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O SIGNO DA POESIA E O SIGNO DA PROSA. fundidas pelo romantismo a respeito da arte como iberdade de expres ‘como arte, nos habituaram a pensar que -xigido que Cristiano soba sacada, nao teriadescoberto sobre festa diante de um obstéculo. E assim agradeco aos organizadores do encontro que me impuseram, antes que eu pudesse protestar, o tema “O signo da poesia € o signo da rosa”. Tema que parece no ter conexdes imediatas nem co filos6ficas, nem com o prosimetrum, nem com 0 spoudogél ‘nem com os meus interesses semisticos, porque logo de inicio perguntei- ‘me quais seriam, ¢ se existe, o signo da poesia e {que estas expressdes significam. ‘Depois, contendo-me para ndo exigir uma mi disse a mim mesmo que o desafio fora aceito, a vocés uma série de reflexdes. ingénuas © © genius loci, porque os genoveses, como nds cialmente nds piemonteses da fronteira do alexandi 232 cconcretas, ¢ creio que entre todas as definigdes de poesia e prosa, somos — levados a preferir as mais muda de linha antes que a ‘continua enquanto é possivel aproveitar um pedago de papel, reduzindo ‘a0 maximo as margens, porque 0 papel é caro, no sentido ecol6gico também, e em vez de mudar de linha apressadamente concorda até em dividir uma palavra ao meio, coisa que a poesia normalmente nao faz, ‘excetonos delirios da mais extrema vanguarda, e vejam como vanguar- dista Sanguineti, como bom genovés, estica seus vers0s $6 para nao ter ‘que comprar outro cademo”. Qual éadiferengaentre sérioe jocoso? O que gostaria de sugerir que a facécia é freqdentemente um caminho para a verdade, ¢ que as coisas ‘um pouco jocosas que disse até agora devem ser tomadas com a maxima seriedade porque, na confusdo em que me encontro, € pela definigao ha pouco dada (a poesia muda de linha antes da prosa) que gostaria de comecar. siaé aquela coisa que ‘Mesmo porque, e nfo sejaesta.adltima homenagem aesta assembléia de fil6logos cléssicos, assim nos ensinaram os antigos, que t&m, se no ‘outros, o mérito de ter-nos fornecido uma liga (como é aquiloqueandaum ‘ou recomera de onde tinha partido, mas uma linha abaixo. Partamos entéo daqui, ou seja, do que todos sabem: que um artigo de Jjomal é prosa e que a Vispa Teresa’ & poesia. Talvez:nenhum dos dois seja arte, mas um nio é arte em prosa, € 0 outro nao é arte em poesia. E que, no campo da arte, se o Rimbaud da Saison en enfer passa de uma pagina ‘em que muda de linha quando chega & margem para uma pagina em que (antes, uma diferenca deve existir, e esta diferenga niio tem nada a ver com a arte porque, desafio qualquer um a negé-lo, a Saison é arte sempre. Por que razao Rimbaud resolve gostar da prairieem rima e do desert em prosa? Nao sei, ou ndo o sei ainda, ¢ agora no quero fi '0 que € aarte, Vocés me pediram somente la prosa. 10, como semiidlogo, porque usaram a palaysa i, Levo vantagem pelo fato de que 0 signo ido. lado que muitos o discutem) € um artificio hhumano usado para por alguma coisa no lugar de alguma outra, e este + Vivaz Tereza, cango infantil do tipo “O cravo brigou com a rosa 233 artificio € usado para muitas fungdes. para indicar coisas ¢ estados do mundo, para dar ordens, para manifestar dese} uscitar paixdes, para falar de outros signos e as vezes para tipo de vegetal, a uma esposa, asatide, Mas quando Mallarmé: eve, idée méme et suave pagina suficientemente branca. E no encontrar e produzir, ou anular, este branco ao redor de uma a entre prosa e poesia. E 5 afirmar,jntamente com Ziemunskij, que ser necessariamente, ou somente, fonético: a regra pode ser até grfica, Seja gréfica ou fonética, a regra impde um ritmo, “Regular altemar-se no tempo e no espaco dos feriémenos homogéncos” (Tomaceyskij), 0 ritmo na poesia ter uma fungao predominante, ndo vicdria, no ocasional, ‘como nos repetitt Tynijanov. Devanos. cao, contss ur fopo er scp denasitamentatado por uma curiosa ¢ certamente mot ‘que to bem exemplifica sem, toda Visto que decides definirapocsiseaprost como dozs modal dades aque, 0 some dh atividade 234 {de uso dos signos, devemos procurar a poesia como modalidade de uso donde Croce teria visto somente literatura, isto é,na Vispa Teresa ounos 1 onde Croce teria falado de poesia para dizer que um romance Ihe agradava. Estender o poético aoestéticondo foiséum viciocrociano. Arist6teles comegou, quando particularizou a poesia como discurso sobre o possivel ‘0 verossimil, contra a histéria como discurso sobre o factual. A ar a decisao aristotélica talver.esteja o fato de que no seu tempo.o surso sobre o verossimil, do pocma épico & tragédia, assumia neces- ‘verso. Mas nio & nessa vertente que deve ser destacada sinédoque. E que com Aristételes jé se iniciava a tentativa de se identi- ficar 0 poético através do seu efeito sobre a vertente do conteaido. deste momento em diante estou-me referindo & -viana entre expresso e contedido: por conseguinte, ‘ou seqiéncia termo /expressio/ assim como foi usadona estética croc forma nao oporei conteiido a forma, mas contetido a ex; tanto a expresso como 0 contetido estdo sujeitos & pertinéncia formal. ‘O Aristételes da Poérica identifica oefeito ou oresultado posticocom a capacidade que a poesia tem de comunicar-nos um contesdo universal; todas as suas indagagdes sobre as manipulagdes da expressdo, mesmo quando feitas em terreno poético, concernem & manipulagio retérica e séo validas também para 0 discurso nao poético. Caracterizar a poesia pelo que ela realiza a nivel de contetido vale, sem divida, quando se ica poesia com arte ou efeitoestético, mas ndo vale para distinguir de prosa. Tudo 0 que Arisi6teles diz sobre a poesia se poderia A prosa de Stendhal (e, na verdade, & Poética, mais do que uma teoria da poesia, € uma teoria da narrativa; mas por outro lado, por potésis fia ainda 0 que nés entendemos por poesia, ¢ por ‘conseguinte © problema deveria ser encarado de outra maneia). Deve ficar claro, porém, que toda vez. que se procura identificar a poesia com uma modalidade de produgdo signica que afete princi- ‘contedido de uma expressio, chega-se & acepgdo “lata” de ja-se 0 que acontece, em tempos bem mais recentes, com a ‘0 poético ¢ identificado com pretendo deter-me agora neste tipo de aproximago: n deixa fora da poesia 0 senhor Bonaventura e a Vispa Teresa, mas € 235 Ccontudo certo que, com um minimo de boa vontade, se pode reencontras adialética logos-anthropo-kosmos também em obras de prosa, desde Os ica da razdo pura imitindo que a Rhétor teoia da pelo menos daarta inigdo satisfat6ria do que seja poesia, waa ‘Naturalmente o Groupe 1 move-se no ambito estruturalista, e conhe- jakobsoniana, para a qual o postico nasce de um modo especial ra expresso ao conte‘do. A isto visam, na verdade, as nogées lilo jakobsoniana parece ser a atengao voltada para 0 parad organizagio da expresso na medida em que ela af Porque horrivel fica methor. E por que fica melhor? Porque: paronomésia. Mas, como se vélogodepois, est ipiodaparonomésia, que antecipa e prefigura o fendmeno da equi ; fundamental para a definigo jakobsoniana de poético, pode também na prosa, veja-se, por exemplo, o sloga Jakobson prestou uma contribuigdo insubs semigtica do verso, mas quanto a isto é necessério observar que, por um ado, a estrutura do verso representa alguma coisa que vai além do sim- ples principio de equivaléncia, enquanto, pot outro, muitas das carac- representa de que se nutre o décimo primeiro capitulo de E tampouco me parece persuasiva a ident do da poesia com a 236 ‘metifora e da prosa com a metonimia, Ndo somente porque a diferenca entre estas duas figuras € men do que se pensa (cf. 0 meu ‘“Metéfora” na Enciclopédia Einaudi)? mas porque nao se pode reduzir as leis da poesia as lei rica. Muitas das modalidades que sao iusula, cursus) sio fendmenos que a ret6rica clssica insere n inguindo-os das figuras, consi-

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