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36 A FUNPRESP E A INDÚSTRIA

FUNDOS

DE PENSÃO:

TRANSIÇÃO PARA
DOS FUNDOS DE PENSÃO
UM NOVO TEMPO Felipe Vilhena Antunes Amaral
Administrador do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

Fabio Giambiagi
Economista do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

Marcelo Abi-Ramia Caetano


Economista do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

INTRODUÇÃO

O objetivo deste texto é o de fomentar o debate acerca das recém-criadas Entidades


­Fechadas de Previdência Complementar, responsáveis por gerir os recursos previdenciários
dos servidores públicos federais dos poderes executivo, legislativo e judiciário.

A introdução da FUNPRESP (Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal), para cada um dos
poderes, representa uma saudável quebra de paradigma no regime previdenciário dos servidores federais. Antes da pro-
mulgação da lei que criou a FUNPRESP, a aposentadoria dos servidores baseava-se inteiramente no regime de repartição
simples, uma espécie de pacto entre gerações, no qual a despesa previdenciária de um determinado período com os
37 participantes assistidos é dividida integralmente entre os participantes ativos. Como nesse regime não há formação de
poupança para o pagamento dos benefícios, as variações entre a população ativa e assistida acarretam uma transferência
de riqueza significativa entre esses grupamentos e podem ameaçar a solidez do sistema de previdência.
A FUNPRESP E
A progressiva redução nas taxas de natalidade e o aumento da expectativa de vida dos brasileiros, observados ao longo
A INDÚSTRIA
da última década, fizeram com que a razão de dependência entre os idosos e a população economicamente ativa aumen-
DOS FUNDOS
tasse significativamente. Os dados das Nações Unidas apontam que a relação de idosos para cada 100 trabalhadores em
DE PENSÃO
atividade evoluiu de 6,5 em 1950 para 11,8 em 2010. Além disso, a previsão para esse indicador em 2050, de 39,1 idosos

FUNDOS
para cada 100 trabalhadores em atividade, sinaliza para os tipos de problemas que podem ocorrer caso o sistema de
DE PENSÃO: aposentadoria dos servidores permaneça baseado no regime de repartição simples.1
TRANSIÇÃO PARA
De fato, o sustento das aposentadorias e pensões dos servidores públicos tem representado um grande ônus fiscal, pois
UM NOVO TEMPO
enquanto as contas do INSS fecharam com um déficit de 0,85% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2011, custeando be-
nefícios de aproximadamente 25 milhões de brasileiros, o regime dos servidores apresentou um déficit de 1,22% do PIB,
para arcar com os benefícios da ordem de um milhão de pessoas.2

Com a instituição da FUNPRESP, passa a vigorar o regime de capitalização para complementar a aposentadoria dos ser-
vidores que desejarem se aposentar com um valor superior ao teto do INSS. Os benefícios totais de aposentadoria dos
servidores serão compostos pela soma de duas parcelas: uma, ainda no regime de repartição simples, composta por
uma renda não superior ao teto dos benefícios previdenciários do INSS, que será paga diretamente pela União; e outra,

1 Razão de dependência dos idosos (idade de 65 ou mais) para cada 100 pessoas em atividade (idade entre 20-64 anos) no Brasil, 1950 - 2050. Fonte: United
Nations, Department of Economic and Social Affairs, Population Division (2011).
2 Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional e MPO (2012), Tabela 2.2
38 no regime de capitalização, paga pela FUNPRESP, que será dada em função do montante dos ativos acumulados pelo
participante durante seu período laboral. Os valores vertidos para o custeio da previdência complementar serão de livre
escolha do servidor e a União arcará com um valor de igual montante, contudo não maior do que 8,5% da parcela da renda
A FUNPRESP E
do empregado superior ao teto do INSS.
A INDÚSTRIA

DOS FUNDOS O plano de previdência foi instituído na modalidade de contribuição definida, que nada mais é do que uma poupança
individual, na qual somente os recursos acumulados pelo participante em conjunto com as contrapartidas patronais du-
DE PENSÃO
rante sua vida serão utilizados para o pagamento de sua aposentadoria. Portanto, nesta modalidade, os riscos de que os
FUNDOS valores acumulados sejam insuficientes para uma aposentadoria satisfatória – devido a uma pouca rentabilidade finan-
DE PENSÃO:
ceira, por exemplo – recairão exclusivamente sobre os participantes.
TRANSIÇÃO PARA

UM NOVO TEMPO
O sucesso ou fracasso de um fundo de pensão é fortemente influenciado pelos primeiros passos de sua constituição,
fase na qual se estabelecem as principais estruturas que irão reger o comportamento futuro de indivíduos e instituições.
O momento atual, portanto, é propício para a discussão. Em função disso, apresentam-se, nas próximas seções, algumas
reflexões sobre a FUNPRESP, com temas de interesse aos participantes, gestores, governantes e à sociedade em geral.

Este artigo contém seis seções, incluindo esta introdução. Na segunda seção, apresentam-se algumas projeções relativas
aos benefícios de aposentadoria programada oferecidos pela FUNPRESP. Na terceira, destacam-se as mudanças estruturais
nas rentabilidades dos ativos financeiros brasileiros e suas implicações na formação de poupança dos fundos de pensão.
A quarta apresenta os impactos dos fundos de pensão para o desenvolvimento da economia nacional. A quinta menciona
o papel dos supervisores e das boas práticas de governança para a solidez do Sistema de Previdência Complementar. Por
fim, a sexta seção apresenta as conclusões.
39 VISÃO GERAL DA FUNPRESP: BENEFÍCIOS E RISCOS

Um ponto relevante para o futuro servidor é a noção de quais serão os valores de seus proventos de aposentadoria, dado
A FUNPRESP E
seu perfil e alguns cenários possíveis. Neste sentido, é útil observar os dados do artigo dos mesmos autores deste texto,3
A INDÚSTRIA
apresentados na Tabela 1.
DOS FUNDOS
Tabela 1 - Comparação dos valores médios dos benefícios de aposentadoria programada
DE PENSÃO
(líquidos de contribuições e impostos), antes e após a implementação da FUNPRESP

FUNDOS
(a) Antes da (b) Após a Razão (b)/(a)
DE PENSÃO:  
FUNPRESP (R$) FUNPRESP (R$) Média 1º p 5º p 20º p 80º p
TRANSIÇÃO PARA

UM NOVO TEMPO Cenário Básico (CB) 9.254 8.234 0,89 0,63 0,69 0,78 1,08

Mulher com aposentadoria aos 55 anos (CA1) 8.738 6.928 0,79 0,58 0,62 0,68 0,89

Salário inicial de R$ 13.000,00 (CA2) 14.214 13.793 0,97 0,56 0,64 0,75 1,16

Contribuição participante de 11% (CA3) 9.254 9.083 0,98 0,68 0,75 0,86 1,22

Aposentadoria aos 65 anos (CA4) 9.882 10.611 1,07 0,70 0,79 0,91 1,38

Alocação de 50% em RF e de 50% em RV (CA5) 9.254 9.516 1,03 0,63 0,70 0,83 1,34

Obs: Denota-se por kº p, o k-ésimo percentil da distribuição dos dados das cinco mil simulações realizadas para um determinado cenário.
Fonte: Amaral, Giambiagi e Caetano (mimeo)

3 Amaral, Giambiagi e Caetano (mimeo).


40 No primeiro cenário da Tabela 1, apresentam-se os valores previstos dos proventos de aposentadoria programada
de um participante do gênero masculino, que iniciou sua atividade no serviço público aos 25 anos com uma renda
bruta mensal de R$ 8 mil, e que se aposenta após 35 anos de serviços.4 Neste cenário, os autores estimaram que o
A FUNPRESP E
participante que ingressar após a entrada em vigor da FUNPRESP receberá uma renda média mensal de aposenta-
A INDÚSTRIA
doria, líquida de impostos e contribuições, de R$ 8.234. Tal valor equivale, em média, a 89% da renda que seria per-
DOS FUNDOS
cebida por esse mesmo participante, caso fossem mantidas as regras de aposentadoria anteriores à FUNPRESP. 5
DE PENSÃO A evolução dos proventos mensais de aposentadoria programada pode ser visualizada ano a ano no Gráfico 1.

FUNDOS A oscilação dos benefícios de aposentadoria decorrentes de variações nas rentabilidades das carteiras de ativos e da
DE PENSÃO:
sobrevida dos participantes, típica em planos de contribuição definida, está também representada nos percentis dispos-
TRANSIÇÃO PARA
tos na Tabela 1. Por exemplo, nesse mesmo cenário, estimou-se que há uma chance de 1% de que o valor esperado do
UM NOVO TEMPO
benefício pela regra nova em relação à antiga seja inferior a 63%.

Por outro lado, alterando algumas hipóteses do cenário básico, constatou-se que a postergação na idade de aposenta-
doria, a elevação do percentual de contribuição, ou mesmo uma alocação eficiente dos ativos, já serão suficientes para
elevar os valores médios dos benefícios do FUNPRESP a um patamar semelhante ao que era oferecido pela antiga regra

4 Outras hipóteses para o cenário básico incluem: tábua de mortalidade dos válidos: AT-2000; taxa real de crescimento dos salários: 2% ao ano; rentabilidade
real dos ativos: 5% a. a. com um investimento de 70% em um ativo livre de risco com retorno de 4% a.a. e 30% em um ativo de risco com retorno de 7,3% a.a.
e desvio-padrão de 25% a. a.; teto do INSS: R$ 3.916,20; alíquota de contribuição sobre parcela acima do teto do INSS: 8,5% para os participantes e 8,5%
para o patrocinador; utilização da alíquota de contribuição: 6,26% para custear a aposentadoria programada, 0,375% para custeio administrativo, 0,21% para
custear o fundo de sobrevivência, 0,855% para o uso do fundo de risco e 0,8% para custear as aposentadorias especiais; imposto de renda: tabela regressiva
para o benefício complementar e desconto legal na base de cálculo do IR após os 65 anos de idade.
5 Dividindo-se o valor médio do benefício calculado pela nova regra pelo valor médio do benefício calculado pela regra anterior é inferido um índice para
mensurar a razão de ganho ou perda do servidor com a entrada do novo regime. Assim, se o índice para um determinado benefício for maior do que um,
haverá um ganho de renda e, se for menor do que um, haverá uma perda.
41 previdenciária. A análise de cenários também indicou que os participantes do gênero feminino são aqueles que apresen-
tam as maiores perdas em relação à sistemática previdenciária anteriormente vigente.

A FUNPRESP E
DESAFIOS NA GESTÃO DOS ATIVOS
A INDÚSTRIA

DOS FUNDOS A aprovação da FUNPRESP coincide com um início de um novo paradigma para a busca de rentabilidade para os ativos
DE PENSÃO dos fundos de pensão brasileiros. Com efeito, conforme apontam os dados dispostos na Tabela 2, nos últimos 17 anos as
rentabilidades dos títulos de renda fixa e de renda variável – que apresentaram no Brasil ganho real médio no período de
FUNDOS
11,6% a.a. e 8,3% a.a., respectivamente – foram bem superiores ao padrão internacional histórico do último século.
DE PENSÃO:

TRANSIÇÃO PARA
Tabela 2 - Rentabilidades reais das ações e títulos em diversos países
UM NOVO TEMPO
no período 1900-2000 e no Brasil no período 1995-2011

Diferença
  Retorno Ações Retorno Títulos [Ações – Títulos] Risco Ações
(prêmio de risco)

África do Sul 6,8 1,4 5,3 22,8

Alemanha(1) 3,6 -2,2 5,9 32,3

Austrália 7,5 1,1 6,3 17,7

Canadá 6,4 1,8 4,5 16,8


continua...
42 Tabela 2 - Continuação

Diferença
A FUNPRESP E   Retorno Ações Retorno Títulos [Ações – Títulos] Risco Ações
(prêmio de risco)
A INDÚSTRIA
Dinamarca 4,6 2,5 2,0 20,1
DOS FUNDOS

DE PENSÃO Espanha 3,6 1,2 2,4 22,0

FUNDOS
Estados Unidos 6,7 1,6 5,0 20,2
DE PENSÃO:
França 3,8 -1,0 4,8 23,1
TRANSIÇÃO PARA

UM NOVO TEMPO
Holanda 5,8 1,1 4,6 21,0

Irlanda 4,8 1,5 3,3 22,2

Itália 2,7 -2,2 5,0 29,4

Japão 4,5 -1,6 6,2 30,3

Reino Unido 5,8 1,3 4,4 20,0

Brasil(2) 8,3 11,6 (2,9) 38,6

Fonte: Dimson, Marsh e Staunton (2002).


Notas: (1) Foram excluídos os anos 1922 e 1923 nas estatísticas dos títulos alemães. (2) Ibovespa e Taxa Selic (1995-2011).
43 Assim, é importante discutir sobre a capacidade de adaptação de nossos gestores para conduzir as aplicações financei-
ras de um fundo de pensão em uma realidade de investimentos bastante diferente daquela que vigorou durante as duas
últimas décadas.
A FUNPRESP E

A INDÚSTRIA No contexto atual, em que as taxas reais dos juros dos títulos públicos se situam em níveis claramente inferiores à taxa
atuarial de 6%, tradicionalmente adotada há anos no país, alguns gestores irão se defrontar com um dilema: manter a
DOS FUNDOS
tradição de aplicar uma grande proporção da carteira em títulos públicos, evitando, desse modo, a alta volatilidade do
DE PENSÃO
mercado acionário, o que, no curto prazo, poderá depor contra sua gestão; ou aumentar a participação de ativos de maior
FUNDOS rentabilidade e, consequentemente, de maior volatilidade, em sua carteira. Sobre essa questão, há de se ressaltar que
DE PENSÃO:
o horizonte dos investimentos, a depender de como são configuradas as preferências dos investidores, pode conduzir
TRANSIÇÃO PARA
a alocações diferentes daquelas que seriam realizadas para um horizonte de curto prazo. Para ilustrar esse conceito, a
UM NOVO TEMPO
Figura 1 mostra a riqueza acumulada com um investimento em um ativo livre de risco, com rentabilidade de 4% a.a., e em
um ativo de renda variável, com rentabilidade de 7% ao ano e desvio-padrão de 25% a.a., para o horizonte de um ano (a)
e para outro de 50 anos (b). Enquanto no curto prazo a probabilidade de que o retorno de renda variável ser inferior ao
de renda fixa é de aproximadamente 45% (área esquerda à linha tracejada), essa probabilidade cai para menos de 19%
com um investimento de longo prazo.6

Contudo, vale notar que apesar do desvio-padrão e da probabilidade de perda diminuírem à medida que o prazo do
investimento aumenta, a magnitude da perda provocada por aplicações em ativos mais voláteis aumentará com tempo.

6 A aplicação deste conceito também pode ser percebida no CA5 da Tabela 1. Ao comparar esse cenário com o cenário básico, para cada percentil
apresentado de distribuição dos benefícios, percebe-se que o benefício médio de aposentadoria programada com a maior aplicação em ativos de renda
variável será maior ou igual ao correspondente obtido com uma aplicação menor em renda variável. Isto quer dizer que, caso fossem conhecidos os modelos
estocásticos de evolução dos ativos, uma alocação eficiente da carteira pode aumentar as chances de fornecer benefícios maiores aos participantes.
44 Não há milagre que transforme títulos de renda variável em renda fixa. Conforme aponta Kritzman, é uma questão de gosto
se as conclusões acerca do horizonte dos investimentos representam um incremento, decremento ou nenhuma mudança
na percepção de risco do investidor.7
A FUNPRESP E

A INDÚSTRIA POR QUE OS FUNDOS DE PENSÃO SÃO ESPECIAIS PARA A ECONOMIA?

DOS FUNDOS
A atuação dos fundos de pensão é responsável por diversas externalidades positivas para a economia. O principal motivo
DE PENSÃO está na formação de poupança que é induzida pela ação desses agentes que, mesmo que de forma involuntária, au-
mentarão o montante de capital disponível para os investimentos a serem realizados nesta economia, propiciando uma
FUNDOS

DE PENSÃO: maior riqueza para a nação.


TRANSIÇÃO PARA
A conexão entre a formação de poupança e o crescimento econômico pode ser facilmente compreendida por uma versão
UM NOVO TEMPO
simplificada do modelo de crescimento de Harrod-Domar.8 Dado que a poupança (S) é uma proporção s do PIB (Y), temos que:

S = sY (1)

E, como o investimento (I) é definido como a mudança no estoque de capital (∆K), temos:

I = ∆K (2)

Além disso, o estoque nacional de capital (K), guarda uma relação direta com o PIB (Y), de forma que, K/Y = k, e

∆K = k∆Y (3)

7 Kritzman (2000).
8 Versão apresentada em Todaro e Smith (2006).
45 Finalmente, temos a identidade macroeconômica que iguala a poupança aos investimentos:

S = I (4)
A FUNPRESP E
Manipulando as equações 1 a 4, conclui-se que: S = sY= k∆Y=I, ou simplesmente:
A INDÚSTRIA

DOS FUNDOS
sY=k∆Y (5)

DE PENSÃO Dividindo a equação 5 por Y e por k, chega-se finalmente ao modelo simplificado de Harrod-Domar:

FUNDOS ∆Y/Y = s/k (6)


DE PENSÃO:

TRANSIÇÃO PARA A equação 6 enuncia simplesmente que a razão de crescimento do PIB é determinada conjuntamente pela taxa de pou-
UM NOVO TEMPO
pança nacional, s, e a razão capital-produto, k.9

O crescimento dos ativos dos fundos de pensão pode influenciar positivamente o incremento da taxa de formação de
poupança, s, caso o sistema de previdência complementar gere, para os indivíduos, uma propensão marginal a poupar
maior do que a que teriam na ausência desse sistema. No caso da FUNPRESP, por exemplo, é razoável inferir que os futu-
ros ingressantes no serviço público, não tendo mais a aposentadoria “garantida pelo Governo”, podem ter uma precaução
maior acerca do longo prazo, poupando mais para se preparar melhor face às incertezas futuras.10

9 Versões mais elaboradas do modelo, naturalmente, contemplam outros elementos, com destaque para a taxa de depreciação do capital.
10 Também, pode-se supor que o crescimento dos ativos dos fundos pode vir a alterar a razão capital-produto (k), caso os recursos sejam utilizados em
investimentos que promovam mudanças estruturais na produtividade da economia brasileira.
46 Embora se trate de questão controversa, alguns estudos sugerem haver uma relação entre o crescimento dos ativos de
fundos de pensão e o crescimento econômico de um país. Além disso, reporta-se que os impactos do crescimento dos
ativos dos fundos de pensão no crescimento econômico são ainda maiores nos países emergentes.11
A FUNPRESP E

A INDÚSTRIA É importante notar que a poupança gerada pelos fundos de pensão é ainda mais propícia para a formação de investimen-

DOS FUNDOS tos devido à natureza de seu passivo ser de longuíssimo prazo. Não obstante, para que tais recursos sejam diretamente

DE PENSÃO canalizados para os investimentos de longo prazo, indispensáveis para o desenvolvimento de um país, é importante que
os retornos oferecidos para as aplicações de longo prazo sejam maiores do que aqueles de curto prazo.12
FUNDOS

DE PENSÃO: Os fundos de pensão, conforme ressalta Peter Druker,13 têm uma importância para a sociedade que vai além do discutido.
TRANSIÇÃO PARA
Para o autor, a atuação dos fundos de pensão traz consigo a socialização da propriedade dos meios de produção, o que
UM NOVO TEMPO
acaba por alterar as relações entre as empresas e a sociedade. De tal forma, o controle das organizações pelos trabalha-
dores ajuda a promover a governança das empresas, desenvolve positivamente os mercados financeiros e fomenta boas
práticas de responsabilidade social e ambiental.

Por fim, cabe observar que, devido à não neutralidade das ações dos fundos de pensão no ambiente que os cerca, a atuação
dos gestores de ativos não deve buscar a rentabilidade financeira como um fim em si mesmo. Com o tempo, os fundos de
pensão provocam uma série de consequências nos setores em que mais atuam. Assim, por exemplo, caso os investimentos

11 Ver, por exemplo, Davis e Hu (2004).


12 Seria salutar, neste sentido, que a legislação também promovesse meios para incentivar as aplicações de longo prazo dos fundos de pensão.
13 Druker (1976).
47 se deem preponderantemente nos setores farmacêutico e hospitalar, poder-se-á ter, no longo prazo, remédios e leitos mais
baratos nesta sociedade, o que também pode ser interessante para a futura população de assistidos do fundo.14

A FUNPRESP E
A GOVERNANÇA E O PAPEL DA SUPERVISÃO
A INDÚSTRIA

DOS FUNDOS
A legislação e a supervisão são peças-chave para o êxito da FUNPRESP e das demais Entidades Fechadas de Previdência
DE PENSÃO Complementar. Os interessados em construir um sistema cada vez mais sólido para a previdência complementar brasileira
não devem desprezar a possibilidade de existência de irreguralidades, como: dispêndios exorbitantes em consultorias,
FUNDOS

DE PENSÃO: operações financeiras realizadas para dar prejuízo aos fundos de pensão para o favorecimento de empresários ligados à
TRANSIÇÃO PARA direção dos fundos de pensão, ocupação política dos cargos de dirigentes, uso de recursos financeiros dos fundos para
UM NOVO TEMPO
viabilizar obras de interesse oficial, ou utilização indevida pelas estatais de recursos públicos para compensar déficits
atuariais em seus fundos de pensão, dentre outras.

A legislação deve ser abrangente e inteligente no sentido de coibir e punir severamente ilicitudes e práticas de má-gestão
que colocam em risco a solvência dos fundos de pensão. Para a ocupação dos cargos, devem ser privilegiados os funcio-
nários de formação específica nas áreas afeitas à previdência complementar, em detrimento de profissionais geralmente
escolhidos por seu status em organizações ligadas ao governo.15 Os normativos devem promover o rodízio de corretoras
e consultorias e incentivar processos e sistemas que favorecem a formalização e transparência dos negócios realizados

14 O que se pretende argumentar aqui é que aquilo que um gestor deve procurar maximizar é a capacidade futura de consumo do assistido e não só a sua
renda, pois apesar do consumo ser influenciado pela renda, esse será também afetado pelo preço da cesta de bens e serviços que será consumida.
15 Stewart e Yermo (2008).
48 pelos entes administrativos, além de limitar as atuações solitárias de fundos de pensão em empreendimentos, o que
favorece a prática da corrupção.

A FUNPRESP E A supervisão deve prezar por manter em seu quadro profissionais empregados de alta qualificação técnica, maximizar

A INDÚSTRIA a blindagem contra interferências governamentais, ser efetiva na aplicação de punições aos profissionais que cometem
infrações previstas em lei e promover constantemente as boas práticas internacionais de gestão de fundos de pensão. A
DOS FUNDOS
confluência de práticas e o intercâmbio de funcionários entre as entidades responsáveis pela supervisão das instituições
DE PENSÃO
financeiras devem ser incentivados.16
FUNDOS

DE PENSÃO:
CONCLUSÃO
TRANSIÇÃO PARA

UM NOVO TEMPO
A criação da FUNPRESP permitiu ao Brasil solucionar antigas questões estruturais do sistema previdenciário dos servidores
públicos brasileiros. A partir da migração do sistema previdenciário, que evoluiu do regime de repartição simples para o de
capitalização, a FUNPRESP tende a mitigar os riscos de insolvência do sistema de aposentadorias dos funcionários públicos.
Além disso, a limitação do montante pago diretamente pela União ao teto dos benefícios previdenciários do INSS, em moldes
similares aos vigentes para a ampla maioria dos trabalhadores, tornou o sistema de aposentadorias mais justo e igualitário.

16 No Brasil, a supervisão das instituições financeiras está divida entre o Banco Central, a Susep, a CVM e a Previc. Não obstante as áreas de atuação de cada
uma dessas instituições estar claramente dividida, há uma interface entre os conhecimentos produzidos para a gestão de cada uma dessas entidades, o que
faz com que a união de esforços e pessoal provavelmente proporcione ganhos de sinergia positiva para a regulação do mercado previdenciário brasileiro. Por
exemplo, segundo Brunner, Hinz e Rocha (2008), o tema “Supervisão Baseada em Risco”, em voga nas pautas de discussão dos supervisores da previdência
complementar, é, em certa medida, uma vertente das práticas discutidas em Basileia para a gestão financeira dos bancos. Na Holanda e na Dinamarca, países
de referência da indústria dos fundos de pensão, a supervisão de todas as instituições financeiras – bancos, fundos de pensão, instituições de seguro – é
realizada por apenas um único órgão supervisor.
49 Contudo, a análise das projeções dos valores dos benefícios previdenciários indica que a introdução da FUNPRESP ainda
preservará a atratividade dos benefícios previdenciários dos servidores públicos. Os cenários estudados indicaram que os
valores esperados das aposentadorias programadas após a implementação da FUNPRESP devem corresponder a valores
A FUNPRESP E
entre 79% e 107% dos benefícios calculados pela regra previdenciária anteriormente vigente.
A INDÚSTRIA

DOS FUNDOS Particularmente, o novo modelo previdenciário federal constitui um novo paradigma e serve de exemplo para que Estados
e Municípios reformulem o sistema de aposentadoria de seus funcionários, multiplicando ainda mais os ganhos esperados
DE PENSÃO
com a adoção do regime de previdência complementar. Contudo, como os ganhos de escala são fundamentais para que
FUNDOS não haja um comprometimento de uma parcela significativa da poupança dos participantes com o custeio administrativo
DE PENSÃO:
do plano, é necessário que os entes menores que optarem pela mudança estruturem seus fundos em regime associativo.
TRANSIÇÃO PARA

UM NOVO TEMPO
Por fim, conclui-se que a ampliação do sistema de previdência complementar é salutar ao desenvolvimento do mercado
financeiro e dos investimentos, contribuindo para o desenvolvimento econômico brasileiro.
50 Gráfico 1 - Evolução da aposentadoria programada média por idade
(líquida de impostos e contribuições), antes e após implementação da FUNPRESP
A FUNPRESP E

A INDÚSTRIA 10.000 100


9.000 90
DOS FUNDOS

VALOR DO BENEFÍCIO (R$)


8.000 80

BENEFICIÁRIOS (%)(1)
DE PENSÃO
7.000 70
6.000 60
FUNDOS
5.000 50
DE PENSÃO:

TRANSIÇÃO PARA
4.000 40

UM NOVO TEMPO 3.000 30


2.000 20
1.000 10
0 0
60 62 64 66 68 70 72 74 76 78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 100 102 104 106 108 110
IDADE (ANOS)

Percentual de beneficiários FUNPRESP sem Fundo de Sobrevivência


Regra Anterior FUNPRESP com Fundo de Sobrevivência(2)

Notas: (1) O percentual de beneficiários foi calculado sobre uma população inicial de 25 anos.
(2) O Fundo de Sobrevivência constitui uma espécie de seguro que paga um prêmio aos indivíduos em idade mais avançada para mitigar os
riscos de longevidade.
Fonte: Amaral, Giambiagi e Caetano (mimeo)
51 Figura 1 - Distribuição de probabilidades do valor de um investimento de R$ 1,00
aplicado em renda fixa (RF) e em renda variável (RV) após 1 ano (a) e após 50 anos (b)
A FUNPRESP E

A INDÚSTRIA

DOS FUNDOS

DE PENSÃO (a) (b)

FUNDOS

DE PENSÃO:

TRANSIÇÃO PARA

UM NOVO TEMPO

RV RV

R$
RF = 1,04 R$ RF = 7,10

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 -50 0 50 100 150

Obs: Os dados do exercício consideram uma distribuição log-normal i.i.d. com retorno médio geométrico de 4% a.a. para a renda fixa e
7% a.a. e 25% a.a. para o retorno médio e desvio-padrão geométricos para a renda variável, respectivamente.
52 REFERÊNCIAS bibliográficas

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TRANSIÇÃO PARA

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Revision, CD-ROM Edition, 2011.
SERVIÇO DE CONSULTORIA E COMERCIALIZAÇÃO
Reconhecida mundialmente como a melhor e maior consultoria imobiliária, a CB Richard Ellis estabeleceu-se no Brasil em 1979 e constituiu
uma das maiores plataformas de negócio do país e da América Latina.

INVESTIMENTO INDUSTRIAL SERVICES SERVIÇOS A OCUPANTES


• Operações de venda com renda e “Sale & Leaseback”; • Estudos de consultoria relacionados à ocupação das
• Venda/compra para investidores locais e estrangeiros;
• Locação de imóveis industriais/logísticos; empresas e ao mercado de escritórios (tendências,
• Busca de Funding interno e/ou externo para projetos; alternativas, etc.);
• Representação de ocupantes na expansão, re-localização e
• Pesquisa, seleção e recomendação de novos investimentos; • Desenvolvimento de análises financeiras e qualitativas de
aquisição de plantas industriais/ centros logísticos e terrenos;
viabilidade do projeto imobiliário;
• Análise de portfólio e recomendações;
• Coordenação de processos de “Build to Suit & Turnkey” para
ocupantes; • Gerenciamento da transação imobiliária (locação,
• Planejamento estratégico para comercialização. renovação, compra, venda ou “Built to suit”).
• Revisão e renovação de contratos de locação.

LOCAÇÃO ASSET MANAGEMENT CONSULTORIA EM HOTELARIA & TURISMO


• Análise de projeto; • Gerenciamento de carteiras imobiliárias: cobrança e • Definição de estratégias de desenvolvimento;
acompanhamento dos pagamentos dos aluguéis, dos
• Análise de mercado e estratégia de comercialização; encargos da locação e de vencimentos de garantias e seguros; • Pesquisas de mercado;
• Definição do público-alvo; • Revisão de aluguéis e renovação de contratos de locação; • Estudos de viabilidade de hotéis e empreendimentos turístico-
imobiliários;
• Prospecção; • Análise e reestruturação de portfólio, com aconselhamento;
• Busca e seleção de operadores hoteleiros;
• Negociação comercial e contratual. • Elaboração de estratégias para aquisições, permuta e venda
de imóveis da carteira. • Comercialização de hotéis, empreendimentos turístico-
imobiliários e terrenos;

DESENVOLVIMENTO VALORAÇÃO & ACONSELHAMENTO GERAL • Estratégias de marketing (empresas e destinos).

• Estudos de vocação e viabilidade econômico- • Avaliação de ativos imobiliários para transações, investimento,
financeira, considerando diversos mercados tais como fundos imobiliários, garantias imobiliárias, seguro, fusões/
escritórios, residencial, industrial, hotel, shopping e aquisições, IPOs; RETAIL SERVICESS
retail; • Comercialização de lojas, shopping centers, strip
• Aconselhamento: análise de melhor uso, timing de mercado,
• Design audit - Auditoria e considerações sobre alternativas de negócio, viabilidade econômico-financeira; centers, power centers, etc.;
projetos em desenvolvimento e retrofits. Formatação • Representação de ocupantes varejistas em processos de
do produto e especificações técnicas condizentes com • Due Diligence: análise das condições físicas, análise de
desempenho, validação de premissas. expansões e/ou relocalizações;
as exigências de mercado;
• Pesquisas de mercado;
• Comercialização de terrenos - Processos
organizados de venda de terrenos e busca de sócios CORPORATE SERVICES • Gerenciamento de portfólio e transações imobiliárias
incorporadores. (revisão, renovação de contratos de locação, nova
• Desenvolvimento de projetos de consultoria imobiliária
locação, compra, venda, “Built to suit”, etc.).
para clientes corporativos globais ou nacionais através de
um único gerente de conta;
• Gerenciamento da transação imobiliária de locação,
compra, venda ou construção (“Built to suit”ou “TurnKey”).

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