclusivamente civis que constituem excepções às regras
enunciadas em cima

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NOÇÃO DE “ACTO DE COMÉRCIO” 9

Qual o alcance do preceituado neste artigo 230º do Código Comercial


para o preenchimento do conceito de «acto de comércio»?

 Para uns, tem um carácter essencialmente subjectivo, relevando


para a qualificação como “comerciante” dos titulares das empresas
aí enunciadas;

 Para outros, o seu sentido é antes objectivo, na medida em que


qualifica como comerciais as actividades aí enunciadas e logo os
seus actos típicos. (o que conjugado com o artigo 13º do Código
Comercial determinará um resultado prático idêntico quanto à
qualificação dos comerciantes!)

NOÇÃO DE “ACTO DE COMÉRCIO” 10


No entanto, devemos entender que a enumeração do artigo 230º do
Código Comercial não é taxativa !

 Existem outras actividades qualificadas como comerciais, quer no


próprio Código Comercial, quer em legislação avulsa:
◦ O comércio em sentido económico (artigo 463º do CCom)
◦ O contrato de conta corrente (artigo 344.º do CCom)
◦ A locação financeira (DL 231/81, de 28/06)
◦ A agência ou representação comercial (DL 178/86, de 3/7)
◦ Etc…

CONCLUSÃO
não existe um conceito unitário e homogéneo de “acto de comércio” !

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ACTOS DE
COMÉRCIO
OBJECTIVOS E SUBJECTIVOS
OS DOIS TIPOS ESSENCIAIS DE ACTOS DE COMÉRCIO

ACTOS DE COMÉRCIO “OBJECTIVOS” e “SUBJECTIVOS” 12


O ARTIGO 2º DO CÓDIGO COMERCIAL

Serão considerados actos de comércio…

1º - …todos aqueles que se acharem especialmente regulados


neste Código,

e, além deles,

2ª - …todos os contratos e obrigações dos comerciantes, que não


forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do
próprio acto não resultar.

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ACTOS DE COMÉRCIO “OBJECTIVOS” e “SUBJECTIVOS” 13


 1.ª parte do artigo 2.º do Código Comercial

actos de comércio objectivos

«Serão considerados actos de comércio todos aqueles que se acharem


especialmente regulados neste Código» - artigo 2.º (1ª parte) do Código
Comercial
+
«sejam ou não comerciantes as pessoas que neles intervém» - artigo 1.º (in fine)
do Código Comercial

 critério objectivo de integração de actos jurídicos na qualificação de


“actos de comércio”:
! o facto de estarem previstos em determinado diploma !

ACTOS DE COMÉRCIO “OBJECTIVOS” e “SUBJECTIVOS” 14


 2.ª parte do artigo 2.º do Código Comercial

actos de comércio subjectivos

«Serão considerados actos de comércio (…) todos os contratos e obrigações dos


comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do
próprio acto não resultar» -artigo 2º (2ª parte) do Código Comercial:

 critério subjectivo de integração de actos jurídicos na qualificação


de “actos de comércio”:

! o facto de serem praticados por ou dizerem respeito a um


comerciante!

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ACTOS DE
COMÉRCIO
”OBJECTIVOS”
EXPRESSÃO DA CONCEPÇÃO OBJECTIVISTA DO
DIREITO COMERCIAL

ACTOS DE COMÉRCIO OBJECTIVOS


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Artigo 2º (1ª parte) do Código Comercial

«Serão considerados actos de comércio todos aqueles que se acharem


especialmente regulados neste Código»

 Mas atualmente o Direito Comercial não se encontra todo inserido no


Código Comercial, temos assim que considerar:
1 - actos exclusivamente regulados no Código Comercial
2 – actos regulados na legislação comercial extravagante posterior ao
Código Comercial
3 - actos simultaneamente regulados na lei civil e na lei comercial

Devemos incluir todas estas categorias no conceito de


“acto de comércio objectivo” ?

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ACTOS DE COMÉRCIO OBJECTIVOS


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 1º - actos exclusivamente regulados no Código Comercial

previsão literal do artigo 2º (1ª parte) do Código Comercial
 Exemplos:
◦ conta-corrente – artigo 344.º do Ccom
◦ transporte – artigo 366.º do CCom
◦ Seguro – art. 425.º Ccom
◦ Os actos típicos das actividade s do 230.º CCom.

 Neste caso não há dúvidas que são actos de comércio objectivos e,


nessa medida, regulados pela Direito Comercial, «sejam ou não
comerciantes as pessoas que neles intervém» conforme estipula o
artigo 1º do Código Comercial.

ACTOS DE COMÉRCIO OBJECTIVOS


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 2ª – actos regulados em legislação comercial extravagante posterior
ao Código Comercial

 A previsão do artigo 2º (1º parte) do Código Comercial deve aqui ser
interpretada de forma extensiva, pois:
◦ à data da sua entrada em vigor todos os actos de comércio estavam
regulados no Código Comercial, sendo essa a intenção da Lei;
◦ a evolução legislativa foi no sentido da descodificação do Direito
Comercial, multiplicando-se os diplomas extravagantes.

pelo que estes actos devem ser considerados abrangidos pela “ratio legis” e,
logo, também actos de comércio objectivos !
 Exemplos:
◦ locação financeira – DL 149/95, de 24/06;
◦ agência – DL 178/86, de 3/7

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ACTOS DE COMÉRCIO OBJECTIVOS


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 3º - actos simultaneamente regulados na lei civil e na lei comercial

 Princípio: são “actos civis” (ramo de direito privado geral)

 Serão “actos de comércio” «quando neles se verificarem aquelas


características típicas que a lei comercial estabelece como
atributivas da comercialidade» (PUPO CORREIA)

 Exemplos:
◦ Fiança art.627º e ss do CCiv + art. 101º do CCom.
◦ Mandato art. 1157º e ss do CCiv + art. 231º e ss do CCom
◦ Penhor art. 666º e ss do CCiv + art. 397º e ss do CCom.
◦ Compra e venda art. 874.º e ss Cciv + Art. 463.º e 464.º Ccom.

ACTOS DE COMÉRCIO OBJECTIVOS


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 Será possível a aplicação analógica do artigo 2º, 1ª parte do Código
Comercial?

 NÃO (Pupo Correia, obra citada, pp. 419 a 421)


→ não é compatível com o teor literal do artigo 2º;
→ não está previsto na lei (como acontece com o CCom
Espanhol);
→ violaria o princípio da segurança e certeza jurídica

 SIM (Coutinho de Abreu, obra citada, pp. 71 e ss)


→ tem-se recorrido à analogia para integrar a norma do artigo 230º do
CCom quanto às actividade comerciais;
→ tem-se recorrido, na doutrina e jurisprudência, à aplicação
analogia de certos regimes jurídicos comerciais a actos inominados
(nomeadamente no âmbito dos contratos de distribuição comercial);
→ é uma necessidade imposta pela evolução do comércio e
introdução de novas práticas comerciais.

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ACTOS DE
COMÉRCIO
“SUBJECTIVOS”
EXPRESSÃO DA CONCEPÇÃO SUBJECTIVISTA DO
DIREITO COMERCIAL

ACTOS DE COMÉRCIO SUBJECTIVOS


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Artigo 2º (2ª parte) do Código Comercial:

«Serão considerados actos de comércio (…) todos os contratos e


obrigações dos comerciantes, que não forem de natureza
exclusivamente civil, se o contrário do próprio acto não resultar»


 Este artigo estabelece uma presunção de comercialidade:

◦ os actos dos comerciantes são comerciais porque presumem-se


ligados à sua actividade mercantil !

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ACTOS DE COMÉRCIO SUBJECTIVOS


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 Ora, esta presunção o artigo 2.º do Código Comercial deve entender-
se iuris tantum, logo, ilidível !

 Sendo o mesmo artigo 2.º, na sua parte final, a estabelecer as


situações que permitem ilidir a presunção da comercialidade dos
actos dos comerciantes:

1. serem de “natureza exclusivamente civil”

2. “se o contrário do próprio acto não resultar”

 Nota: também há quem entenda ser uma presunção juris et de jure, e logo
inilidível, sendo que para estes a presunção teria um requisito positivo e dois
requisitos negativos. (COUTINHO DE ABREU, obra citada, pp. 87 e 88) – o que
resultará em efeitos práticos idênticos.

ACTOS DE COMÉRCIO SUBJECTIVOS


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 1.ª Excepção: Os «actos de natureza exclusivamente civil»

«acto de natureza exclusivamente civil é aquele que for essencialmente civil, ou


seja, que não possa ser praticado em conexão com o comércio, que não possa
ser “comercializado”, por ser impossível que tenha alguma conexão como
exercício do comércio, nem pode dele derivar»
BARBOSA DE MAGALHÃES e FERRER CORREIA

 Serão actos de natureza exclusivamente civil, desde logo, os actos de


natureza extra-patrimonial e os ligados à personalidade singular:
◦ o casamento,
◦ a adopção,
◦ a perfilhação;
◦ a nomeação de tutor a menor.
◦ …

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ACTOS DE COMÉRCIO SUBJECTIVOS


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 2.ª Excepção: “se o contrário do próprio acto não resultar”

 “do próprio acto” significa:


 a prova da não comercialidade do acto restringe-se aos elementos do
próprio acto,
 mas devemos incluir nesta interpretação as circunstâncias conhecidas ou
cognoscíveis concomitantes com o acto (≈ artigo 236º n.º 1 do Código
Civil)
 neste sentido restringe-se a liberdade de prova.

 “resultar” “o contrário” significa:


 que o acto não se insere na actividade mercantil do comerciante.
 Pois “inserir-se na actividade mercantil do comerciante” é, como vimos
antes, o fundamento da presunção de comercialidade dos actos dos
comerciantes!

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ACTOS DE
COMÉRCIO
ABSOLUTOS E ACESSÓRIOS
CLASSIFICAÇÕES DE ACTOS DE COMÉRCIO

ACTOS DE COMÉRCIO ABSOLUTOS e ACESSÓRIOS


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 Actos de Comércio Absolutos/Autónomos e Acessórios

 Actos de comércio autónomos (ou Absolutos) são «os qualificados de


mercantis por si mesmos, independentemente de ligação a outros
actos ou actividades comerciais» - COUTINHO DE ABREU


 Actos de comércio acessórios são «os que devem a sua
comercialidade ao facto de se ligarem ou conexionarem a actos
mercantis» - COUTINHO DE ABREU

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ACTOS DE COMÉRCIO ABSOLUTOS OU AUTÓNOMOS


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ACTOS DE COMÉRCIO ABSOLUTOS ou AUTÓNOMOS

 Podemos distinguir 2 tipos:

 1.º - Os que são absolutos porque são «actos caracterizadores, típicos,


essencialmente integrantes daquelas actividades que formam o objecto
material do direito comercial» (PUPO CORREIA)

 a integração destes pressupõe o recurso ao conceito de actividades
comerciais (em sentido jurídico) – artigo 230º CCom
 actividades de mediação nas trocas (463º CCom);
 actividades industriais (230º, 1, 4, 5, 6 CCom);
 actividades financeiras (362º CCom);
 actividades aleatórias (435º CCom);
 actividades de prestação de serviços (230º 3, 7 e 366º CCom).

ACTOS DE COMÉRCIO ABSOLUTOS OU AUTÓNOMOS


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ACTOS DE COMÉRCIO ABSOLUTOS ou AUTÓNOMOS

 Podemos distinguir 2 tipos:

 2.º - Os que são absolutos «em razão da sua forma ou do objecto sobre o qual
incidem» (PUPO CORREIA)

 quando os actos assumem uma forma típica comercial
(como é o caso dos actos relativos às Letras de Câmbio – o saque, o aceite,
endosso, o aval)
ou
 quando os actos incidem sobre um objecto de natureza comercial
(como é o caso dos actos sobre o “estabelecimento comercial” – o trespasse)

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ACTOS DE COMÉRCIO ACESSÓRIOS


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ACTOS DE COMÉRCIO ACESSÓRIOS

são conexos de um acto comercial absoluto
ou
são conexos de uma actividade comercial

 Assim, são actos de comércio acessórios:


1. Os actos de comércio apenas subjectivos;
2. Mas também alguns actos de comércio objectivos

 aqueles cuja comercialidade é um atributo acessório do tipo
dependente da existência de outro acto de comércio absoluto com
o qual se relacionam:
 o mandato comercial (art. 231º CCom)
 a fiança comercial (art. 101º CCom)
 o penhor comercial (art. 397º CCom)

ACTOS DE COMÉRCIO ABSOLUTOS e ACESSÓRIOS


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 Utilidade da distinção entre

actos comerciais absolutos e acessórios

! a utilidade prática desta distinção reside no facto de a doutrina


dominante entender que o n.º 1 do artigo 13º do Código Comercial só
atribuí a qualidade de comerciante a quem pratique profissionalmente
actos de comércio que, além de objectivos, sejam
absolutos/autónomos !

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ACTOS DE COMÉRCIO
BILATERAIS e UNILATERAIS
CLASSIFICAÇÕES DE ACTOS DE COMÉRCIO

ACTOS DE COMÉRCIO BILATERAIS E UNILATERAIS


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 ACTOS DE COMÉRCIO BILATERAIS (ou PUROS)
e UNILATERAIS (ou MISTOS)

 a distinção aplica-se aos actos que sejam negócios jurídicos bilaterais


(contratos) e quanto à qualificação é simples:
 BILATERAIS - são actos cuja comercialidade se verifica em relação a
ambas as partes!
 UNILATERAIS – são actos cuja comercialidade se verifica só em relação a
uma das partes!

 as dúvidas têm surgido quanto ao regime aplicável, se é BILATERAL aplica-se


a lei comercial mas e se é UNILATERAL ?

! a solução está no artigo 99º do Código Comercial !

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ACTOS DE COMÉRCIO BILATERAIS E UNILATERAIS


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ARTIGO 99º DO CÓDIGO COMERCIAL
(regime dos actos de comércio unilaterais)

 Estabelece o Princípio da UNIDADE DO SISTEMA !



«embora o acto seja mercantil só com relação a uma das partes será
regulado pelas disposições da lei comercial quanto a todos os contratantes»
+
«ficando (…) todos sujeitos à jurisdição comercial»

 Excepção: «salvo as que só foram aplicáveis àquele ou àqueles por cujo


respeito o acto é mercantil»

! aquelas que pela sua natureza apenas são aplicáveis a quem exerce o
comércio !
Exemplo: artigo 100º § único CCom

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OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DE
ACTOS DE COMÉRCIO
ACTOS SUBSTANCIALMENTE E FORMALMENTE FORMAIS
ACTOS DE COMÉRCIO CAUSAIS E ABSTRACTOS

ACTOS SUBSTANCIALMENTE & FORMALMENTE COMERCIAIS


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 ACTOS SUBSTANCIALMENTE & FORMALMENTE COMERCIAIS

 a distinção coloca-se no âmbito dos actos comerciais objectivos:

 há actos comerciais objectivos, cujo tipo formal vem regulado na Lei


Comercial, que podem ser utilizados para diversos fins económicos, inclusive,
para fins não comerciais e por não comerciantes.

!temos assim actos formalmente comerciais, que sendo praticados por não
comerciantes para fins não comerciais, não são substancialmente comerciais!

◦ É exemplo típico a utilização dos títulos de crédito comerciais (letras,


livranças e cheques) fora das actividades comerciais.

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ACTOS DE COMÉRCIO CAUSAIS e ABSTRACTOS


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 ACTOS DE COMÉRCIO CAUSAIS e ABSTRACTOS

 Diz-se causal todo o acto que a lei regula em ordem a preencher uma
determinada e específica função causa-efeito jurídico-económica. (PUPO
CORREIA)
◦ (exemplo típico é o compra para venda)

 É abstracto aquele acto que se revela adequado a preencher uma


multiplicidade indeterminada de causas-funções, podendo a relação jurídica
que dele resultar ter uma vida independente da relação que lhe deu origem.
(PUPO CORREIA)
◦ (exemplo típico são os títulos de crédito)

! esta distinção será particularmente relevante quando estudarmos os regimes


dos títulos de crédito !

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ACTOS DE COMÉRCIO
EXEMPLOS

ACTOS DE COMÉRCIO PREVISTOS NO CÓDIGO COMERCIAL


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 fiança (artigo 101º)  Penhor (artigo 397º, ss)  aluguer (artigo 481º e
482º)
 empresa (artigo 230º)  depósito (artigo 403º,
ss.)  transmissão e reforma
 mandato (artigo 231º,
de título de crédito
ss.)  depósito de géneros e
mercantil (artigos 483º e
mercadorias nos
 conta corrente (artigo 484º)
armazéns gerais (artigo
344º,ss.)
408º, ss.)  actos relativos ao
 operações de banco comércio marítimo (livro
 compra e venda (artigo
(artigo 362º, ss.) III do CCom.)
463º, ss.)
 transporte (artigo 366º,
 reporte (artigos 477º, ss.)
ss.)
 escambo ou troca
 empréstimo (artigo 394º,
(artigo 480º)
ss.)

Nuns casos o Código Comercial estabelece o regime jurídico dos actos, noutros
limita-se a afirmar a sua comercialidade remetendo o respectivo regime para
legislação extravagante!

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ACTOS DE COMÉRCIO PREVISTOS EM LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE


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 Como determinar se a legislação extravagante é comercial?

1. quando vem substituir normas do Código Comercial:

◦ actos constitutivos das sociedades comerciais, actualmente no


CSC e anteriormente nos artigos 104º e ss do CCom.

◦ os actos respeitantes a Letras, Livranças e Cheques, actualmente


na LULL e LUCh e anteriormente nos artigos 278º e ss do CCom.

◦ As operações de bolsa, actualmente no CVM e anteriormente nos


artigos 351º e ss do CCom.

ACTOS DE COMÉRCIO PREVISTOS EM LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE


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 Como determinar se a legislação extravagante é comercial?

2. quando ela própria se qualifica como comercial, ou qualifica


determinados actos como comerciais:

◦ As disposições do Código Civil relativas à transmissão de


estabelecimento comercial (artigos 1109º, 1112º, CCiv);

◦ A actividade de mediação de seguros (DL 388/91, 10/10)

◦ Etc.

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ACTOS DE COMÉRCIO PREVISTOS EM LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE


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 Como determinar se a legislação extravagante é comercial?

3. quando não estando expressamente qualificadas como tal, são


actos análogos aos actos comerciais objectivos.

(PUPO CORREIA – não aceita o recurso à analogia
COUTINHO DE ABREU – aceita o recurso à analogia)


ANALOGIA LEGIS e ANALOGIA JURIS
↓ ↓
Aplicação ao caso omisso Aplicação ao caso omisso dos mesmos
de uma norma que prevê princípios de direito subjacentes às
uma situação análoga normas que regulam situações análogas

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REGIME JURÍDICO ESPECIAL DOS ACTOS DE


COMÉRCIO
1. O PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE CONVENÇÃO

2. A RESPONSABILIDADE “SOLIDÁRIA”

3. A PRESCRIÇÃO DAS OBRIGAÇÕES COMERCIAIS

4. OS “JUROS” COMERCIAIS

5. A “ONEROSIDADE”

[CFR. PUPO CORREIA, OBRA CITADA, PP.433 A 443]

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1) O princípio da liberdade de
convenção
a) A LIBERDADE DE FORO E DE JURISDIÇÃO
b) A LIBERDADE DE “LÍNGUA”
c) A LIBERDADE DE “PROVA”
d) A “DESFORMALIZAÇÃO”

Requisitos de «forma» e «prova» dos actos de comércio


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 A) A liberdade de foro e de jurisdição

 O artigo 4.º CCom.quando à Lei Reguladora dos actos de comércio,


admite sempre “convenção em contrário” quanto à lei competente
para regular os actos de comércio

 Também o artigo 6.º CCom. Admite “convenção especial de que


outra forma determine quanto ás relações comerciais com
estrangeiros.

 Conclui-se daqui um princípio geral de liberdade de escolha de


foro e de jurisdição no âmbito das relações internacionais entre
comerciantes.

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Requisitos de «forma» e «prova» dos actos de comércio


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Princípio geral do direito civil: A LIBERDADE DE FORMA !

Artigo 219º do Código Civil (Liberdade de forma)

A validade da declaração negocial não depende da observância de


forma especial, salvo quando a lei a exigir.

 Face às necessidades de promoção das actividades mercantis, o


Princípio da Liberdade de Forma é tendencialmente mais extenso no
âmbito da legislação comercial, são disso exemplos:

◦ a liberdade de “língua”

◦ a liberdade de “prova”

◦ a “desformalização”

Requisitos de «forma» e «prova» dos actos de comércio


52
 b) a liberdade de “língua”:

Artigo 96.º do Código Comercial


(Liberdade de língua nos títulos comerciais)

Os títulos comerciais serão válidos, qualquer que seja a língua em que


forem exarados.

artigo 365º do Código Civil e artigo 44º do Código Notariado!

 Existem, no entanto, excepções a esta liberdade de língua, mas


essencialmente para protecção dos não comerciantes, ou seja, no
âmbito da legislação de protecção do consumidor!

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Requisitos de «forma» e «prova» dos actos de comércio


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 c) a liberdade de “prova”

Admissibilidade da correspondência telegráfica e seu valor probatório:

Artigo 97.º do Código Comercial ≠ Artigo 379º do Código Civil


DIREITO COMERCIAL DIREITO CIVIL
SE assinados, firmados ou SE escritos ou assinados
expedidos
= =
Valor probatório dos documentos particulares

 Art. 376.º do Código Civil (força probatória dos documentos


particulares).

Requisitos de «forma» e «prova» dos actos de comércio


54
 d) a “desformalização” de determinados actos

 d.1) artigo 396º do C. Comercial ≠ artigo 1143º do C. Civil

Prescinde das exigências de forma escrita ou

escritura pública para prova do empréstimo mercantil!

 d.2) artigo 398º do C. Comercial ≠ artigo 669º do C. Civil

Prescinde da entrega da coisa empenhada para a

eficácia do penhor mercantil !

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2) a responsabilidade
“solidária”
EXPLICITAÇÃO

a responsabilidade “solidária”
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NOÇÕES INTRODUTÓRIAS – ART.512.º E 513.º DO CÓDIGO CIVIL

RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA


↓ ↓
quando respondem pela o devedor subsidiário apenas
obrigação, integralmente e em responde pela obrigação em
simultâneo, quer o devedor caso de incumprimento, ou
principal quer qualquer dos incapacidade de cumprimento,
responsáveis solidários (art. 512º do devedor principal
Código Civil)

↓ ↓
só existe por imposição da lei ou regime regra no direito civil
convenção (art. 513º CCivil, à contrário)
(art. 513º CCivil)

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a responsabilidade “solidária”
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 a) solidariedade passiva no Direito Comercial

Artigo 100.º do Código Comercial


Regra da solidariedade nas obrigações comerciais
Nas obrigações comerciais os co-obrigados são solidários, salva
estipulação contrária.
§ único. Esta disposição não é extensiva aos não comerciantes quanto
aos contratos que, em relação a estes, não constituírem actos
comerciais.

 o que torna esta caracterísca mais típica dos “comerciantes” e nem


tanto dos “actos de comércio”, embora também seja aplicável aos não
comerciantes nos actos de comércio objectivos!

≠ Artigo 513º do Código Civil

a responsabilidade “solidária”
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 b) solidariedade do fiador mercantil

Artigo 101.º
Solidariedade do fiador
Todo o fiador de obrigação mercantil, ainda que não seja comerciante,
será solidário com o respectivo afiançado.


Artigo 627º n.º 2 do Código Civil
A obrigação do fiador é acessória da que recai sobre o principal devedor.
+
Artigo 638º n.º 2 do Código Civil
Ao fiador é lícito recusar o cumprimento enquanto o credor não tiver excutido
todos os bens do devedor sem obter a satisfação do seu crédito. (=benefício de
excussão)

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3) A prescrição das
obrigações comerciais
A PRESCRIÇÃO PRESUNTIVA DO ART. 317.º DO CCIVIL

A prescrição das obrigações comerciais


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NOÇÕES INTRODUTÓRIAS – ART. 298.º e 300.º ss do CÓDIGO CIVIL

 Artigo 298º n.º 1 do Código Civil:


 «Estão sujeitos a prescrição, pelo seu não exercício durante o lapso de tempo
estabelecido na lei, os direitos que não sejam indisponíveis ou que a lei não
declare isentos de prescrição.»

 PRAZOS GERAIS DE PRESCRIÇÃO – art. 309º a 311º do C. Civil


 prazo ordinário de 20 anos  309.º DO Código Civil
 prazo especial de 5 anos  art. 310º do Código Civil
 efeito: art. 304.º CCiv. ≈ art. 402.º e ss CCiv!

 PRESCRIÇÕES PRESUNTIVAS – artigos 312º a 317º do C. Civil


 fundam-se na presunção de cumprimento;
 são ilidíveis (admitem prova em contrário) – art. 313º CCi
 prescrição de 6 meses – art. 316º Código Civil;
 prescrição de 2 anos – art. 317º do Código Civil.

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A prescrição das obrigações comerciais (REVISTO)


61
 Artigo 317º, b) do Código Civil (norma materialmente comercial)

 Prescrevem no prazo de dois anos:

 Os créditos dos comerciantes pelos objectos vendidos a quem


não seja comerciante ou os não destine ao seu comércio,
+
 e bem assim os créditos daqueles que exerçam profissionalmente
uma indústria, pelo fornecimento de mercadorias ou produtos,
execução de trabalhos ou gestão de negócios alheios, incluindo
as despesas que hajam efectuado, a menos que a prestação se
destine ao exercício industrial do devedor;

comerciantes
(Artigos 13.º e 230.º n.º 1 C. Com) CIVIL ≠consumidor

A prescrição das obrigações comerciais


62
 Conclusões:

 O prazo de prescrição de 2 anos é aplicável aos créditos dos


comerciantes sobre não comerciantes ou comerciantes fora do
exercício do comércio (≈ consumidores).

 trata-se de uma prescrição presuntiva – artigo 312º do Código


Civil: «As prescrições de que trata a presente subsecção fundam-
se na presunção de cumprimento.»

 Logo, não há reciprocidade: quando o credor não é


comerciante, ou quando o devedor for um comerciante no
exercício do seu comércio aplica-se o prazo geral de 20 anos -
art. 309.º C.Civ.

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4) Os “Juros” Comerciais
a) JUROS COMERCIAIS CONVENCIONAIS
b) JUROS COMERCIAIS LEGAIS

Os “Juros” Comerciais
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 4.a) os juros comerciais convencionais

Artigo 102º § 1.º do Código Comercial


«A taxa de juros comerciais só pode ser fixada por escrito.»

Mas devem respeitar os princípios dos artigos 559º-A e 1146º do Código


Civil (ex vi 102º § 2º do Código Comercial), nos termos dos quais:

 É havido como usurário o contrato de mútuo em que sejam


estipulados juros anuais que excedam os juros legais, acrescidos de
3% ou 5%, conforme exista ou não garantia real.
 É havida também como usurária a cláusula penal que fixar como
indemnização devida pela falta de restituição de empréstimo,
relativamente ao tempo de mora, mais do que o correspondente a
7% ou a 9% acima dos juros legais, conforme exista ou não garantia
real.

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Os “Juros” Comerciais
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 4.b) os juros comerciais legais

Art, 559.º do Código Civil – prevê a taxa de juros legal civis aplicáveis
quando o credor não é comerciante

A taxa de juros legal civil é fixada por portaria conjunta dos Ministros da
Justiça e das Finanças!


Artigo 102º § 3 e 4 do Código Comercial – prevê uma taxa legal
supletiva para os juros “comerciais”, ou seja, quando o credor é
comerciante.

Os “Juros” Comerciais (REVISTO)


66
 4.b) os juros comerciais legais

Artigo 102º § 3 do Código Comercial



A taxa de juros comerciais é fixada por portaria conjunta dos Ministros
da Justiça e das Finanças .

Artigo 102º § 4 do Código Comercial



Mas não poderá ser inferior ao valor da taxa de juro aplicada pelo
Banco Central Europeu à sua mais recente operação principal de
refinanciamento efectuada antes do 1.º dia de Janeiro ou Julho,
consoante se esteja, respectivamente, no 1.º ou no 2.º semestre do ano
civil, acrescida de 8 pontos percentuais.

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Os “Juros” Comerciais (REVISTO)


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 4.b) os juros comerciais legais

 Por força do Decreto-Lei n.º 62/2013, de 10 de Maio, e Portaria n.º


277/2013, de 26 de agosto, a taxa supletiva de juros moratórios
comerciais legais corresponder à taxa do BCE acrescida de 8 %,
cabendo à Direcção Geral do Tesouro e Finanças a divulgação do
seu valor através de AVISO publicado na 2ª Série do Diário da
República.

 As taxas de juros legais comercias podem ser consultados em:


http://www.dgtf.pt/avisos-e-circulares/taxas-de-juros-moratorios

 4.c) os juros sobre créditos representados por Letras, Livranças e


Cheques 68
 Os artigos 48º da LULL e artigos 45º e 46º da LUCh, decorrentes de
tratados internacionais ratificados em 1934 por Portugal, estabeleciam
uma taxa juros de mora para estes títulos de crédito em 6% ao ano!

! Com a crescente inflação esta taxa deixou de ser adequada às finalidade


da segurança do comércio !


 O DL 262/83 de 16/06 veio no seu artigo 4º permitir que também os
credores destes títulos possam exigir juros no montante da taxa de juros
fixada nos termos do artigo 102º § 3 do Código Comercial ou do artigo
559º do Código Civil, dependendo do facto da dívida nela
consubstanciada ser comercial ou cível.

Os “Juros” Comerciais

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5) a “onerosidade”
a) EXEMPLOS DE PREVISÃO DE PRESUNÇÃO DE ONEROSIDADE
b) O PRINCÍPIO DE ONEROSIDADE

A “ONEROSIDADE” 70
 5.) exemplos de previsão de onerosidade

Encontramos inúmeros exemplos na legislação comercial de expressa


previsão da presunção de onerosidade:

No Código Comercial:

a) Art. 232.º CCom,. – no mandato comercial

b) Art. 395.º CCom. – no empréstimo comercial

c) Art. 404.º CCom. – no depósito comercial

Mas também em legislação comercial avulsa:

a) Art. 255.º C. Soc. Com. – na gerência nas Sociedades por Quotas

b) Art. 59.º n.º 2 do C. P. Ind. – actividade inventiva nas Patentes

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A “ONEROSIDADE”
71
 5.b) o princípio da onerosidade

Na natureza própria da actividade comercial - a obtenção do lucro- e


da prevalência de um conjunto alargado de situações de previsão
expressa da presunção de onerosidade de actos comerciais, a doutrina
e jurisprudência tendem a entender que existe um princípio geral de
presunção de onerosidade sobre todos os actos comerciais.

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