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As CAMPANHAS DE ALEXANDRE MAGNO E A DEFINICAO DE UMA (NOVA) IDENTIDADE POLITICO-CULTURAL NO FINAL DO SEC. IVa. C. ’ José DAS CANDEIAS SALES Sour superior () a fades os anteriores. mim. na arte militar (.) Basta a fama para (eset recersobree reique eu fui () Persegul os assassinas de meu pate depois de aiterrar’ os Gregos com a destruicay de Tebas. ful por cles eleita. E nao considerei dligna, ao éuidar do governo dos Macedonios, contentarmne com comandar quanto meu pai me deisara («) tovadi a Asia com um punhado dle gente ¢ ganhel a grande batatha de Granico. 1 tometa Lilia &a fonia ea Prigia eel continuamentea tudo que estava diante de mim. dirigime para Isso onde Dario me undo em resume a mao aralow com um exe fy de muttas dezenas de milhares de homens (J. para ao estara descrever te 0 gue se passou en Tire nem em Arbela, ao menos dir tee tambem quealeanceta Inula e fiz le Oceano a fronteira do meu imperio. E tomet os cletfantes deles ¢ dominet Poros e venci as Citas, que nao sao homens de somenos numa grande batatha de cavalaria, depois de atravessar Tanats. F favorect os amigos ¢ puni os inimigos Larciano, Pialogos dos Mortos XIL — Considerado por muitos 0 mais carismatico ¢ herdico rei de todos os tempos ¢ um dos maiores genios militares da Historia’, Alexandre Magno foi, de facto, 0 primeiro grande conquistador a unir a Grécia, 0 Egipto, a Asia Menor e a Asia, dominando um imperio que se estendia do Adriatico ao Indo, do Dantibio as cataratas do Nilo, criando um poderoso sincretismo étnico entre os Macedonios ¢ as populagoes conquistadas (especialmente com os Persas Aquemeénidas) ¢ assegurando a expansao das ideias, cultura ¢ mentalidade dos Gregos. Ao conquistar o imperio Aquemenida realizou, talvez, 0 evento mais importante da historia do Proximo Oriente’. ‘A sua actuacao provocou, efectivamente, uma viragem fundamental na historia do mundo antigo: 0 seu reinado marcara o fim da historia antiga ¢ 0 comeco de uma nova era caracterizada pelo helenismo, uma cultura de tipo ecuménico ¢, em consequéncia, 0 mundo deixa de ser o que era! mundo que nasceu com as conquistas de Alexandre ja nao @ exactamente o mesmo que o mundo de Demostenes-, Com a sua morte desaparece a civilizacao da polis, a da Grécia de Solon, de Esquilo ¢ de Aristofanes’. Aga 199957 mitos ¢ lendas, numa continua construcao ¢ reconstrucao da sia memoria. Ainda hoje, Alexandre Magno € objecto de intimeros trabalhos, alguns cnvoltos em extensa polémica, perante a: Em torino da sua figura desenvolveranyse intimeros varias interpretacoes que os seus estudiosos apresentam do grande general: para uns, ele ¢ 0 rei dos reis, por exceléncia. invicto no campo de batalha*; Para outros, nao passa de um alcodlico, homosexual ¢ assassino em massa; outros ainda referenr-se-lhe como precursor de Cristo, qual benfeitor da Humanidade, no desenvolvimento da concepeao de uma humanidade como fraternidade universal. Ha, ainda, quem so 0 consiga ver como mistico e visionario, exaltado na demanda de imitar a valentia ¢ a gloria do mitico Aquiles, qual her6i providencial. Alguns nao deixam de 0 exaltar como epitome da liberdade e da democracia helénicas, em contraste com a tirania ¢ 0 despotismo orientais A disparidade de posigoes faz com que seja apresentado como santo cristao, profeta islamico e benfeitor dos judeus". O caracter enigmatico ¢ contraditorio da propria personagem moldou a forca da lenda: excessivamente generoso era tambem capaz da maior crucldade ¢ brutalidade. Brilhante c inteligente, cegava, de intolerancia ¢ colera. Homem, assumia comportamentos de deus’. De Sofia a Kabul, Ishkander- permanece como heroi folclorico, sendo 0 seu nome por vez muilas vezes invocado em sinal de boa sorte. Com maior ou menor carga mitica, Alexandre tornou-se 0 prototipo do grande heroi conquistador e colonizador que traz as populacoes harbaras a civilizacao, no caso, a civilizacao grega 0 confronto entre a obra realizada, os tracos de personalidade fixados pelos seus bidgrafos, coevos ou nao" imagem, cruzado com as caracteristicas do mundo do séc. 1V a. C. ¢ do impacto da © a consirucao permanente da sua memoria e Macedonia sobre as civilizacoes ¢ culturas do seu tempo, permite tentar apreender os Lragos distintivos ¢ idiossincraticos do seu caracter ¢ da sua actuacao politica e cultural ou, pelo menos, dos processos de construcao social da sua memoria". As vitor da qualificacao real as militares como signos legitimadores Na narrativa memoravel. mitica. sobre Alexandre Magno, as suas vitorias militares constituiram a materializacao de elementos predestinadores ¢ singulares da vida ¢ personalidade do rei macedonico. Ainda em vida de Filipe UI, como regente da Macedonia, em 340. a. C. (com 16 anos), assegurou a dominacao macedonica sobre os Tracios ¢ os Ilirios ¢, em 338 a. C. chefiando a cavalaria do Lo de seu pai (que. na altura, linha 45 anos), esmagou decisivamente a revolta das for¢as gregas (Tebanos e Atenienses), na Batalha de Queroneia (no vale do Cesifo ha Bedcia), travada a4 de Agosto”. exer 58 DISCURSOS. LincuA, CULTURA € SOCIEDADE Aos 20 anos, em 336 a. C., assassinado Filipe I pelo jovem nobre Pausanias", assume de imediato o poder. como Alexandros Filipou Makedonon, Alexandre IIL, rei da Macedonia, Lornando:se o herdeiro de seu pai*, nao somente na Macedonia, Mas Lambe na lita contra os Persas, usando para isso 0 exército criado por Filipe IL. Como proclamava Isécrates (436-338 a. C). 0 grande paladino da unificacao da Grécia, os Persas cram 0 inimigo hereditario- dos Gregos. Apos dois séculos de humithacoes ¢ afrontas das forcas gregas, nao obstante as espléndidas vitorias de 490 a. C. (Maratona), 480 a. C. (Salamina) ¢ 479 a. C. (Plateias), havia ainda resquicios de parr helenismo antipersa®. Na Primavera de 336 a. C., Filipe I enviara um primeiro corpo: expedicionario (10.000 homens, comandados pelo general Parménion) encarregue de libertar as cidades irmas da Asia Menor, de acabar, assim, com a subjugacao imposta pelos Aquemenidas. de vingar a destruigao dos santudrios gregos ¢ de preparar o terreno para um desembarque de todo o exército". Caheria, portant, a Alexandre Magno completar/ concluir os planos de seu pai, encarnando o secular espirito grego de vinganca. Ao sair da Grécia, a sta campanha contra os Persas era essencialmente uma operacao punitiva, uma guerra de represalia. Mas. antes de mais, era preciso fazer face a sublevacao generalizada de povos soh o dominio da Macedonia’. Numa espantosa demonstracao das suas qualidades de general, em 335 a. C. sufoca os varios focos de agitacao (incluindo alguns pretendentes ao trono") ¢ venice. com coragem. astticia ¢ alguma crueldade, os inimigos balcanicos ¢ yregos: Tracios, Citas. Getas, Hirios ¢ Tebanos”. Face a Insurreicao destes ultimos contra a guarnicao macedonia instalada por Filipe apos Queroneia ~ 0s grilhoes da Grecia: - Alexandre. na Primavera de 335 a. C, destruitt a cidade de Tebas. fazendo 6000 mortos ¢ reduzindo a escravidao a sua populacao com o aval da Liga de Corinto”, Para a ideologia desenvolvida em torno de Alexandre Magno, esta primeira campanha, em apenas 15 meses. demonstrou, de imediato, o talento de estratego que haveria de se potenciar av maximo na Conquista da Asia. A passagem do Helesponto ¢ 6 cravar da sua lanca em territorio asiatico. proclamando:o dorykhétos chora (terra conquistada pela ponta da lanca) cram uma marca clara desta mesma ideologia helénica” As batalhas de Granico (Maio-Junho de 334 a. C) - em que Alexandre derrota 08 satrapas da Asia Menor, chefiados por Memnon de Rodes ¢ Mitridates (genro de Dario II), ¢, em consequencia, se apodera da parte norte da Asia Menor” -, de Isso (Novembro de 333. a. C) ~ em que derrota, de novo, os Persas Aqueménidas, agora chefiados por Dario IIL apoderando-se sucessivamente de Babilonia, Susa, Persépoli ¢ Pasargada. outras capitais reais’ =, de Gaugamela ou Arbela (1 de Outubro de 331. a. C™}- em que vence definitivamente o Grande Rei- Dario IIP* - ¢ de Hidaspes 326 a. C) - em que domina o raja hindu Poro e o seu exército de 20.000 infantes indianos, 2.000 cavaleiros ¢ centenas de clefantes, com varios archeiros ¢ atiradores de lancas” - foram as etapas mais importantes das suas invenciveis campanhas. ARI 1999 59 Temos assim que 0 garoto inofensivo-, como Ihe chamou Demostenes quando Alexandre subiu ao trono da Macedonio, unificou a Grécia 4 forca em pouco mais de um ano. Nao obstante, apesar de designado chefe supremo das forcas grega: hegemon, Alexandre Magno nao lograra 0 apoio militar naval dos estados gregos devido, sobretudo, a singular violencia destrutiva desferida sobre a cidade de Tebas, em 335 a. C. Ao destruir a cidade, Alexandre destruiu efectivamente o espirito de rebeliao que poderia alastrar pelas varias cidades helénicas, mas simultanea-mente, refreou o necessario espirito de cooperagao das mesmas”’ O comeco das hostilidades directas com os Persas ¢, assim, portanto, marcado por uma inferioridade naval inicial” que colocava como principal ¢ imediata tarefa @ inutilizacao do inimigo no mar, ow seja. a destruicao de todas as suas bases maritimas, pelo que a marcha ao longo da costa da Asia Menor e a captura de SUCeSSIVOS Portos Nessa Costa eram incontornaveis. Era preciso retirar a frota perso-fenicia as suas tradicionais bases de operacao ¢ portos de abrigo, desestimulando o recrutamento de homens ¢ 0 equipamento dos navios. Dess mente concretizaveis ~ 4 propria Grecia. Tratava-se de derrotar a frota persa desde terra, forma, quebrava-se toda ¢ qualquer pretensao de ataques persas - fac de quebrar o poderio maritima da Persia”, De 334 a 332 a. C, Alexandre Magno realiza, assim, uma série de imparaveis conquistas do Mar Negro até ao Vale do Nilo: as cidades de Sardes (a capital da Lidia, uma das capitais reais), Efeso", Priene, Mileto", Mégara ¢ Halicarnasso” caem sob 0 seu poder" as regioes dla Misia, Lidia, Caria, Paflagonia, Frigia, Pisidia, Panfilia, Cilicia, Siria, Fenicia® ¢ Palestina® furtam-se ao jugo aqueménida para se entregarem a dominacao macedonica"; 0 Egipto entregou-se- Ihe, sem qualquer resistencia: ou seja, em 2 anos, Alexandre concretiza o projecto de Filipe IL apoderando:se das cidades da costa siro-fenicia, dominando, assim, o litoral leste do Mediterraneo, retirando ao Grande Rei dos Persas as suas principais bases de apoio maritimo e fazendo do Cgipto. mais particularmente da cidade de Alexandria, por si fundada na embocadura ocidental do Nilo com o seu proprio home (Janeiro de 331 a, C), uma das bases do seu poder. O primeiro grande passo 0 dominio do litoral-"' ~ estava dado ¢ cunprido com sucesso. O Oraculo de Amon em Siuah: de heré Um grande passo da ideologia Na visita ao oasis do deserto libico, em Siuah, em Novembro de 332 a. C. um sacerdote de Amon chama a Alexandre. propositadamente ou por lapso, -ilho de Amon-", Num século obcecado pelo sobrenatural, tal proclamacao corroborava a conviccao de uma ancestral tradicao divina, mitica ¢ herdica, de Alexandre". O rei 60 DISCURSOS. Lincua, CULTURA E SacieDaDE macedénio confere a expressao filho de Amon- (corrente ¢ tipica na titulatura faradnica, particularmente desde 0 Imperio Novo) um sentido demasiado literal: fillho carnal. querido e amado, do grande deus egipcio, na altura o principal patrono do Lgipto”, ou seja, assume a aura de deus em si mesmo. Por direito, Alexandre Magno sentia'se legitimo sucessor/ herdeiro dos farads. Acresce a este aspecto 0 facto de, além de se considerar filho de Amon-, Alexandre deixar que 0 tratassem por filho de Zeus-* A potencia divina de Amon cra susceptivel de assumir qualquer outra forma escolhida pelo deus, sendo 0 carnciro, macho poderoso ¢ viril de poderosos chifres curvados. retorcidos, baixo ¢ de cauda curta (ovis platyura aegyptiaca), uma Optima hipostase. O seu animal sagrado Cera proferido o oraculo cm Siuah. 0 que atesta a sua vitalidade ainda no séc. IV a. C ¢ explica uma imagem iconografica recorrente da ideologia alexandrina: a representacao de Alexandre com 0 corno de carneiro do deus Amon. Auto-persuadido da sua origem ¢ filiacao divina*, Alexandre, concretizando, no fundo, vertentes anteriores presentes na sua educacao, assume a sua condicao divina como farad egipcio. Alexandre era, na realidade, filho de Filipe I (383-336 a. C), rei da Macedonia por usurpacao ¢ brilhante governador ¢ estratega”, ¢ de Olimpiade, princesa do Epiro, filha do rei molosiano Neoptolemo". Olimpiade, «in monstre dorgueil exalté: parece ter exercido enorme influencia sobre o filho, designadamente ao desenvolver em seu redor uma auréola de singularidade ¢ sobrenaturalidade, Platarco regista, citando Cratostenes, que. aquando duma expedicao de Alexandre, Olimpiade Ihe tera revelado 0 segredo do seu nascimento- ¢ o tera exortado a mostrar sentimentos dignos da sua origen-. O que a mae fez foi, no fundo, inculcar no joven a nocao da sta origem divina, em ultima instancia como fillho de Zeus. Alexandre acalentou tais ensinamentos, aceitou o principio da ances tralidade divina ¢ desenvolveu com a mae, neste particular, uma relacao de profundo entendimento ¢ sintonia espiritual’, Mais do que a ancestralidade terrena, ¢ a ascendencia supra-terrena que Alexandre reivindica ¢ persegue. As ideias de predestinacao ¢ de sobrenaturalidade lerao feito parte da educacao familiar de Alexandre ¢ ter-Ihe-ao marcado indelevelmente o caracter, como a sua futura actuagao politico-militar viria a revelar. A ascendencia genealogica lendaria apres enta Alexandre como descendente de Zeus por dupla via: por via paterna, ¢ descendente de Heracles (fitho de Zeus e de Alemena). ¢, por via materna, ¢ descendente de Eaco (filho de Zeus ¢ de Egina)*’. Ow seja, além de descender de Heracles ¢ Aquiles, dois seres de excepcao do mundo mitolgico grego, era tambem ilho- de Zeus, 0 deus supremo dos Gregos, pai dos deuses ¢ rei dos homens, senhor da Terra ¢ do Olimpo: il sent houilloner en lui Ie sang des héros, ses ancetres Apr 1999 61 Amigo das Letras ¢ afeicoado @ leitura-, Alexandre lia regularmente as grandes obras da literatura grega, adquirindo, assim, uma cultura profundamente helénica. Nas suas leituras incluiam:se as tragédias de Euripides, Sofocles e Esquilo, hem como as obras de Filisto, os ditirambos de Telesto ¢ Filoxeno. Lia também Pindaro” ¢ Herddoto: apreciava os escritos filosoficos de Anaxarco, Xendcrates Dandanis ¢ Calano”, além naturalmente das obras de Homero (sabia de cor alguns dos seus poemas), particularmente a Irada™, 0 seu livro preferido. Segundo Plutarco, citando o testemunho de Onesicrito, Alexandre -considerave a Miada um tesouro da virtude militar", colocando 0 seu exemplar, corrigido pelo proprio Aristoteles, sempre com a adaga debaixo do travesseiro-. Pelo mito, descendente de deuses (Zeus ¢ Amon) ¢ herdis (Héracles e Aquiles"), a quem tinha, na pratica, como modelos®, tendo a tliada como livro preferido, Alexandre julgou-se, em breve, um auténtico deus-heroi, a quem estavam também reservadas proezas militares. Por tudo isto, pode afirmarse que, pela educacao, Alexandre contactou directamente com modelos de valor ¢ coragem do passado, vendo neles o tipo de homem a imitar, na conduta e na areté, na gloria ¢ na morte: in childhood lived in a half-fantasy world of heroie combat: e¢, durante a sua vida, teve testemunhos significativos, que considerou ¢ acalentow que 0 erguiam ainda acima d herois, qual deus na terra, Neste particular, a estadia no Egipto foi fundamental Embora nao se possa afirmar inquestionavelmente que Alexandre, em 331 a. C. foi efectivamente coroado no trono de Ptah, em Menfis, como soberano do Egipto (como faz Pscudo-Calistenes"), 6, Lodavia, certo que ai sacrificou ao touro Hep/Apis (uma das mais importante divindades do local, como hipostase do deus Ptah), foi ai enterrado (so mais tarde 0 seu corpo embalsamado seria transferido para Alexandria”), aceite como farad legal ¢ agraciado com os nomes e titulos dum Monarca egipcio”. Como Lodos os antigos farads. foi catalogado de divino e imortal e qualificado de di ankh mi Ré djet. {\ % 'S). di ‘ny mi & dt, dotado de vida como Ré eternamente-; netjer nefer, 4, ntr nfr, deus bom; neb tati _nb Gwy, senhor dos Dois Paises-; nel khau, y\ ab §3w, Senhor dos Horizontes-". Os sacerdotes egipcios, detentores da multissecular tradicao faraénica atribuiram sse miticos Ihe também os nomes e titulos tradicionais: +e 1 — nesubit( &°2, wsw-bity), Rei do Alto ¢ do Baixo Egipto: — expr que antecedia 0 prenome (nome de entronizacao inserido numa cartela) meri Amon setepenRe, (% ssao mry ‘Inn spr, amado de Amon, escolhido do deus-sol Re- Sa R6( 53K illo de Re+) ~ designacao que antecedia o nome (nome 62 DISCURSOS. Livaua, CULTURA £ SOCiEDADE Varios relevos de Lemplos egipcios mostranr-no usando os regalia ou atribut regios: a pschent”, a kheprech” ¢ a cobra uracus na fronte. Como farad, segura na mao o simbolo da vida, ankh, usa o chendjit (saiote faradnico de ceriménia) ¢ a cauda taurina”, Nao significa que. na realidade, Alexandre tenha usado efectivamente tais insignias de poder, mas sim que consentiu na sua utilizacao simbolica para methor afirmar o seu papel ¢ poder no Fgipto. Em flagrante contraste com os odiacdos Persas. como Nao Usava barba, surgia aos olhos dos egipcios mais como um deles do que propriamente como um estrangeiro”. Os varios nomes ¢ Litulos, escritos em hieroglifos, encontranrse em inscricoes: egipcias, algumas contemporaneas de Alexandre, ¢ demonstram que Alexandre: a) desempenhou, com sincera conviccao mistica, 0 papel de representante terrestre dos deuses; b) dew o seu consentimento ¢ a sua aprovacao para a utilizacao de tais onomastica ¢ tilulatura; c) identificou concretamente o seu papel no ambito da ideologia politica ¢ da mentalidade religiosa egipcias: um deus, filo de deuses” Ecom esta auréola que parte a conquista do Imperio Aqueménida. Ademai so realcar, 0 oraculo prometiathe o imperio universal, o tornar-se s e prec enhor de Codos os homens-". Foi no Egipto que Alexandre uniu todos os fios dispersos ¢ soltos da sua vida ¢ comecou a pensar ¢ a agir em termos diferentes, novos: the sense that he was half divine was consolidated as he moved towards Egypt-”: Numa palavra, Alexandre confirmou no Vale do Nilo as suas conviccoes pessoais de origem e filiacao divina, invencibilidade e direito para aspirar ao Império Universal ¢ vislumbrou todas as consequencias politicas que poderia retirar das facetas sobrenaturais da sua existéncia. O Basiieds ‘AdeEavipog 4 conquista do trono imperial A tomada das capitais reais Babilonia”, Susa”, Persépolis™ e Pasargada”, a partir de 331 a. C, permitiu a Alexandre 0 controlo dos Lesouros aqueménidas: 50.000 Lalentos em Susa e¢ mais de 120.000 em Persépolis, ou seja, no total 4.250 toneladas de ouro™. Tornowse entao senhor de um tao vasto Lesouro que, posto em circulacao, constituia uma parte substancial das riquezas mundiais em moeda cunhada ¢ em barra™ A partir de entao, com Lais recursos financeiros, as campanhas macedonicas hao dependiam mais do auxilio directo dos Gregos ¢ até, em ultima instancia. dos Macedonios. Ja nao estamos simplesmente perante 0 rei dos Macedonios, mas sim, doravante, perante 0 Baciieds “AXebavSpos. ou seja, 0 rei Alexandre-, orei de Macedonios e de Persas. A correspondéncia trocada entre Dario Ill ¢ Alexandre apés a Batalha de Isso (333.a. C) prova ja indiscutivelmente o estatuto que Alexandre assumira. Quando 0 ABRIL 1999 63 rei dos Persas Ihe escreveu pedindo que Ihe restituisse a mulher, os filhos ¢ a mae propondo-lhe um tratado de amizade, Alexandre respondeu-the dizendo De agora em diate, quando te dirigites a mim fe-lo como ao rei de toda a Asia, ¢ nao 0 facas em plano de iguaktade, mas como ao senhor que sou de todas as tuas possessoes, ¢ nesse (om pede-me 0 que necessitares. De contrarian, ofender meas. Ese me contestares aludindo a (ua soberania, ergue-te e lula por cla ¢ nao fujas. porque tenho o firme proposito de te perseguir onde quer que te encontres*” Alexandre concebia que as suas vitorias eram sinal de predileccao divina, 0 que significava que o favor dos deuses se retirara de Dario Ill, sendo este, assim, um usurpador. A ei divina legitimava a sua ocupacao do trono imperial aqueménida Se depois de Isso ja se considerava rei de toda a Asia, depois de Gaugamela reforcou ainda mais essa concepcao: Alexandre proclamou-se rei da Asia, fez esplenderosos sacrificios aos deuses ¢ ofereceu aos seus amigos riquezas, senhorios*" Se, do ponto de vista politico-militar, a Batalha de Isso mudou a face do mundo, o momento chave da viragem é porém, a Batalha de Gaugamela: a batalha da Luropa contra a Asiay. Com a morte de Dario Ill, Alexandre proclama-se herdeiro do imperio aqueménida, comprovando todos os vectores emocionais misticos em que piamente acreditava, como descendente de herdis e de deuses" As vitorias de Alexandre, como ja, alias, as de seu pai, advieram da cooperacao das duas armas, a infantaria ¢ a cavalaria, Lanlo hos Movimentos ofensivos como defensivos. As casais ¢ divisoes das fileiras, sobretudo a formacao de 16 homens que se arissas®, sem porem em causa a coesao da falange (cm posicao de marcha, ataque ou defesa), favoreciam as movimentacoes rapidas tornou a mais habitual, com as xpeditas das tropas", muito importantes em determinadas incursoes de surpresa, em situacoes de inferioridade numérica dos ambientes climatico geograficos muito diversos". A vitoria de Granico resultara contingentes® ou em da ac ‘ao da falange, mas fora a decisiva accao da minoritaria cavalaria macedonica que mostrou que a tactica militar macedonica era superior a persa” Nas planicies asidticas foi, todavia, necessario conciliar a infantaria com um progressivo aumento do numero de cavaleiros, embora neste particular 0 exército persa fosse manifestamente superior ao macedénico™. 0 caso da batalha de Gauigamela ¢ clucidativo desta situacao: a cavalaria de Dario Mt teve um comportamento excelente, ao passo que a infantaria nada pode face as falanges e ds outras unidades de Alexandre". As alteracoes Lacticas introduzidas no exército, depois de Gaugamela, testemunham o esforco constante de uma organizacao sempre em progresso para se adaplar as novas necessidades da politica ¢ da guerra, com as suas exigéncias de 64 DISCURSOS. Lincua, CULTURA € SocIEDADE refor¢os ¢ as novas condicoes de recrutamento. No Irao oriental, Alexandre Magno recrucou entre os contingentes locais de cavalaria (bactrianos, sogdianos, Parapamisianos. massagetas, etc)”. Assim. 0 exercito, que, originalmente. era apenas constituide por Macedonios. Helenos ¢ Barbaros da Europa-. incorporava, agora, Barbaros Asiaticos-, A relacao numecrica entre os contingentes do exército allerava-se também: os Luropeus ficavam em minoria Aquando das campanhas contra Besso. 0 assassino de Dario II"! Alexandre foi obrigado a repensar (oda a sua Lactica militar. Reorganizou os seus homens, distribuindo as tropas em divisoes menos numerosas e em seccoes Mais ligeiras ¢ moveis. Em muitas situacoes, empreendert uma luta de guerrilha. Foi nessa altura que permitiu que muitas dessas novas formacoes fossem constituidas por persas seus aliados. Como rei da Asia promovia a colaboracao harmoniosa entre Persas ¢ Macedonios nas fileiras do seu exercito. Aquando da campanha da India, a partir de 327 a. C. os corpos e¢ as divisoes lacticas do exercito havianvse transformado profundamente: para uma eficaz adaptacao a tarefa da perseguicao aos raids militares, reforcaram-se as suas tropas ligeiras, criando novas armas (os hipacontistas ¢ os hipotoxotes), recru- tadas entre os Barbaros. Mas ao proclamar a sua supremacia sobre os demais humanos ¢ ao esbater fronteiras outrora (ao nitidas entre Gregos ¢ Barharos™, Alexandre mexia com sensibilidades mais ow menos anquilosadas ¢ provocava reaccoes O sentimento de poder absoluto do soberano, sob influencia do despotismo oriental, foi sentido por muitos como uma determinagao moral do rei. inevitaveis. trativas A-proskynesis: ¢ as novas realidades politico-admi O conflito que pos 0 general Clilo ao proprio Alexandre, em 328 a. C. durante tum hanquete avinhado. que culminaria com a morte de Clito as maos do enraivecido Mexandre®, sobre 0 luxo ¢ a superioridade que 0 rei patenteava ¢ proclamava, radica precisamente num diferente entendimento do vector principal que se deveria realcar em todo © movimento de conquista, a saher, a forca das armas: ¢ gracas ao sangue dos Macedonios ¢ as feridas recebidas que le tornaste tao poderoso, a ponto de te intitulares filho de Amon, rencgando a paternidade de Filipe”. Para Clito, mais do que a Alexandre, a gloria pertencia a Lodo 0 exercito, O mesmo sucedera ja Na Drangiana, em 330 a. C, com Filotas, seu amigo de infancia. filho de Parmenion (seu fiel ¢ competente general que ja servira tambem sob. por se apaixonar e com quem vivia™ F Hipe I vangloriando-se perante Antigone, uma mulher por quem acabara Jotas atribuia a si proprio e a seu pai-o mais ABRIL 1999 65, importante das accoes militares-”. Watando Alexandre como «um garoto que thes devia. a cles. o Wuulo de re Alexandr A execucao, em 327 a. C, do austero sofista Calistenes, sobrinho de Aristoteles ¢ historiografo oficial de Mexandre™, derivara tambem, de certa forma, da mesma oposi¢ao: recusou dar a Alexandre honras divinas, nao 0 adorando como todos os outros Macedonios ¢ Persas faziam e andava por toda a parte excessivamente orgulhoso. como se tivesse derrubado uma tirania-" levando os jovens (os pagens-) a procurarem no e a rodearem no de atencoes, por ter sido 0 tinico homem livre entre Lantos milhares" Ao recusar praticar a proskynesis a moda persa (saudacao de joethos). Calistenes, como macedonio, recusa um estatuto sobre-humano a Alexandre, " Naturalmente. Filotas fol, apés algumas hesitacoes de acusado de conspiracao, preso, interrogado, Lorturado ¢ executado"™, porque entendia a prosternacao a grega. isto 6 come adoracao, valor ausente da mentalidade persa, que a concebia como sinal de fidelidade. Como acto de saudacao e de reverencia, nao suscitava qualquer ope estavam habittados a este gesto do cerimonial aqueménida, considerando-o, por isso, perfeitamente natural. Numa palavra, a proskynesis correspondia a sua sicao nos subditos persas concepcao mistica de realeza. Fora, alias, a obediencia dos seus novos stibditos, de acordo com o sett habito (radicional, que Alexandre visava com a adopgao da proskynesis Os problemas vinham efectivamente dos Macedonios: a pros kynesis, associada ao trono que Alexandre colocava a um nivel mais clevado. 6 traje de aparato oriental que envergava mesmo em campanha™, a guarda persa (semelhante a dos Imortais de Dario IID ¢ 0 fausto oriental da sua corte, nao se configuravam ao seu modo de ser ¢ pensar. Lm contraste. os orientais chocavany se com a familiaridade com que os Macedonios tratavam Alexandre: um amigo. camarada de armas em todas as sittacoes. Alexandre teve, pois, que considerar os impulsos de liberdade dos europeus ¢ a grande importancia concebida pelos asiaticos as formas exteriores de exercicio do poder, ou seja. teve que conciliar as estruturas ideologicas greco-macedonicas com as persas™. Nao podia, por isso. dispensar da proskynesis nem os orientais seria incita los a rebeliao! desobediencia) Nem os europeus (seria discriminar no interior do seu Imperio duas categorias de subditos, com Lratamentos ¢ privilégios distintos). Alexandre Magno percebeu que nao bastava submeter militarmente as populacoes. anex: conhecer. comprecnder ¢ respeitar os costumes ¢ os valores espirituais de cada povo, de cada comunidade. De um lado Ginha stibditos habituados a verem na Monarquia absoluta uma instuicao de direito divine. Do outro si homens para quem o caracter horizontal das cidades helénicas os impedia aro Lerritorio ¢ impor a todos uma Tei uniforme. Era necessario (uavam se de compreender e aceitar a poderosa verticalidade as monarquias asiaticas"™, 06 DISCURSOS. LinGua, CULTURA E SOCIEDADE A lei helenica persistiu em muitos aspectos (regulamentos do exeército. administragao das provincias, unificacgao dos sistemas fiscal e monetario, outorga de instituicoes democraticas as cidades), mas no dominio das relagoes de poder entre soberano ¢ stibditos foram adoptados usos asiaticos™, Embora com oposigoes declaradas ¢ conflitos mais dramaticos, as concepgoes ¢ opcoes de Alexandre acabaram por prevalecer. De Opis a Susa ou da fusao das armas a fusao do: sangues No entanto, 0 principal foco de tensao ¢ de desentendimentos ~ que justifica Muito das reaccoes de Filotas, Clito e Calistenes, entre outros ~ mais do que o excessive comportamento orientalizado- do seu rei, era a incorporacao de estrangciros, barharos (persas ¢ indianos. designadamente), no exército ¢ na administracao. As indignacoes © as ragedias radicam, essencialmente, na orientalizacao- da comunidade ¢ na oposigao entre concepcoes ocidentais ¢ orientais™ Dos Macedonios, uns mantiveram se mais ou menos fiéis aos seus costumes de origem, conferinda ao nomos escrito ow consuetudinario macedonio uma observancia absoluita, enquanto outros foram mais favoraveis a aculturacao ¢ as formas aulicas da hasileia oriental de Alexandre. As divergencias abrangeram os veleranos ¢ os jovens macedonios (-pagens do rei, BactArZor maLdEs). as elites militares e os simples soldados!" Todos eram, no fundo, amigos intimos do rei". Todos eram, porem, tambem inimigos intimas do seu gosto pelos Barbaros. Para eles era uma humilhacao verem o seu rei ¢ senor. o seu camarada de Lantas lutas. condescender para com ‘gos, harbaros" Esta ideia perpassa no discurso de Calines quando, em Opis, na margem do os vencidos. Ademais, vencidos nao § Tigre™, em 324 a. C, ja No Caminho de regresso. os soldados macedonios se ressentiram da preferencia manifestada por Alexandre em relacao aos medos ¢ persas ¢ da predominancia que thes conferia 0s cargos de comando militar: enhor. 0 que aflige os Macedonios & saber que nomeaste alguns dos Persas tous Parentes. que estes se chamam assini a si proprios ¢ que thes 6 permitido dar-te 0 heljo, quando nenhum dos Macedonios da classe nao dirigente gozou ainda dessa honra-" Os Macedonios suportaram mal que os satrapas Persas Uivessem obtido 0 Utuo de companheiros ¢ que Alexandre passasse a Ler uma guarda (agema) macedonica ¢ outra persa™, Quando este Ihes anunciou que os veteranos ¢ os feridos podiam regressar a Macedonia, os soldades macedénios concluiram que o rei decidira dispensa los ¢ apoiar se nas Lropas orientais. AaRL 199967 Este era 0 dilema existencial quotidiano, continuo, para os Macedénios ¢ para © proprio Alexandre, em particular. Mas para o rei nao havia muitas opcoes: sahendo que o principal sustentaculo do Imperio era o exercito e que com o avanco das campanhas o elemento inicial, macedonio & grego. era minoritério, ou satisfazia a maioria dos seus subditos, incorporando alguns orientais na sua estrutura de poder, nomeadamente alistando os para cargos de comando militar, © era aceite ¢ considerado como soberano, ott contava exclusivamente com 0 sett punhado de Macedénios e, apesar do seu ja provado valor no campo de batalha, corria © risco de nao conseguir manter a unidade de um continente inteire. De dominador de facto (por forga da vitoria militar, do Para Richard Frye 6 mesmo © mais importante acontecimento da historia do Proximo Oriente: (Richard Frye, A heranga persa, Lisboa, Editora Arcadia, s.d., p. 175), * John Ferguson, A heranca do Helenismo, Lishoa, Editorial Verbo, 1973, p. 9. Cf. R. Frye. Oh. Cit. p.175 © C Mosse cA. Schnapp-Gourbeillon. Sintese de historia grega, Porto. Edicoes Asa, 1994, p dil, Como diz Pierre Levéque. o reinadlo de Alexandre changera la face de {Hellade et duu monde oriental (P. Leveque, Ob.Cit, p.339) © © Moss¢, A. Schnapp-Gourbeillon, Ob.Cit, pp. 7, 8. Demostenes (383-322 a. C), politico ateniense ¢ ardente patriota. orador por excelencia, foi um dos principais opositores ao dominio da Grecia pelos Macedonios (os barharos do Norte-, como thes chamava), nomeadamente por Filipe I, contra 0 qual pronunciow quatro Filipicas. Simboliza a oposicao antimacedénica, a defesa dos tradicionais ideais cemocraticos da polis, considerando a monarquia como sinonimo de tirana (CF Pierre Jouguet. fimperialisme macedonien et thellenisation de FOrient, Paris, Editions Albin Michel, 1972, p.79), Naturalmente, combateu a sua perda de inclependéncia face aos Macedonios (unit Atenas ¢ Tebas para a Batalha dle Queroneia, em 338 a. C)¢ a sta dissolucao na vastidao do grande imperto de Alexandre (mesmo em 323 a. C, apos a morte de Alexandre, continuow a falar em libertacao ea exortar aos Gregos a lutarem pela sua independencia defendendo a democracia ateniense como unico baluarte da liberdade). Durante © perioco helenistico, era um dos oradores que os alunos de Retorica tinham de imitar como modelo (Cf. Maria Helena da Rocha Pereira, Estudos de Historia da Cultura Classica. 1 Volume ~ Cultura Grega P ed, Lishoa, Fundacao Calouste Gulbenkian, 1993, p. 528), Um outro orador ateniense, contemporanco le Demostenes. Esquines, aderira a causa de Filipe Il ¢ dos Macedonios, fazendo parte do partido pro-monarquico, a que tambem pertencia Isocrates. Este ultimo. no seu discurso Filipe, civadlo de parrhelenismo antipersa. considera o rei da Macedonia defensor do helenismo, a grande esperanca de salvacao da Helade, o unico capaz de, pelas suas qualidades, autoridade. poder ¢ riqueza, alcancar a unidade, a concordia (homonota) helenica contra os Persas, convidando-a mesmo a proclamar-se chefe da Grecia (CF. José Ribeiro Ferreira, Hélade Helenos. Genese e evolucao de um conceit, Coimbra, INIC, 1992, pp. 491, 500-502, 517 € ss). > Cf Andre Bonnard, Civilizacao Grega. IH. De Euripides a Alexandria, Lisboa, Estudios Cor. 1972. p.207 © Nunca comecow uma batalha sem a ganhar, nunca cercow uma cidade sem a conquistar nunca entrou nui pais sen o submeter ao seu dominio: (Carl Grimberg, Historia Universal 3 Do apogeu cla Grecia Classica a civilizacao helenistica, Mem Martins, Publicacoes Europa-America. sd. p19) CER Frye, Ob Cit, p. 18L Anotese, porem, que muitos Gregos viam em Alexandre 0 arquitirano, 0 verdadeiro inimigo da democracia (Cf. Ibidem, p. 181) * Alexandre Magno figura no Corao. Alem disso, em todos os paises do Medio Oriente islamizaclo, Lornowse rapidamente uma figura mitica sob o nome de Ishkander, ao qual os contadores ¢ escritores populares atrihuem as mais fantasticas realizacoes, bem como qualidades guerreiras © humanas fora do comum (Cf. Pierre Briant, De la Gréce 4 TOrient Alexandre le Grand, Paris, Gallimard, 1987. p. 135). 0 livro biblico de I? Macabeus (escrito entre 135 63a, C) refere-se-Ihe tamhem da seguinte forma: “Acanteceu que. depois de se ter apaderado da Grecia, Alexandre, filho de Filipe da Macedonia, oriundo da terra de Kitin {Chipre e/ou Macedonial, derrotou tambem Dario. rei dos persas ¢ dos medos, ¢ reinou em seu lugar. Empreendeu inumeras guerras, apoderowse de muitas cidades ¢ matou varios reis da terra Atravessoua ate aos seus confins, apodlerou se das riquezas de varios povos ¢ a terra rendewse 72 DISCURSOS. Lincua, CuLTURA £ SOCIEDADE Ihe. Tornowse orgulhoso ¢ 0 seu coracao ensoherbeceuse. Reuniu poderosos exercitos. submeteu ao seu imperio regioes ¢ os reis pagaranrthe tributo, Finalmente, adocceu e viu que a morte se aproximava, Convocou, entao. os seus oficiais. as nobres da sua carte, que com ele s Uinham criado desde a sua juventude. ¢ ainda em vide. dividiu o imperio entre eles. Mexandre reinara doze anos. ¢ morreu. Ein seu lugar entraram a reinar os seus generals, os quals, depots da sua morte, cingiram o diadema, ¢, depois deles. as seus filhos durante muitos anos: ¢ multiplicaramse os males sobre a terra: Macabeus, 1. 110). ” C£.C. Mosse ¢ A. Schnapp-Gourbeillon, Ob.Cit. pp. 410, all ™ Dos biografos coevos, ha a destacar PLolomen (0 futuro senhor do Egipto ¢ fundador da dinastia Lagida, cuja historia das campanhas de Alexandre, de que foi testemunha presencial ¢.nalguns casos, protagonista, foi composta ja em idade avancada, quando Ja era rei clo Egipto). Calistenes (370-327 a. C; sobrinho - sem se saber, porem, em que gr Loteles, tutor de Alexandre na meninice ¢ cronista oficial das expedicoes de Alexandre. ate ao momento em que se incompatihilizaram), Nearco (comandante da frota de Alexandre no Indico. que escreveu um Periplo, em 312 a. C, mais tarde aproveitado por Arriano, Quinto Curcio ¢ Estrahdo), Anaximenes, Onesicrito, Policleta, Marsyas e¢ Aristobulo, todos, portanto. companheiros de Alexandre, As Efemerides Reais, diario da campanha, sob a supervisao de umenes de Cardia ¢ Diddoto de Eritras, foram também compostos por protagonistas «la propria expedicao. Tambem do sec IV a. C. 0 historiador grego Clitarco escreveu um relato, Sobre Alexandre (Peri Mlexandrou). concluido env Alexandria, sob 0 reinado de Plolomeu | Soter (no qual se viriam a inspirar Diodoro e Ouinto Curcio). Do séc. 1 da nossa era sao de cnumerar Quinto Curcio Rufo (Historiae Mexandri Magn! Macedonis) e Diodoro da Sicilia (Bibliothekel: dos seculos Fl Plutarco (46-120 dC: Vida de Alexandre) ¢ Flavio Arriano Xenofonte (95175 dC; Anabasis de Alexandre). 0 primeiro escrevewt em latim, enquanto os outros redigem as suas obras em grego. Tito (De Alexandris Magni fortuna aut virtute or. Fet 1 ¢, no sec II dC, um certo Justino ¢ o Pseudo-Calistenes (Vida de Mexandre) redigiram tambem obras em que integram episodios relativos a Alexandre Magno. Para muitos autores. Arriano ¢ 0 methor hidgrafo de Alexandre Magno, mas tambem a Historia de Mexandre de Plolomeu merece especial destaque. £ preciso notar que alguns destes escritos sobre a aventura de Alexandre sao posteriores, em pelo menos tres seculos, aos acontecimentos narrados. Sao claramente post eventum, com uma clara percepcao do desenrolar «la vida, da mitologia ¢ das criacoes dle Alexandre. A lenda criada em (orno da figura do conquistador depois da sta morte atravessa um pouco todos cles, de Diodoro ao Pscudo- Calistenes, passando por Arriano, Plutarco ¢ Quinto Curcio. Nao ohstante a consulta de fontes coevas dos acontecimentos (documentos da chancelaria real ou relatos de companheiros do rel) Lais narracoes cecdem lugar de destaque a mitologia criada em redor da singularidade da figura do grande conquistador (Cf, Pierre Briant, Ob.Cit, pp. 38.39 ¢ CF.C. Mosse ¢ A. Schnapp Gourheillon, Ob Cit. p. 402) " Como dizia Ulrich Willcken, ¢ (.) um dos mais espinhosos problemas da historiogratia universal o da exacta apreensao da personalidad de Alexandre. Ninguem podera ser presuncoso bastante para se julgar na posse da verdadeira imagem do heroi. Mas procurar aproximar-se dessa imagem ~ at esta uma tarefa positivamente fascinante- (in BenoistMéchin, Alexandre Magno (356-323 antes de Cristo} Porto, Lello & Irmaos Editores. 1980. p. V) » 0 Batalhao Sagrado- tebano © completamente dizimado ¢ os Atenienses perdem 1000 homens ¢ véem 2000 serem feitos prisioneiros. The battle of Chaeronea (..) marks one of the decisive moments of greek history- (Charles Freeman. Egypt. Greece and Rome. Civilizations of the Ancient Mediterranean. Oxford, Oxford University Press, 1996. p. 257), ou, dito de outra forma, «\ Batalha de Queronela marca o fim de uma epoca: (lean Hatzeld, Historia da Grecia antiga, Meny Martins, Publicagoes Curopa:America, 1977, p. 250). Esta derrota dos Atenienses ¢ Aan 1999/3 Tehanos representa. com efeito. a derrota do Estado Urbano, como organismo politico, face ao Estado Rural ¢ foi o prekudio la dominacae macedonica da Grecia, dum nove mundo que surgia ©. se quisermos, da propria conquista da Persia. Foi na sua sequencia que, em 337 a. C. a Confederacao Helenica de Corinto concedeu os poderes hegemonicos a Filipe (hegemon e strategos atitokrator) ¢, dois anos mais tarde, a Alexandre Magno. A cruzada pan-helenica contra 05 Persas, iniciada por Filipe ¢ continuada por Alexandre, foi proclamada precisamente na cidade de Queroneia. A utuilo de curiosidade. refira-se que o ensaista grego e bidgrafo de Alexandre, Plutarco, era natural de Queroneia. ‘A morte de Filipe I] ¢ um misterio, pois nao ¢ possivel determinar se se tratou de um assassinato politico (levaclo a efeito pela instigacao de Olimpiade e/ou Alexandre ¢ de outros membros da nobreza macedonica) ou de uma vinganca de Pausanias, membro da guarda pessoal do rei, por uma qualquer afronta pessoal (Cf Atistoteles, Politica, 111 b e Plutarco, 10. Cf. tambem J.Hatzeld, Ob.Cit, p. 252; Pedro Saez Fernandez, -£] ascenso y la unificacion de Grecia: in Alejandro Magno, Cuadernos Historia 16, n° 31, Madrid, Informacion y Revistas S.A, 1985, p.1)). © Foi Alexandre quem conduziu, em Aigal, uma das antigas capitais da Macedénia (onde cram tradicionalmente inumados os reis dla dinastia argeada e os principes e princesas reals). as corimonias funebres em honra de sew pal, © que. para os Macedénicos, era um indubitavel stmbolo dle sucessao ¢ continuidade dinastica (CF. Diodoro cla Sicilia, XVI, 2, Le P. Briant, Ob. Cit P.20.166.¢ 167) * Ha autores que nao advogam inteiramente a tese do sentimento nacional grego, por vinganca, considerando que a ideia de uma eruzada contra a Pérsia nao era muito popular no mundo helenico. Preferem ver os conflites entre Filipe Il ¢ os Persas sob o prisma do perigo ¢ lo incomodo que a Persia desempenhava para a efectiva hegemonia macedonia e que, por Isso, era preciso atalhar definitivamente (CE. J. Hatzeld, Ob Cit, pp. 251.252) CFP. Briant, ObCit, pp. B.5 e 23. © Plutarco justifica esta sublevagao generalizada cla seguinte forme: ¢.) herdou um reino cercado por todos os ladlos de grandes invejas. de odios terrivets @ de perigos. ¢ nao so porque as nacoes barbaras (.) nao suportavam ser governadas senao por wn rei autoctone. mas tambem porque Filipe (..) Unha simplesmente deixado todas as coisas, por inexperiéncia, num estado de desorilem e confusao geral- (Plutarco, 3). Aloxanulre executa Amintas, sobrinho de Filipe, ¢ Olimpiade elimina 0 recen-nascico filho de Cleopatra e de Filipe I CE AR. Burn, As clades rivais da Grecia. Das origens a conquista romana, Lishoa, Editortal Verbo. 1972, pp. 2122 » Foram vendidos -trinta mil- (Cf. Plutarco, 11). Fol durante esta campanha que ocorreu © famoso episodio dle Timocleia, a valorosa ¢ aguerrida tebana que ousou enfrentar Alexandre Cinulher de dignidade o de esprrito ndo menos clevado, que nao revelava 0 menor sinal de medo ou de espanto- ~ Ibidem, 12), sendo por este poupada, juntamente com seus filhos (Cf thidter, 12) > Cf P. Leveque, Empire d’Alexandre et empires hellenistiques- in Le concept dempire. Dir, Maurice Duverger, Paris, PLUF, 1980, p. 106, Para Alexandre, como depois para os seus diadocos, a unica legitinaidade valida provinha da forca das armas, da vitoria militar (CE. Ibidem. p.119) 2 As perdlas do lado persa foram de 20.000 pedes ¢ 2.500 cavaleiros, enquanto do lado macedonio apenas se registaram 34 baixas (9 infantes ¢ 25 cavaleiros) ~ CF. Plutarco, 16. Relatos lendarios referem 100.000 mortos do lado persa, para apenas 500 Macedonios. Trata-se seguramente de uma desproporcao exagerada, mas sugere a magnitude da vitoria macedonica (Cf. Charles Freeman, Ob. Cit, p. 264). Na sequencia da fuga de Dario II] apés Isso, Alexandre ficou com a mulher deste, Estatira (considerada a amais bela de todas as Rainhas« Plutarco, 21), tres de suas filhas, sta mae, Sisigamhis, 0 scu filho herdeiro @ seu harém como 74 DISCURSOS. LinGUA, CULTURA € SOCIEDADE refens .. preciosos refens acrescente se E por esta ocasiao que. face a beleza das orientais dlelicadamente alirmou que as mulheres persas eram um tormento para os olhos- (Ihidem, 20. No entanto. teve um respeituoso tratamento para com todas as cativas, facto que. segundo os seus biografos o proprio Dario Ill elogiaria. considerando que Mexandre era o unico mortal dligno de The tomar o poder (CE. Arriano, IV. 19,20. pp. 52.53 CF. Phutarco, 20). Com Dario Ill foram Lambe arrastados em fuga as suas (ropas fiels ¢ a fina flor da nobreza persa: Nabarzano, Atropates da Media, Autofradates da Tapuria, Fratafernes da Hireania e da Partia, Satiharzano da Aria, Barsaentes da Aracosia ¢ da Drangiana, Beso da Bactriana ¢ 3000 outros cavaleiros {CL Benoist Mechint. Ob. Cit. pl + Sabemios a data exacta do combate na meseta de Gatygamrela (Tell Gomel a cerca de 35 noroeste de Mosul perto de Ninive! porque as fontes dizenynos que Il dias antes (noite de 2 para 21 de Setembro de 31a.) teve lugar unm eclipse lunar (Plutarco, 3: Ariane. TL, 7, p.273: Quinto Curcto Rufo. IV. 7. pp. 185. 180) > Ena sequencia da fuga de Dario Hil para Lebatana, depois dle Gaugamela, que Alexandre ¢ proclamado rei da Asia, protector da religiao e das tradicoes indigenas. Depois do assassinato de Dario HI pelo satrapa da Bactriana Besso. em 330 a. C. proclamowse sucessor dos Aquemenidas Os que © nao reconhecessem como tal eram atttomaticamente considerados rebeldes Dat que muitos notaveis persas se the tivessem associado (CER Frye, Ob. Cit. p.178). % Uma muralha movel de que cada elefante era uma torre- (CE Benoist-Mechin, Ob. Cit. P99}. Os soldados de infantaria ¢ a eficacia da cavalaria ficaram um pouco manietados pela presenca dos paquidermes. mas estes, por sta vez, entravaran e reduziran a mobilidade tactica do exercito indiano. Em consequencia. 20.000 indianos foram mortos. incluindo, entre eles, 0 segundo filho do rei Poro. 0 rei septuayenario, detentor das terras entre o Hidlaspes e 0 Acesine: que. depois, se Cornaria um fie! aliado de Alesandre. vit ainila mortos todos os seus comandantes de cavalaria ¢ de infantaria, os seus condutores de carros ¢ os naires os condutores de clefantes (Cf Arriano, V, 619 ¢ Quinto Curcio VIB) Ena sequencia da Batatha de Hidaspes que Alexandr funda as cidaces de Bucefalia (em memoria do seu cavalo Bucefalo, morte em combate) ¢ de Niceia, em evocacao do triunfo (CF Benois’ Mechin, Ob. Cit. pp. 100-100). campanha da tndia (G27 325.4. C1 0 pats dos cinco rigs» (as regioes que rodeavan o Indo), fora encetada para atingir as extremidades sul ¢ este do mundo habitade com um objectivo de dominacae mundial, Alexandre consiclerava que ao atingir © Oceano onde o Ganges desaguava chegava ao fim da Asia ¢ do mundo. Tratava'se, assim, de descobrir um mundo novo, um mundo desconhecido. Para exaltar as vitorias de Alexandre na India os seus sucessores representaranrno frequentemente. por exemplo. em moedas coraado com as presas de um elefante (Cf. P. Briant, Ob. Cit, p.104). Antes de deixar ay margens dlo Hifaso, Alexanilre Magno erigit 2 grandes altares aos 22 grandes deuses olimpicos. em forma de torres, para assinalar © ponto mais distante onde haviam chegado as forcas curopeias e para agradecer avs deuses a proteccao que haviam manifestado e que havia permitide o seu avance ate (ae longinquo local. ” Nunca ate entao semethante catastrofe se abatera sobre uma cidade grega- {C. Grimberg, Ob. Cit. p 108}. 0 saque de Tehas foi sentido pelo conjunto dos Gregos como um crime abominavel, um atentado contra a sua civilizacao- (A. Bonnard, Ob. Cit. p 183) * A espedicao contava apenas com 160 trieras: 1 Inferiorité de sa flotte etait sans doute le plus grand danger qui menacail Alesandre- (CEP Jouguet, Ob. Cit. p.90) CLC Freeman, Ob. Cit. p. 262 0 Lermo persia v. por vezes, muito amhiguo e gerador de multiplas interpretacoes. Serve, com frequencia, para designar o que hoje chamamios Irao, mas fambem usado para designar a propria regiaa que deu o seu nome ao Irao antigo. isto & a provincia da Persia, outrora designaca por Persida (Cf. Clarisse Herrenschmidt, Lemmpire perse achemenide- in Le concept dempire pp 98 nota 1?) ABRIL 199975 A cidade de Efeso, a mais rica ¢ celebre das cidades da Asia Menor, tinha muitos pontos de contacto entre as civilizacoes grega ¢ persa. Relembremos a lendaria relacao entre 0 nasci mento de Alexandre € 0 incendio no templo de Artemis em Ffeso (CEP. Briant, Ob. Cit, p.44) \ resistencia de Mileta respondeu Alexandre com uma desenfreada chacina dos seus soldados pelas ruas da cidacle ® Halicarnasso ofereceu uma tenaz resistencia, organizada por Memnon cle Rocles, um dos matores opositores iniciais de Alexandre, a quem Dario Il confiara 9 comando supremo do Ocidente que viria a morrer as portas de Mitilene. A cidade seria, porem, arrasada ea sta populacao chacinada ou -transferida © Em diversas das cidades dibertadas- pelo rei maceconico dos tributos pagos a Persia (ex. Ffeso. Priene, Mileto, Megara, etc) assistitese a implantacao de regimes democraticos em substituicao dos tiranos representantes do Grande Ret dos Persas. Os Gregos respiravam cle novo 0 ar da liherdade helenica (Cf. C Mosse, A. Schnapp-Gourbeillon, Ob Cit, p. 404; R Frye, Ob. Cit p. 181 eC. Grimberg, Ob. Cit. p.170), Muitas cidades celehraram a liberdade readquirida cunhando moeda dle bronze propria (Cf. JM. Cook, Os Gregos. Na Jonia ¢ no Oriente, Lishoa, Editorial Verbo, 1922p 172) As cidades fercias haviam prosperado sob o dominio persa que thes tinha permitido uma auténtica autonomia (CF. P. Jouguet, Ob. Cit, p. 39), Na Fenteia, Alexandre Magno conquista as cidades de Biblos, Sidon ¢ Tivo. 4 importante cidade independente de Tiro era, na epoca. © principal centro comercial do mundo mediterranico ¢ detinha uma importancia capital como ponto cle apoio da frota persa. A sua capitulacdo perante Alexandre, um dos seus maiores éxitos militares, representowto fim do poder do imperio persa no Mediterraneo. Foi preciso um cerco de 7 meses (Jan-Ago. de 332 a. C) para que a grande metropole abdicasse da sua atitude de neutralidade ¢ se rendesse. 8000 trios foram mortos ¢ 30.000 capturados e vendidos como escravos. A cidade nunca mais recuperaria a sua antiga gloria. ® Na Palestina, a mais importante cidade, Gaza, teve no eunuico negro Batis, governaclor a0 servico de Dario Il, 0 responsavel pela resistencia ao mvasor macedonio. Apos 2 meses de ferreo cerco, a cidade foi conquistada, os homens chacinados ¢ as mulheres e criancas vendidas como escravas. Como Tiro, Gaza tornou-se uma praca forte macedonica (CF. A. Bonnard, Ob. Cit pp 188,189) "Em varios lugares. o rei macedonico restatira antigos santuarios, consagra outros novos, inaugura jogos, conduz procissoes e restitui a muitos tradicionais privilégios entretanto perdidos (Cf. tbidem, 2.184) ¥ 0 Lgipto, que se considerava uma nacao oprimida pelos Persas desde a ocupacao em 525 a. C. por Camhises, nao ofereceu qualquer resistencia 4 entrada de Alexandre, que foi recebido como um salvador. um libertador. Fol com alegria e alivio que os Egipcios saudaram os Macedonios. 0 satrapa (em persa, -protector do poder-) Mazakes, estacionado no Egipto, a exemplo dos seus pares responsavel pelas ropas provinciais permanentes ¢ de numerosas Cidadelas ¢ guarnicoes, cedeut, sem uta, a Alexandre wm Lesouro de 800 talentos (CF. P. Briant Ob. Cit. p.27,29 eR. Frye, Ob. Cit, p.150). ® Alexandre fundou cerca de 70 cidades. Muitas receberam tambem 0 nome de Alexandria, mas a do Egiplo, Alexandria ad Aegyptum, a mais celebre de todas, fol a tinica que sobreviveu ¢ cresceu. Ha, porem. quem considere um exagero o ntimero de 70 cidades e considere apenas 34 04135. 16 4117 delas com o nome de Alexandria. (CE... Bonnard, Ob- Cit, p.192.¢C.M, Bowra, Grecia Classica, Rio de Janeiro. Livraria Jose Olympio, 1965, p. 168:.J. M. Cook, Ob. Cit.. p.161 e M. de Durand, Ob Cit. p. 180), A primeira a ser fundada fot a de Isso, junto da actual Iskenderum, logo apos a Batalha de Isso. A do Egipto. gizada pelo arquitecto Dinderates de Rodes, na area da antiga localidade de Rakotis, com unr plano de ruas ortogonais, como quase todas as cidacles gregas, com 0 mar como principal elemento da paisagem, quase de imediato tomou o lugar de Tiro 76 DISCURSOS. LinGua, CULTURA € SOCIEDADE como maior centro comercial da regian, entbora estivesse Lamben dotada de importante papel estrategico, sob 0 ponto de vista militar Quando Alexandre morreu, cerca de 9 anos depois de ter ordenailo a fundacao da cidade, esta ainda mal comecara a surgir do solo, Seria Plolomeu | Soter vem presidiria ao seu crescimentoe Ihe conteriria 0 seu estilo. Com o passar do tempo. a cidade fornow se a primeira cidade cosmopolita. internacional, atraindo Gregos ¢ Persas. Macedonios ¢ Judeus, Indianos e¢ Africanos. Sitios © Anatolios. Mesopotamicos ¢ Gauleses. a

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