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tad * * Ag i * raresal 7 ees Classificacao Internacional para a Pratica de Enfermagem CIPE/ICNP com Introducao da TELENURSE Editor Randi A. Mortensen Director of The Danish Institute for Health and Nursing Research Telematica para Cuidados de Saude Comissao Europeia DG XIII O16-905 Men Hos Rae cla Classificagdo Internacional paraa Prdtica de Enfermagem CIPE/ICNP* Versdo alfa com Introdugéo da TELENURSE Tradugdo de: Leonor Abecasis Adelaide Madeira Teresa Leal Consulte também a Home Page da TELENURSE WWW. netothel.dk/dihnr/telenurse/icnp/ Edicdo Portuguesa de: IGIF — Instituto de Gestéo Informatica e Financeira da Saude The Danish Institute for Health and Nursing Research WHO Colaborating Center for Nursing Research and Education Fensmarksgade 3, DK-2200 Kebenhavn N Tef. +45 31 39 40 66. Fax +45 31 39 03 31. E-mail: dihnr@inet.uni-c.dk “NT: Sigla de The International Classification for Nursing Practice - ICNP ERG i 5 EN TELENURSE HC 1113 (HC) Telemética para os Cuidados de Savide Comisséo das Comunidades Europeias Directiva Geral Xil © DIHNR Copenhagen 1996 © IGIF - lisboa 1999 © CIPE/ICNP - Verséo Alfa ICN - Consetho Internacional de Enfermeiros 3, place Jean Marteau, CH-1201 Geneva (Switzerland) ISBN 972-98163-0-1 Depésito Legal n.° 136 898/99 Tradutoras = Leonor Abecasis - Adelaide Madeira ~ Teresa Leal Desenho Gréfico — Peter Dyrvig Impressao - Grafema Parte I: Parte II: Parte II: Anexos: Agradecimentos . Sumério Executivo.... Introdugdo da TELENURSE . Secgao 1: Introdugdo Histérica Seccio 2: Introduciio Sistematica. Secciio 3: TELENURSE . Bibliografia. ... Classificagao Internacional para a Pratica de Enfermagem ......- Seceao 1: Fenémenos de Enfermagem Secco 2: Intervengées de Enfermagem. . . - Seceiio 3: indice Remissivo. . Seccio 4: Referéncias...... Proposta de Cruzament0s......40se0eereseeeeeeees Secqdo 1: Cruzamento de Fenémenos de Enfer- magem... Seco 2: Cruzamento de intervenes de Enfer- 103 116 123 127 215 299 319 321 325 381 471 479 487 503 Telenurse Intro Prélogo A necessidade de classificagdes para a pritica de enfermagem tem sido clara através da histéria de enfermagem. Nas tiltimas duas décadas esta necessidade deu origem ao desenvolvimento de varios sistemas nacionais de classificagao de enfermagem, bases de dados e sistemas de informagao clinica em todo o mundo. Este desenvolvimento impediu, contudo, a possibilidade de comparar os dados sobre os cuidados de enfermagem e determinar as necessidades das populagdes nestes cuidados. Tornou-se evidente a urgéncia de desenvolver uma Classificacdo Internacional para a Pritica de Enfermagem e de estabele- cer mecanismos para manter um tinico sistema comum de classificagao da pré- tica de enfermagem. Em 1990, o International Council of Nurses (ICN) iniciou, como parte do seu empenhamento no avango da enfermagem através de todo o mundo, um pro- jecto a longo prazo para o desenvolvimento de uma Classificag&o Internacio- nal para a Prética de Enfermagem (CIPE/ICNP), com 0 objectivo especifico de estabelecer uma linguagem comum sobre a pritica de enfermagem, a ser usa- da para descrever os cuidados de enfermagem as populagoes, numa variedade de locais, de tal maneira que os cuidados de enfermagem pudessem ser com- parados em varias populagdes, lugares, éreas geogréficas e tempo. Este importante desenvolvimento recebeu, recentemente, impeto na Europa, uma vez que avaliadores e investigadores de programas de desenvolvimento da UE recomendaram a atribui¢ao de fundos para suportar a promocdo da CI- PE/ICNP na Europa como parte do projecto TELENURSE financiado pela mesma UE. O ICN permitiu, generosamente, que o consércio TELENURSE testasse no terreno uma versio alfa da CIPE/ICNP, Na TELENURSE a versiio alfa da CIPE/ICNP serd usada para reciclar os da- dos dos cuidados de enfermagem documentados nos registos electronicos dos clientes recuperando-os para investigaco e apresentacdo. Durante a fase de re- ciclagem a versio alfa da CIPE/ICNP ser avaliada por utilizadores finais, se- Jam eles enfermeiros clinicos, investigadores ou gestores de enfermagem, bem como pelos politicos, que é suposto serem os utilizadores finais das esta. tisticas sobre cuidados de enfermagem produzidas por reciclagem dos dados sobre cuidados clinicos de enfermagem. A Comissio financiou parcialmente duas conferéncias europeias para a pro- mogo da CIPE/ICNP. Os parceiros da TELENURSE demonstrarao a possibi- lidade de disponibilizar a CIPE/ICNP por meios electrénicos para fins de do- cumentagio, andlise e apresentacio. “De acordo com 0 ICN, a versao alfa da CIPE/ICNP é, por conseguinte, publi- cada com uma introdugao da TELENURSE para a audiéncia de enfermeiros europeus, responsdveis ¢ decisores dos Cuidados de Satide. Contudo, a versio alfa da CIPE/ICNP deverd ser, por si s6, um guia titil para a pritica clinica de enfermagem, facilitando ao mesmo tempo a investigacdo de enfermagem ¢ a comunicaco entre enfermeiros. Uma CIPE/ICNP fornecerd, por dltimo, um vocabulério ¢ uma matriz para descrever a enfermagem. Para maximizar e expandir a sua aplicabilidade, a CIPE/ICNP deve ser: - suficientemente abrangente para servir as miltiplas utilidades requeridas por diferentes paises - suficientemente simples para ser visualizada pelo simples praticante de en- fermagem, como uma descrigdo significativa da prética e um meio itil de a es- truturar - consistente com quadros conceptuais claros, mas no dependente de um qua- dro conceptual ou modelo particular de enfermagem - baseada num niicleo central, ao qual podem ser feitas adigdes através de um processo continuo de apuramento ¢ desenvolvimento ~ sensivel as variagSes culturais - 0 reflexo do sistema comum e universal de valores, tal como esto expressos no Cédigo de Enfermagem do ICN + utilizavel de forma complementar ou integrada com as classificagdes de doenga ou relacionadas com a satide desenvolvidas pela OMS das quais a prin- cipal é a ICD A presente versdo alfa seré, pela TELENURSE, disseminada e testada numa variedade ‘de instdncias clinicas na Europa e a utilidade e sensibilidade cultu- ral em espacos europeus serd sistematicamente avaliada. Como parte da TE- LENURSE, a versio alfa da CIPE/ICNP seré traduzida do Inglés para as se- guintes Iinguas: Islandés, Finlandés, Dinamarqués, Sueco, Flamengo/Holan- dés, Alemio, Francés, Portugués, Italiano, Grego e Esloveno. No fim do pro- jecto TELENURSE, em 1998, os melhoramentos e sugestGes feitas pelos en- fermeiros europeus serdo enviados ao ICN. Através do suporte do ICN e da Comisstio da UE € agora possivel aos enfer- meiros curopeus demonstrarem de que forma pode a CIPE/ICNP servir, quer 6 Prétogo como instrumento clinico local no registo electrénico dos cuidados aos clien- tes quer servindo ao mesmo tempo como esqueleto das futuras bases de dados da enfermagem nacional e europeia. Randi A. Mortensen Coordenadora da TELENURSE e Consultora do Projecto da CIPE/ICNP Preficio PREFACIO a Edigao Portuguesa A tradugdo para portugués da Classificagao Internacional para a Pratica de Enfermagem (CIPE/ICNP) é um documento de trabalho indispens4vel para a divulgacao no nosso pafs desta Classificagio, desenvolvida pelo Conselho Internacional dos Enfermeiros (CIE/ICN). A presente tradugo, feita por um grupo de enfermeiras portuguesas, inclui uma introdugao, elaborada pelos responsdveis do Projecto Europeu TELENURSE, que se reveste de grande utilidade no sentido de facilitar a compreensio da concepgao construgio do sistema. A CIPE/ICNP tem como objectivos estabelecer uma linguagem comum, descrever os cuidados de enfermagem, possibilitar a comparagao de dados, demonstrar tendéncias na prestagio de cuidados, estimular a investigagao e fornecer dados sobre a pritica de enfermagem. Trata-se, pois, de um instrumento necessério nao s6 aos enfermeiros da drea da prestaco directa de cuidados, como aos das Areas de gestio e da docéncia. 6 também importante no campo da tomada de decisées, podendo contribuir para a definigdo de politicas de enfermagem e de satide. A tradugo reporta-se & primeira verso, ou versio Alfa, da Classificagio, estando prevista para breve a publicacdo em inglés da versao Beta. E expectativa dos enfermeiros portugueses que o IGIF, como parceiro do Projecto Europeu TELENURSE, que tem em vista a disseminacio da CIPE/ICNP na Europa, reuna 0 consenso dos enfermeiros europeus em tomo desta Classificagio e proceda a criagio de registos electrénicos de enfermagem integrados em sistemas de informagdo de satide, promova a tradugio da nova versio, que resultou j4 do contributo de enfermeiros de muitos paises para a melhoria da CIPE/ICNP. Expresso 0 desejo que a Classificaco Internacional para a Pratica de Enfermagem possa contribuir para o desenvolvimento da enfermagem a nivel mundial e, muito particularmente, no nosso pa‘s, onde esta profissio se encontra em fase de franca evolugao, significativo fortalecimento e grande afirmagio. . ‘Teresa Quinto Pereira as (Enfermeira) Agradecimentos Ahist6ria do desenvolvimento da Classificagéio Internacional para a Pratica de Enfermagem (CIPE/ICNP), remonta ao encontro do Conselho de Representan- tes Nacionais realizado em Seul em 1989. Esta resolugo expressa a preocupa- gao com a incapacidade de nomear as condigdes de satide com que os enfer- meiros lidam bem como a descrig&o dos contributos especificos dos enfermei- ros nos cuidados de satide. O Colégio de Directores do ICN enviou a resolu- go para o Comité dos Servigos Profissionais (CSP) que, por sua vez, indicou Norma Lang ¢ June Clark e mais tarde Randi Mortensen como consultoras pa- ra trabalharem com a presidente do CSP Margretta Styles no desenvolvimen- to de uma CIPE/ICNP. Um artigo da autoria de June Clark e Norma Lang so- bre a situagao da ICNP/CIPE ¢ fases do projecto foi publicado na Internatio- nal Nursing Review. Como consequéncia I6gica do artigo foi realizada por Norma Lang, June Clark e Margretta Styles uma investigagao internacional no sentido de apurar da ne- cessidade de uma CIPE/ICNP e das classificagdes j4 existentes em uso na pra- tica clfnica de enfermagem. Os resultados deste estudo foram publicados pelo ICN na International Nursing Review. Os conceitos dos sistemas de classifica- gao existentes foram mais tarde compilados num documento de trabalho pu- blicado na Nursing’s Next Advance: An International Classification for Nur- sing Practice. Na continuagio do estudo internacional foi feita pesquisa biblio- gréfica e um resumo do projecto por Norma Lang e as conselheiras técnicas Margaret Murphy e Madeline Wake. Na continuagio do trabalho internacional, foi organizado um grupo constitui- do por Madeline Wake ¢ Amy Coenen com a missao especial de desenvolver um banco de dados de termos compreensivos, incluindo problemas/diagnésti- cos de enfermagem que servisse de fonte de referéncia para o desenvolvimen- to posterior da CIPE/ICNP (comissio de base de dados). Uma comissao posterior, constituida pela consultora Randi Mortensen e o con- sultor técnico Gunnar H. Nielsen desenharam um projecto com os principios arquitect6nicos para a construgao da classificagiio dos fenémenos de enferma- gem, ou seja, problemas/diagndsticos de enfermagem e intervencGes de enfer- magem (comissao de arquitectura). Foi delegada na comissao de arquitectura a responsabilidade de desenvolver Posteriormente a verséo alfa da CIPE/ICNP de acordo com 0s princfpios arqui- tecturais e explorando os termos recolhidos como fonte representativa dos principais sistemas conceptuais de enfermagem. ‘Agradecimentos As fontes de sistemas conceptuais so a condigdo sine qua non desta versio al- fa da emergente CIPE/ICNP. Merecem, pois, profundo reconhecimento. O ca- minho desde as fontes de sistema conceptuais ao sistema de conceitos desta versiio alfa da CIPE/ICNP esté indicado por meio da incluso de uma propos- ta de cruzamento de cartografias ou transcrigao de termos entre os sistemas. Desta forma, todos os sistemas recebem 0 reconhecimento que merecem, Os resultados dos trabalhos de construgdo levados a cabo pela comissao de ar- quitectura foram regularmente apresentados 20 grupo de consultoria para se- rem comentados e receberem sugestées de melhoria durante os encontros anuais de aconselhamento de Genebra. Durante esses encontros foram dados, pelas conselheiras Norma Lang e June Clark, peritas técnicas Madeline Wake Margaret Murphy ¢ Amy Coenen e conselheiros temporérios convidados pelo ICN, téo numerosos que ¢ impossivel menciona-los, valiosos contributos a0 processo de construgao. And last, but not least, o reconhecimento aos mem- bros de staff do ICN, em particular a Fadwa Affara. 10 Sumario Executivo A versio alfa da CIPE/ICNP publicada pela TELENURSE est dividida em trés partes: Parte I: Introdugao & CIPE/ICNP pela TELENURSE Parte II: A versio alfa da Classificagao Internacional para a Prética de Enfer- magem. Parte Ill: Proposta de cruzamento de taxonomias, De forma a dar visibilidade aos principios arquitecturais, foi escrita para esta publicagao uma introdugdo sistematica para a verso alfa da CIPE/ICNP. A in- trodugo sistematica foi escrita tendo em vista os construtores de classifica des que vém do campo da informatica para os cuidados de satide, mas tam- bém uma audiéncia de enfermeiros com interesses te6ricos em questdes de classificagio. Na parte II da publicago da versio alfa da Classificago Internacional para a Pratica de Enfermagem sao apresentadas as seguintes secgdes: Secgdo 1: Fenémenos de Enfermagem Secgio 2: Intervengées de Enfermagem Secgao 3: indice Remissivo Seccdo 4: Referéncias Tanto os Fenémenos de Enfermagem como as Intervengées de Enfermagem estio classificados, definidos ¢ descritos de acordo com os principios de divi- so. Os Fenémenos de Enfermagem esto subdivididos de acordo com o foco na pratica de enfermagem, As IntervengSes de Enfermagem esto subdivididas de acordo com tipos de acgaio da pritica de enfermagem, objectos da pratica de enfermagem, aborda- gens da prética de enfermagem, meios da pratica de enfermagem, topografia anatémica da pratica de enfermagem e tempo/espaco da prética de enferma- gem. Cada subdivisdo descreve um eixo da classificagdo. Correspondendo a cada eixo, as Intervencdes de Enfermagem sao classificadas, definidas e des- critas em relagio com os principios de divisio A parte final da publicagio da TELENURSE ¢ uma proposta de cruzamento das fontes de sistemas conceptuais e da CIPE/ICNP com a finalidade de reco- nhecer trabalhos anteriores de classificagdo em enfermagem. u PARTE I Introdugao da TELENURSE 4 CIPE/ICNP Por Gunnar H: Nielsen Research Manager and Fellow The Danish Institute for Health and Nursing Research 13 indice da Parte I 1. Introdugio Histérica... 2, Introdugiio Sistematica .. 2.1. Enquadramento Tedrico 2: 2. 2. By B 211 Classificagao .... 2.1.2. Princtpios de Di 2.13. Definigdes .. Fenémenos de Enfermagem. 2.2.1. O Termo de Topo .... Os Princtpios de Divisao Definigées... Intervengdes de Enfermagem... 2.3.1. 0 Termo de Topo 2.3.2. Os Prinetpios de Divisao. 2.3.2.1. Bixos A,B,C.D,E,F 2.3.3. Definigdes ; 2.3.3.1. Bixos A,B,C,D,E,F. : 23.4. Matric de Classificagdo ¢ Combinagées Multiaxiais.. 2.3.5. Classes e Classificagdes das Intervencées de Enfermagem Fenémenos de Enfermagem e Intervengdes de Enfermagem... 24.1. Relacées entre os Fendmenos e as Intervengdes de Enfermagem 2.4.2. Cédigos e Codificagées.. 2.4.3. Classes e Linguagem ao 3. TELENURSE 3.1. A Estrutura da Pratica de Enfermagem... 3.2. A CIPE/ICNP nos Registos Electronicos dos Cliente Bibliografia 1. Introdugio Histérica Na medicina, a historia da Classificagdio Estatistica Internacional das Doengas e Problemas de Satide Relacionados, emanadas da Organizacao Mundial de Satide, remonta ao século dezoito. Na Enfermagem, a hist6ria da Classificagao Internacional para a pratica de Enfermagem (CIPE/ICNP) remonta apenas a 1989, quando o Conselho Internacional de Enfermeiros (ICN) decidiu comple- mentar as classificagGes internacionais de diagndsticos médicos e procedimen- tos existentes com o desenvolvimento de uma classificagio dos proble- mas/diagnésticos de enfermagem, uma classificagdo das intervengoes de en- fermagem e uma classificago dos resultados esperados de enfermagem.! A iniciativa do ICN ni foi concebida como uma descrigao e classificagéo das tarefas do trabalho de enfermagem, no sentido estrito do termo, mas como um contributo para a existente familia das classificagGes relacionadrs com a sati- de que descrevem tanto 0 estado de satide dos clientes como as actividades subordinadas as categorias de grupos profissionais relevantes, ex., procedi- mentos médicos e cirtigicos. Como uma terceira dimensio foi visionado algo que incluisse na CIPE/ICNP indicadores sensiveis de resultados esperados de enfermagem. Idealmente a CIPE/ICNP deverd permitir medir a enfermagem nas trés dimen: ses seguintes: ~ a diversidade das populagoes de clientes de um ponto de vista de enferma- gem (problemas/diagndsticos de enfermagem) ~ a vatiabilidade dos padres das préticas (intervengées de enfermagem) ~ as variagdes dos resultados clinicos de enfermagem (resultados). Deve dizer-se que este tipo de informagio acerca da pritica de enfermagem transporta a profecia de um grande potencial para influenciar as politicas de satide, tornando a pratica de enfermagem mensurdvel de uma forma interna. cionalmente reconhecida. Anecessidade de uma CIPE/ICNP foi proposta, pela primeira vez, pelo ICN, ‘no Conselho Internacional de Representantes em Seul em 1989. A resolugio Pedia aos membros das associagdes de enfermagem para se envolverem na descrigao dos sistemas de classificagao para os euidados de enfermagem, sis. ‘emas de informagao de enfermagem e conjuntos de dados de enfermagem. Aresolugo foi encaminhada para o Colégio de Directores do Comité de Ser- vigos Profissionais (PSC). i { i i It Inrodugio da‘Telenurse & CIPEICNP Um grupo de consultores foi ent#o nomeado; inclu‘a as consultoras Norma Lang (USA) June Clark (GB) e Randdi Mortensen (DK), os conselheiros téo- nicos Margaret Murphy (USA), Madelina Wake (USA) ¢ Gunnar H: Nielson (DK).0 sétimo encontro de consultores teve lugar na sede do ICN em Gene- bra, de 19 a 23 de Fevereiro de 1996, O desenvolvimento de uma classificagiio pode ser descrito em trés etapas: y Colheita dos termos, agrupamento dos termos e finalmente hierarquizacgio dos termos em grupos estabelecidos. O produto final pode ser visualizado e descri- to como uma piramide de conceitos. O topo da piramide, ou seja, o termo de topo da classificagao € o conceito mais genérico. A base da pirdmide, ou seja os termos da classificagao do nfvel inferior, é constitufda pelos conceitos mais especificos. Um exemplo exterior & enfermagem pode ilustrar a ideia: Figura 1 Pirdmide de conceitos* De forma semelhante as trés maiores pirdimides do antigo Egipto, perto do Cai- 10, a CIPE/ICNP esté concebida para ser um arranjo entre trés pirdmides de conceitos: uma piramide descreve os fenémenos de enfermagem, ou seja, pro- blemas/diagnésticos de enfermagem, de forma suplementar a classificagées existentes, por ex., de doencas, desvantagens, deficiéncias e incapacidades, outra piramide descreve as intervengdes de enfermagem suplementares, por exemplo, a intervengées médicas e cirirgicas e, finalmente, uma terceira pird- mide, desoreve os resultados esperados das acgdes de enfermagem. Construir piramides é uma tarefa imensa. Como primeira etapa, foi realizado pelo ICN e seus consultores, um egtudo internacional com o objectivo de iden- tificar posstveis classificagdes de enfermagem existentes e relacionadas com a satide. Os termos destas classificagdes podem ser encarados como os blocos construtores das trés pirfmides da CIPE/ICNP. 18 Introdugio Histrica Numa segunda etapa, a consultora Randi Mortensen ¢ o conselheiro técnico Gunnar H. Nielsen levaram a cabo a tarefa de desenvolver uma arquitectura, tanto para os fenémenos de enfermagem, como para as intervengGes ou activi- dades de enfermagem. Esta arquitectura foi apresentada no sexto encontro de consultores, realizado em Genebra, em Junho de 1995. A terceira pirdmide de resultados esperados de enfermagem carece ainda de uma arquitectura (Junho de 1996), : Paralelamente ao trabalho técnico, a ideia da CIPE/ICNP e sua justificagio, fo- ram sendo apresentadas a enfermeiros em todo o mundo de forma a iniciar-se um processo consensual. Encontros de auscultagao foram levados a cabo pelo ICN em colaboragao com as organizagdes nacionais de enfermeiros do Méxi- co (1993), Africa (1994) e Taiwan (1995) com envolvimento das regides Nor- tee Sul Americanas, Africa e Sudeste Asiatico. Na Europa o programa de investigacao ¢ desenvolvimento da Unido Europeia financiaré parcialmente dois encontros para promover a ideia da CIPE/ICNP como parte de um projecto chamado TELENURSE conduzido e orientado pe- la consultora do ICN Randi Mortensen? ATELENURSE representa uma oportunidade tinica para envolver a regitio eu- ropeia no desenvolvimento da CIPE/ICNP, 0 que traduz 0 2° objectivo do seu projecto: conseguir o reconhecimento pelas comunidades nacionais e interna- cionais de enfermeiros.* O que suporta a histéria particular da TELENURSE € 0 facto de que a enfer- magem se tornou parte da sociedade da informagao e, assim, os enfermeiros devem contribuir para o estabelecimento de uma infra-estrutura europeia para a informaco em satide, através de um envolvimento activo no desenvolvimen- to de aplicagdes tcleméticas necessérias & recolha de dados de enfermagem, produzidos pela mensuragao da pratica de enfermagem, usando classificagoes € outros meios. Estas so as razdes que esto por traz de dois projectos iniciados pelo Institu- to Dinamarqués para a Satide e Investigacaio em Enfermagem, parcialmente fi- nanciados pelos programas de investigacao ¢ desenvolvimento da Unido Eu- ropeia para a Telemética nos Cuidados de Satide: TELENURSING (1992- 1994)' ¢ TELENURSE (1996-1998). Os dois projectos t&m como preocupa- do a promogo do desenvolvimento das aplicagdes da telemética & enferma- gem, desenhadas para registar e organizar os dados clinicos, descrever a prati- ca clinica de enfermagem, tal como é vista pela profissiio de enfermagem. Para sedimentar o desenvolvimento de sistemas de informagdo orientados pa- 9 ‘ntrodagto da'Tetenurse & CIPE/ICNP rao cliente e para a prética de enfermagem pelo processo de enfermagem, ou seja, realidades clinicas tal com sio vistas pela profissiio de enfermagem, o Instituto Dinamarqués para a Satide e a Investigagio em Enfermagem (DIHINR), formou em 1991 um consércio para a aplicagso de fundos do pro- grama da Comunidade Europeia: Advanced Informatics in Medicine. Titulo do projecto: ID-ENTITY: (sigla constitufda pelas maitisculas de Informatics and Diagnosis - Europeean Nursing Terminology as a basis for Information Te- chnologY, cuja tradugao é: Informatica e Diagnéstico - Terminologia Europeia de Enfermagem como base para a Tecnologia de Informagao. N.T,) (1991). Fez-se votos de que a ID-ENTITY pudesse ser o inicio de uma base computa- dorizada de investigagao clfnica na Europa como sucedaneo do “papel ¢ lapis” utilizado no projecto People’s Needs for Nursing Care, da responsabilidade da OMS/EURO. ¢ A finalidade da ID-ENTITY acabou por se perder, apesar de a Comissio Eu- ropeia ter langado uma Acco Concertada para a Enfermagem e ter convidado delegados para um Workshop Preparatério que se realizou em Bruxelas em Ju- nho de 1992, Dois delegados de Itélia, Espanha, Franga, Irlanda, Reino Unido, Portugal, Dinamarca, Bélgica, Grécia ¢ um delegado da Holanda apresentaram sugestdes em matéria de enfermagem, Randi Mortensen, directora da DIHNR, foi eleita lider da acco. Conseguiu-se um acordo em torno de um plano provisério com o seguinte tf- tulo: Accéio concertada em Telemética em Enfermagem: Classificagao Euro- peia para a Prética de Enfermagem, tendo em vista os Problemas do Cliente, Intervengdes de Enfermagem e Resultados nos Clientes, incluindo Medidas Educativas.” Esta acgio concertada foi, mais tarde, apelidada pela Comisso com 0 nome mais pratico e curto de TELENURSING, tendo correspondido o primeiro titu- Jo a uma tentativa inicial de difundir o trabalho do ICN a uma audiéncia de en- fermeiros europeus. A TELENURSING estava centrada nos problemas/diagnésticos de enferma- gem, intervéngdes ¢ resultados, uma vez que estas etapas do processo de en- fermagem.estavam incorporadas no desenvolvimento da CIPE/ICNP iniciado pelo ICN ¢ porque o desenvolvimento europeu de sistemas de informacao clf- nica e bases de dados em enfermagem deveria ser construfdo a volta dos trés eixos da CIPE/ICNP, de forma a permitir a comparagiio de dados essenciais de cuidados de enfermagem a nfvel europeu. Enfermeiros pertencentes nfo apenas a paises da UE, mas também da Suécia, 20 Introdugio Histrica Finlandia, Noruega e Eslovénia demonstraram através da TELENURSING um interesse activo no desenvolvimento de sistemas de informagio adequados e con- juntos de dados basicos que contivessem elementos essenciais e compardveis de cuidados de enfermagem a nivel europeu, de forma a responder as necessidades das populagdes em cuidados de enfermagem na Europa unificada do futuro. ® A TELENURSING acabou em Dezembro de 1994, mas ao mesmo tempo ti- nha inicio a TELENURSE. A 15 de Margo de 1995, o DIHNR tomou em mos um novo projecto que foi proposto ao programa de investigagio e desenvolvi- mento da Unido Europeia para as Aplicagdes da Telemtica 20s Cuidados de Satide, sob a responsabilidade do consércio TELENURSE, ° O cofisércio TELENURSE ¢ coordenado pelo DIHNR e inclui participantes activos de 14 paises europeus que representam investigadores, prestadores e utilizadores-finais de tecnologias de informagao interessados em médulos de enfermagem de registos electr6nicos dos clientes, ATELENURSE era um de entre 70 projectos de que resultaram aproximada- mente 1.300 propostas que foram seleccionadas para serem consolidadas pe- los cerca de 400 avaliadores independentes da UE. O que aconteceu durante a avaliagao das propostas dos projectos foi o facto politicamente significativo de os avaliadores, quase inesperadamente, terem tecomendado que a TELENURSE se deveria centrar na promogao do consen- 80 acerca do uso da CIPE/ICNP na Europa. Foi a partir desta recomendag&o que o oficial da Comissiio requereu ao con- sorcio TELENURSE que reservasse fundos para as duas principais conferén- cias europeias de consenso. Uma a ser realizada na Grécia em 1996, outra a ser realizada em Portugal em 1998. Estes encontros serdo abertos a todos os en- fermeiros interessados numa linguagem profissional comum. Para além dos eventos a nivel europeu, a Comissao requereu também que fos- sem organizadas actividades nacionais de projecgao. Foi assim, solicitado aos Parceiros do conséreio TELENURSE que traduzissem a versio alfa da CIPE/ICNP para as respectivas linguas, nomeadamente, Dinamarqués, Fla- mengo / Holandés, Finlandés, Francés (Sufgo), Portugués, Grego, Islandés e Italiano, bem como para organizarem encontros para promogdo da ideia da CIPE/ICNP como classificagao comum a ser usada na Europa. Os parceiros da Alemanha, Suécia e Eslovénia aderiram também ao esforgo de tradugao. A introduedo sistematica & versdo alfa da CIPE/ICNP que se segue, faz parte deste esforgo europeu, ou seja, é uma introdugdo da TELENURSE & CIPE/ICNP. an 2. Introducao Sistematica 2.1. Enquadramento Te6rico Indmeras ciéncias se debatem com problemas de classificagao, ex., a biologia (a taxonomia botdnica e zool6gica) a medicina (nosologia), a matemética (teo- ria dos conjuntos), a ciéncia bibliotecaria (construg&o de thesaurus), ¢ a infor- miatica. Esta pluralidade de abordagens teéricas pode criar problemas de co- munica¢do entre as diferentes tradigGes de investigagao. Uma (meta) linguagem comum pode, contudo, ser encontrada reportando as definigGes e classificagdes a sua origem na légica e na filosofia. Esta é a estra- tégia que tem sido seguida na Europa por projectos de estandardizagao da in- formética em cuidados de satide em ordem a melhorar a comunicagiio acerca de questdes de definigao e classificagaio,"™'""? Teorias sobre definigao e classificagao, tal como sto descritas na filosofia e utilizadas na estandardizacao da informatica em cuidados de satide, foram se- leccionadas como enquadramento tedrico comum para as discussdes sobre lin guagem ¢ classificagio relativamente & CIPEICNP, uma vez que estas técni- cas e métodos sto usados e validados por corpos estandardizados dentro da in- formatica em cuidados de satide, emergentes ou jé existentes. Embora aplicadas & informética e ao trabalho de estandardizagao da informé- tica em cuidados de satide, deve ter-se em mente que as teorias sobre defini- gio e classificagdo, tal como so descritas na filosofia, podem, em simultaneo, servir de enquadramento teérico comum a uma quantidade heterogénea de tra- balhos tradicionais no campo da definigao e classificaco.""* Os conceitos-chave gerais do enquadramento tedrico que se seguem, serio sublinhados no sentido de clarificar os princfpios arquitect6nicos que est4o por trds das classificagdes. Esperamos também elucidar o uso de piramides como metafora para as classificagoes. 2.11. Classificagao De acordo com 0 enquadramento te6rico seleccionado “uma classificagao é um sistema de conceitos” *” ou um “um grupo de termos interrelacionados”"* ligados por relagdes genéricas. A énfase no “sistema de conceitos” é diferente da énfase em “um grupo de ter- mos interrelacionados”’: os conceitos sao assumidos como entidades abstractas no linguisticas que siio expressas ou representadas por termos linguisticos. O significado da diferenca entre conceitos e termos seré sublinhada na secgaio das definigdes, mas para todos 0s fins prdticos ignoraremos ao longo desta in- trodugo a distingao entre conceitos e termos, aceitando-se uma oscilago en- 23 ‘Introduglo da Telenurse a CIPEACNP tre falar acerca de conceitos ou falar acerca de termos. As relagdes genéricas so relages entre conceitos abrangentes e estritos, ou seja, entre 0 que se designa por género e suas espécies. Quer dizer, é uma re- Jago entre um conceito mais abrangente ou geral (0 género), num nivel de abstracgao mais elevado ¢ um conceito especffico ou mais estrito (a espécie), num nivel inferior de abstracgdo. As relagdes genéricas entre conceitos exis tem, quando os conceitos subordinados, ou seja, os de nivel inferior, tém todas as caracterfsticas dos conceitos supra-ordenados, isto &, conceitos do nfvel su- perior, com pelo menos uma caracteristica diferenciadora. A ideia de um sistema de conceitos classificado de acordo com relagbes gené- ricas pode ser ilustrada pelo seguinte conjunto de conceitos relacionados com © fendmeno de enfermagem da Respiragao: 1,1.1.1.1, FungGes fisiolégicas Processos especiais, normais ou adequados (nao intencionais) de qualquer par- te da manutengio ou melhoria corporal da vida do individuo (optimizagao). 1.1.L.L.L1. Respiracio Trocas corporais de oxigénio e diéxido de carbono através do aparelho respi- ratério. 1.1.1.1.1.1.1. Ventilagao 7 Inspiragao e expiragao mecdnica do ar. 1.1.1.1.1.1.1.1. Dispneia Respirar com desconforto e esforgo crescente, falta de ar, adejo nasal, altera- ges na profundidade respiratéria, uso dos misculos acess6rios, alteragao da excursfo torécica e frémito. 1,1,1,1.1.1.1.1.1, Dispneia funcional Respirar com desconforto e esforgo crescente, relacionado com actividade fi- sica ou associado a um estado de ansiedade. 1.1.1,1.1.1:1.1.2. Ortopneia Respirar com desconforto e esforgo crescente, quando em repouso ou deitado. Este exemplo ilustra a ideia de relagdes genéricas, como sendo relagdes entre um conceito mais abrangente ou geral (0 género), num nivel de abstracgao mais elevado, a Ventilacio e um conceito especifico ou mais estrito (a espé- cic), num nivel inferior de abstraccao, a Dispneia. Os conceitos de, por ex., Dispneia Funcional ¢ Ortopneia, esto localizados 24 Introduglo Sistemstica ~ Enquadramento Teérico dentro do conceito mais abrangente mais préximo (0 género), isto é, Dis- pneia e € a indicagao de alguns dados caracteristicos (a diferenga ou carac- teristica especifica) que distingue os conceitos de outros conceitos do mes- mo nivel de abstraccdo e localizados também dentro do mesmo conceito mais abrangente. Esté implicitamente assumido que as caracteristicas que pertencem aos concei- tos mais abrangentes de nivel mais elevado de generalidade (0 género) sto ine- rentes aos conceitos de um nivel inferior de generalidade (a espécie). Uma des- crigdo de um conceito requer que sejam somadas todas as caracteristicas rele- vantes dos niveis superiotes de abstracg%io como se pode ver a partir do soma- t6rio de caracterfsticas do foco de enfermagem Ortopneia: 1.1.1.1.1.1.1.1.2. Ortopneia - Respirar com desconforto e esforgo crescente, quando em repouso ou deita- do. ~ Respirar com desconforto ¢ esforgo crescente, falta de ar, adejo nasal, altera- g6es na profundidade respirat6ria, uso dos muisculos acessérios, alteragzio da excursao tordcica e frémito. - Inspiragio e expiragdo mecdnica do ar. - Trocas corporais de oxigénio e diéxido de carbono através do aparelho res- piratério. - Processos especiais, normais ou adequados (no intencionais) de qualquer parte da manutencao ou melhoria corporal da vida do individuo (optimizagao). Ete, A ideia de um sistema de conceitos classificado de acordo com relagdes gené- ticas pode também ser ilustrada pelo seguinte conjunto de conceitos relaciona- dos com Limpar como um tipo de acgao de enfermagem: 2.3. Executar Desempenhar uma tarefa técnica. 2.3.1. Limpar Remover a sujidade ou agentes infecciosos. 2.3.1.1, Lavar Fazer com que algo fique limpo com agua ou outro Iiquido e um agente de lim- peza. 25 Introdugdo da Tetenurse 8 CIPE/ICNP 2,3.1.1.1. Enxaguar Lavar levemente com 4gua limpa ou outro liquido no sentido de remover subs- tancias indesejadas. 23.1.L2, Irrigar Lavar alguma coisa com um fluxo de Iiquido constante. 2.3.1.1.3, Irrigar sob pressiio } Lavar ou limpar com um fluxo de Agua com pressio. RelagGes genéricas so relagdes entre conceitos mais abrangentes ou gerais (0 género) num nivel mais elevado de abstraccdo, por ex., Lavar e 0 conceito mais estrito ou especifico (a espécie) num nfvel inferior de abstraccfio, por ex.,Enxaguar, Irrigar; ¢ Inrigar sob Pressdo. Os conceitos Enxaguar, Irrigar; ¢ Inrigar sob Pressio esto localizados dentro do conceito mais abrangente mais proximo (0 género, isto é Lavar e alguns dados caracteristicos (a diferenga ou caracteristicas especificas) sfo indicadas para distinguir os conceitos Enxa- guar, Irrigar; e Inrigar sob Presso, uns dos outros. Uma subdivisaio do conceito divide-o em dois ou mais compartimentos distin- tos como pode ser visto nas anteriores divis6es de Dispneia e Lavar. Quando as relagées entre conceitos sio marcadas por uma linha, a figura resultante as- sume 0 aspecto de uma pirdmide tal como se pode ver na figura seguinte: Figura 2 Classificagaes sto Pirdmides de Conceitos Na l6gica e na filosofia da ciéncia, o termo “pirfmide conceptual” tomou-se sinénimo do termo “classificagio”.” O logotipo da TELENURSE pretende simbolizar as trés piramides conceptuais da CIPE/ICNP: Fenémenos de Enfer- magem, Intervengdes de Enfermagem e Resultados, fazendo ainda alusio & quantidade de trabalho necessrio & construgio de classificagdes ou piramides conceptuais. 2.1.2. Principios de Divisao Uma classificagaio é uma série conexa de subdivisdes de conceitos. Numa classificagao bem construida, os conceitos devem ser divididos ou frac- cionados em dois ou mais compartimentos, de acordo com princfpios defini- 26 Introdugéo Sistemética ~ Enquadramento TeStico dos e 0 fundamentum divisionis ou 0 tipo de caracteristicas usadas para subdi- vidir o conceito mais abrangente deve ser clara e explicitamente enunciado. Como exemplo do tipo de caracteristicas ou princfpios de divisio usados para subdividir 0 conceito mais abrangente Arquitectura em conceitos mais estritos, explicitamente indicados entre par€ntesis: (por estilos): Barroco, Gético, Ro- manico, (por paises): Americana, Francesa, Alemi e (por aplicacdes): Habita~ cional, Sacra e Naval. * As regras seguintes * devem ser idealmente seguidas em cada uma das fases da divisio: - 0 fundamento de divistio deve ser claro e sem ambiguidades - A divisdo deve ser exaustiva - A divisio deve ser exclusiva - Sempre que possfvel, os compartimentos de cada diviséio devem ser de anéis ou nfveis comparaveis de abstracgao - Deve haver um fundamento de divisao tinico e uniforme Sempre que possfvel, esta versio alfa (Ieia-se, primeira versio) da CIPE/ICNP inclui uma indicagao dos tipos de caracteristicas ou prinefpios de diviséio usa- dos em cada subdivisio. Pretende-se, assim, tornar mais transparente a justifi- cago que preside as subdivisdes em ordem a tornar mais fécil a manutengao da classificagaio. As modificagdes futuras terdio de ser justificadas em termos das razdes que sustentam as classes da CIPE/ICNP. O procedimento seguido pode ser descrito como se segue: primeiro, é selec- cionado um tipo relevante de caracteristicas. Segundo, sio mencionados exemplos especfficos de tipos relevantes de caracteristicas, terceiro, so cons- trufdas subdivisdes relevantes. Este procedimento em trés etapas pode ser ilus- trado pela subdivisdo do conceito de enfermagem, Dispneia. Primeiro, o Nivel de Actividade é seleccionado como 0 tipo de caracteristicas relevantes a ser usado como critério para o estabelecimento de uma subdivistio do conceito ou do termo Dispneia. Segundo, séo listadas as caracteristicas especificas ou exemplos do Nivel de Actividade: Alto, Baixo. Terceiro, so construidas subdivisdes relevantes a partir dos exemplos do tipo de caracteristicas seleccionadas: Dispneia Funcional, Ortopneia. A Dispneia pode ser subdividida por meio do tipo de caracterfsticas relaciona- das com o nivel de actividade do cliente como é indicado pela diferenca entre a dispneia relacionada com a actividade fisica e a dispneia que se manifesta 27 Introdugio da Talenurse & CIPEICNP mesmo quando deitado. Estes factos so expressos nas definigdes jé mencio- nadas: 1,1.1.1.1.1.1.L.1. Dispneia funcional Dispneia Funcional é uma Dispneia com as seguintes caracteristicas especifi- cas: respirar com desconforto e esforgo crescente, relacionado com actividade fisica ou associado a um estado de ansiedade. 1.1,1.1.L.1.1.1.2. Ortopneia Ortopneia é uma Dispneia com as seguintes caracteristicas especificas: respi- rar com desconforto e esforgo crescente, quando em repouso ou deitado. Deve admitir-se que esta versio alfa da CIPE/ICNP esté longe de ser 0 ideal de um sistema conceptual coerente ¢ transparente baseado em definigSes com- pletas ¢ princfpios claros de divisdo em todos os estédios e niveis de abstrac- gio, o que € claramente visivel pelo facto de nao haver justificagdes Sbvias pa- ra miiltiplas subdivisdes. No que diz respeito aos fenémenos de enfermagem muitas destas subdivisdes sio assumidas como sendo baseadas na tradigtio de organizagtio de conceitos da prética de enfermagem. O uso do rétulo “tradigio” pretende exprimir o fac- to de que esta versio alfa da CIPE/ICNP foi construida através de blocos jé existentes que foram adaptados & arquitectura da piramide de conceitos. No que diz respeito as intervengdes de enfermagem o termo “tradigao” foi substituido por “pragmético” de forma a tornar visfveis as decisdes dos actuais construtores da classificagaio, uma vez que as tradig&es de enfermagem na or- ganizagio de conceitos que se refiram a tipos de acgo em grande escala, nao existem, Uma classificagao pode ser construfda com divisées individuais perfeitas e, contudo, ser imperfeita como um todo. As divisées de uma classificagao de- vem ser justificdveis em cada etapa em termos de uma sé finalidade organiza- dora na classificagfo como um todo. Esta regra traduz-se na necessidade de um tinico tipo de caracteristicas no topo da classificagéio que governa a classi- ficagdo como um todo. Cada tipo de caracteristicas de cada estddio da classi- ficag&o deve emanar do tipo de caracterfsticas usadas para subdividir o termo de topo da mesma classificagao. No que diz re3peito aos fenémenos de enfermagem o foco na pritica de enfer- magem tem sido seleccionado como o fundamento de divisio que superinten- de ¢ a partir do qual todos os outros tipos de caracterfsticas devem emanar quando se classificam fenémenos de enfermagem. Por outras palavras, o tipo de caracterfsticas forma em si préprio uma hierarquia de relagdes genéricas en- tre 0 tipo de caracterfsticas de raiz ou de topo da classificacao e o tipo de ca- 28 Introdagio Sistemética ~ Enquadramento Tetrico racter(sticas escolhidas para os nfveis inferiores. O tipo de caracterfsticas: Nf- vel de Actividade seleccionada para dividir Dispneia é em si mesmo um exem- plo do foco na pritica de enfermagem, i.e., 0 tipo de caracteristicas escolhido para subdividir 0 conceito de topo Fenémenos de Enfermagem. © ponto de partida quando se selecciona 0 fundamento da diviséo que regula o conjunto das subdivisGes das intervengdes de enfermagem é ainda a pritica de enfermagem. Os tipos de acgfo da pritica de enfermagem, os objectos da prética de enfermagem, as abordagens a prética de enfermagem, os meios da pritica de enfermagem, os locais do corpo com que a prética de enfermagem lida, as indicagdes de tempo/espago da pritica de enfermagem foram todos se- leccionados como fundamento das divisdes que regulam o conjunto e a partir dos quais deve emanar outro tipo de caracteristicas quando se subdivide o con- ceito de topo das intervengdes de enfermagem. A finalidade de uma classificago reflecte-se na selecgao do tipo de caracteris- ticas usadas para subdividir 0 termo de topo da classificacdo. Diferentes fina- lidades implicam a selecgao de diferentes tipos de caracteristicas para a subdi- visio do termo de topo. Em sentido estrito parece que mtiltiplas finalidades nao podem ser reconciliadas com uma classificagiio por meio de tipos tinicos de caracteristicas ou fundamentos de divisio. Permitir que a prética de enfermagem crie uma coes%o conceptual por entre as. diferentes piramides nao s6 esta de acordo com a ideia geral de uma classifi- cago para a prética de enfermagem, como permite, esperamos, que a CIPE/ICNP seja suficientemente abrangente, no sentido de flexibilidade, para servir as miltiplas finalidades exigidas por diferentes pafses, como é exigido pelos critérios para uma CIPE/ICNP. 2.1.3. Definigdes As classificagGes dos fenémenos de enfermagem e das intervengoes de enfer- magem servem de guia as exactas definigdes de conceitos, porque uma clas: ficago por relagdes genéricas entre conceitos é titil no fornecimento de defi- nig6es por género e espécie. As relagGes genéricas entre conceitos sao descritas recorrendo de forma sisté mitica & metodologia da definigdo por género e diferenga. O método de defi- niggo por género e diferenga consiste num procedimento em duas etapas: Os conceitos a definir sao localizados dentro do conceito mais abrangente mais préximo (0 género) e alguns tragos caracteristicos (as diferengas ou ca- racteristicas especificas) sio indicados para distinguir 0 conceito de outros conceitos do mesmo nfvel de abstracgfio e também localizados dentro do mes- mo conceito mais abrangente. 29 Tntrodusio da Telonarse & CIPE/ICNP Todos os fenémenos de enfermagem e intervengdes de enfermagem inclufdos na versio alfa da CIPE/ICNP sao definidos de acordo com o método do géne- ro e das diferengas ou caracterfsticas especificas. A ideia de conceitos que so definidos de acordo com relacdes genéricas pode ser ilustrada pelo conjunto de conceitos que se seguem e que se relacionam com o fenémeno de enfermagem Respirago, onde as definigdes so agora ex- plicitas: 1.1.1.1.1. FungGes fisiolégicas ‘As Fungées Fisiolégicas so Fungdes com as seguintes caracteristicas especifi- cas: processos especiais, normais ou adequados (no intencionais) de qualquer parte da manutengdo ou melhoria corporal da vida do individuo (optimizagio). 1.1.1.1.1.1. Respiracio A respiragao € uma Fungo Fisiolégica com as seguintes caracteristicas espe- cfficas: Trocas corporais de oxigénio e diéxido de carbono através do aparelho respiratorio. 1.1,1.1.1.1.1. Ventilagio A ventilagao € uma Respiracio com as seguintes caracteristicas especificas: Inspiragdo e expirago mecdnica do ar. LAL. 1.1. Dispneia : A dispneia é uma Ventilaco com as seguintes caracterfsticas especificas: res- pirar com desconforto e esforgo crescente, falta de ar, adejo nasal, alteragdes na profundidade respiratéria, uso dos misculos acess6rios, alteracio da excur- sfio torcica e frémito. 11.1,1.1.1.1.1.1. Dispneia funcional Dispneia Funcional é uma Dispneia com as seguintes caracteristicas especifi- cas; respirar com desconforto e esforgo crescente, relacionado com actividade fisica ou associado a um estado de ansiedade. 1.1.14,1.1.1.1.2. Ortopneia Ortopnéia é uma Dispneia com as seguintes caracteristicas especificas: respi- rar com desconforto e esforgo crescente, quando em repouso ou deitado. 1.1.1.1.1.1.1.2. Limpeza das vias aéreas Limpeza das vias aéreas é um Fenémeno de Enfermagem que pertence a Ventila- do com as seguintes caracteristicas especificas: capacidade de limpar a via aérea. Este exemplo ilustra de que forma o método de definigio por género e diferen- ga consiste num procedimento em duas etapas: os conceitos a definir, por ex., 30 Introdugio Sistema ~ Enquadramento Te6rico Dispneia Funcional e Ortopneia, estdo localizados dentro do conceito mais abrangente (0 género) Dispneia ¢ alguns tragos caracteristicos (as diferengas ou caracteristicas especificas) sfo indicados para distinguir os conceitos de ou- tros conceitos no mesmo nivel de abstracgdo e também localizados dentro do mesmo conceito mais abrangente. O método de definigao por género e diferenca pode também ser ilustrado pelo seguinte conjunto de conceitos relacionaclos com Limpar como um tipo de ac- gio de enfermagem: 2.3. Executar ‘Executar ¢ uma forma de Intervengiio de Enfermagem que se caracteriza espe- cificamente por: desempenhar uma tarefa técnica. 2.3.1. Limpar Limpar é uma forma de Executar que se caracteriza especificamente por: re- mover a sujidade ou agentes infecciosos. 2.3.1.1. Lavar Lavar é uma forma de Limpar que se caracteriza especificamente por: fazer com que algo fique impo com gua ou outro Jiquido ¢ um agente de limpeza. 23.1.1.1. Enxaguar Enxaguar é uma forma de Lavar que se caracteriza especificamente por: lavar levemente com 4gua limpa ou outro liquido no sentido de remover substincias indesejadas. 2.3.1.1.2. Irrigar Inrigar é uma forma de Lavar que se caracteriza especificamente por: lavar al- guma coisa com um fluxo de Ifquido constante. 2.3.1.1.3, Inrigar sob pressiio Intigar sob pressdo é uma forma de Lavar que se caracteriza especificamente por: lavar ou limpar com um fluxo de 4gua com pressao. De novo, os conceitos a definir, ou seja, Enxaguar, Irrigar e Irrigar sob Pres- sio, so localizados dentro do conceito mais abrangente (0 género) isto é, La- var e alguns tragos caracteristicos (a diferenga ou caracteristicas espectficas) séo indicadas para distinguir os conceitos Enxaguar, Irrigar e Irrigar sob Pres- s&o uns dos outros. A utilizagdo sistemdtica do método das definigdes por género e espécie para todos os conceitos desta versio alfa da CIPE/ICNP marca uma notével dife- renga das outras classificagdes de enfermagem existentes.* Num certo sentido, as classificagdes existentes so atomisticas, uma vez que os conceitos nao es- 31 Jntrodugfo da Telenurse & CIPEVICNP tdo sistematicamente interrelacionados, nem so sistematicamente definidos. As definigées disparam em todas as direcgdes. Esta versio alfa da CIPE/ICNP foi, em vez disso, intencionalmente concebida como um sistema holistico de conceitos sistematicamente interrelacionados e definidos em termos uns dos outros, Contudo, a pretendida natureza da definigao de conceitos fornecida pela classi- ficagdo dos fendmenos ¢ intervengdes de enfermagem nécessita de clarificagéo. Em ordem a clarificar a pretendida natureza das definigdes fornecidas pelas classificagdes dos fendmenos e intervengoes de enfermagem nesta versio alfa, é conveniente distinguir diferentes aspectos da linguagem. O tridngulo que se segue” sumaria os elementos bésicos do enquadramento tedrico no que diz respeito & linguagem e conceitos: Figura 3 Aspectos de Linguagem Conceitos (Intengdes) Linguagem Realidade (Termos) (Extensio) Os elementos basicos do enquadramento tedrico podem ser clarificados por meio de descrigdes dos componentes ¢ relagbes deste tridingulo da linguagem, conceitos e o mundo. 1A Linguagem e o Real Por entre. os muitos tipos de expressdes linguisticas nés, obviamente, preten- demos concentrar-nos nos termos gerais, porque 0 ambito dos termos gerais sio classes de coisas individuais, Os termos gerais podem ser aplicados a qual- quer membro‘singular de classes de coisas individuais ¢ as afirmagGes resul- tantes podem ser verdadeiras ou falsas. Tanto os fenémenos de enfermagem como as intervengées de enfermagem podem ser descritos por termos gerais: Il. Linguagem e Conceitos Conceitos sfio exemplos do conceito de intengdo mas mais abrangente, (escri- 32 Introdugto Sistemética ~ Enquadramento Te6tico to no plural de forma a sublinhar a utilizagao técnica do termo). Intengdes so entidades semanticas, ndo linguisticas, que supostamente explicaréo a nossa compreensdo da linguagem. As intengdes so 0 que se supde ser constante quando se traduz de uma lingua para outra ou de uma terminologia para outra. Esté fora do Ambito desta introdugio ir mais longe no que diz respeito a inten- Ges ou significados. B suficiente para os nossos propésitos dizer que os ter- mos gerais exprimem ou representam conceitos gerais. Cada conceito desta versio alfa estd rotulado por um termo geral ou frase terminolégica que expri- me quer um fendmeno de enfermagem quer uma intervengdo de enfermagem. Tanto a classificagiio dos fendmenos que as enfermeira/os diagnosticam como a classificaco das intervenc6es de enfermagem podem, do ponto de vista da linguagem, ser descritas como sistemas de conceitos gerais expressos ou repre- sentados por meio de termos gerais. Il. Conceitos, Linguagem e o Real As “coisas” individuais para as quais os termos sfio verdadeiros diz-se também cafrem sob a algada dos conceitos gerais. Os exemplos individuais de fenéme- nos de enfermagem e de intervengdes de enfermagem podem, assim, dizer-se que caiem na algada dos conceitos gerais dos fenémenos de enfermagem e in- tervengdes de enfermagem respectivamente. Numa perspectiva de linguagem ‘os termos gerais dizem-se verdadeiros ou falsos face a instancias individuais de fenémenos e intervenges de enfermagem. Passemos agora do enquadramento tedrico da linguagem, conceitos e o real para o enquadramento tesrico basico mais intimamente relacionado com a teo- tia da definigao e classificagao. Usarei os componentes do triangulo para in- toduzir diferentes tipos de definigdes,* como se pode ver na figura seguinte: 33 IntrodusHo da Telenurse & CIPEACCNP Figura 4 Tipos de Definigées Conceitos (Intengdes) Definiges intencionais dos termos Definigoes reais Linguagem ————> __Reallidade (termos) Definigdes (extensiio) extensivas dos termos Quando as teorias de definigao e classificagao sao descritas em termos de es- tandardizagio na informatica para os cuidados de satide pode discernir-se uma certa preferéncia por falar em conceitos em vez de falar em linguagem.* En- quanto que a diferenga entre falar acerca de conceitos e linguagem pode ser dispensada para finalidades praticas, a diferenga entre falar de conceitos (in- tengdes) e falar acerca do real (extensdo) nao pode ser dispensada sem levar & confuso no que diz respeito ao valor da informagio das definigdes fornecidas. valor da informagao dos diferentes tipos de definigGes listadas no triangulo acima pode agora ser indicada, Percorramos as definiges uma a uma: 1. Definigéo Extensiva dos Termos As definigdes extensivas so explicagdes sobre a forma como os termos devem ser usados oferecendo expresses que descrevem os individuos a quem se aplicam’* valor da informagdo das definigdes extensivas é igual & validade da infor- magio, das descrigdes empiricas dos fenémenos, que se tornam falsas ou ver- dadeira’, pelo embate com o real. Em vez de falar de definigGes extensivas € mais adequado falar acerca de descrigdes factuais tornadas falsas ou verdadei- ras pelo embate com o real. IL. Definigdes Intencionais dos termos As definigdes intencionais dos termgs sio explicagdes dos significados dos termos por expressdes sindnimas definindo a forma como o termo é ou deve ser usado.” O valor da informaciio das definig6es intencionais ¢ igual ao valor da informaciio que deriva do significado das palavras. 34 IntrodugSo Sistemética - Enquadramento Teérica III. Definiges Reais 'As definic&es reais so definigdes de coisas ou fenémenos por meio das sua qualidades ou propriedades. As qualidades ou propriedades devem ser as prin- cipais dessas coisas ou fenémenos. As definigdes reais sto acerca de coisas ou fenémenos € suas qualidades ou atributos sem envolver referéncias quer a ter- mos linguisticos quer a termos intencionais. IV. Definigdes de Conceitos Definiges conceptuais so afirmagées que descrevem um conceito ¢ permi- tem a sua diferenciagdo de outros conceitos. O valor informativo das defini goes conceptuais é igual ao valor da informagao que resulta da anélise concep- tual pura. Que tipo de definig&o ¢ a definigao por género e diferenca usada nesta classi- ficagio dos fenémenos e intervengdes de enfermagem? Tal como a ideia de piramide de conceitos foi introduzida, a resposta 6bvia pa- rece ser: definigdes de conceito. Contudo, esta resposta é enganadora quanto & pretendida natureza das definig6es fornecidas pelas classificagées dos fenéme- nos e interveng6es de enfermagem. [As definigSes por género e diferenga podem ser enunciadas como uma defini- gio de conceito, isto é, como uma definig&io de conceito pela designagiio do seu género e as caracteristicas que o distinguem de todas as outras espécies do seu género. Contudo, todas as definigdes de conceito podem, sem custos, ser transcritas para definigGes de linguagem, pelo que continuaremos ao longo desta introdu- Gio a ignorar a distingao entre conceitos e termos. Também as definigdes por género e diferenga podem, sem custos, ser conver- tidas em termos da linguagem como pode ver-se pela variante que se segue.” A definigio de um termo mais especifico por meio da incluso de um termo mais inclusivo (chamado género) e os termos que descrevem a diferenga que © distinguem de todos os outros termos especificos do seu género. As variantes da linguagem, por seu lado, podem ser interpretadas quer como uma definicao extensiva dos termos (género) quer como definigées intencio- nais dos termos (género). As definigdes por género e diferenca podem, finalmente, ser interpretadas co- mo um exemplo de uma definigdo real, isto ¢, definigdes de coisas ou fendme- ‘hos por meio das suas qualidades ou propriedades que diferenciam as espécies 35 Introdupio da Telenurse & CIPEACNP de outras espécies do mesmo género. Em ordem a clarificar a pretendida natureza das definigées fornecidas pela classificagio dos fenédmenos e intervengdes de enfermagem, seré feita uma distingo entre os dois principais tipos de definig6es, isto é: I. Definigdes por meio de intengoes, i.e., (11) definigdes intencionais dos ter- mos ¢ (IV) definigdes conceptuais puras. : Il. Definigées sem intengées, i.e., (1) definigées extensivas dos termos e (III) definigées reais. Esta classificagao das definigdes pode ver-se na figura se- guinte: Figura 5 Classificagao das definigées O diagrama mostra também como as definigdes por género e diferenga podem ser interpretadas de quatro formas diferentes. Nesta versio alfa da CIPE/ICNP, nao se pretende que as definigGes por género ¢ diferenga sejam expressdes sindnimas. As variantes lingufsticas das definigoes por género ¢ diferenga sero interpretadas como definig6es extensivas dos ter- mos (0 género). N&o se pretende também que as definigdes por género e diferen- a sejam tomadas como definigdes puras de conceitos; falando acerca de concei- tos considera-se um modo de dizer sem relagio com 0 conceito puro. 36 Rem eR A Hea jOTsapeaReGERaNseat cagcemam Ps Introdugio Sistemitica ~ Enquadeamento Teérico As duas interpretagdes que restam das definigdes por género e diferenga usa- das para definir quer os fendmenos quer as intervengées de enfermagem, isto 6, a interpretago das definicGes por género e diferenga como sendo definigdes extensivas dos termos e a que as interpreta como definigdes reais caiem ambas no mesmo lado da divisao entre definicdes por meio de intengées e as defini- g6es sem intengdes. Esta distingao baseia-se na nocdo fundamental para a nossa compreensio da linguagem, ou seja, a nog&o de que em todas as oragdes podem ser separados dois componentes: um componente relacionado com a intengo ou significado da frase e outro componente relacionado com 0s factos do real. As afirmagoes podem ser verdadeiras de duas formas diferentes e fundamentais: pelo compo- nente do significado e pelos factos do real. Esta distingdo fundamental esté reflectida na diferenga entre a informacdo que deriva de diciondrios, ex., Oxfords Advanced Learners Dictionary e a informa- 40 que deriva de uma enciclopédia, ex., Encyclopedia Britannica. As definic&es por género € diferenga, tanto dos fenémenos de enfermagem co- mo das intervengées de enfermagem, fornecidas por esta classificagao preten- dem ser exemplos quer de definigdes extensivas dos termos quer de definicdes reais. valor da informagio das definigdes por género e diferenca interpretadas da mesma forma que a informagao que resulta de uma enciclopédia, ou seja, des- crigdes empiticas dos fenémenos, que se tormam verdadeiras ou falsas pelas realidades clinicas. O valor da informacao das definig6es por género e diferen- ga fornecidas por esta classificacaio nfo pretende ser uma informacao que de- riva do significado das palavras ou andlise pura dos conceitos. De facto, a distingao entre o conhecimento enciclopédico ¢ 0 conhecimento se- mintico foi alvo de um sério ataque por parte da moderna filosofia da lingua- gem." No que diz respeito a esta versio alfa da CIPE/ICNP isso significa 0 abandono da distingdo geral, muitas vezes feita, entre definigdes ¢ caracteris- ticas definidoras,” no que diz. respeito aos fenémenos de enfermagem e entre definigdes ¢ actividades definidoras, * no que diz respeito a intervencdes de enfermagem. A prética clinica de enfermagem e a pesquisa empirica de enfermagem desem- Penharfo um papel crucial no refinamento da presente versto alfa, pela adigiio de novas e importantes caracteristicas s definigdes existentes bem como pela adicdo de novos exemplos & arquitectura existente. Tanto os fenémenos como as intervengSes de enfermagem devem, idealmen- 37 Tntrodusio da Telenurse & CIPEACNP te, ser definidas por meio de um conjunto de qualidades ¢ propriedades que permitam a diferenciagao das classes de outras classes relacionadas e subme- tidas ao mesmo termo geral. O ntimero de qualidades e atributos de qualquer fenémeno ou intervengao de enfermagem nao esté limitado, mas algumas qua- lidades ou atributos so considerados essenciais. As qualidades e atributos es- senciais so usados para a definigdo dos fenémenos e intervengoes e sua clas- sificagdo. Outras importantes qualidades ou atributos, ndo necessariamente di- ferenciadores, podem ser listados para qualquer fenémeno ou intervencao. Embora as definigées da presente versio alfa da CIPE/ICNP ilustrem 0 méto- do de definigéo por género e espécie, onde todas as caracteristicas servem 0 duplo propésito, tanto de identificar como de diferenciar um conceito de ou- tro, deve assumir-se que nem todas as definig&es so baseadas apenas nas ca- tacterfsticas essenciais nem todas as caracteristicas importantes foram identi- ficadas. As caracteristicas so indispensdveis. Classificar significa remeter individuos para classes, de acordo com condigées que lhes permitam pertencer-Ihes. As condigdes para se ser membro de uma classe, em relagao as classes de fen6- menos e intervengdes de enfermagem so as que sio fornecidas pelas caracte- risticas associadas a cada fenémeno e intervengio de enfermagem. 2.2. Fenémenos de Enfermagem 2.2.1. O Termo de Topo Aescolha do termo de topo tem particular importancia quando se desenvolve uma classificagao, pois este termo indica 0 domjnio a ser classificado. O ter- mo de topo responde & questo: esta classificacdo é sobre qué? E notério que a enfermagem carece de termos paralelos aos termos de topo, Doenga, Defi- ciéncia, Incapacidade e Desvantagem (Handicap). Uma definigao negativa que indique complemento a Doengas, Deficiéncias, Incapacidades ¢ Desvantagens ndo é muito informativa. Um termo positivo que circunscreve o dominio de interesse é dado pelo termo de topo Diagnésticos de Enfermagem. Este termo nao tem, contudo, paralelo com termos de topo como doenga, pois indica quer ovprocesso quer o resultado de identificar uma certa condig&o de satide. O conceito de diagnéstico refere-se a actos mentais ou linguisticos por Parte dos profissionais de satide, mais do que &s condigées de satide por parte os clientes. Mais ainda, o termo Diagnésticos de Enfermagem tem para alguns uma cono- 38 Introdupdo Sistemética ~ Enquadramento Teérico tagio de condigdes de satide negativas, em termos de défices ou problemas, excluindo as condigdes neutras ou até positivas que caiem na alcada da enfer- magem. Finalmente, o termo Diagnésticos de Enfermagem parece ser de uso mais apropriado se aplicado as condigdes de satide dos clientes. A extensio do uso dos Diagndsticos de Enfermagem aos factores do ambiente, como, por exem- plo, a poluigao da égua, pareceria forcada. ‘Tendo estas consideragdes em mente, o termo Fenémenos de Enfermagem foi escolhido como termo de topo. Pretende-se que os fenémenos de enfermagem sejam um complemento positi- vo a Doengas, Deficiéncias, Incapacidades e Desvantagens. Os fenémenos de cenfermagem sio condigdes de satide que dizem respeito ao cliente, mas o ter- mo Fenémenos de Enfermagem pode, de forma néo constrangida, cobrir fené- menos do meio/ambiente que digam respeito 4 enfermagem. Finalmente, 0 termo Fenémenos de Enfermagem € neutral face a qualquer en- quadramento ou modelo, incluindo em particular, mas nao se restringindo, a enquadramentos ou modelos de enfermagem baseados nos diagnésticos de en- fermagem limitados aos défices ou problemas como conceitos nucleares. Além disso, 0 termo Fenémeno parece adequado porque seu significado li- teral é “o que pode ser observado”. Este significado prende-se com o facto de que a CIPE/ICNP, tal como € indicado no titulo, deve ser primariamente uma classificagio que descreve os fenémenos observaveis da prética clinica de en- fermagem. Aescolha do termo de topo Fenémenos de Enfermagem esté de acordo com os critérios do ICN para o desenvolvimento de uma CIPE/ICNP: “uma CIPE/ICNP deve ser usavel de forma complementar ou integrada com a famt- lia das doengas e das classificagdes relacionadas com a satide desenvolvidas pela OMS, das quais a principal ¢ a ICD A presente versio da CIPE/ICNP tem sido desenvolvida como um comple- mento da ICD ¢ outras classificag6es relevantes da OMS relacionadas com a satide. A escolha do termo de topo Fenémenos de Enfermagem permite também a conformidade com outros critérios do ICN para o desenvolvimento de uma CIPE/ICNP: “uma CIPE/ICNP deve ser consistente com enquadramentos con- Ceptuais claramente definidos, mas nao depende de um quadro tedrico ou mo- delo particular de enfermagem”.* 39 Sntrodagto da Telenurse & CIPEICNP © termo Fenémeno de Enfermagem parece ser neutro face a qualquer enqua- dramento ou modelo, inclui em particular, mas nao se restringe, a enquadra- mentos ou modelos de enfermagem baseados em “problemas” ou “défices” co- mo conceitos nucleares. Na auséncia de uma definiggo real final de fendmeno de enfermagem deriva- da de uma teoria descritiva de enfermagem ou de uma ciéncia empirica de en- fermagem que conduza a uma delineagio teoricamente justificada do dominio dos fenémenos de enfermagem, uma lista historicamente desenvolvida de exemplos de fenémenos de enfermagem deverd ser suficiente, o mesmo se passando para este fim com as intervengdes de enfermagem. Para além do mais a busca de uma definigdo real e final para fenémeno de en- fermagem pode ser to em vao como 0 foi para Doenga,® Deficiéncia, Incapa- cidade e Desvantagem. O dominio coberto pelo termo Doenga pode ser rela- cionado com o desenvolvimento histérico devido a um componente avaliativo aparentemente inerradicavel do termo. Este pode também ser 0 caso dos Fené- menos de Enfermagem. Se as definigdes de Doenga - ¢ Fendmenos de Enfermagem - so normativas de forma inerradicdvel, entdo tornam-se necessarios paradigmas de definicoes completamente novos que siryam de suplemento as definigdes descritivas j4 mencionadas, isto é, definigdes normativas. 2.2.2 Os Principios de Divisio Aescolha de um prinefpio de divistio para termo de topo de uma classificagaio € igual em importancia & selecgao do termo de topo em si mesmo. O termo de topo responde & questo: esta classificagao € sobre qué? O principio de divisdio para o termo de topo responde & igualmente importan- te questo: de acordo com o qué é este dominio classificado? Deve ter-se presente que uma classificagio pode ser construida com divisdes in- dividuais perfeitas e mesmo assim ser imperfeita como um todo. As divisdes de uma classificagdo devem ser justificdveis em cada etapa em termos de um tini- co tipo de caracteristicas organizadoras através da classificago como um todo. Cada tipo'de caracteristicas de cada estédio da classificagio deve emanar do ti- po de caracteristicas usadas para subdividir o termo de topo da classificagao. No que diz respeito aos fenémenos de enfermagem 0 foco na pritica de enfer- magem tem sido seleccionado como 0 fundamentum divisiones que governa 0 todo e a partir da qual todas as outras caracteristicas devem emanar quando se classificam os fendmenos de enfermagem. 40 Intcodugio Sistemética ~ Enquadramento Teérico A seleccao dos prinefpios de diviséio tem um interesse relativo. O interesse nesta versio alfa da CIPE/ICNP foi encontrar um principio de divisao que co- brisse a maioria dos tipos de diviséo que se pensa serem necessérias para or- ganizar 0 dominio dos fendmenos de enfermagem, tal como foram circunscri- {os pelos exemplos historicamente desenvolvidos ¢ recolhidos na investigacao levada a cabo pelo ICN que foi referida na introdugdo hist6rica, Relativamente a este interesse, 0 foco na pritica de enfermagem parecen ser a escolha apropriada para principio de divisio para a classificagao dos fenéme- nos de enfermagem como um todo. Recorrer ao foco na pratica de enfermagem pode ser visto no contexto mais vasto de um enquadramento tedrico que descreve a estrutura da realidade em termos de diferentes niveis de arranjos que vao, desde os grupos de seres hu- manos que constituem as sociedades humanas, até as particulas fundamentais da fisica. * +3_Asociedade, estruturas econémicas e politicas +¥2_Acomunidade +1_A familia Pee te eR ee ee 0 Ocliente como agente intencional e individual, ex., actividades de auto- cuidado Bas tassssasanaszi # =I Sensagées dos individuos, ex.,dores, persisténcia de imagens, prarido_ -2__O cliente como um corpo total, ex., movimentos do corpo. -3__ Partes principais do corpo do cliente, ex. t6rax, abdémen, cabeca -4__ Sistemas fisiolégicos, ex., sistema cardiovascular, sistema respiratério -5__ Parte de um sistema ou érgio, ex., coragio, grandes vasos, pulmoes -6 Parte de um 6rgio ou tecido, ex., miocérdio, medula éssea 21 Células, ex., células epiteliais, fibroblasto, linfécito =8 artes de célula, ex., membrana celular, organelos, nucleo eee 9 Macromoléculas, ex., enzimas, proteinas estruturais, dcido micleico =10_“Micromoléculas, ex., glicose, dcido asc6rbico =11_Atomos ou i6es, ex., s6dio, ferro _ Cada nivel de descrigao tem a sua rede de conceitos classificagées distintivas Cespecificas. As descrig6es, incluindo as descrigdes das caracteristicas dos fend- menos de enfermagem, podem ser referidas a nfveis apropriados da realidade. Obviamente, este enquadramento tedrico de diferentes niveis de realidade con- vida & discussao da possibilidade, tanto da redug&o de um conjunto de carac- teristicas de um nfvel de descrigao para outro conjunto de caracteristicas de ni- vel inferior como da emergéncia de um conjunto de caracteristicas num nivel Superior de descrigdo, baseadas em, mas ndo redutiveis, a outro conjunto de caracteristicas num outro nfvel inferior. 4 Introdugio da Telenuree & CIPEICNP Pode 0 falar-se de grupos, ex., familias, ser reduzido a falar-se de individuos? Nem o holismo metodolégico nem o individualismo metodolégico no que diz respeito aos grupos, saem prejudicados pela assumpgio de diferentes niveis de realidade. De novo, podem, por exemplo, os niveis biolégicos de descrigdo ser reduzidos a niveis fisicos das descrig6es? : Esta versio alfa da CIPE/ICNP ¢ indiferente a questdes de redugio e emergén- cia de niveis de realidade. Deixando de lado estas questdes mais filoséficas regressemos aos princfpios de divisio. Este modelo teérico fornece uma fonte comum de exemplos do foco na préti- ca de enfermagem de acordo com o qual os fenémenos de enfermagem podem ser subdivididos, garantindo-se assim que apenas um tinico principio geral de divisto regula as subdivisdes nos diferentes niveis da classificagio dos fend- menos de enfermagem. Assumindo a existéncia de diferentes niveis relevantes de descrigo, a primei- ra subdivisdo divide, grosseiramente, os fenémenos de enfermagem em duas reas focais principais indicadas, por um lado, por nfveis com ntimeros nega- tivos, incluindo o nivel zero, e, por outro, por niveis com ntimeros positivos: 08 fenémenos de enfermagem que pertencem aos seres humanos e os fenéme- nos de enfermagem que pertencem ao ambiente/meio. A primeira subdivisio dos Fenémenos de Enfermagem € a que figura no diagrama que se segue: a Inteodugio Sistemstica ~ Enquadeemento Testico a Figura 6 H Foco na Prética de Enfermagem: Ser Humano e Ambiente/Meio Fenémenos de Enfermagem Fenémenos de Enfermagem pertencentes ao Ambiente/Meio Fendmenos de Enfermagem pertencentes ao Ser Humano Pretende-se que esta dupla focalizagio no ser humano e ambiente/meio teflic- ta a importancia do foco na pratica de enfermagem, enfatizada tanto nos cui- dados de satide primarios como secundarios. Movendo-nos para baixo e para a esquerda da piramide os préximos exemplos importantes do foco na pritica de enfermagem sio fornecidos pelas subdivi- sées do termo ser humano. De acordo com 0 nosso modelo tedrico assume-se que os seres humanos po- dem ser descritos a diferentes niveis da fisica, biologia (fungées) ¢ enquanto pessoas. Foi feita uma selecgaio de dois niveis de descrigdes de acordo com o que se cré ser 0 foco profissional primério da enfermagem, isto é, 0 nivel da biologia e nivel da pessoa. Isto no exclui o nivel fisico de descrigao se for considerado importante para a prética profissional de enfermagem. Uma classificagao compreensiva dos fenémenos de enfermagem deve ir a par dos dois tipos de fenémenos de enfermagem que se referem aos seres huma- nos. Assim, o ser humano individual, ou seja, 0 cliente, pode e deve ser des- crito com detalhe nos diferentes niveis que vao desde o nivel funcional das partes ao nfvel da pessoa como um todo, tal como est indicado na panorami- ca seguinte que mostra as principais categorias dos fenémenos de enfermagem em relac&o ao ser humano individual: B TIntrodugio daTelenurse & CIPE/ICNP Figura 7 Foca na Prética de Enfermagem: as Fungdes e a Pessoa A divisio entre o nivel funcional das partes ¢ o nivel da pessoa como um todo é crucial. Pretende-se que esta divisio seja 0 reflexo da énfase na diferenga tantas vezes encontrada na enfermagem, entre olhar de um ponto de vista mais fisiolégico e um olhar que d4 maior realce & pessoa como um todo, ¢ também na diferenga entre olhar o cliente como um todo e olhar apenas para partes de- le, Esta grande divisdo pode ser resumida como a diferenga entre a instancia de planeamento e a instncia intencional quando os enfermeiros élham para 0s se- res humanos de forma individualizada.” Descrever os setes humanos a partir de uma instncia intencional significa usar caracteristicas que pertencem aos seres humanos com agentes intencio- nais que desenvolvem acces motivadas por razSes baseadas em crengas ¢ de- sejos. Adoptar esta instancia intencional de uns para os outros é assumido ser © niicleo das interaccdes interpessoais normais. Cada pessoa € descrita como estando a actitar de forma racional, ou seja, de acordo com a sua matriz indi- vidual de crengas ¢ desejos. A assumpgio de que € a racionalidade individual que orienta as crengas e os desejos é-a base do compreensio interpessoal, in- cluindo a compreenséo miitua entre clientes por um lado e enfermeiros por ou- tro. 14 Intradugio Sistemética os Fendmenos de Enfermagem Descrever 0s seres humanos individualmente a partir da instancia do projecto significa usar as caracteristicas pertencentes aos seres humanos como uma sin- tese de comportamentos biolégicos destinados a preencher certas fungdes. O cliente € descrito como um conjunto de comportamentos Jevados a cabo por partes fisiol6gicas e psicoldgicas (partes do corpo, érgios ¢ capacidades men- tais) do ser humano individual e concebidos para manter e melhorar a vida. Fungdes si comportamentos especiais, normais ou apropriados de acordo com a finalidade de qualquer parte (fisiolégica e/ou psicoldgica) do individuo, ‘Assume-se que cada fung%o tem uma forma éptima de funcionar de acordo com a sua finalidade. Assume-se que 0 termo FungGes cobre toda a gama, aos diferentes niveis das descrigdes bioldgicas dos fenémenos que preocupam a enfermagem. Foi feita uma selecgao de dois niveis de descrigdes biolégicas de fenémenos da algada da enfermagem de acordo com os quais se acredita estar o foco profissional primério, isto é, as Sensagdes dos niveis fisiolégico e psicolégico. A escolha foi feita por se considerarem as Sensagdes num nfvel diferente do nivel dos sistemas fisiolégicos, uma vez que as Sensagdes so conceitos semi-psicolégi- cos. As Sensagdes podem, igualmente, ser consideradas como semi-fisiol6gi- cas ¢ isto justifica terem-se colocado as SensagGes em paralelo com outros sis- temas fisiolégicos. Os fenémenos de enfermagem, do ser humano individual, centrados & volta das fungGes fisiolégicas reflectem as bem conhecidas categorias de Respira- do, Eliminagao, Sono e Repouso, etc.. Os fendmenos de enfermagem centra- dos & volta das fungdes psicolégicas reflectem a lista dos acontecimentos men- tais que se assume nio terem contetido e exemplificados numa lista (niio ne- cessatiamente exaustiva) de sensagGes associadas a respostas a estimulos de partes do corpo. Estas categorias principais de niveis -1 e -4 do modelo sio mostradas na figura seguinte: 45 ItrodugGo da Telemurse 8 CIPE/ICNP Figura 8 Foco na Pratica de Enfermagem: Fungées Fisiolégicas 46 aE Introdagio Sistemstica sos Fenémenos de Bafermager tT tet tP tte Figura 9 H Poco na Prética de Enfermagem: Fungées Psicol6gicas Foo 8S Fenémenos de Enfermagem que se referem a Fungdes Psicol6gicas Alteragées da Visio 47 Introdugio da Telenurse 8 CIPEAICNP Cada uma destas categorias é posteriormente subdividida e isso acontece sem- pre que hé fenémenos de enfermagem de relevancia directa na pratica clinica de enfermagem. Retornando ao nivel da pessoa, assume-se que os fenémenos de enfermagem caiem em dois grupos principais: fendmenos de enfermagem relacionados com as acgées da pessoa, por um lado, e fenémenos de enferma- gem relacionados com as razSes para a acco, por outro. As principais catego- rias desta subdivisdo so mostradas nas figuras seguintes: Figura 10 Foco na Pritica de Enfermagem: Razdes para a Acciio wa Intcodugo Sistema aos Fendmenos de Bafermagem Figura Foco na Pra tica de Enfermagem: Acces da Pessoa Fenémenos de Enfermagem que se referem as Acgoes dda pessoa ‘Acgdes Independentes Acgdes Interdependentes ain ‘Autoouidado: mover-se Suporte Social ‘Agressio Social ‘Abuso de Criangas ‘Abuiso Conjugal Mutilagao Genital Feminina Isolamento Social ‘Autocuidado; alimentar-se_ ‘Autocuidado: ete Auto-ajustamento Autodestruigao, * NIT, De acordo com o que é corrente na pritica clinica em Portugal, optémos indistintamente pelo uso do ‘ermo inglés ou por lidar com, adaptagio, ultrapassar, Esta subdiviséio dos Fendmenos de Enfermagem pertencentes & Pessoa baseia- se na assumpgao de que na prética de enfermagem os seres humanos indivi- dualmente considerados so vistos como desenvolvendo acgées motivadas por razdes baseadas em atitudes psicolégicas que reflectem a personalidade indi- vidual.* 9 Tarodugto da Telenurse & CIPE/ICNP No que diz respeito as Razes para a Acco atrevemo-nos a distinguir razdes para a Acciio de primeira ordem, isto é, atitudes Psicol6gicas e razbes para a ‘Acefio de segunda ordem, quer dizer, a Personalidade. Tendo em conta o nivel de acgGes da pessoa, a relacdo entre razOes para a ac- gao de primeira e segunda ordem pode ser descrita como se segue: assume-se que as acgGes revelam atitudes psicoldgicas, isto é, as crengas, atitudes, valo- res, objectivos, desejos e emogdes da pessoa. Assume-se também que as ac- ges revelam a personalidade da pessoa embora a relagio entre as acgdes e a personalidade seja indirecta: a personalidade é uma disposigao para reter cren- gas, atitudes, valores, objectivos, desejos e emogées ¢, estas atitudes psicolé- gicas so de novo, expressas ou reveladas através das acgdes da pessoa. A per- sonalidade da pessoa é também considerada uma razio para a acco, pois este modelo da pessoa assume uma ligagdo, embora indirecta, entre a personalida- de & as acces: as atitudes da pessoa sdo modificadas ¢ influenciadas pela sua personalidade. De acordo com a diferenga entre o nfvel -1 e o nivel 0, nés distinguimos entre estados psicolégicos sem contetido, isto é, sensacées, por ex., dores, prurido, persisténcia de imagens, cécegas e estados psicolégicos com contetido, ou se- ja, orengas e desejos. Os estados intencionais como as crengas e desejos sao es- tados psicoldgicos que tém sempre contetido. Isto reflecte-se no facto de que os verbos que correspondem a estas atitudes, por ex., crer, desejar, querer, es- perar, ter medo, duvidar, lembrar, carregam, tipicamente, um objecto gramati- cal cuja expressio linguistica é “alguma coisa” que € 0 complemento directo. As atitudes psicoldgicas com conteddo sdo classificadas como sendo as Ra- es para a Acgdi, pois tém uma relevancia particular quando se descrevem os seres humanos como pessoas. As razes para a acgfio podem incluir atitudes psicolégicas com um contetido que deriva das sensagdes. Retornemos a divisdo entre os seres humanos individuais ¢ o ambiente/meio. A figura que se segue mostra algumas das principais categorias do dominio do meio, incluindo a familia: 50 Anvvedogao Sistentics FFenimenos de Bofermagem Figura 12 oco na Pratica de Enfermagem: Ambiente/Meio Fenémenos de Enferm: que se referem ao Ambiente/Meio © Ambiente: Humano Meio Fisica, Relagoes Familiares Habitagio Perturbagbos nas Relacdes Familiares Coping Familiar inadequado Conllito nos Papas Parentais A Comunidade Os Fenémenos de Enfermagem que pertencem & familia esto subordinados & categoria Ambiente Humano, pois pretende-se que esta categoria capte um ni- vel de descrigao da familia que esteja acima do nivel dos seus membros indi- viduais quando se fala acerca de grupos, ou seja, as fam{lias ndo podem ser duzidas a individuos. 3 IntrodugHo da‘Telenurse & CIPEICNP Outros focos na pratica de enfermagem que derivam do modelo teérico geral atras mencionado, sao fornecidos numa secgZo separada sobre principios de divisio. 2.2.3, Definigdes Uma classificagao por relagdes genéricas € util porque fornece definigies por género e espécies. A classificacdio dos fenémenos de enfermagem serve ainda como um guia para definigdes exactas dos conceitos. Em todas as definigdes desta verso alfa da CIPE/ICNP, as caracteristicas ser- vem o duplo propésito tanto de identificar como de diferenciar um conceito de outro, embora se assuma que nem todas as definigdes so baseadas apenas em caracteristicas essenciais, e que nem todas as caracteristicas importantes foram identificadas. ‘Todas as definig6es fornecem atributos de membro de classe em relagfo a clas- ses de fendmenos de enfermagem, Agrupar em classes significa remeter exem- plos particulares de fenémenos de enfermagem para classes apropriadas, de acordo com atributos para se ser membro dessa classe. Diagnosticar é agrupar em classes. As definigdes contém, assim, critérios de diagnéstico. As caracteristicas fornecem as condigdes necessérias e suficientes para per- tencer a uma classe de fenémenos de enfermagem, ou nio?” Se a resposta for sim, ent&o, os membros individuais partilham todas as carac- terfsticas usadas na definigfo descritiva da classe dos fenémenos de enferma- gem (definigées monotéticas) ou os membros individuais partilham apenas al- gumas caracteristicas da definigdo descritiva da classe de fenémenos de enfer- magem (definigdes politéticas)*. Tanto as definigées monotéticas como as politéticas representam variantes tra- dicionais de definigdes onde os termos so definidos respectivamente quer por uma conjungio quer por uma disjungiio de caracteristicas associadas de forma relevante com o termo a ser definido. Se a resposta for nfo, entdo, serd tentado um desvio mais radical a partir de to- das as variantes das formas tradicionais de definir termos: os termos, incluin- do os diagnésticos de enfermagem, podem ser usados sem uma conjungdo ou disjungao de caracteristicas associadas de forma relevante com o termo a ser definido. A questo que diz. respeito A natureza dos critérios de diagnéstico fornecidos pelos fenémenos de enfermagem permanece sem resposta nesta versio alfa da CIPE/ICNP. 52 Introdugdo Sistematica aos Fenémenos de Enfermagem 2.3. Intervengées de enfermagem 2.3.1. O termo de topo O termo de topo responde a questéio: Que classificagao € esta? termo de topo Intervengdes de enfermagem parece responder claramente a esta pergunta com respeito &s acges que as enfermeira/os iniciam em Tespos- ta aos fenémenos de enfermagem. As intervengdes de enfermagem constituem um suplemento natural das intervengSes médicas ou cirtirgicas, 2.3.2. Os principios de divisao Como ja foi mencionado, a escolha do principio de divisio para o termo de to- po de uma classificagdo responde & questiio: Que classificagao é esta? principio de divisdo para o termo de topo responde a outra questo, igual- mente importante: De acordo com que é que se faz a classificagao deste domf- nio? Aresposta 4 primeira pergunta é relativamente simples: Intervengdes de enfer- magem. No entanto, a resposta a segunda pergunta parece mais complexa, uma vez que & confirmada pela pessimista afirmago que se segue acerca da hipé- tese de uma pirdimide de conceitos de acgdo ordenados hierarquicamente e ex- pressos sob a forma de verbos: “Verbos, adjectivos, advérbios e outras partes do discurso nao podem ser inse- ridos na formula “x é uma forma de y” sem que primeiro lhes tenha sido atri- buido nome e, mesmo assim, a frase que dai resulta € muitas vezes estranha, sendo mesmo inaceitdvel (p.ex., comprar é uma forma de obter)”**. Deste modo, parte-se do princfpio que as intervenges de enfermagem podem ser consideradas exemplos de conceitos de acgdo expressos por verbos, tais co- mo observar, gerir, executar, cuidar ou informar. Adicionar complementos (objectos) aos verbos apenas aumenta a dificuldade em estabelecer um sistema de conceitos hierarquizados. E dificil identificar 0 nivel de abstracgio quando os enunciados da acgio so compostos por um verbo e 0 seu complemento, p. ex., assassinar o Primeiro Ministro da Suécia. A dificuldade consiste unicamente no facto de os niveis de abstracgdo do verbo e do complemento variarem independentemente, tal como Pode ser observado no diagrama que ilustra os diferentes niveis de generaliza- G0 do verbo e do complemento: 53 Intcodugio da Telenurse & CIPE/ICNP Figura 13 Niveis independentes de generalizacio Acgdes Matar Assassinar Disparar —— Objecto Primeiro Mnistro Politicos, Politfcos Sueco Suecos Este exemplo nao sé ilustra a dificuldade em identificar 0 nfvel de abstraccao dos enunciados da acgfo, incluindo os das proprias intervencdes de enferma- gem, mas também ilustra o facto de as acgdes compostas por verbo e comple- mento poderem ser subdivididas segundo dois tipos diferentes de caracteristi- cas, isto é, de acordo com 0 tipo de acco envolvida, p. ex., matar, e de acor- do com 0 tipo de objecto envolvido, p. ex., politicos. O pessimismo histérico e as dificuldades sisteméticas impedem uma resposta clara & pergunta: De acordo com que dominio deverdo ser classificadas as ac- gées ou intervengées de enfermagem? Para responder a esta questo, é preciso identificar os componentes relevantes. dos enunciados da accio, isto é, os componentes que constituem os fundamentum divisionis ou tipos de caracteristicas adequadas para subdividir 0 conceito de intervengao de enfermagem. Os componentes dos enunciados da acgilo relevantes como fiundamentum divisionis para as intervengoes de enfer- magem desta versio alfa da CIPE/ICNP foram identificados em trés etapas; 1A primeira etapa teve como finalidade explorar a forma ou estrutura légica dos enungiados da acco. Tl, Baseada na primeira, uma segunda etapa teve como finalidade explorar 0 contetido que deveria ser introduzido na forma légica dos enunciados da ac- Gio. . IIL. Finalmente, a terceira fase teve como finalidade seleccionar os fundamen- tum divisionis ou tipos de caracterfsticas relevantes de entre os componentes 54 Intnadusio Sistemas wes FenSmens de nfermagems identiticados das intervengdes de enfermagem, tanto em conceitos formais co- mo de contetido. Passemos em revista as trés etapas, Primeiro, os componentes formais dos enunciados de ac¢do, incluindo os das intervengdes de enfermagem, so explorados a partir da anélise légica classi- ca de Frases de acgiio adaptadas da filosofia da aceto, #* Uso a expresso “acgo” no sentido lato em que os fildsofos a usam, nomea- damente como um conceito que designa qualquer acto intencional dos seres humanos. Assim sendo, 0 conceito acco de enfermagem destina-se a abran- ger quaisquer actos intencionais Jevados a efeito pelas enfermeira/os, ainda que sejam denominados intervengées ow actividades, Raramenie as enfermeira/os usam frases significativas de acciio quando comu- nicam os seus actos, oralmente ou por escrito. Por isso, os rétulos, frases ou termos que descrevam acgdes de enfermagem sero interpretados como frases de accGes de enfermagem elipticas que terdo de ser dissecadas para que se pos- sam obter frases de acco susceptiveis de andlise légica imediata. Atendendo ao que foi dito, peguemos numa frase significativa de acgiio, cons- trufda com 0 objectivo de ilustrar a anflise ldgica de frases de acciio. O exem- plo de enunciado de uma intervengao de enfermagem baseia-se num classico da literatura filoséfica *: A Jofio lava a Ana deliberada ¢ lentamente, nas costas, com uma esponja, 8 meia-noite, na enfermaria, movendo os bracos. Vamos agora indicar como se deve proceder a fim de revelar a forma légica das frases de acco. A anflise légica elementar pode comecar por remover os fermos singulares, para permitir chegar aos predicados ou a termos gerais, Se © termo singular “Aristételes” fosse removido da frase “Aristoteles éum fild- Sofo”, a sua andlise revelaria como predicado ou termo geral “...€ um fil6so- fo". Nesta frase, s6 € deixado um espago em branco quando o termo singular € removido e, por isso, o termo geral ou predicado"...€ um filésofo” é deno- minado predicado de um espago. Se obtivéssemos mais de um espago em bran- Co apés removidos os termos singulares, p. ex., dois espagos em branco, os ter Mos gerais ou predicados seriam denominados predicados de dois espagos e assim por diante, Deve atender-se a0 facto de que esté assumido que o predi- cado expressa conceitos e que, portanto, os conceitos so expressos por frases que foram extraidos os conceitos termos. Introdugdo da Telenurse & CIPEACNP ‘Ao removermos 0s termos singulares como primeira etapa da andlise logica do exemplo acima mencionado, seria natural que chegdssemos ao seguinte predi- cado de dois espacos: “A... lavaa.... deliberada e lentamente, nas costas, com uma esponja, & meia- noite, na enfermaria, movendo os bragos” Na notagdo usual do predicado légico: L(a,b), em que L é o simbolo para “la- va deliberada ¢ lentamente, nas costas, com uma esponja, a meia-noite, na en- fermaria, movendo os bragos” e “a” simboliza Joao e “b” simboliza Ana. O problema deste tipo de andlise ¢ que deveriamos entender a frase “A Joao lava a Ana deliberada e lentamente” como uma consequéncia légica da frase completa “A Joio lava a Ana deliberada e lentamente, nas costas, com uma es- ponja, 4 meia-noite, na enfermaria”. ‘TTratando “lava deliberada ¢ Jentamente, nas costas, com uma esponja, 4 meia- noite, na enfermaria, movendo os bragos”, isto é L(x,y), como um predicado simples, a validade da inferéncia nao pode ser demonstrada porque “lava deli- berada ¢ lentamente”, por si s6, tem de ser considerado um novo predicado: Lay). Em vez disso, é preciso encontrar uma forma légica que garanta a validade da inferéncia de “A Joao lava a Ana deliberada e lentamente, nas costas, com uma esponja, & meia-noite, na enfermaria” para “A Jodo lava a Ana deliberada e lentamente”. Tal pode ser coneretizado introduzindo a nogdo de acontecimentos como um elemento abstrato na forma ldgica das frases de acco. Introduzindo acontecimentos como elementos (abstratos) das frases de acgdio, podemos analisar a frase A Joao lava a Ana deliberada e lentamente, nas costas, com uma esponja, 4 meia-noite, na enfermaria, movendo os bracos como sendo composta de um acontecimento de lavagem, ou melhor, do acon- tecimento de a Jodo lavar a Ana, o qual é posteriormente especificado quando se lhe adicionam novos pedagos de informagio através da conjungao légica me A andlise l6giva permite entio ler 0 seguinte: Existe algum, isto é pelo menos um, acontecimento z, sendo que z significa que a Joao lava a Ana deliberada e lentamente nas costas e 0 acontecimento da lavagem foi feito com a esponja e 0 acontecimento da lavagem ocorreu nas costas e 0 acontecimento da lavagem ocorreu a meia-noite e o acontecimento 56 Introdusio Sistema aos Fenmenos de Enfermegem da lavagem ocorreu na enfermaria e o acontecimento foi praticado pelo movi- mento dos seus bragos. Recorrendo as regras habituais do predicado légico, estamos em condigdes de deduzir com validade que “A Joao lava a Ana deliberada ¢ lentamente” a par- tir de “A Jodo Java a Ana deliberada ¢ lentamente, nas costas, com uma espon- ja, 4 meia-noite, na enfermaria, movendo os bragos” apenas derivando uma das conjungdes ligadas & conjungio l6gica “e” como pedagos extra de informagio acerca do acontecimento da lavagem! E claro que quaisquer outras conjungoes poderiam sofrer deducao I6gica. Representemos a nossa frase de acco completa em notagdo simbélica de mo- do a transparecer a forma légica. Os substantivos, assim como os predicados e adjectivos que lhes esto relacionados, podem ser simbolizados do seguinte modo: Figura 14 Abreviaturas e simbolos Termos singulares __Termos gerais Simbolos légicos =e a:Joao LiLava lentae 3 z: Existe algum, isto é pelo deliberadamente menos um, acontecimento z, sendo que beAna_ A:E c:A esponja v:Ou M: Movendo EA enfermaria g:As maos da Jofio A frase completa A Joao lava a Ana deliberada e lentamente, nas costas, com uma esponja, 4 meia-noite, na enfermaria, movendo os bracos pode, de acordo com a nossa andlise 1gica introdutéria, ser escrita do seguinte mo- do: 3 z: Lava(Jofo,Ana,z) e Com(a esponja,z) e Em(as costas,z) ¢ A(meia-noite,z) e Em(a enfermaria,z) e M(Joao, bragos da Joao,z) Mais formalmente, a forma légica da frase pode ficar ainda mais transparente se usarmos apenas o vocabulério convencional do predicado l6gico de primei- a ordem: 7 Introducto da Telemurse & CIPEACNP. Jz: {L(ab,z). x L(c,z) A Ez) ~ A@.z) 0 Bffz) A Mfag,z)} o que se 1é do seguinte modo: Existe algum, isto é pelo menos um, acontecimento z, sendo que z significa _ que a Joao lava a Ana deliberada e lentamente nas costas e o acontecimento da — Javagem foi feito com a esponja e o acontecimento da lavagem ocorreu nas costas e 0 acontecimento da Javagem ocorreu 4 meia-noite e o acontecimento da lavagem ocorreu na enfermaria e o acontecimento foi praticado pelo movi- mento dos seus bragos. ‘A forma l6gica dos enunciados de intervengées de enfermagem sugerida pela andlise ldgica foi comparada com os enunciados incluidos nas classificagdes de intervengGes de enfermagem jé existentes com a finalidade de confirmar, ou | no, a relevdncia dos componentes formais identificados. Com pequenas mo- dificagdes, muitos enunciados de intervengdes de enfermagem podem ser adaptados ao modelo l6gico de predicados de primeira ordem, quando comple- tamente decifrados. Em resultado da andlise légica dos enunciados de intervengées de enferma- gem, apresentamos seguidamente uma lista dos seus componentes estruturais (marcados com letras a negrito): I. Letras do predicado que nao especifica 0 acontecimento Sz Labz) I Variéveis das letras do predicado que nfo especifica o acontecimento iz: L(abyz) IIL. RelagGes entre os acontecimentos e as diferentes varidveis 3 z: L(abz) e Com(i,2) IV. Variaveis que estabelecem relagdes com os acontecimentos 3 z: L{ab,z) e Com(i,z) V. Letras do predicado que especifica 0 acontecimento Jz: L@bz) e M(ag,z) Estes elementos estruturais dos enunciados das acgGes ou intervengdes de en- fermagem apontam para tipos de caracteristicas ou fundamentum divisionis re- levantes para a classificago do dominio das intervengGes de enfermagem. Ca- da enunciado pode ser classificado de acordo com cada um dos componentes identificados. E isto que torna problemtico pedir as enfermeira/os que hierar- quizem os enunciados de intervencdo. 58 Introdugao Sistemética 20s Fendmenos de Enfermagem. m segundo lugar, como em tiltima instncia os componentes puramente for- gnais dos enunciados das intervengdes de enfermagem sao extrafdos de uma lise dos enunciados de acgo completamente decifrados, os componentes mais também servem de fonte para uma exploracao guiada dos componen- jes das intervengdes de enfermagem do ponto de vista do contetido: que con- tedidos podem ser introduzidos na forma I6gica identificada? Podem associar- > aos componentes puramente formais os seguintes tipos (marcados com le- Laya(Joao,Ana,z) tras do predicado no especifico podem ser substitufdas por termos gené- s que indicam o tipo de acco envolvida no enunciado. tipos de acco foram identificados como componentes das intervengdes de srmagem do ponto de vista do contetido; inclui-se uma lista dos tipos de ac- de enfermagem relevantes na seccio A, onde é abordada a classificagtio intervengdes de enfermagem segundo os tipos de acco, Varidveis para as letras do predicado que nao especifica o acontecimento 3s, identificados como componentes das intervengdes de enfermagem do pon- de vista do contetido, é incluida na classificagio das intervengées de enfer- magem segundo os tipos de objectos. , Relagdes entre os acontecimentos ¢ as diferentes varidveis 3 z: L@xy,z) e Com(i,z) x, ‘om(a esponja,z) e Em(as costas,z) e A(meia-noite,z) e Em(a enfermaria,z) s letras do predicado com um ou mais espagos, isto é, relagdes podem ser ibstitufdas por termos genéricos que indiquem preposigdes das intervengSes enfermagem. As preposiges sio identificadas como componentes do con- 59 Introduglo da Telenurse & CIPE/ICNP tetido das intervengdes de enfermagem mas sio consideradas irrelevantes aquando da classificagio dos enunciados das intervengGes de enfermagem. IV. Varidveis que estabelecem relagdes com os acontecimentos 3 z: L(a,b,z) e Com(i,z) p. ex. Com(a esponja,z) ¢ Em(as costas,z) e A(meia-noite,z) e Em(a enfermaria,z) ‘As varidveis que estabelecem relagdes com os acontecimentos podem ser substituidas por termos singulares que se refiram a meios (ou instrumentos), & topografia do organismo, ao tempo e ao espago das intervengdes de enferma- gem. Os meios (ou instrumentos), topografia do organismo, tempo e espago sio identificados como componentes do contetido das intervengdes de enfer- magem. Uma lista dos tipos de meios de enfermagem relevantes identificados como componentes das intervengdes de enfermagem do ponto de vista do contetido € inclufda na classificagaio das interveng6es de enfermagem segundo os meios. V. Letras do predicado que especifica 0 acontecimento 3x: L(a.bz) © M(ag,z) p.ex. 3 z: Lava(Joio,Ana,z) ¢ Movendo(Joao,bragos da Jo%0,z) As letras do predicado que especifica 0 acontecimento so adicionadas as le- tras do predicado nao especifico com a finalidade de proporcionarem informa- ‘go acerca de métodos, abordagens ou formas do predicado que nao especifi- cao acontecimento. O nosso exemplo ilustra como os dois acontecimentos de lavar a Ana e de mover os bragos se encontram em relacdo um com 0 outro: a Joao lava a Ana movendo os bracos. Em terceiro lugar, os componentes das intervengdes de enfermagem foram se- leccionados como fundamentum divisionis ou tipos de caracteristicas relevan- tes para esta verso alfa da CIPE/ICNP, tendo em conta tanto os aspectos for- mais como 0 seu contetido. A andlise I6gica serviu de guia para a lista dos prin- cipios de divisio que se segue: 60 Introduslo Sistemdtica 408 Fenémenos de Enfermagem Piicpios de divisao derivados da andlise légica (Ana) M Com Em A ie (ofio,bragos da (a esponjaz) (as costas,z) —_(meia-noite,z) (oko, Ana.z) Jodo,z) eEm i (aenfermaria,z) B: G D: E: Topografia F: ‘ego Objecto__Abordagem __Meios Anatémica ___Tempolespago selecgiio dos princfpios de divisio é de interesse relativo, O interesse desta rersdo alfa da CIPE/ICNP foi encontrar princfpios de divisio que pudessem ‘abranger a maioria dos tipos de divisdes que se pensava serem necessdrias pa- 1a.a organizacao do dominio das intervengdes de enfermagem como foi cir- sunscrito pelos exemplos desenvolvidos historicamente e colhidos pelos con- res a partir do levantamento levado a cabo pelo ICN (Cf. introdugéo his- gunta inicial sobre os princfpios de diviso para as intervengdes de enfer- jem obteve seis respostas diferentes que correspondiam a selecgdo de seis ic{pios de regulagao global da divisdo, ou fundamentum divisionis. Cada deles corresponde a um eixo da classificagdo das intervengGes de enferma- ‘or razbes de conveniéncia, os eixos seleccionados foram somente cha- jos de A, B, C, D, Ee F. 3.2.1. Eixos A, B, C, D, E, F um dos princfpios de regulacdo global da divisio dé origem a séries co- de subdivisSes do conceito Intervengdes de Enfermagem. lum sistema de classificagéio bem construfdo, os conceitos devem ser dividi- 98 Ou fraccionados em dois ou mais compartimentos segundo os principios inidos e os fundamentum divisionis ou, entao, o tipo de caracteristicas usa- para subdividir um conceito mais amplo terd de ser clara e explicitamente determinado. procedimento resume-se em trés passos: primeiro, selecciona-se um tipo de racteristicas relevante. Em segundo lugar, mencionam-se exemplos especi- icos dessas caracteristicas. Por tiltimo, constroem-se as subdivisdes relevan- Este mesmo procedimento vai ser agora aplicado &s subdivisdes das Inter- jes de Enfermagem. Comecemos pela selecciio dos tipos de caracteristicas relevantes, De acordo com } ptincfpios da divisdo identificados, o conceito Intervengdes de Enfermagem 4 subdividido de acordo com a seguinte lista de tipos de caracteristicas: 61 Introdugio da Telenurse & CIPEMICNP Bixo A: Tipos de acco na Prética de Enfermagem Eixo B: Tipos de objectos na Pratica de Enfermagem Eixo C: Tipos de abordagem na Prética de Enfermagem Bixo D: Meios na Prética de Enfermagem Fixo E: Topografia anatémica na Prética de Enfermagem Fixo F: Tempo/Espago na Prética de Enfermagem Segundo, as caracteristicas especfficas ou exemplos dos tipos de acgao, objec- tos, abordagens, meios, topografia anatémica, tempo e espaco terio de ser in- cluidos numa lista como a que se segue: Eixo A: Tipo de caracteristicas: Tipos de acco na Pratica de Enfermagem Caracterfsticas especfficas: Observar, Gerir, Executar, Cuidar, Informar Eixo B: ‘Tipo de caracteristicas: Tipos de objectos na Prética de Enfermagem Caracteristicas especfficas: Fenémenos de Enfermagem e Outros Objec- tos Eixo C: Tipo de caracteristicas: Tipos de gerag&o de actividades na Pratica de Enfermagem Caracterfsticas especificas: _Dirigidas por regras, nao dirigidas por regras Eixo D: Tipo de caracteristicas: Meios na Prética de Enfermagem Caracteristicas especificas: _Instrumentos, Recursos Humanos Eixo E: Tipo de caracteristicas: Topografia anatémica na Pratica de Enferma- gem Caracteristicas especfficas: Localizagdes anatémicas, Vias anat6micas Eixo F: Tipo de’caracteristicas: ‘Tempo/Espago na Prética de Enfermagem Caracterfsticas especfficas: ‘Tempo, Espago Terceiro, as subdivisGes relevantes das Intervengées de Enfermagem sao cons- trufdas em fungao dos exemplos do tipo de caracterfsticas seleccionadas: Eixo A: Termo: IntervengGes de Enfermagem Subdivisdes: _IntervengGes de Enfermagem de [Observar], 62 ntrxtugao Sistamatica 408 Feudinenas de Enfermagem Interveng6es de Enfermagem de [Gerir], Intervengdes de Enfermagem de [Executar], Intervengées de Enfermagem de [Caidar]. IntervengSes de Enfermagem de [Informar] Intervencdes de Enfermagem Term Subdivisoes: Intervengdes de Enfermagem tendo como objecto: [Fendmenos de Enfermagem] e Intervengées de Enferma- gem tendo como objecto: [Outros Objectos] Bixo C: Termo: Intervengdes de Enfermagem Subdivisées: Intervengdes de Enfermagem executadas por: {Normas], Intervengdes de Enfermagem executadas por: [Intervengies Situacionais], Bixo D: i Termo: Intervengdes de Enfermagem Hh Subdivisdes: Intervengdes de Enfermagem usando: | [Instrumentos], Intervengdes de Enfermagem usando: [Re- cursos Humanos) Eixo E: Termo: Intervengdes de Enfermagem Subdivisdes: Intervengées de Enfermagem com referéncia a: [Localiza- ges anatémicas] e Intervencdes de Enfermagem com refe- A réncia a: [Vias anat6micas] \ Eixo F: Termo: Intervengdes de Enfermagem | Subdivisdes: Intervengées de Enfermagem identificadas: [no Tempo], | Intervengdes de Enfermagem identificadas: {no Espaco} As subdivisdes de cada classificagao das Intervengdes de Enfermagem devem | ser redigidas estritamente da seguinte forma: ‘ Bixo A: Intervengoes de Enfermagem de: ( ] Eixo B: IntervencGes de Enfermagem tendo ; como objecto: [ ] Eixo C: Intervengdes de Enfermagem | executadas por: [ ] Eixo D: Intervengdes de Enfermagem usando: c J Eixo E: Intervengdes de Enfermagem 63 Introdugio da Telenurse & CTPE/ICNP com Referéncia a: [ ] Fixo F: Intervengdes de Enfermagem Identificadas no: [ ] Cada uma destas frases refere-se a uma classe de intervengdes de enfermagem ou integra um conjunto de acontecimentos de enfermagem. No entanto, seria fastidioso ter sempre que descrever completamente as subdivisdes das Inter- vengées de Enfermagem segundo os principios de divistio seleccionados. Para além disso, somente o contetido entre parénteses é necessdrio & constru- do de combinagSes simples entre os eixos. Apenas estas tltimas siio necess4- rias para criar descrigdes compostas dos conceitos das intervengées de enfer- magem (CE. pp. 66-68). Assim sendo, no resto da introdugao e desta versao alfa da CIPE/ICNP, limi- tar-nos-emos a mencionar o contetido que se encontra entre parénteses. Nao obstante, lembramos aos leitores que tenham sempre em mente que estamos a classificar intervengdes de enfermagem e nao objectos ou abordagens. Cada principio genético de divisio corresponde a um dos eixos de classifica- go das intervengdes de enfermagem. Em sentido figurado, cada eixo corres- ponde a um dos lados da piramide conceptual das intervengGes de enferma- gem. A planificagao da pirdmide dé origem a seguinte ilustracio: Figura 16 Pirdimide Multifacetada das Intervengdes de Enfermagem Cada eixo, isto €, cada principio de divisio genérico e independente permite uma série de subdivisdes do conceito Intervencdes de Enfermagem. Cada ei- xo dard origem a uma classificagdo independente das intervengdes de enferma- gem. Seguidamente, os eixos A, B, C, D, E ¢ F sero descritos sumariamente. O4 Introdugio Sistemética os Fenémenos de Enfermagem No que se refere ao eixo A, o conceito Intervengées de Enfermagem foi sub- dividido segundo os tipos de acco da pratica de enfermagem. Os niveis supe- riores so 0s indicados na figura que se segue: ‘ Figura 17 Kixo A: Intervengdes de Enfermagem subdivididas segundo os tipos de ac- gio da Pratica de Enfermagem 65 Introdusio da Telenurse & CIPEICNP. A subdivisio dos tipos de acgao da pratica de enfermagem em Observar, Ge- tit, Executar, Cuidar e Informar baseia-se na consideracao pragmatica de que estas categorias so muito titeis para a organizagao das intervencdes de enfer- ‘magem quando se tém em conta as definig6es dos tipos de acco, A lista dos tipos de acgéo foi obtida attavés da consulta de exemplos de clas- sificagdo das intervengdes de enfermagem referenciadas no Nursing’s Next Ad- Wane An International Classification for Nursing Practice (ICNP). A Working Paper , Foram utiizados verbos para exprimir os tipos de acco ou os conceitos de ac- Si0 (isto ¢, frases sem os termos singulares), Foi realizada a contagem da fre- quéncia dos verbos existentes, Tendo por base as contagens da frequéncia dos verbos ow tipos de acco, estes foram escalonados de modo a incluir os exemplos mais caracteristicos das ac- g6es de enfermagem na classificagao das intervengées de enfermagem segun- do os tipos de acgao. No que se refere ao eixo B das Intervengdes de Enfermagem foi subdividido Segundo os tipos de objectos da pratica de enfermagem. Os niveis superiores Sao os indicados na figura que se segue: 66 Introdugao Sistematica 20s Fensmenos de Bafermagern Figura 18 Kixo B: Intervengdes de Enfermagem subdivididas segundo os tipos de objectos da Prética de Enfermagem o7 Introdugto da Telogurse & CIPEAICNP A locugio “tipos de objectos de enfermagem” destina-se a comunicar que a classificagao das Intervengées de Enfermagem de acordo com os objectos no contém uma lista de objectos individuais referidos por termos singulares como “Ana”, mas consiste numa lista de termos genéricos que possam dar posterio- res informagdes acerca dos objectos que intervém nos acontecimentos de en- fermagem “. Em geral, os objectos das intervengdes de enfermagem so canalizados para duas listas separadas: a lista ou classificago dos fenémenos de enfermagem € a lista dos objectos nao inclufdos na lista dos fenémenos de enfermagem, mas sim numa lista mais abrangente dos objectos das interveng6es de enfermagem. Estes tiltimos, ou objectos de verbos de acgdo, constituem conceitos mais am- plos que os fenémenos de enfermagem porque incluem outros itens para além destes. O objecto varidvel das acgdes de enfermagem tem sido muito operacional na identificagio dos diferentes tipos de objectos, mas também aumentou a cons- ciencializacao acerca da necessidade de integrar 0 dominio dos objectos de en- fermagem com as acgdes de enfermagem, a fim de evitar a duplicagio dos do- minios do objecto: Um deles derivou das acgdes de enfermagem ¢ o outro, em- bora possa ser pouco diferente, derivou da lista dos fenémenos de enferma- gem. A lista dos tipos de objecto das intervenges de enfermagem surgiu da consul- ta das classificagdes dos fenémenos de enfermagem e das intervengées de en- fermagem referenciadas no Nursing’s Next Advance: An International Classi- fication for Nursing Practice (ICNP). A Working Paper “. No que se refere ao eixo C das Intervengdes de Enfermagem foi subdividido segundo os tipos de abordagens da prética de enfermagem: 68 Introdugo Sistemitica aos Fendmenos de Enfermagem Figura 19 Eixo C: Intervengées de Enfermagem subdivididas segundo as aborda- gens da Prética de Enfermagem exemplo utilizado da Joao a lavar a Ana ilusira que 0 facto de a Joao lavar a Ana e de mover os bragos so acgGes realizadas numa relago entre as duas: A Joio lava a Ana movendo os bracos. As abordagens ou normas sao relagées familiares entre actos que atrafram al- guma atengdo na recente teoria da aceao: 5 frequente referirmos que uma pessoa realiza um acto “ao” efectuar outro. Dizemos, por exemplo, que 0 Lats coende a Iuz “ao” carregar no interruptor ou que ele faz cheque-mate ao seu adversério “ao” mover a # para o séttno pedo, Tal como foi usado neste contexto,o termo “20” expressa uma relagto existente ‘entre 08 actos. A relago em causa poderd expressar-se dizendo que win acto constitu 0 “modo” ou “méto- 440” pelo qual o obtro acto 6 realizado. Tipicamnente, quando 0 acto A constitui o modo pelo qual o acto A é realizado, é posstvel explicar como acto A foi realizado, citando 0 acto A®. A especificago dos predicados do acontecimento implica que seja menciona- da a abordagem ou método pelo qual a acedo foi realizada. Deste modo, a es- pecificacio dos predicados do acontecimento responde 4 seguinte pergunta: Como foi realizada a acco? Antes de conjecturar acerca da relevaneia dos métodos ou normas usados na descrigéo das intervengdes de enfermagem, tomemos em consideracdo um exemplo estranho & enfermagem. Este exemplo em patticular ilustra os concei- tos basicos em relagdo & discusstio de normas: Os revolucionérios derrubaram o regime despético do seu pais ~ assassinando 0 tirano - disparando sobre ele com uma arma ~ puxando o gatilho da arma - mexendo o dedo 0 Tntrodagio da Telenurse & CIPS/ICNP Esta série de normas nao pode prosseguir indefinidamente. Dissecando a ac- c&o, podemos concluir que a série atingiré um ponto de paragem ao atingit a acefio que deu inicio a série e que se denomina acedo bésica. Uma acgdio basi- ca € aquela que para ser realizada ndo exige mais nenhuma. As acgées bésicas sio proximas dos movimentos corporais; constituem as primeiras da série de acgGes intencionais ligadas pela relagdo de normas. Abaixo das acgées basicas estiio as suas causas neurofisiolégicas, mas estas nao so intencionais. Se agora prosseguirmos em sentido contrério, podemos dizer que as séries de acgSes foram geradas pela ac¢do basica. A acgao basica de mexer os dedos ge- ra a acco de puxar o gatilho, que por sua vez gera a de disparar uma arma so- bre o tirano, ¢ assim por diante, Continuando neste sentido, podemos dizer que as séries de aces geradas terminarao quando atingirem a finalidade do agen- te. Como € que o processo de geragéo se descreve em si mesmo? Qual a nature- za da geragao? Distinguem-se quatro tipos de geragao de niveis *: 1) causal, II) convencional, HI) simples e IV) aumentativo. Os primeiros dois tipos cobrem a maioria dos casos de geragiio de niveis pelo que podemos concentrar-nos neles. No que se refere & geractio causal, € oportuna uma palavra de cautela: a rela gio causal no se dé entre duas acces a diferentes niveis. A relaco causal s6 € relevante entre uma aceao do nivel mais bisico ¢ 0 resultado da acgfio de nf- vel mais alto. No que se refere & geragHo convencional, estamos perante uma situacio com duas acces a diferentes niveis em que o inferior vai gerar o superior em vi tude de uma regra existente segundo a qual realizar a acgdo de nivel inferior substitui a realizagao da de nivel mais alto, em determinadas circunstancias. As regras podem ser de diversos tipos, incluindo eventualmente regras profis- sionais, segundo as quais fazer isto e aquilo significa fazer isto e aquilo. Agora: As abordagens, os métodos, os meios ou as normas sio relevantes pa- ra a descrigo das intervengGes de enfermagem? Olhando para as classificagdes das intervengoes de enfermagem referenciadas no Nursing’s Next Advance: An International Classification for Nursing Prac- tice (ICNP). A Working Paper ® 36 algumas das abordagens, métodos, meios ou normas que as precedem parecem identificéveis, 70 ees ea os ai Invodus0 Sistemstics aos Fendmenos de Enfermagem Esta precedéncia é encontrada quando se faz a distingdio entre intervengSes de enfermagem e actividades que definem esta intervengao. Na lista das interven- des de enfermagem incluidas no Nursing’s Next Advance: An International Classification for Nursing Practice (ICNP). A Working Paper ©, as activida- des que definem as intervengdes no foram inclufdas. A distingfio entre intervencdes de enfermagem e actividades definidoras pode ser facilmente interpretada como exemplificando a distingdo entre accées ge- radas e acgdes geradoras. As acg6es geradas, em geral, ¢ as intervengées de enfermagem, em particular, sto acgGes geradas pelo facto de iniciarem uma lista ou série de actividades que explicam de que modo a acgfio em questo deve ser levada a efeito, ou mencionam a abordagem ou método, como se pode ver no exemplo seguinte: Cuidar do corpo de um falecido implica: - remover todos os tubos, se aplicdvel - fazer a higiene do corpo, se necessério - colocar uma fralda - elevar ligeiramente a cabeceira da cama para evitar a acumulagdo de liqui- dos na cabeca ou face - colocar a prétese dentéria, se possivel - fechar os olhos, etc. * Cada conjunto seré posteriormente especificado no que se refere aos cuidados ao falecido, ao adicionar-se-Ihe mais informago acerca da abordagem, meio ou método aplicados. Cada conjunto poderd, por sua vez, ser ainda descrito se enumerarmos as abor- dagens das abordagens como esté ilustrado atrés, no exemplo do assassinio do tirano, Esta interpretagao corresponde As declaragées feitas por alguns dos mais proe- minentes proponentes da perspectiva de que deve ser estabelecida uma distin- gio entre as intervengées de enfermagem e as actividades que as definem: O rétulo de cada intervengao tem uma definigdo, actividades que a enfermei- ra/o executa para levar a efeito as intervengGes e referéncias. Este trabalho re- presenta o desenvolvimento das intervengdes como conceitos, requerendo ca- da um uma série de acgdes discretas para ser implementado *, No caso das intervengdes de enfermagem, os dados correspondem a compor- tamentos terapéuticos de enfermagem que foram identificados a partir da lite- ratura de enfermagem. Chamamos a esses comportamentos actividades, orde- 71

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