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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) PRESIDENTE DO CONSELHO DE ÉTICA E

DECORO PARLAMENTAR DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE


SÃO PAULO.

A Deputada MONICA DA BANCADA ATIVISTA, na qualidade de Líder da bancada do


Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) nesta Assembleia Legislativa, em conjunto com a
Deputada Estadual ISA PENNA, CELSO GIANNAZI​, brasileiro, divorciado,, portador do RG
número 15.921.867-6 e ​ANTONIO BIAGGIO VESPOLI, brasileiro, portador da cédula de
identidade RG nº 14.358.961-1, vereadores da Cidade de São Paulo, vêm à presença de
Vossa Excelência ​REPRESENTAR​, por quebra de Decoro Parlamentar, nos termos dos
artigos 2º, II e III, 5º, I, III e parágrafo único do 7º, IV do Código de Ética e Decoro
Parlamentar da ALESP; artigo 16, II, da Constituição Estadual; e, artigo 55, II, da
Constituição Federal, o ​Deputado Douglas Garcia (PSL), ​requerendo desde já a ​PERDA
DE SEU RESPECTIVO MANDATO​, e demais providências cabíveis, pelos fatos a seguir
expostos.

DOS FATOS

Em 01 de junho de 2020, o Deputado Douglas Garcia (PSL) divulgou nas suas redes
sociais uma verdadeira “caça às bruxas” pedindo dados pessoais e imagens dos cidadãos
que expressarem sua posição ideológica contra o fascismo.
Na data de hoje, 04 de junho de 2020, o respectivo Deputado divulgou uma lista com
quase mil páginas com nomes, endereços residenciais e redes sociais, caluniando essas
pessoas por autodeclarar antifascista, e equivocadamente, associa a organização criminosa,
uma vez que em poste do twitter o Anonymous fez a “hashtag” #antifascista.

Também em outra postagem afirma que os cidadãos paulistas que segundo ele
foram filtrados como antifas (antifascistas) são terroristas, portanto, mais uma vez
caluniando-os, e afirma que vai compartilhar a lista de pessoas a outros deputados de outros
Estados:
Link do acesso: ​https://twitter.com/DouglasGarcia/status/1268357682093789185

O Deputado Douglas Garcias no vídeo acima afirma que as pessoas que se


autodeclaram antifascistas são os anonymous, e que são grupos criminosos, terroristas, que
foram às ruas, pois segundo ele diz: ​“ser antifas é o mesmo que dizer eu sou terrorista,
eu destruo patrimônio público, eu taco rojão no policial militar, eu destruí
absolutamente tudo, eu preparo coquetel molotov, ou seja eu sou um guerrilheiro
urbano”.​

Segundo o código penal brasileiro, no seu art. 138, calúnia:

“Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como


crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.”

Ocorre que o Deputado cria fake news ao afirmar que ser antifascista é crime, que
pertencem a organização criminosa, terroristas, no mais incita a violência, ao divulgar a
suposta lista afirmando tratar-se de lista de “criminosos”. Onde se busca investigar um grupo
que opera como máquina de destruição de reputação de opositores por meio de notícias
falsas e estímulo de ofensas por militantes.

No mais, atribui a outros parlamentares serem representantes da suposta


organização criminosa, portanto, mais uma vez caluniando, difamando e espalhando ódio
aos parlamentares que se declaram antifascista.
Bem como mostra página do dossiê em seu vídeo, que trata-se da mesma lista de
mil dados pessoais que circularam nos whatsapp de pessoas do seu grupo, conforme
confirmam também seus próprios seguidores.

Por fim, neste vídeo o Deputado Douglas Garcia termina dizendo que teve seus
dados vazados, e usou a seguinte frase final: “Dá que eu te dou outra”. Uma alusão que
causaria temor compartilhando o tal dossiê.

Link do acesso: ​https://twitter.com/DouglasGarcia/status/1267868007570780161

Ao expor a vida de outras pessoas em iminente perigo de vida, haja vista que afirma
ser essas pessoas por ele acusadas são criminosas, e divulga fotos e endereços delas,
demonstram o intuito de ameaçar e incentivar violência contra elas, o que possivelmente
essa atitude pode enquadrar no art. 132 do Código penal:

“Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:


Pena - detenção, de três meses e um ano, se o fato não constitui crime mais grave”

Outrossim, os atos do Deputado Douglas Garcia (PSL) são ilegais, pois fere a Lei
12.965 de 23 de Abril de 2014 (marco civil internet), pois considera-se dados pessoas:
Nome completo, data de nascimento, endereço residencial, profissão, estado civil e as redes
sociais. Portanto, o art. 3º da respectiva lei disciplina a proteção dos dados pessoais. Bem
como, no art. 7º da mesma lei, afirma que são:

I - inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e


indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

VIII - informações claras e completas sobre coleta, uso, armazenamento,


tramamento e proteção de seus dados pessoais, que somente poderão ser
utilizados para finalidades que:
a) justifiquem sua coleta;
b) não sejam vedadas pela legislação;
c) estejam especificadas nos contratos de proteção de serviços ou em
termos de uso de aplicações de internet;

IX - consentimento expresso sobre coleta, uso, armazenamento e


tratamento de dados pessoais, que deverá ocorrer de forma destacada das
demais cláusulas contratuais;

Portanto, os cidadãos que tiveram seus dados pessoais coletados pelo Deputado,
armazenado e tratado por ele, sendo que ninguém os autorizou expressamente que o
fizesse.

No art. 16, inciso II, fica vedada o uso de dados pessoais que foi dado outra
finalidade para o qual a princípio houve o consentimento, portanto, caso venha alegar-se
que os dados estavam públicos nas redes sociais, esses dados não foram consentido
expressamente para a finalidade caluniosa que veio usar o Deputado Douglas Garcia.

No mais, além de violar os dados pessoas de várias pessoas ao usar o gabinete e


e-mail institucional (douglasgarcia@al.sp.gov.br) para formar uma espécie de “dossiê” da
intimidade das pessoas. Em seguida, também usando toda máquina do seu gabinete
propagar seu ato ilegal, o que pode viola princípios da administração pública como a
legalidade e a moralidade, podendo ser investigado por improbidade administrativa.

Não termina aí, os dados também incluem menos de 18 anos, portanto, divulgação
de dados pessoais de adolescentes, entre outros que pela imagens identifica trata-se de
menores, ferindo assim o art. 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente (lei nº
8.069/1990):

“Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do


adolescente, pondo-os as salvo de qualquer tratamento desumano,
violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.”

Porém, foi exatamente o que fez o Deputado Douglas Garcia ao usar da sua função
enquanto parlamentar, o gabinete e o e-mail institucional para elaborar uma lista de dados
pessoas de supostos “criminosos”, incluindo adolescentes, causando constrangimento,
colocando-as numa situação vexatória de um deputado lhe acusando de fazer parte de
organização criminosa e terrorista.

Segundo os dados de transparência desta Casa, o Deputado Douglas Garcia


contratou com verba de gabinete a Empresa Dataulfo Desenvolvimento WEB e gestão de
redes, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 33.378.481/0001-22, em serviços técnicos profissionais
(consultoria, pesquisas etc). Porém, o parlamentar não apresentou nenhuma estudo
elaborado até o presente momento que justificasse o respectivo trabalho referente a função
parlamentar.
Mas, segundo o jornal Folha​Press de São Paulo, “O deputado estadual bolsonarista
Douglas Garcia (PSL-SP) contratou com verba de seu gabinete, na Assembleia Legislativa
de São Paulo, uma empresa cujo dono foi processado por publicar em redes sociais material
considerado ofensivo à honra de adversários do parlamentar.”1

A Dataulfo pertence a Carlos Alberto Rigat, ativo militante do seu grupo nas redes
sociais. E curiosamente a empresa foi fundada por ele em abril de 2019. 
 

Por fim, o Código de Ética e Decoro Parlamentar da ALESP traz como deveres
fundamentais o zelo pela ordem constitucional e legal do Estado e do País e o exercício do
mandato com dignidade e com respeito à coisa pública. Todavia, diante do que o que foi
exposto acima, não é o que vem sendo promovido pelo ora representado, Deputado
Douglas Garcia. Veja-se o que diz o artigo 2º do mencionado Código de Ética:

Artigo 2º - São deveres fundamentais do Deputado:


I - Promover a defesa dos interesses populares, do Estado e do País.
II - Zelar pelo aprimoramento da ordem constitucional e legal do Estado e do País,
particularmente das instituições democráticas e representativas, bem como pelas
prerrogativas do Poder Legislativo.
III - Exercer o mandato com dignidade e com respeito à coisa pública e à vontade
popular.

Como se não bastasse, além do abuso das prerrogativas, ao utilizar de recursos


públicos da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo para movimentar uma máquina
de Fake News e ofensas a opositores políticos, de fazer denúncias caluniosas a cidadãos e
a membros desta CASA Legislativa, o ora representado, Deputado Douglas Garcia, ainda

https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/noticia/2020/05/deputado-bolsonarista-de-sp-repassa-verba-p
ublica-a-suspeito-de-ataques-virtuais-ck9x75dgk021801ql9il3cy8a.html
promove uma prática grave e absolutamente vedada pelo Código de Ética da Casa.

Veja-se o que diz o Artigo 5º, incisos I e III do mencionado documento:

Artigo 5º - Consideram-se ​incompatíveis com a ética e o decoro parlamentar​:


I - ​O abuso das prerrogativas constitucionais asseguradas aos membros da
Assembléia Legislativa (Constituição Federal, artigo 55, § 1º , e Constituição Estadual,
artigo 16, § 1º ).
II - A percepção de vantagens indevidas (Constituição Federal, artigo 55, § 1º , e
Constituição Estadual, artigo 16, § 1º ), tais como doações, benefícios ou cortesias de
empresas, grupos econômicos ou autoridades públicas, ressalvados brindes sem valor
econômico.
III - ​A prática de irregularidades graves no desempenho do mandato ou de
encargos dele decorrentes​.

Parágrafo único - Incluem-se entre as irregularidades graves, para fins deste artigo:
a) a atribuição de dotação orçamentária, sob a forma de subvenções sociais, auxílios ou
qualquer outra rubrica, a entidades os instituições das quais participem o Deputado,
seu cônjuge, companheira ou parente, de um ou de outro, até o terceiro grau, bem
como pessoa jurídica direta ou indiretamente por eles controlada, ​ou, ainda que
apliquem os recursos recebidos em atividades que não correspondam
rigorosamente às suas finalidades estatutárias;
b) a criação ou autorização de encargos em termos que, pelo seu valor ou pelas
suas características da empresa ou entidade beneficiada ou controlada,
possam resultar em aplicação indevida de recursos públicos.

CONCLUSÃO

Diante de todo o acima exposto, esta representação tem por finalidade solicitar a Vossa
Excelência, ouvido o Nobre Conselho, a tomada de providências necessárias, respeitados o
direito ao contraditório e à ampla defesa, para que o ora representado, Deputado Douglas
Garcia, seja responsabilizado pelos fatos narrados, ​sendo punido com a perda do
mandato (art. 7º, IV)​, nos termos dos artigos 2º, II e III, 5º, I, III e parágrafo único do 7º, IV
do Código de Ética e Decoro Parlamentar da ALESP; artigo 16, II, da Constituição Estadual;
e, artigo 55, II, da Constituição Federal, ou, alternativamente, com as demais medidas
disciplinares previstas nos incisos I a III, do artigo, 7º do Código de Ética e Decoro
Parlamentar.

São Paulo, 04 de junho de 2020

MONICA DA BANCADA ATIVISTA


Dep. Estadual- líder do PSOL
ISA PENNA
Dep. Estadual (PSOL)

CELSO GIANNAZI
Vereador - SP (PSOL)

TONINHO VESPOLI
Vereador - SP (PSOL)

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