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COLECAO SALESIANA = SERIE ASCETICA N.° 6 —_—_——Eorrv _— _SERIE_ASCETICA_N.° 6 O TRIUNEO DA MISERICORDIA Pe. A. M. J. LHERMITTE, $.D.B. Traducao do Pe. Faustino Bellotti Autorizada pelo Autor para a LES. Revisio € Orientacio do Reo. Pe. Luiz Marcigaglia, $.D.B. LIVRARIA EDITORA SALESIANA — LES Largo Coracio de Jesus, 140 — Sto Paulo Publicado no site http://www leiturascatolicas.com/ “Senhor, Fazei que brilhe diante de nds a Tux de Vossas misericérdiast” (Eel 36, 1) NIHIL OBSTAT Seti Panli, 16-68-1956 Mons. Lafayete,— Censor DEDICATORIA Ao coracéio inefdvelmente Miseri¢ordioso de Jesus, Dedico estas humildes paginas Como Tributo de ardente amor e de Profunda e fiet gratiddo! IMPRIMA-SE. $40 Paulo, 18 de Junho de 19° Pe, A. M. J. Lusaurrre, SDB. + Paulo Rolim Loureiro — B. Av é e eral “Vieux-Héverlé, 25 de Margo de 1950 (festa da Anunciagao) Publicado no site ht www Jeiturascatolicas.com/ CARTA-PREFACIO DO FALECIDO ILUSTRE CARDEAL MERCIER, ARCEBISPO DE MALINAS na primeira edisio Arcebispado de Malinas. Carissimo Sr. Padre, Nao podeis ficar surpreendido se vos digo que li o ~ yosso opiiseulo com emocio. ‘Vossa palavra comunicativa; as muiltiplas provas “que alegais do Amor de Nosso Senhor para com os que _ cairam, por grande que seja a sua queda, desde que dese- jam reerguer-se, sao decisivas. Poderé. haver motivo de maravilhar-se? Entre todos ‘os atributos de Deus nao é a misericérdia que mais faz ssplandecer a sua Onipoténela? Nao 6 a Igreja que can- ta, no décimo domingo depois do Pentecostes: “Deus, qui omnipotentiam tuam parcendo maxime, et mise- ‘rendo manifestam; multiplica super nos misericordiam tam?” (1) Eu me uno a vés ¢ a todos os meus colegas no sacer- para pedir que nenhum de nés ndo desespere nun- da divina miseriedrdia, mas que todos colaborem para seu triunfo. ‘ Vosso muito dedicado no Sagrado Coragao de Jesus, Desweraro José, Canprar Mexcrsn. Festa de N. S. do Rosario, 1922. (1) © Dens, que particularmente perdoando-nos ¢ tendo ‘eompaisdo dos pecadores, demonsteais a vossa Onipoténeia, espa- Mai em abundancia sdbre nds vossas misericdrdias. 40 DESTA OBRA. OBRAS DE DOM BOSCO Direcko GERaL Turim — Via Cottolengo, 32 8 DE OUTUBRO DE 1950 Carissimo Pe. Lhermitte, Recebi e muito apreciei a oferta do teu belo volume jicado As miserieérdias do S. Coracdo de Jesus ‘As paginas da obra transbordam daquele sentimen- Ge plena confianca na Bondade Divina, que abre as mas horizontes serenos. Envio-te os meus calorosos parabéns e peco a Deus e concede a0 teu livro um vasto raio de aco benéfica. Desde este nosso amado Santuario, mando-te de do uma béncdo especial de N. 8. Auxiliadora e de 0 Joao Bosco. Reza pelo teu muito dedieado em J. e M. (a) Pe. Pedro Ricaldone L/OSSERVATORE ROMANO, O GRANDE JOR- NAL DO VATICANO, DO DIA 29 DE SETEMBRO DE 1951, ASSIM SE REFERIU A ESTA OBRA NUM ARTIGO NOTAVEL, DO QUAL TRANSCRE- VEMOS AS PASSAGENS ESSENCIAIS: 'No decurso destas 200 paginas, cheias de frescor e de vida, o autor que possui, perfeito e profundamente, o seu assunto, 0 apresenta a seus leitores como um tema de total atualidade e depois o desenvolve numa argu- mentacio clara e limpida, que faz logo ressaltar téda a. sua importancia, ‘Trata-se entretanto do problema dos problemas: Deus considerado em relacéo ao homem pecador, cujo procedimento chega, por vezes, a formar um Inextrici- vel emaranhado de pecados sébre pecados. Na primeira e na segunda parte do sen livro, 0 Reverendo Padre trata pormenorizadamente o aspecto te6rico do seu argumento. %& assim que, por um solid eneadeamento de provas, apresentadas com simplicidade, leva 0 leitor a tocar a yerdade com a mio e a abando- nar-se inteiramente, sem nenhuma reserva & confianca em Deus. Na tereeira parte, 0 autor, passando a priitica, de- monstra uma técnica segura, precisa e que convence de modo irresistivel. A verdade esti no seu espirito, da mes- ma forma que o florete esta na mao de um mestre de esgrima, Procura as objecées até no limiar da morte, persegue-as até o além-timulo e, finalmente, as ani- quila, uma vez que 0 homem, embora a ponto de exaspe- Yar e por mais pesadas que sejam suas dividas, se aban- done totalmente, sem restri¢ées, mas cheio de arrepen- dimento, & miserieérdia de Deus! # pois com muita razdo que o ilustre Cardeal Mercier, de santa meméria, éle mesmo grande mestre da doutrine e do pensamento, apreciando altamente a presente obra, escrevia ao seu autor: “As miltiplas pro- vas que vés apresentais do amor de Nosso Senhor para com aquéles que cairam e desejam se levantar, por mais profunda que seja a queda, sao decisivas! Dest'arte, éste livro, sem a menor ditvida, reconforta, faz renascer a esperanca e encaminha seguramente a alma para uma doce e inabalivel certeza. Enfim, éle tende a levar 0 homem a Deus, fazendo-the apreciar, no seu justo valor, tanto as coisas do tempo como as rea- lidades eternas”. OR ANTELOQUIO Os jansenistas — j4 condenados pela Igreja desde 1642 — esforcaram-se em colocar a Deus tao alto e tao longe dos homens, que o tornaram qua- se inacessivel para um grande nimero de almas! Com efeito, apresentaram-no como um Juiz tao Severo, um Justiceiro t&o rigoroso, um Deus tao terrivel, numa palavra, que éles desviaram do Me- thor e mais Terno dos pais 0 coracdo dos filhos, espalharam o espanto na alma dos pecadores! Como conseqiiéncia: disto, viu-se que, ainda os me- nos culpados dos filhos de Eva nao se aproxima- tam mais de Deus, sendo tremendo, nfo ousando mais pronunciar sequer 0 seu nome, Entretanto, se os andtemas da Igreja golpea- ram mortalmente os erros detestaveis de Jansénio, éstes nao deixaram todavia de contaminar seu cami- nho! Nao se encontram ainda, com efeito, aqui ¢ acola, almas aterrorizadas a tal ponto, que ousam Apenas levantar os olhos para 0 céu e perguntam 4 si mesmas, com a mais cruel das ansiedades, se silo ainda capazes de perdio? 14 O_TRIUNFO DA MISERICORDIA Ora éste livro tem dois fins principais: a) Levantar as almas cafdas, inspirando- Thes uma confianga ilimitada na onipoténcia de Deus unida & sua infinita miseric6rdia. b) Impedir que as almas peradoras, ame- drontadas pelo seu abatimento e suas continuas recaidas, se entreguem ao desespero; atirar-se a frente delas, barrar-Ihes 0 caminho fatal, fazendo resplandecer a seus olhos o Sol reluzente da divi- na misericérdia. Um Esconuo Qur Drve Ser Evirapo Na soleira déste luminoso e benfazejo oasis que se chama O Campo da Confianca, onde se dilatam e reconfortam as almas, empenhamo-nos em de- clarar que aqui nao se trata absolutamente de uma confianga qualquer, confianca temerdria, confianca & moda protestante, enunciada por Lu- tero: “Peca quanto quiseres, mas cré’mais = = Pecea fortiter, sed crede fortius!” Tal confianga leva direitinho ao abismo. Por- que ela nega a necessidade das boas obras, mesmo da peniténcia! A confianga de que nés entedemos falar aqui © _TRIUNFO DA _MISERIGORDIA 15 6 timicamente a confianga que tem por base o ar- rependimento e o bom propésito. Nestas condigées, nenhuma barreira ao per- dao divino! A CoNFIANGA A confianga, assim como o amor de que ela ¢ tributaria faz a felicidade dos homens. Quanto maior é a confianga, mais aumenta a felicidade. Véde as criancas com relagfio 4 sua mae. Envoltas em seus bracos e apertadas contra seu coracéo ‘| confianea delas é total e sua felicidade também. Por que estas criancas tém em sua mie esta vonfianca sem reservas? Porque, sendo inocentes, pensam que o poder dela esté em proporeiio do seu mor. Quanto ao resto, por estranho que isto pa- tega numa idade tao tenra, sua confianca é razod- Wel. As criangas dizem dentro de si, embora nao descubram a Yazao profunda de sua argumenta- glo: “Mamae quer muito bem a seu Joaozinho, & wa Teresinha e mamae é toda-poderosa, Portanto ©) nfo tenho nada que recear”. E por isso, a crian- 4 € feliz, completamente feliz. Mas deve a sua fe- licidade inicamente a sua inocéncia, porque a rea- lidade @ muito diferente. Agora, se é verdade que ms maes nunca deixam de amar os seus filhos, 16 © TRIUNFO DA MISERIGORDIA porque assim as fez o Criador, o poder delas nao tem, infelizmente, senio um alcance muito re- lativo. Nao € assim que acontece com relacéio a Deus, Deus nos ama infinitamente e seu poder é in- finito! Por isso é que, e mais que as criancas com relac&o a suas mes devemos ter nEle Uma con- fianga plena e total. (1) Nos bem 0 sabemos: que se trata da nossa felicidade. Nada € tao importante para um filho, para um amigo, como o poder confiar plenamente e sem reserva alguma em seu pai, em seu amigo, Esta confianea € a garantia de sua seguranca presente ©, para o futuro, ela Ihe descobre os lurizoutes mais vastos e mais ricos de esperanca. % 0 descan- 0 completo. Mas, ai! como é rara no mundo esta confianca! Entretanto, mais rara ainda é a confianca que todos os homens deveriam ter para com Deus! Em lugar disto, eis o receio, o medo e quase a inquietagao. Por que? Porque os homens nfo conhecem a Deus. Sio Joao Batista, falando de Jesus, que ainda (1) Se vés nfo vos tornardes como eriancas, ndo entrareis no reino dos céus, (Mat. XVIII, 3). OQ TRIUNFO DA _MISERIGORDIA ta nao se tinha manifestado, dizia aos Judeus: “Ha entre vos, Alguéik que vos nao conheceis!” (1) Mais do que os Judeus, porque nés estamos, pela nossa educagio inundados das luzes do Evan- gelho, merecemos a repreensio que Joao Batista thes dirigia. Para nés com efeito, Jesus ficou numa certa medida, “o Deus desconhecido” que Sao Paulo quis, um dia, ir anunciar aos Atenienses. ‘Tendo-se pois apresentado diante dos Juizes do Areépago, o intrépido Apéstolo, abrasado do zélo de Deus e das almas, thes disse: “Atenienses, vejo que y6s, sob todos.os pontos de vista, sois mais religio- s0s do que os outros povos. Pois, percorrendo vossa cidade, encontrei um altar dedicado “ao Deus des- conhecido”. Ora, o que vés adorais, sem conhecer, eu vos venho anunciar (’). Conhece-se a resposta da augusta assembléia. Porque anunciando-lhes Jesus Cristo, Paulo thes falara, incidentemente, da ressurreigaéo dos mortos que éles nfo admitiam, éstes magnatas or- fulhosos, zombaram do missionario audaz e Ihe dis- #eram chacoteando e interrompendo a conferéncia: “fst bem, esta bem, nés te ouviremos uma outra vez”. (1) Medius autem vestrum stetit quem vos nescitis (Jo I, 26). (2) (At XVII, 22 ss). 18 @_TRIUNFO.DA_ MISERICORDIA * Tal nao serd vossa atitude, leitores amigos diante do esforgo que nés vamos tentar para vos fazer conhecer melhor Aquéle que merece, por tan- tos titulos, vosso amor e vossa confianca, e que récompensa, vos fara saborear, como nunca o experimentastes, a felicidade de O servir! (*), A. —L. (1) Gustate et videto quoniam suavis est Dominus (SI 83). PROLOGO. 0 apélo misericordioso de Deus aos Pecadores: ‘ai, e repete estas palavras do lado do norte e dize: olta, infiel Israel, diz Jeova; nao te quero mostrar um rosto severo, eu sou misericordioso, dis Jeova , eu nao guardo minha célera para sempre. nte reconhece tua falta, que foste infiel a Jeova, teu Deus” (Jeremias, III, 12-13). Venhamos e discutamos juntamente: Se vossos pecados forem como o carmim, 'Tornar-se-A0 alvos como a neve; Se forem vermelhos como a purpura ‘Tornar-se-40 como a 1a! (is I, 18). _ Dize a éles: Eu vivo, diz Jeova, e nao quero a do impio, mas desejo que 0 malvado deixe 0 eaminho e viva. Voltai, deixai os vossos maus nhos! E porque haveis de morrer, casa de ? (Ez XXXII, 11). PRIMEIRA PARTE Sagrado Coragdo de Jesus no Evangelho, ‘A bondade misericordiosa do Coragfio de Jesus splandece em todo o Evangelho! Entretanto, 0 Nos eram impostos alguns limites, escolhe- os, no Livro Sagrado, apenas as péginas nas is os Evangelistas quiseram pér mais especial- nte em relévo éste consolador atributo de nosso ina Salvador. Publicado uo site http://www leiturascatolicas.com/ CAPITULO PRIMEIRO Jesus manifesta ao mundo a misericérdia de divino Coragao durante sua vida publica. — Procepimento pr Jesus Para Com os Pusti- CANOS E OS PECADORES EM GERAL Quando se den a vocagin de Sdéo Mateus, o slicano, os Evangelistas Sao Marcos e Séo Lucas entam em clara luz a misericérida de seu Mestre. Depois de ter contado, com poucas palavras, ato, ambos acrescentam, com efeito, que o “ano de ontem, o qual, entaio se chamava |, resolveu celebrar seu adeus ao mundo e sua no Colégio Apostélico dando um grande juete em honra de Jesus (1). A éle convidaria ‘0s empregados do fisco, seus antigos colegas, © fim, sem divida, de proporcionar-lhes a sa- : “Et fecit ei convivium magnum Levi in 24 O_TRIUNFO DA MISERICORDIA tisfaco e a vantagem de ver mais de perto o gran- de Profeta e talvez também com a intengao secreta de vé-los impressionados com o encanto irresistivel de seu olhar e de sua palavra? Foi assim que, na casa do seu novo escolhido, Jesus se viu rodeado de um grande numero de pu- blicanos e pessoas de ma vida como o declaram expressamente os dois Evangelistas (+). Pois os Escribas e Fariseus estavam forte- mente admirados! Estranho espetdculo, com efei- to para éstes homens dominados pelo orgulho a ambicéo e a dureza, ver éste pretendido Profeta admitir tais pessoas entre os seus ouvintes e mes- mo consentir em se assentar & sua mesa! (2), (1) Mare, If, 15: “Et factum est, cum accumberet in domo illius, multi publicani et poceatores simul discumbebant cum Jesu ct-discipulis eius; erant autem multi qui et sequebantur eum”, Lue. V, 29: “Et erat turba multa publicanorum et aliorum qui ‘cum illis erant discumbentes". (2) Os Fariscus ¢ seus Escribas nunca teriam aceitado se- reni os convidados de um Publicano, Mas, sem estar entre os con- vivas de Levi, como os disefpulos de Jesus, era-thes todavia pos- sivel ser testemunhas da cena que os sindpticos nos ‘apresentam. Sabe-se, com efeito, que os costumes da Palestina, naquela época, pernitiam ficilmente entrar numa sala de festim e de ld sair como simples curiosos. Notamos entretanto que ontros exegetas pensam. que 08 Fariseus no teriam nem mesmo aceitado de entrar na casa de um Publicano e éles explicam que a interpelacio foi feita, sem divida, do exterior da casa”. (Marchal, Evangelho segundo Sao Lucas, Paris, 1935, p. 80). oO ‘RIUNFO_DA_MISERICORDIA 25 Entao, sem que éles suspeitassem nem de longe, que iam dar um elogiiente testemunho da man- sidéo e da misericordia de Jesus, decidiram pro- testar enérgicamente contra tais procedimentos. Foi por isto que, depois do banquete, como se acharam 4 beira do Lago (‘) com os discipulos de Jesus, disseram-lhes “Que idéias tem ent&o vosso Mestre, que chega até a beber e comer com os pu- blicanos e pecadores?” (*). Jesus ouviu esta repreensfio e respondeu Ble mesmo, amarrando com uma palavra ao pelourinho © orgulho de seus inimigos odientos e ciumentos: “NGo s&io aquéles que est&o s&os, Ihes disse, que precisam de médico, mas os doentes!” Depois ferescentou esta declaracéo solene, que na suces- Silo dos séculos, ia alegrar todos os pecadores que desejavam sinceramente erguer-se, dissipar seus medos e reforcar sua esperanga no perdao divino: “Bu nao vim chamar os justos 4 peniténeia, mas ‘08 pecadores” (5). Quanto ao resto, nfio é-a tiniea vex que os Evan- gelistas mencionam a multidéo dos pecadores que (1) Lago de Tiberiade nos arredores do qual Mateus exercia w fungdes de Publicano, isto ¢ de cobrador dos impostos. (2) Quare cum publicanis et peccatoribus manducat ¢ bibit Wuigister vester? (Mat. IX, 11). (3) “Non veni vocare iustos, sed peccatores ad poenitentiam” (Lue V, 32). 26 © TRIUNFO_DA_MISERICORDIA se compraziam em rodear a Jesus, Avidos como es- tavam de ouvir sua palavra vital, Durante 0 terceiro ano da pregacéo do Sal vador, pregando sua segunda missio ria Peréia, Sao Lucas assinala um acontecimento semelhante @0 que acabamos de relatar e o refere como se se tratasse de um hAbito constante de Jesus como de uma coisa que se passa ordinariamente: “Os publicanos e os pecadores se aproximam de Jesus para ouvi-lo. E os Fariseus e os Escribas murmurayam di- zendo: Este homem acolhe os pecadores e come com éles” (4). Jesus respondeu a intervencSo dos Fariscus contando ao povo que o ouvia as parabolas da ovelha e da dracma perdidas € do filho prodigo, de que falaremos mais adiante, : Este ensinamento de Jesus, que tinha por fim por em evidéncia a misericérdia de Deus, era des- tinado principalmente aos publicanos e aos peca- dores de todos os graus que compunham a maior parte de seu auditério. * Assim, a presenga desta categoria de ouvintes das pregacées de Jesus prova bem que a miseri- cérdia devia ser um dos assuntos favoritos do Sal- vador. Pois era isto com certeza que atraia a Ele (1) Lue Xv, 1-2. pela sua volta. © TRIUNFO DA MISERICORDIA 27 esta gente de ma vida téo vituperada pelos escri- bas e fariseus, mas que se mostravam, por isso, desejosos de erguer-se de sua abjecio. s Em todo caso, o que esta fora de qualquer dit vida € que as palavras e 0 procedimento miseri- cordioso do Salvador, deviam, na sucessio das ldades ¢ até o fim dos séculos, esclarecer as mul- tiddes de almas desviadas, reanimar sua confianga, fortalecé-las e ergué-las pelo arrependimento, o amor e a generosidade, & imitacio de Madalena, de Sao Pedro e de tantos outros, até os cimos esplen- dorosos da. perfeicao. . um — O Finuo Propico Eis aqui, em primeiro lugar, a comovente pa- rabola do Filho prédigo (‘) na qual o Coragdo de Jesus se revela a nés com todo o esplendor do seu ‘amor misericordioso para com os maiores culpados Aqui, com efeito, Jesus nos conta que, apesar do inqualificvel procedimento do Prodigo, seu pai nfio deixa de o amar, de pensar néle, de suspirar Assim, cada dia, A primeira luz da aurora, Oste terno pai sobe ao monte vizinho para perscru- tar o horizonte. (1) Lue Xv, 11-82. 28 O TRIUNFO DA MISERK DIA E al, avidamente, incansavelmente, éle pro- cus com os olhos e com 0 coracdo seu querido fi- 10, seu filho perdido, mas sempr Poyee pre ternamente acy MS Semanas, 0s meses, os anos passam, e o pai déste ingrato fica, apesar de tudo, inabaldvel em seu amor!... Finalmente, vencido pela miséria, abatido pela desgraca, traido pelos seus amigos, 0 Prédigo abre seu coragdo graca do arrependimento!... Lem- bra-se da ineffvel bondade de seu pai, ¢ da feli. Cidade de que gozava ao pé déle, Que contraste com a condig&o de agora! “Bu me levanturet, exclama éle, com 0 coragao partido pela dor, e iret & casa de meu pai!” _ Encontro comovente aquéle! Espetéculo de hu- ate de arrependimento e de confianca da par- e do filho; de ternura transbordante e de inefavel misericérdia da parte do pai! Na presenga de seu filho e1 é 3 ncontrado, éste,bom pai entrega-se totalmente & alegria que Ihe causa sua volta. Daqui por diante, um tnico pensamen- to © ocupa: seu filho, seu querido filho! Um sé’ sentimento 0 domina: 0 amor com todo o seu ar. dor, a ternura mais isit z exquisita, a miseri ‘x comovedoral... reetrala ss OQ TRIUNFO DA MISERICORDIA 29 Nada de perguntas, nada de repreensdes. Nada mais do que abracos e beijos para éste ingrato (*). Uma s6 palavra é repetida sem cessar, pelos labios déste terno pai: “Meu filho! meu filho que estava perdido e foi agora achado; — meu filho que estava morto e é agora ressuscitado! Ah! para meu filho para meu querido filho, logo o trajo mais formoso, para meu filho, uma festa, um fes- lim magnifico!”. e ‘Tal 6 a pasmosa misericérdia do Coracao de Jesus que poe em plena evidéncia a palavra do profeta: “Eu nao quero a morte do pecador, mas que se converta e viva (?). E a de Sao Paulo: “Deus nosso Salvador, quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da. ver- dade” (*). mm, — O Bom Pastor A parabola do Filho Prédigo é certamente ca- paz de comover os coragées mais endurecidos! ‘Todavia, 6 na do Bom Pastor que a tiltima pa- (1) “Et accuirens cecidit super collum eius, et osculatus est umn” (Lue XV, 20). (2) Bz XVI, 21-38: Vivo ego, dieit Dominus. Nolo mortem Wnipli, sed ut magis convertatur et vivat! (8) 1" Epfstola a Timéteo UL, 4. 30 O TRIUNFO DA MISERICORDIA lavra da miserieérdia divina fot pronunciada por Jesus! ,_pordue, se na primeira vemos a Deus inean- savelmente esperando 0 pecador ¢ em seguida a Vejo, com efeito, 0 bom Pastor tornando-se como insensivel ao amor constante de suas outras ovelhas e tnicamente preocupado de sua ovelha perdida! Ele corre em Ps dela, Procura-a em toda par- te através dos campos, brenhas, espinheiros, Com Certeza Ble néo descansard sentio quando a tiver encontrado!... (1), Entretanto, depois que ela abandonou Jesus, @ alma infiel, tigurada aqui Pela ovelha perdida, Jesus sabe perfeitamente tudo aquilo. “Mas ae importa! fle nao deixa de amar sua infeliz QQ) Lue xv, 4.7, © TRIUNFO DA, MISERICORDIA sl ovelha. $6 ouve o seu amor. S6 sente as palpitacdes de seu coragéo compadecido e misericordioso. #le Drossegue sua corrida. Multiplica seus apélos: “Onde esti, entéo, minha ovelha, minha querida ovelha?” Isto dura meses, anos!... . Como €é grande a infelicidade desta pobre oyelha! Ela se despenhou no fundo de um barranco! Seu belo trajo braneo de outrora esta em farrapos, todo 0 seu corpo é coberto de lama! As pastagens estranhas nao the deram a fe- licidade sonhada, ela esta sé, abandonada de todos © nao tem ninguém para reergué-lal,,, E entao que ela evoca a amavel e doce lembran- Ga de Jesus. Seu excesso de ternura a converteu. © arrependimento 6 seguido de seu efeito natural. Bla ouve, daqui por diante a voz tao doce de Jesus. Hevanta para Ble seus olhos cheios de lagrimas fara dizer-lhe em altas vozes seu enorme perigo ¢ la imensa desgracal... Uma virtude divina transformou a ovelha Infiel! Logo, @ alegria brilha no rosto de Jesus, ainda banhado das lagrimas que derramou sébre ela! Entao, no ouvindo mais que os impulsos do seu Coracao, Jesus esquece tédas as distancias. Wsta alma esta 14 diante d’file, e na qual aparecem 82 © _TRIUNFO DA_MISERICORDIA ainda os sinais de suas feridas, ndo é mais para fle uma pecadora. # uma ressuscitada. £ uma recém-batizada, é a espdsa de seu Coracao! # sua Conquista que Lhe pertence! Por isso € que tem pressa em Ihe provar que a ama como outrora, mais do que outrora, porque por ela, sofreu tanto! Ble a recebe em seus bracos, levanta-a até seu peito, aperta-a ao seu Coracdio e faz passar no dela alguma coisa da felicidade dfle. Toma-a sdbre seus ombros, e, triunfante a leva ao aprisco, onde mais nada, daqui em dianie, a distinguird das outras ovelhas que permanece- ram fiéis. Abl quem podcré jamais manifestar as ter- nuras misericordiosas de Jesus, 0 Bom Pastor! (1). Iv. — Zaqueu Zaqueu, convertido por Jesus, provoca, da parte do Mestre, esta animadora declaracio em favor dos pecadores: “O Filho do homem veio procurar e salvar 0 que estava perdido!” (2). Ora, de quem se trata aqui? Quem sio aquéles (1) Jo X, 1-16. (2) “Venit enim Filius Hominis quaercre quod perierat” (Luc XIX, 10) salvum facere © TRIUNFO DA _MISERICORDIA 83 que neste passo do Evangelho, sio 0 objeto todo es- pecial da misericordia do Salvador? Jesus o indica claramente: seu divino Coragao tem em vista antes que tudo os maiores pecadores, aguéles que esto mortos & graca desde longo tem- po, aquéles que, em todo caso, se julgavam ja “como perdidos” (*), isto é os desesperados, a esc6- tia do povo de Deus, a ultima classe da sociedade, ‘guéles dos quais se diz tao livremente e com tanta fieilidade: “Esta tudo acabado: Nao ha mais nada que fazer!” Entretanto aqui esta perfeitamente o objeto i predileg&o do Coragéo misericordioso de Jesus! textu sagradu név deixu divida alguna u éste ito. Se nao estiver ai o sentido déste “quod erat”, onde esta éle, e que torturas de espirito deverao impor-se os nossos Jansenistas mo- nos para atenuar as palayras do Mestre e subs- uuir & sua significacio natural uma interpretacéo lente arbitréria e menos comprometedora @ suas enganosas doutrinas? Quanto a0 mais, reparai na expressdo empre- ia pelo Salvador: “O Filho do homem veio ‘urar (*). Jesus nao se contenta de salvar aqué- ‘Ips déstes infelizes que se apresentam a fle. Seu (1) “Quod perierat” (2) “Venit enim Filins hominis quaerere”, 34 © TRIUNFO DA _MISERICORDIA divino Coraciio cheio de misericérdia, sedento da necessidade de’ perdoar, nfo estaria com isto sa- tisfeito. Quer ir mais longe. “Sao-Lhe _necessdrios”: (7). também aquéles déstes pecadores cujos crimes so enormes e tio numerosos que éles nfo acreditam mais na possi- bilidade de sua salvag&o, e que daqui por’ diante nem mesmo pensariam em levantar seus olhares para Deus, se Deus mesmo nfo descesse até éles. E por isso que Jesus deixou o céu e desceu nas pla- nicies lamacentas e cheias de mato do nosso exilio onde, Pastor incansAvel (2), Ble se deu a “procura” daquelas “suas ovelhas” (*) que passaram sob a tirania do estrangeiro (4). Ovelhas infiéis, sen dii- vida, mas sempre queridas & seu Coraciio, pois Ele nao deixard de chamé-las “suas ovelhas”. Ora, por muito incompreensivel que pareca aqui a misericérdia de Jesus, quem ousaria preten- der que o divino Mestre tenha falado levianamen- te? Seria uma blasfemia. Por conseguinte, que conclusao tirar, diante do texto de So Lucas ci- tado acima: (1) “Illas oportet me adducere” (Jo X, 16). (2) “Ego sum Pastor bonus” (Jo X, 14). (3) “IEE alias oves habeo” (Jo X, 16). (4) “Et alias oves habeo quae non sunt ex hoe ovili” (Jo X, 16). OQ _TRIUNFO DA MISERICORDIA 35 “0 Pilho do Homem veio buscar e salvar o que lava perdido”? Sendo aderir plenamente e ale- mente & sentenga de misericérdia pronunciada 1 Infalivel-Vefdade em favor dos pecadores? tenga pronunciada por Aquéle cujas palavras firmes que o'céu e a terra (*), iro levar sob os céus e em todos os séculos na alma e no fio dos “proscritos” esperanca, alegria ¢ con- i v. — A SaMAaRITANA. io! Lendo 0 Evungelho, vé-se que séde de per atormentava verdadeiramente o Coracao de 8! Nao é por isso, com efeito, que no principio do ministério pUblico, nés vemos o Salvador ir ao de Jac6é precedendo 14 uma pobre pecadora’ de aria, que dava motivo a falarem dela havia ito tempo, a respeito da qual o povo costumava tir, com escérneo, os nomes de seus cinco pri- maridos, e o nome daquele que ainda era 0 © companheiro de suas desordens! Jesus resolveu salva-la! (1) “Coclum et terra transibunt — verba autem mea non bunt =” (Mat XXIV, 35). 86 © TRIUNFO DA MISERICORDIA Foi certamente por isso que, fugindo da célere dos Fariseus, ciumentos de seus sucessos, Jesus quis passar pela Samaria, quando foi da Judéia para a Galiléia, Pois, em tais ocorréncias nfo era © caminho que os Judeus tomavam ordinariamen- te. Bles, com efeito, tinham o costume pelo menos os mais rigorosos, de percorrer,o longo desvio da Peréia, além do Jordio, quando iam da Judéia para a Galiléia, ou vice-versa. Assim, pensavam éles, ndo nos exporemos as afrontas dos Sama- ritanos e evitaremos a humilhante necessidade de Ihes pedir bebida ou comida! N&o assim Jesus: fle tinha outras preo- empagées! Ora, desde os campos que rodeiam Jerusalém donde vinha Jesus, até o poco de Jacé, situado ao pé do monte Garizim (‘) onde nés vamos assistir a0 emocionante encontro de Jesus com a Samari- tana, ha um pouco mais de quarenta quilémetros! Entretanto, a essa grande distancia, 6 pre- ciso acrescentar ainda o enorme incémodo do. ca- lor, particularmente térrido que oprimia 0 divino viajante! Pois estava-se, nesta ocasido, na sexta hora do dia, perto do meio-dia, como 0 nota expres- (1) Lé se mostra ainda agora aos viajantes 0 “Bir-Yacoub”, ogo que outrora Jacé mandou escavar para seu filho José © TRIUNFO DA _MISERICORDIA 37 samente o Evangelho (?), a hora em que 0 sol da “Palestina resplandece com mais fulgor e mais in- tensidade! i Chegado, finalmente, perto da antiga fonte die Jacé, Jesus, cansado, esgotado se assenta sobre © bocal do'poco com téda a simplicidade, 5; H ai que o Salvador decidiu misericordiosa- mente esperar a pobre pecadora que Ble tinha re- solvido reconduzir ao caminho da virtude! Meio-dia! A hora em que as donas de casa de Sicar vao ai fazer sua provisio de agua. Aj esté yma! , ¥ exatamente aquela que Jesus espera! Hla traz sobre a cabeca um pesado cantaro que The servira para tirar agua. Mas ela o leva ym facilidade e com graca, como costumam essas wulheres do Oriente habituadas como sao a stias Ges de carregadoras de 4gua que elas exercem ios 08 dias e até muitas vézes por dia! A mulher se aproxima da fonte. Bla vé, sem admiraco, sentado sdbre o bocal, 10 se fosse sobre um banco de pedra, o estran- ‘geiro que descansa. : ® um Judeu, inimigo de seu povo! Seu trajo ‘6 manifesta! (1) Jo lv, 16. 38 0 TRIONIO MISERICORDIA Mas pouco importa! Ela tirara Agua sem lhe dizer nem uma palavra,“segundo 0 costume dos Samaritanos com relagéo aos Judeus e recipro- camente. Ela dependura o seu cAntaro ao gancho da longa corrente que desce lentamente acionada pela manivela do pogo. is © cantaro sobe cheio de Agua até a borda, = 0 momento escolhido por Jesus para quebrar © siléncio.e comecar sua obra de conversiio! — Dé-me de beber, diz Jesus & Samaritana. Surpreendida pela intervencao insdlita do es- trangeiro; & mulher responde: — Como ousas tu ine pedir de beber, tu que és Judeu, 2 mim ‘que sou Samaritana? EntAo, lentamente, escandindo cada uma de fuas palavras afim de impressionar mais sua in. terlocutora, Jesus Ihe diz: — Se tu conhecesses 0 dom de Deus ¢ quem € Aquéle que te diz: “Dé-me de beber!” tu The te- tlas pedido primeira, e éle te teria dado Agua viva! O passo foi dado! © divin cagador feriu a présa que éle deseja, Ela ndo lhe escapard mais! Entao se trava, entre Jesus e a mulher uma discussao de sublime interésse O TRIUNFO DA MISERICORDIA 39 — Senhor, objeta a Samaritana, vés nada ten- des para tirar a Agua e o poco é fundo; Sore derieis ter essa agua viva? Serieis vos que nosso pai Jacé que nos deu este ‘poco? ai — Quem quer que beba desta agua, ee Jesus, teré ainda séde; mas aquele que ae a ‘gua que eu Ihe der nfio teré séde nunca m: Be agua que Bu Ihe darei tornar-se-A néle uma vente de agua jorrando para a vida eterna. Estranhas palavras estas! Mas admiremos, de passagem a ee déncia misericordiosa do Salvador, que quer i ponder as perguntas desta ae bela tay implicidade e erguer a alma del sa tao sem elevacéo, até as mais altas con- es! ag docemente, com bondade e uma none ‘ti sabedoria, Jesus levou a pecadora a oe 5 suas faltas; depois, tendo-a esclarecido Se ‘ito das profecias que anunciam a vinda do Jesus se revela stbitamente a ela em todo 0 ‘osplendor de sua missao divina: — O Messias? Sou Eu que te estou falando! A Samaritana fica confundida! Mas sua ot ‘versio é total, imediata! Ela cré, ela é feliz e ‘torna logo, junto a seus compatriotas, a doce eae jJosa mensageira da vinda do divino Redentor! 40 0 TRIONFO DA Misericorpis Vi. — A MULHER Aputrena, mm Hs ue '@ miserieérdia do Coragao de Jesus dos astiens: a morte pela lapidacdo, ssim, sob a Lei : ogee i Mosaica eram tratados os Gan ; a ee cujo oprébrio, nado &: preciso -lo, sObre o; 6 femili ae cue S parentes e sébre téda a Ora, durante a vida pubii a. X Pliblica de Jes her foi manifestamente surpreendida en ye, tu, ‘preendida em adul- Ent&o, triunfantes, i ote ee Escribas e os Fariseus eee ee ousaram dizer a Jesus: adultério, ou rare fol sutpreenaida em oes s, na Lei Apedrejassemos tais pecadores! (1). ordenou que (1) Jo VIM, 5: “In lege autem, huiusmodi lapidare!” Moyses mandavit nobis O.'TRIUNFO_DA_MISERICORDIA AL Ah! Agora o apanharam, éste Jesus, que tan- tas vézes os humilhou profundamente diante das multidées. Mais de uma vez, com efeito, o Salvador, tinka manifestado a alma podre déstes Doutores em Is- yael, enquanto éles se esforgavam em dissimular seu procedimento criminoso aos olhos do povo sob 0 exterior de uma picdade fingida e de um respeito so aparente da Lei. Sepuleros caiados por fora, mas cheios de podriddo por dentro! Jesus, 0 divino Jesus, tinha conquistado as multiddes com suas pregagdes Iuminosas e 0 exem- plo de sua bondade para com todos e da sua mise- ricérdia relativamente os pecadores, & mesa dos quais Ble nfo desdenhava assentar-se (*), como nés 0 lembramos no principio déste capitulo. files sabiam muito bem, éstes escribas e Fari- seus orgulhosos, os quais, por isso mesmo, resol- veram perder a Jesus no espfrito do povo obrigan- do-O a pronunciar sébre esta pobre mulher uma sentenca das mais severas! — Vamos! Vamos! Fala entao, parecem dizer- Lhe atrevidamente, certos como esto do sucesso de seu malicioso estratagema. E tanto mais insistiam para provocar o julga- (1). Mat, IX, 11: “Quare cum publicanis et peccatoribus man- Aduoat Magister vester?” 42 O TRIUNEO DA: MISERICORDIA — Aquéle dentre vos atiredthe a primeira petra ee oe eee pore pés-se outra vez 2 escrever. 2 ae sacudidos por esta apéstrofe ines- p ome Profeta, igualmente desejosos de saber ge le tinha escrito. Escribas e Fariseus vie- Aes oe sObre Ble e imediatamente foram apés outros, os mais 4 , velhos em primeii ‘ugar, dar-se vergonhosamente a fuga! sist Out ; a ae ne a um comentador, Jesus acabaya ee malicia, déstes hipécritas defensores poe 2 icando A presenca do poyo, seus pe- ao ie a muito mais graves do que o da ulher, to maltratada por éles, obrigando- O_TRIUNFO DA MISERICORDIA 43 os assim sob o péso da vergonha, a abandonar sua présa. Logo, o atrio do Templo, onde nés supomos que se passou esta cena trégica e grandiosa, sé esvasiou. Os esbirros orgulhosos, acusadores e carce- yeiros da pecadora vendo-se mais culpados do que ola, a tinham abandonado com grande pasmo da multidaio, testemunha déste drama divertido! Entao, continua o Evangelista Séo Jofo, Jesus tendo-se reerguido, e néio vendo senfo a mulher, The disse: — Mulher, onde esto os que te acusavam? ¥ a mulher respondeu : — Ninguém, Senhor. Ela teria podido dizer: Vés lhes tirastes toda 4 vontade de o fazer, Senhor. Porque, em vossa (nefavel misericérdia, para me salvar do furor dé- Jes os pusestes na frente de suas proprias inigiii- dades e, cheios de confusio, se puseram em fuga! Entdo Jesus acrescentou, em forma de perdao total: — Vai, mas niio peques mais! (*) (1) Aqui a misericérdia de Jesus & tio manifesta que nas Driinelias idades da Igreja alguns grupos de cristios hesitaram em serie esta passagem no Evangelho, receando que 0 procedimento 44 ©. TRIUNVO DA MISERICORDIA UNO DAS MISERICORDIA vi. — Mapazena Madatena (1) a grande pecadora, a pecadora publica, da qual Jesus tinha expulso sete demd- nios (*), mas dai em diante penitente, porque con- quistada pelo Corac&io de seu bom Senhor Salva- dor, 'conhece muito ela também os tesouros de amor e de misericérdia que encerra o Corag&o de Jesus! Assim também ela se atreve a aproximar-se de Jesus, enquanto fle se achava a mesa de Simao © fariseu, com seus discipulos. Ela chora, a seus és, as faltas passadas, rega-os com suas ligrimas de arrependimento e de amor, enxuga-os com seus cabelos e os cobre de beijos! E Jesus a deixa fazer tudo, apesar da admiraeao dos Judeus! Jesus deixa fazer a esta mulher, cujos. crimes. conhecidos de todos, encheram de indignacdo tédas as conscién- clas, ¢ todos os coragées de desgésto! Entretanto, com grande escandalo dos Judeus que n&o conhe- ciam, éles, como Madalena, os tesouros de miseri- cérdia e de bondade que transbordam do Coragao de seu bom Senhor, Jesus se deixa tocar por esta mulher de ma vidal... A se cardloso de Jesus se tomasse una facilitacéo para cortos pe- cades nio menos graves qufio vergouhosos, Cf, Fillion (Sao Jodo, p. 162-166). (1) Lue vm, 36-50. (2) Mare XVI, 9, VIE, em nota ¢ sew grande comentério, ! alma, depois disto, podera : ace Peers pecados, sejam quais a “piados, alias, nas lagrimas do arrepent = ne. as salutares da Peniténcia, o ee 2 i com seus lébios a Carne imaculada do Cris la, se nutrir? ; Se tretante, Jesus fara mais ainda, eee de Madalena, a convertida de seu Coraci a aa yeabilitaré de alguma ee eee eRe aetna piedozas mulhoros que serio as esl inn Ric acus Liltimos sofrimentos! (*) E depois UR cxsigreiczo, Jesus n&o se penne ae amor de sua ilustre penitente, 2 eps ma de suas primeirissimas aparigées (*). Quereis conhecer 0 epilogo desta maravilhosa storia? 5 os na vida de Santa Margarida, de oor rs, esta grande pecadora convertida, da qual es depois (#), que um dia Jesus, one solida-la na pratica generosa da peniténcia, (1) ‘iErant autem et mulieres de longo aspicientes, inter leat Maria Magdalene” (Marc XV, 40). sn Heid) “Surgens autem mane, prima sabbati, appa fagdalene” (Mare XVI, 9). ae is) oe Ri, Pe, Leopoldo de Cherance, 0. M. C., casa edi Duclot Gembloux. (A) Cap. I, n2 18. 46 O TRIUNFO DA MISERICORDIA qbareceulhe acompanhado de Santa Maria Ma dalena, cuja testa a Iereja ia celebrar: “Vas tu, Peniténeta na caverna” (de la, sainte Baume), Eis aio Coracdo de Jesus na maravilhosa mani: festacéio do seu amor e de sua misericérdia! A vista dos santos atrevimentos de Madaiena, de um lado, das inefaveis temuras ¢ das tocantes atengdes de Jesus para com Madalena, por outro lado como também da espléndida Tecompensa de que a grande pecadora goza hoje, qual Pecador, sincera- mente convertido, poderia duvidar ainds do seu perdao e dizer que tudo esté acahado ‘quanto a vida de unio e de intimidade com o Coracao de Jesus? CAPITULO IL Jesus manifesta ao mundo a misericérdia de “eu divino Coragao durante sua paixio. I — Jupas A Judas (), que o vai trair, Jesus lava os pés, de o enternecer e converter! Judas fica insen- i. Entretanto o Coragéo de Jesus nao desani- . No jardim das Oliveiras, #le tentara um ulti- io esf6rco para salvar seu apéstolo infiel. No mo- ito em que éste, com um beijo pérfido, realiza crime, Jesus, longe de o repelir, Ihe diz, com expressdo da mais doce e da mais terna repreen- i “Meu amigo, que vens tu fazer aqui!” () Mas como péde Jesus suportar que o Traidor iptimisse seus labios impuros sObre seu rosto, di- ‘0? Jesus teria devido, pelo menos, evitar éste jo imundo. — fle no o quis para dar uma nova (1) Jo Xm, 1-11. (2) “Amice, ad quid venisti?” (Mat. XXVI, 50). 48 © TRIUNFO DA MISERICORDIA prova de sua compaixao e dos esforgos da sua mi- sericordiosa bondade que ardentemente desejava tocar 0 coragao de seu apéstolo infiel e ganha-lo novamente a seu amor, ‘Trabalho perdido! Judas, insensivel e domi- nado pela cupidez — por trinta dinheiros — entre- gard seu divino Mestre,e, chegando a. tarde, de- sesperado, ele se enforcara. Ora, 6 oportuno lembrar aqui a arrebatadora histéria que conta René Bazin em seu livro inti- tulado: A Doce Franga (+): “Pouco tempo depois da minha visita ao mu- seu de Cluny, eu assistia a uma ligéo de catecismo que era dada diante de uma centena de meninos, numa paréquia de Paris. O quarteirfio era pobre, a Igreja também. No momento em que eu entrei, o vigario contava a traigéo de Judas que vendeu seu Mestre. Ble terminou sua narracdio com estas palavras: “Judas foi tomado de desespéro e se en- forcou”. Logo, entre os pequenos, um dos mais jovens se levantou, subiu sobre o banco e féz’ sinal que @le queria falar. — Eu nfo fiz pergunta alguma, disse o sacer- dote. Que entende fazer? — Dizer o que eu teria feito se fésse Judas. (1) Paris, De Gigord, éditeur, rue Cassette, 15. © _TRIUNFO DA MISERICORDIA 49 — Diga entao. Os outros garotos estavam virados para o lado do companheiro. E éle, sem nenhum médo, muito eonfiado, porque sentia que era o seu coracdo que falaya, respondeu: — “Eu me teria dependurado ao pescogo do bom Jesus” (*). 1. — Srio-PEpRo Siméo-Pedro 6 0 chefe escolhido (*) da Igreja Cristo, Aquéle que vai encarnar todos os pode- do Salvador, até o seu poder de faumaturgo, juéle por quem se abalarao o céu, a terra e os ernos (%). Aquéle finalmente sem o qual nem dedo se levantaré sdbre a superficie do globo(*). Ora, depois de promessas tio magnificas e que iunca nem anjo, nem homem tinham ouvido, que lo a ser Pedro, que ja era o Chefe incontestado Colégio Apostélico, e Confidente do seu bom (1) La Douce France, p. 77. (2) “Tu es Petrus et super hane petram, aedificabo Eccle- yn) mean” (Mat, XVI, 18). (3) “Bt tibi dabo claves regni caelorum, Et quodcumque It- \werls super terram, erit ligatum et in coclis; et quodcumque iveris super terram, erit solutum ct in coelis” (Mat. XVI, 19). (4) “Tu exis super domum meam, ot ad tui oris imperium syets populus obediet” (Gen, XL, 40). 50 O _LRIUNEO DA _MISERICORDIA = Mestre, a Testemunha privilegiada de suas glorias €) e de suas tristezas?... (2) Um renegado e renegado até trés vézes (*). Fazia frio. Os satélites e os criados tinham acendido 0 fogo no meio do patio e distribuidos ao redor do braseiro, assentados uns, outros de pé, se aquentavam esperando o resultado déste negocio. Sobreveio a criada do Pontifice, encarregada da guarda da porta. Tendo percebido 0 Apéstolo, ela se Ihe aproxima e encarando-o atentamente: — Eis aqui um, disse ela, que estava com o Nazareno. Depois, fixando-o bem no rosto: — Sim tu estavas com Jesus da Galiléia! Pedro negou diante de todos: — Mulher, eu ndo o conhego!... eu nao sei... eu ndo posso compreender o que tu dizes! Ento, éle saiu do pAtio dirigindo-se para o vestibulo: mas, assim que 14 chegava, outra criada © reconheceu e gritou diante de todos: — Este estava certamente com Jesus de Nazaré! Um instante depois, um criado o encontra: — Também tu, Ihe disse, pertences a essa gente? (1) Mat. XVI, 1-9. (2) Mat. XXVI, 87 ¢ Mare, XIV, 93, (3) Mare. XIV, 72. © _TRIUNFO_DA_MISERICORDIA BL Neste momento 0 galo cantou. Pedro volta ao pé do fogo e, ticando de pé, torna a se aquentar. — No eras tu do niimero de seus discipulos? ‘perguntaram-lhe os famulos. Uma segunda vez, nega-o com juramento: — Nao repito que ndo! eu néo conheco abso- liudamente éste homem! Perto de uma hora depois, os que estavam esentes, Ihe disseram: — Certamente, tu és da quadrilha, porque tu da Galiléia: tua linguagem te manifesta, Um dos criados do Pontifice, parente daquele quem Pedro tinha cortado a orelha o acusou por ja vez: — Nao te vi no jardim com éle? Pedro negou ainda, e se pés a imprecar e a itiplicar os juramentos e os protestos: — Nao, repetiu éle, eu nao conheco éste ho- eu ndo sei o que vés quereis dizer! Eo galo cantou pela segunda vez ('). O crime estava consumado: Haviam terminado os belos protestos de amor ile fidelidade de Pedro: “Senhor, ainda que todos se escandalizas- por V6s, eu néo me escandalizaria! (1) “Et statim gallus iterum cantavit” (Mare, XIV, 72). 52 © _TRIUNFO_DA_MISERICORDIA — Eu te digo, na verdade, the respondeu Jesus, esta noite mesmo, antes que o galo cante duas vézes, tu me terds negado trés vézes!” Mas com a maior animacdo, insistiu e disse — Ainda que me fésse preciso morrer convos- co, eu nao Vos renegaria ('). Ora, eis que ¢ chegada a prova do amor, da fidelidade jurada. Boas as palavras; melhores po- rém os atos. Pedro nfo teve a coragem de provar com atos a sinceridade de suas afirmacées. Pois nessa mesma noite, desde antes que o galo cantas- se a segunda vez, como Jesus tinha profetizado, Pedro, o Principe dos Apéstolos, Aquéle que logo reuniria em si todos os poderes, renegou cobarde- mente seu Mestre! Sem dtivida alguma, nfio se deve mais pensar na elevagao de Pedro ao supremo Pontificado! Nao seré mais éle que ficaré no lugar de Jesus, Nao sdmente, éle nfo seré mais o chefe dos Apéstolos, mas um tal procedimento da parte déle merece a exclusio para sempre do Colégio Apostélico, Pensamentos humanos ésses! Jesus nao se detém um instante nessas consi- deracées, Jesus & Deus e, porque 6 Deus, sua misericér- (1) Mare, XV, 29-31, O TRIUNFO DA _MISERICORDIA 53 dia é infinita e nao deixa de perdoar ao arrepen- dimento sincero. Nisto esta tudo e isto é suficiente para qual- quer que queira contar com as misericérdias divi- NaS: arrepender-se. Tais foram, depois do seu pecado, os senti- mentos de Pedro: Depois que 0 galo cantara a se- yunda vez, 0 Apéstolo se lembrou da palavra que Jesus lhe tinha dito, quando Ihe disse a triplice ‘egacio e, logo se pés a chorar ('). Desde entao, Jesus procurou a ocasifio de ver, da que fésse s6é por um instante, seu Apéstolo el afim de confirm4-lo em seu arrependimento em suas disposic6es salutares. Neste momento o cortejo donde se levanta- os gritos e clamores da criadagem, dos Fari- e da soldadesca romana que rodeavam a Je- is, éste veio passar diante do Apéstolo consterna- ) O olhar de Jesus, todo cheio de misericérdia ¢ amor encontrou-se com o de Sim4o-Pedro (’). Apéstolo que o renegara leu nos olhos de Jesus compaixao e a ternura. Ouviu sair dos labios, bora mudos, de seu Salvador, o perdiio que desde tvansfigurou sua alma, (1) Mare. XIV, 72. (2) Lue. XXII, 60-61. 54 © TRIUNFO DA MISERICORDIA O olhar de Jesus comoveu de dor e de amor o coragaéo de Pedro e inundou o seu rosto com um dilivio de lagrimas que nao estancarao mais, Também Jesus esta satisfeito com o arrepen- dimento de seu Apétolo. Ble o confirmaré, no eleva- do cargo de que o queria investir. Mas 6 um cargo tio elevado, tio sublime, que além de sua imensa dor, Jesus exigiré de Pedro uma nova e solene expiaciio! Quando depois da sua ressurreigéo Jesus apa- Teceu aos Apdstolos 4s margens do Lago de Tibe- Miades instituin Pedro Chefe soberano de sua Tereja. Todavia, antes disso, Jesus Ihe perguntou, trés vézes consecutivas, mostrando com uv olhar os Cutros Apétolos reunidos ao redor diile: “Pedro, me amas tu mais que éstes?”: cada ver, Pedvo Tespondia: “Sim, Senhor, Vos sabeis que eu Vos amo! E Jesus dizia: “Apascenta os meus cordei- ros!” Entretanto, A terceira vez, 0 Apéstolo com- Preendeu que Jesus queria fazer alusdo a sua tri- plice negacao e que Ble queria, sem duivida Ihe fa- zer explar & presenga de todos por uma triplice Protestacdo de amor!... Entdo, néio podendo mais Se conter, Pedro entregando-se ao amor misericor- Gioso de seu bom Mestre exclamou, com os olhos cheios de lagrimas: “Senhor, Vés sabeis indo, Vés sabeis muito bem que eu Vos amo!” O_TRIUNFO DA _MISERICORDIA 55 E Jesus Ihe disse: “Apascenta minhas ove- thas!” (3). Acabou-se, a expiagio ¢ completa, Jesus nao exigird nada mais. Pedro, ainda ontem renegado, 6 constituido o Chefe Supremo da Igreja do Cristo. Ble sera o Pastor incontestado dos cordeiros e das ovelhas, dos fiéis e dos Pastores! Nao é verdade que o procedimento de Deus com relacéo a Pedro que sera amanha o Chefe de sua Igreja, é absolutamente inexplicdvel, descon- certante? — Sim, de certo, e se nés formos buscar no fundo do Coragio do nosso Deus a razao déste pro- cedimento, a chave déste enigma, nunca chegaria- Mos @ compreender. Quereis ent&o, para vés mesmo, amigo leitor, millagres semnelhantes, vos que talvez tendes imt- tado as prevaricagoes de SimAo-Pedro? Imitai tam- ‘bém, em seu arrependimento e em sua confianca, este admiravel Penitente; lancai-vos completamen- te no abismo insonddvel do Coracéo de Jesus di- zendo-Lhe, com todo 0 fervor de vossa alma e todo © abandono de um menino para com o melhor e (1) “Pasce oves meas!” (Jo XXI, 15). 56 © TRIUNFO DA MISERICORDIA mais terno dos pais: “‘Sim, Coracéo misericordioso de Jesus, tenho Contianca em Vés? (+) Teitor! quem quer que sejas, acaso féste tu mals longe; desceste mais profandamente no abie. mo do que Pedro e do que Judas, amtos sacerdo. tornado traidor, eo outro, renegado, provocam, pelo vulto e profundidade, mesmo de Sua inigiii- Gade, a compaixéo do divino Coracéo de Jeans! Todavia, néio mecas o teu pecado pelo déles, mas icmbra-te.da, misericrdia infinita de teu Salvado. Olha tuas iniqilidades através do Coracéo inefi. Yelmente misericordioso de Jesus, Somente entio, compara e tira as conclusdes, (2) (7) gett jpettvel que vos pareca a diving bondade, levada are a expicie de excesso que acabamas de considenn a imagom Aue dela formamos em nés 6, entretanto ainda muito incompleta, Nenhumoa ‘figura, meahuma comparaglo nos pode der ‘hon ‘uma ‘dia perfeita, pela simples razio que a bondede de Dace infte poten ie m8 tnteligéncia essencialmente fintta. O finto foe Podera compreender 0 infinito” (B, Vercrayssa, §. > Mental de Piedade, I, M1, p, 418). (2) Lembrando um dia a seus religiosos a Palavra de Sio Joo: “Si quis peccaverit, advocatum habemus apud Patrem Jesum ° Cisistum, Se alguém pecar, temos Jesus Cristo por advogado junto do Pai” (1 Joio TI, 1), Sao Bernardo (Epist. 95) comenta assim: “E para que ninguém porca coragem, quanto mais intensamente Salquer se voltar vordadeiramente para Deus com tole e seu coragio, obterd certamente misericérdia, Se o Principe dos Apés- ‘olos, depois de ter freqiientado por tanto tempo a Ercole ao Jesus O TRIUNFO DA MISERICORDIA 37 m1. — Os ALGozEs pe Jesus Jesus Cristo vai morrer sébre o patibulo da infamia. E a sua prépria cruz vai se tornar o Trono da miserieérdia do seu divino Coragao! Jesus acaba de ser suspenso entre o céu e a terra! Os algozes, os fariseus, a populaca insultam @ seus softimentos. Sofrera Ele ser ultrajado nesses momentos? Nao mandaré seus raios sébre seus in- Sultadores? Ah! pensar nisto ndo é conhecer 0 Co- Yacdo de Jesus! Jesus fala, e que diz Ble? “Meu Pai, perdoai-ihes porque ndo sabem o que fazem” () Gristo, © recebido tantos favores dBle, caiu contudo tio grave- mente e se depois de uma queda téo enorme, depois de ter rene. Bado a seu Mestre e sou Deus, foi restituldo a0 estado de grace Mao eminente, quom pode desesperar de seu perdic? ‘Tendes és Pecado, no mundo, mais do que Sto Paulo? ou na religito, mais Alo que Sio Pedro? Se um € outro, pelo seu arrependimento e sua Peniténcia, mereceram nao sdmente que Ble Ihes perdoasse, mas fie os elevasse a um grau ido sublime de sautidade © de gléria, {mitai-os em sua peniténcia e vés podereis nio ssmente voltar 20 primero estado onde vos achiveis antes de vossa queda, mas ainda chegar a uma perfeicio maior e mais completa”, (1) Luc. XXII, 34. “Pater, dimitte illis; non enim sciunt quid faciune”, 58 O TRIUNFO DA MISERICORDIA 1. — O Bom Laprio Um dos ladrées.cruciticados com Ble se reco- menda & sua lembranca: “Senhor lembra-te de mim, quando estiveres no teu Reino! & um homem cujas mios sao cheias de iniqitidades, Pouco impor- ta! seu arrependimento € suficiente ao Coragao de Jesus e, do alto de sua cruz, Jesus 0 canoniza: “Em verdade eu te digo, hoje estardés comigo no meu paraiso” (1), v. — O Dom Dz Sua Mir Por que e de que maneira vai Jesus dar-nos testemunho todo particular de sua misericérdia dando-nos sua Mie para ser nossa Mie? s Testa, apesar de sua inefavel e inesgotavel misericérdia conserva, entretanto, o exercicio da justica. Ora, pelo receio que esta venha as vézes, por causa dos nossos pecados, embaracar 0 exercicio de sua misericordia, Jesus quis nos confiar todos & sua Mée porque, por uma disposigéo especial de sua amorosa Providéficia, Maria nao recebeu em particular, na Economia da salvacéo das almas + a ae Lue. XXII, 42. “Amen dico tibi hodie mecum ‘eris in O_TRIUNFO_DA_MISERICORDIA 59) sendo 0 atributo da misericérdia, excluindo o da justica. £ por isto que o Cardeal Hugo, citado por Santo Afonso nas Glorias de Maria (*) chama Ma- ria “a pacificadora universal” ¢ a compara As Ten- das de Salomdo (2) onde, a diferenga das de Davi, nunca se tratava sendio de paz. © autor das Glorias de Maria tira ainda da Sagrada Escritura outra figura de Maria néo me- nos bela nem menos sugestiva do que a precedente. Como Sao Boaventura e Santo Alberto Magno, Santo Afonso chama Maria “ a Pomba de Noé” que traz & Igreja a paz universal (*). Assim, segundo éstes grandes doutorcs, Maria 6 Umicamente a Doce Mensageira que, nunca traz, nas pregas de seu manto real seniio mensagens de paz e de reconciliacio, e cujas mos veneraveis néo trazem senéio ramos de oliveira! Aproximem-se ent&o os pecadores, por culpa- dos que sejam, com plena e inteira confianca, 20 Trono de sua celeste Me, contanto que de wma vez, estejam decididos a mudar de vida. Maria é, com efeito, téda misericérdia. Por isso é que a Igreja gosta de comparé-la a Ruth re- (1) Salve Regina, cap. VI. (2) Cant. VIII, 10. (3) Salve Regina, cap. VI. 60. © _TRIUNFO_DA_MISERICORDIA colhendo as espigas no campo de Booz, as espigas perdidas ou abandonadas pelos ceifadores (‘). ‘Tal é Maria, nossa Mae. Respigadora incansé vel vai percorrendo os campos do apostolado de todos os ceifadores de Deus seu filho, preocupada, sobretudo em achar e recolher as almas, cujos pe- cados e inumeréveis recaidas cansaram os apés- tolos do Evangelho; espigas perdidas ¢ abandona- das que Maria se esforcaré de reconduzir ao celei- ro do Pai de familia. “Para éstes pecadores, diz 0 grande Doutor da oragdo, que juntam, ao desejo de se emendar, a fidelidade em servir e invocar a Mae de Deus, eu sustento que é mortalmente impossivel que éles se percam!” 0 que Santa Brigida ouviu um dia da boca do proprio Jesus Cristo. Ble dizia, dirigindo-se a sua Mae; “Vés prestais vosso apoio a quem quer que deseje sinceramente voltar para Deus e, nunca deixais qualquer déles sem consolacéio” (2), Por sua vez, Santo Anselmo ¢ Séo Bernardo exortam o pecador a que se recomende a Maria dizendo que se éle é indigno de ser ouvido, Maria estenderé contudo sua mio poderosa para éle, porque seus méritos Ihe valeram o privilégio de (1) Obra citada, cap. IML p. 128, (2) Salve Regina, eap. I, p. 53. O_TRIUNFO_DA_MISERICORDIA oL obter para os pecadores todas as gracas que Ela solicita de Deus em favor déles (+). Santo Afonso conclui dizendo: “Tudo quanto esta Rainha clemente exige do pecador, é que s¢ recomende a Hla e que tenha a sincera intencdo de se corrigit”. Promessa que Maria féz claramente, Ela mes- ma em pessoa, a Santa Brigida: “Por quanto cul- pavel seja um homem, se éle se dirige a mim com um verdadeiro arrependimento, Eu estou pronta a acolhé-lo sem demora. Eu niao faco conta de sua faltas, mas sdmente das disposicdes em que esta nfo recuso ahsolutamente aplicar o remédio as suas feridas e curd-lo, porque Eu me chamo e sou a Mae da misericérdia”. ‘A uma tal mensagem vinda do céu, qual co- yacdo poderia resistir? Oracio Da Anma Acrapscrpa (?) OMe bondosissima d’Aquéle que disse: “Nao so os que tém satide que precisam do médico”, (1) Obra citada, cap. T, p. 55. 5 (2) Extraida da Arte do utilizar suas faltas segundo Sio Francisco de Sales pelo R. Pe. Tissot, &* P., cap, VIIL casa de Beauchesne, Paris. 82 O TRIUNFO DA_MISERICORDIA © noutra passagem: “Perdoai até setenta vézes sete vézes”, quando entiio as nossas recaidas po- derAo esgotar vosso poder ou a ternura de vossas solicitudes? Vés ides buscar 0 petador rejeitado de todos, v6s 0 abragais, vés o aqueceis, vos no des- cansais sem que o tenhais curado. “Eu sou 0 vosso doente, salvai-me!” “Tuus sum ego, salvum me’ fac!” Tal seré todos os dias do meu exilio, meu grito de esperanca. Quanto mais eu lembrar minhas quedas pas- sadas, mais Vos recordarci a Vos mesma, 6 Maria, que Vos tivestes o poder e a bondade de me le- vantar delas, e mais também me julgarei certo que Vés néo me abandonareis curado s6 pela metade. E @ por meio de Vés, 6 Maria, minha Mae, que eu espero ir um dia, ao céu, cantar as infinitas misericédias de Deus e as vossas por téda a eter=- nidade! “Misericordias Domini in aeternum can- tabo!” (). Amém (1) Si 88, Publicado no site http://www Jeiturascatolicas.com/ CAPITULO II Jesus manifesta ao mundo a misericérdia de seu divino CoracHo pela instituigio do Sacramento da Peniténcia. A misericérdia do divino Coragéo de Jesus se reyela n&io menos admiravelmente na instituicéo do sacramento da Peniténcia, que se poderia cha- ‘mar o sacramento de misericérdia por exceléncia. Pois n&o é pasmoso que o nosso Deus tenha prepa- do antecipadamente o remédio as nossas fraque- ‘yas e que Ble chegue até a nos assegurar que néo far excepedo de nenhum crime, por enorme que seja? A declaragao de Jesus Cristo €, com efeito, las mais formais:Tudo aquilo que vés desligardes Adore a terra serd desligado no céu” ("). Alids, nfio tinha dito precedentemente a seus jpulos que “todo pecado e téda blasfémia serd perdoado aos homens” (?) — e, outra vex nfo de- (1) Mat. XVI, 10. (2) Mat. XII, 81-88 e Marc. IIT, 28, 4 © _TRIUNFO DA MISERICORDIA clarava Ble a Pedro que nfo se devia contentar de perdoar sete vézes, mas que era preciso tazé-lo “até setenta vézes sete vézes” (*) isto € sempre? Ah! que diferenga entre éste banho de salva- ¢&o e a piscina probitica de que fala o Evangelho! () Nesta nao havia cura senfio para um s6 doente. Naquele o restabelecimento alcanca todos aquéles cujo arrependimento é sincero e a resolucio firme. Ha entretanto entre uma e outra alguma se- melhanga. E que no Sacramento da Peniténcia, como outrora na piscina probatica, todos os males so radicalmente curados, Prodigio assombroso sem diivida o que executa o sacerdote no momento em que, reyestido por Deus de um poder scm limites, vai pronunciar sébre seu penitente as palavras milagrosas! (1) “Dicit illi Tesus: Non dieo tibi usque septies: sed usque septvagies septies” (Mat. XVI, 22). (2) Chamada em hebreu: “Bethsaida”. Bla era rodeada de cinco pérticas, sob os quais jazia uma multidio apertada de en- fermos, cegos, coxos, paraliticos esperando 0 movisaento da agua. Em certos momentos, 0 Anjo do Senhor descia & piscina e a Agua se agitava, Ora, aquéle que, primeiro, It entrava depois do movi- mento da agua era curado do sua doenca, qualquer que fésse (CE Jo V, 15). A piscina probitica era um vasto reservatério rodeado de constragies magnificas. Vé-se ainda hoje a bacia desta maravilhosa Piscina, Ela era chamada “probatica”, isto & “das ovelhas” por- que ela estava perto da porta pela qual so faziam entrar em Jo- rusalém as ovelhas destinadas aos sacrificios do Templo. (Weber). © TRIUNFO DA _MISERICORDIA 65 Prodigio mais admiravel do que o realizado pelo proprio Cristo sdbre Lézaro “morto havia quatro dias e que jé cheirava mal” (*) pois que fagui se trata de um cadaver sepultado nas sombras do pecado mortal desde talvez inimeros anos! Prodigio mais maravilhoso ainda do que o de Moisés, que, com uma s6 pancada de sua vara fa- via sair da rocha uma 4gua limpida e abundante. Entretanto, um dia, Moisés se admira desta gran- le maravilha. A vista das prevaricagdes de seu “povo, reunido ai diante déle e diante de Aarao, ita como fora de si: “Ouvi pois, incrédulos e re- Itados que sois, poderemos fazer sair Agua déste shedo?” (2) — Ora, esta hesitacéo, diz o texto ado, desagradou ao Senbor: “Porque vos nao \des crido & minha palavra, diz Jeova, dirigin- se a Moisés a Aarfo, vos niio entrareis na terra cometidal” (°). Mais perversos, talvez, do que 0 povo Hebreu mais ingratos do que éle para com um Deus 0 , j& nos perdoou mil vézes nossas inigiiidades, estivemos, nés também prestes a participar la hesita¢éo de Moisés no momento de ir ferir 0 (1) Jo XI, 39, (2) “Audite, rebelles et increduli. Num de petra hac vobis wun poterimus ciicere?” (Num XX, 10). (8) “Quia non eredidistis mihi... non introducetis hospo- Jos in terram quam dabo eis” (Id., 12). 66. © _TRIUNKO DA MISERICORDIA Rochedo divino, isto 6, 0 Corag&o de Jesus, para de 14 fazer brotar a dgua salutar de sua miseri- cérdia? Incrédulos que nés somos! () Talvez Deus mede a fidelidade & sua palavra pela nossa fideli- dade ao seu servico? — Jesus falou, isto basta! Credo, eu creio — porque “Deus 6 fiel em todas as suas promessas” (”), Lembremo-nos ainda das pa- lavras de nosso divino Salvador a Maria Madalena: “Aquéle que cré em mim, ainda que tivesse morrido, viverd!” (*). E digamos-Lhe com S&o Pedro, no entusiasmo (1) “0 sontimento que dove dominar numa alma. que se Girige a0 Deus do perdio, € a conjlanga, Esta confianca deve ser inabalécel como 0 fundamento sdbre 0 qual cla se upuli’¢ que ttaz éste belo nome “a miscricérdia”, A miscricérdie, compreendet-o bem, néo pode nunca separar-se de eds, quatsquer que sejam suas decepedes, ela nto pade nunca cagotar-se, porque dla é alimentada para a eternidade mesma pelo sungue de Jesus ainda fumegante e por sua oracdo que, sem cosear se levanta entre nés ¢ 0 castigo! Parece quanto ao resto, que Deus mostre grande tendéncia a se despojar do dircito de recusar 0 perdao, incluindo-o mim sacra. mento especial entregue nas méos da Igreja”. (Ch A pritien pro- gressiva da confissio, p. 90). . (2) “Fidelis Deus in omnibus viis suis” (SI. 144). (3) “Qui credit in me, etiam si mortuus fuerit, vivell (Joao XI, 25). Ajuntemos ainda a éste texto a Passagem seguinte do Apocalipse: “Beati, qui lavant stolas suas in sanguine Agni: nt sit potestas eorum in ligno vitae” — “elizes, portanto aquéles que lavam suas vestes no sangne do Cordeiro, para terem parle na frvore da vida” (Apoc. XXII, 14) © _TRIUNKO DA MISERICORDIA 67 de nossa fé, de nossa sincera gratiddo e de nossa admiracaéo profunda: “Senhor a quem entdo ire- mos rds? Sdmente Vos tendes as palavras da vida eterna!” (*). Enfim, aproximemo-nos com a maior boa von- tade do Sacramento da peniténcia sabendo que a ‘confisséo é uma reabilitagdo perfeita aos olhos de Deus e dos anjos. — Pela contissio, com efeito, (evidentemente, ndo entendemos falar aqui senio da confisséio revestida das qualidades que fazem dela um ato salutar) 0 homem renega e condena completamente um passado de crimes, deplora sua ‘mé vida e volta as costas a todos os seus inimigos. ‘Ble passa, numa palavra, do campo dos revoltn- ‘s0s para as fileiras do exército regular do Cristo. Ble se torna, desde entiio, 0 companheiro de armas los Santos da Igreja militante, como também das sagradas falanges da Igreja triunfante, sua pode- vosa e invencivel Aliada. Melhor ainda: Pela sua confisséo, 0 homem deixa os seus farrapos de miséria para revestir a toga dos escolhidos, téda brilhante de candura! ‘Além disso, esclarecidas e fortificadas pela graca sacramental, sua inteligéncia e sua vontade encon- tvam disposicdes e energias novas que fazem déste (1) Respondit ergo et Simon Petrus: “Domine, ad quem Wimus? verba vitae aeternae habes” (Jo VI, 68). 68 DA_MISERICORDIA convertido um homem de combate, um soldado valoroso, um cavaleiro do Cristo téo resplandecen- te de beleza moral e jf téo aureolado de gléria que parece — aos olhos dos santos — ndo se ter nunea manchado de crimes. Tal é 0 ensino da fé dos Santos Padres ("). Ah! nao € verdade que o Sacramento da pe- niténcia 6 a reabilitagéo das almas e reabilitagao tao perfeita aos olhos de Deus que ela nao tem nada comparavel com as nossas pretensas reabi- litagdes terrestres, & que estas sio obra dos ho- mens e aquela é a Obra do mesmo Deus, (1) “Asperges me hyssopo et mundabor: lavabis me, et su- per nivem dealbabor” (S| 50, 8). A boa confissio 6 considerada por todos os Padres da Tereja como um segundo batismo. SEGUNDA PARTE © Sagrado Coragao de Jesus através da Historia Depois de ter voltado para o céu, os sentimen- tos do Coracéo de Jesus a respeito dos homens, seus irmaos, ttm mudado? Certamente, nao. Ora, em apoio desta afirmacao, eis aqui alguns testemunhos da Historia. Nés og classificaremos em duas categorias. Na primeira, faremos entrar aquéles onde Jesus revela ‘o certas almas privilegiadas a Doutrina de sua ynisericérdia; na segunda citaremos muitos exem- ‘plos escolhidos entre os mais comoventes. De ai, dois capitulos: I. Os Arautos da Divina Misericérdia. ‘TI, As maravilhas da graca nas almas, ou um gru- po de conversdes estrondosas. Publicado no site http://www leiturascatolicas.com/ eee ee Gace = 10. CAPITULO I Os arautos da divina misericérdia Santa Gertrudes. Santa Angela de Foligno. Santa, Matilde. Santa Margarida-Maria e a Grande Pro- messa, Sfio Francisco de Sales. A Serva de Deus, Séror Benigna. © Bem-aventurado Padre de La Colom- biére. Santa Teresa do Menino Jesus. A Serva de Deus, Soror Maria Josefina de Jesus, A Irm& Josefa Menendez e a Mensagem do Corag&o de Jesus ao mundo. Anexo: ‘A Mensagem do Coraciio de Jesus 20 coragdo padre. 72, © _TRIUNFO DA MISERICORDIA 1. — Santa Gertrupes (+ 1292), ee cs pace Santa Gertrudes (\) apertava amorasamente seu erucifixe, Nosso Benhor Ihe aisee: “Cada vex que © homem age assim, ‘ou ae e um crucifixo, a misericérdia de Deus 'm seus olhos s6bre sua alma, © homem deve- ria ent&o pensar no seu coracéo que estas tern: pases Ihe siio enderecadas: “Bis aqui como, oe pacer quis ser pregado nu, desfigurado coberta de chagas, todos os membros violentamen- te tesos sdbre uma cruz; e 0 meu Coraciio é téo apaixonadamente amoroso de ti que, se fosse isto a ee eu suportaria ainda, de , por ti 56, tu ae oot emer easy ___Uma outra vez, Jesus inelinou a alma d Alsi smenitaina espikapaca 0 seu Co o adoravel ¢ ela descobrin néle duas pulsacé muito suaves: oe “Uma das pulsagées, lhe disse 0 bom Salva a i ny Sea aie vivia mo fim do XIT séeulo no mosteito oe Tuas eam Saxe, onde la tove por eompanheiras duas dutas tintasreligiosas: Matide do Magdebourg, dita a “beguina” e Ma- Ulde de Hackeborn, ism da abndessa, Gertrude, érf, more i sas “Rovdlazdes" por Dom T. Dolan, taduzidas do inglés pelos Beneditinos de Do tee os de Dourgue. Vendem-se na Abadia de O_TRIUNFO DA MISERICORDIA 3 dor, opera a salvagdio dos pecadores; a segunda, & santificagdo dos justos. ‘A primeira fala sem cessar a meu Pai, para apaziguar a sua justica ¢ atrair sua misericérdia. Por esta mesma, pulsacdo eu falo a todos os santos, aeseulpando perante éles os pecadores com a in- dulgéneia e 0 zélo de um bom irméo excitando-os a intereeder por éles. Esta mesma pulsacdo € 0 incessante apélo que ew dirijo misericordiosamente ao pecador mesmo, com um inexprimivel desejo de o ver voltar a mim, que ndo me canso de o es- perar”. Ora, esta paciéncia, esta longanimidade de Jesus vai téo longe quanta ela pode ir, isto é até © iiltimo minuto de vida (1), verificando assim, a misericrdia divina até o fim a palavra sagrade maneira de promessa de amor “Sto ad ostium et pulso!” (Apoe, IIT, 20). Estou de pé ¢ bato & porta (1) Nés Yemos na vida de Santa Rosa de Lima (t 1617) ‘como ela se enternecia sobre a sorte dos pecadores MNopuecendo ao sar desta vida dlante de set Soberano Juiz Jesus \eio The dizer: “Minha filha, Ew ndo condeno sendo aquélos que ‘juorem ser condenados. Afastai pois do vosso espirito toda ingule, {ncao sobre @ste artigo!” — Ver a “Vida de Santa Rosa de Lima” yor Masson, em casa de Vitte em Lyon e um artigo de Gustavo Cibert, 8. J. no “Mensageiro do Coracio de Jesus”, Tolosa, Marco ‘1982, ow a ttadugio em espanhol pelo P, J. Parra da vida em Iatim eserita pelo P, L. Hansen, em 1668, once, no livro 1°, ea- pitulo XXVI, p. S11, lemos esta formal & animadora declaracio de que um dia, Jesus, referida acima. 4. © _TRIUNPO DA MISERICORDIA dos coracées soli Strat ane lies ‘para/que}me:delxem Pode haver linguagem mais misericordiosa? m — Santa Aneta Dr Foricno (+ 1309) Tercidria da Ordem de Sdo Francisco de Assis. Ela foi uma das maioré piotwide milsien de mease caine ee a aia 0 quilate ‘Auilaguuleko saan que Santa Teresa de Cruz. Foi tum dia, esta lerrivel ¢ doce palavrar noes ee outs sébre sua dolorosa Palxdo: palayra, quando ela meditava amei!” “Nao foi para rir que eu te ee masceu cm 1245, em Foligno, trés 1é- ea ante de Assis. Casada muito jovem ela a omou a sério seus deveres de espésa e de fe, mas deixou-se levar nos prazeres do mundo. @ seus excessos e a suas desordens, : a aa Tepente, ne. meio do turbilhao que a envol- Gass ngela sentiu o aguilhao da graca, viu a inu- ide de sua vida mundana e dissipada e com- Hee Os perigos que corria sua salvagdo. ‘ga ee tornado culpada de uma primeira ‘ave seguida de uma contissa SAO € munhao sacrflegas! eee aie oO inimigo das almas tentou em yao estorvar converséo; uma vez que fez bem sua con- © _TRIUNFO DA MISERICORDIA 5 fissao, ela se atirou generosamente no caminho da perfeicéo. Tendo-se tornado livre pela morte de seu marido, entrou na Ordem Terceira de Sao Fran- cisco. Sua vida, desde entéo, foi cheia de sacrifi- cios e de austeridades. Um dia em que ela se sen- tia fentada de desanimo: “Ainda que fésse verda- de, Senhor, disse ela, que ‘Vés me tenhais conde- nado ao inferno que eu merego, eu nao deixaria de fazer peniténcia e de permanecer, se for do vosso agrado em vosso servi¢o”. Sua graca foi o amor de Jesus crucificado. A contemplagao dos sofrimentos do Salvador se lhe tornou t&o familiar, que a vista de um cruci- fixo provocava espontaneamente nela uma torren- te de lagrimas: “Quando eu meditava a Paixio, diz cla, sofria o suplicio da Compaixiio, experi- ‘mentaya nos ossos e nas junturas uma dor espan- tosa e uma sensacéio como se tivesse sido atraves- sada corpo e alma”. Esta grande peniténcia nio foi menos admirdvel por suas visbes e seus éxtases do que por suas virtudes. Um dia, Jesus Ihe disse: “Quando meus filhos, abandonando meu Rei- no, se tornaram filhos do diabo, se éles voltam ao Pai, o Pai tem uma grande alegria e thes faz ex- perimentar a deleitagdo superior. O Pai tem uma alegria téo grande, que Ele 76. © _TRIUNFO_DA_MISERICORDIA © TRIUNFO DA MISERICORDIA ites es en oe deleite que néo proporciona as igis. Isto provém do imens para com éles, e da imensi eatiie eee a a misericdérdia @ vista de sua miséria. I eee . Isto provém ainda d le que nce diante da majestade e da Gaerne de » $@ reconhece digno do inf hec ferno. & que maior poderd éle ser no outro avis”. mI. — Sanva Marmupr De MaaprsourcH (t 1285). a uy a S Tevelacdes de Santa Matilde sao célebres im dia, Nossv Senhor Ihe disse: : a a a ais. em verdade que os homens me déo cor a er quando esperam com conjianca aes s de mim. Bles tém muita raztio de ‘assim fazer, poraue ¢ impossivel que o homem néo : que acreditou e esperou. Também é mui- e poe esperar de Mim grandes coisas e ter oe Mees ee sincera confianea...” Quanto mais eee i oe Mim e presume piedosamente eee eae tanto mais e infinitamente ela obtém de Mim; pois me é impossi- vel recusar ao homem o que a fé faz santament m : ‘amente © TRIUNFO_DA_MISERICORDIA 7 0 rrwro pa misemconpia _T Outra vez, Jesus comunicou 4 sua serva fiel seguinte: “Assim como minha humanidade toda ba- nhada no seu sangue, no excesso do seu amor se dfereceu como uma Vitima a meu Pai sébre 0 altar da Cruz, assim, abrasado do mesmo amor, Bu ¢s- tou constantemente diante afte, Eu ofereco todos os meus sofrimentos pelos pecadores, ¢ meu maior desejo € que os pecadores voltem para Mim com ‘um verdadeiro arrependimento, e encontrem a vida que perderam, Eu to digo em verdade: “Quando se Terramam ldgrimas de amor meditando devota- mente os mistérios de minha Paizo, Eu as recebo como se sofressem vs mesmos tormentos que Eu”. ‘A santa respondeu: “Ai de mim! 6 meu Deus, onde esté a devogéio que me ha de fazer derramar esas lagrimas preciosas?”. O Senhor lhe respon” deu: “Escuta 0 que te vou dizer. Lembra-te primei- _ramente do amor com que me adiantei ao encon tro dos meus inimigos que vinham para mim com espadas e paus, como se se tratasse de wm pandido @ de um assassino que tivesse merecido a morte. ‘Entretanto, Eu ia para éles como uma mae ao encontro de seus filhos, para os arrancar das garras dos lobos prontos a devord-los. Conta de- pois as vojetadas cruéis que Eu recebi; tantos fo- ram os bofetées que me deram, outros tantos ter- 78 © TRIUNFO DA _MISERICORDIA nos beijos ew dei ds almas daqueles que, até o Ultimo dia, devem ser satvos pela virtude da minha Paindo. Em seguida, enquanto éles me golpeavam com varas, eu dirigi a meu Pai uma ardente oracdo que converteu muitos désses infelizes. Enquanto éles cravavam em Minha Carne uma coroa de es. Pinhos, Eu encastoava na coroa de gléria que eu thes destinava outras tantas pedras preciosas quan tos eram os espinhos que havia nessa terrivel coroa. Pensa ainda que quando éles Me pregaram na cruz e estenderam Meus membros de tal ma- neira que podiam contar todos os meus ossos, ¢ ver através do Meu corpo, Eu atrata a Mim com t6- das as Minhas forcas as almas daqueles que sao Chamados a vida eterna para ver realizada a pa- lavra que tinka dirigido a Meus apéstolos: Quando eu for levantado da terra, atrairei tudo a Mim, Finalmente quando Me foi aberto 0 Coracdo com 4 lanea, fiz brotar dle o licor da vida, afim de que todos aquéles que tinham bebido com Adio o licor Envenenado se tornassem em Mim, que sou a vidu, 08 herdeiros da salvagdo e da vida eterna”. 1. — Santa Mancaria Manta (i 1690). Ela foi escolhida por Nosso Senhor Jesus Cristo mesmo para ser 0 Apéstolo e Evangelista Q TRIUNFO DA MISERICORDIA 79 do Divino Coracio, assim como Jesus 0 disse a oe, um dia, expressamente: “Eu quero que tu me a vas de instrumento para atrair coracdes ao me mor!” : rare rae Maria nasceu no territério de es rosvres (Charolais) na Franga, no dia 22 de Julho 647. e i de longas hesitagdes, Margarida en- trou na Visitag&o de Paray-le Monial, no dia 20 de Junho de 1671. Foi ai que Jesus a esperava para Ihe confiar a maravilhosa e tio consoladora mis- so de fazet conhecer ao mundo os atrativos e as inefaveis misericérdias de seu divino Coracao. Entre tédas as promessas do Sagrado Coracdo 4 humilde visitandina, uma delas sobretudo tes- temunha elogiientemente a séde ardente de fazer misericérdias, que atormenta 0 Coraco de Jesus. Nosso divino Salvador, com efeito, chega até © ponto de dizer: “Aquéles que propagam esta de- vocdo terdo seu nome escrito no mex Coracéo, € nunca serd néle apagado!” . Ter o proprio nome escrito no Coragdo de Deus, e isto para sempre! Que maravilhosa e con- fortadora promessa! ch Mas com que condi¢ao? Com a condicéo de pregar 0 amor, a miserieérdia, com a condicio de por o Sagrado Coragao de Jesus na ocasiiio de exer- 80 O TRIUNFO DA ui RICORDIA cer sua vocacdo de Salvador e de apagar assi sua séde de exercer a misericérdia; com a condigaio enfim de Lhe procurar ocasides freqiientes de perdoar! Kis aqui agora, entre as promessas do Sagrado Corac&o, aquela que é chamada com tao justo titulo: A GRANDE PROMESSA Ela € tao maravilhosa que amedrontou muitos diretores de almas! Assombrados em ver a porta do céu escancarada diante de qualquer que cum- prisse, com reta intengéo, uma condic¢éo de salva- cao tao facil, éles se escandalizaram e tiveram es- crtipulo em disseminar uma doutrina que, segundo éles seria de tal natureza que mergulharia as al- mas na mais perigosa das ilusdes! Aberraco... Pois de onde vem para éstes pu- silanimes o direito de pér limites & Infinita Mi- sericérdia e de restringir, segundo seu arbitrio, a entrada do céu? s Jansenistas, éstes falsos doutores que, por sua pusilanimidade, tendem & abalar de novo as almas com éste vento glacial — verdadeiro aquiléo de morte — que 0 heresiarca Jansénio (*) féz que se (1) Jansénio, tedlogo holandés, bispo de Ypres (+ 1638), Sua obra principal 0 Augustinus, no qual éle expunha segundo seu © _TRIUNFO_DA_MISERICORDIA 81 levantasse sdbre elas, ha ja mais de trezentos anos, € que teve como funesta conseqiiencia a ruina duma multiddo de almas! Jésus é 0 Senhor! Jesus é o Rei universal do céu e da terra. A fle s6, por conseguinte, pertence fixar aos homens as condicées da conquista de seu Reino. Ora, eis aqui que, transbordante de amor, de ternura e de misericérdia para com os homens seus irmaos, Jesus falou e suas palavras séo uma nova manifestagio do seu amor as almas, amor que nos maravilha, nos arrebata e nos perturba, completamente as frégeis armacées da inteligén- cia humana! Que devemos fazer? Sendo abencoar, adorar, amar um Deus tao bom, tao amavel, téo misericor- Gioso repetindo a palavra da Escritura: “Nao, yerdadeiramente, nenhuma nac&o tem seus deuses tao préximos dela como nosso Deus esta préximo de nos!” (). Quanto ao resto, a salvagéio tao largamente ponto de vista as doutrinas de Santo Agostinho sébre a graca, 0 livre arbitrio ¢ a predestinagio deu Iugar & dontrina chamada Jansenismo, condenada logo pela Tgroja. (1) “Nee ost alia natio tam grandis quae hubeat deos appro- Pingnantes sibi, sicut Deus noster adest...” (Dt. 1V, 7). 82 O TRIUNFO DA _MISERICORDIA oferecida na XIL@ Promessa a Santa Margarida Maria tem, rigorosamente, a base de reta intencéo. Que quer isto dizer? Nem mais nem menos que isto: receber os Sacramentos da Peniténcia e da Eucaristia com as disposigdes espirituais re- queridas pelo catecismo (isto é a teologia) para que éstes nossos atos sejam meritérios. Seja pois: Para a Hucaristia: o estado de graca e para a Pe- nitécia, o firme propésito. Tudo esta ai (1). Portanto, se durante éstes nove meses, eu me aproximo do sacramento da Peniténcia com o sin- cero e sobrenatural desgésto de ter ofendido a Deus ea firme resolugdo de nado O ofender mais para o futuro e comungo para fortalecer esta resolucio, terei recebido os sacramentos com uma reta inten- Gao €, com o mesmo ato terei direlto, suceda o que Suceder depois, ao beneficio da infinitamente mi- sericordiosa Promessa do Sagrado Coracéio de Je- sus: Eu serei eternamente marcado na fronte com 9 sinal dos escolhidos!.. . Mistério insondavel de amor e de misericérdia! vida entio a horrivel hipétese pela qual alguém, baseado na divina Promessa, fizesse estas nove comunhdes repara. doras com 0 designio eriminoso de viver dai por diante, segundo sen capricho, isto & sem fazer nenbum caso dos mandamentos de Deus nem da Igrejal Pois por causa da m4 intengdo que governaria cssis comunhes, tédas seriam mis, sacrilegas, por conseguinte sem relagio alguma com a Grande Promessa de Nosso Senhor, © _TRIUNFO DA MISERICORDIA 83 v. — Sio Francisco Dg Satzs (+ 1621). ® prestar um verdadeiro servico a Nosso Se- nhor, dizia o grande Doutor, dar-Lhe uma ocasido de fazer atos de sua vocagiio de Salvador! Tive 0 costume de dizer que o Trono da Mi- sericérdia de Deus é a nossa miséria. & preciso en- tao que, quanto maior for a nossa miséria, tenha- mos também uma maior contianca. Entre a misericérdia e a miséria ha uma cer- ta analogia e to grande que uma ndo se pode exercer sem a outra! Se Deus nao tivesse criado o homem, fle teria sido verdadeiramente bom; mas Ble nfo teria sido atualmente misericordioso ('), tanto mais que a miserieérdia néo se exerce sendo para com os mi- seraveis! Vés védes ent&o que quanto mais miserdyeis nos reconhecemos, mais ocasiao temos de confiar em Deus, pois nao temos nenhum motivo para con- fiar em nés mesmos! (?). (1) Isto é em ato (in actu). Embora © seja essencialmente € infinitamente nio teria parecido misericordioso, porque as oca~ ides Lhe teriam faltado de se mostrar tal. (2) Ver mais adiante, no capitulo das objecées, pig, 161, 0s sentimentos de Si0 Francisco de Sales a respeito da morte dos pecadores. 84. O_TRIUNFO DA MISERICORDIA Entretenimentos, II — Se 0 Salvador, dizia ainda o santo Doutor, oferece o perdao aos obstinados, que faré para com aquéle que Lho pede, e com que coragao acolhera © coragéo penitente! vi. — A Serva De Deus, Soror Beniena ('): ~ Jesus quis fazer desta humilde Visitadina a confidente € a secretaria de seu Coracio miseri- cordioso. Retomando um dia ao pé da letra a expressio de So Francisco de Sales, Jesus Ihe disse: “Tu nao podes acreditar quanto prazer expe- rimento em cumprir minha misséo de Salvador.. ” --“Quando uma alma se arrepende de suas faltas e as deplora com todo o seu coragdo, crés tu que eu seja tao implacdvel que a nao receba?.. (1) Soror Benigna-Consolata, da Visitagio de Como ua Itilia, morren em odor de santidade na primeira sext de Setembro de 1916. Seus escritos, de conformidade com a promessa do Salva- dor, comecaram a acender em tdda parte 0 fogo do amor diviro. 'Nés nos limitaremos a algumas citagées, mas 6 0 livro todo inteiro que é preciso rolatar. Léde estas paginas deliciosas. Elas acenderio em vossn alma 0 fogo do amor © vosso coragiio exultark de alegria por causa da confianea em Deus que elas vos inspirario, Serva de Deus. Soror Beningna-Consolata Ferrero por Simio NAVANTES casa de Téqui Patis e a Boa-Imprensa, Averbobe (Belgica). ©_TRIUNEO DA MISERICORDIA 85 Se tu assim pensas & porque nio conheces 0 meu Coragdo. Meu Coragéo muito amoroso tem tanta séde da salvagéo das almas que, quando voltam para Ble, eu ndo posso conter minha alegria: Eu corro ao encontro delas”. -. “Como 0 fogo se alimenta de combustiveis 2 aumentada & medida que se nutre, assim minha misericdrdia se nutre das misérias que ela conso- me €, mais ela encontra, mais ela avulta!” «. “Nao se sabe o agravo que se faz a Deus duvidando da sua bondade! Os pecados podem ser enormes e numerosos; mas contanto que se volte para mim, estou sempre pronto a tudo perdoar, a tudo esquecer!...” (). Palavra de inefavel misericérdia! Entretanto bem consideradas, que tém elas de estupendo nos labios de nosso divino Salvador? Jesus néio 6 nosso Mediador, nosso Advogado junto de seu Pai? (2). Ora, assim como Ble o declara no Evangelho, (*) Ble tem o cuidado da gléria de seu Pai. Ble sabe que quanto mais pecadores convertidos Ihe recon- duzir e que quanto mais numerososos e enormes (1) Vida de Soror Benigna Consolata, p. 96-97. (2) “Advocatum habemus apud Patrem, Tesum Christum’ (1 Jo UL, 1). (8) “Honorifico Patrem meum” (Jo VIM, 49). 86. OQ _TRIUNFO DA MISERICORDIA tiverem sido os pecados déstes filhos prédigos, mais também Deus sera glorificado com isto! Por- que? Suponhamos um instante que nossos primei- ros pais tivessem permanecido fiéis a Deus, e, por conseguinte, que nunca haja havido pecados no mundo. Onde entao e de que maneira a miserieér- dia de Deus se teria manifestado? Mas o homem prevaricou. O pecado apareceu s6bre a terra, E logo brilha a infinita misericérdia de Deus que per- doa ao homem decaido, mas j4 arrependido, Desde entao, uma gléria nova brilha na fronte de nosso Deus. O homem vé nfle um atributo que no ¢o- nhecia, Ble cantara, daqui por diante, as miseri- cérdias divinas e fara subir sem cessar para o tro- no de Jeové o perfume de seu amoroso revunhe- cimento. Agora, as revelagdes de Jesus a Séror Benigna Consolata nos fazem ver o Salvador como quem espreita t6das as ocasides de manifestar sua mise- ricérdia com relacio aos pecadores arrependidos. Oucamo-lo, com efeito, dizendo & sua piedosa serva: “Meu amor se nutre consumindo misérias, 2 a alma que mais delas me traz, contanto que isto seja com um coragdo contrito e humilhudo, & aque- la que m&is me agrada, porque ela me dé ocasido de exercer mais plenamente meu oficio de Salva- dor. Mas sobretudo, 0 que eu te quero dizer, 6 mi- nha Benigna, e eu 0 resumo em poucas palavras, Q_TRIUNFO DA_MISERICORDIA 87 é isto: Que a alma nao tenha médo de Deus, por- que Deus est sempre pronto a Ihe conceder mise- ricérdia, e 0 maior prazer que possa ter 0 Coragéo de teu Jesus, € 0 de conduzir a seu Pai o maior mimero possivel de pecadores”. _ Nao parece que estamos ouvindo o Salvador repetindo 4s multidées da Palestina a arrebatadora parabola do Filho prédigo, onde fle afirma con- cluindo: “No céu haverd mais alegria por causa de um pecador que se converte do que pela perse- veranca de noventa e nove justos que néo preci- sam de Peniténcia”? (1). Mas continuemos a pres- tar atengao as palavras maravilhosas de Jesus re- feridas pela S6ror Benigna: “Meu Coragdo néo somente se cumpadece, mas éle maia ae regozija quanto mais hd para reparar, contanto que nao haja malicia. ..”. “As falias, mesmo as mais graves e as mais vergonhosas, tornam-se, para a alma arrependida, as pedras fundamentais de sua perfeigao!” (*). Que admirayel doutrina! Também que trans- pordante confianca faz ela manar dos nossos cora- Ges que espontaneamente e como impelidos por uma irresistivel necessidade pdem-se a dizer a0 nosso misericordioso Salvador: “Sim, Corag&o Sa- (1) Lue XV, 7 (2) Vida de Séror Benigna p. 97. 88 O_TRIUNFO_DA_MISERICORDIA grado de Jesus, tenho confianga em Vés! Confian- ca quanto ao passado que eu entrego 4 vossa mi- sericérdia, confianga quanto ao. futuro que entrego & vossa solicitude, confianga nas dificuldades do momento presente, confianga nas penas, confianga nas tentagdes nas quais eu direi com o Salmista: Gbermanecerel confiante 4 sombra de vossa prote- cao, 6 Coragéo Sagrado de meu Jesus até que a provacéo tenha passado” (*). Finalmente, confianca sempre sem desfaleci- mento, confianga no tempo presente e para a eter- nidade: “In te, Domine, speravi, non confundar in aeternum”. “Porque tenho esperado em Vés, Se- nhor, nunca serei confundido” (SI 32). vu. — O Bem-AventurADo Papre CiAupio Dr La CoLompikre (+ 1682). © confessor de Santa Margarida Maria, a amével Mensageira do Coracéio de Jesus, — O Ve- nerdvel padre Claudio de la Colombidre, — aquéle que em suas manifestagdes a ilustre Visitandina, © Salvador chamou de “seu servo” tem escrito s6- bre a misericérdia do Coragao divino de Jesus pa- (1) “Et in umbra alarum tuarum sper done aoe sperabo, donee transeat or DA_MISERICORDIA 89 ginas admirdveis. Kis aqui, entre outros, seu ato de confianga em Deus. “Meu Deus, eu estou tao persuadido que Vos yelais sobre os que esperam em Vés, ¢ que nada nos pode faltar quando tudo esperamos de Vés, que Te- solvi viver daqui por diante sem solicitude alguma fe descarregar em Vés tédas as minhas inquieta- Ges. Os homens podem me despojar dos bens ¢ da honra, as doencas podem tirar-me as férgas e OS meios de Vos servir, é mesmo possivel que eu perca a vossa graca pelo pecado, mas nunca eu perderel minha esperanca; eu a conservarei até o ultimo momento de minha vida, e todos os deménios do inferno fardo naquele momento vos esforcos para ‘me arrancar. Os outros podem esperar sua felici- dade ou de suas riquezas, ou de seus talentos; — podem apoiar-se ou sObre a inocéncia de sua vida, ou sobre o rigor de sua peniténcia, ou sobre o nt- mero de suas esmolas, ou sbre o fervor de suas oragdes, Quanto a mim, Senhor, téda a minha con- “fianca. Esta confianca nunca enganou ninguém. Estou entéo certo de que serei eternamente feliz, porque espero firmemente que o serei, ¢ por que é de Vés, 6 meu Deus, que 0 espero. Conhego, ‘ai de mim! conheco por demais que sou fragil e voltivel. Sei o que podem as tentagdes contra as virtudes mais firmes; vi cair os astros do céu e as colunas do firmamento, mas tudo isto nao pode me 90 © _TRIUNFO_DA_MISERICORDIA espantar; enquanto eu tiver esperanca, estou ao abrigo de tédas as desgracas e estou certo de espe- var sempre, porque espero ainda esta invaridvel esperanca. Finalmente, estou certo que ndo posso esperar demais em Vés e que n&o posso ter menos do que tiver esperado de Vés. Assim espero que Vos me sustereis nos des- penhadeiros mais perigosos, que Vés me defen- dereis contra os mais furiosos assaltos e que Vés fareis triunfar minha fraqueza contra os meus mais temfveis inimigos. Espero que Vos me ama- reis sempre e que eu Vos amarei sem afrouxamen- to; e para levar, de uma vez, minha esperan¢a tao _longe to longe quanto ela pode ir, eu Vos espero a Vés mesmo, de Vés mesmo, 6 meu Criador, pelo tempo e pela eternidade. Assim seja” (*) vm. — Santa Teresa Do Menino Jesus (* 1897). Quem no conhece hoje a histéria maravilho- sa desta alma, que no momento de empreender seu (1) Esta oracdo € tirada de um sermao-do V. Pe. de la Colombiére sdbre a Confianga em Deus. O texto é conforme i 1% edigio de 1684, Ler no fim do volume a sublime e tio recon- fortante oracio do mesmo padre de Ia Colombitre que ple nova- mente em plena luz set sentimento perante a misericérdia de nosso Deus. O_TRIUNFO DA MISERICORDIA 91 yoo para os céus exclamava, no transporte de sua confianca em Deus e de sua caridade para com os homens, seus irmaos: “Quero passar meu céu fa- zendo bem sObre a terra? Depois do seu nascimento para uma vida me- thor — 30 de Setembro de 1897, — Santa Teresa do Menino Jesus néo tem cessado de deixar eair sobre a nossa terra de exilio “uma abundante chu- va de rosas”. Também o seu nome abencoado esta hoje em todos os labios e de um polo a outro do universo, oragdes ardentes e cénticos de amor se clevam cada dia até seu trono, para tornar a cair, em se- guida, sobre as almas em abundante rocio de era- cas e fayores celestes. ra, Séror Teresa, também ela, foi a doce men- cageira da divina Misericérdia, “Nunca temos con- fianca demais em Nosso Senhor, Deus to bom, to poderoso e téo misericordioso, exclamava cla! Ovtém-se dile quanto se espera!” "Bis o que ela escreveu com relagdo & confian- ca filial que téda alma deve ter em Deus: “Nao é porque tenho sido preservada do peca- do mortal que eu me elevo a Deus pela confianca 0 amor. Ah! eu o sinto, ainda quando eu tivesse sobre a consciéncia todos os crimes que se podem 92. O_TRIUNFO DA MISERICORDIA cometer, eu nada perderia de minha confianca; ew aria, com o coragio espedacado de dor e arrepen- dimento, me atirar entre os bragos de meu Salva- dor. Eu sei que Ble predilige o filho prédigo, ouvi suas palavras a Santa Madalena, a mulher “adul- tera, @ Samaritana. Nao, ninguém poderia me ate- morizar, pois eu sei como proceder a respeito do sew amor e da sua misericérdia, Eu sei que téda esta multiddéo de ofensas se abismaria num abrir e fe- char de olhos, como uma géta de dgua atirada num braseiro ardente”. ux, — A Serva De Deus, Séron Marra Joszriwa Dz Jusus (+ 1917). _No dia 21 de junho de 1917, morria em Turim {itélia), no convento das Trmas adoradoras per pétuas do Sagrado Coragio de Jesus, na idade de 27 anos, Séror Maria Josefina de Jesus, da muito nobre familia Cepollini D’Alto e Caprauna, Jesus mesmo e Santo Anténio de Padua se encarrega- ram de sua educagao religiosa, como’ no-lo indicam as memérias que a Santa esereveu por obediéncia. Nada mais arrebatador do que os entretenimentos da pequena Maria Luisa, (mais tarde Séror Maria Josefina do Coraciio de Jesus); com os seus celestes © TRIUNFO_DA_MISERIGORDIA 98, interlocutores (*). Ora, Bt também, vemos Jesus aescobrir a esta alma de escol as maravilhas de seu fdivino Coracdo. Nés o ouvimos Ihe fazer 9 declara- co do tormento de seu Coragao misericordioso com palavras como estas: “Eu te quero mediadora entre Deus @ os homens... Roga, suplica, expid; Bu tenho grande avidez de perdoar; tem tu avidez de pedir os meus perdoes” (). Bis aqui, por outro lado, a deliciosa narra- cio de Séror Maria Josefina intitulad er que nos revela, uma vez mais o amor incrivel de nosso divino Salvador para as almas e sua séde in- sacidvel de conceder misericordia: “Foi pouco depois desta época (Maria Luisa tinha entdo quatro ou cinco anos) due uma nova yocagéo despertou minha alma. Na rua, um dia, encontramos um péhedo que fazia tOda, qualidade de gestos, gritos, ameacas. .- A vista desta degra- dacéo, eu senti tanto desgdsto € tristeza que quan- do fiquel sozinha, & tarde, minhas lagrimas corre- vam em abundancia, Bra, coisa tao horrivel que ew nao podia absolutamente mais fear neste mundo: Pile (1) Wine Adoradora do Sagrado Coracio: S6ror Maria Jo- fefina de Jesus — Tusim — Escola Tipogrifica Salesiana — Roa Sartotongo, 82 — ou em Lyon, casa das Religions da Adorasio perpétua do Sagrado Coragio, pragn dos Cartusianos, 24. (2) Vida, obra citada, p- 77. 94 © TRIUNFO_DA_MISERICORDIA eu nao podia mais viver ai, eu queria a todo custo ir & casa dle, Jesus “Muito tarde, depois de me deitar, ouvindo- me chorar, vieram para saber a causa de tanto velar, mas como de ordinario nfo puderam obter de mim senfo o invaridvel: “Obrigada, nfo tenho nada, estou muito bem”. Como eu me abafava no meu lenco, supuseram que eu tinha dor de dentes © me trouxeram uma infusdo de malvaisco! A ca- momila veio em seguida para acabar de me acal- mar, e finalmente resignaram-se ao melhor remé- dio, o de me deixar tranqiiila. “Entretanto, em téda esta noite comprida, Jesus nao me disse nada para me consolar. No dia seguinte, em Lusignano, eu ia para o pinheiral dangar com os Anjos. Bles cantavam: Qui pascitur inter lilia... (*). Aquilo arrebatava minha alma! Eu nao queria mais ir-me embora! E exclamei! “E eu também gosto dos lirios, quero permanecer entre os lirios, colher os lirios... Nao quero mais saber desta terra lamacental...” “Desta vez Jesus se féz ouvir: “Sim, Eu me deleito entre os lirios, que séo as almas puras, mas 0s mais bonitos crescem entre os espinhos ¢ suas raizes se afundam na lama da terra... Vé a que preco Eu as colhi estas almas to queridas. Deixei a) jesus se deleita entre os Iitios”. © TRIUNFO_DA_MISERICORDIA 95 meu céu para descer a esta terra que tu desprezas: ai Eu vivi em contato com o povo; Eu me rodeei de gente grosseira; Eu me deixei aproximar, tocar, rodear pelos pecadores. Entreguei-me por minha yontade a mos criminosas e deicidas; fui esbofe- teado e coberto de escarros...” — “Oh! como poderia eu dizer até que ponto cada uma destas palavras me impressionou? Que viva luz tive entio sobre este ponto dos sofrimen- tos da Paixdo; 0 contato da pureza essencial com 0 pecado! “— Jesus continuou: Nao, tuas lagrimas nao Me tocaram porque elas eram vs; era s6bre ti que choravas e n&o sdébre a perda desta alma... Se, em vez de te afastar com hurrur passando per- to deste lirio na lama, tu te tivesses aproximado e o tivesses tirado de 14, oh! ent&o me terias sido agradavel. .. “__ Mas, Jesus, que era preciso fazer a éste homem?... néo me teriam deixado aproximar-me, e, por outro lado, eu nao teria coragem para isso. “_ S6bre a Cruz, eu nao disse uma palavra aos algozes sacrilegos, e entretanto, desciam do Calvario, batendo no peito. Eu nao falei a éles, mas falei déles a meu Pai”, Meu Pai perdoai-lhes porque nao sabem o que fazem. E Eu sofri por éles. ‘4 oracdo @ o sofrimento, eis as duas armas irresis- tiveis, os meios sempre possiveis para aproximar- 96 O_TRIUNFO_DA_MISERICORDIA se das almas e guid-las... Oh! as almas! tenho tanta séde delas!” x. — Soror Josera Menenpez (t 1923). EA Mensagem Do Coragéo De Jesus Ao Munpo Eis aqui finalmente a palavra do Amor e da Misericordia de nosso Deus! Ela passa de muito tudo aquilo que foi dito até agora sébre éste mis- tério consolador! Lendo estas admiraveis e recen- tissimas declarag6es de Jesus — elas nao vao além do ano de 1923 — a esta humilde religiosa espa- nhola, Séror Josefa Menendez, tem-se a impres- so de vislumbrar, desde J4, a distancia, as primei- ras belezas do periodo do fim dos tempos! Com efeito, nao é sabido, que o Senhor reservou para esta tiltima época, a revelagdo dos inefaveis se- gredos do Seu Coracéo infinitamente misericor- dioso? Seja como fér, a mensagem que nosso divino Salvador dirige ao mundo por intermédio de sua humilde confidente, esta de tal forma acima de tudo aquilo que temos aprendido até éste dia, (ex- cetuando o Evangelho), a respeito do amor e da misericérdia de nosso Salvador que, apesar de to- das as provas de autenticidade de que esta men- sagem est& rodeada, nés nao teriamos ousado pu- ©_TRIUNFO_DA_MISERIGORDIA 97 plicd-la se uma Autoridade sem igual nao tivesse tomado a peito consagrar, de alguma maneira, 2 verdade disto com sua intervengao pessoal. ‘Trata-se aqui de S, Eminéncia o Cardeal Pa- celli que ocupa, hoje, com tanto esplendor, a cé- tedra de Sao Pedro! Bis a carta que o Eminentissimo Cardeal di- rigiu A Muito Reverenda Madre Geral das Religio- sas do Sagrado Coracio, na ocasiio da 1° Edicéo desta insigne MENSAGEM. Foi nessa Congrega- co que a Senhorita Menendez se féz religiosa- coadjutora, desde 1919, com o nome de ‘S6ror Josefa”: Abril de 1938 “Mowua REvERENDA MapRe, Eu nao duvido que ao Sagrado Coragdo de Jesus seja agraddvel a publicagéo destas paginas, tédas cheias de grande amor inspirado por sua graca & sua muito humilde serva Séror Maria Jo- sefa Menendee; possam elas contribuir eficazmente para desenvolver em muitas almas uma confianca cada vez mais completa e mais amorosa na infinita misericérdia déste divino Coragdo para com os pobres pecadores, como somos todos nés. Sao os votos que fago, abencoando-vos, a vés ea téda a Sociedade do Sagrado Coragao”. Eu. Carp. Paci 98 © _TRIUNFO DA MISERICORDIA Toda a mensagem 6 para ser lida e meditada neste livro de luz do mais salutar interésse, inti- tulado: Um apélo ao Amor (+) de que o ilustre Cardeal Pacelli, hoje Pio ‘XII, tao instantemente, recomendava a leitura. Entretanto, meditemos a passagem seguinte, de uma tao particular eloqiiéncia- “Eu quero que o mundo conheca o meu Cora- ¢&o! Quero que os homens conhegam meu Amor, porque sabem éles o que eu fiz por éles?,.. Eis aqui que Eu venho lhes dizer que em vao procu- ram a felicidade fora de Mim, n&o a acharai . Dirijo meu apélo a todos, aos justos e aos pe- cadores, aos s4bios e aos ignorantes, aos que man- dam © aos que obedecem. A todos eu venho dizer: Se vos quereis a felicidade, Eu sou a felicidade! Se vos desejais a paz, Bu sou a Paz! Eu sou a Misericérdia e o Amor! Quero que éste Amor seja o sol que ilumina € o calor que afervora as almas, Quero que o mundo inteiro"me conhega como © Deus da Misericérdia e do Amor! (1) Um Apélo wo Amor ou A Mensagem do Coragio de Jesus ao mundo. Introdugio pelo R. PB, Monier-Vinard. S. J., Con-

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