Você está na página 1de 1

Samuel Beckett é um dos principais artistas XX.

Profícuo, intenso, o irlandês


escreveu peças, romances, poemas, ensaios, trabalhou para o rádio e a televisão,
cinema, ganhou o prêmio nobel. A sua obra teatral é uma das mais instigantes já
produzidas. Talvez nenhum outro dramaturgo tenha pensado tanto os limites do discurso,
da palavra, da linguagem, da imagem, da mímesis quanto Beckett. Suas peças trabalham
sempre no limite da pertubação, suas alegorias são agudas, cirúrgicas mesmo na análise
do humano. Backett ultrapassa o pessimismo, o niilismo, chega num espaço em que a
palavra tem que realmente lidar, contornar, apalpar o vazio, o nada. Essa é sua força
artística. Beckett teatralizou o vazio existencial, humano, espiritual que se meteu o século
XX.
A sua influência chegou até a um dos principais escritores norte-americanos da
atualidade, Paul Auster, que escreveu a peça “Hide and Seek” em homenagem a “Dias
Felizes”, uma das mais famosas peças de Beckett. Auster parte do pressuposto
beckttiano da imobilidade, da prisão a um sistema mais forte e instransponível para criar
um diálogo entre um homem e uma mulher presos numa caixa. São bonecos-pessoas
que não se veem, não se tocam, porém conversam ininterruptamente sobre assuntos
banais e/ou absurdos. (Outro pronto em que Paul Auster “homenageou” Beckett.
A peça “Hide and Seek”, foi adaptada no Brasil pela companhia gaúcha
In.Co.Mo.De-Te (Inconformada Companhia de Moda, Design e Teatro), passou
recentemente por Florianópolis participando da 4ª Semana Ousada de Artes, com o nome
de “DentroFora”. A montagem gaúcha mantém-se fiel às marcações e ao texto de Auster,
mas a atuação dos atores Nelson Dinis e Liane Ventura, sob a direção de Carlos Ramiro
Fensterseifer, não consegue alcançar a força necessária para que a perturbação contida
no texto do autor americano chegue a contento.

Um dos motivos, talvez tenha sido o espaço inadequado, pois o palco do centro de
eventos da UFSC mantém o público muito longe dos atores, e essa peça pede uma
proximidade, pede uma intimidade, como aquela intimidade que temos diante dos
produtos nas prateleiras: é preciso olhá-los de perto, conhecer suas vantagens, suas
fraquezas. A distância com que a peça foi encenada do público, prejudicou essa
possibilidade.

Você também pode gostar