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QUANTOS
AUTISTAS
HÁ NO
BRASIL? PG 20
MINICÉREBROS:
UM NOVO
MODELO
DE ESTUDO
DO TEA PG 44
00004
GRATUITA
DISTRIBUIÇÃO
053005
ISSN 2596-0539
UM PERSONAGEM AUTISTA
9 772596
NA TURMA DA MÔNICA
PG 07
São Paulo
San Diego
Miami
Coimbra
Somos especialistas
em exames genéticos
para Autismo
TISMOO é uma empresa de biotecnologia de
relevância global, comprometida em melhorar a
qualidade de vida de pacientes e famílias afetadas
por transtornos neurológicos como TEA - Transtorno
do Espectro do Autismo - e outros transtornos
neurológicos de origem genética relacionados ao
TEA. Como primeiro laboratório do mundo
exclusivamente dedicado à Medicina Personalizada
para o Autismo, buscamos oferecer tecnologias
verdadeiramente inovadoras e que tenham o
potencial de mudar efetivamente a qualidade de vida
de nossos pacientes.
Acesse:
tismoo.us/portal/
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26
ABA Colunas
CELSO GOYOS Matraquinha
13
Com evidências científicas,
Tudo o que podemos ser
15
ABA é ferramenta útil no
ensino da fala como linguagem
Sociedade Brasileira de Pediatria
28
natural Trabalho no espectro
33
Liga dos Autistas
43
30
A Liga dos Autistas Turma da Mônica
07
FRANCISCO PAIVA JR. MAURÍCIO DE SOUZA
44 50
Minicérebros Espectro Artista
ALYSSON MUOTRI CAMILA ALLI CHAIR
DORES
LIUBIANA
WAGNER ALYSSON ARAÚJO
YAMUTO MUOTRI Neurologista
Fundador do Neurocientista
MAURÍCIO Adoção Brasil
ÉRICA
DE SOUZA LUCELMO MATTOS
Desenhista
LACERDA Turismóloga
BIA Professor e
ANDRÉA RAPOSO escritor
CLÉTO LUIZ Artista NICOLAS
Pedagoga BRITTO
VIANNA
Jornalista Fotógrafo
EDUARDO
RIBEIRO
Economista
CAMILA
TATIANA CHAIR
TAKETA Ilustradora
Advogada
GRACIELA
SORAIA PIGNATARI
VIEIRA Bióloga
Fonoaudióloga molecular
06
07
As informações a seguir não dispensam
O QUE É AUTISMO a consulta a um médico especialista
para o diagnóstico
UM AUTISTA NO FILME
‘AMARGO PESADELO’
Fotos: Royalte free
TUDO MENTIRA
Na verdade, o jovem Billy Red-
den — nascido em 1956, em Ra-
bun County, na época tinha 16
anos — teria sido escolhido em
sua escola, Clayton Elementary
Billy Ridden em cena do filme Amargo Pesadelo
Há muitos anos circula na internet School, para fazer uma partici-
um boato que sempre reaparece e pação no filme por conta de sua
se relaciona a um duelo musical en- “aparência exótica”, mas não é
tre um banjo e um violão, no filme autista e não tem qualquer de-
“Amargo Pesadelo” (“Deliverance”, ficiência ou síndrome.
no título original, em inglês), de Sua extrema habilidade com o
1972. Dirigido por John Boorman, banjo também é fake. Um mú-
a película é baseada no romance sico profissional fica por trás
de mesmo nome, escrito por James dele, vestindo uma camisa de
Dickey, que aparece no filme, no pa- quatro mangas, e faz parecer
pel de um xerife. que o garoto é um gênio do
banjo. Depois deste filme, o ator
Billy Ridden atualmente
fez “Peixe Grande” (“Big Fish”,
O boato original: em 2003) e “Outrage: Born in
Consta ser uma cena verídica. O garo- Terror” (2009). Para o filme de
AUTISMO to da cena não é ator, apenas um au- 2003 ele teria sido “descoberto”
NÃO ESPERE, tista e cego que residia no local onde pelo diretor Tim Burton, num
A JA LOGO! estavam sendo feitas as filmagens. A minúsculo estabelecimento, o
EDITORA M.BOOKS
equipe parou num posto de gasolina “Cookie Jar Café”, lavando pra-
NAS MELHORES LIVRARIAS para abastecer e aconteceu a cena mais tos e servindo mesas, na cidade
marcante que o diretor teve a felicida- de sua infância: Clayton, Geor-
de de encaixar no filme. No início está gia (EUA).
distante, mas à medida que toca seu Em 2012, 40 anos após o emble-
banjo ele cresce com a música e vai se mático filme, ele teria dito para
deixando levar por ela, até transformar um documentário: “Eu gostaria
sua expressão num sorriso contagian- de ter todo o dinheiro que pen-
te, transmitindo a todos sua alegria. A sei que ganharia após aquele
alegria de um autista que é resgatada filme. Eu não estaria trabalhan-
por alguns momentos, graças a um vio- do no Walmart agora. E me es-
lão forasteiro. O garoto brilha, cresce e forçando para sobreviver.”
exibe o sorriso preso nas dobras da sua Na versão online deste texto
deficiência, que a magia da música traz você pode ver a cena do due-
à superfície. Depois, ele volta para den- lo musical, o trailer do filme e
tro de si, deixando sua parcela de beleza trechos do documentário com o
eternizada “por acaso” no filme “Amargo ator em 2012.
Pesadelo” (Ano: 1972).
autismo.paivajunior.com.br
09
MARIA ELISA GRANCHI FONSECA
MINHAS
PERCEPÇÕES SOBRE
A TRAJETÓRIA DO
AUTISMO NO BRASIL
Leis que já existem e
devem sair do papel
para a prática, por um
aprender eficiente
PALAVRA MÁGICA
- Você quer dar um oi? – Me desculpe pelo susto, mas ele
é especial!
Esta é a frase mágica que uti-
Matraquinha lizamos quando o Gabriel ten- – Filho, você quer dar um oi?
ta uma interação social com
outras pessoas. Logo em seguida perguntam o
nome dele e todo orgulhoso ele
As terapias fazem parte de nos- responde (ele só consegue pro-
sas vidas desde 2011 e, de vez em nunciar o próprio nome de for-
quando, ele tenta interagir com o ma silábica):
mundo que está à sua volta. Por
outro lado, ele não sabe muito – GA – BI – NEL
por Wagner Yamuto bem como fazer esta aproxima-
ção e, na maior parte das vezes, a Pronto, fez-se a interação!
reação da outra parte acaba não
Wagner Yamuto é pai do Gabriel (que sendo tão amigável. Com essa simples frase, tivemos
tem autismo) e da Thata, casado com a a oportunidade de conhecer pes-
Grazy Yamuto, fundador do “Adoção Não culpo as pessoas, pois o soas incríveis com histórias fan-
Brasil”, criador do app Matraquinha e susto realmente é grande. Cer- tásticas, o que não aconteceria,
um grande sonhador. ta vez na cidade de Embu das não fosse pela interação de um
Artes em São Paulo, ele agar- garotinho com autismo.
rou o braço de uma senhora
que deu um grito de horror e Você tem alguma frase mágica?
puxou a bolsa como se estives-
se sendo assaltada. “Nós nos
desculpamos”, explicamos e só
depois percebemos que ela era
estrangeira. E ficamos apenas
no sorry.
PECS
e de baixo custo para implementar.
Sistema por A eficácia do método é atestada por
150 publicações.
figuras é boa Para o aluno aprender a usar o
ferramenta PECS, é preciso ser ensinado por
de comunicação alguém treinado no método. Pes-
para autistas quisas mostraram que são obtidos
maiores benefícios quando o PECS
O Transtorno do Espectro Autista Nós não compartilhamos vozes, é implementado com fidelidade.
(TEA) abarca um amplo universo de então os alunos não devem com- Pais e profissionais de várias áreas
alunos com quadro clínico de déficit, partilhar as pastas de comunicação. podem fazer o curso para aprender
em maior ou menor grau, nas áreas O aluno será ensinado a carregar a a utilizar este sistema.
de interação social, comportamento pasta para todos os lugares. Convido a assistirem ao vídeo “Uma
e comunicação. Aqui darei foco na Para o sucesso no sistema, o elemen- Imagem Clara: O uso e benefício
área da comunicação. to mais importante é a identificação do PECS”, no site www.pecs-brazil.
Para ensinar comunicação, precisa- de um poderoso conjunto de refor- com/videos.php, apresentado pela
mos entendê-la melhor: o que é co- çadores. A equipe deve identificar cocriadora do PECS, Lori Frost. Esse
municação? É um comportamento itens e atividades que o aluno gos- vídeo não é um substituto para o
que exige duas pessoas. Uma pessoa te ao longo do dia. Oportunidades treinamento do PECS, ele fornece
identificada como “falante” (que en- de comunicação devem ser planeja- apenas uma boa visão geral sobre
trega a mensagem) e a outra como das e monitoradas cuidadosamente o protocolo.
“ouvinte” (que recebe esta mensa- para que o acesso aos reforçadores Acredito que ensinando uma co-
gem e responde adequadamente). O identificados seja limitado. municação funcional ao aluno, este
método de comunicação mais difun- As figuras deverão ser feitas antes conseguirá expressar-se em rela-
dido e usado com alunos com TEA da primeira lição do PECS. Reco- ção ao mundo ao seu redor e uma
é o PECS. mendamos que seja identificado vez que essa comunicação passe a
O PECS — Sistema de Comunica- um conjunto de figuras, fácil para ser compreendida, ele irá interagir
ção por Troca de Figuras (Picture reproduzir e manter. O aluno pode- melhor com as pessoas com quem
Exchange Communication System) rá pedir vários itens diferentes du- convive. Desta forma, ensinando
— é um sistema para ajudar pessoas rante uma atividade. Cada vez que comunicação estamos melhorando
de várias idades que não conseguem o reforçador muda, a figura corres- a qualidade de vida dos alunos e de
se fazer entender através da fala, ou pondente é colocada diretamente seus familiares.
que têm uma fala muito limitada. na frente do aluno. Para maiores informações so-
Ou seja, o PECS é uma comunicação Durante as fases iniciais, a figu- bre Pyramid Consultoria Educa-
aumentativa e alternativa. ra funciona como um ticket que o cional do Brasil e PECS, acesse
É equivalente à voz do aluno. Cada aluno deve trocar com um parcei- www.pecs-brazil.com ou entre em
um precisará ter sua própria voz, ro de comunicação. Nas fases mais contato com soraia@pecs.com.
sua pasta de comunicação PECS. avançadas, os alunos aprendem
14
C O L U N A
advogada,
coordenadora
Ações devem ser contínuas e alcançar toda a comunidade
da Subcomissão escolar, inclusive os familiares dos alunos
de Defesa da
Pessoa Autista O bullying
da OAB/GO, Da década de 1980 para cá, o
vice-presidente bullying assumiu maior proje-
da Comissão de ção no cenário global e surgiu
Inclusão Social
a necessidade de elaboração
do IBDFAM/GO,
professora de de uma norma brasileira que
direito da PUC/ dispusesse sobre o assunto.
GO, blogger, Em fevereiro de 2016, entrou
palestrante, em vigor a Lei nº 13.185/2015
mestre em direito,
(Lei de Combate à Intimidação
especialista em
direito civil e Sistemática), que conceituou
processo civil e a intimidação sistemática, ou
ensino estruturado bullying como sendo “todo ato
para autistas de violência física ou psicológi-
(dentre outros),
ca, intencional e repetiti-
pós-graduanda em
direito educacional vo que ocorre sem
e autora da coleção motivação
de ebooks “Viva a
Diferença”.
Fotos: Deposit Photos
16
evidente, praticado por indivíduo na sociedade da forma adequada e
ou grupo, contra uma ou mais alicerçada no respeito às particula-
pessoas, com o objetivo de intimi- ridades que o espectro proporciona
dá-la ou agredi-la, causando dor e em cada indivíduo nesta condição.
angústia à vítima, em uma relação Essas peculiaridades tornam o
de desequilíbrio de poder entre as autista a vítima perfeita para o
partes envolvidas”. bullying, em especial no ambiente
Em razão do aparecimento de novos escolar, local que frequenta e passa
formatos, tal lei dispôs que existem tempo substancial do dia.
oito tipos de bullying, a saber: verbal, Ocorre que, em razão de sua hiper-
moral, sexual, social, psicológico, físi- sensibilidade sensorial e da forma
co, material e virtual. como enxerga (ou sente) o mundo, o
Veja-se que o bullying assumiu uma autista, em regra, não é dado a con-
dimensão complexa e tal lei veio venções sociais e, por vezes, suas
dispor sobre o acometimento junto, ações destoam daquelas esperadas
principalmente, às escolas. pelos neurotípicos (não autistas). É
Mais tarde, a Lei nº 13.663/2018 al- comum que os autistas tenham es-
terou a Lei de Diretrizes e Bases da tereotipias, ou seja, ações gestuais,
Educação (Lei nº 9.394/1996) para es- Uma forma como por exemplo: balançar as
tabelecer que as escolas devem “pro- mãos (flapping), movimentar-se de
mover medidas de conscientização, de combate um lado para o outro (“pendular”)
de prevenção e de combate a todos e gostar de girar (a si ou a um obje-
os tipos de violência, especialmente a é incitar os to). Além disso, a maioria deles não
intimidação sistemática (bullying)” e costuma (há exceções) entender
“estabelecer ações destinadas a pro-
gestores a metáforas e possuem uma gran-
de dificuldade em compreender o
mover a cultura de paz”.
Desta forma, resta indiscutível que
providenciar que é abstrato.
a escola possui responsabilidade palestras e Com essas características, dentre
outras várias (tendo em vista a
sobre o bullying ocorrido em seu
espaço físico oferecido como educa- atividades diversidade do espectro), o autis-
cional e deve criar medidas preven- ta se destaca no meio acadêmico
tivas para o que se pode denominar pedagógicas. de modo a ser uma fácil vítima
“um dos maiores males do século”. de bullying, justamente por não
se enquadrar nas convenções so-
O Autista ciais, ou mesmo nas brincadeiras
O autista, de acordo com o art. 1º, dos colegas.
§ 2º, da Lei nº 12.764/2012 (Política
Nacional de Proteção aos Direi- O Combate
tos da Pessoa com TEA), é pessoa As ações devem ser contínuas, bem
com deficiência para todos os fins como devem alcançar toda a comu-
legais. Portanto, todas as normas nidade escolar, de modo a envolver,
que amparam as pessoas com de- inclusive, os familiares dos alunos.
ficiência, também acodem este Conseguir prevenir o bullying é
público cuja condição é tão um desafio para todas as escolas e
peculiar, dada sua diversida- combatê-lo se faz necessário na me-
de no espectro. Os graus de dida em que crianças e adolescen-
autismo podem estar dis- tes autistas podem ter suas vidas
tantes entre si, mas todos afetadas pela violência e por conse-
com suas distintas ne- quentes traumas.
cessidades para que o Não é simples conseguir fazer com
autista seja incluído que os alunos se interessem e se
17
candidatem a elos de uma Judiciário. Existem jurispru-
corrente “anti-bullying”. No dências (julgados) que con-
entanto, com as orientações denam os agressores ou seus
corretas e o incentivo da es- responsáveis legais a pagar
cola, é possível que muitos indenização por danos mo-
alunos possam contribuir e rais às vítimas (lembrando
detectar possíveis vítimas que a escola e a administra-
autistas, bem como des- ção pública também podem
cobrir se um colega nesta ser acionadas). Desde que
condição está prestes a se existam as provas necessá-
tornar uma. rias, dificilmente a vítima
É necessário convencer os perderia uma ação judicial
gestores escolares da impor- neste sentido.
tância de imprimir ações que Além disso, importante des-
vão ao encontro das Leis nº tacar que existe um liame
13.185/2015 e nº 13.663/2018, muito tênue entre o bullying
bem como é preciso con- e alguns crimes tipificados
seguir sensibilizar toda a no Código Penal, sendo que
comunidade escolar sobre cada caso deve ser analisado
a importância do combate à luz das fontes de direito
ao bullying. que o ordenamento jurídico
Por isso, uma forma de com- brasileiro dispõe.
bate é incitar os gestores Assim, com a sensibilização
a providenciar palestras e da comunidade escolar, in-
atividades pedagógicas que clusive dos familiares dos
façam os alunos e familiares alunos, será possível dimi-
refletirem sobre as conse- nuir e até mesmo extinguir
quências do bullying, inclu- as intimidações sistemáti-
sive nos âmbitos criminal cas dentro da escola e evitar
e civil. ações judiciais.
Com relação ao aluno au-
tista, que é uma potencial
vítima aos oito tipos de
bullying, há que se desta-
car a interferência do Poder
18
LUIZ FERNANDO VIANNA
é jornalista, pai de um
menino autista de 18 anos
e autor de “Meu Menino
Vadio – Histórias de um
Garoto Autista e Seu Pai
Estranho” (Intrínseca).
QUANTOS
AUTISTAS HÁ
NO BRASIL?
Sem estudos
estatísticos,
país não
sabe quantas
pessoas têm
autismo,
muito menos
quantas
já têm
diagnóstico
20
destacou a importância de pes- pesquisar pessoas nessa condição”.
Além do Brasil,
quisas como essa: “A impor- Há porém, um projeto de lei neste
tância maior é ajudar a pensar sentido tramitando no Legislativo na América
políticas públicas, pois conse- Federal. Aprovado na Câmara, o Latina, somente
guimos ter ideia de quem são projeto de lei 6.575/2016 foi enca- Argentina,
e onde estão nossos autistas”, minhado ao Senado no último dia Venezuela,
argumentou ela. 12 de dezembro, onde ainda aguarda
Sabrina participou ainda de sua apreciação, sob o nome de PLC
Aruba e México
um outro estudo-piloto no 139/18, na Comissão de Direitos Hu- têm estudos de
Brasil, este somente na cidade manos e Legislação Participativa. prevalência de
com maior PIB (produto inter- A proposta tornaria obrigatória a autismo: 1 em
no bruto) do país, São Paulo, coleta de dados e informações so-
em 2018, a respeito da idade bre autismo nos censos demográ-
cada país
média de diagnóstico de au- ficos realizados a partir de 2018 (o
tismo: chegou ao número de 4 próximo está previsto para 2020) Portugal
anos e 11 meses e meio (4,97), — para isso, a lei alteraria o Esta- O mais recente estudo português
mas com uma variação bem tuto da Pessoa com Deficiência (Lei de prevalência de autismo — lá
grande — por isso, mais es- 13.146/15), que já prevê que os cen- conhecido por Perturbação do Es-
tudos devem ser feitos. Para sos incluam dados sobre população pectro do Autismo (PEA) — é do
efeito de comparação, a idade com deficiências, mas sem especi- ano 2000, da professora da facul-
média de diagnóstico nos EUA ficar o autismo. Todavia, a Lei Be- dade de medicina da Universida-
é de 4 anos de idade, segundo renice Piana (Lei 12.764/12) já reco- de de Coimbra, Guiomar Gonçal-
bem mais abrangente estudo, nhece o autismo como deficiência ves de Oliveira, envolvendo mais
também em 2018, em 11 esta- para todos os efeitos legais. de 300 mil crianças em idade es-
dos americanos. O tema foi tratado no ano pas- colar. Naquela época, chegou-se
sado, em 18 de junho, no Senado ao número de aproximadamente
À espera de uma lei Federal, na sessão que celebrou 1 autista para cada mil crianças
O Instituto Brasileiro de Geo- o Dia do Orgulho Autista, com a entre 7 e 10 anos de idade, em
grafia e Estatística (IBGE) tam- participação do Moab (Movimen- Portugal continental e Açores.
bém não sabe quantos autistas to Orgulho Autista Brasil), que co- Associações portuguesas, dis-
há no Brasil. O órgão disse à bra esta medida há anos. Segundo seram à nossa reportagem que
Revista Autismo que “planeja César Martins, um dos coordena- “aceita-se aqui o número da as-
investigar o tema futuramente dores do Moab e pai de autista, o sociação Autism Europe, que é
em uma pesquisa específica censo vai ajudar a direcionar polí- de cerca de 1%”, segundo Eduar-
de saúde, mas ainda não há ticas públicas e fortalecerá a luta do Ribeiro, fundador e atual
previsão. Por razões técnicas, dos autistas. presidente da direção da AIA
o censo demográfico não vai (Associação para a Inclusão e
América do Sul Apoio ao Autista), desde 2010.
Além do brasileiro, na América Desta forma, com o país tendo
do Sul há somente dois trabalhos chegado à população de 10,3
Portugal pode científicos de prevalência de autis- milhões em julho de 2018 — se-
ter cerca de 100 mo: na Argentina, publicado em gundo projeções do World Po-
2008 (com dados coletados em San pulation Review e do Instituto
mil pessoas Isidro, de 2004 a 2005), e na Vene- Nacional de Estatísticas de lá —
com autismo zuela, também em 2008 (dados de estima-se que possa haver cerca
Maracaibo, entre 2005 e 2006). No de 100 mil autistas em Portugal.
restante da América Latina, tam-
bém só há estudos em dois países: Mundo
Aruba, em 2009, e México, em 2016. A ONU (Organização das Na-
Todos esses países da América La- ções Unidas) considera a esti-
tina têm apenas um estudo cada. mativa global de que aproxima-
21
damente 1% da população pode EUA, publicou um mapa online to que um mapa sobre câncer
ter autismo no mundo todo, nú- global, em novembro último: no ou doenças neurodegenerati-
mero que o então secretário-ge- site prevalence.spectrumnews.org vas seria muito diferente”, ar-
ral Ban Ki-moon anunciou em — com uma coleção dos principais gumentou ele.
2010, reafirmado pelo documen- estudos científicos publicados a
to do painel de discussão do Dia respeito da prevalência de autismo EUA
Mundial de Conscientização do em todo o mundo, que promete ser O país com mais estudo de pre-
Autismo de 2013. constantemente atualizado. E o es- valência são os Estados Unidos,
A OMS (Organização Mundial da tudo do Brasil está lá! de longe. São 26, publicados de
Saúde), subordinada à ONU, tem Explorando o mapa, que também 1970 a 2018. Portanto, são os nú-
um número diferente. Diz que tem uma linha do tempo, é possível meros norte-americanos que
estima-se que, em todo o mundo, encontrar pesquisas feitas desde a têm sido considerados como
uma em cada 160 crianças tem au- mais antiga publicada, de 1966, no base para muitas estimativas
tismo.”Essa estimativa representa Reino Unido — na região de Mid- mundo afora. O motivo, porém,
um valor médio e a prevalência dlesex —, até as mais atuais, como é a escassez de estudos nos de-
relatada varia substancialmente as quatro de 2018: duas nos Estados mais países, principalmente
entre os estudos. Algumas pes- Unidos, uma na Dinamarca e uma nos mais pobres, infelizmente.
quisas bem controladas têm, no na Índia. O governo dos Estados Unidos
entanto, relatado números que O neurocientista brasileiro Alysson divulgou, em abril de 2018, a
são significativamente mais ele- Muotri, professor e pesquisador atualização dos números de
vados. A prevalência de TEA em da Universidade da Califórnia em prevalência do Centro de Con-
San Diego (EUA), destacou a im- trole de Doenças e Prevenção,
A ONU considera portância do mapa: “Esse tipo de o CDC (na sigla em inglês:
ferramenta pode ajudar os cientis- Centers for Disease Control
a estimativa tas a entenderem melhor quais fa- and Prevention): 1 para cada
global de que tores influenciam na predisposição 59 crianças. O número anterior
ao autismo. Sabemos que fatores era de 1 para cada 68 (referen-
aproximadamente genéticos são importantes, mas a tes a dados de 2012, divulgados
1% da população contribuição do ambiente tem sido em 2016) — um aumento de
difícil de se estudar. Além disso, 15%. Esse número foi obtido
pode ter autismo esse tipo de mapa pode auxiliar pelo órgão através da rede de
no mundo todo na identificação de regiões onde o monitoramento do autismo
autismo é ainda pouco conhecido e deficiências (ADDM – The
muitos países de baixa e média e com baixo diagnóstico. É incrível Autism and Developmen-
renda é até agora desconhecida. ver que a maioria dos países não tal Disabilities Monitoring),
Com base em estudos epidemio- tem informações sobre a frequên- criada em 2000, em 11 estados
lógicos realizados nos últimos cia do autismo na população. Apos- diferentes.
50 anos, a prevalência de TEA
parece estar aumentando glo-
balmente. Há muitas explicações Prevalência de autismo nos EUA 2018 1 em
possíveis para esse aumento (Quantidade de casos para cada nascimento) 59
1 em
aparente, incluindo aumento da 1 em 68
conscientização sobre o tema, 1 em 88
110
expansão dos critérios diagnós-
1 em 1 em
ticos, melhores ferramentas de 1 em 125
150
diagnóstico e o aprimoramento 166
das informações reportadas”.
Mapa online
O site Spectrum News, especia- 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018
lizado em autismo e ciência, nos Fonte: Centers for Disease Control and Prevention (CDC) - EUA arte: Revista Autismo
22
Este estudo levou em consi- Quantos mesmo? governo invista em pesquisa a
deração apenas crianças nas- Voltando à pergunta que não quer respeito de TEA, que as leis em
cidas em 2006 — com 8 anos calar: quantos autistas há no Brasil? prol dos autistas e suas famílias
de idade — números maiores O que podemos é dizer que o país saiam do papel, que haja mais
foram encontrados onde os “deve ter” ou “pode ter” aproxima- diagnósticos, mais médicos bem
pesquisadores tinham mais damente 2 milhões de pessoas com preparados e com atendimento
acesso a registros escolares. autismo, segundo estimativas glo- humanizado, que o SUS (Siste-
Segundo esta pesquisa, a dife- bais da ONU de 1% da população ma Único de Saúde) atenda os
rença de gênero no autismo di- ser autista, aproximadamente. O autistas com tratamento adequa-
minuiu. De 4,5 vezes mais me- Brasil, conforme projeção do IBGE, do a cada um, que as escolas, so-
ninos que meninas, em 2012, ultrapassou os 208 milhões de bretudo as públicas, estejam pre-
para 4 vezes em 2014, o que pa- habitantes em agosto de 2018. Ou paradas para receber os autistas,
rece refletir um melhor diag- seja, não dá para afirmar um núme- oferecendo mediadora exclusiva
nóstico de autismo em meni- ro cravado. Não o temos. Se tivés- a cada um… enfim, se eu conti-
nas — muitas das quais não se semos, sem dúvida seria um passo nuar a escrever, vou achar 2 mi-
encaixam no quadro estereo- a menos rumo a políticas públicas lhões de motivos.
tipado do autismo observado para atender a essa população e
em meninos. suas famílias, num país tão caren-
Os estadunidenses ainda não te de saúde como o nosso. Quantos
têm nenhuma estimativa con- deles já têm um diagnóstico? Pio-
fiável da prevalência de autismo rou. Não fazemos a menor ideia.
entre adultos. A cada ano, cerca Exercer a cidadania com a pres-
de 50 mil jovens com TEA atin- são popular é essencial para mu-
gem a maioridade dos 18 anos dar este cenário. Precisamos que Veja mais na internet
nos EUA. o IBGE conte os autistas, que o
é graduada em
pedagogia, pós-
graduada em
psicopedagogia
clínica e educacional,
em saúde mental
com ênfase em
TEA e em gestão
escolar, orientação e
supervisão escolar. Leis que já
É psicopedagoga existem e devem
clínica e educacional sair do papel para a
no Instituto Crescer prática, por
de Sorocaba (SP),
atuando há 25
um aprender
anos na educação eficiente
inclusiva. E mãe do
Israel, asperger, de
12 anos.
ADAPTAÇÕES E ADEQUAÇÕES
CURRICULARES COM SIGNIFICAÇÕES
o Brasil, a necessidade de se pensar adequar a ação educativa escolar às
um currículo para a escola inclusi- maneiras peculiares de aprendiza-
va tomou maior dimensão após a gem dos alunos, levando em conta
promulgação da Lei de Diretrizes que o processo de ensino-aprendi-
e Bases da Educação Nacional, a zagem pressupõe atender à diversi-
Lei nº 9.394/96, razão pela qual este ficação de necessidades dos alunos
artigo traz à tona esse documento, na escola (segundo o MEC/Seesp/
bem como as Diretrizes Curricula- SEB, em 1998).
res Nacionais para a Educação Es- As adaptações curriculares consti-
pecial na Educação Básica, aprova- tuem, pois, possibilidades educa-
da em setembro de 2001 e a Política cionais de atuar frente às dificulda-
Nacional de Educação Especial na des de aprendizagem dos alunos.
Perspectiva da Educação Inclusiva, Pressupõe que se realize a adapta-
aprovada em 2008, para uma análi- ção do currículo regular, quando
se de como contemplam as adapta- necessário, para torná-lo apropria-
ções e adequações curriculares ne- do às peculiaridades dos alunos
cessárias para oferecer um ensino com necessidades especiais. Não
de qualidade aos educandos com um novo currículo, mas um currí-
necessidades educacionais espe- culo dinâmico, alterável, passível
ciais incluídos no sistema comum de ampliação, para que atenda real-
de ensino. mente a todos os educandos. Nes-
O conceito de adaptações curricula- sas circunstâncias, as adaptações
res é considerado como: estratégias curriculares implicam a planifica-
e critérios de atuação docente, ad- ção pedagógica e as ações docentes
A R T I G O
mitindo decisões que oportunizam fundamentadas em critérios que
24
definem: o que o aluno deve apren- Um currículo
der; como e quando aprender; que
formas de organização de ensino adaptado para
são mais eficientes para o processo crianças com autismo
de aprendizagem; como e quando
relaciona princípios,
avaliar o aluno.
Adaptações curriculares de modo operacionalização,
geral envolvem modificações orga- teoria e prática,
nizativas, nos objetivos e conteú-
do, nas metodologias e na organi-
planejamento e ação Material adaptado para uso com autistas.
zação didática, na organização do
tempo e na filosofia e estratégias cional Individualizado (PEI). Aos pais e responsáveis
de avaliação, permitindo o aten- De responsabilidade da instância A participação ativa da família é
dimento às necessidades educati- político-administrativa, tem-se essencial porque colabora com in-
vas de todos os alunos em relação dentre as adaptações de acesso ao formações sobre as necessidades do
à construção do conhecimento. currículo: a criação de condições educando, seus interesses, como vê
(como publicaram Oliveira e Ma- físicas, ambientais e materiais para o que lhe é difícil, como interage,
chado, segundo Glat, em 2007). o aluno, em sua unidade escolar; comunica-se com outros educan-
Assim, com a intenção de possibi- a adaptação do ambiente físico es- dos. Nesse processo, a família tem
litar a inclusão dos alunos espe- colar; a aquisição do mobiliário a chance de especificar suas dúvi-
ciais preferencialmente no ensino específico necessário; a aquisição das, ansiedades e frustrações, como
regular, a Lei de Diretrizes e Bases dos equipamentos e recursos ma- também de compartilhar, como me-
da Educação Nacional prevê, entre teriais específicos; adaptação e/ou diador, o processo educacional do
outros, em seu artigo 59, incisos I e adequações curriculares; a capaci- educando (como publicou Sacris-
II, de currículo e terminalidade es- tação continuada dos professores e tán, em 1998).
pecífica para o atendimento destes demais profissionais da Educação; Não tenham receio de cobrar os di-
educandos, que a escola se mobili- e recursos visuais adequados. reitos adquiridos por seus filhos.
ze para estruturar um conjunto de Um currículo adaptado para crian- Enquanto família seremos as vozes
ações e providenciar recursos ne- ças com autismo relaciona prin- que os representarão.
cessários que garantam o acesso e cípios, operacionalização, teoria e Não desanimem frente às dificul-
a permanência de todos os alunos, prática, planejamento e ação, sendo dades enfrentadas, lutem de cabeça
promovendo um ensino que respei- que essas noções de planejamento e erguida e cobrem pelos seus direi-
te as especificidades da aprendiza- de concepção curricular estão inti- tos com dignidade. Não estamos
gem de cada aluno. mamente ligadas à viabilização de pedindo nenhum favor. É lei!
No documento denominado Parâ- sua concretização (segundo Mon- Sejamos fortes frente às adversida-
metros Curriculares Nacionais – jón, em 1995). des, lembrando que nossos filhos
PCN Adaptações Curriculares em dependem de nós para defendê-los.
ação, elaborado pela Secretaria de Não podemos nos esquecer de que
Educação Especial, do Ministério nossas crianças se tornarão pessoas
da Educação — publicado original- adultas e com elas devemos cami-
mente em 1999 e reeditado em 2002 nhar juntos, com as suas esperan-
—, as adaptações curriculares de- ças, desejos, alegria, tristezas neste
vem ser entendidas como um pro- processo de transição. Eles preci-
cesso a ser realizado em três níveis: sam muito da nossa força, incentivo
no projeto político pedagógico da e motivação para um futuro menos
escola, por meio do qual é possível Material adaptado para uso com autistas. intolerante e preconceituoso.
identificar e analisar as dificulda- O amanhã dependerá do que fizer-
des enfrentadas pela escola, assim mos hoje, quando teremos pessoas
como, estabelecer objetivos e metas com deficiência, sim, mas com in-
comuns aos gestores, professores, dependência, autonomia, pessoas
funcionários da escola, familiares e felizes e até, na medida do possível,
alunos; no currículo desenvolvido no mercado de trabalho, mostrando
em sala de aula; e no nível indivi- para a sociedade toda a capacidade
dual, por meio da elaboração e im- que existe em nossos filhos. Juntos
plementação do Programa Educa- somos mais Fortes!
25
CELSO GOYOS
A RComT evidências
I G O
científicas, ABA é
ABA E O ferramenta útil no
ENSINO DA ensino da fala como
FALA
é coordenador do linguagem natural
Instituto Lahmiei-
Autismo da UFSCar
(Universidade
Federal de São
Carlos), e do curso
de especialização
em ABA Aplicada ao
Autismo, da UFSCar,
autor do livro “ABA:
Ensino da fala para
pessoas com autismo”.
A IMPORTÂNCIA DO
DIAGNÓSTICO PRECOCE
senvolvimento neuropsicomotor. deve ser transformada em ava-
A estimulação pode atingir o liar o período de cada aquisição
Sociedade período ótimo definido pelas de- do desenvolvimento motor, de
Brasileira nominadas “janelas de oportuni- linguagem e social, se podem
dades” do cérebro das crianças ser alcançados dentro do pa-
de Pediatria e a detecção precoce pode auxi- drão da normalidade, segundo
liar a treinar habilidades que, se escalas validadas internacional-
porventura houver um atraso no mente. Por exemplo, existe uma
diagnóstico, não poderão mais idade mínima e máxima consi-
ser alcançadas. derada normal para iniciar as
O TEA pode manifestar-se com primeiras palavras – se o bebê
atraso desde os primeiros me- não emite palavras após a idade
ses de vida. Alguns bebês po- considerada máxima é caracteri-
dem demonstrar sinais precoces, zado atraso e ele deve ser avalia-
Liubiana Arantes de Araújo como o atraso do sorriso social, do e estimulado imediatamente,
a preferência por objetos e brin- pois as janelas de oportunidade
é neurologista pediátrica, presidente quedos em vez da interação com da linguagem estão abertas até a
do Departamento Científico de faces humanas, a deficiência no idade de 3 anos.
Desenvolvimento e Comportamento olhar sustentado ou reciprocida- Identificar que a criança deverá
da Sociedade Brasileira de Pediatria de do olhar, as dificuldades gra- ser submetida à intervenção de
(SBP), com título em terapia intensiva ves de sono, o déficit de interação forma interdisciplinar a fim de
pediátrica e neonatal M.D., Ph.D., social e interesse no outro, o atra- estimular várias áreas do cérebro
fellow at Harvard Medical School so na linguagem, a pouca comu- faz com que ela possa aproveitar
2011-2012, teaching assistant of nicação não-verbal e do apontar, o máximo do seu potencial ce-
Principles and Practice in Clinical dentre outros fatores. Geralmen- rebral e em nível de desenvolvi-
Research at Harvard Medical School
te são bebês que não demandam mento neuropsicomotor.
2013, professora adjunta da Faculdade
de Medicina da Universidade Federal muito colo, que ficam bem so- As pesquisas internacionais
de Minas Gerais (UFMG). zinhos, que conseguem brincar mostram que a estimulação
isoladamente, que não choram deve ser feita por meio de par-
por qualquer motivo e que não ceria entre equipe de saúde,
exigem muito a atenção dos pais, família e escola, pois assim os
considerados “bebês bonzinhos”. resultados são muito mais pro-
prevalência de Transtorno do Outras crianças podem ter um missores do que quando ocor-
Espectro do Autismo (TEA) tem desenvolvimento aparentemente rem de forma isolada. Assim,
aumentado nos últimos anos normal até por volta de 12 a 18 as famílias e crianças devem
devido à maior acurácia diag- meses e manifestar perdas na ser acolhidas para que adqui-
nóstica ao lado da influência do linguagem e interação após este ram força e persistência no
ambiente na genética. período, o que se torna cada vez tratamento que a criança com
Cada vez mais, as pesquisas cien- mais evidente para a família de- suspeita ou com diagnóstico de
tíficas têm revelado os mecanis- vido à regressão. TEA exige. Como o ambiente
mos de desenvolvimento do cére- Uma vez que o cérebro apresenta possui grande influência na ten-
bro ao longo dos primeiros anos um nível ótimo de formação de dência genética da criança, esta
de vida e já é consenso que, quan- redes neurais e habilidades nos intervenção precoce realizada
to mais precocemente uma crian- primeiros meses de vida, secun- com evidências científicas, in-
ça é estimulada, melhores são os dário à velocidade da sinaptogê- tensidade, perseverança, união
resultados a longo prazo. nese e à efetividade da mielini- e afeto faz com que a criança
Assim sendo, quanto mais rápi- zação, a estimulação nessa fase se torne um ser humano com
do os traços de TEA forem iden- poderá ter resultados mais efe- as suas potencialidades desen-
tificados, mais rapidamente será tivos do que quando o diagnós- volvidas, mais capacitado, feliz
iniciada a estimulação e mais tico é tardio. A cultura popular consigo mesmo e bem-sucedido
efetivos serão os ganhos no de- de “esperar o tempo da criança” em sua vida.
28
aceitos (sobretudo quando vários
para a mesma criança).
Mas ainda assim, o critério parece
livro “Transtorno do A R T I G O
Espectro Autista: uma
não muito rigoroso. Alguém pode-
brevíssima introdução” ria argumentar que o direito é sem-
e coordenador nacional pre bem-vindo, o que não é exato,
do Núcleo de Atenção ao já que o acompanhante também
LUCELMO Transtorno do Espectro pode, se mal administrado, tornar
LACERDA Autista – Núcleo de
a criança dependente. É preciso que
é doutor em Atenção ao Transtorno do
educação, pós- Espectro Autista (Natea). nos lembremos de que as pessoas
doutorando Especialista em educação com autismo crescem e nós, pais,
em educação especial, inclusiva e morremos, de modo que a indepen-
especial, autor do políticas de inclusão. dência é um elemento-chave para a
qualidade de vida. Assim, é funda-
MEDIADOR
mental um bom processo avaliativo
para a tomada de decisão.
O instrumento ideal para a tare-
ESCOLAR: QUEM
fa é a Avaliação de Marcadores do
Comportamento Verbal e Progra-
ma de Nivelamento – VB-MAPP
(Verbal Behavior Milestones Asses-
Quando escrevo esta repor- dia a dia, entre os seus membros. O principal canal de comunicação
tagem, a Liga tem 13 mem- do grupo é um perfil na rede social Instagram@liga.dos.autistas, onde
bros, sendo um honorário. ganham seguidores diariamente. Eles também mantém dois gru-
A maioria com diagnóstico pos de discussão no WhatsApp — um somente para autistas, que já
30
R E P O RTAG E M
No Natal, a Liga distribuiu lanches a famílias assentadas no Plano Piloto, em Brasília (DF).
Raquel contou mais. O grupo ações cotidianas e, em seguida, profissionais as explicam do ponto de vis-
realizou duas lives (trans- ta médico e psicológico, relacionando-as com o autismo em adultos. “São
missão de vídeo ao vivo) com situações tristes, felizes, engraçadas, tem de tudo. O objetivo com este livro
grande repercussão: uma foi é mostrar às pessoas como é a nossa vida como autistas adultos, trazendo
com a estudante de medicina conscientização e conhecimento aos leitores”, revelou Raquel Paes.
Lia Guabiraba, falando sobre “Também temos planos de criar um canal de Youtube e muitos outros
como é ser Asperger na facul- projetos, como a 1ª Semana de Arte Autista, mas necessitamos tanto de
dade, e a outra, com Aline e suporte pessoal como material, pois, até então, todo nosso trabalho tem
o youtuber Leo Akira, sobre sido voluntário e sem nenhum financiamento. Estamos empenhados em
festas de fim de ano. A últi- realizar e participar do Carnaval Inclusivo e entramos em contato com o
ma live rendeu ao grupo uma Instituto Ninar a fim de unirmos forças para participarmos e nos ajudar-
nova e importante seguidora, mos em projetos que já existem”, finalizou Raquel.
que atualmente é membro, a
social media Joana Scheer, res-
ponsável pelo perfil d a Liga
no Instagram atualmente.
FORMAÇÃO DA LIGA DOS AUTISTAS (em fevereiro de 2019):
O grupo também se preocu-
pa com questões sociais e,
no último Natal, arrecadou
doações dos seguidores para
servir lanches a famílias as-
sentadas no Plano Piloto, em Aline T. R. Dácio Jr., 19 Érica Matos, Fernanda de Fernanda M.,
Caneda, 26 anos, estudante 36 anos, Moura Zardini, 20 anos,
Brasília (DF), cidade onde anos, graduanda (vestibulando turismóloga, 42 anos, estudante de
mora a maioria dos integran- de pedagogia, de medicina), Brasília (DF) nutricionista, arquitetura,
fotógrafa, Brasília (DF). Brasília (DF) Guimarães,
tes. “Enfrentando o cansaço, blogueira, Santa Portugal
a exaustão social e a ansieda- Maria (RS)
de de estar em contato com
desconhecidos (realmente
foi uma vitória para nós!) e, Leonard
“Akira” Luciana
com isso, quisemos mostrar Joana Ribeiro, 34
Scheer Loayza, Machado, 30 Matheus Leite
a todos os autistas que, in- Jéssica Sinalli, 32 anos, social
anos, instrutor anos, bióloga e
27 anos, auxiliar de Parkour e Carvalho, 28
dependentemente do grau media, São youtuber, São
graduanda em anos, escritor,
administrativo, Paulo (SP) educação física,
de autismo com o qual con- Camaçari (BA). Paulo (SP) Borda da Mata
Santa Isabel (SP)
vivem, é possível encarar as (MG)
suas maiores dificuldades
com o apoio de um grupo
e por uma causa. Preten-
demos aumentar o número Raquel do Tatiana Sanson Thiago S.,
Abiahy Paes, Albuquerque, 26 anos, Inês V.,
de Ações e fazê-las chegar a 39 anos, 37 anos, socióloga bibliotecário, membro
outros Estados e com mais formada em e mestre em Assistente honorário,
participantes, pois nosso história, artesã planejamento e administrativo, Brasília (DF)
miniaturista, gestão do Rio de Janeiro - RJ
objetivo é o protagonismo Brasília (DF) território, SP (SP)
coletivo, jamais individual”,
relatou Raquel. CONHEÇA TAMBÉM
Introvertendo Diariamente Aspie Joana Scheer
Livro, Youtube, um podcast onde
autistas conversam.
o dia a dia de uma menina
/mulher aspie/autista
Autismo e
maternidade:
Arte Autista www.introvertendo.com.br diariamenteaspie.wordpress.com/ joanascheer.com
medium.com
E tem mais por vir. A Liga está Instituto Ninar: Thiago S. /@ogaiht_tls
escrevendo um livro, em que fb.com/ninar.brasilia/ medium.com/@ogaiht_tlsv
os integrantes relatam situ-
32
C O L U N A
Trabalho no
espectro INCLUSÃO
PROFISSIONAL SOB
A ÓTICA DOS
por Marcelo Vitoriano
DIREITOS HUMANOS
é psicólogo, especialista em terapia
comportamental cognitiva em saúde Atualmente, segundo dados e desenvolvimento de software
mental, mestre em psicologia da internacionais, temos uma pre- e programação, em importantes
saúde, com experiência na gestão de valência do diagnóstico de au- parceiros e contribuindo para a
programas de diversidade e inclusão em tismo de 1 para cada 59 pessoas criação de projetos neurodiver-
empresas como Sodexo, no Brasil. Há 4
anos, faz parte do grupo de trabalho que nascem. Estima-se que, no sos nas empresas brasileiras.
sobre Direitos Humanos nas Empresas Brasil, sejam mais de 2 milhões O tema da inclusão profissional
da rede brasileira do Pacto Global da de pessoas com autismo. Es- das pessoas com autismo deve
ONU e é diretor geral da Specialisterne tudos da Inglaterra e Espanha fazer parte da agenda corporati-
no Brasil, organização social de origem
dinamarquesa presente em 20 países, apontam que mais de 80% das va de valorização da diversidade,
que atua na formação e inclusão de pessoas dentro do espectro do seja pelo respeito às singularida-
pessoas com autismo no mercado autismo estão desempregadas. des humanas, seja pela valoriza-
de trabalho.
Para lidar com esta realidade, é ção da diversidade de talentos e
importante que existam progra- potencialidades.
mas de formação em diversas
áreas e que se desenvolvam ha- Estamos felizes em compartilhar
bilidades técnicas — e também aqui histórias de sucesso. Até a
sociais — para as pessoas com próxima edição.
autismo, com vistas à sua inclu-
são no mercado de trabalho.
AUTISMO, INCLUSÃO
E LEGISLAÇÃO
2008/2018
Como eram e como passaram a ser as leis portuguesas que abrangem o autismo
A
Lei de Bases
do Sistema Palácio de São Bento, cede
Educativo do parlamento de Portugal
desde 1834, em Lisboa.
Por t ug uês
(Lei 46/86 de
24 de Outubro
de 1986) ema-
nada da Assembleia da República,
definia que incumbe ao Estado pro-
mover e apoiar a educação especial
para deficientes e a organização
desta deve ser feita segundo mo-
delos diversificados de integração
em estabelecimentos regulares de
ensino, podendo também ser de-
senvolvida em instituições especí-
ficas quando “comprovadamente o
exijam o tipo e o grau de deficiência
do educando”, bem como serem or-
ganizadas formas de educação es-
pecial visando a integração profis-
sional do deficiente. Definia que a
escolaridade básica para crianças e
jovens deficientes deve ter currícu-
los e programas devidamente adap-
Crédito: Deposit photos
Central de Atendimento: (11) 4003-8399 Mais barato do que você pensa. Mais rápido do que imagina.
ERIC HAMBLEN, DOS EUA
AS EMOÇÕES IMPULSIONAM
O COMPORTAMENTO
O desafio é aprender a regular emoções,
confortáveis e desconfortáveis,
que ocorrem naturalmente
é bióloga,
mestre e doutora
em biologia
molecular, foi
pesquisadora em
nível de pós-
doutorado pela Fada do Dente”,
USP e participou a primeira ONG
da criação da de pesquisa
ONG “Projeto a científica de
autismo no Brasil,
atualmente é
diretora executiva
da Tismoo.
AUTISMO X GENÉTICA
Como a ciência explica hoje a ligação entre autismo e genética A R T I G O
Figura 1
Figura 2
42
Ilustração: Bera
C O L U N A
DIFICUL-
DADES
DO DIAG-
NÓSTICO
TARDIO
teralmente características não tão
padronizadas como se imagina.
Não possuem empatia, têm jul-
gamentos infundados, nos ridi-
cularizam, sequer investigam
nossos questionamentos e ainda
soltam o jargão medicinal da ig-
norância: “você não é Autista, dê
graças a Deus por ser normal!”.
Ser Autista não é fácil, viver Por que não nos escutam, ou dão
anos sem saber é ainda pior: atendimento humanizado? De-
Liga dos tempo perdido! A falta de tra- vemos ser gratos por não sermos
Autistas tamento adequado, inúmeras considerados anormais!?
adaptações, lidar com expec- Mudar essa visão equivocada é
tativas, não ter o acompanha- extremamente importante, pois
mento necessário são alguns precisamos de parceiros e de so-
dos efeitos negativos na vida lidariedade, não de inimigos!
de um neurodiverso sem diag- Apoio, compreensão e aceitação
nóstico. são fundamentais antes, durante
Todos (quase todos) com diagnós- e após o diagnóstico. Pois, mesmo
por Érica Matos Araújo tico tardio descrevem a sensação com o laudo atestando essa neu-
36 anos, turismóloga e técnica em da descoberta: alívio e libertação! rodiversidade, as dificuldades e
análises clínicas, é apaixonada por
Na verdade, temos um sistema limitações ainda existirão.
gastronomia, animais (especialmente
operacional cerebral diferente.
gatos) e cuidar de sua chácara. Foi
responsável pelo apoio emocional a Mas ser diferente para a socieda-
vários membros da Liga dos Autistas, de...incomoda!
além de ser uma das idealizadoras Saga para obter diagnóstico?
e fundadoras. Suas habilidades Ah! Esse momento é provação,
de resolver contendas e extrema resistência, teste de paciência e
capacidade de observação de sanidade! Alguns profissionais
comportamentos (autodidata) deu a conseguem ser mais autistas que
ela o apelido de “CSI da Liga”. nós no sentido de interpretar li-
43
ALYSSON MUOTRI
é Ph.D. em genética,
professor da faculdade
de medicina e diretor do
Programa de Células-
Tronco da Universidade
da Califórnia em
San Diego (EUA) e
cofundador
da Tismoo
MINICÉREBROS HUMANOS:
UM NOVO MODELO
EXPERIMENTAL PARA
O ESTUDO DO TEA
Principal uso é para a busca de novos medicamentos em plataformas miniaturizadas
A R T I G O
44
criação de
minicére-
bros huma-
nos em la-
boratório a
partir de cé-
lulas-tronco
é um dos
fenômenos mais interessantes da
neurociência moderna. Essa nova
ferramenta promete ser a grande
vedete no tratamento de doenças
neurológicas e genéticas, uma re-
volução na medicina.
Formados a partir de células-tron-
co pluripotentes, reprogramadas
de células periféricas (sangue, pol-
pa de dente, pele etc.) do próprio
indivíduo, esses minicérebros (ou
organoides cerebrais) são criados
em biorreatores de laboratório,
seguindo uma complexa receita
química. Cada passo é importante
e, dessa forma, consegue-se reca-
pitular o desenvolvimento neural
embrionário da pessoa in vitro.
Muito da técnica é ainda empíri-
ca, pois as células-tronco fazem a
maior parte do processo sozinhas,
se auto-organizam em estruturas
cerebrais tridimensionais de forma
espontânea, seguindo as instruções
genéticas codificadas pelo genoma
do indivíduo.
A similaridade anatômica com o cé-
rebro humano impressiona, mas é
ainda uma versão miniatura, cerca
de meio centímetro. As estruturas
são pequenas porque ainda não te-
mos vascularização para manter os
mini-cérebros crescendo por muito
tempo. Conseguimos manter esses
minicérebros em cultura por um
ou dois anos. Depois disso, obser-
vamos que o centro das esferas se
torna escuro, um sinal de que as cé-
lulas estão morrendo devido à falta
de nutrientes que só chegam por
difusão. Cientistas já estão criando
estruturas de circulação artificiais
usando bioimpressoras, semelhan-
tes a veias e artérias, que irão irri-
gar o interior desses minicérebros e
permitir seu crescimento.
Mas a escala menor também tem
45
Divulgação
O neurocientista Alysson Muotri segurando vários minicérebros, cada um do tamanho de uma ervilha.
suas vantagens. Podemos criar lite- limitações serão resolvidas num fu- pa ainda este ano. É um excelente
ralmente milhares de minicérebros turo próximo. ponto de partida para futuros en-
de uma única vez e mantê-los em Apesar das promessas desse mode- saios clínicos.
pequenas placas. E esses organói- lo, tudo isso ainda é muito caro para Termino com uma visão filosófica
des podem ser usados para des- ser aplicado de uma forma perso- e provocativa desta área científi-
cobertas de novos medicamentos nalizada. Felizmente, a ciência dá ca. Como quase sempre, a ciência
em plataformas miniaturizadas saltos. Ano passado, conseguimos avança de forma não-linear, e mui-
que permitam a comparação pa- reduzir o custo dessa tecnologia tas vezes nos pega de surpresa,
ralela simultaneamente. Esse tipo de forma considerável, possibili- sem deixar muitas chances para a
de escala é passível de automa- tando a geração de minicérebros reflexão sobre aspectos fundamen-
ção, modelo preferido pela indús- de até cem pessoas de uma só vez. tais dos dados gerados. Uma per-
tria farmacêutica. Além do teste O novo método permitirá estu- gunta interessante seria se esses
de drogas para eventuais doenças dar condições neurológicas ge- minicérebros teriam a capacidade
neurológicas, esse modelo permite neticamente complexas, como o de pensar, ou se teriam consciência
uma análise do impacto de drogas autismo idiopático. da própria existência numa placa
ambientais (toxinas, fertilizantes E foi com esse modelo que desco- de petri. Apesar de rudimentar, as
etc.) no desenvolvimento embrio- brimos que os neurônios de mini- estruturas cerebrais estão lá, princi-
nário humano. Nosso laboratório cérebros derivados de indivíduos palmente regiões do córtex frontal,
na Universidade da Califórnia em autistas estabelecem um menor responsáveis por uma série de fun-
San Diego consegue dizer rapida- número de conexões nervosas (con- ções cognitivas altamente sofistica-
mente se existem toxinas que afe- tatos sinápticos) comparado ao das. Será que essas redes nervosas
tariam o cérebro embrionário em grupo controle (minicérebros deri- seriam o princípio da consciência
determinada amostra ambiental, vados de neurotípicos). A alteração humana? Se sim, quais seriam as
fornecendo um selo de qualidade sináptica está provavelmente rela- implicações éticas dessa tecnolo-
que deverá ser obrigatório para to- cionada aos sintomas clínicos dos gia? Deixando de lado as questões
dos os futuros produtos, artificiais pacientes. O próximo passo agora filosóficas e éticas, acredito que esse
ou não, em alguns anos. Lógico que é encontrar uma forma de corrigir novo modelo, associado a infor-
o modelo tem limitações, afinal os os defeitos sinápticos nos minicé- mação genética individual, trará a
minicérebros não funcionam num rebros dos autistas. Isso será feito medicina personalizada para mais
sistema interconectado com outros em parceria com a Tismoo, que perto dos autistas.
tecidos (sistema imune, por exem- abrirá seu laboratório para mode-
plo). Acredito que muitas dessas lagem celular funcional na Euro-
46
COMUNIDADE NA CAUSA Gente que se une para
mudar o mundo
A EDUCAÇÃO DE PESSOAS
48
ADULTAS COM AUTISMO
Proporcionar flexibilidade na for- melhor com certos comportamen- à educação ao longo da vida e ao
mação, pode fazer com que adul- tos, a gerir conflitos relativos ao mercado de trabalho, não apenas
tos autistas desenvolvam melhor estresse e ansiedade, a lidar me- os considerados “grau leve” ou os
o controle de situações, encontrem lhor com as dificuldades relativas que usufruem de privilégios econô-
soluções para reduzir o estresse aos interesses restritos. micos. Para sermos uma sociedade
e a ansiedade, sejam capazes de Na vida e na educação, é essen- mais justa, a educação deve real-
melhor generalizar, desenvolver cial termos objetivos. Para educar mente ser direito de todos.
ou aumentar empatia, lidar com adultos com TEA, os objetivos de- Que o trabalho e contribuição dos
as emoções, ter mais auto-estima, vem ser voltados às competências, pais sejam valorizados e reconhe-
entre outros. identificar os interesses pessoais cidos, abrindo espaço para parce-
Em relação a adaptações curricula- e os vocacionais, priorizar habili- ria entre educadores e pais. Antes
res, o que é algo ainda difícil para dades e aptidões para orientar os de planejar programas, adaptar
educadores que lidam com pessoas alunos em formações acadêmicas e promover ações, consultar os
autistas adultas, é preciso propor e profissionais, visando também a pais ou outros membros da famí-
conteúdos com bastante estrutura sua empregabilidade. lia que sejam importantes para o
e pistas visuais, respeitar o ritmo Autistas apresentam potenciais desenvolvimento do adulto com
de aprendizagem, eleger priorida- que por vezes nem sequer imagi- TEA é primordial.
des, sequenciar, respeitar os gos- namos, isso se dá por colocarmos Investir na educação de pessoas
tos e a vontade do aluno quanto a mais foco às limitações do que às adultas com autismo é investir na
conteúdos (pode ser que o aluno possibilidades, a nossa visão li- capacidade humana de se desenvol-
já tenha visto o conteúdo proposto mitada aliada por vezes à nossa ver ao longo da vida; todos podem
repetidamente ou que este fuja aos inércia, faz com que desprezemos aprender e seguir no aprendizado,
seus centros de interesse, aí ele não imensas capacidades. adquirir novas habilidades e se tor-
se anima, ou até mesmo se nega a Arregacemos as mangas e lutemos nar seres humanos mais completos,
cumprir as atividades) e, por fim, para que todos possam ter acesso mais produtivos e mais felizes!
é imprescindível que o currículo
CAMILA
Diagnosticada com Síndrome de
Asperger, a desenhista tem 29
anos, é paulistana e, desde peque-
na, é extremamente apaixonada por
tudo relacionado aos dinossauros.
ALLI CHAIR
Atualmente trabalhando como de-
senhista freelancer, Camila tem
fluência em inglês, adora viajar e ir
para baladas e festas. Tem formação
em mergulho autônomo — tendo
mergulhado em cavernas à noite
em mar aberto — e não concluiu a
faculdade de biologia.
Por três vezes seus desenhos foram
solicitados e divulgados pela revis-
ta norte-americana “Pre-Historic
Times”, além de ter participado de
concursos internacionais: na China
(animais brasileiros) e em Portugal
(espécies extintas de Portugal).
Atualmente, ela faz projeto e ilus-
trações de dinossauros para livros
infantis e está desenvolvendo um
projeto de animação em 2D, de sua
autoria, chamado “Escola de Insani-
dade” (assista aos vídeos na versão
online deste texto).
Site: deviantart.com/freakyraptor
Facebook: Camila Alli
Instagram: @camila_alli
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