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1. Corrosdo ‘A maioria dos materiais ao longo de sua vida util, por interagirem com diversos ambientes experimentam algum tipo de degradacao ou deterioracdo. Cada classe de material, seja ele metal, ceramico ou polimero é sensivel a uma determinada substancia. Para VAZ et al (2011) a corrosdo em metais pode ser explicada como a deterioragao do material iniciado na superficie quando esta reage com o ambiente que se encontra exposta por agdo quimica ou eletroquimica de um meio oxidante, geralmente agravada por esforgos mecanicos. Seguindo uma perspectiva termodinamica a tendéncia de decréscimo energético é a principal forma encorajadora da corrosao metdlica. Com excegéo de alguns elementos nobres, os metais séo quase sempre encontrados na natureza na forma de compostos: dxidos, sulfetos. Tais compostos sao as formas mais estaveis para os respectivos elementos na natureza. A corroso pode ser vista como a tendéncia ao retorno a composto estavel. Quando uma pega de aco enferruja, 0 ferro, principal componente, esta retornando a forma de oxido. Muito prejuizo é gerado pela corrosao pois contribuem de forma significativa para a ineficiéncia dos processos produtivos e estima-se valores préximos a 5% do PIB, representando ntimeros significativos na economia de uma nagdo (CALLISTER, 2011). Muitas pesquisas tem sido desenvolvidas ao longo dos anos e apontam que as perdas poderiam ser reduzidas em até 25% se os conhecimentos cientificos fossem utilizados em prol do combate a corroséo (GEMELLI, 2001). ‘A corrosao pode manifestar-se de varias formas. Algumas sao mais frequentes que outras, e a ocorréncia tem dependéncia direta do ambiente e dos processos utilizados. Devido 4 complexidade dos processos de corrosdo, e por cada tipo ocorrer em condigées distintas, diferentes tipos de ensaios podem ser realizados. Muitos deles padronizados para permitir comparacao e repetitividade dos resultados em diversos laboratérios (RAMANATHAN ,1990). A realizagéo de testes de corrosdo possuem diferentes finalidades, as principais delas sdo: * Comparagao do comportamento de diferentes materiais em um meio especifico para selego adequada de um material apropriado; * Determinacao da qualidade da liga, como procedimento de inspego de produgao; * Avaliagao do comportamento de uma nova liga em um dado meio; * Determinagao do meio o qual o material pode ser satisfatoriamente usado. ‘Ao longo dos anos diversos testes foram desenvolvidos e estes podem ser clasificados em trés grupos: Ensaios de laboratério: Método mais frequentemente usado onde amostras sao cuidadosamente preparadas e testadas sob condigées controladas. Tais condigdes sao definidas para acelerar 0 processo de corrosdo e assim obter os resultados mais rapidamente. Ensaios de campo: Neste tipo de ensaios, amostras ficam expostas a meios quase idénticos aqueles encontrados em servigo. Tratam-se de ensaios que aproximam mais da realidade e so frequentemente usados para verificagéo de resultados obtidos em laboratério. Apresenta como desvantagem o longo tempo de duragao. Ensaios de servigo: Ensaio em que amostras so colocadas na instalagéo ou estrutura real para fornecer informagao mais confidvel sobre um metal mais adequado para determinada aplicagao. Sao ensaios antipréticos e caros que demandam tempo de exposi¢ao muito elevados. ‘A seguir serao apresentadas as caracteristicas dos principais tipos de corrosdo e os métodos utilizados para estudo. 2. Formas de corrosao e técnicas para estudo: 2.1 Corrosao Generalizada: Também conhecida como uniforme, é um tipo de corrosdo eletroquimica que ocorre de forma aproximadamente igual em toda a superficie do material exposta ao meio corrosivo (VAZ et al, 2011). A figura 1 apresenta uma superficie com corrosao generalizada. Trata-se do tipo mais comum de corrosao, é de facil identificagdo, controle e aplicagao de mecanismos de protegao. Trata-se também da corrosdo onde ocorre maior perda de material. Figura 1: Corrosdo uniforme na superficie da estrutura. Fonte: Autoria propria As técnicas para estudo e avaliagao desse tipo de corroséo dependem do ambiente © qual o material ficard, sendo possivel 0 ensaio em laboratério ou em campo. Um dos testes de laboratério consiste em ensaio de imersdo ou exposicéo de amostras em uma atmosfera com composi¢ao quimica controlada a fim de acelerar 0 processo de corrosao. Também pode-se aplicar ensaios de campo onde a pega ou amostra fica exposta ao ambiente corrosivo por elevado periodo de tempo, e em intervalos sao avaliados a perda de massa do material devido ao ataque corrosivo. A corroséo pode ser medida através das unidades mdd ou ipy. A primeira representa a perda ou ganho de massa em miligramas por decimetro quadrado por dia, enquanto que a segunda é a unidade de penetragao em polegadas por ano. A avaliagao da corrosao uniforme pode classificar os materiais em 3 grupos: * Taxa de corroséo menor que 0,1 mm/ano ou menor que 5 ipy. Nesse caso, os materiais sao resistentes a corrosao e podem ser utilizados sem restrigao. «Taxa de corrosdo entre 0,1 e 1,1 mm/ano: os materiais podem ser utilizados onde uma certa corrosao é¢ toleravel. * Taxa de corrosdo maior que 1,1 mm/ano, Geralmente nao sao utilizados. Também 0 teste de névoa salina que é amplamente aceito como uma ferramenta para avaliacao da uniformidade na espessura e porosidade de revestimentos metalicos ou nao metalicos, sendo um dos ensaios mais aplicados para determinar a resisténcia a corrosao. O teste de nevoa salina (Salt Spray) é uma simulagao dos efeitos de uma atmosfera maritima em diferentes metais com ou sem camadas protetoras (ASTM B117). 2.2 Corrosao por Pite: Forma de corrosdo que ocorre em pontos ou pequenas areas da superficie do material 6 denominada corrosdo puntiforme (pitting corrosion) ou corrosao por pite, Os Pontos que sofreram corrosdo “pites", s4o cavidades que apresentam o fundo em forma angulosa e profundidade maior do que o seu didmetro. Tal fato cria um ponto concentrador de tensdo no material que pode o levar a falhas catastréficas (GEMELLI, 2001). Trata-se de uma forma destrutivas e insidiosas de corrosdo, causando a perfuragdo de pegas em servigo, com apenas uma pequena perda percentual de peso de toda a estrutura. Sendo essa corrosdo bem dificil de ser detectada, pois a sua pequena dimensao acaba geralmente, ficando escondida pelos produtos de corrosao (GENTIL,2003). A figura 2 apresenta uma chapa que sofreu corrosao por pite. Peds P18: Figura 2: Corrasao por pile. A corrosao por pite é um ataque localizado de uma superficie passiva. Nos materiais passivaveis a quebra da passividade ocorre em geral pela agao dos chamados jons halogenetos (Cl-, Br-, I-, F-) e esta dissolucao localizada da pelicula gera um area ativa que diante do restante passivado provoca uma corrosao muito intensa e localizada (GEMELLI, 2001), Uma grandeza importante neste caso é 0 potencial em que haja a quebra de passividade. ‘A morfologia dos pites de corroséo segundo a ASTM G46 sao apresentados na figura a seguir: ™ ym my par mn pm Estreito profundo _Elipico Largo e aso * = Subsupertcie rosto a, ae r= onientagso meroesruturl Figura 3: Morfologia dos pites. Adaptado ASTM-G46. Medidas de Polinizagdo: Determinam o comportamento anodico/catodico dos materiais através curvas de polarizagao, E(V) vs i. Tem como objetivo verificar a agressividade das solugées e seu efeito sobre os metais através das correntes resultantes, da faixa de passivagdo e da incidéncia de corrosdo localizada na forma de pites. A figura 4 apresenta 0 equipamento necessario para 0 ensaio denominado potenciostato. Figura 4: Equipamento Potenciostato. Fonte: Metrohm 2.3 Corrosao Sob tensao: A corrosao sob tenséo é um fissuragao provocada pela corrosdo associada a tensées residuais ou a tensdes externas constantes. Por ser localizada, a perda de massa do material corroido €, em geral, muito pequena muitas vezes desprezivel. Entretanto, esse tipo de corrosao tras consequéncias praticas importantes, tendo em vista o grande numero de materiais metalicos utilzados e por ser um fenémeno dificil de prever (GEMELLI, 2001). A falha do material se manifesta por meio de trincas até chegar a fratura mesmo que submetido a esforgos mecanicos menores que 0 esperado. Os métodos de ensaios variam dependendo da amostra, material, método de aplicagéo da tensao, meio e outros. RAMANATHAN, 1990 cita que existem muitos métodos de aplicar tenséo nas amostras, e de acordo com os ensaios podem ser agrupados em: 1. Ensaios de deformagao total constante: Nestes ensaios, as tensdes sao induzidas sujeitando-se as amostras a uma deflexdo predeterminada e constante. Esta é conseguida por, ou curvar a amostra em um crivo ou por tencioné-la e manté-la sob tensdo. A figura 4 mostra esquematicamente diferentes arranjos caracteristicos para testar chapas finas ou placas por encurvamento. Figura 4: Arranjos tipicos para testar susceptiilidade & corrosao sob tensao. Fonte: (RAMANATHAN ,1980) 2. Ensaios de carga constante O ensaio de carga constante mais comum é 0 ensaio de aplicagdo de “peso morto”, onde a aplicagéo de carga é uniaxial e as tens6es podem ser determinadas acuradamente. O tipo de maquinario requerido para aplicagéo de peso morto em amostras relativamente grandes, é grande. Este pode, entretanto ser circundado com o uso de uma mola de compressao conforme figura 5. Mole de } compressio mostra Figura 5: Modelo para ensaio de carga constante. Fonte: (RAMANATHAN ,1990) 3. Ensaios de taxa de deformagao constante. Maquinas de ensaio de tracao convencionais podem ser usadas para este tipo de ensaio. A taxa de deformagdo lenta ¢ aplicada enquanto a amostra é sujeita a condigdes eletroquimicas apropriadas. Apés a falha, a superficie da fratura é examinada metalograficamente para assegurar se a foi causada por efeitos de corroséio sob tenséo ou apenas fratura ductil simples. Figura 6: Modelo esquematico para ensaio de taxa de deformago constante. Fonte: (RAMANATHAN ,1990) 2.4 Corrosao Intergranular: A corrosao intergranular ocorre entre os contornos dos graos de um metal policristalino, os quais em condigdes normais sao mais reativos do que o interior dos graos. Contudo, em certas condigées, os contornos de gréo se tornam muito reativos, ocorrendo corrosdo entre os gros da rede cristalina do material metélico (GEMELLI, 2001). Corrosdo consequente do processo de sensitizagéo que ¢ a precipitagdo de carbonetos nos contornos de gréo e empobrecimento de cromo na regiao vizinha geralmente ocorrida em agos inoxidaveis que passaram por tratamentos térmicos, aquecimento para trabalho a quente ou processos de _soldagem. Esse tipo de corrosao também pode ser provocado por impurezas nos contomnos de gro, quando se aumenta ou diminui a concentragdo destes elementos na regido dos contoros de grao, e como consequéncia o metal perde suas propriedades mecanicas e pode fraturar quando algum esforgo mecanico ¢ solicitado. © ensaio mais usado para observagéo da microestrutura sujeita a corrosao intergranular é de sensitisagao também conhecido como Pratica A (ASTM A262). Neste ensaio a amostra é polarizada por 90 segundos a 1 Alcm? e 20°C em uma solugéo contendo 10% de adcido oxalico. A superficie é posteriormente enxaguada e examinada em um microscépio éptico, e a estrutura é classificada como “vala’, “degrau’ ou ambos. A figura 3 mostra microestruturas tipicas de vala, degrau e vala + degrau. Se a estrutura é degrau ela é imune ao ataque intergranular. Se tipo vala ou mista, a amostra deve ser posteriormente testada usando um dos outros ensaios. Figura 7: Microestruturas (A) vala, (B) degrau e (C) vala + degrau. Fonte: (RAMANATHAN ,1990) 2.5 Corrosao Galvanica: Quando dois materiais metélicos, com diferentes potenciais estéo em contato em presenga de um eletrélito, ocorre uma diferenga de potencial e a consequente transferéncia de elétrons (GENTIL,2003). Tém-se entao o tido de corroséo denominado galvanica que resulta do acoplamento de materiais metalicos dissimilares imersos em um eletrdlito, causando uma transferéncia de carga elétrica de uma para o outro por terem potenciais elétricos diferentes. Ela se caracteriza por apresentar corrosao localizada préxima a regio do acoplamento ocasionando profundas perfuragdes no material metélico que funciona como anodo. Exemplos que sistemas que sofrem esse mecanismo de corrosdo sao trocadores de calor, tubos de caldeiras ¢ tanques de ago. A figura 8 apresenta uma trocador de calor que sofreu tal tipo de corrosao. Figura 8: Tocador de calor com corrosdo galvanica Como forma de prevengao desse mecanismo de corrosao pode-se citar: Selecionar metais (ou ligas) préximos na série galvanica; Isolar eletricamente os metais quando possivel; Projetar a estrutura de forma a poder substituir as partes anédicas; Instalar entre os dois metais um terceiro metal anédico em relagao aos outros doi Aplicar pintura em todo o sistema, em particular na zona catédica. Para avaliagao da intensidade da corrosdo galvanica pode-se utilizar os seguintes métodos: * Gravimetria com os metais acoplados — perda de massa em fungao do tempo (ASTM); + Medida da corrente galvanica entre os dois metais com auxilio de um circuito especial — amperimetro de resisténcia nula. 4. Consideragées Finais Grandes prejuizos e danos séo causados pela corrosdo, assim é de grande relevancia conhecer os mecanismos, origem e fatores causadores dos diversos tipos de corrosdo bem como os métodos de estudo e avaliagéo, uma vez que com esse conhecimento é possivel se estimar a taxa de corrosdo e a vida util de um componente, verificar se determinada liga ¢ adequada para operar em uma atmosfera especifica, avaliar os efeitos de tratamentos térmicos na resisténcia a corrosdo, prevenindo intervengées nao programadas e em alguns casos até falhas catastrdficas em pegas. 5. Referéncias ASTM-G46-94, Examination-and-evaluation-of pitting; 2009 p.8. ASTM B117-07. Standard Practice for Operating Salt Spray (fog) Apparatus; 2008, p. 1-10 ASTM-G31-72. Laboratory-Immersion-Corrosion-Testing-of- Metals; 2004 10p. GENTIL, V. Corrosao. 4. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Cientificos, 2003 GEMELLI, Enori. Corrosdo de materiais metalicos e sua Caracterizagdio: Rio de Janeiro, LTC, 2001 CALLISTER, William D. Jr. Ciéncia e engenharia de materiais: Uma introdugao. 8a ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011 RAMANATHAN, L. V. Corrosao e seu controle. Sao Paulo, 1990: Hemus Editora Ltda. 339 P. VAZ, E. ACCIARI, H. CODARO, E. Um método para avaliar a taxa de corroséo. Quim. Nova, Vol. 34, No. 7, 1288-1290, 2011

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