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a Copyright © 2013 dos Organiza Todos os direitos desta ed Euitora Contexto diton Prete oi! Foto de eapa Jaime Pinsky Montagem de capa e diagramagaon Gustavo S. Vilas Boas Proparacio de textos Danicla Marini Iwamoto Revisio Ana Paula Luccisano Dados Internacionais de Catalogagao na Publicasio (cir) (Camara Brasileira do Livro, sr, Brasil) Semintica, semanticas : uma introdugio / organizadores Celso Ferrarczi Junior ¢ Renato Basso. ~ Sao Paulo : Contexto, 2013. Varios autores. Bibliografia. ISBN 978-85-7244-801-7 1. Lingufstica 2. Seméntica 1, Ferrarezi Junior, Celso. Il. Basso, Renato. 13-05037 CDD-401.43 Indices para catélogo sistemitico: 1. Estudos seminticos : Linguistica 401.43 2, Semantica : Estudos 401.43 TprtoKa Contest Dinetor eshivuriah: fame Perwky Rua De. Jose Plias, 920 = Alo da bays 05085-030 - Sio Paso 9” wana: (11) 3852 5858 contentectedhtoraconte nto canbe wea weditoraconresto.com-br Semantica Argumentativa Leci Borges Barbisan O que é Semantica Argumentativa? Para encontramos uma resposta a essa pergunta, € necessaria a expli- citagdo da origem filos6fica da teoria. ‘ASemantica Argumentativa foi criada na Franga, na Ecole des Hautes Etudes en Sciences de Paris por Oswald Ducrot, inicialmente em conjunto com Jean-Claude Anscombre, ¢ continuada atualmente por Ducrot com a colaboragao de Marion Carel, no mesmo centro de pesquisas francés. Em um capitulo do livro intitulado Nouveaux regards sur Saussure (2006), Oswald Ducrot, profundo conhecedor da filosofia classica, relata como, a0 ler, quando jovem, 0 Curso de linguistica geral de Ferdinand de Saussure, encontrou, no capitulo que trata do valor linguistico, a fundamentagao que o langou na pesquisa linguistica que hoje conhecemos pelo nome de Semntica Argumentativa. Mas que relacio entre a nogio de valor, proposta por Saussure para explicar a linguagem, e a filosofia classica Ducrot pode ter encontrado? A resposta a essa pergunta é apresentada com muita clareza no “Prefacio” ao livro de Carlos Vogt, intitulado O intervalo semdantico (2009). Nesse texto, Ducrot busca a origem filoséfica de valor linguistico na teoria da alteridade apresentada em O sofista, em que Platdo trata das categorias fundamentais. da realidade: 0 Movimento, 0 Repouso, 0 Mesmo ¢ 0 Ser, ds quais é acres- centada uma quinta categoria: 0 Outro, tido como o fundamento de todas. as categorias. O Movimento, por exemplo, é 0 que ele é porque é outro, diferente, se comparado as demais categortas. Platdo entende, assim, que, na realidade, tudo s6 se especifica quando relacionado com 0 outro. No | nc a 20. Seméntica, semanticas capitulo sobre o valor linguistico, Saussure traz para o estudo da que Plato disse em sua teoria da alteridade. Mas 0 que é valor linguistico para Saussure? No capitulo q valor, Saussure mostra que, ao se estudar a linguagem, pere nada ¢ isolado, O signo, constituido de duas faces relacionad: inseparaveis, 0 significante e 0 significado, é, também ele, telacionady outros signos. Porque faz parte de um sistema, 0 signo s6 tem sentido se fj ; determinado por relagées paradigmiticas ¢ sintagmaticas com outros, nos. As relagdes paradigmiaticas so relagdes associativas; as intagmaticas so combinagées que se produzem em grupos de signos. O valor linguistico resulta da presenga de outros signos, tanto no eixo paradigmatico quanto no sintagmatico. Por isso, da nogio de relagao decorre a nogao de valor Outros dois conceitos saussurianos sio necessarios para compreendermos 0 que é a Semantica Argumentativa: os de lingua e de fala. A lingua ¢ um conjunto de convengées, é “um tesouro depositado pela pratica da fala em todos os individuos pertencentes 4 mesma comunidade” (Saussure, 2000: 21), E de natureza social. Jé a fala é individual. Ao empregar a lingua, aquele que fala, ou escreve, realiza combinagGes para expressar seu pensamento. Essas combinacées determinam os valores definidos “nao positivamente pelo seu contetido, mas negativamente por suas relacdes com outros termos do sistema” (Saussure, 2000: 136). A S@manticalArgumentativa assume como sua fundamentagao filosi- Gita HORAOMeAMeFIdade concebida por PIAA, CAZidApara o estudo da linguagem@porSaussure) Mas, diferentemente do Saussure do Curso de linguistica geral, que se ocupa essencialmente da lingua, embora nio negue a importancia da fala — 0 que é confirmado na “Nota sobre 0 diseurso” um dos manuscritos saussurianos que compdem a obra Escritos de linguists : geral i ~ -enunciados, entre discursos, entre locutor ¢ alocutirto ve aa tin Do ponto de vista semantico, a Teoria da Argumentay Postula que a fHlAVEaNEORIEM, na lingua, wma 5 _certas continuagdes no enunciado ¢ impede outras. Na medida em que 3 as, umgsentide que surge ¢ . ns refi eat 2009, encontla tuip No “Preficio” 0 por Ducrot em mos a afirmagao de que afunigaomfi nl da li je linia g Me trata do ebe-se qi as entre si, assilS ess Seméntica Argumentativa 21 wsidide 9. eee onde o locutor €ncontra 0 outro, seu interlocutor. Entio, quando um locutor produz discurso, est expressando seu pensamento por meio de enunciados, e levando seu alocutario a d. decorréncia, mesmo, jar-Ihe uma resposta. Em -estabelece entre ele e 0 outro: a realidade linguistica é sempre opositiva. Em vista disso, a A -somtimagig, Assim, Esté inscrita na lingua, € inerente a ela, @Stalinalpropriainaturezaaalingwap Essa é a razdo pela qual a Semantica Argumentativa é também denominada Teoria da Argumenta¢ao na Lingua. O que a SemG@ntica Argumentativa estuda? A Semantica Argumentativa ou Teoria da Argumentacao na Lingua cstuda oggentidorconstruiconpelosiinguistica. F, por isso, uma Semdntica Linguistica. Pretende mostrar que é possivel@xplicarOlsignificadonMd® iieoy ou seja, sem fazer intervir um. dominio diferente do dominio da lingua. Nao se trata, pois, de estudar a telagfio entre o sentido de uma palavra e a informacao que a palavra da sobre a realidade extralinguistica, nem sobre uma realidade psicoldgica, nem sobre condigdes de verdade. tros. A razio da escolha, segundo Ducrot, esté no fato de que esses dois Em sintese, é do modo de explicar o sentido essencialmente pela nogao de relac&o que decorrem 0 objeto de estudo e as caracteristicas da teoria: a de ser uma semintica, porque vai em busca da explicagao do sentido; 22 Semintica, semanticas ade ser uma semintica linguistica, porque explica o sentido Construic, pela relagio entre palavras, enunciados, discursos; a de ser uma semantic, Unguistica do discurso, isto é, do emprego da lingua, nao da Palavra oy da frase isoladas; a de ser uma tvoria explicativa do sentido do discurso, sempre olhando a linguagem a partir das bases epistemolégicas Que a sustentam Como estudar um fenémeno usando a Seméntica Argumentativa? Para explicar fenémenos da linguagem, focalizando o sentido Produzido no discurso, a teoria cria, a partir de suas bases, conceitos preliminares tais como os de REOED,. oO é entendido como (Gapirase) Isso significa que o' a lé ou se ouve. Ja > éun construida pelo linguista Para explicar os enunciados. Nao se pode ler nem ouvir frases._A lingua é um conjunto de frases. O discurso é composto de enunciados, constituidos Por dois segmentos relacionados, em que 0 primeiro s6 adquire sentido a partir do segundo, isto é, 0 primeiro segmento nao é compreensivel se ndo for relacionado a0 segundo e vi e-versa. Sdo exemplos: * Estou cansado (segmento 1), entéo (conector) vou descansar (segmento 2). * Estou cansado (segmento 1), mas (conector) nao vou descansar (segmento 2). Do ponto de vista semantico, a frase, como entidade terica, tem signifi- cago, e o enunciado, entidade empirica, realizagao da frase, tem sentido. Se © enunciado é a realizacao da frase, ento frase e enunciado sio inseparaveis. Sao também insepardveis a significagao da frase e o sentido do enunciado. Logo, o sentido é produzido pelo linguistico, o que reitera a afirmagao de que o sentido nao decorre de fatores externos linguagem. A significagae de _uma entidade lexi: 1 ¢ a orientagao_que ela di ao d iscurso, tornando ivel determinada continuagiio. Entendemo im, que, ‘ém uma significagao, mas que e: (0 oferece. x igdes de combinagao, no eixo sintagmatico, com outras que.a continuam para pr ntido no discurso, Ea entidade lexical_ Seméntica Argumentativa, 23 quer outra, par L euFsO, cntendido, este, como uma sequencia de enungiadosaDucrot explica esse fato tomando, relembramos, o conceito de alteric Jade de Platdo, assumido como valor por Saussure, Jogo, por relagdes, tanto paradigmaticas quanto sintagmaticas. Por isso, importante frisar que@SieOnniniiagoespernilidas podem ser mais de uma, cmboralia@scjaqqualqueriina Isso quer dizer que: uma_continuagao, deixou de escolher, paracdigmaticamente. outras, € que o sentido de uma entidade. lexical no discurso depende da relagio, dente, aquelasquesdopossiveisyeriadapeloylocutor. O sentido pode ser totalmente distinto da significag4o que a entidade lexical tem, se tomada isoladamente. Entio, sigitificagioma: frase e sentido no enunciado sao distintos Da_orientacdo det aupelassignificaga® resultam GASUGOS) ou seja, regras que expressam as ibilidades ou impossibilidades de in- terpretagao dos enunciados do discurso. Assim, em um enunciado como: * Pedro estuda, por isso é bom. aluno (ou tem boas notas, ou é bom professor etc.), “@stidaorientaparamais de uma ¢gontinuagaopositivabom;’). Por outro Jado, impede continuacdes negativas (“mau”, “ruim”), como em: isso é aluno (ou tem _notas ruins, ou € + *Pedro estuda, por mau professor). A orientagao da conta também dos efeitos subjetivos e intersubjetivos WsleAunciadd, resultado da unio dos aspectos subjetivo e intersubjetivo, quer dizeredaprelagdosentreslocutomealocutariogo que trialalSemantica Argumentativa uma teoria da enunciagao. Isso € facilmente compreens vel quando lemos em Ducrot (1990: 14) que “falar é construir e tratar de impor aos outros uma espécie de apreensio argumentativa da realidade”. afirmagado, queqexerciciodastinguagemasexd elocutoreomlocutirio. Ao se enunciar, falando ou escrevendo, o locutor produz combinagoes proprias, dentre aquelas que a frase permite. Ou scja, 0 locutor argumenta sobre a realidade ao estabelecer Continuagdes, o que indica, mais uma vez, que O sentido assim produzido nao é representative da realida¢ fo locutor, ao escolher combinagdes linguisticas, que atribui sentido a realidade. I! 0 seu “olhar” sobre a reali- dade ESSEEHTIUD, entendido desse modo, eSPSrUMATeontiNNgIOpUMa TSPOSAMOAISEULAAY, Temos, assim, mais uma vez, a alteridade de Platdo, t20 bem compreendida por Saussure, vista agora no nivel dos enunciados. Entendemos, com e: tre dois seres de fal 24 Seméntica, semanticas Como teoria enunciativa, on sn: ee axioma da unicidade do sujtto falante criando a gundo a qual Fm 1, Se~ @eM. Segundo Ducrot Ducrot, 1990: 20)

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