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al 4. y a. PREFENTURA MUNICIPAL OE SANTO. ANDNE PALESTRA: J. GROTOWSII Me perguntaram se seria possfvel publicar este discurso. Agora observem, a coisa nfo nasceu, 0 discurso ainda nfo foi lo. Este ¢ o mundo de hoje. B o parido e ae fala em public! mundo onde tudo é abortado. Se ajuda as coisas a sairem, "por que senfo nascem mortas", (a serem diotribuides). £ uma dos definigdes mais importantes de nossa época, a época do abor - to} e com uma vontade cada vez maior de dividir os valores com os outros para dar acesso ds pessoas, tornar es coisas vist - veis, tato © modo como funciona a mfdia de hoje,é a de fazer as coisas aparecerem cedo demais. Outra coisa ¢ que tudo se torna “insineero". Quer dizer, eu devo falar a vocés, mas se em minha mente tenho a imagem de que devo publicar isso, eu u tilizo vocés para fazer um bom texto para publicar. Por acaso, é a mesna coisa fazer um bom texto para publicagio e faler vocés? Nao, néo ¢ a mesma coisa, ¢ uma coisa completamente di ferente. Este é um tilizado em fungio um encontro com as aspecto do mundo de hoje: tudo deve ser u- de um outro objetivo. Aparentemente se faz pessoas, mas em verdade se pensa em como piblicar um texto, etc... Imagino que,para mites pessoas, até hoje, isso néo seja-nem=main.claro como problema, porque vo- cés nasceram, foram educadas e formados nesta civilizesao. Mes para as peesoas sensiveis ¢ fundamental descobrir qual ¢ © perigo desta civilizag&o, senfo serao comidos por esta civi lizagio, serio mal digeridos e evacuados. Se diz que o direito Ge funcionar deve scr aplicado ao teatro. Se diz constantemen te esta estupidez. Se diz que por exemplo em paises desenvol- vidos como os E.U.A., isto estd plenamente em marcha. B verda de, isto esté plenamente em marcha, mas-na pratica o teatro como ENS@MBLE” ARTISTICA, 14 nfo existe mais. Existe o mercado, erie PAEFEITURA MUNICIPAL OE SANTO. ANORE ¥1.02 isto € verdade. Agora eu vou lhes contar o que ¢ o mercado pa ra atores. Vocés devem considerar profissionalmente os atores. Wao existem ensembles, néio existem grupos, existe o produtor. © produtor decide por exemplo, que se monterd uma pega de Sha- 4 kespeare. Se encontra um diretor, se faz evidentemente diver- 50s encontros com diversos candidatos e se escolhe o diretor. Agora o produtor e o diretor procuran o casting director, Ago | jf ra, quem ¢ 0 casting director? £ um especialista que decide i quen deve representar o que. Quem deve representar Otelo, Des | { a8mona, quem deve fazer Iago. Agora, o casting director come- | g@ 09 testes, Os atores se unem como num grande mercado de ' 1 prostitutas. £ mito triste. Estas pessoas est&o realmente con ‘ denades a submeter-se a uma série de manipulagées cénicas pa~ ra fingir ser o melhor Otelo. & preciso mostrar a musculatura, as qualidades da voz, o charme. i Mas o que é isso, una queiza?.., nas a um n{vel muito mais baixo. Mas os atores tém de fazer isso, porque nfo tem nenhuma outra possibilidade de trabalho artistico. Agorao ' casting director Seleciona por exemplo,5 candidatos para Ote~ Jo, 3 para Desdemona, etc... e depois o diretor com o produ- tor ou ds vezes sozinho se é de grende confianca do produtor, decide: agora serdé esse entre os 5 candidatos que fard Otelo. muito frequentenente os atores nem mesmo se conhecem um a0 ou tro. "Receben" um periodo longo ou breve para os ensaios. 0 que quer dizer longo? 5/6 semanas ¢ longo. Normalmente sao 3 semanas. Estréiam, representam. E as pessoas compram ingressos muitos caros e esté tudo bem, o piblico vem. Agora se apresen | tam muitos problemas: é possivel um trabalho artistico neste quadro? Penso que niio. ‘ / J aay | eet PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO. ANDRE P1.03 0 teatro, pelo menos o do tempo de Stanislaveky, é consi ma pesquisa de como ¢ posa{vel fazer um espetdculo. Mas se a pessoas so escolhidas como una indictria (a propJsite, nos E.U.A. se usa esta palavra também para o teatro: indistria) , Go hd nenhuna necessidade de procurar uma visio art{stica e nilo hd tempo. Os atores devem vender aquilo que jé téme com mhecem. Quer dizer que devem vender suas qualidades corporais, sensuais e certas capacidades téenicas que frequentemente sao outras (14 noo B.U.A.), @ podemos dizer que néo devem fazer crescer a floresta, mas cortd-la, devastd-le. Aquilo que tén- Gevem aé-lo por inteiro, todo. & por isso que neste teatro 08 atores madam continuamente, se procure sempre novos, porque os outros estZo usados. Agora se procura um novo para user. Gostaria que vocés fossem mito conscientes. 0s profetes que dhes dizem que ¢ preciso fazer o teatro comercial, 0 mercado para atores, sao os profetas de desventura, do desastre. Nao apenas materdo a arte teatral na Europa como transformardo vo cés - seres humanos - em desastre. Vocés trabalharéio por um certo perfodo curto de tempo, giraréo de um lugar eo outro em busca de um novo papel. Vocés néo tem nenhuma possibilidade de procurar elgume coisa criativa em seus trabalhos. Vocés se rio considerados seres a manipular. Nenhum de seus trabalhos terd credibilidede. Se existe um grupo teatral que faz qualquer coisa, o faz talvé® com hi- pocrisia. Kas, talves atrés desta hipocrisia, existe wa tipo de espirito do “porque” fazen esta coisa. Se existe vn merca- J FREFEITURA. MUNICIPAL DE aay f eee SANTO. ANORE F1.04 do para atores, este critério niio existe mais.Séo pagos e is- to & aceito. Se pede a eles para representarté evangelho, re- presentam o evangelho, se pede para representar a vide de Ko- meinni, representen a vida de Komeinni. B'se quer construir um espetéculo contra Deus, nenhuma diferenga. 0 espectador tay ‘pém sabe - esta gente é toda paga, - que representam 3d e uni cemente porque séo pagos. Isto ¢ um desastre e também imoral. Vos EVA existem formiddveie grupos de danga provavelmente os melhores do mundo. Go sei como isso ocorre, mas exatamente, existem os gry pos de danga, quero dizer, existem grupos de pessoas que tra- pelhem por longo tempo juntas e se unem em torno de um mestre. So portanto mito menos comercializados. Existe a nog&o de eotabilidade do Ensamble, do grupo "20 menos" relativa. £ cla ro que @ denga, como arte, existe a um nivel mito mais alto nos EUA, mas existe mercado de bailarinos como existe para a~ tores. Sim, existe uma espécie de mercado, porém para os dan~ carinos de 28, 3# ordem. Mes os grandes grupos de danga sao os Ensanbles. Agora, por que lhes falo da situacéo nos EUA? Porque € como un "sintome" de como e em que diregHo esta civi Lizagio se move. Est&o empenhados em um caminho, no qual vocés também que rem se empenhar com entusiasmo. Entusiaszen-se 14 onde nao nd motivo de entusiesmo ~ mas se jam prudentes em observar os ro~ sultados. Nos EUA, em toda e qualquer universidade, faz-se cur sos sobre Stanislavaki. Os livros de Stanislavsld silo obriga- térios. As ligdes prdticas sio aplicadas. Agora, no quadro da situagéo prdtica, onde os Ensambles praticamente néo existem mais, se faz estudos sobre Stanisla- vski, que procurou quase unicamente a arte de Ensamble. Sta - nislaveld; que em toda a sua vide rechagou a arte mercantil ad. | ed PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO. ANORE P1.05 fe que pedia um longo tempo de preparagéio no @mbito do grupo de pessoas que se conhecem. Stanislevskd que muito frequen- temente trabalhou, néo 5 meses, mas 1, 2 anos sobre um espe téculo, é agora ensinado a estudantes que muito frequentemen te trabalhardo 3 meses sobre um espetdculo. Esta é a situe- gio. Stanislavsid continua como um simbolo, mas no é mais 2 plicado. Agora, onde nds encontramos esta anos revolugao comercial? Exatamente antes do perfodo de Stanislavsit. Mas neste perfodo ensaios era muito curto. Nos século XIX, as ve ges ensaiava-se uma semana, o que creio, seja melhor que 3 semanas. Porque naquele caso ¢ preciso decorar o texto ¢ es forger-se em improvisagdes. Ao menos @ situagéo é clara: ou se consegue ou se cai. Trés semanas é a coisa pior. Por outro lado, existe uma certa estabilidade reletiva. Iwito frequentemente, o micleo de uma empresa era niicleo fa- niliar. Era o papai que fazia a diregdo, a filha a 1# atriz, o merido o 1° amante, o tio o velho mau € 08 outros atores @ ram pegoo na rue como no mercado, mas de maeire diferente » menos estruturada. qualquer coisa em tudo isso era ao menos viva. Hoje a visio de teatro comercial é # mesma que “Je en- +80, mas sem esta coise viva, sem este aspecto familiar bo8- mio. For certo lhes contardo una série de estérias a fim ae convencé-los ée que o sisteme de mercado é o melhor. Dirdo que es grandes indiistrias podem pagar taxas, subvencionar. Certo, derdo algun dinheiro. Néo o bastante para vivery mes nom to pouco para morrer. Poden pagar mais, se fizerem © arte que eles edmiram, se a vossa arte esté ao nivel dos ho- mens ricos. # verdadeiramente uma coisa, 0 nivel dos homens J y REP yy J eeaeen F1.06 ricos, algo mito preciso. Ne Europa isto ainda nfo ¢ assim to avangado porque existe a tradig&o da corte, seria dizer, existe o principe que paga 08 artistas e espera os artistas fazerem qualquer coisa, Poder-se-ia dizer que é a mesma coi: “ga que um miliondrio, mas nfo é verdade. 0 principe ¢ como o Presidente da Repiblica na Franga. Nao é um problema de seus misculos apenas, ¢ um problema de sua boa ou m4 consciéncia. © principe deve mostrar que tem um espirito, mesmo se nio o tem deve mostré-lo. Deve ajudar as coisas que siio dificeis , menos banais, etc... 0 miliondrio néo tem que ter um espiri- to, nfio hé nenhuma necessidade. Aquilo que deve mostrar é que sabe fazer dinheiro e esta é a sua gldria. Esta ¢ a opor tunidede e sorte da Europa. A cultura européia é hipdcrita e esnobe, mas ¢ ainda uma pequena possibilidade para vocés, por que aqui no existe unicamente o valor do dinheiro, existe ' ainda um outro valor qualquer verdadeiro ou falso. Por exen- plo: eu tenho dinheiro, mas n&o me basta de todo para fazer me sentir bem. Hipdtese - Carla ¢ a marquesa. Bu sou um milio nério, mas ela é uma marquesa. Ponho & minha alma esta ques- tio - é ser marquesa? Telvés possa casar-me com @ marquesa @ eventualmente patrocinar qualquer coisa de artistica, ambicio sae assim serd esquecido que nao sou marquess. Mas talvés ' ainda no seja o bastante, talvés Roberto genhe 0 Prémio No- bel, grande intelectual, e agora me perguntarei: mas talvés, ser um miliondrio marido da marquesa seja a mesma coisa que ser o Prémio Nobel. Nao o Prémio Nobel é melhor, mas talvés eu posse dar qualquer coisa para que ele faga seu trabalho ex perimental # de um certo modo também serei um pouco Prémio No bel. i ' ' t : i PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ANDRE e800 oC £40 PAULO 1.07 Melhor trés valores que um ed. Quer dizer, fora do prag matiemo, para ser como se deve, é preciso ter 1, 2 ou 3 idéias sociais e humanitdrias. Por exemplo, este festival existe hé 10, 15 anos. § um * festival de grande valor. Talvés tenha sido possivel por exis tirem uma 2 ou 3 idéias, Aquelas 2 ou 3 iddias que dizem que § preciso eustenter, e ajudar aquelas coisas que esto por ' nascer, que ainda néo edo ligadas ao mindo comercial ete... Quer dizer que uma certa boa ou mé consciéncia ajudou a coisa @ se desenvolver. Um dia, nfo haverd mais necessidade de uma m4 consciéncia e no lugar de St.Arcengelo (festival), se faré una nova feira, um novo mercado. O que Ihes quero mos trer é que o#.velores.hipderites, os valores que frequentemen te consideramos hipdcritas, se sio, podem servir A arte. 16 onde hd a6 valor - dinheiro, esté tudo acabado. Agora, € mi to paradoxal, que eu que saf da proprie fonte da vanguarde, deva girar o mundo para falar de Stanislavely. Quer dizer que ainda é necessério fazer a primeira reforma de teatro. Pelendo teatro realista, o teatro convencional, mas ar— tistico e competente de Stanislavokt. Eu suponho que o perfodo mais criativo de Stanisleveli tenha sido o Ultimo perfodo de sua vida. £ o perfodo no quel trabalhou sobre o método de ages f{sicas e a realizagio sim polo deste perfodo ¢ 0 trabalho sobre TARTUFO de Moliére. An- tes disso Stanislavskt ja havia feito “aprouches", praéticas com 06 atores em direcdo ao métodos de egdes fisicas, mas sen pre‘aprouches" pareiais, como quando trabalhou sobre a alma de Gogoe onde pesquicou qualquer coisa neste sentido, sempre Ppo- rém, como um suplemento. Mas ele pessoelmente, com algunas pessoas em torno a ele, nos tiltimos anos de sua vida, seguiu ert PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO. ANDRE 15100 o€ £40 PAULO F1.08 essa orientagéo em dirego eo método de agées fisicas, como que para fazer um testamento de tode a sua vida. Ao fim, nos ‘times 2 anos antes de sua morte, trabalhou com atores que eram "“marginais" a0 seu teatro, em torno eo tema de TARTUFO “@e Moliére, onde introdugiu 2 coisas: A primeira era dizer aos atores que eles nfo deveriam aprender a representar o papel. Assim, quem deveria representar Tartufo nfo deveria 9 prender o papel de Tartufo, quem deveria fazer Orgon, no de veria aprender o papel de Orgon. Certo, um ator trabalhard sobre Tartufo, outro sobre Elvira etc. mas o objetivo é de @ prender a trabalhar sobre o papel. E disse: Fago mitos espe tdculos e a situagio do diretor é sempre a de fazer um espe— téowlo e depois um outro. Eu néo estou interessado nisso, ea tou interessado em vos transmitir a técnica do trabalho. Se trebalha,mas sobre Tartufo, deve-se aprender a trabalhar ar- tisticamente sobre diversos papéis, nao se deve pensar ne estréia, nao haveré estréia, trabalhamos unicamente para e~ prender qual é a técnica de trabalho. Agora, como se ordenar para esse trabalho? Existem diversos pontos, que evidentemen te nfo devem ser imitados, e em cada trabalho existem solu - gdes um pouco diferentes. Mas o que é interessante € o que Stenisleveki queria e~ vitar. Ele propos 20s atores, de no aprenderem o texto de cor. Disse: Esquecam o texto do ator. Certo, vocés devem 1é- lo, mas tudo para deacobrir a linha dos acontecimentos e das acées. Nao pensem nos personagens, cheatim até a “esquecer" de que existem personagens, mas procuren-no nas circunsténeias aadas. Agora eu, em um certo lugar, em um certo tempo, em una dada situacéo de conflito, com um corpo, so ou cansado © / toni PREFEITUMA MUNICIPAL DE SANTO ANDRE e140 08 $0 PALO nase F1.09 doente, com certas qualidades do corpo ¢ da mente - certo, @ xistem qualidaies mentais, oe eu tivesse uma perna do madei- ra como te comportaring ou se tu tivessen usa porna de maded ra como te comportarias e oc tu tivesses uma perna de pau na cabega, como te comportarias. Tudo isso sfio as cireunstfncios NEo pensar no personagem, procura o teu eu sou na realidade doo cireunstincias. Agora, as circunstincias nfo siio as mes- mas para cada personagem. Por exemplo: Orgon: era uma pessoa pimples, integra, que tem qualquer coisa de sdlido em si. Se toma partido de alguma coisa mantém-se ligado a cla. Um dia, ele encontra “Un sujeito com pinta de Cristo", 1- e leva-o pa ra casa = Jesus Cristo para casa. # um negécio muito complexo. ¥ claro que para a familia ¢ insuportével. Orgon, que é um ti, po sélido sincero, honesto, se ad conta, entende, que para a famf{lia 6 horrivel, mas todavia para a fam{lia ¢ mito impor— tante, mesno se fraca, ter J.C. em casa. Este é 0 ponto de par tida des circunsténcies para Orgon. Evidentemente existem mi tes circunstfncias ligadas & sue corporeidade, & sua idade, & ua relagio mlher/filhos... tas no fundo, @ coisa crucial, é que teve a oportunidade de encontrar J.C. ,"um" como, levd-lo para cosa. Este "um" pode ser Tartufo, Para Orgon, esta situa go é um conflito permancnte. ¥ o conflito entre aguilo que Geve morelnente acontecer, a eccitagio de J.C. ¢ de outra par te. Cono fazer a fumflia accitar isto que é ineceitavel. Como evitar que J.C. vd embora? Vejamos os elementos, of fragnmentos @a pega. Penso que vocés oc lembram que hd um momento na pega, en que Orgon estava ausente da cesa/fanilia e quando voltou, soube que a mher estava doente, e un Gos personagens ~ a fi- the, conta tudo o que aconteceu. Diz que a née cotava tremenéa mente mal, um desestre e Orgon pergunta: "E Tartufo" e ele dic que Tartufo coneu tudo o que havia e bebcu todo o vinho. Ele ean PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ANDRE stA00 8C £40 PavLO Fl. 10 diz: "Oh, pobre". Como ¢ poosivel que ele haja dito "Oh, po- bre, Oh, coitado"? Em primciro lugar Stanislevski guiou numa circgo onde € preciso conhecer a topografia do territério. Stenislavski -conduziu este trabalho sobre o palco cénico, mas sobre os 2 endares do camarins dos atores. Havie portanto uma quantidade enorme de quartos c comegaram a trabalhar para descobrir quem hobitava onde: 0 Sr. Orgon, a Sra., os meninos onde vivien, © Tartufo? Onde comian, onde era a sale de jantar. = continua - ron a midar até que tudo pudesse funcionar como na fazilia ée Orgon. Represonteran cenas inexistentes no texto - por exem - plo: Tartufo chega & casa de Orgon e improvisaram o texto, im provisaran os conflites escolhides cue existiom antes que co- mecasse & pega. Se comportaram como criangas que jogam por se manes, mas finalmente cade lugar passou e ser vivo para cles e comegaram a descobrir quais eram as relagées entre es pesso as na pega. Por ex: Se en toda a femilia, o problema ere com- prometer Tertufo, e Sra. Organon deveria levé-lo a comprometer se, Sen comprometer-se ela prépria como a milher que trai. De veria der a Tartufo & oportunidade de seduzi-la, sem comprone ter-se ele mesma. Porque, se ¢ ela que visivelmente toma e ini ciative, poder-se-4 dizer que foi o "coitedinho" que ceiu en tertegio. Representeran dezenas de cenas inexistentes exatemen te pare ver ée gue moncira e fomilia poderia menipular 2 situg go. E egora estenos dionte da estéria de Tertufo fia do espago, o quarto contigue ao de madenc ¢ o de Tertufo e é uma espécie de cela mondstica. Ele cra um men Severo, dc ndvitos severos, quarto completamente vezio, ser méveis, por que passa o tempo entre a reza e © mortificagiio. A este ponto surgiu o que Stanislevsidi chamou de inegom, e disse: " Quando i / / / yw | tonne Jn MUNICIPAL DE SANTO ANDRE aoa oe 80 a8 rast Fl. yooés disserem o texto nao tentem ilustrar, colorir as pala- yroo para dar o valor das imagens. Mao éigam que a tempesta— Ge ere horrivel e que o dia é BONITO. Um cristo, nfo tem co notago pejorative. Este ¢ 0 modo equivocado de trabelhar sobre as imagens pois ao contrdrio existem imagens que vocés devem capter c monter como cixo de suas agdes. Isto pode servir, ou a voces mesnos para revelar cono @ pessoa age muna circunsténcia, ou pode servir para transmitir eata imagem eo outro! ‘Agora no caso "Oh, pobre" esta ¢ a primeire versio. Quais as imagens que nos servem? Orgon pergunta o que aconteceu & conten-Ihe o desastre de doenga. 0 que faz? Escuta e ceria une imagem dentro de seu olno interior - ele v8 Tartufo no monen- to da reze ec extase mistica, neste momento um enorme barulho no corredor, os gritos das pessoas, @ chegada do médico, to ~ das cs coisas para estancar o sangue, @ procura dos remédios, ‘ado isso acontece de maneire violenta, interrompendo 0 seu @xtase. Agora quanto mais a mulher de Organon edoecie, mais a commicagdo de Tartufo com o Pai era pertubada, interrompi aa ¢ Tartufo santo, mas se diz que ele comcu demasiadanente e eben todo vinho - estava nervoso e teve de salvar-se através deste enorme apetite. lias ndo basta isto, é claro que Tertufo/ gesus Cristo fez un milegre pera curer a mulher de Organon, mes para fezer um milasre, como sabeis é necessario empenhaz una energia enorme, o gue quer dizer que esta comida/ vinho foi substancia viva de Tartufo que doou a Sra. Organon pare salvé-le. Que coragio, que vontade de ajude, que generosidade pobre Tertufo". 3 este a chave. £ através da imagen que @ coise aparentemente absurda pode ser vista como légica. Veja~ mos un outro exemplo de imagem. 0 cunhado de Organon converse eet PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ANDRE esnoo 9 re pi. 22 Jonganente com ele sobre esta situacio doméstica. No texto 0 cunhado diz a Organon que ele esté ae comportando como um im- pecil, que estd sendo menipulado por um monstro que s¢ faz ri @feulo aos olhos de todos e ele tenta convencer o cunhado do . gantidede de Tartufo, E 14 Stanislevaki usov dois termos para jndicer Tartufo aos olhos de Organon: ou cone Posted. 0 que diz Organon no texto? Conta ao cunhado como encontrou Tartufo, como o viu rezando, como ajudava os pobresy cone tratou com severidade a si mesmo. Na realidade, o que orgenon esté tentan do fazer é transmitir imagens. Stanislavski @isse a ator que intezpreteva este papel que no momento néo sto as palavras do texto que sto importan- tes, que ele poderia inprovisar modificendo 0 texto, o que de yeria fixer era a imagem do Zeon Tostoi que foi encontrado na Iereja, e através de sew comportanento transmitir @ imagem 80 seu cunhado, pois ¢ através dos seus olhos que ele deve ver quen é este personagem. Agora todo © teu esforgo deve ser o de mpor/colocar-Ihe imegens. As imagens @e uma pessoa extrema — mente aceitével, positive, inteligente, pura, limpa, e isto deve ser feito em torno de ume imagem nfio genérica, e sim pre cise, "leon Tostoi. Eo que deve fazer o cunhado? 0 eurhazo deve fazer tudo aquilo que é o contrério de escutar atentamen te. Tor exenplo, se alguém escuta de maneira atenta, olhe, © o cunhedo deve no olhar. A un certo porto deve penser sobre 0 que recebeu se ouve, mas se no ouve, deve ocuper-se de outra coise, por exenplo ler o jornal, e todo um comporta- mento que ¢ oposto da agio de escutar. Quais sao as pequenas ecdcs com as quais mostramos & alguém que 0 cscutenos? Este € a primeira pergunta. Se te ougo te olho, mas o oposto qual é? oiho nun ponto onde nio hé ninguém. Af estenos mito perto aes agces fisices. J Ae Xv ferment “ee Fl. 13 Até agora felanos ad de trensmisstio através de imagens, a~ gora possemos as agdes fisicas. Este é o elo fundamentel do método, no Wtino perfodo de vide de Stanislevski. 0s atores pensavam poder organizer seu papel através das enogdes e Sta- -nislavski por muitos anos de sua vida pensou assim, de manei- ra enotiva. 0 velho Stanislevski deseobriu verdeies fundamcn~ tais e uma dclas essenciel para o seu trabalho é & de que & emogio é independente da vontade. Podemos tomar muitos exen — plos da vida quotidiena, Néo quero estar irritado com determi neda situegiio mas estou. Quero amar une pessoa mas nBo posso amé-la, me apaixono por uma pessoe contra 2 minhe vontade, procure a alegrie e nfo acho, estou triste, néo quero estar triste, mac estou. 0 que quer dizer tudo isso? Que as emogoes sko ingependentes da vontade. Agora, podemos achar tode e for ga toda 2 riqueza de enogdes de um momento, tembém durante un ensaio, mes no dia seguinte isto nfo se epresenta porguc 8s emogées so independentes de vontade. Esta ¢ ume coisa rcalmen te fundamzntal. Ao contrério equilo que depende da nossa von~ tade. Séo as pequenas egdes pequenes nos elementos de comporta mento, mas realmente nas pequenas coisas - eu penso no canto Gos olhos, a no tem un certo ritmo, veje minha nfo com neus othes, do lado dos meus olhos quendo fclo minha mo "faz" um certo ritno, procuro concentrer-ne ¢ n&o olhar pare o grende movincnto de leques (referéneia as pessoas se abanando no audi, tério) e nun certo ponto olho pare certos rostos, isto é uma aco. Quando disse olho identifico ume pessoa, nilo para vocés, neo para mim mesmo, porque eu a estou observando e me pergun ~ tendo onde j& a encontrei, Vejan a posicg&o de cabega © mao m2 dou, porque fezenos sempre ume projegilo no espago da imagen; princiro esta pessoa agui, onge a encontrei, cm qualquer lugar 2 encontrei, qualouer porte do espago e agora capto o olhar de ene PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ANDRE 51400 0 tho FaMto Pl. 14 um outro que esté interessando e entende que tudo isso ofo a- goes, so as pequenas agdes que Stanislavski chamou de fis: Pera cyitar a confustio com sentimento, deve ser formuldvel nas ecategorias fisicas, para ser operativo. E nesse sentido que Stanislavski felou de agées f{sicas. Se pode dizer fisica jus~ tamente por indicar objetividade, quer dizer que nfo é suges ~ tivo, mas que se pode captar do externa. © que 6 preciso compreender logo, ¢ o que no sto agdes fisicas. As atividades nfo oto agdes fisicas. As atividades no sentido de limpar o chiio, lavar os pratos, fumar cachimbo, nio sio agées fisicas, siio atividades.Pessoas que pensam tra- pvalhar sobre o método agées fisicas fozem sempre esta confusio. xuito frequentemente o diretor que diz trabalhar segundo es 2 goes fisicas manda lavar pratos ¢ chio. Mas a atividade pode se transformar em acio fisica. Por exemplo se vocés me coloca ren uma pergunta mito embaragante que é quase sempre a regra, eu tenho que ganhar tempo. Comeco ento a preparer meu cachim— bo de maneira muito "slid + Neste momento vire ago f{sica, porgue isto me serve neste momento. Estou realmente muito ocu- pado em preparar o cachinbo, ascender o fogo, assim DEPOTS * posso responder & pergunte. Outra confusto relativa is agées fisicas, de que as agdes Fisicas s&o gestos. Os atores normalmente fazem muitos gestos pensando que este ¢ o "mesticre ". Existem gestos profissio - nais - como os do padre. Sempre assim, muito sacramontais. 19 to of gootos niio agdes. Sio pessoas nas situagdes de vida. Pois sobretudo nas situagées de tensic, que exigem resposta i mediata, ou a0 contrdério em situagdes positives, de amor por exemplo tanbém aqui se exige ume resposta imediata, nfo se fa zen gestos neotas situagdes, mesmo que paregan ser, 0 ator que at x tenet PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ANORE 1es1A00 E540. PAULO Fl. 15 representa Romeu de mancira banal faré um gesto amoroso, mas 0 verdadeiro Romcu vai procurar outra coisa; de fora da impresoiio de ser a mesma coisa, mas é completamente diverso. Através de pesquisa desta coisa quente, existe como que wma ponte, um ca- nal entre dois seres, que néo é mais fisico, Neste momento Julie ta é amante ou talvés usa mic. Tamvém isso de fora, da & impres- eGo de ser qualquer coisa igual, parecide, mas a verdadeira ree gio & ago. 0 gesto do ator Romeu ¢ artificial, ¢ uma banalida~ de, um cliché ou simplesmente wma convengiio, se representa & ca ra de emor assim. Vejam a mesma coisa com o cachimbo, que por ai 96 6 banal, transformado-a partir do interno, através da in- tensdo- nesta ponte viva, e & ago fisica nio é mais um gesto. © que € gesto se olharmos do exterior? Como reconhecer 78 cilmente o gesto? 0 gesto é uma ago periférice do corpo, néo nasce do interno do corpo, mas da periferia. 1¢ ex: quando os fezendeiros dizem um bom dia bs visitas, se elo ainda ligades & vida tradicional, o movimento da mio comega dentro do corpo (Gro towski mostra), e os de cidade assim (mostra). Bate é 0 gesto. Agio é qualquer coisa mais, porque nasce do interno do corpo. quase sempre o gesto se encontra na periferia, nas "caras", neg tea parte das maos, nos pés, pois os gestos mito frequentemente no tém origem na coluna vertebral. Ao contrério, as agdes estio radicadas na coluna vertebral e habitem o corpo. 0 gesto de a- mor éo ator seird "dequi", mas a agdo, mesmo se exteriormente parecer igual seré diverse, comege ou de qualquer parte do corpo onde existe o plexo ou da colune vertebral, equi estaré na peri feria sé o fim da agéo. ¥ preciso compreender que né uma grande aiferenga entre Sintomas e Signos/Simbolos. Existem pequenos 22 pulsos do corpo que so Sintomas. Mio sfio realmente dependentes @a vontade, pelo menos n&o sao conscientes - por ex? quando se enrubesce: é um Sintoma, mas quando se faz um simbolo de estar wae PREFEITURA MUNICIPAL OE SANTO ANORE etap0 oc $49. PAULO F1.16 nervoso, este ¢ 1 Simbolo (bate com o, cachimbo no mesa). Todo o ito teatro Oriental ¢ baseado sobre os Simbolos trabalhados. frequentemonte na interpretagio do ator estamos entre duas mar geno. Por exemplo, as pemnes que se movem quando estamos impa~ cientes. Tudo isso esté entre os Sintomas e Simbolos. Se isto é derivado ¢ utilizado para um certo fim se transforma em uma a ~ gio. outra coisa ¢ fazer a relagéo entre emogio e agiio. Existe um exemplo de Stenislavoki, é 0 exemplo da situagio chata/mond— tona. Kormalmente o ator procura mostrar que esté de saco cheio (4roniza fazendo caras de enfado exegeradas) ¢ interpreta as e- mogées - 6 sempre falso; mas se 0 ator se poe @ pergunta: o que fago se estou de saco cheio, descobrirdé que faz coisas para achar yma ocupagiio: pega um livro para ler, mas o Livro nfo e grande coisa, tudo jé é conhecido, decide ir a jenela olhar a rua, cer tamente tem qualquer coisa acontecendo 14, mas hoje nada aconte ce fore da janela, finalmente entdo vai dormir, mas nfo conse — gue, muda de posigao mes n&o funciona, talvés comer, beber qual quer coisa, mas as coisas estéo com un gosto horrivel. Observe! quer dizer que fazemos mais do que fazemos normalmente e isto & ester numa situagio mondtona. Ve jam: foi suficiente perguntar 0 que se faz numa situagSo do género. Se fazemos & pergunta em termos emotivos, séo es banalidades que aparecem, mas so sc Per sem termos de agio, agquilo que Stenislevski chamou de gust: agdes fisicas, o que se faz para fazer mais que normalmente, & uma pesquisa de atividades. Este é ume “aprouch" dequilo que é procurer as agdes fisicas. ‘A outra confuso é entre movimento ¢ agio. 0 movimento, como ne coreografic, néo ¢ asic fisica. mas cada agio fisice po de ocr colocada em forme, em ritmo, seria dizer que cade ago fisice, mesmo a mais simples, pode vir o ser una estrutura, une eenpont PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ANDRE te1A00 oF 540 PAULO oust 71.17 particula de interpre}asio perfeitamente estruturada, organiza- da, ritmade, Do externo, nos dois cesos, estamos diante de une coreogrefia. Kas no primeiro caso, coreografia é sonente movi: mento e no segundo 6 o externo de um ciclo de agdes intenciona~ is. Quer dizer que no segundo caso, & coreografia ¢ parida no fim, como @ catruturagHo de reagdes nz vide. quando Stanislavski trebalhow sobre 2 ALMA HORTA, ne enti ga Rusoia se podia conprer un "passe" com a alma dos fezendei- ros. 0 personagem sai por ai (normalnente se compraye WS luga- rejo com as almas vives dos hebitantes. Se havia 40.000 habiten tes em SPARCAIJELO isso era igual a0 prego- Chichicon tem ume idéia econ$mica de que as almas que es~ téo mortes, mos se ainda néio registradas como tel sGo juridice- mente vivas, e que se ele compra por pouco dinheiro une quenti- dede de almas mortes, pode ganher um grende empréstino do benco, pois assim mostraré ser mito rico. Gira por ai pare encontrar jdéie bizarra, e chega a um proprietdrio de ter renhamente. Pede as almas mortas, re que 6 mito gentil, mas que se comporte est a Chichicon que se sente de maneira precisa, que othe de maneira muito estranha, @ esposa vem e olha junto. Tudo isto ¢ mito ai om 0 sew papo de negdei— fied) pare Chichicon que deve comegar xu estranho assunto. os, tom que acusar um meio de introduzir o 8° an a trabalhar sobre esta cena, procure quando os etores conegar . 0 ritmo do texto escrito em verso € preciso nontcr, men ac teatro que cis nplo de uz crande tenso. 0 ator pode gc pintor quando pinta. yitno sc observe uz 6: tor dexge quando pints, € un tipo de darge escondida, é um tipo ce £ une relegio con 0 o gue ¢ igual para o honen ator situagho ce v. radienio no hone, ritno rao, respiresio, ctc..." pncrert 2k MUNICIPAL DE SANTO ANDRE ‘eavabo E40 PAULO “y a » & o nesta conferéncis — Mesmo nune situagtio realista, cor uc ex w2 cexto porto luto com ° ‘endutor porque me auc po; pra o ritmo. 0 rituo ¢ ws elencnto estou gengando esta con cc € wa texto eserd ‘fergucia e 36 assim posse = to cz verso devo copter oF <2, orgisico este * devo fasc-lo com OS agocs. tio ¢ guendo nfo Cigo ¢ agte € 0 método das agécs fisices- deve

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