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PARA LER FREUD Organizacao de Nina Saroldi COMPULSGES Lata t te) Cogent) Por Romildo do Régo Barros nev ewvinacRoamnstiena | Copyright © Ra do pn Bros 212 ‘opm cPrio grafic miso CIPBRASIL cATALOGACAO NA FONTE SINDICATO NACHGNAL DOS EDITORES BELIFROS, Bars, Road do Ro baste "Complies abenter uma neon tro Rasa se Mg an Be i: Cosi ee 2 Anca ibiogia oN 7800-0898. 1 red Sign, 1858-1038, 2, cna, Tanstoens tacocomatas Tha tse Too os sirsos serene Fri a opr siacstamente on nants de ares dte eater guise ean se el suortag pre ‘exo reisd segue wot Acard Ono ds Linge ropes, Dies sedan ago a EDMORA EI ILIZNCAD RACER Un sleds EDITORA JOSE OLYMMO LTP on Ageia 1720821380 Ro deni) 29852000 Sejm ue ptr si Chistes ect ners se eae Tangent nna prams imdiettsecordcom brow 21 255.2003, . Para Maria do Rosario, Joana, Kabel, Francisco e Alice amigos da Escola Brasilia de Psicanalse. AGRADECIMENTOS ‘Uma parte do que esta contido neste liveo prover 40 seminario que coordenei ha alguns anos sobre as cobsessbes. Agradeco a todas os que participaram dele, em particular a Maria Elisa Delecave Monteico: sem sta ajuda, este trabslhado dificilmente seria realizado. 1 i | SUMARIO Apresntagio da coesdo Preticio Inteodugio Umenconta:Frewea Homan des Rates canplemstod sana sentido dasabsesies Aantasadosbsesiva At, repetiaoe tena etn anita ‘Uma refine em perdo Acspeanaea praia rejioe cca Ogee mart ita Oca Anes dicerasenvearenose ardto Temosmaieres ania “ensformagtesa aii tail Desa de cia Deco dcp, veut Crista seo Ras % 4 2 6 56 80 8 ea Aneurase osessivanaépora os TOCS Ascompustes Lenard Shey sto ccntempnrneo (Una roaches, una rome sianlie iografia Cronoogia de Sigmund Freud ‘Outros titulas da colegio 08 110 12 4 oo 1% 8 -RPRESENTAGAO DA COLEGAD Em 1939, morria em Londres Sigmund Freud. Hoje, passadas tantas décadas, cabe perguntar por que ler Freud e, mais ainda, qual a importancia de langar uma colecao culo objetivo ¢ despertaracuriosidade a respeito de sua obra Sera que vale a pena ler Freud porque ele criow um ‘campo novo do saber, um ramo da psicologia situado cenire afilosofia ea medicina, batizado de psicanslise? Sera. que o lemos porque ele criou, eu reinventou, con- ‘eltos como os de inconsciente e recalgue, que ultrapas> saram as fronceiras do campo psicanaitico e invadiram rosso imaginario, ao que tudo indica, definiivamente? Sera que devertos lero mestre de Viena porque, apesar de todos 05 recursos farmacoldgicos e de toda a ampla oferta de terspias no mercado tual, ainda ha muitos que. seditam na existéncia da alma (ou de algo semethante), fe procuram o diva para tatar de suas dores? Sera que valea pena ler Freud porque, como dizem os que compartitham sua lingua-mae, ele € um dos grandes. estilstas da Vngua alems,razio pela qual recebeu,inelu- sive, Premio Goethe? Sera que seuscasnscliniens ainda so ides por eurlo- sidade “historico-mundana’, para eonhecer as "bizarri- es" da burguesia ausiriaca do final do século XIX e do Inicio do XX? a Sent que, em tempos narcisista, competitivos ees onistas como os nossos,¢ recanfortamte ler urs inves- tigador que nto tem medo de confessar seus facassos,e que clara soasiearias de modo sempreabertaa critica? Sera que Freud ¢lido porque ¢ rara encomtear qnem escreva como se conversasse com o let, fazed dele, na verdade, um interlocutor? E verdad que, tanto tempo depois da mortede Frew, muita coisa mudou, Navas configuragbes familiares € culturais » progresso da teenoeitnca, por exemplo, questionam suas teorias e poem em xeque, sab alguns aspects, sua elevancia Todavia, chamaaatengao o fat de. despeito de dos cosanesésieos — quinicos ou nto — que nosprotegem do contatocom nossas mazeasfisiase psiquicss ainda haver gente quesedisponhaadelur-se num divaesimplesmenie falar, falar, epetire labors esisindo“a seco" um sentido de seu desejo para arm das formulas prontas e dos con- solas que o mundi consurmistaoferece —a partir de 1.98. Cada um dos volumes desta calegto se deca aapre- sentar um dos textos de Freud, selecionado segundo 0 exer de importinia no ambip da obra e, a0 mesmo tempo, de seu interesse para a discussdo de temas comn- tempordineos na psicanalisee fora dela. Excecdo 8 regra s4005 tes volumes tematicas — histeria, neurose obses- siva,ecompleno de Bdpo —, queabordam, cada ur, um spectro de textos que sera empobrecida se comentada em separado. No volume sobre histeria, por exemplo, waios casos clinieos eartigos sto abordades,procurando refazero percurso do tema na obra de Freud, 2 cada autor fl soletado gue apresenasse de mancira Aidtica 0 texto que the coubs,contextslizando-o na obra eqs, num segundo momento, enveredasse pelos aquesides que ele suscita em nisss dias. Nao necessi- riamente psicanalisias, todos ém grande envolvimento cam obra de Freud, para além das orentagoes insti cionais ou poltcas que dominan os mos pscanalicos. ‘guns sto bem conbeeldos do letor ques iteressa por pscanslise; outros sta professres de filosofa ot de areas fins, qu fazem uso ds obra de Freud em seus respectivoscampos do saber Pedra, na contramao dos tempos marist, que valorizasem Fred por esto encorajassem a eitura de sua obra, por meo da arte de eserever par os nao inicio. ‘Actors CivlizagtoBrsilir ee pensamosem tudo #5500 planejarmosa colega0, masa resposiaa pergunta “por que ler Freud? e, na verdade, hem mais simples porque € mult bom ler Freud ‘ua SAROLDI ‘Coordenadora da colo PREFACIO O livto do psicanalista Romildo do Rego Barros trata de um assunto que — por sua orte incidéncia na popu- lagto e sew cardter multas vezes pitoresco e anedética — tem recebido muita atencio da midia e alimentada debaces em meios diversas. O sucesso do filme Melhor € impossivel — que mostrava Jack Nicholson escothendo 1s pedras do calgamento nas quais padia pisar — e 0 Snteresse pelas "manias” do cantor Roberto Carlos (e de ‘utras celebridades) sto indices da popularidade do tema, Alinhado2 proposia desta coleeao, Romildo escolhe o «e280 clinico conhecide coma "O Homem dos Ratos” como fio eondutor do livro, desvendanda os mecanismos que compen a neurase obsessiva echegando ao debate sobre as obsessbes em nossos dias, Em relagda a esse ponto, logo no inicio o autor se pergunta se ainda existe & neu- rose obsessiva tal como foi pensada por Freud, questa {que nio abandonara até o final do volume, Companhia, constamte do autor na caracerizagao da neurose absessiva €o psicanalisia Jacques Lacan (O caso cliico nos coma historia de um jovemsadvo- sg2do perseguido pela lembranga de um relate que ouvira ‘na €poca em que prestara servigo militar — nfo se trata Xd algo vivido diretamente por ele — de uma tortura pra- ticada no Oriente: a introdugdo de um rato vivo ne anus do supliciada. Avs poucos, no desentolar dla ratamento, Aesvela-se @ associacio entre essa imagem e o intenso afeto que sentia pelo pai e por uma certa dama. Emerge ddaanalise de Freud a observagao da intenss ambivaléneia desentimentos do jover Lanzer, que se manifestava tan to na expressio de prazer que exibia ap falar da corvura quanto nas manilestagdes de amor exiremado pelo pat ena fantasia de que ele — ou a cerca dama — fossem torturados daquela forma. ‘Comentando Freud, Romildo afirma que o absessivo seen estranho, alheio aos seus priprios penssmentos, Esta é a manobra por meio da qual ele consegue lidar ‘coma ambivalencia dos sentimentos, separando “da amar fo fundo de ddio que © sustenta”, Processo semelhante aparece no que tange tanto ap esquecimento quanto a Jembranca na neurase obsessiva:o sujeito se lembra do que fez, mas nde se reconhece como auior da acao. Romildo observa que, se o recalque realizado pela histeriea caracteriza uma especie de vitéria da esque cimento, 0 que se ve na neurose absessiva nto € exata- ‘mente esquecimento, mas.sim uma separagio entse a representacao ideativa e oafero que deveria se igaraela, Segundo o autor, a autocensura do neurdtico absessive uma tentativa de autoterapia, Ese yale de Hamlet para ilystrar como a divida em fazer ou nao fazer se articula, com a ambivaléncia entre 0 amor e o ddio: 30 mesmo tempo que esti determinado a matar Claudio para vingar ‘morte do pai, hesitacao de Hamlet em faze-lo quando este seapresenta indeleso, rezando, revela um certo gozo como sofrimenta sobrenatusal do pa, 6 Citando Freud, Romildp observe que o.mecanisma psiquigo fundamental no funcionamento do absessivo 40 deslocamenic: mecanismo este que, levado a0 exte- mo, tem como consesuéncia.a paralisia. dos padres de decisto do sujeito, Nesse momento Romildo evoea Lacan « a formula que ilustra.a saga da obsessivo de objet a ‘objeto, numa série potencialmente infinita que permite cheyar a nenhum que sejap nico ouo melhor, aque possainterromper o “desfile” de objetos que sempre enontram outro equivalente, De volta ao caso cinico de Freud, quand este informa a Lanzer o valor da sessto, ele imediatamente associa: "tantos loins, tantos alos” Esse procedimento servean obsessivode escudacontrao proprio desejo. Enquanto deslza de objeto em objeto ele sinha uta especie de habeas carpus psiquicn, mio precisa secolocar como dessjante. Volnda ao homem dos 310s, a0 eriar “dogmas” do tipo “algo aconteceré com meu pai se eu me casar com a dama’, ele nao diz nem se quer se casar com a dama nem se quer que algo suceda ao pal E, porfalarem dogmas, oautor tabalha aassoclagio leita por Freud entre neurose obsessive reigito, mostrando ‘como a primeira funciona como uma religifio — e uma justia — privada, na qual ais repetitivas e sem sentido aparentevisam “eseonjurae” algum tipo de ameaga De volta ao filme Methor ¢impossve, todos 0s rituais ‘eo apego A rotina do personagem de Jack Nicholson ser iam para que ele evitasse. por um lado, encontr coma seu proprio desejo pela mulher para aqual nao consegue encontrar um equivalentee, po outro, com o desejo que essa muther podera dirigia ele. Como assinala Rommildo, v i ra nouruse vbsessivao Outro pode exist 50 nto poe ¢ desejart E ese ideal de impessoalidade que torna alguns sujeltosobsessivos tao adequdos ao trabalho aa une cionamento burveraticos. Este tipo de atvidade Thes da a sensagio confortavel de conteole dos acontecimentos, evitando que wera & ona algo da order do imprevisio. O sujeto obsessvo,explicao auto, tem grande dif culdade de assocarlivremente em anise, A retficagio subjetiva, a responsabilisacao do sujeito que € visa 0 longo do trauamento dif para obsessive porque nla culpa responsabilidade esto clades. A proceastinacio Uipia do comportamento obsessivo se traduz muito cla ramente, segundo Romildo, na expressao “amanba sem fale’ que indicaria um diasem contingéncia, sem fla «que move w deseo, ouseja, um pefeto dia de Sao Nusa! © autor observa que no tempo de Freud nao se pro- ‘curava um psicanalisa por problemas emacionais, coma corre agora que a psicanalise fot devidamente incor porada a cultura, Nao é raro um pneumologista, por exemplo, sugerir que os problemas respiratorios de um ‘scien em origem emocional. Naorgeen da psicandlise, a9 contrinio, as histérieas procuravam Freud porque 4 medicina mio dava conta de determinados sinomas fisicos enquamio os obsessivoso procuravamn ange se Sentiam tomados por “espirtos" ou pensamentos que pareciam wer se encarnado nees a revel, Caminhando para Final do lero, Romito se vile dos socislogos Zygmunt Baus e Gilles Lipovetsky — alemm de Jacques Lacan e sua teoria do declinio da fan- io patetna — para caracterizar as mudaneas de nosso 1B tempo. Seu exame se detém, sobretude, na familia, em sua Importineia como locus de transmissao simboliea e quardia da impossibilidade do incesto, Anslisando as, twansformagdes recentes do estatuto juridico da familia, no Brasil, especificamente, o psicanalista aponta paca a ‘nudanga de énfase dos “lagos de sangue” para as fatores socioafetivos que ligam seus membres. Desse modo, a faniia contemporanea passaa fundamentarsuas relagdes tem outras bases, menos dependentes de contratos so- sgafetivos sancionados pelo Estado ou de compromissos sssumidos na esfera religiosa. Essa mudanca, ressalta 0 sulor,traz noves desafios clinica psicanaliticaatual Romilde reioma um assunto abordada por varios ours autores desta colegto, © que, aids, € prova de sua, pertineneia:a passagem da culpa como afeto de base para avergonha nos sujeios que procuram a psicanalise hoe ‘lis, nao s6 nos que procuram aclinica, mas tambera nos que nioa procuram, o que faz da vergonha um novo aleta dominante na vida Sociel. Be acordo com o psteanalisa, culpa remete relago com @ autro, as asperezas ¢ 0s desafios que aalteridade coloeaa todos inevitavelmente Avergonha, porsua vez, pode ser dividida em duas: uma antiga, variante da culpa e, portant, ligada indiretamente 0 outro, e uma nova, ligada, sobretudo, a si mesmo, sem lum encleregamento visivel ao outro. A “nova vergonha” & ligida ao sentimento de insuicizneia, corolirio do enco- tajamento social da performance punitive ¢ exuberamte ‘tempo todo, em todas as drens da vida. Para usar uma iia que,a meu ver, resume bem essa orclem do superet contempordneo, todos devem "bombar", € quem nao » “bomba" se sente diminuido, fora da jogo, a sombra do espettculo. Romildo termina seu livro retornando & questo colocada no inicio — a de saber se ainda existivia a newrose obsessiva identificada por Freud, Examina as ‘compulsbes na época dos TOCs (Transtornos Obsessivo- Compulsivos) se interroga a respeito do estarato que lasassumem em nossos dias medicalizadas eapressados, Para ele, nao se trata de duvidar de sua permanéncia ‘como forma de sofrimento psiquico, mas sim de saber se as compulsies em suas variadas formas (loxicomanias, distirbios alimentares) ainda compoem uma unidade clinics e—a pergunta que nao quer calar — se agueles que sofrem desse mal ainda vio procurar a psicandlise Niwa SaROLOI Crgaizadoradacolagao sNTRopUgaO ‘Obsessoes e compulsdes sempre existiram, muito antes de Freud, no final do século XIX, fazer delas una uunidade clinica De repente, um comporiamento ou uma série de comportamentos se isola dos demals, constitui-se em jumna nova cadeia separada das outras, e tense uma nova ligica, que nao obedece & que nparentemente rege © conjunto da vida do sujeita. O mesma pode ocorrer como pensamento, que subitamente passa a manter com 10s objetas com os outros uma telagao parecida com 44 magia, porque no se vé — e sem Freud nem sequer se saberia disso — qual é a mediagdo que opera entre ‘0s dois. E o que se pode ver, por exemplo, em certas formas de causalidade, do tipo “se lage isso, acontecerd tal coisa, ou 0 seu negativa, se nao faco, acontecers tal ‘outa’, sem que se poss saber o que uma coisa teria @ ver com n guia. E como se as consequéncias dos atos fossem internasa eles e automdticas, sem nenhuma outra instancia que as determine, como seria o caso de uta lei positva, de um juiz, de uma escolha do proprio sueito ouaté mesmo do acaso. Freud, que se considerava um homem de eléneia, pro- curou encontrar uma logiea que-iornasse compreensivel essa estranheza, e com isso pode afirmar a existéncia do ‘meonselente, ao mesimo tempo coerente com a histdria do svjeitoe indice de sua relagio com a alteridade, Afiemara existneia do inconsciente provocou efeitos Inédites tanto na clinica quanto na cultura, O primeira eles € a possibilidade de trazer a propria estranhera para o Ambito da responsabilidade do sujeito, Envre a causa ¢0 feito, dria Freud a cada um de nds, inerpoe ‘seo teu desejo. Com isso, muitos dos comportamentos [pensamentos cujossentidos e cua intengio eram opacos passam a fazer parte daquilo que pode ser assumida pelo Sujet como seu, mesmo que nao saiba expliclos. Esse ¢ 0 principio mais geral do metodo de Freud A Invengio do inconsciente freudiano dependew da funcionamento pritica de ur dispositivo, que simples- mente poe em contato um que fala e outro que se dispoe 4 ouvir. Nada mais. A diferenca da invencao desse in- ‘conscient em relagao as outras formas de inconseiencins subjacéncias da mente que foram surgindo ao longo dda historia se deve sobretudo ao fato de que ela visa a aleangar a tesponsabilidade do sujelto, Grosso modo, terapiacriada por Freud, seguit, desde a sua forma inicial, um roteiro her preciso que comeca ‘no mal-estar experimentado pelo sujeito, provindo, como, se exprimla Freud na gpoca referindo-seas obsessbes, da “mésalliance entre a estada emocional ea representagla— associada’' Em seguida passa pelo esclarecimento da. niga. poe mein do enuineiada de um desgjo e final. ‘Spree “Obes of” (1899, Ons Sigmon ical Rude er eas, 1985 eles Cope de pe 2 mente, como num salt, desemboca no desaparecimento dd sintoma, Em um certo sentido, a elicacia do métado consiste pura e simplesmente na sua aplicaga. Esse metodo, criado inieialmente como resposta para, snquesito do sujelto histerico,tenta romper isolamento cemique se situa o simioma, Para isso, Freud de ao sistoma, tum cariter histérico, através de um peculiar manejo do tempo segundo 0 qual o passado esti de cettalorma na dependencia do fucuro. Evidentemente, essa nova manei- rade encarar o tempo exigin que Freud fizesse, em algum ‘momento do seu pereurso, uma diferenca entre exatida o fata resgatado ea verdade do passado em permanente criagto, Essa €a base que va levar Freud a produzir uma. ‘woria da fantasia, espaco de realidade capaz de bsorver «esse nyo movimento temporal entre 0s cinco casas clinicos mais extensos publi- cados por Freual, ba um que se destaca: pela quantidade de detalhes; pelo curioso fat de Freud nao ter desteuid asanotacdes como era seu costume, o que foi chamado pelo editor ingles de “inexplicivel excecto a essa regra’! «pela extensa reproducio do dilogo entre o analisia eo paciente, de cel maneira que, ao final da leitura, teremos aprendido sobre a neurose absessiva como se estivesse- ‘mos assistindo ao didlogo entre Freud eaquele que ficou para sempre conecido como O Home dos Rates. Um livro sabre a neurose obsessiva poderia, eviden- temente, tomar diferentescaminhos Varios deles seriam, 3 Fra -Nusbrewncsp de ee et (0 Hamam do Rah, (as Cmts i eae, ia, 177, aX 283, 2B ferteis, © relato freudiano da analise do Homem dos aos, que celebrou em 2009 o seu centenario, serviu-mne pra nao deisar de lado elementos essenciais, ¢ por isso pparecetcme adequado utilizi-lo como eixo ao redor do qual se comporia um perfil daguile que Freud pensou sobre a neurose absessiva, e da que poderemos pensar na nossa epoca, Cem anos depois, existiré ainda hoje a neurose obsessiva tal como fo isolada por Freud? Nesta época dos Teanstarnos Obsessivo-Compulsivos, 0s TOC, dis- persose plurais como outros aspectoscentraisda cultura do nosso tempo, existir ainda a neurose como unidade? Seri que o psicanalista de hoje ainda aprende a analisar com Freud? Sio algumas das perguntas que norteiam este trabalho, mesmo quando ngo aparecem claramente, [UM ENCONTRO: FREUD E 0 HOMEM Dos RATOS ‘A meurose obsessive, indubitavelmente, 0 tema male Imeressanve e campensadar da cia anita? Um over senhor de formato univers apresentou= se mim com a asserglo de que sempre hava solr de ubsessoes, desde ainfancia, mas com intensidade especial nos tims quatro anos. Os aspectos princi pis de seu distnblo eran medos de que alg prdesse fcontecer a duas pessoas de quem ele gostava mato: Seu pale uma dara a quem admiraea. Alem disso, ele sstava consciente de impulsos compulsvos, xis como, por exempl, un smpulso de coriaragorganta com ume lamina; posteriormente criou proibigdes, as vezes em «onesa0 em coisas um tanto sem importineia” #comessas palavras que Freud nosapresenta um dos seus mais célebres pacientes: o jovem advogado Ernst Linzer, analisado durante pouco menos de um ano a partir de 1° de outubro de 1907 e que ficou conhecida ‘como O Homem dos Ratos, nome usado de inicio por Freud quando se releria a ele na ntimsdade, “Tl igi sma spas Os os Caples Sisiront vite sr es FentAicemi meade nab Kms ‘ithe ent p _Lanzer ganhou oseu nome psiesnalitiena partido relno ‘que Freud auviu no segundo encontra,eque se tornau um dos eixos de toda a histori trats-se de uma tortura particu. larmente atroz praticada no Oriente e que fora comunicada ao paciente de Freud por um certo capitio Nemeckzek, parteirio dos castigos corporis, na época em que Lazer prestavao servigo milla. A torcuta consist na introdusa ‘de um rato vivo no Sinus do supliciado. A cena foi narradx com grande dificuldade, com varias interrupgdes angus- tiadas, obrigando Freud a completa algumas passagens. A cotta akura, a paciente pedi a Freud para ser poupado de contar-she os detalhes. © pedido, camo se pode supor, fat recusado pelo analista, que camenta em seu texto sobre 0 caso: “ele podia,igualmente, ped-me para lhe dara lua"? [Nao fol exatamente o horror da cena em si que rewevea tengo do analista, has uma estranha expressio qu vin ro rasta do paciente durance 0 relato, descrita como um “horror ao prazer todo seu do qual ele mesmo ndo.estava clemte"® A combinagao dos dois sentimentos opostos, JOFFOre prazer, ilustra com perleicao a duplicidade que Freud a conhecia desde o comego dos seus tabathos, eds ual a neurose obsessiva dara o exemplo mais completo: De onde pravém o prazer que uma narrativa de horror pode provocar? Como explicar com uma mesma origem sentimentos que deveriam excluirse? O termo ambivalencia, proposto pelo psiquiatra sulco Eugen Bleulerem 1911 para nomear deverminados sinto- ‘mas a esquizolreniae rconhecido em seguida por Freud Sead Ooms p17 % ‘oma um mecanisme propriode todo suelo, servird mais tarde para caracterizar essa montagem afetiva de dupla salencia como manifestagao de um conllito. Segundo a expligagao de Freud, os polos da ambiva- leneia afeiva 620, de um lado, 0 amor (que-no caso de ‘Linzer em-relagdo ao_pai era de grande intensidade) e do outro, um ddio de forga comparavel, mas mantido na inconsciente: “em algum lugar no periodo pré-bistorlea ddesuainfancia, ambos os opostos ter-se-am separado e tum deles, habitualmente o 6dio, cera sido reprimido”? Se Lanzer exprime simultancamente horror e prazer, «er pensadlo Freud, iso se deveao face de que um mesmo objeio emusa.os dois sentimenios, que até sio necessarios ‘um ao outro; o horror remete ao prazer, que por sua vez realimenta.o horror. A safda imediata para o paradoxo, {que em principio o paralisaria,¢ um certo distanciamento, por parte do sujeto, que trata cena, assim como os pen- sumenos e sentimentos decarrentes, como se nao fossem, seus, mas inspostos de fora. O Homem dos Rawws, por exempla, que loge ap6s 0 seu relaco imaginou a tortura sendo aplicada ‘a uma dama que ele admirava", ou se, 0 objeto do seu amor e desejo, fez questao de explicar ‘que “esses pensamentos Ihe eram sotalmente alleios & ‘wpulsivos"" Essa &a maneira obsessiva de dar testes) rho da existencia do inconsciente como alteridade,¢ de) lentar separar do amor o fundo de ddio que o susienta.)/ ‘Dolada de Freud acorrealgp muito irmportante:ademons- tragio, qunsepalpivel, de como afuncio doanalistasecriaa ‘tide, pL : i lesccctdibicnasanoe partir da assimetrin que entre as posigdes doanalistae do ‘nalisante. Long deidentiicar-secom o capitta Nemeckzek, ‘mas recusanlo ap mesmo tempo o dvideso poder que Ihe clereciao paciente de dispensla de falar dos assuntos que ‘ocupavam oseu pensainento eo fasiam softer gozar, Freud erigiu um instanciasimbeliea quesubmetia os deisparceeos Apesar de nao er nenhum gosa pessoal pela ereldade, coma disse Lancer, Freud no podia“eoneeder-thealgp queestava lem de Gus) fore’ sso vai muito além de uma simples ‘manobra para evita a agressividade do Homer dos Ratos, que, como Freud sabe melhor do que ninguém, maniletar- seo infalivelmente edo ou tarde. ‘Aambivaléneia do Homem dos Ratos mostra, talvez com um certo exagero quese devea propria gravidade docaso, que ssentimentos humanosno so simples, mas, pelacontrrio, constiquem sineses instaves: Porsua we, ato fretiano de situar © dispositive da analise como um tercvira,acima dos ‘aprichos da eruedade on clo amor, cra as condigdes para a exteroridade que faz daanslise um encoatzo tnico entre dois eres humanos,capaz de operar, se tudo funcionar bem, sem ‘ceder demasiado as lusdes da intersubjetivdade. ‘A manobyra de Freud & complexa, Na verdade, ele naa «esti dizendo ingenuamente que os dos parceitos sto iguais Perantealel(ndose precisa da psicanslise para issol,ou que ‘esto celebrando un contrato que permite que ess gualda- defuncianena pritica como o pretence umaideolagia bem priprin dos nassns dias de demacracia de eansimmiores Freud sabe bem que, do lugar de onde fala, sua palavra setd ouvida de acordo com as experigncias, as fanasias eo sentimenios de Linzer. Como afirmou certa ves em autro canlexto, oma serdconsiderado mestre, ora pai ou educador, $s yezesiniimigo, oulras vezesa imagem do facasso.. isso determina aassimetria fundamental > encantro. 0 impor. rane ¢ mostrar na pica que nao S20 as seus interesses oa preconceitos pessoais que contam,¢ que, por conseguinte, ‘opaciente no estas servigo do seu capricho. Se no ocupa de [ato o lugar que de alguma forma 0° situaria como um sucedaneo do capitio que goza com ‘vtormento alheio e se tampouco se contenta com urna fnera atitude de ajuda hummanitiria,resta a Prevd inven- tar um lugar inédito de onde podera ouvir 0 relate do Homem dos Ratos e devolverThe em seguida, como in- terpretagio, os eeltos de gozo da cena. E como se Freud tivesse dito 20 seu pactente: a exigéncia de que voce nto fnierrompa.o seu relato provém do proprio dispostivo aque 0 fas falar, Este € um dos exemplos mais claros na obra de Freud de como.o erético pode ser tratado nao ‘come uma narrativa obscena, mas como decorréncia ‘quase natural de uma prdtica met6dica da retorica legendlo a psicanlise como um terecira entre o seu prcienteeele proprio, Freud demonstra que o desejo que ‘0 mobiliza, € que ele proprio personifiea, inclut 0 que diz seu pactente,e Isso impede que coincida com a sua vontade pessoal ‘A fungi que Lacan chamara mais tarde de “desejo do analisia"® serve de suporte para a andlise, sobretudo ‘nos momentos em que rareia a producto de sentido, ‘Tievotasrospe por Fen ver} aca: O mie did aetin, So delonei, age Zab Eton 6p. CE) ica: O seni te FO ets com flames de vas de nc Je Babr or, 8D, p80 Op fhitseco eum de pus Sm dns Seber ders abt, a Lean Enquanto o sentida se produc, e navas configuracdes se ssucedem como os vidrinhos colarides de um caleidloscd- pio, por meio das associagdes entre as palavras eos [atos {que compaem a trama de qualquer destino, a fungae do analista € bem mais discreta, quase nao faz ruid. (© que Lanzer vai ensinar a Freud, fundamentalmente, que au lado da sequencia quase Infindavel de significa: ‘cdes — por exemmplo,as que se sucedema partirda palavra ‘aio —, ha wma constante, que, embora inerte,causs o deslizartiento das signifiagbes: essa constante ¢ 0 propria sujeto como rato, com signficagao wtima dessa palavra, u seja: a associacao livre, regra de ouro da pritica ‘nalitica, no € ta livre nem t4o sem limite como se pode pensar. Um desses limites, sem divida o principal, surge ‘quando o préprio sujeito aparece como um equivalente do objeto. No casa dle Lanzer, essa equivaléneis pode se expressar assim "Eu Sou um rato” (© acerto da manobra freudiana com o Homer das Ratos vaise verifiear pouco depois, a medida queaandlise for progredindo, ea confrontagao propria do imaginsria ‘ieurdtico for sendo substicuida pela producto do saber inconsciente, que irrompe como algo externo, Ex outros ‘ermos,d-se uma passayem, desde a impressio que expe rimentata Lanzer ao ler, antes de buscara analise,a obra freudiana Psicopatologia da vida coidiana, até a surpresa ‘de produ ele proprio um saber de qualidade nea, que, embora desconhecido, ¢ vivido coma lembranga Se isso funcionou, ¢ porque se transmitiu para Lanzer algo como um enigma escavado no desejo de Freud. Nao terd sido doutrina coma um saber acahado o que mobi- 30 tizou Homem dos Ratos, mas justamente os seus furs, isto €aqutlo que Freud desjava saber endo sabia, Lacan ‘chiara esse momento, necessirio ao deseneadeament0 do processo analitico, de *histerizagto do diseur pet indicar uma modifieaeao na posigaa da sujito que The permita falar partir da sua divisto, endo somente, ‘como seria quase natural na caso das obsessoes, das suas. deless. 50 € de ceria modo um retorno a histeria, line gu da qual a neurose obsessiva constitu, como pensava Freud, um dialeto* e pode ser ilstrado por algumas prssagens da analise do Homem dos Rats. Peimeiramenca incsio do seu corp por meio da a- sta sssciada ao medo de quealgpacontegaao pied dama pelaqual se interess. Em seguide,tem-sea ena em cena fps, nto mai imple ebjewdesrbivalencia—a ser poteido clo desejo de marte por pate do sujsto—mas cenno 0 Ostra an qual o sje ar ao mesina sempo.um 1 ¢ wma divida no pag sta. um Outro capa de ser dksinattio de uma questao ou de ta quis, A partir desse ponto,Lanzer esti em andlise. Uma das condicbes fundamentals esava.cumarida-o saber, n30 complete como.nm.jeatado ov.como alga que se ai soul ms. coma supesig ou ej coma. uma produc cuja verdadero tempo-€-o-fucuro. Cuviosamente, mas sem divda no por acaso, a quinia sess se nici como snunelo, por parte do pacente de que devia falar de algo aque vinka da sua infnea: © medo, que “persistira por ‘ozaw Osetia, ve 17 — Owes de pcan, Ryde ai, ‘ar tah dr 982.3 "Srl Oem sp 160 a ; toda a sua vida", de que os seus pensamentos pudessem ser ldo pelos pais! INo quarto encontro com Freud o paciene conta as cireunstanciasda mort do pa, causa por um enisema, ‘Lanzerhaviaperguntado ao médica qualerao perigo que pai corsa ereceberaa informacio de que“ perigo estar superada na noite de depois de amanha". Ao acordar no cia seguinte um amigo lhe disse que o pai havia morta duran a sua aus2nca,¢ a enfermera the eontou que alguns dias anes de motzero pai o chamara pelo nome ‘Lanzersereriminou pr estarausentena hora da morte do pai A partir desse momentoexperimentaalgvestranho, uma espéce de nega da mort. O pacente,apesar de saber que o pai estava morto agi como se ainda esivese vivo, sem nenhum sentiment de ero oud culpa apenas ‘com uma pequena autorzeeriminagio, Quando ova, uma pila, por exemplo, pensava “Precis conar esa papa ‘quo alguém bata sua porta dia: papa que est ehegundo”Algum tempo depos, Freud ovis com assom- broainformacio de que pido seu paciente estava mort, 1a verdade, havia nove anos! £ o enconro de Freud com a ‘emporlidade hem propria da neuroseobsessiva, que, como ‘amas ver maisadiant, fa dela uma paola bem stwal Enquanto_o Homem dos Raios simplesmente fasla de conta gue o pa estava vivo, nao era vorturado pela culpa nem pela angostla. Issa se eu apenas a parte de ‘um segundo momento, quando, por ocasiao da morte de tile EE 32 tama tia, ouviu o comentario do vito: “Outros homens se permizem toda indulgeneia possivel. Eu, porem,vivi apenas paraeesta mulher” Imediatamente Lanzer pensou que o tio estavafazendo slusto @ uma infidelidade conjugal do pai. Instalou-se, fnldo, uma cerleza, Nao adiantava que o to dissesse que no extiva fazendo nenhuma referéncia ao pal dele. Nao ‘ra mais possivel neutralizar o eelto das suas palavras. Foi partir desse segundo momento que sua suposta negligeneia na notte da morte do pat reternow, nto mais coma uma leve inguietude mas como condenacao. Podem-se destacaro5 ts momentos dessa sequencia: «+ opecado do pai, que toma formaa partirda revelag3o Iinvoluntiria do to, + Tantasias de culpa, que gitamem tornodo que Freud, chama de “tratar asi proprio como um criminoso”, + auiocensuras das quais o sujelto nao consegue se libertar, © que constituem uma manifestagao cssencial da fieurose de Lancer. Cada um desses momentos € necessrio ao seguinte cedepende do anterior. A sequencia, que tem ur funcio- ‘namento interno perfeit, contrasta no entanto com 0 simples bom-senso, expresso em uma fala como do ti: “Eu ndo estava me referindo 20 seu pai.” Na verdade, 0 que intervened involuntaria do ti forneceu a Lanzer foi o que Freud chamava de ponte verbal, ou seja, um ac “significante que faz com que outsos se sucedam, pars, no conjunto, compor os “delirios obsessivos", conforme a expressio freudiana, © fate de o paL-ter mortide nia. impedia gue um mal pudesse Ihe acomtecer, ¢ isso seria responsobilidade do flho. -complemento do sintoma [Em uma das sessdes, 0 Homem dos Ratos ust uma citagao de Nietzsche em Para alem do bem e do mal para ‘usar o estadbem queseenconitu:“Euo fiz, diz minha Lembranga, Eu nao poss ter feito isso, diz meu Orgulho, te permaneee inexordvel. No fin. a Lembranga cede” (© paciente conclu: * minha Lembranga nao cedeu snesse pont"® Estava se relerindo a um aconteclnento dasua infancia, que diz er ocorrido antes dos 8 anos de dade, quando deseareyara uma espingarda de bringuedo na testa do irmao, de quem tinha cies. Essa dosagem entre esquecinientoelembranca é bem caracteristica da neurose obsessva:o suelo se lembra de er comet o ato, mas nao se reconhece propre vente como seu autor. Caracteriza igualmente 8 aicude do obsessivo diante do analist,apontada por Freud em 1973: 0 sueito quer que o analista the diga que nto.é culpa da fal da qual ele proprio se acu." Thao "5. Freud peo Obras Compa. Ro juno. mag XN. 34 Alem desse elemento da dregio do atamento aponta- do por Freud, pode-se veraqu uma lmportantedfereaca te mecanismo enite a histeria.e a neurose obsessiva Enquanto.ba primeira privilell-se 0 recalque.repre- sentado pela vitoria do esquecimento, na segunda se separa. represeniagio ideativa do afcto correspordente— ‘observa cassica de Fre sobre as obsessoes —/* de tal maneire gue &insisténea de lembranga, para usar 03 termos de Nietzsche, pode perfeitamente conviver com ss manutengao do orgutho. Confrontado com esse lbirino, epresentado pelas contradigdes sem saida do seu paciente, Freud dew 0 FHomem das Ratos algo parecidla cam um curso, chamade porele proprio de “sm primeira vishumbre dos prineipios baseos da trap psicanalitca”.” Freud tina, evidentensent, outeassaidas: fear pru eniemente calado, ou, na plore hipoteses, assuenie a posisto que Lacaa chamow de inquisitorial, por meio da gual analistatentaextrira“ma vontade fundamental ddosujeto.” Em vez disso, preferiu mais uma vez apresen- tara analise como um 1rceito, ou sea, como ur dispo- so mais ou menos estivel, que na esta inteiramente sujeito ao humor ox eapricho do momento. “5 Fri “As evropsicazes de dele” (1904), ras Comps, Rio de Jini toy 1986 0p 1 am emia 1 vec de Fed Ri dani, eg Tahar Ede 2003p. 93 5 Fic endo algumas pequenas observasies sobre as dle ‘eos pcologias entre o consent e ineonscemt,€ sabre o fu de que tad coisa eonscienteestava seit a ‘am process de desgasie, ao passo que aul que era i= ‘onselenteerarelatvamienteImutive ste os meus co- ‘mentiriosnicando as anigudades que se eneontavama anredor em minha sala. Fram,comefevo, diseeu,apents ‘jets achados am nul, eo erterramento dks tiha sido oma desi preservagio:sdesrugto de Pompelaso estavacomegando agora que ea fora enerrada.® E,um pouco mais adiante: Conforme a teoriapsicanalitescu the disse, todo med correspondia a um desejo primeir, agora reprimido; por conseguinte, ramos obrigeos a acreditar no exato fongrio dagusia que el afiemara Isio também se jus- tariaa ona oui exignciatediea, ou sea, a de que © inconsciente deve sero exato cotearo de consciente*™ Coma bom obsessivo, 0 paciente mostrou um grande interessepelas explieagdes, opondo-thes sempre algumas divides, Cometeu no entanio um lapso, que, como todo Japso, eselareeeu a pasigao da sujeito no dilogo. Linzer perguntou: “como podia justifiear-se a informagao de que a amocensura (.)tenba um eleita terspéutica”. Ora, rio fora isso que Freud dissera, mas a questi da uma lela da fungio da autocensura na neurose absessiva:€ uma tentativa de autoterapia. Freud, retomando a sua rom des 183 Bas 190 36 explicaio, ia: “Expliqul ue nao ea informagtogue fossa ete feo, mas si & descoberts do conteido fheanscente ao ial aastocensur estavade fat liga” ‘A ptr dao paciente delsa de apenas comunicara Freud ost intenso sofrimento e passa a apresentar um Sins que, emt pcos, exige gue um cert hugar tena sid dado ao analisia, soexplca hem porque ntsandisescom seas obsess vostem se svesesaimpressio de qu dspostivo soment Thing lunionament espera depos de wna pasgem peltanserncianegtiv, soa lrmade uma desconfanga vos, que de fat tora mss clara fngia que € {fa ao snalista: oom pareira da absesivo, pares confivelesflcettemente ese, € aul que sobre ‘ar do se ao, Faqule que servi de sport quando vata o stoma de frasiealmence equivalents daamoe tdi. Eagle ented em cena representa arn 0 “jet quel em to tudo para vitae ‘Nasentevsias proiminarescom obsessive, porexem- plo assite-se mulas vezesa.uma especie de eanfronto finanenrepensimenio angst, indo compan um segundo plano. Eo que Fred descrvia como wn “rai sac do pensaenio® que signfca tar 0 pensamento aumareira dew corpo erogenoeaj limite €a angst Fanclarmene importante naneurose obsesvnrepresen- tnumavango da crensobveopensamenta,edsso deorre tm dimensto sje fecha, replet de pensamenios pviads eas sem sentido aparene desis eu solo maga se fags, ore au), deseo em forza de leis de temresete.Dessacombinagio complesa de 3 ; , afetose pensamentos podem sairconchusbes que funeionam Parag sujelto como sentengas judiciais. Como erao caso de um paciente meu que,a cada vez queacreditava ter cometido alguma yafe ou engano, era tomado por uma invensa ver= ‘gona sa repetindo una espécie de jaculatéria privada ‘ortar 0 pescaga,coriaF 0 pestoco, cortar 0 pescora. Freud aliviou a angastia do Homem dos Rats com uma cerca frequencia, cheganlo mesmo certa vez 2 Ihe dizer: "Voce um bom sujeito.” Em outro momento, fez tum elogio ao bom cardter do seu paciente. E importante lembrar que se tata de uma eandueao bbem delicada, de um caso diftel. Quando Freud diz que ‘0 Homem dos Ratos era delirante, nao esta exagerando, De fato, Lanzer estruturou uma Sequéncia de imagens obsessivas, pensamentos magieos, rials, desejos e me- dos de retaliagao quase completamente isolada da vids corrente, por isso Freud se permite falar em deltvio® A.analise de Lanzer durou de outubro de 1907 asetem- bro de 1908, , a0 final, Freud 0 considersva curado. Em. 1923, acrescentou ao seu relato esta nota:"A sade mental do paciente fore restabelecida pela analise sobre a quel ‘relate nestas paginas. Como tantos outros ovens valorosos « promissores, ele morreu a Primera Guerra Mundial“ ‘nota freudiana, que €20 mesmo tempo uma homense gem postuma, sola o destino de Ernst Lanzer, enlagando tres momentos fundamentats da sua vidas a neurose, & analise ea morte dp eign) asa Om tdi ews 2 *S eum dat 230 38 (0SENTIDO DAS OBSESSOES Sevu casar coma dana.ame pal» ‘corre algun inforeinia® Freud cratou essa frase enigmatiea do Homem dos Rates ‘como tina especie de silogismo cuja particularidade & ‘a ausincia da premissa menor, capaz de dar sentido a relagio entre @ premissa maior ea conclusdo, Sem ela, a ‘oncluso pareceri sem ligica ou misteriosa, Em um silogismo completo, do ipo tude A & B. Todo BUC. Lago, tod A &C, a conclusio de que A€ C depende ida condicao dada por B. Sendo B, A & forgosamente C, pois todo B é C [Nocaso de Ernst Lanzer, nose vé muito bemem queo casamento comadama acaeretariao infortanio do pai, que lis testava mort havia nove anos, Encre umaaiemagio ‘eaoutra ha umabismo. O merito de Freud foi perceber que jstamenienesseabismo ha uma aiemagao escondila, que ‘esclarecerd © conjunto e cornari compreensivel a ligngaa centre 0 casemento do sujelto eo infortinio do pa Suis un esa caret Pre etal va reac nvr nie ‘ncaa ian fe mses 8 i ‘ i 1 Lanzer tem acesso a0 primeira termo (se cas.coms dayne.) ¢0 werceira (alga acontecera com meu pa ma ‘no ao segundo, ratado.por Freud como aguila que fa ecaleado da silogismo, O raciocinig completo, que incly co sentido inconsciente, seria, nos termos de Freud, 0 s¢ _guinte; "Se meu pai estivesse vivo, ele estaria to farias ‘com minha inteneao de casar-me com a dama(.) que. teria outta explosio de ava contracle, desejando-Ihe tod, smal possvel e gracasa onipoténcia dos meus desejos, e353 ‘males acabariam inevltavelmente por incidit sobre ele"* ‘Ou seja, 0 que acontecera com o pai provém de al, ‘que © filko faria, A interpretagio freudiana, que visa resgatar o segundo termo, corresponde ao enunciad, do desejo recaleado do proprio sujeito, que se manifest como temor. Essa én esirutura completa da interpretagé, ‘analitiea quando visa a resgatar sentido. Ha algo parecide em Hamict, na cena em que o perso. nagem, a0 avistar o inimigo Claudio desarmado rezand: na capela do palici, pode enfim cumprira promessa ei, 20 espectro do pai, de vingi-lo matando o usurpador. ‘matande Claudio, ter cumprido a sua tarela. Mas, comes fo inimigo estdrezando, sua morte o conduzira provavel ‘mente ao céu. Hamlet tera entao ajudado a salvilo, en ver de the dar © merecido exstigo. Mas, se nto © matat perpetuara o sofrimento do pai, cujo repouso ecern: depend de a justica ser felt Esta ultima parte, ausen za ruminagao mental do personagem, situs o element, que fatava na ambivalencia de Hamlet "en p ‘A dimensto misteriosa do segundo termo € esclare- cida pela imterpretaeao de Freud. Pode-se dizer que nto 0 pa neurose obsessva, mastem geval, a primeira tarela {que Freud se dew foi tornar patente o segundo termo do Slogismo. Esse fi o primeiro sentido da interpretagio. ‘O que irnpede que o segundo termo se torne patente € «0 fro de que conduz 8 revelagSo de um gozo do sujeito, Hamlet nao pode admitir que na verdade goza com 0 tor- ‘mento sobrenatural que o pa estara softendo, Enquanto (Ciudio nto for morto, o pai de Hamlet val vagar coma uma alma penada,e isso dependera de urn ato que s6 0 fitho pode realizar. © que esta recaleado éa ideia de que, com sso, vai fazer sofrero pat. Localizaresse temo fina do silogismo equivale a trazer@ fala um desejo incons- lente, Por sua vez, 0 Homem dos Ratos tem 0 poder de, casando-se com a dama, infligi sofrimento a0 seu pai Ele tem a posicdo do julgtdor final. O esclarecimento dessa funcio.de-gozo-nao-€ uma sequncia nacural do esclrecimento do sentido, mas ‘feja de urna manabya da cransfereneia, que € 0 conjunto de seutimentos, repetigdes e pensamentos que ligam o paciente a analistaedetcrminam em bos partea continu dade do trabalho analitic. Desde o comego, como se sabe, apsieanlise produs sentido, mas na verdade a revelagio dla posigho de gozo do sujeito se di com o surgimsento-da que ha de sem sentido no sintama, ou sea, com 0 surg mento da sinloma como revindicacto pulsional E uma shservagao Irequente:esstjetes em alist nao madara a tir de um ideal —religioso, politico, ico, ou o que seja =.mas dealyo novo nas suas formas de obter satislacio, a ‘Se me caso com a dama, diria o Homem dos Ratos, ‘pos assimilar a interpretacio, acontecera algo com 0 ‘meu pat.. segundo o meu desejo. Querer casar-se com a dam inclui querer que algo aeonteca com 6 pa Hamlet, por sua vez, ditia mais ou menos assim: se mio _matar Cliudio no momento em que za, puno.s dois, 0ini- ‘mig, que ndo ter garam sua ida para o eéu,e 0 meu si, que devers penarainda um empoatéenconttar ososse90, ‘Se Hanvet mata o padrasto no momento em que este ‘esta rezando, estara ceriamente eumprindo @ missao que Ihe foi confiada e resgatando 2 honra do pal. Mas estard tambem prestando um servign a Claudio, Ha uma fala ‘de Hamlet que exprime o dilema Agora que est rend, podria car sobre le E & 0 que Joel agora. Masassim cle ia direo parm ctu, seri essa minha vinganga? Sera melhor reflar,Uo ifm ssn ‘sina meu pai eu, fio dele envio o malfitor pra o ‘Ob! It seria premiar eemunerar, mas nua ingen © dilema, na verdad, & bem mais complexo. O pal de Hamlet fora morto em falta “na grosseira fartura de inchado pao: com todas as suas culpas em plena flor, {Wo loucas quando uma planta no més de maiol E quem, ‘exceto Deus, sabe como saldou a conta?” Por outro lado, o espirito paterna espera ser vingado para ter paz, mas essa paz esi hipowecada d maneira pela ual ¢ pai saldow sua conta, o que Harmlet, por nio ser em ba Cop, 1 Rs de Shean, ol, Jerre Aghl,982 Maen 2 ‘Deus, nao vai conhecer, 1850, porém, no o impede de sinvomatiza-la como inadimpléncia, [Em certo sentido, pouco importaria se Claudio fosse para ve€u ou para o inferno. O iSportante ers que fosse fori, que a Vingana se cumprisse. Mas, para que a vinganea seja completa, Hamlet nao pode eumpri-la no nomen em que a sua vitima se purifiea pela oracdo, apesar de ser 2 oeasido mais propicia Sera preciso, por- tanto, que © pal de Hamlet continue a vagar sem paz ‘Levandoa vinganga a9 seu limite logic, Hamlet fara jparadoxalmente softer 0 pal, que ter que continuar forudando como um espectro. Isso nos mostra, de forma ersearticula ‘exemplar, como a divida em fazer unio f ‘coma ambivaleneia entre 0 amor e 0 dd. ‘Somente & possivel sair da duivida se o sujelto de al- gum forma assumir ums determinagao externa como sua, pono de se entregar a um ato que, por definicao, Theescapa, Como diz Lacan a respeito do ato que Hamlet, Finalmente executa: "Este ato, [Hamlet] resliz-o,de certo modo, apesar de si proprio. Existe um nivel do sujeito no qual podemos dizer que (.. ele ndo é mais que o avesso dde urna mensogem que nem sequer € sva.™™ ‘A certeza da interpretagio é homéloga a do ato. Nao ‘no sentido de que com ela se chega ao ato que estaria na origem das palavras, segundo explicagao mitiea conhe- cia, mas porque a palavra interpretadva interrompe as associagdes, Bao mesmo tempo aintrodugao de um saber “que diverge da série abressiva — dato sew eleto poseivel | "Tocan Bape,Daas, Onlind ice, Ls, Asso 6 Alc, ‘9.973 dle surpresa —~, de uma certeza que nao a mesma que a repetigio obsessiva aparenta, Seo Homem dos Ratos prevé que algo vai acontecer so pai se casar com a dama, de onde Ihe vem igialmente 1 certesa? De qual lugar esta falanda? Em outro caso cinco relatado par Freud, da crianga fbica que ficou conhecida come 0 Pequeno Hans, hd ‘uma passagem em que, tendo tomade conhecimento das interpretagoes de Freud. a erianea pergunta ao pat, que era quem dirigia as entrevistas: “O Professor com Deus? Parece que jasabe 1udo de anvemdo! da aparéneia, nio se trata de uma pergunia rel que Hans — tio bom logico quanto Aristoteles, segunda dizia Lacan — queria saber, no sem um ligeito toque de Jronia, ¢ de onde a fala de Freud extraia 2 sua eficinela, ‘Aanalise em um conypromisso com osentide. A ques: to € onde ee se produz e qual 0 seu limite. A interpre= ‘agao analitica acarrera tanta uma produgdo de sentido quanto seu rompimento ao situar o seu limice, No final das contas, a questio ¢ do que fazer o nao sentide que a propria pritica do sentido engendra. Em outros termos: sea frase que produz sentido tem origem na supesigao de saber, ndo hd interpreticio sem ruptura dessa suposicao, ‘O Homem dos Ratos impOs 2 Freud justamente a questto sobre o limite da produgio de senuide: ate que onto oesclarecimenta da interpretagio, por sis, rompe ‘com o deslocamento incessante das associagaes que, em prinespia, reriam a sentido como pradcie final? 5S Frodo deur usc um mina de cnca ans (O pins ans Ones Comps, Rio deni, a 19 et Xp 32 4 maid, ¢ madam, char que. acesimo de send ansbrmao seo. Teo conta. eansormasto, os a ipa como seid previo ne sane eso do Home dos Rats «primete sel, ‘Fipeloo rlscutel qari ume Sper, "eee thes oma dana, concer alguna colt com neu pa Seen pies ew tere frags apart por fed nerpretco, algo que tem aver como dsj do yt stad em um segundo tema, o rn sed, pe pce certs, comeci aval. A Ilerpreiagto @ perrdo dso do sto sepia, desea ego mk pesente ocisament de Linzee arta do pat. {pe pensameno mig prec ndisacive poe ser SEpomdo pt ntrpretapo, que dso o sentido previ. inerpeeuaio da senldoapeplenidde do Homey ds tos como segundo ier: voce desea qu ago ru eco pa mesnaaard>oprofundamene Ns ap mesmo tempo, rompeseo senda queheva a Tigo ene casaieto coma dane nfo do par A produpt de snide engendra. ato sad gu por sua vez cond a una nova produ de eo. 0 prio eeta des dsjungo que a inerpretagto proves sei plan dos altos: provienene un cer Ang ov unseen desta Unsnerprecto corse conpltao que sessbaspuramente nto ta ergo sali, ode servic pr alive a dlr tatcamne no prosumer dale, 0 € mera, Fe xia ci inept ie prowesse sues marques acompisse, por ses, denn | constatagto paradoxal do tipo “eu sempre soube diss’ [AFANTASIA DO OBSESSIVO aru invencan dete espirta. 0 deliria€ mato abi nessa quieren riage" Ha nas obsessaes um privilégio do deslocamento, como apontou Freud “(.) € caracteristicn intrinseca, dentro da psicologia de um neurético obsessivo, fazera, ‘mais plena utili2agio possivel do mecanismo do desloca- mento, Destarte, a paralisia dos seus poderes de decisto vai-se gradualmente estendendo por todo o terreno da comportamenio da paciente."» No mesma sentido, Lacan fala da “wetontmis per ‘manent da qual a sintomatica do obsessive € o exemplo ‘encarnado"* Quando Lacan diz que a metontmia é um recurso privilegiado nas absessoes, estd nos indicando que nes- Sa.ncurose o.sujita se organiza contra a significacio, tornando potencialmente infinito © deslizamento. das cconexdes entre as palavtas. Hs no relato varias passagens Se Snopes ae tI ces Ola Capa Wo 1, Ri Jars ova igo, 88 p38, red O nds Rt 9.282 ergometer se thor pc gue, Cs Cone op. 28 | Cue seman emer, Ro dean fons Zh or B82 9 230. % _que mostram a importancta desse recurso, Por exemplo, ueslizamento de rats para florins ("ao respondera uma pergunva, dissethe o valor de mew honorisie por wma ona de tratamento; ele disse parasi proprio — segundo feu soube, Seis meses mais tarde: "tantos florins, tantos. fatos"}.? Ou para prestagoes — de Ratter (ratos) para ten (prestacoes) —, que Freud entende a partir do frotismo anal. Ou ainda a qualificacto que d 30 pai, fe perdeea no joge uma soma em dinetzo que no the pertencia, de Splatt rato de jogo" jogador, no alemto Foloquial)” , fnalmente,o proprio Sujeto: “ele proprio, porém,tinhasido um sujetinho asquerasoe sujo, sempre pronto a morder as pessoas quando enfurecido,eforaas- Sustadoramente punido por télo elt. Ebem verdade que le podia ver no rato “uma imagem viva de si mesma" ‘Ve-se aqui uma torcaa do ter para. ser, que nos mostra que, como ultimo ceemo da série de equivalencias entre objets, que os orna de inicio intercambiveis, acha-se sempre o proprio sujeito. No seu semindtlo sobre a transferencia, de 1960-61, ‘Lacan discute ess difieil questo do objeto das obsessbes fdas compulsaes. Para isso, deixou-nos uma formula que ilusra 6 pereurso ineessamte do sujeito na fantasia ‘obsessva, por meio de uma série potencialmente infinita dos objetos de desejo, sem que chegue a nenhum que possa pretender sero unica ouo melhor, Esta éa female: eo D laa a", a".). Seemann 2 conde srl ft wuts por Lua nis aes Ver}. Lae iret Bid ioe Zar En, 1959. 208 a Relaivamente simples e fic de ser traduzida em go bjeosdodesjo, postosem sie tendo como rico palvras uma aplieaeo da formala gerl proposta por “ean a efertca a um objeto padi. Thea pata fantasia, Sa, bem mais conhecidae que/“"p sujet, como se pode ver, aparece em dls lugares: presenta a fantasia come o conjunto das relagdes ene. mo Quteo de onde olga 0 valor cada abt, e de) ‘sijelo objeto. Na modalkdade obsessiva o Outro est, pera inal da série ce substitwiedes.Eaverstobsessiva na ligar da sujelto, no lugne do objeto, Lacan, em vez, gyistosubjelia deums6 objeo, esereveu uma sequencia,de talmanei "g movimento pelo qual o suit desliza de objeto 8 aque nao seria abusivo dizer que o abjetoda obsessi0 4 opera se faida no que Lacan chama de “equvalencias sua propria sucessio, que-tende idealmente 20-infinte, ,,y)eas.0 Fao, como moesle-pacia, como esto, como {sso significa que o sujelto obsessive investe bem mais a. yyjgade de medida, € 0 que dia essa troca permanente serie dos objetos do que um deles tomade isoladamente,. sey carer eritico. Explianda segunda pote da sua formula, que deine. "Or, ea pars obsessvo€ que esse movianent fos «objeto da obsessao, Lacan diz Que sein, que nunca houvesse um pono de prada, pos, eeu ve mantemo deslzamento no setmpoe parce a frmulaio do segundo termo daft dobsta San seu des, que pode Se manterimpossvel far bem predsumene listo ao fino de qe os ston" “ony aie Lacan, S30 pata tle, come abeos do des, posts em Fane de cenasequlalencias erotics —o que eos obi “essa quando flmos drove do Seu de expeilment do seu mundo melee (),098 usameneo gue esi sobjaent&eqaltca insta ‘sero bjs no plano eri 8 de alge tania, aunidade de meds nde o su acomods ‘une pequno cous fungi dos ojos de se deseo ‘A formula que €a sua, propssito do pagsmento dos honoris, anos rato, tants rin, nto passa de uaa llusteagao parsicular do equisalencia permanente de todos osebjetos naquila que € wma especie de mercado, tdometabolismo dos objets nos siniomas. Ele se insere~ ‘ede maneira nas ou menos fatente, numa especie de ‘uni comum de padrao-ouro* ‘Um exemplo elinico: um sujeto nao consegue se de- cide por uma Gnica mulher, pois tem defeltos que @ axterior nie tinha, mas ao mesmo (Os objetos assinalados por Lacan com letra a ainda ng tm aqui sentido que terao doisanos mais tarde, no seminro sobre a angustia. Trata-se aqul simplesmente la uma que encontra Falco p30 Sie i ‘tempo tem qualidades que sto uma novidade para ele. A eyigaré um encontro.com ano equivalencia do objeto, ou, alta de poder metalorizara passagem de uma mulher para giyo de outra forma, com o limite do esteio falico. Para 0 outta —o que Ihe permitiria suportara perda das qua gjsessivo, esse objeta nao equivalente &0 da demanda do. ldades da parceira que acabou de deixar —ee produzin Quip, ser ao mesmo tempo buseada eeitada.” uma espécie de cenario imaginario, no qual se serve da Tembranga de como era o ato sexual coma primeira ecom isso se inspira para o encontro com a segunda, E claro ‘que tm dos efeitos dessa manobra & que ele no poder considerar separadamente cada uma das mulheres, o que. faz com que, no fundo, sejam indiferenciadas. Vemosafa, origem da Irequente aurarreeriminagto —que, ais, est Jonge de ser justa, que os obsessivos fazema si prapros, ‘bem como ouvem das parceiros amorosos, de serem ios fou sem sentimentos, Tratase de uma estratégia que visa a evitar 0 surge ‘mento de um abjew sem equivaléncia, sem valor de roca, que interrompeaa série e jd nto pode ser substitu. ‘Ouvi recentemente uma expresso que ilustra perle tamente essa estratgia: alguém me falou da “paixao pelo ‘ireulo” que inspira sua vida, e que definiu— erata-se de ‘lgugm habituado a0 trabalho clenifico — coma “a ex. pectativa de que a repetigao se cumprae se instatre ma rotina", No éficil entender que haaqul uma duplicagto do tempo: enquanto o tempo das coisas acontecerem & futuro, no sentido de que a repetico visa sempre aquile que estd por vir,o tempo once se situa o sujelto én espera ue € o presente possivel “sso tem uma telagdo com a.esteutura do ata.=— contra Were wap os eros de Lacan oO sein, i casi Hos onc, ge abr EK 1005, equal o obsessive constr uma especie deearleatura i Sie orstscompulsvon Oa que ose obsesivotena mop at 3 50 'A partir disso, podemos entender a procrastinacao eomptuma tentative de tornar infinite o deslizamento dos Sbjct de amor, de édio ou do pensamento, ea divida tomo uma pergunta @respeito da correspondéncia entre ada abjeto & 0 padrdo falo (nos termos da formula de Lican, essa pergunta poderia ser formulada assim: Sera quest objeto particular, este“, equiva vealmente ao?) ‘Em ambos 0s sintomas — que ocorreu a Lacan cha- mar de “tragosde carater™* —, pode-se supor um Outro ‘capaz de atestaro valor do objetoa partir do seu proprio deseo, e als € esta suposigao o que faz deles simtomas euroticos. O que ha de proprio da neurose obsessiva ¢ a tenativa de anularadimensio desejante do Outro, que er substituida, espera o sujeito, pelo deslizamemto sem “firndos objetos on dos pensamentos, que passam assim a terum carder absoluto.Husira-se aqui o conhecido ideal de impessonlidade, que tora certos sueitos vbsessivos ‘do adequadios As exigencis do funcionamento burocra- ico, Vem igualmente dat a importaneia dos cerimonias, tos supostamente identicos ea rigor sem sentido, Essa ‘tenativa de anulagaa do Oucro tem também como rest vudo, por estranho que pareca, a sua elevaga0 a0 absolut. icone apd ald gene a Excs Rl J a tase Outro poderose, que sb um eto apc £4 oe pode eee us lps dna i, go ocorra ao pai de Linzer. Edo seu gar que se podg@¥® © ODSe55O traduz a sua maneira, seria: falta algo estabelecer e enunciar a relagao que existe entre 0 casa®° (Gree ole ets Coat tar acae ‘mento com a dama e o infortnio do pai. A formula ded Ue Inia eau tae eee ecm a Lacan deixa entrever a manobea que 0 suelo faz pan(imciir sobre © uN sob forms da demand produsira fantasia, e mostra como isso inclut uma post: SH ° Bara aan ariel oe fe de ges ue oma i nee nad Oa © sg de tenn a8 Ha uma estrutura semelhante, ou até mesmo umacerta uma dupla aeepeto: coma focalizagto do gozo do ‘monotania na sintomatologia de sentido. Nao ha, a partir. ‘Ouro, do qual o sujet seria objeto « como localisagao ck matinee esseconadna Seg gp op, oo aio a teint slo some sc mero ioes Beans, pre ee set, 0 mE soit sagen dv remand pen geome de cont, Aken nse lumssar puis Oxicemntions tm a com i re fn 5 fur lad gar do Out Fala des lope ing mes Ne Sr ‘no obsessive a esperanga de que algo possa ser feito sem, Ne ee aces eee ee ras Boe sae ee SR Sea histerizagao do ‘obsessivo se da pela emergéncia SS Ge ee ee ae eee algo com meu pai ringuém sabe se quero ou nao que acon ems un vel Ee eee ee eae eee sconce ie A en cn om aie eee aaa rece cnlsccenl do sjen capone ramoutamenriontivbae Seats ‘em questdo, nado precisa nem deve ser explicit ee ee oe ‘es, vet, nto pei am deve serevplictadn, [ny Se em ecu a esi at rngistia do sujeito. A relagao que o obsessive man- Td Homo ds aap AT 52 | {fazer um obsessive comegaraassoclar ede conseguir qy ppermita o surgimento de um saber que no est previsy ‘Como estofo, pode-se pensar na etiologia de base propos, por Freud paraa neusose obsessiva: um excedente de goa um goza excessivo ou demasiado precace, que term a wy ‘com a frequente conservacao da memoria no obsess, Ele ndo esqueceu nada, mas a lembranca nao The servey quase nada, endo como tortura. Uma formula pode res mir a maneira de o obsessivo descrever a sua lembran, ‘excessiva e init: "Eu comet, mas nto sou o responsi (Quando Freud dizia que o absessivo pede ao.analig, aque The diga que nao & eulpado daquilo de que ele propy seacusa, pode-se entender que o que ¢ pedido ao analig e que a angtsta sea aplacada, Existe um segundo momento importante na anally 6 da responsabilizacto do sujeito, que €.retifcag) subjetiva por excelencia. Nao.€.uma operagao mus simples para o obsessivo, na medida em que exige g se separem dois elementos que, nele, esto colados cu ce responsabilidad Responsabilizar um obsessive pressupieefetivamen ‘um aplacamento da sua anglistia,e uma cera elucidagh da fungio da eulpa, que Freud chamou certa vez de“ riante tptca” da angustia. Jgualmente, a separacio entre culpae sesponsib dade, necessiria 20 andamento.do dispositiva anal ‘implica uma mudanga de posicao do sujeito em relag sua fantasia. Seo iamentoanalioseestruurcomo uaa] rose nese quearifiial,éna medidaem que, para] 4 ocorta, sen necessrlo gue a sujeltofaga mais wine levou a produgao do seu sina. f pereutse que o levou 8 produc sso relat umn novo encontro com aaleridade que pactou a suavida ea cua falta respondee. Essa falea pode serene tendda-aquitantano sentido daquilo quefaka-ae Qutzo =e que 0 sult se sente obrigado a suprit quanto ‘aga que aliou ao Outro me dizer ou seja,como uma fala de stber no Outro e,finalmente, como o pecado do (Quira que € tansmitido ao sujelto, come ocorre com a do pal de Lancer. | i | i 6 aio sintomatica do obsessive se funda nas duas manifestacdes funcamentais da obsessio: a duvida ea elas devermina a propria ppoerastinasio A reac rata esses 305. quanto a dlvida& a manera de que dspae a su- 7 elt absessivo para aproximarse (como quem se afs- — rae aad chav ome ro ne i ccrescena) de um abe de deseo. — oreo nds 36 param de dang quando chove 7 rte een apace qu devo suo vary sum esse deseo Junta ox dos, tos ua FReatante que representa bem aestatéga do obsesivo cc a eee ae dante do desejo: tarnacla impossivel, como dizia Lacan, No easo dos obsessivos, podemos pensar em 8s." Pygyanta.aduvida tema forma de uma questo sobre diferentes planos onde isso sed ©at.compulsivo,n0 |. ygige do objeto,» procrastinagdo pereniza a propria qual se reeusao pensameno; 0 pensatnentoobsesivo, sab quea rigors pent er respondida fra do etn no qual se recusa 0.210, e, por dltimo, 0 que interessa. yo, 4 procrastinacdo diz respeito a um futuro que pode particularmente a clinica, o fracasso deste recutso:os ”jynca chegar. Como dizia Lacan no seminério Odesejoe alps contra o sintoma, o sintoma contra a.angtistia, ea. sya inerpretacdo,"é sempre para amanha que ochsessivo angustia contra gozo que esta implicado na demanda_ reserva v engajamento do seu verdadeiro desejo"* do objeto sem equivaleacia, «uma forma de snventat um fucura mune a contin- Freud define o pensimento obsessivo como faquele | geniauma vez qu osujltopreende controlar tudo que cujafungto ade representar umatoregressivamente’® | o separa da realizado seta. Eliminaraconingéncia Se, para o chamado homem primitivo, usado varias vezes | vista evitara dimensao traumatica, ¢ 0 “amanha sem fal- ‘por Freud como referencia extrema juntamente com a, ta’, que, entendido ao pé da letra, passaa ser wm amanha crianga, na haverlauina grande diferenga nite pensa- | quesomentechegat quando justamente fr eliminadaa mento e ato, na newrose obsessiva haveria uma especie _ flta que esta nos fundamentos do desejo. Ou seja, nunca, deregressto do pensimenio praia, que amxima | 2 mesma forma como o sue, para se var da | comtingeneia,invenia um vempo exclusiva para o eu | Sintoma que € 0 Futuro absaito a0 qual con & pro- ATO, REPETICROE TEMPO fa possvel isento de pensamente [SFr Otho et ejb de 1999 emi ntio 56 5 crastnagio, para evitaras consequencias doco, invents caricaturas de ates, que um certeanalisante,falando dag suas proprias compulsdes, definin como “uma maneitg de agit sem gir”. A dimensio essencial das obsesses ‘entao, como se pode observar na historia do Homems dos Ratos, a criagdo permanente de sucedneas: sucedanep do tempo por meio da procrastinagéa, edo ato por meig ddosatossintontitieos e dos rtuaisecerimoniais privadag Freud nos conta, a esse respelto, o eurioso habits que tinha 0 Homem dos Ratos de cantar até um eerte ‘numero, "40 ou 50°, para preencher o intervalo que hi entre 0 relampago eo trovio.* Com essa manobra tio peculiar o sujelto tentava criar uma equivalencia ent, sto ewnidade de tempo. Em vez de suportar 0 interval vazio entre o relampago e 0 trovio, que poderia provecar ‘medo, o sujeita se imipde a obrigagao de contar: o barulbs ensurdecedor do trovio, que da erigem a tantos pavores infantis, passa a ser dat em diante efeto da contagem, tendo uma contingencia externa ao sujet. O mesmo se pode penser do habito, bastante frequente nas obsesses, ‘de ocupar com pensamentos estereotipados certos inter valos de tempo quando hi um risco, mesma imaginatia, ade perda do controle i Una seriagao de objetos pode equivaler, portanto, a tum manejo do tempo. Um bom exemple disso, naandlise do Homem dos Ratos, nos é dado na momento em que, Freucl comunica o preco da sessfo,e opacienteo conver mentalmente: “tantos florins, anos rats Freud eo.) “tia p25 ‘menta, com a habitual perspledeia, que Lanzer inventara Jima moeds-padrio, a "moeda-rato", que passa a ser, para avjeltoe 50 para ee, oeguivalente universal das trocas thao ha ages simplesmente wma cortespondéncia meto- nimiea entre loins ¢ ravos, que alids vat bastante longe ina experiéneia psicanaltica de Lanzer, Existe igualmente ima mareagaa do tempo: uma sessio equivale a tantos florins, que se escoam durante uma determinada duracio ido wempo, e isso equivale ap escoamento de tantosratos, vistos como objetos anais. Repeticao COsatos obsessivos e compulsivosse repetem. Asvezes, ‘ necessirio que sejam regulados nos menores detalhes, pra evitar a surpresa en contingencia, Segunda Lacan, a definican que deu Freud da re- peticia pravem de eerto modo do que esereveu Soren kieskeyeard, apesar de Freud, salvo engano, nao se ter snveressade pelo fildsofo dinamargucs Hid um problema com o terme repeticdo no propelo siuulo do livvo de Kierkegaard, porque em dinamarquas Giemagelsen nado quer dizer exatamente repetigao, mas setomnada, Repetigto em psicandlise, entto, € uma retomada? (0u, dito de outra maneira: pode-se extrair o nove da repeticho? O prefixa dinamarques gjen significa de novo, rnovamonte, 8 segunda parte da palavra — tagelsen ‘omar & dificuldade de tradugao fez eom que em fran- 59 és, por exemplo, a obra de Kierkegaard de 1843 fosse manera de resolvé-la A partir dai, ninguém poe em dis- fniialmente traduica como La Repetition, e, na tltimg eyssio se 0s histéricas solrem au ni de reminiscéncia teaduedo, como La Reprise, isto €, a retomada* ‘Tatvesf nao se cite tanto a fase, mas ofato€ que para ‘Kierkegaard dua seguinte dfinict do termo: “ess: og psicanalistas ela equiva a algo uo sentido jt nase sada (Gjentagetsr) € uma reminscéncia paraa frente" giscute,embora poss ter sco inicialmente um enigma Repetigdo ereminiscenciasio um mestmo movimenta, Freud inventouapsicandlise, poderiamosatédizer de smasem sents opostos:aqulo de que aguém se lem maneira condensada, porque descobriv que oshistéricos {ise oi € wa retomada para rs, enquantoa reptica,corem de reminiscencia, Para abordar a reminiseéneia ua retomada, € uma reminiseencia para frente, psérica, Freud inventou wm tempo que no existia © Como se sabe, Freud fe em 1893 uma afiemacto que que vai constituir a base ds eausalidade em psicandlise se tornow célebre: "Os histérius sofrem sobrendo de a primeira interpretacto dada por Freud, na verdad reminiseeneia™ {oa prptiainvencio do seu dispostivo pratico, que tem A frase sigoifica, em uma primeira leitura, que of yma consondncia com a estruture temporal da newrose histercos produzem sintomasa partirde acontecimenta hse. sso quer dizer que odispositiv Freudiano ft je experiencias que jt passaram, tornando-os de alguma consteuido como uta tentativa de esclareceraestrutra forma presentes; mas, se tomarmos a frase um pouee da repetgi0. Nao por aeaso, 0.prdprio dispositivo & em rmaisliteralmente, la quereraigualmente dizer que of pate epeticao, algo que jt se conhece, mas que, de histéricossofrem de reminiscéncia porque fazem da rem repente, pode engendrar algo novo. niscencia sofrimentoe sintoma: aguilo que era reminig, lfm da dimensto temporal, a psicandlise parte de ‘Enc, o que deveria ser reminiscéncia,€ transformady uma hipotese fundomental, segundo a qual as.cemi- pelo histérico em sintoma, que passa a ser uma fori nlscencias se expressam tanto por meio da fla, ou de particular de reminiscencta imagens mentais, quanto por meio de uma disfungSo n ‘clinica freudiana foi montada tendo essa frase com corpo, como ocurre na converse, axioma, Foi uma resposta prttica para essa frase, uma A propria hipotese do inconsciente repousa sobre a “ideia de que a reminiscéncia, que segue na histeria a via srt rif prelerencial do eorpo, tem outras manetras de se ma- ee Relig Sau8.om)nfestar,além da narraiva, da fala ou do pensamento AS gual aie, Fas marin 1950, p66. Para Freud, esses fendmenos aparentcmente aberrantes ‘y-bouee Freon ov ments sigs sos Bt) seguery uma cea ligica temporal, segundo a qual are Tee Seana Ptlnim” C989, cham Compan. Rodeos iscencia vem um fundo de futuro. A reminiscéncia & Tins ma co lee de Ketegond a 0 repatigi no sentido que Ie dt Kirkegaard MEN. ated and emociona” eo undo emocional node quea reminscénianconsclene pode ser exprest 0c pode ser trata pelo pseanalista, Na epoca por diferentes vias. serproud nit existia 60: pRocuraea-se um psicanalista A hipotese do inconselentefreudiano no €3 MEST o-que a medicina nao sabi o que fazer € no por case Inpaiese do inconsclentefreudiano implica tratat.camg {problemas emocionals. Freud eos seus primeirosalu- lembranca.ou como reminiseéneia alguma cols. qu. 5 eam procurados a partir de uma quetxa como esa: sida nao ¢ una reminiscénela “Be tenho uma dor na peraa, fiz hidroterapia, fz todos ‘Osintoma,quejustfcao trabalho do psicanalista,55¢ -> viva hora que passave e que astentava dois enormes botGes Boe aes eam spp Peo Pca ds ss) O mainent pee Flo «de para uma ocasiao solene (uma distribuigdo de présnig a eae ee por exemple is € de tal mado preponderant ques sua morte, que ocorrria dal alguns instante, psa ser um detalhe quase sem Lmportancia. © formalismo vy *P° “ es “2 naneira que Chaplin encontrou para caricaturar 0 efeito slem da evidencia de que, para alguem que se consider | cae ae “ef ‘de um comando levado as altimas consequencias, Se a | Outro (quen tela que antecipa a nossa tlevisio?, forcadoalem de wm ‘certo limite, fee com que o corpo de sujeito se tornasse fs sede ce tm movimento, sempre o mesmo, Fota mas decree peste presets nes a st evrom, Hannah Av fa esp 0 seg cbeHencs do se ead ngs das oy sng comentario: “Diante da morte, ele tinka encontrado aj Carlitos, wrna-se algo compardvel a um Uque nervaso, frases fetas que sto empregadas nas oraies funebreg| Sobre o cadafalso, sua memiéria 0 trait uma altima ver DO nosso lado, rimos porque fbetios| aus) aleemi Eufoico, le inhsesqueide que estrs astinded ng conrtamente a0 que nos conta Hannah Arendt sobre propia more = psc sje de Eichmann, di-seem dois plans: Guteo exemplo, situado dessa vez nos antipodas dj primeic, Carts € apenas pea de una engrenagem anerior mareedo por uma grande ternura epossny Huanae meciniea qe oltapass de mu 0 an Ironia: tatase da famosa sequéneia de Tempos moerag 35 n0 0800 Proprio exagero dessa posicdo empresta true Cates empregada como opie a fusos em uma esteira industrial, Subitamente emt especie de transe provocado pela propria cadencia tala, abandona o se gar na links de montage, le rigor nao tem sujeito, so conjanto tum poder comico dificil de igualar. Dando cexpressao a um coletive sem rosto, Carlitos reioma a iniciativa e nos transmite um estilo singular, Além de represeniar, coma divisio da sua cena em dots planos, a nossa prapriadivist. i ren ope 277 et Aten psp 27 a Cia yaad ava pide converter se em um ato absesivo, vse maisampl do term, se or compli por pe cranes san Um easter imc ae ‘© ponto de juncao entre o ato ou 0 gesto singular eg | uneraltemconectempomaserenecctrinn, Scare pagies Nv ecm cua ans cu vr neti etn por Pe Se ceatemdenes | eel osans obser deramsedcetmonia™ ‘Os crimonia neat conse em pune {Ses ees ae enllans em pornos acing ager prozchendo coma su conkagem o nervala Testes ras qoe deve ser see eazy yeep qu separa oreldmpago do Wovao, impede que ‘puma mesma ordem, ou com variagdes regulaes. Esa oye q surpreenda como algo externo e casual: no fim, © ‘vided, meras formalidades na aparencia. afgurans 59 59 tera acorTido porque se completou a cantagem, esti ce qualquer sentido. O priprio cient na. com isso fiea contralado o medo que a sujeto sentiria juga diversomente, mas napa de renunciars€l8, PH g-goqhecemos aqui 3 porta de entrada que conduz nao ‘a qualquer afsstamento do cerimonial maniesi-s¢ US gy yeyruse & Feligito — em wm dos seus aspectos, edn arcane ps a eligi So some cs ‘eefimoniis—- mas amber magia e&supertca, Um cerimonial consists, portato, ent uma site| Ty xemplosemelhante ge ats gealmente co po~ sos padronizads, que formm no conjunto uma unlda jeg dos mists, Hos contd por Oto Fence (que se aproxima —assinioticamente, talvez, para usare ‘ermo que Freud empregou em um outro contexto—di_¢,) ym pacinte evita osessivamenteo numero 3, por universal, Ao prego, como dizia Freud na citagtoanterig equa da sua significado sexual ¢ estrada. Ele nha @ de uma anulagao do seni, = Aaiode fazer vad coi #vezes, para estar seguro den Retomemes acta passage do Home dos Ray) ale. Mas ake eve presi de que #8 mito nagusla vemos entre obrilhod eimpago eostonl) pr 3. po seg. empregbS Mas Se ut do trovio, contar até 40 ou 50. Trata-se no fundo de um _miimera impar, maw por conseguinte, ¢ fot substituico por ‘manobra para tornar equivalentes uma acao e uma unic 66. Seis era duas vezes 3, 7 era trpar, entao passou para 8, de tempo. Por meio de uma divisio temporal, de ur rin ‘quese mou onimero favorito durante anos assoclam-se cetos gestos preesiabelecdose de uso co ‘com uit dade de vempe. Como esereven Fret, ‘Ole Feil "La seme ssa unineme ‘cee omvesetei ei m Ato ds anes -S re hos ee ree igor, Obs Cops, i Sima, ap 7 n A conhecida comparagio feta por Freud entrea ney tose obsessiva uma religito privadn, ¢ entre a rlighigcorre, a divindade perde a sua completude e € com € uma neurose obsessiva universal, parr jastamengs que supostamente [he fala que o sujeito tera que se ta fungdo que tem er ambas os cerimoniais. nia se deyhaver. E algo proximo da auitude inibide do neurdtieo simplesmente ao fato de que as praticasreligiosssobedgiante do pal, qué levou Freud, em uma carta a Lou ‘ema sequencias de gestos padronizados pared eoyanudreas Salome, de I° de agoste de 1919, aalirmar que fs que se veemt na neutese obsessiva, ou constalagp de que emambas sujet se rege por compulsoes pe Diodes. Exit, ale disso, algo fundamental 0 suey tanco er uma quanto em outta, tent dar conta de ug acto da qual ele ¢eleo endo agent. Visa gualment, ‘mostrar articuleio entre uma seriagio de comport rmentos¢ ema draco ' © cerimonial¢, por assim dizer, uma tentativa dividro tempo em falas simetricas. Na religito ea, ‘ayia, tenta-se com isso manter Deus, ou natures, dentro de um cero enquadamento, ou mesmo sob contol exerci pela propria epetigo do cerimona Naneurase obsess, a smetria dos apsos de we pretende impedir que se produ, como fo dito anu uma significado altima que nada mais seria do que signifieagto do préprio sujelwo como objeto. A tax colossal que obsesivo se impae ea de fazer avon €,to limite, propria exisieneia do sex deus, que nb necestartamenteo das religiesexistentes, depender, eficicia dos seus eerimoniais. O esforgodosujeico vi a impedir qu o seu deus dese de exist, mas amb Paradoxalmente que se aproxime demasiado, Sel "5 Fend Wr ison rata iin p10, 80 ts fasem dervar suas inibigoes do Tao de que comaters a posto feminina em ag30 a0 en pal. Por outro Todo [eontinua Freud er una Trase que mereceria dis cussioa pare a neurose obsesia pode euraresponia- reanente sob wa illuenca feminina fvorvel, eo deisa como sequclas sendo earacteres inibidos de uma cena esquisiice Para Freud, 0 cerlmonial neurotico, bem como o lgioso, sa resrtvos, vam a imiae em ato, Na ine Leuagem religiosa, o cerimonial é, ainda segundo Freud, vt contra as enacoes por melo de wna subsiu oda cena G2 um cerimonial € um conjunto de condigdes que deer ser prenchidas para que seja permite alguma «oa ainda nfo de vodo roi, da mesma forma que wma cerimonia matrimonial de Igrejasigoifica para 9 erente una permissio para desfrutar os prazeres pecaminosos™ seus, que de outea forms os hd Salam Copoancans ima el 11256, lima. 12 Feri pis elo 228 a Estamos agul na logiea do sintoma como Formac de comproiisso, isto €, como “uma conciliagdo entre a orcas antagonicas da mente. Essas manifestagoes repro dduzem, assim, uma parcela daquele mesmo prazer guy Dretendiam evita, e server a0 instiio repro tan {quanto as instaneias que o estao repriminco’" ‘Ou seja, permitesse uma certa recuperagao de goo, ‘nas moderado por uma injuncao universal Algumas diferengas entre a neurose ea religito Reomemos a frase de Lanse: “Se eu cast com damn. a met pl ooreralgurnfrtnla queen pare am slgismo an qua fata o segundo ter pars explicraieagnenteopinelroe rel. Al Seserum aoc sito, porn igs contin uma efcéncla mile, una wea que aqlla corer ao pals causado pelo que izet oft] Nareigio dlrentemene do neuroses. segundo tempo na pede Inerpreacto, pos o hg nde esta seri enungida¢ divin. Aim, portant Gualgue explacto humana i eu cs ste neuro, o segundo tempo se evea em eral a como eed interpreta que no € un simples de lament inerpreaco vis asd t,o 5 Fre O Hamed Rts. 238. 2 «que, segundoa explicago chissicadle Free, éseparado nas obsess as epresenagdies, de um lado, eosaleos dover Na verdad, a intervengio de Freud retira @ candies religioso do sllogismo, & posicto do Homem dos Rates yassidalem dlantea ser explicadaa partido seu proprio deseo. E neste sentido que o arate de religito privada que tem as obsessdes flea de certa forma suspenso com: 2 imterpretagao do analisia Tomemoscomo exemple oepisidioem que Lancer chega au oe escolhe para sium determinado quarts qe descobte em seguidaj estar ocupado. Ee faz enti rovos de que ostual hospede morra,e, desgracadamente, iso de fauoaeontece. O mesmo oeortenasilogsta do Homer dos Rats: ier algo e seo pai morrer o lugar de onde sao tsidsendo emunciado é lugar onde se & capaz de matar 9 Pai. Tratase de um lugar de onde emana um penisamente equivalent a um deseo, e que, na fantasia absessiva, pode provocar um efeito no real. Se na estrutura da fantosia sessiva 0 objeto € na verdade o objeto metonimico, em série, osujito da fantasia &, no funda,» praprio Quire Um objetivo fundamental da ands reudians, pode-se ier, enexplicitacda do segundo temo, que expressamos ‘sezes com uma frase dotipo“aquiloquese eme aque serdesea Sendo se esclarece o segundo term, trataron ntalogica de Freud, dereligito ou de magia, nao de analice O sujet, por melhores que sejam as intengoes que rei, Winiguepaeasicomoo fasie Linzer, deseja na verdad, ucalgn acontega com o psi ate descobrit eencontnane agua sua singularidade de sujeito, que de alguma forma St algum momento todo mundo quer que aeonteca slgum coisa com o pai, amanda-o ou nao, 3 ‘TEMPOS MODERNOS [Nao e certo que a newrsehisterica ainda exist, ‘mas ha Seguramente wna neunsse qu exe, 6a que se chama de neunase obsesiv.? Lacan disse isso.em 1978, no diseurso de encerramen- to de um congresso da Escola Freudiana de Paris sobre 1a transmissio da psicandlise, Em seguida, passou a falar cde outra coisa sem relagio aparente coma frase, mas isso rio retirou em nada a forea da afiemagio, ‘Como podemos entender a sobrevivencia da neurase ‘obsessivaapontada por Lacan, sea todo momento lemos ou ‘owimos afirmagies que decretam o fim das neuroses, que teriam sido substiuidas po diferentes formagdes do carter, transtornos corporais ou formas diversas de perversdes? Podemos, me parece, escalher entre alguns camminbos: + ona neurose obsessiva, digamas,classiea, da qual © Homem dos Ratos é nosse modelo, continua viva, apesar das transformagdes surgidas na cultura, na familia, nos grupos, nas religides e também na nos cae te le #28 9p. 218290 rag sco emi! 84 ‘onganizacao do consumo, que suscitou uma nova relagao entre cada um de nose o valor dosabjetos,¢ ‘esse caso Leriamos que saber de onde as ubsessiee cextrairiam doravante a sua vitalidade; + ouastransormagSes na culture, tendo posto em xeque a esirutura da obsessio clissica, esto indicands » surgimento de uma nova modalidade de neurase apropriada aos noves tempos, + ou houve um esgotamento de proprio lendmena da neurose, que teria caducadlo corn o hugo da falta na cultura esofrido as consequencias das mutagdes nas estruturas da alteridade. Neste whim easo,terse-ia que localizar um novo paradigma clinica, Seria demasiado extensa a lista dos facores que esto envolvidosnessapassagem historica, Podemos, na entanio, caralguns, que parecem indispensiveist nossa discusst, Afamitia Mesmo intuitivamente, cada um de nds sabe que a ‘amilia €a primeira instituigao com a qual lidamos na vid A maior parte das pessoas nasce num familia, ou pelo menos tem acesso, nos primeiros tempos, a uma {ormagdo social compardvel uma familia, lsso empresia ‘essa “eatrutura complena", como a chamou Lacan: 2 "Os comlenos amines na oma dnd em Chan rt de ore Zar Ee 80 930 85 '— ‘uma fungio, reconhecida par todos, que éa de transmi- tiros valores fandamentaise signiicantes da cultura, que implica uma solidariedade entre familia e cultura, De certo ponto de vista, espera-se que a familia esteja a servigo da cultura, no sentido de que no pode renurteiar Atarefa de transmiti-la, Poroutrolado,tampouco pode isentar-se dasimposictes {que de alguma forma correspondam a probigao doincesto, {que delineia os limites da propria definicao da familia, Nao por receio de uma punigao que vieia em consequéncia da {ransgressio, massimplesmente para poder exist. A trans. missto simbolica ea impossibilidade do incesto — mais da que sua proibigao— sto as duas plastras necessarias sobre as quals parece epousar fai. €oqueperea Fret | dizer no Rascuho N que “o ineesto € um fato antssocial | —acivilizagio consiste nessa reniincia progressiva"? Ou. ja, nfo etna ce wma probigi imposta pela cultura, que | desta forma preexistria a proibigao, mas de uma condicaa | para quea propria cultura exist. AA proibigio do incesta & um desses temas que pro- vavelmente estaria sempre em discussie, Isso porgue, (Coma na frase ‘se por um lada explica algo que ocorte ( ‘de Froud "a civilizagdo consiste nessa rentincia progres: siva"), por outro, nao € capaz de explicar & si mesma Comparavel nesse sentido & origem da linguagem oy ddas comunidades bumanas, parece que somente relatos istions podem explicar de onde vem. S Fee scare snsoasara a6 a Will is de 3 ‘tos Compras, Ride to Iso. 37 8% Alrase do Rascunho cada anteriormente pode ser lida temressoniincia com o que Freud escreverd em 1930 sabres resneapulsional como dondigtodaculturs:".) €impos, sive despresaro pontoaté o qual eivilizagao éconstruida sobre usta reninia ao instino, o quanto ela pressupoe ‘exaamente a ndo saisfaaa (.) de instintos poderosos"™ A universalidade da proibieao do incesto signthea que cada cultura, com suas diferengas, deve trager em permanéneiao limite entre ossignificantes eo gozo. Nox lermos de Freud, a culeura somente exist se die “nao” a certo 3020, Dizer “do” ao gozo é, por assim dizer a ‘operagao slmbolica por exceléncia. Este ¢, als, overae dda demonstragto feta por Freud em Totem tab Claude Lévi-Strauss, em As estratras elementares do parentesco, discute detidamente a quesido da proibieas do incesto. Como cientsta social, parte da pergunta da qual partem em geral os socidlogos, psicloges, anita. pilogos ete: Qual é a origem da interdigta do incesto? Eh é eutural ou natural? Ou sea, oincestoé proibido or imposigao da cultura ou sera que hi, como diz um aor citado por Lévi-Strauss, uma repugancia natural pels relacdes sexuais incestuesas, uma espécie de recica biologiewa esse tipo de relagaat™™ FS Fe: © male a vias", Cas Cops, i de aco, {msn SXLp IEMD4 Ortmann taasorocdnedte i dee nares mai ron dsceneen nudum tntanse: ean [its psanalstsscomesporanos, paticne dao clr anatase dhe ginctiod cone edinods Tesh plo micpadeare eae ESArude nsomadihconcsquensiandctemarccohn a, ules dsteninarea premio caboe 7 aan caréter paradoxal da prolbigao do incesto. eee yrigem tera tido essa proi- cit pn nan 8 Gere aaa eter ete ieee snd nest oeorgia nal ose “Na pig segue, Ltrs comple: “con stoma ea heen ng revindcaga atl eum limited ultra, do qu sritn ‘uma proibigdo, mas sim de uma transformacao ou ? issagem da natureza a cultura. “Antes dela [da proibigdo- Ho mcs acura ext dads, Com a tn dsndeasraonensano atten tropa uncon eee crs eri Br pn rm aa pale pr Dear ae eae are mvs prima de uma teenie TE eerie Barat comes ‘Transformagdes na familia tradicional Atwalmenie estamos assistindo, mesmo quando ainda ‘io legalizadas, ao surgimento de variagbes na fatnlia con. Jugs! que vio em ma dtegao diversa do formato hetenoexe ual € monogimica, Seus agentes revindicam, na entanio ~ ale vai aos poueos modificando-se no senido dessas teivindieagdes —, serem reconhecidos como unidodes fn plates, Basta que pensemos nas falas monopatentas, (8 compostas de cass do mesmo sexo, ou nas alanas dy tum homer ¢ uma mulher que tém flhos de pracedeneiag ciferetes...Se esta havendo ruptura,o que parece cla, ¢ coma coincidéncis, spontada por Lacan come “totalmente ‘Contingemte” em 1938,” entre ainsttuigdo familiar a fox nila biologic, iso é, entre estrutura legal da familia e ‘ncontro heterossexual sexvalmente capa: de yerar filhos E claro que essa transformacdes no podem ser pen, suas apenas como variagdes entre formas equivalentes, a imagem da figura do caleidoscopio que cites anteriormens tt. Na verdad, as mutagoes que ocorrem atualmente na Familia passom aexigia cada vez umarnovacompreensio dio lugar e da fungao do simbtico, con importantes para 0 futuro, Assim comoastransformacBesna composi da fil, adisinbuicto de dinitose deveres famillaesesiaigdalmente ‘mudando, como mostra claramente as inovagoestravidas tel Codigo Civil raskico de 2002, partic do quale m consequencias £2 Get 70s comptes lamiiares nfo do indinis”, Oe ei de oc. Jonge Zia Eras ge c) + ecaonenoin ase eas onan aman es soit intainonapetlo peace Gor xc, soi es hn trea pr med doo destnes pure deumomc qa ernios padre) Gimme St ns sors ima cona ura ulin scat endo a come un Inui rgd em um conta sone pelo Ea pla ee pe lle paso oer + Deapesst pode one wi dip pr sinc eens een cman chien cmt dove ence de suse a fain, doe Se thes asemacniets sola con Prop dosbnserndene deena pai, wae donna tna ah marae SOND acne es edged nso oss” An al Har SS aqucueefaneeiaet imran eta eh nr 0 * no ha mals diferenca entre os antes denominados fihos legitimos ¢ os adotivos, que sio doravane onsiderados igualmente "consanguineos, seam ‘usis forem as suas origens ou os procedimemos Por meio dos quais foram concebidos. © Cadigo Civil de 1916 distinguia, como se sabe, os flhos "eattlmos,ilegcimos, naturais ¢ adativos, Essas modificagbes nao sto simplesmente aranjos formals. So, pelo contro, eniavas de responder te ‘ranslormasdes que ja vem solrendo a autotidade nos toss0s tempos, Ha atualmente entra familia eo Esiade lume redistribulgdo de prerrogaiva,oque faz comquea estrutura antes piramidal da Familia passe acer wm novo formato, com a entrada em cena de agentes do poder Dublico que tem algo a dizer sobre a melhor manciva de Gonduit a vida familias. Vat nesse sentido a afiemageo de Hannah Arendt segundo a qual “o sintoma mats nifcativo da crise, indicar sua profund ter ela se espalhado em areas pré-politica 8 cacao dos filhos e a educagi, onde a a sentido mats laa sempre fora acelta como dade nacural’.* toridade no ‘uma necessi- Eric Laurent constata, por sua ves, ima consequeneta dlessas novas relagdes entre as familias eo Estado -A re, fortna das familias suseita menos paixdo do que a reforms hs sposentadorias. No pacto de soidariedate ene ag eat "Ge Canale ie pod fas, $8 a, : a i geragbes, certamente espera-se mais das reistribuigbes ddo Estado do que dos circuitos interfamiliares.™ Os tempos, portanto, mudaram. Hoje, € possivel ler erm uma revista online de sociologia o sequinte (ratava- se de um convite para envio de artigos sobre politicas de familia); "..) as téenicas de reproduc assistida, erticularmente por meio da doaczo de gametas, leva 4 diferencar lagos de sangue e lagos de famitia, pats biologicos e pais sciais. A partir dessas transformacces, a crianca, © nde mats 0 casa, tendea tornarse o elemento fandador da fama? Isso mostra que, apesar da profundidade da erise 2 que essas transformagbes esto ligadas, existe uma, paradoxal estabilidade da ideta de familia, que aparente- ‘mente recuperot.o respeito universal apds os nummerosos jquestionamentos de que foi objeto por parte das varias formas de eriticas e experiencias utdpicas, Consideranda-nos ow nao pragenaticos e imunes as ‘topias.0 ato & que estamos vivendo una redefinigto da composi¢a0.e mesmo do conceito de familia, mantendo-se 1 entanto 0 mesmo nome ¢ uma importancia compard- vel. Alguns texios, se queremos trazer mais uma ilustra- ‘fo, traduzem opinides que levam bastante longe a ideia da igualdade, sem no entanto mostrarem, pelo menos a primeira vista, qualquer inspiragto wtdpiea. Como, pot pane he oda ors Cpa N73, = Attempt wend ian ee Cale, ‘hard cot, pbliad 10 jn de 2008 Spit et Ipsec hl taco 92 xemplo, este techo de um artigo que recothi um pouco ‘0 acaso na internet, e que trata, néo da sto da constiuigao da familia em atgum horizonce ideal da Histéria, mas rien disposicdes legas conereias de hoje: Sands 0 Esto sre una lens teria de fen vidas engamo sees predades o Cie dele abenancn sconces 6s cada primi dem aco ag Mer Nes endo elo elo apes rg ts eareturanene acon s sane cen Iss igs qu sab jsicando sds tao pr sso. Ao nse oper sac 8 ands tes, o dota sorbose Tepresemagaes. i Tudo indica que nao estamosem tempos de utopia, se Sentndmos no sentido liso, coins una conse 10 futuro de ideas que munea fo foram posto em pratien Como dita Jean-Francois Louard nas dees posmodernidade, nto entamos com metansr ating unittias. As nossas utopias de hoje, caso meveeam o msm nome, so bem diferentes em ves de unt, tendem a dispersio, stv mais voltad: . voluadas para presente, ‘que busca se eternizar, do que para o future bin a ouldalesdegruia connec eBhinierewcomn peeerans "Sse 4p seme ver Fa Present pers ines tice ~ 8 ST hteeneeeerrecemnnererererenerneceenerennrereereerete Dessacralizagio da eféncia Camo eidtoanteriorments sugar doe losXViLeXViTumannvsformadeesperana detente | desperangs lg Liga aovange dace. cst | tov csperaga suo aun exlthameste a ero do fbeceobalomadnespengymaendica masiamben | ro campo dos valores comparioaprodugie do sber | bog enh 3 bse da verde Haseena dscon me secdeeoniearasers dose quetstarnseprat {rene mperegoes do mundo pongndo nee fentda fant da eliglo rouse daprigeia um | iordmstate ordnance | ireverselsa nue sto line des tos ets mete napa sng | hen gucceupenalnet os exposes ccpados pelssupersigdese pels cles a nausea, despa do Sevenqadraneno el poe nos mest un cnr Inq, coro se ves ur deo propo quem vnnecesrament na de doe nowsoe meres ed Towasotrernca Cd cate ara as deol, cmconeqpencn remot roves leak i Segundo abel expresso de[acqerAsin ile, "0 realdevoaaratuen' ada vequesanasn expe FO tac rn 9 08. vs mtn Io Mile: “Us Tanase, Opa Lacanans — Re Inca Pan 2h 205-7 8 4 eT {ativas da egularidade do clima, do planito e das colhet- fs, das chuvas edo estio siofrustradas por um acidemte tals ou menos imprevisto que ultrapase as capacidades 1s nossos instrumentos e maquinas artficiais, come fot caso hi algum tempos, quando milhares de aviges, {ue sio todos 0s dias alcados aos céus pelo que a nossn ‘enica consiruiu de mais perfeta, fearam coludos nas bistas dos aeroportos europeus porque as einzas do vl, ‘ta islands Ey aljllajokull, iy vents, podiam fazé-los car, pelidas cegamente pelos Dectin da culpa, predominia da vergonha Algunsautores apontam como caracteristica da nossa époea ums passagem do senimento de culpa paraa very nha. No lugar da culpa, que de alguma forma est igaa ‘uma divida que mantemos com a alteridade e consti luma marca fundamental da neutose, em particular da eurose obsessiva, sobreviria a vergonha, Haveria uma substituigto: onde havia aqueta, em-se ‘agora esta. Por outro lado, nao ¢ qualquer fotma de ver, gon gue pode acuparo lugar deixado vari pela culpa Xo testo feudiano os dois sentimentos coexistem,apesar deserem claramence diferenciados, Nelamos o que dis # respeito um autor como Danye Robert Dufour, que escreveu varios livros e artigos sabre ‘crise do sujeto contemporanco Na epoca ps-moderna ja nao €o sentimento de culpa eurtico que define o sueto, mas umm sentimento de ‘omipoténeia quando se¢ bem-sueedid, ou de wt in povenein quando se ¢ malsucedid, Dito de outta form 2 vergonha (para consign mesmo) substitu os sen rmentos de eulp (para coms outos)."* Dufour esta nos indicando, com a hipotese do surgt- ‘mento da vergooha no lugar da culpa, uma nova forma de subjetivagdo do mal-estar. Se ji ndo existe uma instancia externa da qual poderiamos esperar um juizo sobre o valor des nossos atos, ese ji nao opera com eficacia wm ccorrelato inverno dessa instincia, como o supereu fret iano nasua face de "herdiro do Complexo de Edipo"** resta-nos tomar como criterio de julgamento as viessi- tudes da performance, oprimida entre a impoténcia e a pnipotencia Cabe aqui um parentese, © supereu freudiane tem na verdiade dus verientes, uma positive e uma negativa: ha uum faca! € um nao fecal. Sa dois opostos em acto, que ‘conduzem no final das contas a um paradoxo, enuinciado or Freud no mesmo texto er que introdus pela primei- ra vez o lermo supereu, Uberiel: “Voce deveria ser (.) iw pov coca humans — Os xeon se testa ‘gina croc eld ils, ui de 200 Trai pin ona sor Fe em et oases, Ye. por cx Fru Adactdodspeonade gaa (B30) Noreen urease Oba Cans, ke ira ug 98, LRN po Vergo Pra symasconsqaactas pies ‘Shimav tone ov sexs UST) 1 IN p28. % cama a set pa, (mas) voce nao pode ser (..) coma oseu pal A passagem da vertente negativa para a positiva © caracterizada nos nossvs tempos por wm declinia do Outro que servia de caucao paras conscléncia moral, que ‘ho texto freudiano é representado sobretud pelo pai Assim, o mandado positive Jaca! partir dos ideais Paternos ¢ diferente do mesmo imperative quando o pai indo est & altura de representar esses ides, e ai que Se revela 0 que esta por tris do facut: 0 goza sem lines! salientado por Lacan e facilmente reconhecido em diver. sas patologias contemporiness. Esse ponto ¢ fundamental em qualquer discussto sobre as earacteristicas da nossa época:estao aguil em questao varios temas hem atuais, eis come a suposicéo de um alastramento do hedonismo,o risco de dessimbolizacao nas relagBes socinis, arise daautoridade nas escolas —ligadaa ‘uma outra que poe em confronto as diferentes geracdes—, ‘violencia como forma imesdata de resolver conflias ete. Em Freue), ne paece,a discussie sobre a vertente posti- vvado supereu como imperative de gozo, que pouco ou nada {fem que ver com a consciéncia moral, nio se encontra tanta ‘os seus textos sobreas neuroses, psicosese perverse, ner dlitetamenteno seu debate teorica sobre supereu, mas nos ‘extos que ratam dos impasses da eivilizaco. Assim, em O mal-estar na civilizagae, publicada em 1930, ha uma frase que ganha maior importéncta a par- ‘ir do momento em que surgem na coletivo, com mais

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