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Desalento

 
 

Por que havíeis passar tão doces dias?


A. F. DE SERPA PIMENTEL
 

Feliz daquele que no livro d'alma


Não tem folhas escritas
E nem saudade amarga, arrependida,
Nem lágrimas malditas!
 

Feliz daquele que de um anjo as tranças


Não respirou sequer
E nem bebeu eflúvios descorando
Numa voz de mulher...
 

E não sentiu-lhe a mão cheirosa e branca


Perdida em seus cabelos,
Nem resvalou do sonho deleitoso
A reais pesadelos...
 

Quem nunca te beijou, flor dos amores,


Flor do meu coração,
E não pediu frescor, febril e insano
Da noite à viração!
 

Ah! feliz quem dormiu no colo ardente


Da huri dos amores,
Que sôfrego bebeu o orvalho santo
Das perfumadas flores...
 

E pôde vê-la morta ou esquecida


Dos longos beijos seus,
Sem blasfemar das ilusões mais puras
E sem rir-se de Deus!
 

Mas, nesse doloroso sofrimento


Do pobre peito meu,
Sentir no coração que à dor da vida
A esperança morreu!...
 

Que me resta, meu Deus? aos meus suspiros


Nem geme a viração...
E dentro, no deserto do meu peito,
Não dorme o coração!

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