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LETRAS EM FOCO: ESTUDOS LINGUISTICOS E LITERARIOS Rio de Janeiro 2020 Copyright © 2020 by Organizadores Letras e Versos Rua Vaz de Toledo, 536 - Engenho Novo - Rio de Janeiro-RJ CEP: 20780-150 - Tel: 21 2218-6026 Eorroes José Rodrigues de Mesquita Neto ‘Ana Paula Santos de Souza DincRaMacho - CAPA José Rodrigues de Mesquita Neto Revisko Técnica José Rodrigues de Mesquita Neto ‘Ana Paula Santos de Souza Revisko Lincuismica: Cada autor foi responsavel pela reviséo do seu artigo Este ofl edad segundo se norms do Acordo Ortogrfic da Lingua Portuguese, gent, (CATALOGAGEO NA FONTE- PCA M5821 Mesquita Neto,losé Rodrigues de 1987. Letras em foco : estudos lingustcos e lterrios / Organizadores- José Rodrigues ée Mesquita Neto; Ana Paula Santos de Souza. ~ 1 ed, ~ Rio de Janeiro: Letras © Versos, 2020. 288 p., 23m Incluibibliografia Inclui historic biogrético IsaN-978-65-26251.34-0 4. Literatura -ensaio. 2. Estudolinguistico. 3. Estudo literdrio. |. Ana Paula Santos de Souza (1992-). I, Thule. coo: 8869.4 cou: 80 Impresso no Brasil ‘Todos os direitos reservados. Proibida a reprodugao total ou parcial sem a autorizagio do autor. SUMARIO Apresentaga 06 José Rodrigues de Mesquita Neto Ana Paula Santos de Souza Representagio discursiva em reportagens de jornais de lingua espanhola: andlise da repercussao midiatica da prisdo de Lula...... 10 Francisco Lindenilson Lopes Silvana Maria de Freitas Anilise critica intertextual de charges sobre o governo Dilma Alaide Angelica de Menezes Cabral Carvalho Iza Maria Pereira José Roberto Alves Barbosa A coeréncia como marca de construgo de sentidos em memes... Francisca Damiana Formiga Pereira Ana Paula Santos de Souza ‘A construgio de identidades em postagens de blogs sobre greves da RN. Iza Maria Percira Alaide Angelica de Menezes Cabral Carvalho José Roberto Alves Barbosa Corpo e sujeito: a produgao de subjetividades femininas contemporaneas em midia social. 84 Karla Jane Eyre da Cunha Bezerra Souza Conceitos ¢ pressupostos da linguistica funcional centrada no uso ¢ da linguistica sistémico-funcional. 106 Ana Paula Santos de Souza Francisca Damiana Formiga Pereira 10 REPRESENTAGCAO DISCURSIVA EM REPORTAGENS DE JORNAIS DE LINGUA ESPANHOLA: ANALISE DA REPERCUSSAO MIDIATICA DA PRISAO DE LULA Francisco Lindenilson Lopes Silvana Maria de Freitas Consideracées iniciais A Representagio discursiva (doravante Rd) pode ser definida como uma visio de mundo veiculada por todo ¢ qualquer texto, quer scja cle oral ou escrito. Também pode ser encarada como um conjunto de imagens construidas pelo locutor ou autor de um texto sobre si mesmo, sobre um determinado tema ¢ sobre © seu alocutério ou leitor. Tal categoria de andlise foi proposta por Adam (2011), em sua Andlise Textual dos Discursos (doravante AD), um dispositive teérico-analitico que vem sendo desenvolvido em suas tltimas obras, sobretudo em seu livro Linguiitica Tesctual: introdurio & anéilse textual dos discursos. No presente trabalho, abordamos a categoria da Representacio discursiva (Rd), a partir do fato histérico da prisio do ex-presidente do Brasil, Luis Inécio Lula da Silva Lula, amplamente veiculado nos meios de comunicagio, em todo o mundo. O nosso objetivo é Representagao discursiva foi veiculada em jornais de lingua espanhola, no que se refere ao ex-pr Buscando uma visio panorimica a respeito das Representagdes discursivas construfdas em torno do referido fato, no: verificar que sidente ¢ a sua prisio. so corpus de andlis contou com cinco reportagens dos seguintes periodos: Clarin (Argentina), La Nacién (Argentina), Ultima Tora (Paraguai), E/ pais (Espanha), El mundo (Espanha). Tomamos como critério de selecio das matérias que compéem 0 referido corpus, a publicacio das mesmas nas datas 05, 06 ¢ 08 do més de abril de 2018, periodo em que ocorreram a ordem ea efetivagio da prisio Nas segdes seguintes, faremos um breve excurso sobre os postulados te6ricos da ATD, a fim de caracterizar a categoria da Representacio discursiva, para, em seguida, analisar os excertos das reportagens nos quais as referéncias a Lula € a sua prisio aparecem. 1 A andlise textual dos discursos: um dispositivo teérico-metodolégico Observando as bases de construgao dos estudos textuais-discursivos, reconhecemos © papel desempenhado pelas Areas da Linguistica Textual (doravante L'1) ¢ da Anélise do Discurso (doravante AD), disciplinas que surgiram aproximadamente na mesma época ¢ seguiram caminhos diferentes. Embora trabalhem com a mesma materialidade, isto é, 0 texto, pode-se dizer que tais disciplinas s6 se permitiram estabelecer uma colaboragio mais efetiva atuais. Koch (2015, p. 164) enfatiza os didlogos que a LT vem cstabelecendo com outras disciplinas transformando-se_ numa “ciéncia nos dias integrativa” para dar conta do texto enquanto objeto complexo ¢ multifacetado. Na verdade, desde os estudos de Beaugrande (1997), ainda no final da década de 1970, jé antecipava o que vemos na atualidade: uma lingufstica de texto concebida como subdominio lingufstico de uma ciéncia transdisciplinar do texto ¢ do discurso. A partir disso, perccbemos que, depois das_viradas pragmatica cognitiva, atualmente, a LT’ pode estar vivendo mais uma virada nos seus estudos, algo muito préximo de uma virada discursiva (cf. FILHO, 2017). Paveau e Sarfati (2006), por exemplo, concebem a Linguistica Textual e a Anélise do Discurso, juntamente com a Semintica de Textos, sob a mesma “etiqueta” de linguésticas discursivas. De outta parte, também é possivel notar uma maior preocupacio com o estatuto do texto por parte de algumas correntes da AD, vide os trabalhos de Dominique Maingueneau, por emplo E deste ponto que partimos para a constituicio do campo de estudo atual da LT, que se ampliou para dar conta de fenémenos que desbordam as fronteiras textuais para adentrar os dominios discursives. A proposta de uma Andlise Textual dos Discursos (ATD), feita por Adam (2011), insere-se justamente nessa abertura da LT’ para os fendmenos textuais-discursivos. Na perspectiva de uma redistribuicio dos fenémenos estudados pela LT e pela AD, Adam (2011) insere a LT dentro do campo mais vasto da AD conforme quema a seguir: 12 Esquema 01: Niveis ou Planos da anilise de Discurso. FORMACAO «———___» INTERACAO «——____-» ACAODE SOCIODIS- SOCIAL. LINGUAGEM CURSIVA ay @n (VISADA, ‘OBJETIVOS) (x3) INTERDISCURSO Socioletos Intertextos GENERO(S) om cinta >, Textura Estrurara Semintica _Enunciagio Atos de discurzo (proposigdes comporicional _(representagio _(reponsabili- _(ilocucioniries) enunciadase _(cequéncias e discursiva) ‘orientagdo ‘Perfodos) _planos de textos) argumentativa 4) «5) NiVEIS OU PLANOS DA ANALISE TEXTUAL Fonte: Adam (2011, p. 61). © esquema anterior propde que os niveis N1, N2 e N3 sejam do interesse dos analist s de discurso, uma vez que scu campo de interesse abarca justamente a interacéo social, as formacées discursivas, os interdiscurs: JA os niveis N4, N5, N6, N7, N8 seriam do campo de interesse da Andlise ‘Textual dos Discursos, pois os fenémenos contidos nesses niveis constituem os objetos de estudo selecionados: a textura, a estrutura composicional, a semintica, a enunciacio ¢ os atos de discurso. Como se pode perceber pelo Esquema 01, 0 campo de investigagio ¢ os fendmenos textuais discursivos abordados sio vastos, Ha, portanto, uma longa agenda de trabalho a ser desenvolvida no Ambito da AD. O presente trabalho tem por foco nivel N6, ou seja, o nivel da anilise seméntica do texto que procura investigar as Representagdes discursivas construidas num texto. Segundo Almeida (2016, p. 86), a Representacéo discursiva (Rd) “[..] se configura no texto a partir da organizacio de suas proposigdes-enunciado”, isto 6 0 conjunto de proposicées-enunciado que harmonicamente formam o texto s € etc, ¢, 20 mesmo tempo, projetam uma Representacéo discursiva (Rd), entendida como uma visio de mundo proposta a um Ieitor ou interlocutor. Em outras 13 palavras, a Rd € uma proposi¢io de mundo que © produtor de um texto constréi ¢ oferece a um alocutério interpretante A proposi¢ao de mundo que a Rd de um texto constréi se estrutura em torno de um grupo de imagens projetadas: imagens de quem diz algo (ou escreve algo), imagens do que se diz (0 contetido ou tema tratado) ¢ imagens de para quem se dirige © dizer (ou escrito). Na verdade, 0 conceito de Representagdes discursivas se funda na certeza de que, com maior ou menor explicitacio, todo texto (oral ou escrito) carrega marcas das concepgdes do seu produtor, tendo em vista que cada sujeito no mundo tem um lugar discursivo constituido na interagio sécio-discursiva. Conforme Adam (2011, p. 108), a unidade minima, a que se chama “proposigao-enunciado”, é 0 produto de um ato de enunciagio, sendo anunciada por um enunciador inseparavel de um coenunciador”. Ou seja, toda explicitas ou implicitas, de cu”, enquanto imagem do enunciador ¢ um “outro”, enquanto imagem de um coenunciador. De fato, é por meio da proposigio-cnunciado que o enunciador/locutor enuncia algo, ou seja, cons direcionado a outro, um coenunciador/alocutétio ou interlocutor, que reconstréi ou constréi esse discurso/texto. Fi relevante destacar ainda que: proposi¢io-enunciado carrega marcas discursiv: réi um discurso/texto que sera toda proposi¢ao-enunciado compreende trés dimensdes complementares as quais se acrescenta 0 fato de que no existe enunciado isolado: mesmo aparecendo isolado, um enunciado elementar liga-se a um ou a vatios outros e/ou convoca um ou vétios outros em resposta ou como simples continuagio (ADAM, 2011, p. 109). Em outras palavras, todo enunciado cst4 condicionado por inimeros fatores, ou seja, é constituido ou pode apresentar diferentes dimensdes textuais discursivas, desse modo, quando Adam (2011) fala em proposi¢ao-cnunciado, refere-se as unidades textuai discursivas que condicionam a producio do sentido. Nas palavras do proprio autor, cstruturalmente hf na proposi¢ao- enunciado: uma enunciativa [B] que se encarrega da representacao construida verbalmente de um contetido referencial [A] ¢ di Ihe uma cetta potencialidade argumentativa [ORarg] 14 que lhe confere uma forca ou valor ilocucionatio [F] mais ‘ou menos identificavel (ADAM, 2011, p. 109) Esses postulados, contidos na citagio anterior, também podem ser organizados squematicamente. © referido autor propée o seguinte modelo para a estruturacio das trés dimensdes de uma proposi¢ao-cnunciado: Esquema 02: Dimensdes proposi¢io-enunciado. Responsabilidade enunciativa da propos Ponto de vista [PdV] BN?) Ligacao com um contexto anterior $< (ito ou implicitoy ouum intertexto Ligacao com um contexto TF posterior Proposicao- ar (ito ou implicito) ~enunciado (N4NS)_ (NS-N4) No) Referéncia como cs) Representacao discursiva [Rd] Valor ilocucionario [F-C2] construida pelo resultante das conteddo proposicional [p] potencialidades argumentativas dos enunciados [OR-arg-C1] Fonte: Adam (2011). Demonstra-se por meio do squema 02 criado por Adam (2011) que existem trés_dimensdes constitutivas da proposigio-enunciado. Nao ha superioridade entre clas, uma vez que cada dimensfo ¢ inseparavel da outra € colabora para com a outra. A dimensio enunciativa [B] veicula um contetido referencial [A] de tal forma que lhe confere certa orientacio argumentativa [ORarg] ¢ uma forga ilocucionsria [F] que, juntos, correspondem a dimensio [C]. A Representa » discursiva (Rd), eno, corresponde & dimensio [A] da proposicio-enunciado, conforme o esquema anterior. Para Lopes (2017, p. 44), a proposi¢ao-enunciado, “é a unidade minima veiculadora de um objeto de discurso, com a qual um locutor enuncia sua posigao de locugio através de indices especificos ¢, a0 mesmo tempo, postula uma posigio de alucogio na qual um alocutario Ihe faré frente”. A Representacao discursiva, portanto, é uma categoria de anélise responsavel por colaborar com estudo do nivel semantico da linguagem. Por meio dela, 15 podemos interpretar um discurso materializado em texto. Desse modo, “em termos de teoria linguistica da enunciagio, diremos que 0 texto é, ao mesmo tempo, uma proposi¢io de mundo (Rd) ¢ de sentido, um sistema de determinagdes ¢ um espaco de reflexividade metalinguistica” (ADAM, 2011, p. 115) Para dar conta dos estudos relacionados ao nivel semantico da proposicio-enunciado, isto é, da descrigao da Rd, Rodrigues ¢/ al, (2010, p. 152) propdem algumas categorias: Quadro 01: Categorias de anilise semantics, “consiste em “aquilo” que designamos, representamos sugerimos quando usamos um termo ou criamos uma situagio discursiva referencial com ssa finalidade: as Referéncia | entidades designadas sio vistas como objetos-de-discursos € nao como objetos do mundo”. [i designar algo e assim referenciar, representar algo ou alguém de um determinado modo. “[..] remete tanto 4 operagio da selecao dos predicados, isto 6 & designagio dos processos, no sentido amplo [...],”. Eo responsavel pela construgio continua de sentido entre os cnunciados, que demonstra o transcorrer das agdes ¢ 0 que apresenta mudangas de estado ¢ comportamentos entre os sujeitos envolvidos nos cnunciados presentes nos discursos. Predicagao “refere-se as caracteristicas ou propricdades tanto dos referentes como das predicagées.” Sio os aspectos que conduzem A certas construgdes de interpretagio ou construcio das Rd. Aspectualizagao “expressa aqui dois processos distintos:_a_assimilagao analégica [...], base da comparacio, da metafora e de outras figuras de linguagem ¢ as ligacdes entre enunciados.”. A relagio que é estabelecida entre os enunciados ¢ que sio bem visfveis como conectores € contribuintes para a construgio de sentido. Relagao “Indica as circunstincias espago temporais nas quais se desenvolvem os processos ¢ os participantes.” Indica a origem ou o cspago onde se encontra o cnunciador, portador da voz e do discurso Localizagao Fonte: Rodrigues / al. (2010, p. 175-176), Em maior ou menor medida, essas categorias seménticas sio responsveis por nortear o contetido descritivo que constitui as Representagdes 16 discursivas. Vale salientar que o breve excurso que fizemos até aqui consta de uma selecao de uma pequena parte da ATD. Na verdade, a ATD se propée nio s6 como campo teérico, mas também como arcabougo metodolégico que visa dar conta de uma andlise textual aplicavel a qualquer discurso Para Moraes (2003), trés procedimentos metodolégicos gerais podem ser observados em tal anéli textual: a unitariz ste na Go que cor desmontagem dos textos para examinar os materiais em seus detalhes, fragmentando-os; a categorizacio que consiste no estabelecimento de relago entre as unidades de base; ¢ a captacio critica de uma nova interpretagio emergente das fas anteriores, para constituir um metatexto. Dessa feita, a anilise textual, como procedimento metodolégico, descreve ¢ interpreta “sentidos ¢ significados que 0 analista constréi ou clabora”, tendo por base a anélise de um conjunto de textos ou documentos (MORAES, 2003, p. 202). Apoiando-nos em tais prinefpios teérico-metodol6gicos realizamos nos t6picos seguintes a anélise de excertos de matérias dos jornais Carin (Argentina), La Nacién (Argentina), Ultima Hora (Paraguai), E/ pais (Espanha), {1 mundo (Espanha). A representagao discursiva de Lula e sua prisao enquanto temas tratados Ao longo das cinco reportagens analisadas, pudemos constatar que a categoria semantica da referenciagio é a mais emprcgada. As referencias a Lula Jo recorrentes, tais como a referéncia de ex-presidente (“exmandatario”). Esse tipo de referencia transmite pouco cngajamento argumentativo, levando em conta que a condigio de ex-presidente é notéria ¢ pacifica, em termos do seu contetido proposicional. Contudo, de outra parte, encontram-se presentes nas reportagens construgées referenciais que denotam um maior grau de orientagio argumentativa, tais como a referéncia ao “herdi”, ao “guerrciro”, entre outras, que introduzem um contetido proposicional polémico. Ha nesse segundo grupo de referencias, graus de engajamento discursivo maiores do que as referéncias anterior “utso motivo pelo qual muitas vezes os jornais recorrem ao dis citado para se distanciar de tais contetidos proposicionais. Na tabela a seguir, procuramos sistematizar as ocorréncias de referéncias a Lula enquanto tema tratado: 17 Quadro 02: Ocorréncias de Referéncias a Lula enquanto tema. Jornal: Ocorréncias Ultima Hora _ | “ex mandatario”, “lider”. Lal “ex presidente”, “lider sindical”, “lider del PT” “lider sindical”, “Tider popular”, “dl preso con mayor apoyo Clarin popular”, “ex mandatario”, “jefe de una banda”, “el mejor presidente de la historia”, “el hijo de Brasil” . “ex presidente”, “lider del PT”, “uno de los jefes de Estado El pais : > més populares “ex presidente”, “ex mandatario”, “lider del PT”, “exjefe de El mundo Est “obrero” ado”, “el tornero que se tra sformé en presidente”, Fonte: Elaboracio nossa Conforme os dados constantes do Quadro 02, maioria dos periédicos procurou manter certa neutralidade em relagio ao tratamento dado a Lula, enquanto alocutirio. Sao abundantes as referéncias as suas condigdes de ex-presidente, lider do P1 possivel notar que a , lider sindical, etc. De outra parte, hA referéncias que apontam para caracterizaces polémicas do alocutitio, tais como as apontadas pelo jornal argentino Clarin, quais sejam: “chefe de uma quadrilha”, “melhor presidente da hist6ria”, “filho do Brasil”. ‘Todas essas referencias, devidamente critas com aspas, apontam como autoria um ente externo, objetivando a nao assuncio de Responsabilidade Enunciativa (RE). Chama atengio, 0 fato de nenhum dos periédicos demonstrat engajamento discursivo com referentes do tipo “criminoso”, “bandido”, “corrupto”, como alguns veiculos de comunicagio nacional fizeram questio de consignar. Os jomais estrangeiros falaram do processo, das acusacées ¢ da pris tal forma. Preferiu-se guardar certo distanciamento dos fatos juridicos, relatados io, mas nao se apoiaram nesses elementos juridicos para referenciar Lula de através do contraste da condenagio com clementos da biografia de Lula, ressaltando sua origem humilde, sua popularidade de amplitude mundial seu legado politico-social. O jornal paraguaio Ultima hora publicou matéria intitulada “Lula se ede sindical apoiado por dirigentes do PT ¢ centenas de pessoas”. O jornal destacou o grande apoio que o ex-presidente teve, tanto por parte de squerda. Além disso, © jornal fez questio de reproduzir trechos da pagina oficial do PT no Twitter refugia na s populares, quanto por parte de dirigentes de partidos de 18 que evidenciavam o grito de guerra dos partidarios de Lula, conforme vemos abaixo: Excerto 01: Jornal Ustima hora. "Lula! Guerreiro! Do povo brasileiro!", gritam milhares de pessoas em Sao Bernardo do Campo, direto do Sindicato dos Metalirgicos. Fonte: hiip://www.ultimahora.com' Hi neste caso, a diferenca entre a fala do jotnalista e a fala imputada a outros, com a devida separacio por aspas. Com base em Adam (2011), podemos dizer que, nesse ¢ em outros casos de discurso citado, a diferenciagio entre o Ponto de Vista (PdV) da matéria jornalistica procura diferenciar-se do Ponto de Vista (PdV) dos partidarios trazida ao texto pelo seu escrito, mas nao é realizada por ele. Nesse momento, 0 jornalista utiliz tal contedido proposicional, porém é um fato que tal contetido proposicional de Lula. Essa referencia ao “guerrciro” é aspas para nao assumir a Responsabilidade enunciativa (RE) de veicula uma Rd de Lula como “Guerreiro do povo brasileiro”. A despeito de tal contetido ser imputado a outros é no texto jornalistico do referido veiculo que cle ganha relevo. Em relacao ao tema da prisio de Lula, o jornal Ultima Hora procurou destacar a cstratégia de partidarios do ex-presidente em igualar_ os procedimentos judiciais periodo ditatorial brasileiro. Dentre os varios clementos histéricos trazidos pelo jornal, destaca-se a transcri¢ao da voz de Gleisi Hottmann, presidente do PT: atuais aos procedimentos excepcionais ¢ parciais do Excerto 02: Jornal Ustima hora. Ta presidenta del PT, Gleisi Hoffmann, considerd que la orden de Moro "reedita los tiempos de la dictadura" en Brasil y constituye "una violencia sin precedentes en nuestra historia democratica", en un mensaje divulgado en las redes sociales. Fonte: hip:/ /www.ultimahora.com! No excerto 02, 0 jornal Ultima Hora abre pago para a construc Rd do tema “prisao de Lula” como sendo uma “violéncia” sofrida pelo ex presidente, que nao encontra precedentes na histéria democritica, fazendo com Disponivel em Acesso em: 13 Mai, 2018. 19 que se considere a ordem do Juiz Moro como alinhada aos atos extremistas da ditatura militar brasileira. © jornal argentino La Nasién vai na mesma linha do jornal paraguaio com matéria intitulada “Os 31 dias que Lula passou atris das grades”?. O jornal estabeleceu um paralclo entre a prisio de o ex-presidente durante a ditadura militar brasileira ¢ a prisio atual, pontuando a trajetéria da sua vida pessoal ¢ politica. © texto da reportagem trouxe a Rd de Lula como “ex-presidente”, “lider sindical”, “lider do PI”. O La Nacién retomou o histérico carceritio de lider petista que ja havia sido um preso politico, durante a ditadura militar brasileira, em 1981, curiosamente no mes Por sua vez, 0 jornal argentino Clann, em matéria intitulada “Brasil: o dia que Lula foi preso”} também retoma a prisio politica de Lula durante a ditadura militar brasileira como mote para abordar a atual prisio ocorrida em 2018. O jornal sc refere ao cx-presidente como o “maior lider popular da histéria do Brasil” quem coloca a prova o “seu mito, seu legado” frente a condenagio por corrupcio. Interessante notar, no texto do periddico, a aspectualizacio do referente através idos tais como “o melhor presidente da histéria” (pesquisa Datafolha) ¢ “o filho do Brasil” (titulo de filme-biografia ditigido por Fabio Barreto). Na avaliacio da matéria do Clarin, Lula foi o “preso com maior apoio popular do mundo”, destacando que, mesmo diante do proc de diversas fonte: de epitetos exter so e da sua ordem de prisio, é 0 maior favorito a vencer os rivais nas eleigdes presidenciais: Excerto 03: Jornal Clarin. Si estard tras las rejas, sera el preso con mayor apoyo popular del mundo: al mismo tiempo que es humillado hacia la prisién por corrupcién, es el favorito a vencer a todos sus rivales en las clecciones de este afio. Fonte: hitp:/ /www.dlarin.com* Os trechos em destaque no excerto anterior projetam a Rd de Lula como “preso”, “popular”, “humilhado” ¢ “favorito”, imagens contraditérias que © jornal faz questio de matizar: um suposto criminoso condenado que, a0 2 Ls 31 elias que Lula pas tra as reas.” 3 “Brasil: el dia que Lula da Silva quedé preso” + Disponivel em: <__hitps:/ /www.clarin.com/mundo/brasil-dia-lula-da-silvia-quedo preso_0_ryMMS5Qifhtml>. Acesso em: 13 Mai, 2018. 20 mesmo tempo em que é humilhado pela ordem de prisio, mantem a populatidade ¢ o favoritismo entre os eleitore d No que se refere 4 caracterizacao da prisio de Lula, o jornal Clann transcreve a controvertida fala do promotor do caso Lula, Deltan Dallagnol, quem chegou a dizer que © caso era uma “obra de Deus” a favor do brasil, conforme excerto a seguir: Excerto 04: Jornal Clarfn. El afio pasado el fiscal Deltan Dallagnol, jefe del equipo de Lava Jato y conocido por decir que el caso es "obra de Dios" a favor de Brasil, presenté a Lula como jefe de una banda que des departamento era parte de ese pago. iaba dinero de Petrobras y que el Fonte: hitp://www-clatin.com™ Descrito de tal forma por Deltan Dallagnol, chefe da operagio Lava Jato, 0 processo que apontou Lula como chefe de uma quadrilha, que desviava dinheiro da Petrobris, assim como o fato do processo que culminon no ato de pi adverso ao carter laico do estado ¢ da propria justica. O Clarin chama atengao para a conduta no minimo estranha de Deltan Dallagnol, destacando a aspectualizagiio do caso como “obra de Deus”. No que se refere a imagem de Luk ‘0, coroando © trimite legal, apresenta uma Rd de “obra de Deus”, algo © Clarin também destacou o processo de “Mandelizacio” do ex-presidente, conforme podemos ver no trecho a seguit: Excerto 05: Jornal Clartn. erio Io que ocurriré con el legado de Lula o el futuro de n de su figura en los t Ahora, es todo un mi Lula. La mandelizacit rimos dias fue una constante en la conduccién del PT. Fonte: http://www.clarin.com® O excerto 05 mostra uma referéncia ao politico sul-africano Nelson Mandela que foi condenado prisio perpétua, em processo de natureza politica. O sul-africano cumpriu vinte e sete anos de prisio e s6 foi libertado devido a apelos de organismos internacionais. Apés sair de sua prisio politica, Mandela foi eleito pr conhecida como Apartheid. O politico é referéncia internacional como ativista dente e conduziu o fim da pratica segregacionista 21 humanitirio ¢ pacifista, também um icone que traduz a vitima de persegui¢ao juridico-politica. A transformacio do nome préprio “Mandela”, na predicagio “mandelizagio” para atribuir a Lula, transporta a Rd do “preso politico” daquele para este. O Clarin atribui partidarios do PT, escusando-se de chancelar essa Rd. No jornal espanhol E/ Pais, figurou a reportagem “Juiz ordena a imediata prisio de Lula da Silva’ estabelecendo foco na acto judicial, da qual o ex presidente era alvo. A contradicdo entre 0 processamento em tempo recorde, do caso Lula, frente a lentidio tradicional da justica brasileira, foi um dos st ssa transformacao de Lula em Mandela aos pontos abordados pelo periédico, langando suspeitas em rel por tris do caso histérico Excerto 06: Jornal [/ Pais Ta inminente entrada en la carcel de Lula saca de la carrera electoral al candidato que encabezaba holgadamente toda una intencién de voto de alrededor del 35%, encuestas, con Fonte: http://www.clpais.com® As referéncias a Lula, como “lider” sindical, “lider” do PT ¢ “ex presidente”, também aparecem na matéria do E/ Pais, prevalecendo a Rd de Lula como “um dos chefes de estado mais populares do mundo”. No excerto anterior, 0 texto da noticia ressalta os efeitos da prisio de Lula para a corrida cleitoral, fazendo mencio a sua lideranca com folga nas pesquisas de intengao ¢ mengao A recusa do Supremo ‘Tribunal Federal em analisar © mérito dos fatos que levaram as acusagées ¢ & condenagdo de Lula, restringindo-se apenas A pertinéncia da prisio em segunda instincia. de voto. Na matéria, também, fa. seguir, vemos no excerto 07, a celeridade inusual com que o juiz do caso, Sérgio Moro, ordenou a prisio de Lula, antes de 0 STF negar o tltimo recurso de Lula, com menos de vinte ¢ quatro horas. 5 “Fl juez ona clined ingreso en prin de Lila da Siva” “Disponivel em< hitps:/ /elpais.com /internacional/2018/04/05 /actualidad//1522953963_053794.himl.> — Acesso em: 13 Mai. 2018, 22 Excerto 07: Jornal E/ Pais Sin esperar a agotar los plazos legales, el juez Sérgio Moro, el pertinaz acusador de Luiz Indcio Lula da Silva en los uiltimos tres afios, ha dictado, en la noche de este jueves, el inmediato ingreso en prisién del expresidente de Brasil. No habfan pasado ni 24 horas desde que el Supremo Tribunal Kederal (STH) decidiese, en la madrugada anterior, denegar el iltimo recurso de Lula, condenado a 12 afios por corrupcién, cuando Moro dicté un auto fulminante para decretar su encarcelamiento, Fonte: http:/ /www.clpais.com® © excerto 07 traz a Rd do tema a prisio de Lula como “ato fulminante”, uma Rd estruturada em tomo de uma aspectualizagio singular que aponta para os tragos semAnticos de “terrivel”, “cruel”, “que manda fazer grandes males ou morticinio”, segundo os dicionérios. Some-se a isso a predicagdo atribuida a Sérgio Moro “ditou”, um verbo que matiza a carga semintica de “forte vontade”, “imposicio”, “oligo”. No contexto da ccleridade recorde do processo, tal Rd do tema da prisio de Lula se reveste de uma orientagio argumentativa que langa suspeitas sobre as verdadeiras motivacées da ordem de prisao. No titulo da reportagem do jornal espanhol E/ Mundo, observamos 0 titulo: “Lula € preso em Curitiba depois de se entregar a policia brasileira”. O jornal focou sua matéria na operaio policial que teve de vencer a resisténcia de centenas de partidatios de Lula para fazer cumprir 0 mandado de prisio ¢ a condugio do ex presidente & Curitiba. D nilltincia Ihe pedia “resistencia” ao que este respondia com frases de efeito “a morte de .caram-se os diflogos entre Lula e sua militincia nos quais a um combatente nao pata a tevolucio”, “Lula é cada um de vocés”, “continuarei sonhado pela cabega” de seus partidatios. No trecho a seguir o jomal reproduz, uma das fras Excerto 08: Jornal 5/ Mundo, “"Si dl crimen que cometi fue evar salud, comida y educacidn a los pobi entonces quiero seguir siendo un criminal", Fonte: hitp://www.clmundo.e* 7 «Lala ingresa en la pris dle Curiba tras entregarse al Policia braileia” "Dispontvel cem: Consultado em: 13 Mai. 2018, 23 Neste excerto, toda a proposi¢io enunciada € colocada no texto para dar destaque a voz de Lula. Abre vitima de uma injustica, posto que, segundo a voz transcrita do proprio locutor, as ., assim, espaco para uma Rd de Lula como © ctime praticado por ele foi atender aos mais pobres com satide, comida e educagio. Em outros trechos, 0 jornal também projeta as Rd de Lula como “primeiro operario a alcancar a presidéncia do Brasil”, abrindo espaco para supor uma possivel luta de classes como pano de fundo do caso em questio. Consideragées finais Liste trabalho teve como objetivo analisar as Representacdes discursivas de “Lula” e de sua prisio enquanto temas tratados em reportagens de cinco jornais de lingua espanhola, a saber: Clarin (Argentina), La Nacién (Argentina), Ulima Hora (Paraguai), El pats (Espanha), El mundo (Espanha). Partindo desse objetivo, constatamos que os jomnais por meio d reportagens constroem a imagem de Lula como “lider”, “ex-presidente”, “guerreito do povo brasileiro”, “popula recebe apoio ¢ carinho da classe mais pobre do pafs, . Visualizamos, inclusive, a imagem de um Lula que vive direcionando sua vida a causas sociais ¢ como um grande defensor da classe trabalhistas. Embora situad: as , de origem humilde ¢ que, por isso, em um cenirio de condenagio criminal, as referéncias a Lula como “corrupto”, “condenado”, “preso”, nao se sobrepdem as demais, tendo em vista que os jornais procuraram mostrar sua histéria de vida incluindo, nessa narrativa, a priséo politica sofrida na época da ditadura militar. Em alguns casos, é patente a visio de Lula como um preso politico também na atualidade. O uso no neologismo “‘mandelizagio”, uma predicacio caleada em uma aspectualizagio, procurou matizar alguém que so foi investigado por interesses escusos de seus adversarios, com vistas a mudar o cenério cleitoral, j4 que detinha a maioria da intencao de votos para presidente. Também conseguimos identificar referencias a0 processo judicial ¢ & prisio em si que evidenciam uma Rd do tema “prisio de Lula” como uma situagio excepcional do ponto de vista da celeridade no tramite processual, no qual etapas foram climinadas. Cabe destacar a singular Rd da Operacio Lava- jato ¢, consequentemente do proceso que culminou na prisio de Lula, proposta por de Deltan Dallagnol. O grupo nominal “obra de Deus” funcionow como aspectualizador que atrai para a Rd do tema “prisio de Lula” uma carga 24 semintica adversa ao ambito juridico, colidindo frontalmente com principios constitucionais, tais como o principio do estado laico. Por fim, acreditamos ter cumprido com os objetivos aos quais nos propomos ao inicio do presente trabalho. Esperamos que a visio panorimica apresentada, a respeito das Representacdes discursivas construfdas em torno da prisio de Lula, possa contribuir para os cstudos textuais discursivos sob 0 viés da ATD, sobretudo no que concerna a categoria da Representacio discursiva Referéncias ADAM, discurs M. A Linguistica Textual: introdugio a anélise textual dos o Paulo: Cortez, 2011. ALMEIDA, W. M; QUEIROZ, M. E. Povo brasileiro: discursivas no discurso da presidenta Dilma Rousseff. 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