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Os resultados preliminares da Pesquisa sobre a Formacdo Pro- fissional constituem parte do contedido deste caderno. Esta Pesquisa expressa uma preocupagéo constante das diretorias da ABESS no que tange ao reconhecimento sistemético no proceso de implementagao curticuld sendo vivido pelas diferentes Unidades de Ensino de Si do pais. Implementagdo esta que vem gerando um solo fértil para a explicitagdo de diferentes visdes de ciéncia, de di projetos de sociedade, construindo um espago para o debate pluralista. ‘A Pesquisa representa fundamentalmente um esforgo da gestio ABESS/CEDEPSS — perfodo 1987/89 —, que estabeleceu como um dos seus pontos programéticos a avaliagéo da Formagio Profissional do Assistente Social. Acreditamos que © contetido deste caderno possa vir a contribuir jional que responda cada colocadas profissio Jinha editorial explicitada 108 que esta contribuigéo dé subsfdios as priticas no ambito profissional que se desdobrem em elementos impulsionadores do mbvimento de superacdio desse modo de organizagfio da vida social e do trabalho em sociedade”. Diretoria ABESS/CEDEPS . esto 89/91 ee een 4 Cadernos ABESS as Ener eae Pluralismo: dimensdes tedricas e politicas (Carlos Nelson Coutinho* Devo dizer ‘mente que jé estou me transformando, progres- sivamente, num snte social. Acho que vou até pedir um, diploma honorério; no minimo, jé experimento as angistias da profisséo. Vou tentar fazer uma exposicao sobre pluralismo, que nfo seja excessivamente longa, mas que levante algumas questées que me parecem fundamentais, tentando depois esclarecé-las no debate que se seguird. ‘Acho que podemos, previamente, definir duas dimensdes basicas, ‘ou principais, na abordagem do pluralismo, Poderfamos chamar a primeira de pluralismo enquanto fendmeno social e politico, com todas as implicagdes que esse fendmeno tem na teoria das Ciéncias Sociais e, muito particularmente, na teoria politica. E, em segundo lugar — 0 que, talvez, seja um assunto mais complexo —, o plura- smo na construgo do conhecimento, isto é, as implicagSes do plu- smo na questo da epistemologia. 1. Quanto ao primeiro ponto — a questo do pluralismo como fenémeno social ¢ politico —, acho que é interessante comegar dizendo que, como questéo teérica, esse.é um fenémeno do mundo moderno, Eu até diria do mundo burgués, isto é, do mundo gerado pela ascensio da classe burguesa e pela construgéo do capitalismo. Se nés observamos, por exemplo, 0 mundo grego e, particular. mente, a democracia grega, veremos que os gregos nfio conhecem 0 pluralismo. Os gregos subordinam claramente 0 privado ao piblico. * Professor titular da Escola de Serviso Social da UFRI. ‘Cadernos ABESS 5 Talvez nem conhegam a esfera do privado, e so intoleranies, em face das diferengas individuals. 7 . Todos vocés devem ter ouvido falar do proceso que condenou Sécrates @ morte, acusando-o de ter uma religido diferente da religio da cidade. Ou seja, havia em Atenas uma ordem politica ¢ social profundamente democrética, pelo menos para os cidaddos — 0 que ‘exclufa mulheres, estrangeiros e escravos —, mas nfo havia essa con- cepedo da diferenca como algo positivo, isso que chamamos, hoje, de pluralismo. No mundo moderno, essa “concepgéo do pluralismo esti muito expresso num primeir grande em valorizar o ind Isso extremamente novo em relagio ao mundo antigo. O mundo antigo valoriza essencialmente a comunidade, a polis, enquanto o mundo moderno, pelo menos as suas figuras iniciais mais expressivas — penso aqui, por exemplo, em Maquiavel, em Hobbes, em Locke —, valoriza sobretudo 0 individuo. 10. Essa valorizagdo baseia-se na idéia de que os individuos tém _ direitos naturais inalienéveis em face da comunidade, em face da ciedade. Essa é a idéia que fundamenta alismo, ou 0 jusna- turalismo que est na raiz do pensamento liberal moderno, A comuni- dade é vista como de interesses privados. Entao, o pensameni ide de que o conflito é algo positivo; valoriza a pluralidade de interesses; e valoriza ‘as diferencas. Toda a concepgéo de Locke, por exemplo, baseia-se na idéia de que ha progresso porque as pessoas sfo diferentes. Isto se manifesta , em diferengas que con- positive na ordem social e no progresso social Por outro lado, outro conceito marcante no pensamento liberal (e, particularmente, no pensamento de Locke) é a defesa da tolerdn- cia, a defesa da diferenga, a afirmagao do valor da tolerancia em face particularmente das religiGes diversas da propria religifo. Essa defesa da tolerdncia ressalta a importéncia que passa a ter o diferente na concepgio liberal do mundo. i ‘Cadernos ABESS _ € a idéia da defesa dos direitos das minorias. “no século XIX, a rentes, dos mi

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