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INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE LISBOA

Curso de Engenharia Civil

BETÃO ESTRUTURAL I

CAPÍTULO 3 — Segurança e Acções


Texto de apoio

Setembro 2012
Índice
1  Introdução ............................................................................................................... 3 
2  Conceitos de estado limite, fiabilidade e segurança ................................................. 3 
2.1  Conceito de estado limite ................................................................................ 3 
2.2  Conceito de fiabilidade e segurança ................................................................ 4 
3  O método dos estados limites .................................................................................. 5 
3.1  Abordagem probabilística ............................................................................... 5 
3.2  O método dos coeficientes parciais de segurança ............................................ 9 
4  Acções — conceitos fundamentais ......................................................................... 11 
4.1  Classificação das acções ................................................................................ 11 
4.2  Representação das acções.............................................................................. 12 
4.3  Combinação de acções .................................................................................. 14 
5  Disposições essenciais da EN 1990 ......................................................................... 15 
5.1  Verificação da segurança aos EL últimos ...................................................... 15 
5.2  Verificação da segurança aos EL de utilização .............................................. 19 
6  Exemplos ............................................................................................................... 20 

2
1 Introdução
Os conceitos ligados à segurança estrutural são de grande importância para todos
os engenheiros civis, dadas as elevadas expectativas da sociedade com respeito à
fiabilidade das construções. As consequências extremamente gravosas associadas aos
colapsos estruturais e o elevado grau de aversão pública a esse tipo de acidentes
justifica que prestemos detida atenção a este importante assunto.
No presente Capítulo descreve-se sucintamente os conceitos fundamentais
relacionados com segurança estrutural, em harmonia com a NP EN 1990 (2009),
também conhecida como Eurocódico 0 (EC0). De acordo com esta Norma as
estruturas devem ser projectadas, construídas e mantidas de tal modo que, de forma
económica e com apropriados níveis de fiabilidade, apresentem bom desempenho
durante a sua vida útil.
Uma estrutura apresenta bom desempenho quando cumpre certos requisitos gerais,
que de forma sumária podem ser descritos como:
1) Requisito de serviço (ou utilização): Eventuais danos que a estrutura possa
sofrer durante a sua vida, susceptíveis de prejudicar a sua utilização, devem
ter baixa probabilidade de ocorrência.
2) Requisito de segurança: Eventuais danos que a estrutura possa sofrer durante
a sua vida, susceptíveis de pôr em perigo a vida de pessoas ou bens, devem ter
muito baixa probabilidade de ocorrência.
3) Requisito da durabilidade: As estruturas devem manter-se numa boa condição,
isto é, sem deterioração significativa, durante todo o período de vida útil
fixado, sem que para tal sejam necessários custos de manutenção não previstos.
4) Requisito da robustez: As estruturas quando sujeitas a acções de natureza
acidental, erros humanos graves, ou deterioração acentuada, não devem sofrer
danos desproporcionais à causa que lhes dá origem. Deve-se evitar a concepção
de estruturas que facilitem o colapso progressivo.
A verificação do desempenho das estruturas aos requisitos acima, e muito em
especial aos requisitos de utilização e segurança, é feita recorrendo ao chamado
método dos estados limites. Antes de se analisar em que consiste este método, é
oportuno precisar os conceitos de estado limite, fiabilidade e segurança.

2 Conceitos de estado limite, fiabilidade e segurança

2.1 Conceito de estado limite


Estado limite é um estado a partir do qual a estrutura fica de alguma forma
prejudicada no desempenho das funções para que foi construída. Consoante a
gravidade desses prejuízos (ou danos) os estados limites classificam-se em dois
grandes grupos:
1) Estados limites de utilização: Estados associados a danos pouco severos, que
não implicam o encerramento da estrutura. Trata-se de danos ao nível do
conforto das pessoas, do aspecto da estrutura, ou do seu funcionamento.

3
2) Estados limites últimos: Estados associados a danos graves e que implicam o
encerramento da estrutura. Deve-se salientar que os estados limites últimos
dizem respeito não só à segurança da estrutura propriamente dita, mas
sobretudo à segurança das pessoas, quer as que utilizam a estrutura, quer as
que estão nas suas imediações. Isto significa que qualquer estado adverso
susceptível de por em risco a vida de pessoas é suficientemente grave para que
seja classificado como estado limite último.
Enfatiza-se que a distinção entre estado limite de serviço e estado limite último
tem a ver fundamentalmente com a gravidade desses estados, isto é, com as
consequências mais ou menos gravosas que advêm se esses estos forem atingidos. No
entanto, é ainda possível diferenciar a gravidade dentro de cada um desses dois
grupos. Por exemplo, os estados limites de serviço podem ser reversíveis ou
irreversíveis. Naturalmente estes últimos são mais graves. Os estados limites últimos
podem ser precedidos de aviso (rotura dúctil) ou ocorrer repentinamente (rotura
frágil). Obviamente estes últimos são mais graves.
A diferenciação da gravidade dos estados limites deve reflectir-se nos níveis de
fiabilidade a exigir a esses estados. Estados limites mais graves devem ter
probabilidades de ocorrência menores e portanto valores superiores de fiabilidade.
Como exemplos de estados limites últimos podem citar-se:
1) Perda de equilíbrio da estrutura considerada como corpo rígido.
2) Estado limite de resistência.
3) Rotura ou deformação excessiva do terreno de fundação.
4) Perda de resistência por fenómenos de fadiga.
5) Transformação da estrutura num mecanismo.
6) Instabilidade da estrutura ou de uma das suas partes.
Como exemplos de estados limites de utilização podem citar-se:
1) Danos locais susceptíveis de acelerar a deterioração ou prejudicar a aparência
(fissuração nas estruturas de betão armado, por exemplo).
2) Deformação incompatível com o bom funcionamento de elementos não
estruturais, ou que prejudique a aparência da estrutura.
3) Vibrações excessivas, susceptíveis de causar desconforto nas pessoas.

2.2 Conceito de fiabilidade e segurança


A fiabilidade duma estrutura em relação a um estado limite e a um intervalo de
tempo é a probabilidade desse estado limite não ser atingido durante esse intervalo de
tempo. Assim, de acordo com esta definição, o conceito de fiabilidade (reliability) está
sempre associado a um requisito (ou a vários requisitos em simultâneo) e a um
intervalo de tempo particular. Trata-se assim de uma grandeza quantitativa (neste
caso uma probabilidade), susceptível de ser calculada ou estimada.
Já o conceito de segurança é qualitativo (Schneider, 2006). Com efeito, não faz
sentido a expressão «calcular a segurança». Segurança pode ser definida como um
atributo que permite classificar as estruturas como seguras ou como inseguras. Uma
estrutura insegura é uma estrutura cuja fiabilidade (principalmente com respeito à

4
possibilidade de causar danos em pessoas) é inferior a um valor previamente aceite
como apropriado.

3 O método dos estados limites


A verificação da segurança das estruturas é feita em relação aos estados limites,
comparando-se esses estados com os estados a que a estrutura é conduzida pela
actuação das acções a que está sujeita (RSA, 1983). Em geral o método dos estados
limites consiste em comparar um grandeza actuante E (efeito das acções) com uma
grandeza resistente R, expressa nas mesmas unidades que E, procurando-se garantir
que:
E ≤R (1)
A condição expressa nesta inequação designa-se por condição de segurança. Se esta
condição for cumprida diz-se que está satisfeita a segurança.
A grandeza actuante E está relacionada com as acções que actuam na estrutura e a
grandeza R diz respeito à capacidade da estrutura face à grandeza actuante. Assim,
se E representar uma carga actuante, R representa a carga máxima que a estrutura é
capaz de suportar. Se E representar um esforço actuante, R representa um esforço
resistente. Se E representar um deslocamento provocado pelas acções, R representa
um deslocamento máximo admissível, e assim por diante.

3.1 Abordagem probabilística


Ao observar a Eq. (1), é importante ter presente que as grandezas E e R são em
geral variáveis aleatórias, isto é, são variáveis cujo valor não é conhecido com
precisão. Por exemplo, considere-se a estrutura representada na Figura seguinte,
constituída por uma viga que está a ser suportada por um tirante de aço. Seja N E o
esforço axial actuante no tirante. Além do peso próprio g, admita-se que actua na
viga uma sobrecarga q, que representa, por exemplo, o peso de pessoas. A variável q é
nitidamente uma variável aleatória, com valor variável ao longo do tempo, pelo que o
esforço N E é também variável aleatória. O esforço axial resistente do tirante (força
de rotura), que denotaremos por N R , é também variável aleatória. Com efeito, se
ensaiássemos à tracção vários provetes com o mesmo material do tirante, cada ensaio
daria um valor diferente, pelo que nunca estaríamos seguros da verdadeira resistência
do tirante.

5
3.00

4.00 4.00
Figura 1: Exemplo de uma estrutura e respectivas acções.

Estas considerações mostram que o problema da segurança estrutural é um


problema essencialmente probabilístico. Se forem conhecidas as distribuições de
probabilidade das variáveis N E (esforço axial no tirante) e N R (resistência do
tirante), pode avaliar-se sem dificuldade a probabilidade do tirante romper, isto é,
pode avaliar-se a probabilidade de ocorrência do evento N E > N R . Denotando por p f
a probabilidade desse evento (failure probability), a verificação da segurança consiste
em comprovar que:
p f ≤ p fT (2)
onde p fT designa a probabilidade de falha máxima admissível, ou probabilidade-
objectivo (target).
No domínio da segurança estrutural é usual medir-se a fiabilidade por meio de um
índice, chamado índice de fiabilidade e representado tradicionalmente pela letra grega
β . Este índice é definido pela expressão:
p f = Φ(−β ) (3)
onde Φ(⋅) representa a distribuição acumulada normal reduzida. Uma vez que é
possível converter p f em β e vice versa, o índice β pode ser visto como uma medida
alternativa de fiabilidade. Expressando a condição de segurança (2) em termos do
índice β , vem:
β ≥ βT (4)
onde βT representa o índice de fiabilidade mínimo aceitável. Por exemplo, para
estados limites últimos, um valor típico de βT é 3.8, para a vida útil da estrutura, em
geral 50 anos (NP EN 1990, 2009, Anexo B). Este índice de fiabilidade corresponde a
uma probabilidade de rotura p f de 7.2 × 10−5 .
 Exemplo. Tomando como referência a estrutura representada na Figura 1,
suponha-se que as características geométricas, incluindo o diâmetro do tirante, podem
ser modeladas como variáveis determinísticas. Assim, haverá apenas que considerar
como variáveis aleatórias a carga g, a carga q e a resistência do tirante (tensão de
cedência), que representaremos por fpy . Admita-se para essas variáveis os seguintes
modelos probabilísticos (não importa para já como esses modelos foram obtidos):
g ∼ N (μ = 14, σ = 0.7) [KN/m]
q ∼ Gumb(u = 8.4, α = 1.5) [KN/m]

6
fpy ∼ N (μ = 920, σ = 50) [MPa]
Admita-se que a distribuição de q, que segue uma distribuição Gumbel, refere-se
aos máximos de q em 50 anos. O nosso objectivo é determinar a área do tirante Ap
de tal modo que a probabilidade da estrutura colapsar (por rotura do tirante) em 50
anos seja de 7.2 × 10−5 .
Resolução:
Designando por N E o esforço axial actuante no tirante e por N R o esforço
resistente, a condição de segurança expressa em termos probabilísticos é:
P (N E > N R ) < 7.2 × 10−5 . Note-se que P(N E > N R ) = P(N R − N E < 0) . A função
Z = N R − N E designa-se por função estado limite e representa uma margem de
segurança.
Recorrendo às equações de equilíbrio, facilmente se obtém o esforço axial no
tirante devido à carga g, dado por N g = 13.33g . Da mesma forma, o esforço axial
devido à carga q é dado por N q = 13.33q . O esforço axial total é assim dado por
N E = 13.33g + 13.33q , e o esforço resistente por N R = fpy Ap . Uma vez que a área do
tirante vai ser modelada como variável determinística (valor constante), a
distribuição de N R é necessariamente Normal. No entanto não existe forma fechada
para a distribuição de N E , que corresponde à soma de uma distribuição Normal com
uma distribuição Gumbel. Assim, para avaliar a probabilidade p f = P (N E > N R ) é
necessário recorrer a um método numérico, optando-se, no presente caso, pelo método
de simulação numérica, conhecido como Monte Carlo, dada a sua simplicidade. Este
método foi implementado numa pequena rotina MATLAB, cujo código se mostra de
seguida:
clear; clc;
nsamp = 1000000;
%
% variáveis básicas
Ap = 4.53; % área em cm2
g = normrnd(14., 0.7, nsamp, 1);
q = gumbrnd(8.4, 1.5, nsamp);
fpy = normrnd(920, 50, nsamp, 1);
%
% Transformações
NE = 13.33*g + 13.33*q;
NR = fpy*Ap*1e-1;
%
Z = NR - NE;
I = (Z < 0);
pf = sum(I)/nsamp
Recorrendo a esta rotina, obteve-se o gráfico da Figura seguinte, que mostra a
probabilidade de rotura p f em função da área do tirante, a partir do qual se obtém a
área do tirante que conduz a uma probabilidade de rotura de 7.2 × 10−5 . Obtém-se
Ap = 4.53 cm2 . Determinou-se assim a área pretendida recorrendo directamente a
métodos probabilísticos.

7
-4
x 10
4

2
Pf

0
4.4 4.5 4.6 4.7 4.8 4.9 5
Ap [cm2]

Figura 2: Probabilidade de rotura em função da área do tirante.

A título de referência mostra-se na Figura seguinte as distribuições de


probabilidade das variáveis N E e N R obtidas por simulação. O histograma do esforço
resistente é o que corresponde a Ap = 4.53 cm2 .

4
x 10
15
Frequências absolutas

10

0
200 250 300 350 400 450 500 550
Esforços axiais actuante e resistente [kN]
Figura 3: Histogramas dos esforços axiais no tirante, actuante e resistente.


Apesar de inteiramente consistente, a formulação do problema da segurança em
termos probabilísticos apresenta algumas dificuldades. A principal das quais tem a
ver com a dificuldade em caracterizar probabilisticamente todas as variáveis do
problema. A maior parte das vezes não existe informação suficiente para essa
caracterização, embora os defensores dos métodos probabilísticos afirmem que a falta
de informação também existe quando se empregam outros métodos de fiabilidade.
Além disso, afirmam os defensores dos métodos probabilísticos, a incerteza originada
pela falta de informação reforça a necessidade de tratar o problema em termos
probabilísticos (JCSS, 2001).
Deve-se reconhecer porém que o problema da segurança das estruturas não se
esgota nos métodos de verificação da segurança: a fiabilidade das estruturas depende

8
em grande parte de um uma boa qualidade de construção, que se desconhece
completamente quando a estrutura está ainda em fase de projecto. Isto significa que
(pelo menos no projecto de estruturas novas) são perfeitamente justificáveis métodos
mais simples de verificação da segurança. Surge assim o chamado método dos
coeficientes parciais de segurança.

3.2 O método dos coeficientes parciais de segurança


De acordo com este método, as grandezas E e R são quantificadas por um único
valor, chamado valor representativo. O valor representativo mais usual é o chamado
valor característico. No âmbito da segurança estrutural, o valor característico de uma
variável aleatória X, que se representa habitualmente por Xk , refere-se ao quantil p
da sua distribuição de probabilidade, considerando-se normalmente p = 0.95 para
variáveis representando acções e p = 0.05 para variáveis representando resistências.
O valor característico da variável X define-se assim pela expressão:
Xk = FX−1(p) (5)
onde FX−1(⋅) denota a inversa da distribuição acumulada de X (Ver Figura 4).

f (x ) f (x )
X X
p = 0.95
p = 0.05

Xk x Xk x

Acções Resistências
Figura 4: Definição de valor característico de acções e de resistências.

O valor característico correspondente ao quantil 0.95 designa-se habitualmente por


valor característico superior e o correspondente ao quantil 0.05 por valor
característico inferior. Assim, as acções são representadas em geral pelo valor
característico superior e as resistências pelo valor característico inferior.
No método dos coeficientes parciais de segurança, a condição de segurança E ≤ R
assume a forma:
Rk
γF Ek ≤ (6)
γM
onde os coeficientes γF e γM se designam por coeficientes parciais de segurança,
respectivamente para acções e para propriedades resistentes dos materiais. Estes
coeficientes são em geral superiores à unidade, pelo que as acções são majoradas e as
propriedades dos materiais são minoradas. O valor γF Ek designa-se por valor de
dimensionamento da variável E e representa-se por Ed . O valor Rk / γM designa-se
por valor de dimensionamento da variável R e representa por Rd . A condição de
segurança (6) pode assim ser expressa na forma mais simples:

9
Ed ≤ Rd (7)
Uma vez que a abordagem acima usa o conceito de valor característico, que é um
conceito probabilístico, costuma dizer-se que o método dos coeficientes parciais de
segurança é um método semi-probabilístico. Este é o método principal de
dimensionamento de estruturas previsto na NP EN 1990 (2009), também chamado
método de nível I.
No entanto a Norma admite que se possam utilizar métodos probabilísticos. Dois
desses métodos, ditos de nível II e nível III encontram-se brevemente descritos no
Anexo C da referida Norma. O método que se empregou no exemplo anterior, onde a
probabilidade de falha foi determinada de forma exacta recorrendo a simulação,
enquadra-se no nível III. Nos métodos de nível II, que incluem o amplamente
utilizado método FORM (First Order Reliability Method), a probabilidade de falha é
avaliada de forma aproximada, embora a aproximação seja em geral muito boa. Uma
descrição sucinta deste método encontra-se em Jacinto (2011).
Em resumo, podemos referir que os coeficientes de segurança constituem uma
forma simples de garantir que as estruturas que projectamos tenham uma fiabilidade
apropriada, embora esta, como conceito probabilístico, não intervém directamente no
problema. O engenheiro projectista ao utilizar os coeficientes parciais especificados
nas normas e regulamentos confia que a estrutura resultante é suficientemente fiável,
embora, na verdade, desconheça a sua fiabilidade e o risco de uma eventual falha
estrutural.
 Exemplo. Considerando novamente a estrutura analisada no exemplo anterior,
determine-se agora a área do tirante, mas empregando o método dos coeficientes
parciais de segurança. Admita-se que as acções têm os seguintes valores
característicos: gk = 15.2 KN/m ; qk = 10.5 KN/m . Estes valores correspondem às
distribuições de probabilidades vistas anteriormente, tendo-se adoptado quantis de
0.95.
Admita-se, além disso, que o valor característico da tensão de cedência do aço é de
fpyk = 835 MPa , que também corresponde sensivelmente à distribuição de
probabilidade utilizada no exemplo anterior (quantil de 0.05).
Relativamente aos coeficientes de segurança, considere-se os seguintes valores
(valores típicos):
γg = 1.35 ; γq = 1.50 ; γm = 1.15 .
Resolução:
O valor de dimensionamento (ou valor de cálculo) do esforço axial no tirante é
dado por:
N Ed = 1.35N g + 1.5N q = 1.35(13.33 × 15.2) + 1.5(13.33 × 10.5) = 483.5 KN .

O valor de cálculo da tensão de cedência do aço é dado por


fpyd = fpyk / 1.15 = 726 MPa e o valor de dimensionamento do esforço axial no
tirante, em função da área do tirante Ap , é dado por:
N Rd = fpyd Ap

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Desenvolvendo agora a condição de segurança N Ed ≤ N Rd vem:
N Ed ≤ N Rd ⇔ 469.9 ≤ fpyd × Ap ⇔ Ap ≥ 483.5 / (726 × 103 ) = 6.7 cm2 .

Recordemos que o valor obtido para a área do tirante foi de 4.53 cm2. Verifica-se
assim que o método dos coeficientes parciais de segurança conduziu a um tirante com
área superior (cerca de 50% a mais). Podemos então afirmar que os coeficientes de
segurança empregues reflectem uma incerteza superior à incerteza implícita nos
modelos probabilísticos usados no exemplo anterior.
O exemplo acabado de analisar ilustra bem a limitação dos coeficientes de
segurança em descrever a incerteza das variáveis básicas. Casos haverá em que a
incerteza reflectida nos coeficientes de segurança é superior à real (como no exemplo),
e casos existirão em que se passa o contrário.

4 Acções — conceitos fundamentais


Acções são grandezas capazes de alterar o estado de tensão e/ou deformação de
uma estrutura. Uma acção é tratada individualmente se poder ser considerada
estatisticamente independente, no tempo e no espaço, das demais acções (ISO 2394,
1998).
Em sentido mais amplo as acções devem incluir certo tipo de influências
ambientais capazes de afectar o desempenho da estrutura, particularmente a
durabilidade (por exemplo, acção dos cloretos, acção da humidade, acção do CO2), ou
mesmo capazes de provocar o colapso da estrutura (por exemplo, acção da infra-
escavação em fundações).

4.1 Classificação das acções


As acções poderão ser classificadas segundo vários critérios. Por exemplo, quanto à
sua variabilidade no tempo, tem-se:
1) Acções permanentes (G): acções cuja variabilidade em relação ao valor médio é
pequena durante o período de vida útil da estrutura. Por exemplo, peso
próprio da estrutura, peso de revestimentos, impulso devido ao peso das terras,
pré-esforço.
2) Acções variáveis (Q): acções cuja variabilidade no tempo e no espaço é
significativa. Por exemplo, sobrecargas de utilização, variações de temperatura,
vento, sismo.
3) Acções de acidente (A): acções cuja probabilidade de ocorrência durante a vida
da estrutura é muito pequena, mas não inteiramente desprezável. Por exemplo,
colisões provocadas por veículos, explosões, tornados.
Observação: a acção sísmica poderá ser considerada acção variável ou de acidente
consoante a sismicidade da região onde a estrutura se localiza. Em Portugal a acção
sísmica é considerada acção variável.
A Figura 5 seguinte mostra uma representação esquemática dos diferentes tipos de
acções.

11
Quanto ao tipo de resposta que provocam na estrutura, as acções classificam-se em
estáticas e dinâmicas. Acções estáticas são acções que não causam aceleração na
estrutura. Acções dinâmicas são acções que, devido à sua variabilidade rápida quer no
tempo quer no espaço, provocam acelerações significativas na estrutura. Por exemplo,
sobrecargas devido ao tráfego, vento e sismo. As acções dinâmicas são frequentemente
modeladas por meio de forças estáticas equivalentes.

Figura 5: Representação esquemática dos diferentes tipos de acções (Castanheta, 1992).

4.2 Representação das acções


Uma vez que as acções são quantidades incertas, a forma mais natural de as
representar é por meio de variáveis aleatórias, com as correspondentes distribuições
de probabilidade associadas, ou mesmo por meio de processos estocásticos1 no caso
das acções variáveis. No entanto, para efeitos de aplicação do método dos coeficientes
parciais de segurança, as acções são descritas por um único valor: o chamado valor
representativo. O valor representativo mais usual é o chamado valor característico,
caracterizado por ter uma probabilidade pequena de ser excedido.
No caso específico das acções variáveis, o valor característico aparece sempre
associado a um período de referência, em geral o período de vida útil da estrutura.
Assim, para definir o valor característico de uma acção variável é necessário
especificar uma probabilidade de excedência (em geral 0.05) e um período de
referência (em geral o período de vida útil da estrutura). Por exemplo, suponha-se
que o valor característico da sobrecarga q que actua numa determinada laje é
qk = 2 KN/m2 , referente a um período de 50 anos. Isto significa que a probabilidade
da sobrecarga q exceder 2 KN/m2 em 50 anos é de 0.05. Em símbolos:
P (q > 2) = 0.05 .

1
Processo estocástico refere-se a uma colecção de variáveis aleatórias em sucessão no tempo, cada uma
possuindo a sua distribuição de probabilidade.

12
Outra forma de especificar o valor característico de uma acção variável no tempo é
por meio do período de retorno. De facto, a cada probabilidade de excedência e a
cada período de referência corresponde um e um só período de retorno. O período de
retorno de um evento (por exemplo o evento {q > 2} ) é, por definição, a duração
média entre ocorrências sucessivas desse evento. Se p for a probabilidade de
ocorrência desse evento num período τ pode-se demonstrar que o período de retorno
é dado por (Ang & Tang, 2007):
T =τ/p (8)
Por exemplo, se o evento {q > 2} tiver uma probabilidade de 0.05 de ocorrer em 50
anos, terá um período de retorno de aproximadamente 50/0.05 = 1000 anos, isto é,
ocorrerá em média de 1000 em 1000 anos.
Os valores característicos prescritos nos eurocódigos para as acções variáveis são
valores que têm em geral um período de retorno de 1000 anos. Há porém duas
importantes excepções: os valores característicos da acção do vento e das variações de
temperatura têm um período de retorno de 50 anos e o valor característico da acção
sísmica tem um período de retorno de 450 anos.
Quando não existirem dados estatísticos que permitam especificar o valor
característico de uma acção, tal acção será representada por um valor
estrategicamente definido, chamado valor nominal.
No âmbito do método dos coeficientes parciais de segurança, além dos valores
característicos e dos valores nominais, usam-se ainda os chamados valores reduzidos,
a saber:
1) Valor de combinação: ψ0Qk ;
2) Valor frequente: ψ1Qk ;
3) Valor quase-permanente: ψ2Qk .
Os coeficientes ψ são coeficientes inferiores à unidade e destinam-se a obter valores de
Q com probabilidades maiores de serem excedidos que o valor característico Qk . O
gráfico da Figura seguinte ilustra de forma qualitativa a definição destes coeficientes.
Para uma definição mais precisa, consultar a Norma ISO 2394 (1998). Verifica-se
assim que o valor quase-permanente tem maior probabilidade de ser excedido que o
valor frequente e este, por sua vez, tem maior probabilidade de ser excedido que o
valor de combinação. Isto significa que ψ2 ≤ ψ1 ≤ ψ0 .

13
Figurra 6: Representação esquemática d
dos valores reduzidos das
d acções.

4.3 C
Combinaç
ção de acç
ções
Conssidere-se novamente
n a estrutuura represeentada na Figura 1 , mas sup ponha-se
agora que, para além da carga peermanente g e da sobrecargaa q, é neecessário
consideerar a acçãão da nevee, que reprresentarem mos por s. Note-se
N quue as cargaas q e s
são acçções variáv veis no teempo, podeendo escreever-se q = q (t ) e s = s (t ) . Em cada
instante t a cargaa total p(t ) será a som
ma das 3 cargas
c acim
ma, isto é:
p(t ) = g + q (t ) + s(t ) .
O p problema fundament
f tal da com mbinação de acçõess consiste em encontrar a
distribu
uição de máximos
m daa carga tottal num deeterminadoo período dde referênccia. Seja
pmax a variável aleatória
a qu
ue represen
nta o valorr máximo da
d carga tootal nesse período.
p
Como é óbvio, pmax < g + q max + sm max , pois os máxim mos de q e s dificcilmente
ocorrerão no messmo instante. No enttanto, é muito prová ável que o máximo da d carga
total occorra no in nstante emm que umaa das carga as, q ou s, apresentee o valor máximo.
m
Estas cconsideraçõões sugerem m a seguintte regra:
⎧⎪g + q max + ψ s max
pmaxx = max ⎪⎨
⎪⎪g + s max + ψ q max

onde ψ smax e ψ q max reepresentam m valores mais peq quenos quue smax e q max ,
respectivamente. Esta regra a é conheccida como regra de Turksta
T (IISO 2394, 1998) e
tem sid
do adoptad da nos mod dernos reguulamentos de
d seguran nça.
Paraa efeitos daa aplicação o do métod do dos coefficientes pa
arciais de ssegurança, a regra
de Turkksta é apreesentada na seguinte forma:
⎧⎪γg gk + γqqk + ψ0s γssk
pEd = max ⎪⎨
⎪⎪γg gk + γssk + ψ0q γqqk

No caso de existirem duas acções vaariáveis, a regra de Turksta exxige assim m que se
façam duas com mbinações e,
e no casoo geral, ex xistindo n acções vvariáveis, torna-se
t
necessáário efectuaar n comb
binações dee acções, escolhendo-
e -se a que cconduzir a efeitos

14
mais gravosos. Em cada uma destas n combinações, apenas uma das acções variáveis
é quantificada pelo valor característico — é chamada acção variável base (AVB). As
restantes são quantificadas pelos valores reduzidos — são chamadas acções variáveis
acompanhantes.
Os valores de combinação ψ0Qk pretendem ter em conta que, se numa
determinada combinação, uma das acções figura com o seu característico (acção
variável base), ou seja, com um valor com reduzida probabilidade de ser excedido no
intervalo de tempo de referência, os valores a considerar para as restantes variáveis
(acções acompanhantes) deverão corresponder a uma maior probabilidade de serem
excedidos, para que a probabilidade correspondente à actuação simultânea não seja
demasiado pequena.
Termina-se estas breves considerações por indicar 3 regras fundamentais relativas a
combinações de acções, a empregar sempre que se utilize o método dos coeficientes
parciais de segurança. São elas:
1) As acções permanentes figuram sempre em todas as combinações, mas não
devem ser majoradas quando os seus efeitos forem favoráveis.
2) As acções variáveis só devem figurar se a sua presença for desfavorável para o
EL em consideração.
3) Só devem figurar na mesma combinação as acções cuja ocorrência simultânea
seja verossímil. Acções que, por razões físicas ou funcionais, não poderão
ocorrer simultaneamente, não devem combinar-se.
Convém referir que são as acções que se combinam — não os efeitos das acções. No
entanto se a estrutura tiver comportamento linear, o efeito de uma soma de acções é
igual à soma dos efeitos das acções individuais. Em símbolos:
E (g + q ) = E (g ) + E (q ) .
Por outras palavras, se a estrutura possuir comportamento linear é indiferente
combinar acções ou combinar os seus efeitos. Esta regra, que permite assim combinar
os efeitos das acções, é conhecida como princípio da sobreposição dos efeitos e é
válida apenas no caso das estruturas com comportamento elástico linear (isto é,
estruturas que obedeçam á lei de Hooke).

5 Disposições essenciais da EN 1990

5.1 Verificação da segurança aos EL últimos


Para efeitos de verificação da segurança aos EL últimos, a NP EN 1990 (2009)
distingue 4 situações de projecto (SP). Situações de projecto são cenários em que a
estrutura se pode vir a encontrar durante a sua vida. Temos assim:
1) SP persistentes: correspondem a condições normais de uso.
2) SP transitórias: correspondem a situações temporárias, como por exemplo as
situações durante a fase construtiva ou de reparação da estrutura.

15
3) SP acidentais: correspondem a situações excepcionais como por exemplo a
ocorrência de um incêndio, de uma colisão de uma viatura ou ocorrência da
rotura num dos elementos da estrutura.
4) SP Sísmica: corresponde a um cenário de ocorrência de sismo.
A verificação da segurança em relação aos EL últimos consiste em comprovar para
todos os EL a seguinte condição (Eq. (6.8)):
Ed ≤ Rd ,
onde Ed representa o valor de cálculo do efeito das acções, devidamente combinadas,
e Rd o valor de cálculo da resistência correspondente.
O valor de cálculo do efeito das acções determina-se usando as combinações
representadas simbolicamente por meio das expressões:
SP persistentes ou transitórias — Expressão (6.10):
⎛m n ⎞⎟

Ed = E ⎜⎜∑ γGjG jk + γP P + γQ 1Q1k + ∑ γQi ψ0iQik ⎟⎟
⎜⎝ j =1 ⎟⎟
i =2 ⎠
SP acidentais — Expressões (6.11a) e (6.11b):
⎛m n
⎟⎞

( )
Ed = E ⎜⎜∑ G jk + P + Ad + ψ11 ou ψ21 Q1k + ∑ ψ2iQik ⎟⎟
⎜⎝ j =1 ⎟⎟
i =2 ⎠
SP sísmicas — Expressões (6.12a) e (6.12b):
⎛m n ⎞⎟
⎜⎜
Ed = E ⎜∑ G jk + P + AEd + ∑ ψ2iQik ⎟⎟
⎜⎝ j =1 ⎟⎟
i =1 ⎠
Observações:
1) A primeira destas 3 combinações também é conhecida como combinação
fundamental de acções.
2) A acção variável representada por Q1 nas duas primeiras combinações
desempenha o papel de acção variável base. As restantes acções variáveis
designam-se por acções acompanhantes, como visto anteriormente.
3) Repare-se que a combinação fundamental de acções é a única onde intervêm
factores de segurança. Para SP acidentais e sísmicas os factores de segurança
são unitários. Tal é compreensível atendendo a que se tratam de acções de
muito baixa probabilidade de ocorrência.
Relativamente aos coeficientes de segurança γ a empregar (combinação
fundamental de acções), a NP EN 1990 (2009) distingue 4 tipos de EL últimos, a
saber:
1) EQU: perda de equilíbrio estático do conjunto ou de parte da estrutura,
considerada como corpo rígido.
2) STR: rotura ou deformação excessiva de elementos estruturais.
3) GEO: rotura ou deformação excessiva do terreno de fundação.
4) FAT: rotura por fenómenos de fadiga.
Trataremos aqui apenas dos factores de segurança a aplicar nos EL do tipo STR.
Os factores a aplicar nos EL do tipo EQU e GEO serão discutidos em outras

16
disciplinas, nommeadamentee nas di sciplinas dedicadas ao dimeensionamento de
uras de sup
estrutu porte e fund
dações.
A taabela seguin
nte mostraa os coeficieentes de seegurança preconizado
p os na NP EN
E 1990
(2009) a usar na verificaçãoo da seguraança de EL L últimos do
d tipo STRR.

Tabeela 1: Coeficcientes γF em EL últim


mos do tipo
o STR (Rep
produção doo Quadro NA
A-
A1.2(B) da NP EN 1990 (2 2009))

De aacordo com m a Tabeela acima, o coeficieente de seg gurança a aplicar a cargas


perman nentes é ded 1.35, ou 1.00 qu uando a acção
a é favvorável, e o coeficieente de
seguran nça a apliccar a cargas variáveiss é de 1.50, ou 0.0 qu
uando a accção é favorável (o
que equ uivale à sua não apliccação).
Cham ma-se a atenção para a a NOTA A 3 da Tabeela anterioor. De acorrdo com estta nota,
para accções perm manentes comc a messma origemm, deve ap plicar-se um m único faactor de
seguran nça, qualqu uer que sejja a zona onde estão o aplicadass. Assim, ppor exemplo, para
uma viiga continu ua sujeita a uma acçção perman nente g originada no seu peso próprio,
p
deve ap plicar-se um único fa actor de seegurança, de extremidade a exxtremidadee, factor
esse quue será de 1.00
1 ou 1.3
35, consoannte a acçãoo seja favorrável ou deesfavorável para o
efeito eem causa.
Aplicaremos essse critério na UC dee BEI. Por outro lado o, se existiirem outrass cargas
perman nentes (carrgas concenntradas, poor exemploo) consideraaremos quee tais cargaas serão
sempre de origem m diferente da carga permanente g o quee equivale a poder-see aplicar
factoress de seguraança distinntos para esssas cargass.
Paraa ilustrar estas conssiderações,, considereemos a viga represeentada na Figura
seguintte, sujeita às acções aí indicadaas, duas permanente
p es, g e G, e uma varriável q.
Pretend demos deeterminar as confiigurações do carreegamento que pro oduzem,
respectivamente, máximo momento
m p
positivo e máximo momento
m nnegativo naa secção
de meioo vão do trramo AB.

17
q
g

A B C G

4.00 2.00
Figura 7: Viga simplesmente apoiada, com troço em consola.

Em relação à determinação do momento positivo e uma vez que a carga


permanente g origina momentos positivos no tramo AB, a sua presença é
desfavorável, pelo que deve ser majorada por 1.35 — na totalidade do comprimento,
isto é, desde a secção A até à secção C. Por outro lado a carga G origina momentos
negativos no tramo AB, pelo que a sua presença é favorável, não devendo por isso ser
majorada. Em relação à carga q só deverá ser aplicada no tramo AB (porquê?).
Relativamente à determinação do momento negativo, caso exista, a configuração do
carregamento deverá ser diferente. A Figura seguinte mostra as configurações do
carregamento a usar nas duas situações acabadas de descrever.

1.50qk 1.50qk
1.35gk 1.00gk

A B C 1.00G k A B C 1.35Gk

Obtenção do momento positivo Obtenção do momento negativo

Figura 8: Configuração dos carregamentos para a obtenção dos momentos de cálculo na


secção de meio vão do tramo AB. Note-se a aplicação de factores de segurança distintos
para as cargas g e G.

A Tabela seguinte mostra os valores dos coeficientes ψ preconizados na NP EN


1990 (2009) a usar no projecto de edifícios.

18
Tabeela 2: Coeficcientes ψ a usar nas d
diferentes co
ombinações de acções — edifícios
(Rep
produção doo Quadro A1 1.1 da NP EEN 1990 (20 009))

5.2 V
Verificação da segu
urança ao
os EL de utilização
A veerificação da
d segurançça aos EL de utilizaçção consistee em compprovar a sa
atisfação
da segu
uinte condiição:
Ed ≤ Cd ,
Onde Ed represeenta o vallor de cálcculo do efeeito das accções em consideraçção (por
exempllo, deslocam mento, abeertura de fendas) e C d o valor de cálcuulo correspo
ondente
ao EL em consideeração (por exemplo,, flecha má áxima admmissível, abeertura de máxima
m
de fend
das permitiida).
As ccombinaçõees de acçõees a usar emm EL de utilização sã
ão as seguiintes:
Commbinação caaracterísticca — Exprressão (6.144b):
⎛m n ⎞⎟
⎜⎜
Ed = E ⎜∑ G jkk + P + Q1k + ∑ ψ0iQik ⎟⎟
⎜⎝ j =1 ⎟⎟
i =2 ⎠
Com
mbinação frrequente — Expressãão (6.15b)

19
⎛m n ⎞⎟

Ed = E ⎜⎜∑ G jk + P + ψ11Q1k + ∑ ψ2iQik ⎟⎟
⎜⎝ j =1 ⎟⎟
i =2 ⎠
Combinação quase permanente — Expressão (6.16b)
⎛m n ⎞⎟

Ed = E ⎜⎜∑G jk + P + ∑ ψ2iQik ⎟⎟
⎜⎝ j =1 ⎟⎟
i =1 ⎠
Observações:
1) Repare-se que em nenhuma das combinações acima há coeficientes de segurança
(coeficientes de segurança unitários).
2) A acção variável Q1k é designada, como antes, acção variável base. As restantes
são chamadas acções acompanhantes.
Termina-se este documento por colocar uma questão: uma vez que quando os EL
últimos são atingidos, necessariamente já se violaram os EL de utilização, não seria
suficiente verificar a segurança apenas aos EL de utilização? A resposta é obviamente
não, e é facilmente compreendida atendendo à natureza probabilística do problema da
segurança. De facto, quando se afirma que a segurança a um estado limite se encontra
satisfeita, não se está a firmar que esse estado limite não vai ser atingido, mas que a
probabilidade de ele ser atingido é pequena e adequada à gravidade das consequências
que advêm se o estado limite for ultrapassado. Não só os EL de utilização podem
ocorrer, mas até mesmo os EL últimos podem — e a prova disso está nos colapsos
estruturais que têm ocorrido um pouco por todo o mundo. O ponto é este: visto que
os EL últimos são muito mais graves que os EL de utilização, é necessário garantir
que tenham uma probabilidade de ocorrência muito mais baixa, o que exige a sua
consideração ao dimensionar estruturas.

6 Exemplos
Apresenta-se seguidamente alguns exemplos do uso da combinação fundamental de
acções — Equações (6.10) da NP EN 1990:2009.
As acções permanentes serão representadas por g ou G (respectivamente cargas
distribuídas e cargas concentradas) e as acções variáveis por q ou Q (respectivamente
cargas distribuídas e cargas concentradas).

 Exemplo 1. Considere a estrutura representada na Figura seguinte:

Q2
gk = 3 KN/m
g Q1k = 8 KN

A Q2k = 5 KN
Q1
3.00
Determine:
(−)
a) M Ed (A)
(+)
b) M Ed (A)

20
Resolução:
(−) 32
a) M Ed (A) = −(1.35 × 3) − (1.5 × 8) × 3 = −54.2 KNm ;
2
(+) 32
b) M Ed (A) = −(1.00 × 3) + (1.5 × 5) × 3 = 9 KNm ; 
2

 Exemplo 2. Considere a estrutura representada na Figura seguinte:

g gk = 10 KN/m
qk = 12 KN/m
B C
A
4.00 3.00

Determine:
a) M Ed (B )
(+)
b) VEd (A)
c) M Ed ,max no tramos A-B.
d) VEd (Besq )
Resolução:
a) É óbvio que o momento que interessa é o negativo, pois não há possibilidade
de existir momento positivo na secção B. tem-se:
32 32
M Ed (B ) = −(1.35 × 10 + 1.5 × 12) = −31.5 = −141.8 KNm ;
2 2
(+)
b) Para determinar VEd (A) , a configuração do carregamento condicionante é a
seguinte:

2.00
N
72
1.5q 18
1.35g 13.5
94.5

0.50
R

∑ MB = 0 ⇔ R 4 − 94.5 × 0.5 − 72 × 2 = 0 ⇔ R = 47.8 KN ;


(+)
Logo VEd (A) = 47.8 KN ;
c) A configuração do carregamento para a determinação de M Ed ,max é a mesma
que a utilizada na alínea anterior. O momento máximo ocorre onde o esforço
transverso é nulo.

21
18

13.5 VEd (x ) = 47.8 − (13.5 + 18)x = 47.8 − 31.5x ;


Igualando esta equação a zero, vem:
47.8
x x = 1.52 ;
47.8 1
V M Ed ,max = 0 + (1.52)47.8 = 36.3 KNm ;
2

MEd,max

d) Para determinar VEd (Besq ) não é óbvia a configuração do carregamento


condicionante. Para determinar essa configuração é de ajuda desenhar
qualitativamente os diagramas de esforço transverso para as cargas individuais.

(-) (-) (-)


Conforme se observa na Figura acima, o esforço transverso é negativo em Besq
para as 3 cargas individuais. Assim a carga g deve ser majorada por 1.35 e a
carga q deve ser aplicada fora a fora (evidentemente majorada por 1.50). A
reacção em A é igual a:
∑ M B = 0 ⇔ R4 − 31.5 × 7 × 0.5 = 0 ⇔ R = 27.6 KN ;
Por conseguinte tem-se:
VEd (Besq ) = 27.6 − 31.5 × 4 = −98.4 KN ; 

 Exemplo 3. Considere a estrutura representada na Figura seguinte:


q

g
Q
gk = 5 KN/m
qk = 8 KN/m (ψ0 = 0.7 )
Qk = 4 KN (ψ0 = 0.6)
5.00

3.00 3.00

Determine:

22
a) M Ed (A) e N Ed ,ass (A) (Esforço Normal de cálculo associado ao momento).
Despreze o PP do pilar.
b) N Ed ,min (A) e M Ed ,ass (A) (Momento associado ao esforço de cálculo mínimo)
Observação: Quando se diz esforço axial mínimo quer dizer-se mínimo em módulo.
A presença de esforço axial numa secção de betão armado é muitas vezes
favorável, isto é, conduz a taxas de armadura inferiores às que se obteriam só
com o momento flector. Assim, a procura do esforço axial mínimo (e o
momento que lhe corresponde) tem interesse prático.
Resolução:
a) Para a determinação de M Ed (A) a carga q só deve ser aplicada em metade da
viga. Por outro é necessário estudar duas combinações, uma em que a Acção
Variável Base (AVB) é a carga q e outra em que a AVB é a carga Q.

1.5q 1.5ψ0 q
1.35g 1.35g
1.5ψ0Q 1.5Q

AVB q AVB Q

Para o caso em que a AVB é q tem-se:


32
M Ed (A) = 0 + (1.5 × 8) + (1.5 × 0.60 × 4) × 5 = 72 KNm ;
2
Para o caso em que a AVB é Q tem-se:
32
M Ed (A) = 0 + (1.5 × 4) × 5 + (1.5 × 0.7 × 8) = 67.8 KNm
2
Conclui-se assim que o caso em que a AVB é q é condicionante. O esforço axial
deve então ser determinado para essa configuração de carregamento. Tem-se:
N Ed ,ass (A) = −(1.35 × 5) × 6 − (1.5 × 8) × 3 = −76.5 KN ;
Resposta: M Ed (A) = 72 KNm ;
N Ed ,ass (A) = −76.5 KN ;
b) A configuração de carregamento que conduz N Ed ,min (A) é a que se representa
seguidamente.

23
1.00g
1.5Q

N Ed ,min (A) = −(1.00 × 5) × 6 = −30 KN


M Ed ,ass (A) = (1.5 × 4) × 5 = 30 KN ; 

24
Bibliografia
Ang, A. H. & Tang, W. H. (2007). Probability Concepts in Engineering. John Wiley
& Sons, Chichester, 2nd edition.
Castanheta, M. (1992). Critérios gerais de verificação da segurança. In Curso sobre
Estruturas de Betão Armado Sujeitas à acção dos sismos. LNEC, Lisboa.
ISO 2394 (1998). General Principles on Reliability for Structures. International
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Jacinto, L. (2011). Avaliação da segurança de pontes existentes — Abordagem
probabilística Bayesiana. Tese de doutoramento. Faculdade de Ciências da
Universidade Nova de Lisboa.
JCSS (2001a). Probabilistic Model Code. Joint Committee on Structural Safety,
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NP EN 1990 (2009). Eurocódigo – Bases para o projecto de estruturas. IPQ, Instituto
Português da Qualidade, Caparica.
RSA (1983). Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e
Pontes. Decreto-Lei n.º 235/83 de 31 de Maio. Impressa Nacional – Casa da
Moeda, Lisboa.
Schneider, J. (2006). Introduction to Safety and Reliability of Structures. IABSE,
Document 5, 2nd edn.

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