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Fatores críticos para a produção de agregado

reciclado em usinas de reciclagem de RCC da


região nordeste do Brasil
Critical factors in the production of recycled aggregate in
CDW recycling plants in Brazil’s Northeast region

Adriana Virgínia Santana Melo


Emerson de Andrade Marques Ferreira
Dayana Bastos Costa
Resumo
s usinas de reciclagem de resíduos da construção civil (RCC) no Brasil

A produzem agregado reciclado com alta variabilidade mineral e baixa


empregabilidade. Suas atividades dependem da construção civil e das
diretrizes para produção do agregado reciclado, com foco na
substituição ao agregado natural. Este trabalho identifica fatores críticos para a
produção de agregado reciclado em usinas de reciclagem de RCC por meio da
avaliação das usinas da região Nordeste do Brasil, conforme a norma NBR 15114
(ABNT, 2004b). A pesquisa foi dividida em três etapas. Na primeira, foi
estabelecida a fundamentação teórica do estudo. Na segunda fase, foram realizadas
visitas às usinas para entrevistas, levantamento fotográfico e observação visual. Na
última, os dados coletados foram analisados à luz das diretrizes brasileiras para
produção de agregado reciclado. Como resultado, identificou-se que as usinas
visitadas sofrem interferências negativas na produção decorrente da gestão dos
resíduos da construção civil. Observou-se, ainda, que as usinas avaliadas
apresentaram não conformidades em relação aos requisitos da NBR 15114. A
contribuição principal deste trabalho é a identificação de fatores críticos e
proposições para a produção do agregado reciclado com pureza mineral e maior
empregabilidade.
Palavras-chave: Resíduo da construção civil. Usina de reciclagem de RCC. Gestão de
resíduos.

Abstract
Recycling plants of Construction and Demolition Waste (CDW) in Brazil produce
recycled aggregate with a high mineral variability and low usability. Their
activities depend on the building industry and on guidelines to produce recycled
aggregate, which are focused on replacing natural aggregate. This study identifies
Adriana Virgínia Santana Melo
Instituto Federal de Sergipe critical factors in the production of recycled aggregate at CDW recycling plants.
Aracaju - SE - Brasil That has been done through the evaluation of recycling plants in the Northeast of
Brazil, according to NBR 15114 (ABNT, 2004b). The study was divided into three
phases. In the first phase, the theoretical foundation of the study was established.
Emerson de Andrade Marques In the second one, a number of plants were visited for interviews, photographs,
Ferreira
Universidade Federal da Bahia and direct observation. In the final phase, data were analyzed according to the
Salvador - BA - Brasil Brazilian guidelines for the production of recycled aggregate. There were
evidences that the production processes in those plants were negatively influenced
Dayana Bastos Costa
by the current waste management practices of the construction industry.
Universidade Federal da Bahia Moreover, all plants had non-compliances with requirements of the NBR 15114.
Salvador - BA - Brasil The main contribution of this paper is the identification of the critical factors and
offering propositions for the production of recycled aggregate with mineral purity
Recebido em 30/05/10/13 and improved usability.
Aceito em 23/07/13 Keywords: Waste construction and demolition. CDW recycling plants. Waste management.

MELO, A. V. S.; FERREIRA, E. de A. M.; COSTA, D. B. Fatores críticos para a produção de agregado reciclado em 99
usinas de reciclagem de rcc da região nordeste do Brasil. Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 13, n. 3, p. 99-
115, jul./set. 2013.
ISSN 1678-8621 Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 13, n. 3, p. 99-115, jul./set. 2013.

Introdução
A utilização dos resíduos da construção civil usinas é utilizado pela prefeitura em obras de
(RCC) como matéria-prima para produção de manutenção, de pavimentação e infraestrutura. No
agregados reciclados reemprega componentes Rio de Janeiro persiste a carência da
mineralógicos, auxilia no uso dos recursos naturais regulamentação municipal para incentivos à
e provoca readaptação humana às necessidades de implantação das usinas. Em Salvador, o programa
vivência na biota. As áreas destinadas à produção de gestão diferenciada de entulho iniciado em
do agregado reciclado são identificadas como 1998 prevê a implantação de usinas de reciclagem
usinas de reciclagem de RCC e devem ser de RCC, que não possuem prazo para início das
reconhecidas como mecanismos de redução do atividades.
desperdício de matéria-prima mineral
As usinas de reciclagem das regiões Sul, Sudeste e
reempregável na construção civil (MELO, 2011).
Centro-Oeste foram estudadas por Nunes (2004).
As usinas de reciclagem de RCC são definidas A análise teve por base a produção das unidades de
como a área industrial destinada e equipada onde Piracicaba, Vinhedo, Guarulhos, Ribeirão Pires,
se processa a transformação de RCC, classe A, em São José do Rio Preto, Belo Horizonte (Estoril e
dois produtos finais distintos e conceituados pela Pampulha), Londrina, Brasília (aterro/jóquei) e
NBR 15112 (ABNT, 2004a) na forma de agregado Macaé. Na ocasião, exceto as usinas de Belo
de resíduo de concreto (ARC) e de agregado de Horizonte e Vinhedo, todas as outras possuíam
resíduo misto (ARM). como único cliente a própria prefeitura. De modo
semelhante, às usinas de Ribeirão Preto e São José
A qualidade do agregado reciclado, por sua vez,
dos Campos também produzem agregado reciclado
depende de fatores externos e internos às usinas de
somente para o setor público (CUNHA, 2007).
reciclagem de RCC. Entre os fatores externos estão
a técnica de esmagamento do britador, a Nota-se nessas iniciativas que agregado reciclado é
uniformidade mineral apresentada pelo RCC e a absorvido pelo setor público para uso em
armazenagem do RCC em canteiro de obra. Como pavimentação. Nesse caso, os requisitos técnicos
fatores internos têm-se as etapas de projeto para para empregabilidade independem do controle de
implantação das usinas, o tipo de beneficiamento qualidade rigoroso (MELO, 2011).
previsto e as linhas de produtos reciclados a No período anterior à publicação da NBR 15114
comercializar (WASTE..., 2005).
(ABNT, 2004b) foram implantadas no Brasil 18
O processo produtivo, determinado durante o usinas de reciclagem. A Usina de Reciclagem de
projeto das usinas, interfere nos requisitos técnicos Fortaleza (USIFORT) é uma das três usinas
do agregado reciclado tanto quanto a ausência de privadas dessa época, sendo também a quinta mais
diretrizes que balizem o desempenho do agregado antiga em operação no país e a primeira unidade de
reciclado. As usinas fixas, por exemplo, detêm o reciclagem de RCC da região Nordeste
controle das etapas internas do processo de (MIRANDA; ÂNGULO; CARELI, 2009). Entre
beneficiamento, se comparadas às unidades móveis 2004 e 2008 o número de usinas no Brasil cresceu
(HENDRIKS, 2004; CAR et al., 2008). O maior 161%. Nessa fase o número de unidades da região
controle dos requisitos técnicos permite Nordeste aumentou 300%, e a capacidade de
empregabilidade do agregado reciclado em produção de 50 t/h passou para 140 t/h de
concretos estruturais (WASTE..., 2005). agregado reciclado (MIRANDA; ÂNGULO;
CARELI, 2009). Assim como outras usinas do
Na Europa, as plantas fixas empregam mais de um
país, o principal cliente é o setor público. Em
tipo de britador, e o RCC produzido deve garantir
a viabilidade econômica do empreendimento em 2013, inicia-se a fase de teste da quinta usina do
relação ao custo final do agregado reciclado Nordeste, situada em Aracaju.
(LOPÉZ, 2010). Entre as 47 usinas implantadas no Brasil até 2009,
inexiste controle da qualidade dos produtos
No Brasil, por sua vez, as usinas de reciclagem de
RCC são tidas como local para direcionamento e fornecidos nelas, e 11 dessas usinas estão
destinação do RCC gerado (NUNES, 2004). A desativadas ou paralisadas (MIRANDA;
ÂNGULO; CARELI, 2009). A capacidade de
produção do agregado reciclado brasileiro está
produção, em t/h, dessas usinas sugere que as
dissociada das relações de viabilidade econômica
concepções utilizadas foram insatisfatórias para a
ou requisitos técnicos. Em Belo Horizonte, as
usinas entraram em operação após o previsto, e a continuidade da atividade produtiva.
capacidade ociosa está próxima de 40%, fato Os estudos de viabilidade econômica de Jadoviski
atribuído ao incômodo provocado na vizinhança (2005) sobre as usinas da região Sudeste afirmam
(ALMEIDA; CHAVES, 2002). O produto dessas que o custo de reciclagem reduz-se com o aumento

100 Melo, A. V. S.; Ferreira, E. de A. M.; Costa, D. B.


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da capacidade de produção. Para Miranda, Ângulo avaliar o emprego das boas práticas selecionadas
e Carelli (2009), as usinas de pequeno porte podem na revisão da literatura.
ser viáveis se incorporarem valor ao produto.
Diante desse contexto, a produção de agregado Parâmetros de projeto,
reciclado depende do reordenamento das implantação e operação para
atividades da construção civil e do emprego dos
produtos reciclados, com semelhança de exigência usinas de reciclagem de RCC
entre matéria-prima natural e matéria reciclada.
Nesse sentido, as usinas de reciclagem brasileiras
Requisitos de projeto e implantação
devem atender às necessidades da produção com Países como Japão, Holanda e Espanha apresentam
foco no desempenho do produto reciclado. avanços satisfatórios na reciclagem do RCC. Parte
O presente trabalho visa identificar fatores críticos desse avanço está associada à escassez das jazidas
para a produção de agregado reciclado em usinas e aos custos imputados ao gerador quando da
por meio da avaliação das usinas de reciclagem de disposição final do RCC (LANZELLOTTI;
RCC da região Nordeste do Brasil em operação TOREM; LUZ, 2004).
durante o ano de 2010. Na avaliação são usados os Na Europa, as usinas fixas possuem área para
parâmetros da NBR 15114 (ABNT, 2004b) quanto recepção do RC, e o acesso a elas obedece a:
às diretrizes de projeto, implantação e operação apresentação de licença do Gerenciamento do
das áreas de reciclagem de RCC. Resíduo da Construção Civil (GRCC) ou registro
Na época da escolha das usinas de reciclagem, as da isenção do licenciamento; expresso
quatro unidades em operação na região Nordeste reconhecimento aos tipos de resíduos aceitos; e
apresentaram pouca referência literária em relação submissão aos procedimentos da área de recepção
às existentes nas regiões Sul e Sudeste do país. da usina (WASTE..., 2005). Nessas usinas, a
Assim, as usinas do Nordeste foram escolhidas por conferência do RCC na recepção é documental e
pertencer a mesma região geográfica, apesar de visual, e sua constatação ocorre com a derrubada
relativa heterogeneidade das demandas urbanas em área adjacente. Quando a contaminação for
dos municípios-sede. As dimensões continentais superior à aceitável, o lote é rejeitado. Uma nova
da região suscitaram investigações sobre a verificação de contaminação ocorre antes da
terminologia do agregado reciclado, as armazenagem, conforme a Figura 1 (WASTE...,
particularidades do RCC recebido nas usinas, as 2005).
relações entre capacidade de produção e Além disso, o produto a gerar e a quantidade a
população, bem como as possíveis diferenças produzir são vistos como elementos fundamentais
operacionais entre as usinas avaliadas. na análise para implantação das usinas (MUTHER,
O número de usinas a avaliar na região Nordeste 1978). A inspeção rigorosa do RCC conduz à
em relação ao universo do país, contribuiu para redução da contaminação da matéria-prima, ao
que se pudesse abordar a totalidade dos itens da mesmo tempo em que favorece outras etapas
norma NBR 15114 (ABNT, 2004b), bem como produtivas.

Figura 1 - Método de controle em usinas na Europa

Rejeito Madeira, plástico,


Avaliação do potencial de contaminação

papel (manual)
Aceito
Entrega de RCC na usina

Estocagem por tipo - concreto,

Alocação do produto na
Repeneiramento
tijolos, asfalto, granuloso

armazenagem
Pesagem e classificação

Redução e/ou
separação
Re inspeção
Estocagem

Remoção magnética

Fonte: adaptado de Waste & Resources Action Progamme (2005).

Fatores críticos para a produção de agregado reciclado em usinas de reciclagem de RCC da região nordeste do 101
Brasil
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No Brasil, os parâmetros de projeto, implantação e Ainda no que se refere ao Japão, Shima et al.
operação das plantas fixas ou semifixas estão (2005) afirmam que o método de aquecimento e
descritos na NBR 15114 (ABNT, 2004b) e atrito (Heating and Rubbing Method – HRM 1 )
limitam-se à atividade de redução, sem correlação utilizado nas usinas tem resultado em um agregado
com outras diretrizes para reúso e reciclagem do reciclado de concreto demolido com alta
RCC, a exemplo da redução das interferências qualidade, homogeneidade mineral e redução dos
externas e internas às usinas. finos.
Entretanto, outros estudos apontam que o projeto, A inserção de equipamentos para pré-
a implantação e a operação das usinas de beneficiamento e eliminação de impurezas do RCC
reciclagem de RCC devem ter por foco a redução aponta para a redução das extrações de agregados
das inteferências negativas na produção do naturais. Para Ângulo et al. (2009), existe uma
agregado reciclado. Moreira (2001) aponta a grande variedade de técnicas que melhoram a
localização do empreendimento, o leiaute de qualidade do agregado reciclado.
beneficiamento, os tipos de equipamento a serem
utilizados, o fluxo interno de insumos e resíduos Requisitos da matéria-prima, do produto
gerados como interferências internas à produção. e dos resíduos gerados
As interferências externas referem-se à distância
de transporte, à disponibilidade dos insumos, aos A produção do agregado reciclado visando
requisitos do produto (MOREIRA, 2001; substituir os agregados naturais deve ter aplicação
MANZINI; VEZZOLI, 2008). imediata, não oferecendo riscos e respeitando
aspectos sociais de aceitação e conformidade à
O local de instalação de uma usina de reciclagem
norma. As qualidades físicas necessárias ao
de RCC é uma decisão estratégica e faz parte do
agregado reciclado de concreto são resistência à
processo de planejamento, independentemente do
compressão, durabilidade, absorção de água,
agente financiador. Na iniciativa privada, a escolha
trabalhabilidade e um bom controle de qualidade
pode levar a requisitos de maior rentabilidade com
para redução da variabilidade (KIBERT, 1994;
menor custo; já no setor público, o caráter social
KASAI, 1994).
ou o crescimento regional podem ser
determinantes (MOREIRA, 2001). Nesse sentido, a Holanda e a Dinamarca
determinam igualdade de condições e emprego
Para Moreira (2001), o relevo, a facilidade de
para os materiais de construção fabricados com
acesso, a ausência de corpos hídricos, a distância
materiais naturais e reciclados (BREWER;
de transporte da matéria-prima e do produto são
MOONEY, 2008). No Japão, o agregado reciclado
fatores a serem analisados de forma a beneficiar a
deve ser reinserido na cadeia da construção civil de
produção.
origem (YOSHIDA, 2007).
Duarte e Lima (2007) entendem que as diretrizes
O controle tecnológico do produto reciclado
de implantação das usinas de reciclagem de RCC
favorece a comercialização e consolida as
dizem respeito ao volume de geração do RCC a
diretrizes para aproveitamento. Hendriks (2004)
reciclar, ao tipo de agregado reciclado produzido e
afirma que são boas as possibilidades de cuidados
à aplicação a que se destina.
fora das usinas para melhoria do produto final,
resultando em aplicações nobres para o agregado
Requisitos de operação das usinas reciclado.
A escolha do tipo de planta e dos equipamentos A NBR 15116 (ABNT, 2004c) prevê o controle de
adequados aos requisitos técnicos do agregado qualidade do agregado reciclado com frequência
reciclado requer condições operacionais e mínima por lotes equivalentes à produção mensal
produtivas determinadas durante o projeto dos ou volume máximo de 1.500 m³, o que ocorrer
empreendimentos. As diretrizes para produção do primeiro. Além disso, deve ser realizado por
agregado reciclado conduzem a terminologia, a tipificação (ARC, ARM) do resíduo classe A e
tipologia do RCC, a requisitos técnicos e ensaios graduação granulométrica produzida.
de caracterização (BALÁZS; KAUSAY; SIMON,
2008).
Método de pesquisa
No Japão a produção de agregado reciclado graúdo
é destinada à construção civil. Para tanto, as A presente pesquisa adotou o levantamento de
diretrizes estabelecem as condições de reciclagem dados qualitativos como estratégia para a avaliação
e demolição, bem como a padronização para uso das usinas, utilizando como fonte de evidência a
do agregado reciclado (KAWANO, 2003).
1
Usina em que o RCC se aquece a 300 ºC e elimina finos por
lavagem e ventilação (SHIMA et al., 2005).

102 Melo, A. V. S.; Ferreira, E. de A. M.; Costa, D. B.


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observação direta, a pesquisa documental in loco, (b) a elaboração dos instrumentos de coleta de
o levantamento fotográfico e a entrevista. dados; e
A diversidade das evidências construiu o cenário (c) a coleta de dados; e a análise final dos dados.
de cada usina, bem como permitiu estabelecer os
O Quadro 1 contém a relação das usinas visitadas,
pontos comuns, as discrepâncias e os fatores sua razão social, capacidade de produção e
críticos que interferem na produção do agregado natureza do agente financiador. Na avaliação das
reciclado em relação aos parâmetros da NBR
usinas, a identificação foi feita segundo a
15114 (ABNT, 2004b).
sequência alfabética “A”, “B”, “C” e “D”,
A Figura 2 apresenta o delineamento da pesquisa, determinada previamente por sorteio aleatório.
composta do referencial teórico que definiu os Na elaboração do questionário foi definido um
critérios para coleta e análise dos dados, o estudo
conjunto de constructos baseados nos requisitos da
de caso e a elaboração das diretrizes para a
NBR 15114 (ABNT, 2004b) sobre projeto,
produção do agregado reciclado nas usinas de
implantação, operação, matéria-prima, produto e
reciclagem de RCC. resíduos. O objetivo foi evidenciar as diretrizes
O levantamento de dados foi subdividido em utilizadas, bem como as interferências externas e
quatro etapas principais: internas à produção.
(a) a seleção das usinas de reciclagem;

Figura 2 - Delineamento da pesquisa


Referencial Teórico (Agregado reciclado, usina de reciclagem, gestão de RCC)

Levantamento de Dados Qualitativos das Usinas de Reciclagem de RCC da Região Nordeste do Brasil

Seleção e caracterização das Autorização para visita Agendamento


usinas de reciclagem

a. Elaboração do questionário para


a. Seleção dos instrumentos entrevista Visita às usinas de reciclagem de RCC
para caracterização das Coleta dos dados
usinas de reciclagem b.Elaboração do roteiro para o
levantamento fotográfico

1º dia 2º dia
a. Entrevista estruturada a. Levantamento fotográfico
b.Visita às instalações b.Observação direta
c. Leitura de plantas e mapas c. Entrevista não estruturada

Análise dos dados gráficos, construção de leiaute das usinas com


identificação do fluxo

Análise dos dados

Fatores Críticos e Diretrizes para a Produção de Agregado Reciclado em Usinas de Reciclagem de RCC

Quadro 1 - Relação das usinas de reciclagem de RCC da região Nordeste do Brasil


Ano de Capacidade de
Cidade Designação Natureza
Implantação Produção (t/h)
Fortaleza Usina de Reciclagem de Fortaleza – USIFORT 1997 50 Privada
Usina de Beneficiamento de Resíduos Sólidos da
João Pessoa 2007 20 Pública
Construção e Demolição – USIBEN
Petrolina Usina de Beneficiamento de Entulho – UBE 2008 20 Pública
São Luís URCD Ilha Grande Comércio, Serviços e Construção 2008 40 Privada

Fatores críticos para a produção de agregado reciclado em usinas de reciclagem de RCC da região nordeste do 103
Brasil
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O constructo Projeto e Implantação visou produto reciclado disponibilizado ao mercado, as


evidenciar o grau de adequação da localização e do facilidades e restrições de inserção, as linhas
terreno ante os requisitos da norma. A investigação oferecidas, além do manejo e tratamento dos
buscou determinar quais os critérios para a escolha resíduos gerados nas usinas. Nessa etapa foram
da localização e do terreno dentro do município, as investigadas quais as formas de controle dos
interferências provocadas no entorno, as reações requisitos técnicos, terminologia e indicadores de
populares à instalação do empreendimento, as produtividade das usinas. A Figura 5 detalha a
restrições provocadas na produção e como se dá a organização do constructo matéria-prima, produto
convivência com as populações impactadas. e resíduos.
A Figura 3 apresenta o delineamento das variáveis Para a avaliação das usinas de reciclagem por meio
analisadas em Projeto e Implantação. Os itens dos requisitos do questionário foram atribuídos os
Fatores da Escolha, Acesso Interno, Recepção conceitos:
(local), Triagem (local) estão grifados porque se
(d) não atende: quando se identificou como
referem às investigações não citadas na norma
diferente, sem correlação de conformidade ao
brasileira, mas que na revisão literária se
preceituado em norma ou boas práticas, que
mostraram relevantes para a produção do agregado interfere negativamente na sustentabilidade,
reciclado ou dizem respeito a boas práticas atribuindo-se o valor menos um (-1);
implantadas em usinas.
(e) atende parcialmente: quando falta parte,
O constructo Operação buscou os pontos críticos
elemento ou constituintes que devem existir e são
da dinâmica produtiva do agregado reciclado. Para preceituados em norma ou boas práticas.
tanto, investigou-se a área de acesso da matéria- Entretanto, existe condição favorável à
prima, suas condições de aceitação e rejeição,
conformidade, apesar do parcial desacordo,
áreas de movimentação, área para triagem e os
atribuindo-se o valor zero (0); e
equipamentos necessários. Todas as variáveis
estavam relacionadas a equipamentos, sequência (f) atende: qualidade ou estado do que é
produtiva, cuidados e restrições. A Figura 4 conforme, com correspondência, identidade à
apresenta as variáveis, e o texto em grifo refere-se forma, preceituado em normas e boas práticas,
a constatações não citadas em norma. caso em que se atribuiu valor um (1).
Com relação ao constructo Matéria-prima, Os critérios avaliados perfazem um total de 28
Produto e Resíduos, o objetivo foi constatar as itens, e a pontuação, por usina, pode oscilar entre -
interferências produtivas de cada um dos itens. 14 pontos (não conformidade em todos os itens) a
Também foram evidenciados os indicadores do +14 pontos (conformidade plena).

Figura 3 - Detalhamento da construção dos instrumentos de coleta – projeto e implantação das usinas

Constructos e Variáveis Fontes de


Evidências

Fatores da Escolha
Acesso Externo
Localização Hidrologia Local Projetos gráficos
Projeto e Implantação

Vegetação (arquitetônico,
Licença Municipal elétrico,
Licença Ambiental localização, mapas
eletrônicos),
Aceitação Popular questionários,
Isolamento entrevistas,
Sinalização registros
Terreno Acesso Interno fotográficos.
Emissão de Pó
Recepção (local)
Triagem (local)

104 Melo, A. V. S.; Ferreira, E. de A. M.; Costa, D. B.


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Figura 4 - Detalhamento da construção dos instrumentos de coleta – operação das usinas

Constructos e Variáveis Fontes de


Evidências

Vistoria
Admissão Medição
CTR

Pré-beneficiamento Mecânico

Manual
Triagem Mecânico
Magnética
observação
Tipo visual,
Operação

Britador
Produção questionários,
Peneiras entrevistas,
registros
Pá carregadeira
fotográficos.
Máquina e Caminhão
equipamento poliguindaste
Mesa vibratória
Betoneira

Treinamento Operação
Emergência

Controle de qualidade

Figura 5 - Detalhamento da construção dos instrumentos de coleta – matéria-prima, produto, resíduos

Constructos e Variáveis Fontes de


Evidências

Pavimentação
Argamassa
Matéria-prima
Matéria-prima, produto, resíduos

Concreto
Controle de qualidade
observação
Terminologia visual,
Controle de questionários,
Agregado reciclado
qualidade entrevistas,
registros
A céu aberto fotográficos,
Armazenagem Protegida laudos de
Controle de qualidade ensaios.

Classe B
Resíduos gerados Classe C
Controle de qualidade

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Brasil
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Avaliação das usinas de aquisições. Para a iniciativa privada, os critérios de


escolha foram o custo das terras, a disponibilidade
reciclagem para a produção de para a aquisição, a proximidade de centros urbanos
agregados reciclados e as áreas de expansão das cidades.

A avaliação das usinas foi organizada conforme A existência de acessos externos, abertos,
diretrizes da NBR 15114 (ABNT, 2004b) para as adequados ao tráfego intenso de veículos não foi
áreas de reciclagem de RCC – Classe A e da NBR citada como fator desfavorável à escolha da
15116 (ABNT, 2004c), que estabelece requisitos localização. Apesar disso, em três das usinas (B, C
para o emprego de agregados reciclados. e D) esse fator foi apontado como interferência
negativa à produção, pois contribui na deterioração
das vias e nas emissões de pó e ruído. Como
Projeto e implantação estratégia de boa convivência, as usinas “B” e “C”
No Quadro 2 tem-se o resumo da avaliação das realizam serviços de pavimentação, com
diretrizes relativas à implantação das usinas de equipamentos e agregado reciclado das unidades.
reciclagem de RCC estudadas quanto aos aspectos A restrição aos horários de operação nessas usinas
da localização e do terreno. são outro dispositivo de minimização ao
incômodo.
Das quatro usinas avaliadas, duas são públicas (A
e C) e duas são privadas (B e D). Os terrenos Na usina “D” as vias de acesso externas
destinados às usinas públicas privilegiaram a apresentam adequação ao deslocamento dos
ocupação de terras próprias. O objetivo foi veículos de carga. No que diz respeito aos acessos
respeitar as legislações municipais que determinam internos, somente a usina “A” apresentou
o uso e a retomada de terras, evitando novas conformidade.

Quadro 2 - Avaliação das diretrizes - Implantação das usinas


Item da Usina A Usina B Usina C Usina D
Referências Diretrizes
NBR 15114 * * *
Normativas Observadas
(ABNT, 2004) Conceito VA Conceito VA Conceito VA Conceito VA*
Fatores da Não Não Não Atende
- -1 -1 -1 0
Escolha atende atende atende parcial
5.2.1c Não Não Não
Acesso Externo -1 -1 -1 Atende 1
5.4 atende atende atende
Hidrologia 5.2.1.a Não Não
-1 Atende 1 -1 Atende 1
Local

Local 5.6 atende atende


Não Não Não
Vegetação 5.2.1.b -1 -1 -1 Atende 1
atende atende atende
Licença Não
5.2.c Atende 1 Atende 1 -1 Atende 1
Municipal atende
Licença
Projeto e Implantação

5.2.c Atende 1 Atende 1 Atende 1 Atende 1


Ambiental
5.2.a Não Não Não
Cerca Vegetal -1 -1 -1 Atende 1
5.3.d atende atende atende
Aceitação 5.3.a Não Atende Atende
-1 0 0 Atende 1
Popular 5.3.d atende parcial parcial
5.3.a
Isolamento 5.3.b Atende 1 Atende 1 Atende 1 Atende 1
5.3.d
Terreno

Sinalização 5.3.c Atende 1 Atende 1 Atende 1 Atende 1


5.2.1c Não Não Não
Acesso Interno Atende 1 -1 -1 -1
5.4 atende atende atende
5.3.d Não Não Não
Emissão de Pó -1 -1 -1 Atende 1
7.1.3 atende atende atende
Recepção Não Não Não Não
6.3 -1 -1 -1 -1
(local) atende atende atende atende
Não Não Não Não
Triagem (local) 6.3 -1 -1 -1 -1
atende atende atende atende
Total Parcial -4 -3 -7 7
% de Conformidade 35,70% 39,27% 25,00% 75,00%
Nota: *VA – valor atribuído conforme descrito na metodologia.

106 Melo, A. V. S.; Ferreira, E. de A. M.; Costa, D. B.


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No terreno da usina “A” o índice de contaminação A admissão e a triagem das usinas “A” e “B”
do subsolo foi apontado como dificuldade ao foram declaradas, pelo entrevistado, como em
crescimento da cerca vegetal. Nas usinas “B” e conformidade com a norma, isto em virtude da
“C”, a insuficiência decorre de pouco espaço físico infrequência do recebimento de matéria-prima.
e do plantio de espécie não natural, propícia à
Nas usinas “C” e “D” é exigida a entrega do
produção de madeira. Na usina “D”, a diversidade
documento de Controle de Transporte de Resíduo
de espécies e o porte da vegetação nativa foram (CTR). Quando não expedido pelo gerador, é
apontados como barreira eficiente ao ruído e à emitido no escritório das usinas. Durante as visitas
poeira.
constatou-se divergência entre a guia CTR e a
A presença de corpos hídricos foi constatada nas carga entregue, indicando a ausência de
usinas (A, C e D). Somente na usina “D” a conformidade ao RCC entregue.
vegetação nativa foi mantida como dispositivo de
As usinas visitadas não utilizam pré-
preservação.
beneficiamento, ausência que justifica a
Nas usinas avaliadas, a implantação do núcleo de ineficiência e lentidão no processo de triagem, pois
britagem apresenta sistema de pulverização de essa etapa concentra o maior número de operários.
água para a redução das emissões de pó. Na usina Nas usinas “B”, “C” e “D” existem postos de
“B” também se constatou o dispositivo na entrada triagem manual também após a britagem, onde
dos veículos e na armazenagem do RCC. Na usina somente deveria existir a triagem magnética. Nesse
“D” os aspersores estão distribuídos ao longo da aspecto, a remoção dos aços do RCC foi avaliada
via de acesso interno, não se evidenciando como satisfatória em todas as usinas.
molhagem na armazenagem do RCC nem dos Quanto aos equipamentos das usinas, a pá
agregados reciclados.
carregadeira é a que provoca o maior número de
Além da emissão de poeira e de ruído, a imagem interrupções durante a triagem, britagem e
negativa das usinas está associada ao histórico do movimentação de cargas. A quantidade de pás é
terreno. Na usina “A” a extração clandestina de insuficiente para as atividades a realizar. Assim, as
areia e a posterior disposição de resíduos urbanos movimentações de insumos e produtos ficam
que atraíram catadores fizeram desse terreno um rotineiramente comprometidas, e a justificativa
ambiente de constante expropriação. Essa usina para tanto recai sobre o custo de aquisição do
possui o maior número de vigias entre as empresas equipamento.
visitadas. O britador das usinas foi escolhido em função da
Nas usinas avaliadas, o local para recepção e dureza do RCC a reduzir. As usinas “A”, “B” e
triagem dos veículos com carga interrompe os “C” possuem britador de martelo recomendado
trânsitos externo e interno. Nesse aspecto, o fluxo para RCC de menor dureza, já na usina “D” o
previsto em projeto e praticado nas usinas não britador de mandíbula também reduz pedra e
permite a constatação da carga entregue. Não foi concreto.
evidenciada a existência de armazenagem da
As usinas “A” e “D” apresentaram não
matéria-prima por tipologia construtiva.
conformidade com relação à presença de
Todas as usinas visitadas obtiveram as licenças equipamentos destinados à confecção de pré-
municipais, ambientais, de implantação e fabricados de concreto reciclado. Essa coexistência
operação. Apesar disso, constatou-se não interfere na finalidade das usinas.
conformidade para adequação do local, hidrologia,
Ainda conforme a NBR 15114 (ABNT, 2004b), os
área para vegetação e vias de acesso.
operários devem ser treinados. Na usina “A” os
cursos foram sobre primeiros socorros e combate a
Operação incêndio. De modo complementar são dadas
O Quadro 3 contém a avaliação das diretrizes palestras sobre redução da obesidade, noções de
relativas à operação das usinas de reciclagem de higiene pessoal e uso dos equipamentos de
RCC quanto aos aspectos de recebimento, proteção individual.
armazenagem, triagem, redução, máquinas e Na usina “B” todos os funcionários receberam
equipamentos. treinamento para combate a incêndio e primeiros
Nas usinas avaliadas, a vistoria do RCC é visual e socorros à época da implantação. Na usina “C” os
se dá pela parte superior do veículo, prática que operários foram treinados somente para primeiros
não garante a natureza mineral do RCC. Como socorros, fato reconhecido como desfavorável às
efeito, constata-se a redução das áreas de atividades. Na usina “D” somente os trabalhadores
armazenagem e movimentação dos equipamentos. estáveis tinham treinamento para primeiros
Na etapa da vistoria não existe rejeição de RCC. socorros e combate a incêndio.

Fatores críticos para a produção de agregado reciclado em usinas de reciclagem de RCC da região nordeste do 107
Brasil
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 13, n. 3, p. 99-115, jul./set. 2013.

Quanto à operação de redução do RCC, na usina Matéria-prima, produto e resíduos


“C” ocorre durante 3 horas por dia, o equivalente a
37,5% da capacidade efetiva. As outras 5 horas se No Quadro 4 tem-se a avaliação de conformidade
destinam a triagem, separação e empilhamento de da matéria-prima, produtos reciclados e resíduos
RCC. Essa rotina permite produção contínua do gerados.
britador e decorre da quantidade de pás As práticas de canteiro de obra interferem nas
carregadeiras. Na usina “D” a britagem usinas quando misturam substâncias inertes e
frequentemente é superior a 8 horas/dia. Essa reativas, perigosas e tóxicas. Nas usinas “A”, “C”
irregularidade nas usinas “C” e “D” conduziu à e “D” se evidenciou a admissão de RCC
não conformidade, sobretudo na gestão dos independentemente do tipo de obra e do teor de
resíduos. contaminação, justificando-se essa prática como
favorável à redução da disposição do RCC no meio
urbano.

Quadro 3 - Avaliação das diretrizes – operação das usinas


Item da Usina A Usina B Usina C Usina D
NBR
Referências Diretrizes
15114
Normativas Observadas Conceito VA* Conceito VA* Conceito VA* Conceito VA*
(ABNT,
2004)
Não Atende Não Não
Vistoria - -1 0 -1 -1
atende parcial atende atende
Não Não
Medição - Atende 1 Atende 1 -1 -1
Admissão atende atende
3.1.1
Não Não Não Não
CTR 7.1.1 -1 -1 -1 -1
atende atende atende atende
Anexo A
Pré- Não Não Não Não
Mecânico - -1 -1 -1 -1
beneficiamento atende atende atende atende
Atende Atende
Manual - Atende 1 Atende 1 0 0
parcial parcial
Triagem Não Não Não Não
Mecânico - -1 -1 -1 -1
atende atende atende atende
Magnética - Atende 1 Atende 1 Atende 1 Atende 1
Controle de
Não Não Não Não
qualidade – antes Tipo 7.4 -1 -1 -1 -1
Operação

atende atende atende atende


do beneficiamento
Tipo - Atende 1 Atende 1 Atende 1 Atende 1
Britador Produção - Atende 1 Atende 1 Atende 1 Atende 1
Peneiras - Atende 1 Atende 1 Atende 1 Atende 1
Não Não Não Não
Pá carregad. - -1 -1 -1 -1
atende atende atende atende
Não
Caminhão poli - -1 Atende 1 Atende 1 Atende 1
Máquina e equipa atende
mento Não
Mesa vibrat. - -1 Atende 1 Atende 1 Atende 1
atende
Não
Betoneira - -1 Atende 1 Atende 1 Atende 1
atende
Operação 7.2.1 Atende 1 Atende 1 Atende 1 Atende 1
Treinamento 7.2.2
Emergência Atende 1 Atende 1 Atende 1 Atende 1
7.3
Controle de
Não Não Não Não
qualidade - após Tipo 7.4.1 -1 -1 -1 -1
atende atende atende atende
beneficiamento
Total Parcial -2 5 -1 -1
% de Conformidade 44,48% 63,94% 47,26% 47,26%

Nota: *VA – valor conforme descrito na metodologia.

108 Melo, A. V. S.; Ferreira, E. de A. M.; Costa, D. B.


Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 13, n. 3, p. 99-115, jul./set. 2013.

Quadro 4 - Avaliação das diretrizes – Matéria-prima, produto e resíduos


Item da Usina A Usina B Usina C Usina D
NBR
Referências Diretrizes
15114 Conceit
Normativas Observadas Conceito VA* Conceito VA* VA* Conceito VA*
(ABNT, o
2004)
Pavimentação Atende 1 Atende 1 Atende 1 Atende 1
1
Argamassa 3.3 Atende 1 Atende 1 Atende 1 Atende 1
Matéria- 4
Prima 5.1
7.4
Concreto Atende 1 Atende 1 Atende 1 Atende 1
Anexo A

Controle de Não Não Não Não


Tipo - -1 -1 -1 -1
qualidade atende atende atende atende
6■
7■
Matéria-Prima, Produto e Resíduos

Agregado Anexo Não Não Não Não


Terminologia -1 -1 -1 -1
reciclado A■ atende atende atende atende
Anexo
B■
8■
Anexo
Controle de Não Não Não Não
Tipo A■ -1 -1 -1 -1
qualidade atende atende atende atende
Anexo
B■
Não Não Não Não
Protegida - -1 -1 -1 -1
Armazenage atende atende atende atende
m
A céu aberto - Atende 1 Atende 1 Atende 1 Atende 1
Controle de Não Não Não Não
Tipo - -1 -1 -1 -1
qualidade atende atende atende atende

5.7.2 Não Não


C anisU B anisU Classe B A anisU Atende a1
d metIAtende 1
sezirteatende
-1 -1
savitamratende
5.7.3 riD
41151 RBN oN saicnêrefeR
*AV otiecnoC *AResíduos
V otiecnoC *AV otiecnoC sadavresbO
6.3 )4002,TNBA(
gerados
1 ednetA 1 ednetA Classe C1
7.1.2
ednetA Atende 1 1 Atende oã1çatnemNão
ivaP -1
Não
-1
7.4.1 3. 3 atende atende
1 ednetA 1 ednetA 1 ednetA assamagrA
4 amirP airétaM
Controle de Não Não
Tipo - Atende 11.5 Atende 1 -1 -1
1 ednetA 1qualidadeednetA 1 ednetA 4. 7 otercnatende
oC atende
Total Parcial A 2oxenA 2 -4 -4
ed elortnoC
1- edneta oãN 1- edn% deoConformidade
eta ãN 1- edneta oãN 58,38% - 58,38% opiT 33,36% 33,36%
edadilauq
■6
Nota: *VA – valor atribuído conforme descito na metodologia. item da NBR 15116 (ABNT, 2004c).
■7
soudíseR e otudorP ,amirP airétaM

odagergA
1- edneta oãN 1- edneta oãN 1- edneta oãN aigolonimreT
oxenA ■A odalciceR
Quanto à terminologia do agregado reciclado, cada ■B oxenA Fatores críticos para a
usina possui designação própria, desfavorecendo e ■8

1- edneta oãNdificultando
1- edneota oã
reconhecimento
N 1- edne do
ta oãproduto
N ■A oxenA produção de
opiT agregados
ed elortnoC
edadilauq
reciclado. O Quadro 5 traz a identificação utilizada ■B oxenA reciclados
1- edneta oãN
por cada
1-
unidade, seu emprego
edneta oãN 1-
e destinação.
edneta oãN - adigetorP
A partir da avaliação dasmequatro ganezamusinas
rA de
Na rotina deedadmissão do1 RCC, expedição dos reciclagem da região Nordeste do Brasil, foi
1 ednetA 1 netA ednetA - o tre b a u é c A
produtos e resíduos triados, constatou-se inexistir possível identificar fatores críticos
ed elque
ortninfluenciam
oC
1- edneta oãNpesagem,
1- prática
e que
dneta oãN não1- permite
ednecontrole
ta oãN do - opiT
positiva ou negativamente para edadailaprodução
uq de
agregado reciclado em relação aos resíduos 2.7agregados
.5 reciclados.
1- edneta oãN 1 ednetA 1 ednetA B essalC
expedidos. 3. 7. 5
soudíseR
3. 6 sodareg
1- edneta oãN 1 ednetA 1 ednetA 2. 1. 7 C essalC
1. 4. 7
ed elortnoC
1- edneta oãN 1 ednetA 1 ednetA - opiT
edadilauq
4- 2 2 laicraP latoT
% 6 3, 3 3 Fatores
%8críticos
3, 8 5 para a produção
%8de
3,8agregado
5 reciclado
edadimem usinas
rofn oC ed reciclagem de RCC da região nordeste do 109
de %
aigolodotem an otircsed emrofnoc odíubirta rolaV Brasil
– AV *
)c4002 ,TNBA( 61151 RBN ad metI ■
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 13, n. 3, p. 99-115, jul./set. 2013.

Quadro 5 - Terminologia utilizada na entrega do agregado reciclado

Abertura Terminologia – Aplicação (In Natura e Subprodutos)


da Usina“A” Usina “B” Usina “C” Usina “D”
Peneira
1 2 3
(mm) ARM ARC ARM ARC ARM ARP ARM

Cobertura, Guia para meio-fio, Piso intertravado

Argamassa, Concreto Reciclado, Pré-moldado,


Agregad
o
>25,4 Brita 02 Rachão Rachão
Reciclad

Pavimentação,Tijolo ecológico
o
Pedra 1
9,5< Bica Brita
Reciclad Brita 01 Pedra 1 Brita 19

Pavimentação

Pavimentação
Ø<25,4 Corrida 25
a

Pedrisco
4,8< Ø Brita
Reciclad Brita 00 Pedrisco Cascalhinho
<9,5 12,5 Solo
o
Brita

Areia
Pós de Bica Bica
<4,8 Reciclad Pó de Brita
Pedra Corrida Fixa
a

Nota: Legenda:
¹Agregado Reciclado misto com menos de 90% de RCC de concreto;
²Agregado Reciclado de Concreto com mais de 90% de RCC de concreto;
³Agregado Reciclado de Pedra de pavimentação.

Projeto e implantação das usinas O terreno da usina deve permitir atender às


necessidades sazonais da construção civil.
As usinas devem ter por objetivo a oferta de
produtos reciclados que satisfaçam requisitos O terreno das usinas deve propiciar a reserva de
técnicos de empregabilidade e sustentabilidade área de vegetação nativa, favorecendo a redução
(WASTE..., 2005). A concepção do projeto e a das emissões de pó e ruído (MELO, 2011). A
implantação das usinas avaliadas apresentam presença de corpos hídricos não elimina a
fragilidades na admissão, nas áreas de circulação possibilidade de contaminação do subsolo por
de veículos, nas áreas de destinação do RCC e do lixiviação do RCC armazenado.
agregado reciclado. Os projetos analisados e os croquis construídos
A implantação de usinas em terrenos exíguos não sugerem que o fluxo de equipamentos e veículos
satisfaz as necessidades da recepção, inspeção e das usinas está comprometido pela armazenagem.
triagem, desfavorecendo a armazenagem por O projeto deve ter um arranjo físico que impeça o
tipologia. Em três das instalações avaliadas os fluxo cruzado entre veículo e equipamentos
terrenos ditam o ritmo acelerado da redução e (MUTHER, 1978; MOREIRA, 2001).
interferem negativamente na produção do A localização e o terreno das usinas interferem
agregado reciclado. negativamente na operação e no controle da
A localização e o terreno das usinas se matéria-prima e no produto final. O Quadro 6
apresentaram como essenciais para as iniciativas resume as interferências evidenciadas.
pública e privada. Na iniciativa pública a não As diretrizes adotadas pela NBR 15114 (ABNT,
aquisição de terras se sobrepõe a requisitos 2004b) conduzem à contaminação do RCC fora e
técnicos, que afetam a produção diária e resultam dentro das usinas, na medida em que estabelecem
em imagem negativa do empreendimento e do que os solos são RCC beneficiável nessas áreas.
produto, indicando redução da perspectiva Outra contribuição negativa da norma está em
produtiva. Nesse aspecto a iniciativa privada visa à desobrigar o uso de equipamentos que melhoram
produção como parâmetro determinante, os requisitos técnicos do agregado reciclado.
evidenciando-se o propósito de permanência da
usina no local, mesmo com expansão das cidades.

110 Melo, A. V. S.; Ferreira, E. de A. M.; Costa, D. B.


Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 13, n. 3, p. 99-115, jul./set. 2013.

Operação das usinas contribuem para aplicações pouco nobres do


agregado reciclado.
O solo tratado e separado por tipo mineral
apresenta condição favorável ao reemprego em A triagem manual das usinas avaliadas é ineficaz
obras de aterro, pavimentação, paisagismo ou na redução das contaminações. A triagem
aterros sanitários, podendo, inclusive, adequar-se magnética feita por ímã apresenta adequação, mas
como matéria-prima à indústria dos materiais de se observou que parte das armaduras presentes no
construção, conforme Gilpin Junior, Menzie e RCC é removida somente na triagem manual.
Hyun (2004). Por outro lado, atende ao princípio Quanto ao núcleo de britagem das usinas, a
do reúso, como discutido por Hendriks (2004) e escolha do equipamento decorre da dureza do
Car et al. (2008). RCC, sendo possível afirmar ter havido
O controle dos insumos e dos produtos das usinas desconsideração quanto ao tipo de agregado
em volume impede a formulação de indicadores reciclado a produzir, sua granulometria e a
produtivos, pois existe diferença de massa variação da dureza do RCC. Essa despreocupação
específica entre eles. Desse modo não se conhece a indica que o projeto das usinas avaliadas está
taxa de aproveitamento do RCC em relação ao dissociado das perspectivas de crescimento das
produto reciclado, tampouco qual o teor de cidades e das demolições de estruturas de concreto.
contaminação do RCC. Assim, as usinas avaliadas O Quadro 7 resume os fatores evidenciados na
operação.

Quadro 6 - Fatores críticos para a produção do agregado reciclado – projeto e implantação


Acesso inadequado, ausência de áreas para
Área disponibilizada para
vegetação com copas altas, médias e baixas,
implantação
hidrologia não preservada.
Emissões de ruído, pó e vibração, acréscimo na
Localização - Impactos na vizinhança
movimentação de veículos.
Projeto
Implantação Áreas exíguas de recepção, triagem, vistoria, fluxo
cruzado de veículos, vias estreitas para
movimentação dos veículos, sinalização e
Impactos na produção
isolamento das vias inadequado, procedimentos
operacionais dissociados que não garantem
requisitos técnicos aos produtos reciclados.

Quadro 7 - Fatores críticos para a produção do agregado reciclado – operação


Quantidade inadequada de pá carregadeira para a produção, fluxo intenso em área
Máquinas e
exígua, britador único escolhido pela dureza do RCC, sem evidência de pré-
equipamentos
beneficiamento e equipamentos de lavagem.
Admissão de RCC independente do teor de contaminação, britagem descontínua do
Procedimentos
RCC, limitação de atividades que impactam na vizinhança (poeira e ruído), acentuada
operacionais
geração de resíduos, triagem manual lenta e pouco eficaz, ausência de indicadores de
adotados
produção em massa.
Treinamento e Diversidade de grau de instrução, rotatividade nos postos de menor qualificação,
mão de obra treinamento para combate a incêndio e primeiros socorros.

Nos países onde a produção de agregado reciclado Matéria-prima e resíduos


se destina à aplicação dentro do ciclo de vida do
material, qualquer etapa que interfira na A matéria-prima das usinas avaliadas inviabiliza a
composição mineral do RCC é avaliada produção de agregados reciclados com requisitos
(WASTE..., 2005). Os procedimentos operacionais técnicos dentro do ciclo de vida do material. Essa
permitem rejeito do RCC antes do acesso para inadequação prejudica a inserção do agregado
armazenagem (por tipologia) e antes da redução. reciclado no mercado consumidor.
Os procedimentos operacionais fornecem às usinas A ausência de terminologia normalizada para o
parâmetros produtivos constatados por ensaios do agregado reciclado gera desconfiança na linha do
produto reciclado (WASTE..., 2005). produto. Por outro lado, não fixa os índices físicos
do agregado reciclado como material de

Fatores críticos para a produção de agregado reciclado em usinas de reciclagem de RCC da região nordeste do 111
Brasil
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 13, n. 3, p. 99-115, jul./set. 2013.

construção, sugerindo-se, assim, que se estudem a outras usinas de reciclagem brasileiras, desde que
granulometria, a massa específica e a absorção de observadas suas especificidades e contexto de
água como requisitos técnicos regionais. implantação. As proposições referem-se a:
Por certo, o fator crítico do agregado reciclado (a) projeto para implantação das usinas;
ainda será a variabilidade mineral e o (b) procedimentos operacionais das usinas;
desconhecimento sobre sua reatividade quando
empregado. No entanto, a avaliação das usinas (c) matéria-prima; e
indicou existir tendência local para a composição (d) produção dos agregados reciclados.
mineral. Esse tipo de interferência sugere que são
reduzidas as chances de produção de agregado O projeto para implantação da usina de reciclagem
reciclado com mineralogia homogênea em regiões de RCC que tenha por objetivo atender ao mercado
distintas do país, ao contrário dos municípios consumidor com uma linha de agregado reciclado
próximos, onde existe possibilidade de de menor variabilidade mineral e empregabilidade
comercialização de linha de produtos semelhantes. deve ter como elementos de concepção:
Quanto às diretrizes de armazenagem da matéria- (a) área para recepção de RCC que permita
prima e do produto em usinas, sem distinção por movimentação, derrubada e carregamento de modo
tipologia, é possível afirmar que há incerteza por a existir constatação do teor de contaminação
parte do consumidor quanto ao desempenho do mineral recebido;
produto reciclado. (b) área de estocagem de RCC por tipologia
O resíduo gerado pelas usinas avaliadas indica construtiva;
GRCC insatisfatória. Quando a quantidade é (c) área de estocagem por linha de produto
suficiente para comercialização, sugere que as reciclado separadamente;
usinas respondem socialmente por uma atividade
diferente da proposta em norma. Quando os (d) previsibilidade das vias de acesso para o fluxo
resíduos diminuem o ritmo da triagem, interferem de veículos e equipamentos em faixas distintas;
na produção efetiva do britador. O Quadro 8 (e) previsibilidade de cerca vegetal nativa com
resume os fatores críticos evidenciados na matéria- alturas diferenciadas como dispositivo de redução
prima, resíduos e produto. das emissões de poeira e ruído; e
(f) implantação em áreas adequadas à instalação
Proposições à produção do agregado industrial com necessidades semelhantes à
reciclado extração mineral (dimensões, relevo, acessos,
ausência de corpos hídricos). Quanto à iniciativa
Com base no estudo nas quatro usinas de
pública, cabe considerar quais requisitos técnicos
reciclagem em operação da região Nordeste do
justificam a aquisição de terras adequadas.
Brasil até o período de 2010, foi possível
estabelecer proposições para a produção do
agregado reciclado, que podem ser adotadas por

Quadro 8 - Fatores críticos para a produção do agregado reciclado – matéria-prima, resíduos e produto
Admissão sem segregação satisfatória, constatação visual do RCC pela superfície do
Matéria- veículo, admissão de RCC diferente da classe A, admissão de material de escavação e
prima movimentação de solo, divergência entre a guia de controle de transporte e o RCC do
veículo, rotina de admissão de RCC por volume sem controle em massa.
Terminologia diferente por usina, ausência de padrão granulométrico, significativo teor de
contaminação, composição mineral da linha de produto com tendência regional, linha de
Produto
produto destinada à pavimentação, ausência de controle de qualidade do produto final por
amostra representativa, rotina de expedição do RCC por volume e não por massa.
Comercialização dos resíduos da classe B, rotina de expedição do resíduo por volume,
presença de resíduos domésticos urbanos, significativa presença de resíduos em relação ao
Resíduos
volume de RCC, práticas intencionais para ocultar RCC diferente da classe A através da
disposição conveniente do RCC no veículo de transporte.

112 Melo, A. V. S.; Ferreira, E. de A. M.; Costa, D. B.


Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 13, n. 3, p. 99-115, jul./set. 2013.

Com relação aos procedimentos operacionais das materiais de escavação e os resíduos das obras de
usinas de reciclagem de RCC avaliadas, é possível pavimentação, a exceção das pedras naturais.
afirmar que o agregado reciclado tenha menor
heterogeneidade se: Conclusão
(a) todo RCC não triado for rejeitado na recepção;
A principal contribuição deste trabalho foi
(b) a usina adotar procedimento de notificação ao identificar os fatores críticos e proposições de
gerador todas as vezes que houver presença de melhorias para produção do agregado reciclado nas
contaminações excessivas; usinas de reciclagem avaliadas. Os fatores críticos
(c) a usina adotar estratégias que reduzam a e as proposições referem-se a:
interrupção das atividades realizadas por máquinas (a) projeto para implantação das usinas;
e equipamentos, ou dimensionar a aquisição de
(b) procedimentos operacionais das usinas;
maquinário à produção;
(c) matéria-prima; e
(d) a usina adotar dispositivos de controle de
qualidade para as etapas produtivas, incluindo-se o (d) produção dos agregados reciclados.
descarte do RCC como favorável à produção. As proposições de melhorias identificadas podem
Como controle da variabilidade mineral, deve servir como base para a adequação do conjunto das
haver armazenagem do produto reciclado por normas NBR 15112 (ABNT, 2004a) a 15116
tipologia; e (ABNT, 2004c), com o objetivo de fornecer ao
(e) a usina adotar um programa de treinamento de produto reciclado maior empregabilidade na
pessoal específico para a produção do agregado indústria de materiais de construção. Ainda foi
reciclado. possível constatar a ausência de normas técnicas
publicadas para instalação e operação de usinas de
No que diz respeito à matéria-prima, a rejeição dos
reciclagem de RCC móveis. Cabe destacar que as
solos nas usinas contribuirá significativamente na
proposições de melhorias podem ser adotadas por
eliminação de contaminações e finos. O controle
outras usinas de reciclagem brasileiras, desde que
no acesso dos insumos em massa determinará o
observadas suas especificidades e contexto de
registro e acompanhamento da linha dos produtos
implantação.
a comercializar. O controle do produto e dos
resíduos em massa deve indicar os pontos críticos A partir das análises também é possível afirmar
e as interferências negativas a corrigir. que a NBR 15114 (ABNT, 2004b) não contempla
requisitos de controle e qualidade da produção do
Para a produção de agregado reciclado que atenda
agregado reciclado que conduzam à redução da
a requisitos técnicos de substituição aos agregados
variabilidade do RCC. Dessa forma, favorece a
naturais, é importante que as diretrizes brasileiras,
produção de agregado reciclado destinado à
normas regulamentadoras e legislações apontem
pavimentação, ratificando a limitada atenção aos
para:
requisitos técnicos.
(a) a inibição da geração do RCC como
Outra contribuição deste trabalho resultou na
dispositivo que auxilie na segregação. Outros
avaliação das usinas de reciclagem de RCC com
dispositivos podem ser utilizados desde que se
foco na norma brasileira e nas boas práticas para a
atribuam ao gerador transgressor todas as
produção do agregado reciclado. As quatro usinas
responsabilidades econômicas e legais de suas
de reciclagem de RCC da região Nordeste
práticas;
avaliadas não apresentaram conformidade a todas
(b) a publicação de dispositivos que indiquem as condições requeridas pela NBR 15114 (ABNT,
requisitos técnicos de aceitabilidade para o 2004b). Nos requisitos de implantação e projeto, a
agregado reciclado; conformidade oscila entre 25% e 75%, atribuindo-
(c) a publicação de dispositivos complementares à se a menor conformidade ao tamanho da área
NBR 15114 (ABNT, 2004b) que regulem critérios utilizada e à proximidade com zona residencial.
de operação das usinas visando respeitar requisitos Nos requisitos de operação, as usinas avaliadas
técnicos do agregado reciclado; apresentaram variação entre 44,48% e 63,94%.
(d) a publicação de dispositivos que regulem as Nesse caso a menor conformidade decorre da
condições de instalação e operação de usinas com presença de equipamentos para fabricação de
plantas móveis em canteiros de obra com artefatos de concreto. Com relação às usinas “B,
demolição; e “C” e “D”, a não conformidade se deve às etapas
de admissão e triagem, uma vez que suas
(e) classificação do RCC, de modo a não destinar atividades se subordinam às áreas utilizadas.
às usinas de reciclagem de RCC os solos, os

Fatores críticos para a produção de agregado reciclado em usinas de reciclagem de RCC da região nordeste do 113
Brasil
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 13, n. 3, p. 99-115, jul./set. 2013.

Em relação à matéria-prima, ao produto e aos BREWER, G.; MOONEY, J. A Best Policy For
resíduos gerados, a conformidade foi de 58,38%, Recycling and Reuse in Building. In:
confirmando que as quatro usinas avaliadas, na INSTITUTION OF CIVIL ENGINEERS-
época desta pesquisa, produziam agregados ENGINEERING SUSTAINABILITY, 161.,
reciclados que não atendiam aos requisitos Newcastle, 2008. Proceedings… Newcastle, 2008.
técnicos.
CAR, M. et al. Recycling of Construction &
A presença de RCC de classe diferente que “A” Demolition Waste in Malta: strategy for shart-
nas usinas avaliadas indica que esses term implementation. Malta: Ministry for rural
empreendimentos são percebidos como destinação affairs and the environment of Republic of Malta,
dos RCC. Os requisitos técnicos destinados à 2008.
produção de agregado reciclado, visando à CUNHA, N. A. Resíduos da Construção Civil
empregabilidade e à pureza mineral não foram
Análise de Usinas de Reciclagem. 176 f.
constatados como objetivo das quatro usinas
Campinas, 2007. Dissertação (Mestrado em
avaliadas no Nordeste.
Engenharia Civil) – Escola de Engenharia,
Outros estudos devem ser desenvolvidos visando à Universidade Estadual de Campinas, Campinas,
empregabilidade e à pureza mineral do agregado 2007.
reciclado.
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Adriana Virgínia Santana Melo


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Brasil | CEP 49055-260 | Tel.: (79) 3711-3100 Ramal 3219 | E-mail: adriana.melo@ifs.edu.br

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