Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A) Espanha – relembrando
Riqueza e luxo têm sido usados – e até hoje é assim – como sinais ostensivos de
diferenciação social. Aqueles que os possuem procuraram caracterizar uma maneira de viver
que não é a “dos outros” e que se erige como modelo para os que pensam que também
poderão ou que estão em condições de alcançá-los. Os padrões de comportamento dos
poderosos se convertem em valores, em símbolo de um status social máximo.
Nos tempos de Colombo – e em outros também – ser um grande SENHOR, equivale a ter
palácios e castelos, vassalos que pagam tributos, fazer vultuosas doações para construção de
igrejas, manter um grande número de serviçais, gastar tempo e dinheiro em guerras,
competições grandiosas e festas de arromba, exibir roupas e joias que provocam admiração.
Ser um grande SENHOR significa possuir um título de nobreza obtido pelos serviços
prestados ao monarca, herdado dos antepassados ou adquirido a preço de ouro. A nobreza
espanhola gosta de abarrotar suas mansões com objetos de prata e ouro. Quando morre o
duque de Albuquerque, seus descendentes precisam de seis semanas para fazer o inventário
das 1400 dúzias de pratos, 50 bandejas grandes e 700 pequenas, alem das 40 escadinhas para
subir à parte superior dos moveis onde se guarda esses objetos. Tudo de prata, até as
escadinhas!
Com a sanção da bula Inter Coetera pelo papa Alexandre VI, em 1493, a América foi
reconhecida como posse e bem hereditário dos reis de Castela. Justamente por isso, da mesma
maneira como ocorria nos demais territórios castelhanos, as Antilhas deveriam ser gerenciadas
por intermédio do próprio Conselho de Castela.
Para cuidar dos assuntos das colônias americanas, foi designado o bispo Juan Rodriguez
de Fonseca, membro do Conselho de Castela e homem de confiança da Coroa. No entanto, a
realeza logo percebeu que os territórios americanos não poderiam ser tratados como os demais,
tampouco os seus negócios.
1503 – fundação da Casa de Contratação de Sevilha. Esta casa apresentava-se como uma
espécie de escritório comercial subordinado ao Conselho de Castela, este ainda sob os auspícios
de Juan Rodriguez de Fonseca. Seguindo os moldes da Casa da Índia existente em Lisboa, a Casa
de Contratação espanhola era responsável pelo controle do ir e vir de mercadorias, homens e
navios entre a Espanha e a América.
Entrada legal do ouro: de 1503 a 1510: 4950kg; de 1511 a 1520: 9153kg; de 1521 a 1530:
4889kg e 148kg de prata. Depois de 1533 as entradas de ouro sobem e entre 1551-1556 a Casa
de Contratação registra 42600kg. Daí em diante, a entrada de prata é tão grande que o ouro
representará apenas 15% do total da fortuna que anualmente chega a Sevilha.
C) A Colonização
A mão de obra indígena aproveitável – e não foi toda – é submetida a diferentes regimes
de trabalho que oscilam entre a escravidão e o trabalho livre assalariado, embora este, quase
sempre, um salário adulterado: um mínimo de dinheiro e um máximo de pagamento em
alimentos, roupas, habitações, etc.
A escravidão de índios, negros e alguns grupos asiáticos é menor que no Brasil ou nas
colônias antilhanas como o Haiti. Não por bondade dos espanhóis em relação a portugueses e
franceses. A escravidão não foi maior na América Espanhola simplesmente porque não foi
necessária; a grande existência de mão de obra indígena submetida a diversas formas de
servidão explica-o suficientemente.
A empresa da conquista não foi realizada pelo Estado espanhol, mas por particulares
apoiados frequentemente pelo Estado. Não foram os exércitos do rei da Espanha que vieram
para a América, mas grupo de aventureiros em busca de honrarias e riquezas, organizados em
hostes, dirigidas por um chefe reconhecido como tal enquanto durasse a aventura.
Quase todos reconheceram a autoridade da Coroa, fizeram com que ela legitimasse as
aquisições de terras e riquezas, atribuísse as honras e títulos de hierarquização social sonhados
por todo conquistador e colonizador e outorgasse os empregos que a administração do império
americano exigia.
RELAÇOES DE TRABALHO
Escravidão indígena
A primeira metade do séc XVI foi testemunha de um intenso tráfico de índios, caçados
como animais pelos conquistadores, frequentemente com a colaboração dos próprios nativos.
Sabe-se que o recolhimento de pérolas, na Venezuela, atividade importante até 1550, utilizou e
exterminou massivamente índios escravizados.
Em 1521, sob o pretexto de pacificar a Terra Firme venezuelana, parte de São Domingos
uma expedição punitiva. Meses depois, ela retorna com um grande número de escravizados. A
mão de obra obtida seria manda às minas e plantações de cana em São Domingos.
Em 1530, a Coroa declara a abolição da escravatura, mas quatro anos mais tarde a
medida é revogada e em 1536 proíbe-se aos caciques escravizar índios. A Coroa vacila, não tem
ainda claramente definida sua política em relação aos nativos da América e enfrenta um
problema grave: reprimir os próprios conquistadores.
Antes de 1542, quando são editadas as chamadas Leis Novas proibindo a escravidão
indígena, são frequentes as denúncias da aplicação de ferro quente nos filhos da terra. Depois,
essas menções desaparecem, mas a escravidão continua. Entre a proibição legal da escravidão
e o seu real cumprimento, há uma longa distância. No Chile, a própria Coroa aceitou-a até fins
do séc. XVII (a escravidão legal) como maneira de punir os araucanos, por sua teimosa
resistência.
As encomiendas
A ENCOMIENDA não outorga legalmente domínio direto sobre os tributários, pois eles são
considerados vassalos de Sua Majestade. Inicialmente é concebida como vitalícia aos
encomenderos, embora eles consigam estender o benefício a seus descendentes. Perdura ater o
segundo terço do séc. XVIII.
As Leis Novas estabelecem que os encomederos não tem autoridade legal sobre as
aldeias índias e, principalmente, são proibidos de habitá-las. O Estado espanhol tenta preservar
seu direito de governar seus vassalos e evitar que os encomenderos se transformem nos
governantes de fato (não consegue evitar).
Em 1579 a Coroa proíbe aos encomenderos a cobrança pessoal do tributo, ou por meio
de cobradores. Quem deveria fazê-lo seriam os Corregedores – funcionários reais – mas sendo
estas pessoas já nascidas na America em sua maior parte, mais vinculadas ao poder local que
ao distante e um tanto abstrato poder real, geralmente acabaram servindo mais ao
encomenderos.
Diante da impossibilidade dos índios pagarem tributos em dinheiro e dada a
necessidade que os conquistadores têm de mão de obra, a ENCOMIENDA adquire a forma de
uma tributação em trabalho.
Repartimientos
O REPARTIMIENTO foi a fórmula articulada pela Coroa para recrutar mão de obra e
distribuí-la de acordo com as necessidades da produção, das cidades e da administração
colonial. É uma distribuição da força de trabalho teoricamente remunerada que com
frequência se apoia em instituições indígenas pré-colombianas como a MITA dos incas e o
CUATEQUIL dos astecas.
No trabalho por empreitada ou acordo, o índio recebe mais, mas o esforço e o desgaste
físico são bem maiores. Alem disso o tempo de trabalho estipulado (uma em cada quatro
semanas) é frequentemente substituído pelo período estacional da maneira que melhor convier
ao fazendeiro. Só este período coincide com o que o índio precisa trabalhar sua própria terra.
A legislação estipula que, com a sêsma (a sexta parte dos índios), seja feito um fundo para
beneficio da comunidade a qual pertencem.
Os nativos contratados voluntariamente nas minas por um salário diário são chamados
LABÓRIOS. Na Nova Espanha dá-se o nome de NABÓRIOS a índios escravizados com ou sem
família e que trabalhe na produção agrícola. Também no México há os CONGREGAS, índios
escravizados sob o pretexto da conversão religiosa. São utilizados no desmatamento e na
plantação de terras virgens.
Uma das maneiras mais usadas para pressionar os índios a abandonarem suas
comunidades era o constante avanço sobre suas terras de trabalho. Despojados sistemática e
progressivamente delas, eles não têm outra alternativa a não ser trabalhar nas propriedades dos
colonos, mineiros, etc.
Outro motivo que contribui para a expulsão dos índios de suas comunidades foi a
crescente e agressiva invasão de mestiços e brancos livres e pobres. Para adquirir bens, eles não
vacilavam em tirá-los dos índios, recorrendo a todo tipo de violência. A fazenda chegou a ser
uma espécie de refúgio mais ou menos seguro para muitos índios, pois permitiu também que
conseguissem esconder a sua condição de nativos, disfarçado-se em mestiços, cuja condição era
hierarquicamente superior.