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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2016.0000229395

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2004028-21.2016.8.26.0000, da Comarca de Santos, em que é agravante NATALI
MARIA CARVALHO, é agravado COMPAÑIA SUD AMERICANA DE VAPORES
S/A.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 21ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram
provimento ao recurso, por maioria de votos. Declara voto o 2º Juiz., de conformidade
com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores SILVEIRA PAULILO


(Presidente) e ITAMAR GAINO.

São Paulo, 7 de abril de 2016.

Maia da Rocha
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº: 26950


AGRV. Nº: 2004028-21.2016.8.26.0000
FORO: FORO DE SANTOS
AGTE.: NATALI MARIA CARVALHO
AGDO.: COMPAÑIA SUD AMERICANA DE VAPORES S/A

*CUMPRIMENTO DE SENTENÇA Desconsideração da


personalidade jurídica Diligências que não restaram frutíferas
quanto à localização de bens penhoráveis Fortes indícios da
intenção de prejudicar os credores Hipótese de
desconsideração da personalidade jurídica da executada por
desvio de finalidade Decisão mantida Recurso não provido*

Trata-se de agravo de instrumento interposto em face


da r. decisão de fls. 849 proferida em cumprimento de sentença, que
determinou a desconsideração da personalidade jurídica da empresa
executada, uma vez que presentes os requisitos do artigo 50 do CC.
Sustenta a agravante que no presente caso deve ser
aplicada a teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica, sendo
que o mero inadimplemento, sem que haja robusta prova acerca do desvio
de finalidade ou confusão patrimonial, não basta para lastrear o pedido.
Recurso tempestivo, preparado, processado sem a
concessão do efeito suspensivo e devidamente contrariado.

É o relatório.
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Pugna o agravante a reforma da r. decisão agravada a


fim de que seja afastada a desconsideração da personalidade jurídica da
empresa Afil Importação e exportação e comércio LTDA, com a sua
consequente exclusão do polo passivo.
Preliminarmente, não há que se falar em supressão de
instância. A decisão agravada desconsiderou a personalidade jurídica da
empresa executada e é esta matéria que é objeto do agravo de
instrumento, de modo que se afasta a preliminar deduzida.
No mérito, o artigo 50 do Código Civil expressa que em
caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de
finalidade ou pela confusão patrimonial, o Magistrado pode aplicar o
instituto da desconsideração da personalidade jurídica.

A desconsideração da personalidade jurídica conduz à


responsabilidade do sócio nos casos em que a sociedade
é manipulada como instrumento de fraude. Esse instituto
chegou ao pensamento jurídico brasileiro mediante
assimilação da disregard doctrine, desenvolvida nos
tribunais norte-americanos, ganhando celebridade a
partir do apoio e divulgação que lhe deram Rubens
Requião e José Lamartine Corrêa de Oliveira. Antes, a
Consolidação das Leis do Trabalho já permitia levar a
responsabilidade por obrigações da sociedade além dos
limites do patrimônio desta, para atingir as demais
pessoas jurídicas integrantes da mesma constelação
empresarial (art. 2º, § 2º). Mais recentemente, o Código
de Defesa do Consumidor autoriza expressamente a
desconsideração da pessoa jurídica, a ser feita pelo juiz
em processos referentes a relações de consumo,
“quando, em detrimento do consumidor, houver abuso
de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato
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ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social” (art.


28).

Indo além dessas disposições bem particularizadas em


setores específicos, os tribunais praticam a
desconsideração da personalidade jurídica para
responsabilizar sócios também em situações não
previstas nas leis societárias ou tributárias aplicando-a
em relação a débitos perante fornecedores, prestadores
de serviços, mutuantes em geral etc, Isso é feito
exclusivamente diante de situações de fraude porque o
combate a esta é o objetivo único da disregard doctrine
e, sem conduta fraudulenta a debelar, impõe-se a
clássica distinção entre a personalidade jurídica do sócio
e a da sociedade a que pertence. (Instituições de Direito
Processual Civil, Cândido Rangel Dinamarco, vol. IV,
pág. 366, Malheiros Editores, São Paulo, 2.004.)

Compulsando-se dos autos, verifica-se que o agravado


ajuizou em face da empresa executada ação de cobrança e (fls. 23/32) no
valor histórico de R$5.239,21, cujos pedidos foram julgados procedentes
(fls. 428/430) e que foi confirmada pelo acórdão de fls. 528/529, já tendo
havido trânsito em julgado.
No curso da fase de cumprimento de sentença, foram
realizados pedidos de bloqueio de bens via Bacenjud, que restaram
parcialmente frutíferos (fls. 717/719 e 736/738 e 741/743), bem como
pedido de expedição de mandado de avaliação e penhora de bens no valor
da dívida para o endereço da empresa executada. Além disso, foi deferido
pedido de pesquisa de bens via sistema Infojud, que acusou patrimônio de
R$80.000.000,00, sendo que R$50.000,00 eram em ativos financeiros.
Esse fato justificou a realização de nova pesquisa
bacenjud (fls. 793/795), a qual restou infrutífera. Em relação ao mandado,
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houve expedição e consequente lavratura de auto de penhora (fls. 813),


tendo a empresa executada apresentado impugnação, que tornou nula tal
penhora (fls. 849).
Após a realização de inúmeras diligências expostas, com
o intuito de satisfazer o seu crédito, e considerando o lapso temporal sem
lograr êxito na execução, requereu o agravado a desconsideração da
personalidade jurídica da empresa executada, tendo o MM. juízo “a quo”
deferido o pleito.
De fato, os documentos acostados aos autos e a
dificuldade do agravado em reaver seu crédito revela que a pessoa jurídica
está despojada de condições para o pagamento da obrigação, panorama
este típico de evidente má gestão de responsabilidade de seus sócios em
fraude ao credor, sendo fortes os indícios de desvio de finalidade.
A hipótese atrai a desconsideração. Portanto, os bens
dos sócios respondem pelo débito executado. Nesse sentido:

“PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS Ação de Cobrança


cumprimento de sentença Execução
Desconsideração da personalidade jurídica Cabimento
Recurso provido. Diante do não pagamento do valor
devido pela empresa-executada, da inexistência de bens
em nome desta para garantir o pagamento do título
exequendo, da frustrada tentativa de bloquear seus
possíveis ativos financeiros; cabível a desconsideração
da personalidade jurídica da empresa-executada-
agravada."(TJ - AI 0466199-90.2010.8.26.000 São
Paulo 31ª Câmara de Direito Privado Relator: PAULO
AYROSA).

“AGRAVO DE INSTRUMENTO Desconsideração da


personalidade jurídica Execução Frustradas as
tentativas de localização da agravada ou de bens
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penhoráveis Prova de ter a agravada encerrado suas


atividades de forma irregular Cabimento
Precedentes de jurisprudência Agravo provido.” (TJ
AI 990.10.265239-4 São Paulo 17ª Câmara de
Direito Privado Relator: ERSON T. OLIVEIRA).

Desta forma, imperiosa a manutenção da r. decisão


agravada tal como proferida.
Isto posto, nega-se provimento ao recurso.

MAIA DA ROCHA
Relator
PODER JUDICIÁRIO
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Voto nº 41220
Agravo de Instrumento nº 2004028-21.2016.8.26.0000
Comarca: Santos
Agravante: Natali Maria Carvalho
Agravado: COMPAÑIA SUD AMERICANA DE VAPORES S/A

DECLARAÇÃO DE VOTO DIVERGENTE

AGRAVO DE INSTRUMENTO Razões recursais que se


voltam contra a desconsideração da personalidade jurídica
decretada em julho de 2013 Não é possível se discutir a
questão indefinidamente, a cada nova determinação de
penhora de bens dos sócios Questão preclusa Agravo
não conhecido por manifesta inadmissibilidade.

Cuida-se de agravo de instrumento interposto em


face da decisão de fls. 1225 que determinou a expedição de mandado de
penhora, avaliação e intimação de bens dos veículos indicados a fls.
1214/1216 em nome do sócio Farnézio Flávio de Carvalho e sua esposa
Maria Terezinha de Matos Carvalho casada em comunhão universal de
bens. Defende, em apertada síntese, a aplicação da teoria maior da
desconsideração da personalidade jurídica, sendo que o mero
inadimplemento da dívida executada, sem prova robusta do desvio de
finalidade ou confusão patrimonial não é suficiente a lastrear o pedido.
É o relatório.

Ouso divergir da douta relatoria.

A decisão agravada, proferida em 01 de dezembro


de 2015 e disponibilizada em 04 de dezembro de 2015 não desconsiderou a
personalidade jurídica da empresa executada (fls. 1225), apenas
determinou a penhora de cinco veículos em nome dos sócios, aliás,
nenhum em nome da sócia agravante, e incluiu a esposa de um sócios no
polo passivo por ser casada em regime de comunhão universal de bens.
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Compulsando detidamente os autos verifica-se


que a desconsideração da personalidade jurídica se deu 19 de julho de
2013, por decisão de fls. 849 deste instrumento. Por tal razão, nota-se que
o agravo de instrumento interposto pretende discutir questão já preclusa,
não se insurgindo contra a decisão agravada.

Assim, vislumbra-se que a agravante não se volta


contra a decisão agravada, mas contra decisão proferida em julho de 2013,
o que não é possível.

Bem por isso, pelo meu voto, deixo de conhecer


do agravo de instrumento.

SILVEIRA PAULILO
3º Desembargador
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Este documento é cópia do original que recebeu as seguintes


assinaturas digitais:

Pg. Pg. Categoria Nome do assinante Confirmação


inicial final
1 6 Acórdãos WELLINGTON MAIA DA ROCHA 278712C
Eletrônicos
7 8 Declarações ANTONIO JOSE SILVEIRA PAULILO 2858E39
de Votos

Para conferir o original acesse o site:


https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informando o processo
2004028-21.2016.8.26.0000 e o código de confirmação da tabela acima.

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