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III MOSTRA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

SEMANA NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA


“Bioeconomia: diversidades e riqueza para o desenvolvimento sustentável”

DESAFIOS NA EDUCAÇÃO DE ALUNOS SURDOS NO ENSINO REGULAR NA


ESCOLA ESTADUAL ALDINAR GONÇALVES DE CARVALHO DE
ARAGUATINS-TO.

Área do conhecimento: Ciências Humanas - Pedagogia


Área temática: Avaliação e políticas pública em Educação, estudo na região da Amazônia Legal

Juno Brasil Custódio de Souza1


Patricia Nobre Silva²

1. Professor especialista de Letras/Libras dos Campus Augustinópolis/Araguatins da Universidade


Estadual do Tocantins/UNITINS e mestrando do PPGCULT-UFT. E-mail: juno.bc@unitins.br.
2. Acadêmica do curso de Pedagogia do Campus de Araguatins da Universidade Estadual do
Tocantins/UNITINS. E-mail: patynobresilva07@gmail.com.

Resumo

Este trabalho tem como proposta avaliar e refletir sobre os desafios nas políticas pública da
educação dos surdos no ensino fundamental regular no município de Araguatins-To. Diante
dessa proposição realizou-se este trabalho por meio de estudos bibliográficos e uma pesquisa
de campo, na Escola Estadual Aldinar Gonçalves de Carvalho, situada no extremo-norte do
estado do Tocantins, município de Araguatins, conhecido como “Bico do Papagaio”, Portal de
entrada da Amazônia Legal. Para estudarmos o tema proposto, realizamos uma pesquisa com
abordagem qualitativa, por meio da produção de dados, através da técnica de documentação
direta, com pesquisa bibliográfica e de campo, por meio de entrevistas com um questionário
semiestruturado. Embora, a escola que é o objeto deste estudo, seja qualificada como escola
inclusiva, com salas de recursos tecnológicos e estrutura física para a educação inclusiva,
percebemos como grande desafio, a ausência de integração e comunicação dos alunos surdos
com a equipe institucional, inclusive com os professores e com os colegas ouvintes. O que os
remete a um processo de segregação escolar, onde o fator principal de comunicação entre eles
fica truncado.

Palavras-chave: Alunos surdos. Educação inclusiva. Integração.

1 INTRODUÇÃO

A luta da comunidade surda pelo direito à valorização multicultural e à educação


bilíngue é um processo que ocorre há séculos. No Brasil esse processo tem se avançado, com
instrumentos e legislação que beneficiam aos surdos o direito à educação inclusiva. É
perceptível que houve vários progressos nas reivindicações dos surdos pelo direito à inclusão
social, no que se refere à legislação brasileira, como no artigo 208, inciso III, da CF/88, que
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institui como dever do Estado, que a educação seja efetivada com atendimento educacional
especializado aos portadores de deficiência, propensa no ensino comum, com os princípios
universais de igualdade, acesso e permanência de aprender e ensinar (BRASIL, 1988). Com
decretos, que reconhecem a Língua Brasileira de Sinais-Libras como língua oficial brasileira e
instituem aos surdos, o direito à educação bilíngue nas escolas. Entretanto, conforme Souza et
al (p.10, 2007), essa legislação nos solicita “profundas reflexões sobre conceitos que permeiam
o ato educativo e as práticas escolares para surdos (...)”. Ou seja, é preciso discutir melhor
acerca das polêmicas e divergências na área da educação dos surdos, que os têm levado à
segregação escolar.
O que para Arroyo (2013), as políticas públicas da inclusão social brasileira estão muito
aquém de sua concretização, devido à fragmentação dos poderes entre os entes federados, com
dissensões na maioria dos municípios brasileiros. O que nos impulsiona à questão: Como se
manifestam as políticas pública de inclusão escolar dos surdos no ensino fundamental regular?
Diante dessa problemática em questão, procuramos realizar este estudo para avaliar e
refletir sobre as políticas pública nas práticas educativas de inclusão dos alunos surdos na
Escola Estadual Aldinar Gonçalves de Carvalho, localizada no município de Araguatins-To.

2 METODOLOGIA

O presente estudo se vivifica como uma pesquisa de abordagem qualitativa, realizada


em setembro e outubro de 2019, com técnicas bibliográficas e pesquisa de campo, com foco
acerca do processo de políticas públicas, desafios e a aplicação de Libras na educação inclusiva
de surdos no ensino fundamental regular da Escola Estadual Aldinar Gonçalves de Carvalho,
em Araguatins-To.
A produção de dados foi realizada através da aplicação de entrevistas, com questionários
semiestruturados, sobre as políticas públicas da prática da educação inclusiva no município de
Araguatins-To, com profissionais da educação, que aqui tiveram seus nomes substituídos por
letras, seguidas de números para preservar suas identidades, sendo uma professora, P-1 e uma
intérprete de Libras I-1, onde foi selecionada a Escola Estadual Aldinar Gonçalves de Carvalho,
de ensino fundamental regular, pelo critério de ser uma escola considerada inclusiva, com sala
de recursos tecnológicos e toda sinalizada em libras, inclusive com um grande cartaz do alfabeto
e números datilológicos na entrada da escola, e por estudarem dois alunos surdos, que aqui
serão denominados de A-1, com 19 anos de idade e A-2, com 17 anos de idade, ambos alunos
do 9º ano do ensino fundamental regular.
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A análise e discussão dos dados produzidos foram tratados por meio da junção das
respostas dos entrevistados, com os referenciais teóricos como: (BRASIL, 2005); Mantoan
(2003) e Souza et al (2007), com questões contemplando as seguintes variáveis de interesses:
perfis, formação profissional e práticas didáticas na educação de surdos em sala de aula e causas
dos desafios na educação inclusiva no ensino regular.

3 RESULTADO E ANÁLISE DE DADOS

P-1 - A professora P-1, não quis revelar sua idade, tem formação em licenciatura de História,
atua há10 anos no magistério, dos quais 4 anos lecionando para os alunos surdos, A-1 e A-2.
Ela não possui formação em Libras, mas se disse tranquila em relação aos alunos surdos e que
acha normal seu trabalho com eles em sala de aula, porque tem intérprete.
Quanto ao desenvolvimento desses alunos, salienta que a evolução dos mesmos na
aprendizagem é fraca, mas que ela se esforça para tentar passar o conteúdo a eles, que é seu
maior desafio, mesmo com a presença da intérprete na sala de aula.
I-1 - A intérprete de Libras I-1, tem 25 anos de idade, sua formação profissional é a de técnica
em Libras e atua como intérprete de Libras apenas há 1 ano, na Escola Aldinar Gonçalves de
Carvalho, na qual atuou antes como voluntária, o que a tranquilizou quando passou a operar
como intérprete de A-1 e A-2.
Segundo I-1, as práticas educativas dos alunos surdos em sala de aula ocorrem mais por
meio do alfabeto datilológico, sendo que o A-1 é mais avançado, pois A-2 ainda está em fase
de alfabetização, mas que ambos não conheciam a Libras. E agora que estão aprendendo, o que
dificulta muito o seu trabalho. Acrescenta que, embora, eles estejam cursando o 9º ano do
ensino fundamental, mas seus desenvolvimentos equivalem ao do 4º ano.
I-1 reforça que isso ocorre por vários fatores, entre eles, por não terem sido alfabetizados
quando crianças com a língua materna, Libras. E outro fator, aponta que é a falta de interesse
dos professores, pois nenhum possui formação em Libras e não têm afinidades de se
expressarem por sinais. E demonstram desinteresse na aprendizagem e comunicação desses
alunos.
Quanto à relação com os colegas, os alunos se comunicam através de gestos, mas de
pouca compreensão, o que dificulta uma maior integração entre eles.
Ainda segundo a intérprete, ela passa a maior parte com esses alunos na sala de aula,
que apesar, de ter o direito de levá-los à sala de recursos, mas que possui pouco material, para
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um trabalho mais adequado no ensino de alfabetização em Libras, por isso utiliza raramente a
sala de recursos.
A-1 – De acordo com a interpretação de I-1, A-1 disse ter 19 anos de idade, e que sua surdez é
congênita, mas é o único surdo na família, conhece mais a língua portuguesa do que a Libras,
com a qual tem contato apenas há 1 ano, conhece bem o alfabeto datilológico, mas ainda está
aprendendo os sinais de Libras. E devido conhecer mais a língua portuguesa, tenta se comunicar
pelo oralismo, pois sente muita dificuldade em sinalizar.
A-2 – Este aluno surdo também tem 17 anos, mas não quis responder ao questionário, por ser
mais retraído, se sente mais excluído, que segundo sua intérprete, tem menos conhecimento em
Libras e que sua surdez também é congênita, com um desenvolvimento na educação, mais lento
que o de A-1.
Nesta pesquisa de campo podemos notar que há uma
contradição no que diz respeito às legislações específicas de Educação Inclusiva para surdos,
conforme estabelece o Decreto Nº 5.626/2005, que regulamenta a Lei Nº 10.436/2002, que
dispõe sobre a Libras, e sobre o art. 18 da Lei Nº 10.098/2000, especifico no Capítulo IV, no
caput do artigo 14, onde institui a obrigatoriedade à obtenção das pessoas surdas: “à
comunicação, à informação e à educação nos processos seletivos, nas atividades e nos
conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e modalidades de educação,
desde a educação infantil até à superior”. (BRASIL, 2005).
A propósito das práticas didáticas na educação de surdos no ensino regular, mesmo para
uma escola que se institui como “inclusiva”, com sala de recursos e intérprete de Libras em sala
de aula, ao que se expõe, nenhum dos educadores têm formação em Libras, ou mesmo interesse
de promover essa inclusão escolar. O que questiona Souza et al (p. 10, 2007): “Afinal seria o
referido decreto uma conquista de movimentos sociais com vistas à verdadeira inclusão ou um
instrumento que nos conduziria à segregação dos surdos”? Ao avaliar o resultado obtido com
as entrevistas realizadas, nos remete a uma reflexão acerca das relevantes questões polêmicas
neste processo da educação inclusiva dos surdos no ensino regular. E que nos leva a refletir
sobre as atitudes e práticas educativas que permeiam as divergências da educação dos surdos
no ensino regular, como meio de educação inclusiva.
Ao que ampara Mantoam (2003), que as diretrizes propostas por nossas políticas
públicas de educação inclusiva não conseguem avançar como necessitam. E isso tem acarretado
em evasivas da educação inclusiva, sucedendo-se em exclusão escolar. Isto é, conforme as
declarações dos profissionais de educação acima, a “Educação Inclusiva” aos surdos, está
carregada de divergências quanto ao que deveria de fato ser uma inclusão. Onde esses alunos
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foram matriculados no ensino regular, mas não conseguem se desenvolver na educação, e,


muito menos ser integrados na comunidade escolar, em contradição ao que propicia a
legislação, que primazia pela proposta de instrumentos imperativos à eliminação dos
empecilhos que impedem o seu desenvolvimento educacional.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo nos provocou à ponderação de que, apesar de algumas escolas tentarem se
adequar à legislação brasileira de Educação Inclusiva, mas a prática desse processo, ainda
carece de maior empenho no debate de: Como fazer a educação inclusiva? Em especial à
inclusão dos alunos surdos, que são os mais excluídos, dada a ausência da comunicação.
Portanto, devemos refletir se as políticas públicas dessa inclusão, precisa se restringir a se
equipar escolas com salas de recursos tecnológicos e profissionais de intérprete de Libras. E,
ou, para que ela seja bilíngue de fato, se faz necessário um maior envolvimento e preparação
da sociedade e da comunidade escolar, inclusive da equipe institucional escolar na Libras?
Como se deve proceder para a efetivação da educação inclusiva? E não apenas a inserção de
alunos com necessidades educativas especiais, no ensino regular, ocasionando numa
segregação escolar, revestida de “Educação Inclusiva”.

REFERÊNCIAS

ARROYO, Miguel G. Reinventar a política - Reinventar o sistema de educação. Educ. Soc.,


Campinas, v. 34, n. 124, p. 653-678, jul.-set. 2013. Disponível em:
<http://www.cedes.unicamp.br>. Acesso em 11 ago. 2019.

BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24


de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no
10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial [da) República Federativa do Brasil.
Brasília, DF, 25 abr. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2005/decreto/d5626.htm>. Acesso em: 11 ago. 2019.

MANTOAN, Maria Teresa Egler. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer? 1 ª ed.
São Paulo: Moderna, 2003.

SOUZA, Regina Maria de; SILVESTRE, Núria; ARANTES, Valéria Amorim (org.).
Educação de surdos: pontos e contrapontos. 4. ed. São Paulo: Summus, 2007.

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