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Tom é dessas palavras que podem ser usadas em situações e com sentidos o

seu tanto diversos. Pode significar, por exemplo, a presença, a intensidade de uma
cor em uma imagem ou objeto (como quando falamos em “tons de preto”), mas
pode indicar também as relações funcionais entre acordes de uma canção, como
quando alguém diz que um outro cantou fora do tom da música. Caberia aqui uma
pergunta: no caso em questão, tom e tom seriam a mesma palavra? E aqui uma
possível resposta: embora não se refiram à mesma coisa, tom e tom o fazem usando
o mesmo som. Em outras palavras: é pela sonoridade que se cria um espaço de
encontro.
Diante disso, o que dizer de um show que se intitulasse Tom em dois tons? A
coisa se complicaria porque Silvia Marinho, a moça que compôs o tal título e que se
apresentará, por ocasião dele, nos dias 20 e 27 desse mês, no Teatro de Arena
Sérgio Cardoso, nem se refere, com Tom, a cores, nem, com tons, exclusivamente a
tom musical. Tentando descomplicar: os dois tons do final do título são duas edições
de um mesmo Tom, o Antônio Carlos; dois shows/tons diferentes com músicas do
mesmo Jobim.
No dia 20, fazendo-se acompanhar por Alisson Freire, no violão, e Elizaubo
Wandemberguer, nos sopros, Silvia cantará peças conhecidas como Gabriela e XXX,
e outras nem tão famosas como xxx e XXX. No dia 27, o clima é mais camerístico. O
piano de Manuel Vieira Jr., eventuais participações da clarineta e clarone de Flávio
Ferreira e o autor deste texto dividindo as vozes em duas canções com Silvia. Quem
assistir aos dois shows, encontrará tanto canções exclusivas de cada um deles,
como canções que, de um pro outro, se atualizam em nova versão.
Tom Jobim, como Chico Buarque, Roberto Carlos e outros, é campeão de
regravações e releituras. O gesto de Silvia, que já demonstrou pouco interesse pelas
facilidades em projetos anteriores, soa duplamente ousado: amplia riscos mas o faz
com mão firme. O risco inerente a mexer com peças que tiveram versões “clássicas”
e a mão firme para pensar essas versões como partes da conversa entre pessoas e
tempos diferentes.
É de bom tom não perder.

Marcelo Marques.

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