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ANo LXV | tformador - FUNDADO EM 1883 Indali¢io Mendes ‘SECRETARIO Nao bastaram as torrentes de infortinio que as grandes guerras do século langaram sobre os vales do mundo. ‘Acordando, estremunhada, de horrivel pe- sadelo, que perdurou, por mais de dois mil dias e embora 08 lares desertos, os campos talados, as arcas empobrecidas e as prisdes repletas, arre- gimenta-se a coletividade planetaria para’ novos off embates de cegueira e destruicao. to) Ammontoam-se pesadas muvens nos eéus do M Oriente e do Ocidente. .. , Quem impediré a tempestade de suor e 24 ligrimas?! Epoca de profundas aflicSes, dir-se-ia en- “| contrarmos no século XX 0 fruto’ de sangue dev dezesseis séculos de menosprezo & luz espiritual. } Desde Constantino, o Cristianismo puro so- fre a intromissfio egoistica de humanos inte- + resses. Sempre a ofensiva das trevas contra a Juz, as arremetidas do mal contra o bem ose __B’ inegavel que as instituicées terrenas, néio (0, obstante constrangidas, revelam aprecidveis ca- mio racteristicas de progresso. Regressando ao cena- ele rio atual, Aristételes, 0 oraculo de filésofos ¢ ,ae, teélogos, nfo mais aplaudiria o cativeiro, decla- cr$ rando o escravo “propriedade viva”; Ignécio de 100; [piola, o santo, a pretexto de preservar a fé, fo; tio mobilizaria os tribunais da Inquisicao. ‘00; A influéncia do Cristianismo determinou enor- ira, nes transformagées na curul administrativa. En- ira tetanto, a dignificacdo da personalidade perma- iv eee apenas esbocada. ‘mo, O8 aviltamentos do édio campeiam em todos ica og climas ot” Arraiga-se a injustica, com a mascara da ‘cnllegalidade, nas organizacdes dos paises thais Hi desvarios do poder em toda parte Baraco e cutelo, metamorfoseados nos mais tranhos aparelhos de tortura e de morte, sio finda recursos da toga. ‘A desconfianca e a discérdia regem as re- jigdes internacionais. Racismo tirdnico perturba povos avangados. Conflitos ideolégicos tremendos agucam o taciocfnio a soldo da ciéncia perversa. E, coroarido o sombrio edificio, instalou-se guerra entre os homens, & maneira de sorve- ouro infernal. 0 conceito de civilizacio flutua ao sabor dos lrupos dominantes. Para alguns, repousa na leonomia ou na forca; para outros, no direito lnclusivista ou na liberdade de praticar o mal. A. Wantuil de Freitas tt DIRETOR rique Sondermann GeneNTE, @Nas convulsdes do século XX & E, do que podemos presumir, nfo esté préxima a equacéo do inquietante problema. ‘Ha sempre volumosos contingentes para ga- nhar a demanda, mas raros homens se preo- cupam em ganhar a harmonia. © domicilio dos homens sofrera terriveis bre- chas, até que a razio se equilibre nas diretrizes do mundo. A inteligéncia bestial combateri ainda a sabedoria divina por longo tempo. No somos, pois, estranhos & tormenta de lagrimas que cobrira a fronte dos continentes em dolorosos quadros apocalipticos. Constitui- mos 0 fruto do que fomos, colhemos na pauta da semeadura. Nisto ndo vai estima as predicées de Cas- sandra, nem barateamento as profecias. Buscando 0 Cristo nos templos exteriores @ expulsando-O dos coracées, fora temeridade es- perd-lo por salvador gratuito 4 ultima hora Fis porque, & frente dos atritos formidan- dos dos dias que passam, apelamos para os se- guidores do Evangelho, a fim de que se unam no culto & religido interior. ‘A consciéncia identificada com o Mestre é © refiigio indispensavel Se as. doutrinas da forga simente repre- sentam a decadéncia das nacdes, por libertarem © vandalismo, restituindo 0 homem & animalida- de priméria, 6 justo reconhecer que a democra- cia sem orientacio crista n&o pode conduzir-nos & concérdia desejada. Realmente, a Revolugéo Francesa, que inaugurou grandes movimentos libertarios no Planeta, filiava-se, no fundo, as plataformas clevadas. Objetivava o término das administragdes inconscientes, 0 fim da ociosi- dade consagrada, a extincio de prerrogativas delituosas, 0 reajustamento do governo e do sacerdécio, em nome da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Muitos dos patrocinadores da renovacio acreditaram-se movidos pelo mes- sianismo evangélico, no entanto, esqueceram-se de que Jesus advogara a liberdade de obedecer a Deus contra o mal, a igualdade dos deveres para que o mérito marcasse a responsabilidad ea fraternidade verdadeira, dentro da qual, ha mais alegria em dar que em reeeber. Conspur- cada nos fundamentos, a Revolucao, desbordan- do nos instintos sanguindrios, em breve dege- nerou-se nas lutas napoleOnicas, estabelecendo, no mundo, as guerras odiosas de povo a povo. s ate Desde entio, a Terra, em sua geografia po- \itica, 6 uma colmeia desesperada, que $6 a cris- tianizagio da demoeracia poder4 ‘reajustar. O angustioso’ enigma prende-se A ordem es- piritual. Impraticdvel o erguimento do ediffcio sem bases. Impossivel a organizac&o de instituicdes respeitaveis sem sentimentos humanos dignifi- cados. © homem elevar-se-4. com o Cristo para le- vantar a politica até o plano do equilibrio divino ou a politica sem Cristo, seja qual for a bandeira a que se acolhe, precipitard o homem no caos Este — o dilema da atualidade, em que a ventania da destruico assopra de novo E, no obstante edificados na certeza de que “tudo coopera em beneficio dos que amam a Deus, das claridades de além-timulo, repeti- mos para os companheiras do Evangelho: — Irmios, entrelacai os bracos e uni cora- gées, em torno do Caiminho, da Verdade e da Vida! Tormentas de dor rondam os castelos da vaidade humana e génios escuros do morticinio aceream-se das moradias sem alicerces. Os mons- tros que devoraram as civilizagdes dos persas € dos assirios, dos egipeios e dos gregos, dos ro- manos e dos fenicios espreitam a grandeza fan- tasiosa dos vossos paldcios de ilusio!... Os ordculos que prognosticaram queda e ruina em Persépolis e Babilénia, Tebas e Atenas, Roma ¢ Cartago pronunciam angustiados vaticinios em vossas cidades poderosas... Polvo3 mortiferos do édio e da ambico desregrada multiplicam-se no oxigénio terrestre, predizendo misérias e de- solagio. ‘Trazem a fome e a peste em novos aspectos, desorganizando-vos a vida e desinte- grando-vos os celeiros... Todos vivemos tem- pos dramaticos de prece, espectacio e vigilia.. E, enquanto 0 aquilio da impiedade ruge destrui dor, reunamo-nos na Jerusalém do intimo san- tudrio!... Sigamos o Senhor na via dolorosa, como quem sabe que Ele prossegue 4 nossa fren- te, desvelando-nos o caminho da ressurreicio eterna. Vejamo-Lo, heréico e divino, em seu apostolado de sublime renineia, vergado & cruz de nossas fraquezas milendrias... E’ natural que nossos olhos estejam orvalhados de pranto e que 0 assombro nos domine os coragées. Todavia, atentos Justica Indefectivel que nos preside aos destinos, oucamo-Lo a dirgir-se as mulheres pie- dosas que se Ihe ajoelhavam, aos pés, na cidade santa: — “Filhas de Jerusalém, nao choreis por mim! Chorai por vés mesmas e por vossos filhos, porque virio dias em que se dir4: — Bem-aven- turados os ventres que nfo geraram e os peitos que ndo amamentaram! Clamareis entio para os montes: cai sobre n6s! e rogareis aos outeiro: cobri-nos! porque se ao madeiro verde fazem isto, que se nao fara ao lenho seco? EMMANUEL, (Mensagem recebida pelo médium Fran- cisco Candido Xavier, em Pedro Leopoldo, no dia 29 de Outubro de 1947). Nota da Redag@o: — No proximo nimero pu- biicaremos uma segunda mensagem, complemento desta REFORMADOR ——— Dmvanero, 107 A Eternidade da Vid por Porto Carneiro NETO. © Dr. Anakreon Stamatiadis, preclaro mem} bro da Comissio Linguistica do Esperanto, pug blicou, em dois ntimeros do “Helena Esperantisti deste ano, artigos com a epigrafe “La Eterneoo] de la Vivo” (A’Eternidade da Vida), resumo do} que lera em obras de diversos autores fran e de outras nacionalidades. © assunto é sempre atual, eo estudo, que ai nos expée, traz, ao que tudo indica, valio contribuigao As pesquisa cientificas do mistéri da vida; a ser verdade — no quanto possamo exprimir como verdade—, ter a ciéncia oficis tao propensa ao que denomina “materialismo" dado mais um passo a caminho da real Font de tudo que existe. Vamos tentar aqui fa breve resumo das ideias expostas nesses artigos acrescentando-Ihes trechos de recentes colabor cGes espontaneas de litcidos Espfritos, dadas nosso pais, independentemente de tais estuda que eram ignorados pelos respectivos médium Diz o articulista: “ Somos tio imortais, téo eternos quanto q Universo. Cada molécula, cada célula de nos corpo, cada fluido e cada convulséo de nosedjmll Rispirito, tudo isso j4 existiu e continuaré a exis tir. Sea substincia, de que somos formada tivesse meméria, contar-nos-ia a histéria de te dos os mundos: e porque nao teria tal faculdade! O esquecimento seria mais incompreensivel, seri 0 aniquilamento de alguma coisa. 0 Universo nao existiria ou jamais teria existido. Observem, sobretudo, os materialistas esd maravilhosa assercao: “Um bloco de granito4 to espirtual quanto o pensamento de um sibie Em recente soneto que tivemos a graca de ber do grande Abel Gomes, a 30 de Ago P. P., eucerra o poeta seu “Canto ao Mine 5 “Vibra em teu seio a vida mais flamantes§ Pobre seio ou o mais puro diamante, Quem sabe se ndo tens uma alma etérearg E 0 sabio Jayme Braga, em sua “Citnd Divina”, ditou-nos, a 17 de Agosto de 1943: “Cada particula tem, assim, uma “ ; da”, que Ihe da forca e a capacidade entrar em relacéo com sua atmosfera com a atmosfera das vizinhas. gue se tem, portanto, na origem, é e 6 esta que traz a forea; desta ap a energia do todo, dentro do campo 4 aco do sistema material. A energia 6 assim, a traduedo da forca original, qu anima as particulas; e a fonte de é a vida, que cada uma recebe da Gi Fonte, que é a propria Vida. Tudo, tem vida, tudo vive, mesmo o que entendel por “matéria inerte”, cujo sentido compreendo, nem o compreende a Cin Divina.” ‘DezeMpno, 1947 A 25 do mesmo més e ano, ditou o mesmo Guia: “O fator ativo dos minerais é a vida, que é geral em cada mundo, E quem diz “vida”, compreende ininterrupto estado de “vibragio”, atividade constante e reagdo incessante.” Na mesma tecla, prossegue o Dr. Stama- tiadis: “Porque nao haveria de existir um mun- do onde as pedras e os penhascos fdssem vivos, nao sémente como nés, mas talvez vivendo mais espiritualmente do que nés?” O articulista resume as experiéncias e obser- vagées do sibio inglés Morley Martin, que ini- ciou suas pesquisas em 1927 e desencarnado antes da segunda guerra mundial. Martin chegou & convicgao de que as plantas e os animais (pelo menos os vertebrados e, dentre estes, princi- palmente os peixes) continuam a viver em es- tado latente no interior de petrificagées a que os gedlogos chamam “azéicas”. Foi de parecer que. a vida é imortal, universal e indestrutivel, e que a ideia-mater, a representacio ou o origi- nal de tudo foi anterior a0 que se denomina “matéria”, Essa ideia-mater desperta, ou me- Ihor, descobre — como 0 reativo das revelacdes fotograficas — e faz surgir das trevas milend- rias formas vivas conhecidas, de mistura com outras que ja nao existem ou que até agora nao apareceram em nosso planeta; essas formas 86 esperam sua vez, na reserva’ da Natureza, para evidenciar-se. Por sucessivas condensacdes de energia ¢ por transformacées quimicas, Martin as reproduziu tais quais talvez houvessem saido da ardente nébula densa ou dos gases de nossa nebulosa. As experiéncias do sabio inglés teriam sido as seguintes. Tomou dum fragmento de rocha azéica e submeteu-o, num forno elétrico, a uma temperatura entre 1100 e 1650° C. Da cinaa, dai resultante, que tratou em autoclave a 104° C, isolou uma substancia especial, a que chamou “protoplasma principal”. Este apresentava a propriedade de se transformar em cristaldides, por efeito do bilsamo do Canada. Apés alguns meses, esses cristaldides emitiam um fluido que atravessava o vidro; recipiente e contetdo eram submetidos a radiacées de alta frequéncia, con- densando-se, entiio, esses cristaléides para gerar imimeros organismos. No espaco de apenas um tdedo de espessura, Martin calculou cerca de 15000 peixes, insetos e plantas, provindos de 40 cristais, entre esses micro-organismos encontram- -se, em dimensées minimas, também animais ante-diluvianos. Todos se achavam em continuo movimento e cresciam onde encontrassem o ali- mento necessrio no soro especial em que viviam, soro esse cuja composi¢ao nunca foi revelada. Particularmente curioso é que, quando repostos no forno elétrico, a 650° C, esses seres vivos e seu meio recobravam a forma e recomecavam a desenvolver-se, assim demonstrando ser imortais, néo esterilizaveis, indestrutiveis; em outros ter- mos: © que devera maté-los, ao contrario os reanimava! Nao se trata de ressurreicéo — afir- mou o sabio —, pois nunea ocorre morte, nem REFOR MADOR — 215 de nova criag&o, porque o que se viu ja preexis- tia, mas de reaparecimento ou revigoramento. Esses pés incinerados encerravam, portanto, vida, que apenas aguardava 0 momento de por-se de manifesto; isto é, “tudo é vida, vida perene, vida eterna”! A este propésito, facamos piblico este mag- nifico soneto ditado, a 27 de Maio de 1947, pelo Espirito de Edmundo Xavier de Barros ao in- compardvel Francisco Candido Xavier: VIDA “Nem a paz, nem o fim! A vida, a vida apenas, E tudo que encontrei ¢ € tudo que me espera! O ouro, a fama, o prazer € as ilusdes terrenas Sio lodo, fumo e cinza ao fundo da cratera. Esvaiu-se a vaidade!... Os jtibilos e as penas, A alegria que exalta ¢ a dor que regenera, Em cendrio diverso aprimorando as cenas, Continuam, porém, vibrando noutra esfera, Morte, desvenda & Terra os planos que descobres, Fala de tua luz aos mais vis € aos mais nobres, Renova 0 coragéo do mundo impenitente!... Dize aos homens sem Deus, nos circulos escuros, Que além do gelo atroz que te reveste os muros, Hé vida... sempre a vida... a vida eternamente...” Continua o ilustre Dr. Stamatiadis no seu resumo: As formas que, por seu processo, Martin retira do longo sono, sao reincorporagdes duma forea especial, fixa e eterna. A vida, no pensar do cientista britnico, nio é a manifestacdo das foreds corporais, mas verdade é que o corpo é a exteriorizagio da preexistente forca animado- ra e indestrutivel. Nao pretende, como Tomas Muxley, que o protoplasma seja a base material da vida, senao a base material para a manifes- tagao da vida. “Néo dou vida nova — diz — por meu método, porque a vida no deixa de exis- tir’. Nada morre; nada se pode criar, que nao se pode destruir. O oposto da vida’nio é a morte, mas o estado latente. A massa vivente que tem corpo na Terra néo tem a menor im- Portincia, em comparacdo com a que nio possui corpo. Em poucas palavras: tudo existe espi- ritualmente e existira por todo o sempre, mesmo na época em que as formas materiais ainda néio se manifestavam ou quando deixarem de ser visiveis. Comecamos a compreender que nao se pode morrer e desaparecer para sempre; e, a0 mesmo tempo, nfio podemos entender por que se vive! Outros cientistas continuam a obra de seu colega inglés, tais como o francés Maurice Ge- nette, seu confident, 0 Dr. W. J. Robbins, da Universidade de Missouri, e o Dr. Stanley, do Instituto Rockfeller. Ja ‘se sabe que as expe- riéncias do Dr. Stanley j4 provaram que a matéria inerte se transformou em matéria viva, Jogo que inoculada numa planta} ao mesmo re- sultado chegou 0 Dr. J. Homard, do citado Ins- tituto. = peg a Poe eee ee, 276 — —— Dezempno, 1941 ] Eis os fatos curiosos neste delicado, mis- terioso terreno da Vida. Nao os comentamos, senfo que rendemos gracas 20 Todo-Poderoso, por haver homens da orgulhosa ciéncia oficial que, humildes, nao julgam haja a Natureza “vol- tado a ultima pagina do seu livro”, na frase do meritissimo Kardec. E com efeito, como disse o Dr. Stamatiadis: “como podemos imaginar que a vida, que, no pretérito, se revelou tao inyentiva com o advento do homem, tera per- dido seu impeto a tal ponto, que, de futuro, renuncie a toda espécie de surpresa?” 12-10-47. Méos Enferrujadas Quando Joaquim Sucupira abandonow o cor- po, depois dos sessenta anos, deixou nos conhe- ¢idos a impressio de que subiria incontinente ao Céu. Vivera arredado do mundo, no conforto precioso que herdara dos pais. Falava pouco, andava menos, agia nunca Era visto invariavelmente em trajes impe- caveis. A gravata ostentava sempre uma pérola de alto preco, pequena orquidea assinalava a lapela; e 0 lenco, admiravelmente dobrado, caia, irrepreensivel, do bolso mirim. O rosto denun- ciava-lhe o apurado culto as maneiras distintas. Buscava, no barbeiro cuidadoso, cada manha, renovada expressio juvenil. Os cabelos bem pos- tos, embora escassos, cobriam-lhe o crénio com © esmero possivel Dizia-se cristio e, realmente, se vivia iso- lado, no fazia mal sequer a uma formiga. Asse- gurava, porém, o pavor que o possuia, ante os Teligiosos de ‘todos os matizes. ‘Detestava os padres catélicos, criticava as organizacées pro- testantes ¢ categorizava os espiritistas A conta de loucos. Aceitava Jesus a seu modo, nao se- gundo 0 préprio Jesus. As facilidades econémicas transitérias adia- vam-lhe as ligdes benfeitoras do concurso frater- no, no campo da vida. Estudava, estudava, estudava. E cada vez mais se convencia de que as melhores diretrizes eram as dele mesmo. Afas- tamento individual para evitar complicagies e desgostos. Admitia, sem rebucos, que assim efe- tuaria preparacéo adequada para a existéncia depois do sepulero. Em vista disso, a desencar- nagdo de homem tao cauteloso em preservar-se, passaria por viagem sem escalas com destino & Corte Celeste. Dava aos familiares dinheiro suficente para aventuras e fantasias, a fim de nao ser incomo- dado por cles; distribuia esmolas vultosas, para que os problemas de caridade nao Ihe visitassem 0 lar, afastava-se do mundo para nao pecar. Nao seria Joaquim — perguntavam amigos intimos — 0 tipo do feligioso perfeito? Distante de todas as complicacées da experiéncia humana, pela forca da fortuna sélida que herdara dos parentes, im- possivel n&o conquistasse o paraiso. A realidade, contudo, que o defrontava ago- ra, ndo correspondia 4 expectativa geral. ——— REFOR MADOR —-—— Sucupira desencarnado ingressara numa es fera de acio, dentro da qual parecia nao ser percebido pelos grandes servidores celestiais. Via-os em movimentacio brilhante, nos campos e-nas cidades. Segredavam ordens divinas aos, ouvidos de todas as pessoas em servico digno. Chegara a ver um anjo singularmente abracado A velha cozinheira analfabeta Em se aproximando, todavia, dos Mens geiros do Céu, nao era por eles atendido. Conseguia andar, ver, ouvir, pensar; no et: tanto, desventurado Joaquim! as mios e os bra cos mantinham-se inertes. Semelhavam-se a an tenas de marmore, irremediivelmente ligadas ao corpo espiritual. Se intentava tatar a sede! ou a fome, obrigava-se a cair de hracos, porgut ndo dispunha de maos amigas que o ajudassem, ‘Muito tempo suportara semelhante infortt: nio, multiplicando apelos e lagrimas, quando f conduzido por entidade caridosa a pequeno trig ‘bunal de socorro, que funcionava de tempos tempos, nas regides inferiores onde vivia com pungido. © benfeitor que detinha ali fungdes de jui reunida a assembleia de espiritos’ penitente declarou nao contar com muito tempo, em fad das obrigacdes que 0 prendiam aos circulos m altos e que viera até ali sémente para liquida os casos mais angustiosos e urgentes Devotados companheiros do bem selecions- ram a meia dizia de sofredores que poderiam, ser ouvidos, dentre os quais, por iiltimo, fi Sucupira, a exibir os bracos petrificados. Chorou, rogou, lamuriou-se. Quando pares disposto ao relatério geral e circunstanciado dag existéncia finda, obtemperou o julgador. — Néo, meu amigo, nao trate de sua biog grafia. O tempo é curto. Vamos ao que in Tessa. Examinou-o detidamente e observou, sados alguns instantes: — Sua maravilhosa acuidade mental d monstra que estudou muitissimo. 4 Fez pequeno intervalo e entrou a arguir: — Joaquim, vocé era casado? — Sim. — Zelava a residéncia? — Minha mulher cuidava de tudo. — Foi pai? — Sim. — Cuidava dos filhos em pequeninos? — Tinhamos suficiente mimero de criad ¢ amas. — E quando jovens? — Eram naturalmente entregues ao fessores. — Exerceu alguma profissig itil? — Nao tinha necessidade de trabathar pare 3 gankar 0 pio. 4 — Nunca sofreu dor de eabeca pelos amigos? | — Sempre fugi, receoso, das amisades, Nao queria prejudicar, nem ser prejudicado. 4 © julgador interrompeu-se, refletiu longi: mente € prosseguiu: — Vové adotou alguma religiio? — Sim, eu era cristio — esclareces Su- cupira, — Ajudava aos catélicos? DEZEMBRO, 1947 —— —~ Nao. Detestava os sacerdotes. ~ Cooperava com as igrejas reformadas? —.De modo algum. Sao excessivamente in- tolerantes. — Acompanhava os espiritistas? — Nao. Temia-thes a presenga. — Amparou doentes, em nome do Cristo? ~ A Terra tem numerosos enfermeiros. — Auxiliou criancinhas abandonadas? — Ha ereches por toda parte. — Esereveu alguma pigina consoladora? — Para qué? 0 mundo est cheio de livros € escritores. — Estimava 0 martelo ou o pincel? — Absolutamente. — Socorreu animais desprotegidos? — Nao. — Agradava-lhe cavar a terra? — Nunca. — Plantou arvores benfeitoras? — Também nio. — Dedicou-se ao servico de condugio das Aguas, protegendo paisagens empobrecidas? Sucupira fez um gesto de desdém e in- formo — Jamais pensei nisto. © instrutor indagou-lhe sobre todas as ati- vidades dignas conhecidas no Planeta. Ao fim do interrogatério, opinou sem delong: — Seu caso explica-se. Vocé tem as maos enferrujadas. ‘Ante a careta do interlocutor amargurado, esclareceu: — BE’ talento nfo usado, meu amigo. Seu remédio é regressar a licho. Repita o curso terrestre. Joaquim, confundido, desejava mais amplas elucidacdes. O juiz, porém, sem tempo de. ouvi-lo, en- tregou-0 aos cuidados de outro companheiro.’ Rogério, carioca desencarnado, tipo 1945, re- cebeu-o de semblante amével e feliz e, apés es- cutar-Ihe compridas lamentacées, convidou, pa- cientemente: — Vamos, Sucupira. Vocé entraré na fila em breves dias. — Flia? — interrogou o infeliz, boquiaberto. Sim — acrescentou o alegre ajudante — na fila da reencarnacéo. E, puxando o paralitico pelos ombros, con- cluia sorrindo: — O que vocé precisa, Joaquim, 6 de movi- mento, InmAo X. (Mensagem recebida pelo médium Fran- cisco Candido Xavier). “© EVANGELHO SEGUNDO 0 ESPIRITISMO” EM ESPERANTO Esereve-nos 0 querido médium Franelsco Candido Xavier: “Recebt o régio presente de LA EVANGELIO LAG SPIRITISMO. E’ uma dfdiva to sublime que a recolht, no com os bragos pereciveis do corpo, mas com as Infos da alma, por entender-Ihe @ grandlosidade & fren- te do porvir... Agora, lutas e trabainos, Depois, benc&os @ colheltas’ - REFORMADOR —— at © CRISTO — JESUS por DJALMA FARIAs. s cristéos comemoram, em Dezembro, com a maior emogio, o nascimento de Jesus de Na- zaré, ‘Acontecimento da maior importancia, o nas- cimento de Jesus marca efetivamente uma nova etapa na vida humana em nosso mundo, assina- Jando o advento providencial da mais’ elevada moral, da mais espiritualizada filosofia e da mais pura religido que a terra j4 conheceu, ten- do sido um marco entre dois mundos, 0 antigo © Pago, e o novo e cristo, e exercendo téo gran- de influéncia nos destinos da Humanidade que al- guns historiadores dividiram a Historia da Civi- lizagio em dois grandes periodos: 0 primeiro, partindo de tempos imemoriais e terminando na época do nascimento do Cristo; e o segundo, comegando nessa época e vindo até os nossos dias. + Em Dezembro, todos os espiritos estio em festa, todos os coragées em jubilo pelo anun- ciado nascimento do Salvador do mundo. Todos, neste tempo, tributam, ao seu modo, de acordo'com o culto externo da sua religiao, a sua justa, sincera e merecida homenagem 20 Grande Espirito que veio ministrar-nos os ensi- nos divinos de amor e verdade, de justica e bondade, de caridade e misericérdia, 20 Divino Redentor das nossas almas, ao maior e mais poderoso Rei, que 0 mundo ainda néo conhece, porém, que um dia conheceré certamente: — 0 reino da paz, da fraternidade e do amor. © reino ideal de Jesus-Cristo é ainda invis- vel. Sémente poder tornar-se visivel quando os homens conhecerem, sentirem e praticarem os preceitos cristios. E’ o reino feliz do amor e da caridade. O seu trono sera um dia edificado no coragio do homem que viva verdadeiramente os Evangelhos santos e eternos desse divino e ama- do Senhor. E para deleite dos nossos inteligentes leito- res reproduzirei em seguida um velho e lindo soneto do meu querido amigo e talentoso poeta Joao Barreto de Menezes. Ki-lo: JESUS Seja 0 templo qual for, diversa a crenga, Um lago ignoto prende @ Humanidade... Por mais que se mutile a liberdade, Mais brilha ¢ surge com pujanga imensa, O direito, a razdo néo hé quem venga, Por mais que 0 crime aos déspotas agrade. O homem tem horror @ iniquidade, E o homem luta, porque 0 homem pensa. Um gatho em prot da lei faz-se floresta. Esmagado um principio 0 homem protesta E 0 protesto reldmpagos produz. Hé nos templos esperancas € mistérios... B’ que toda a riqueza dos impérios Nao vale uma sanddlia de Jesus. Gléria ao nosso Divino Mestre e Senhor que nos ensinou o caminho da Salvagio! -9— 278 —— Esflorando o Evangelho Na intimidade do ser “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entra- nhas de misericérdia, de benignidade, humildade, mansidao e longanimida- ' — Paulo. (COLOssENSES, 8-12). Indubitavelmente, ndo basta apreciar os sen- timentos sublimes que o Cristianismo inspira, E’ indispensavel revestirmo-nos deles. 0 apéstolo nao se refere a raciocinios. Fala de profundidades. O problema nao é de cerebracéo pura EY de intimidade do ser. Alguém que possua roteiro certo do caminho a seguir, entre multiddes que 0 desconhecem, é naturalmente eleito para administrar a orien- tagio. Detendog tio copiosa bagagem de conheci- mentos, acerta da eternidade, o cristao legitimo & pessoa indicada a proteger os interesses espiri- tuais de seus irmaos da jornada evolutiva; no entanto, & preciso encarecer o testemunho ‘que nao se limita a fraseologia brilhante. B’ imprescindivel estejamos revestidos por “entranhas de misericérdia”, para enfrentarmos, com éxito, os perigos crescentes do caminho. O mal, para ceder terreno, compreende ape- nag a linguagem do verdadeiro bem; o orgulho, a fim de renunciar aos seus propésitos infelizes, no entende senio a humildade. Sem espirito fraternal, & impossivel quebrar o estilete escuro do egoismo. E necessario dilatar sempre as reservas de sentimento superior, de modo a avan- carmos vitoriosamente, na senda de ascencao. Os cspiritistas sineeros encontraréc lumi- noso estimulo nas palavras de Paulo. Alguns companheiros, por certo, observaraio em nossa lembranga mero problema de fé religiosa, segun- do o seu modo pessoal de entender; todavia, entre fazer psiquismo por alguns dias e solu- cionar questées para a vida eterna, hi sempre consideravel diferenca, * Operemos em Cristo “H quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele gra- gas a Deus Pai", — Paulo, (CoLos- SENSES, 3-17) A espera de resultados, depois de expres- ses e agdes, reconhecidamente elevadas, pode provocar enormes prejuizos em nossa romagem para a Suprema Luz. Enquanto aguardamos manifestacdes alheias de gratidio ou melhoria, somos suscetiveis de paralisar nossas proprias obrigacdes, desviando- -nos para o terreno escuro da maledicéncia ou do julgamento apressado. Quanto seja possivel, distribuamos o bem, entrogando nossas atividades ao Cristo, divino doador dos beneficios terrestres. -w— i REFORMADOR ———— Dezenpro, 1947 E’ perigoso estabelecer padrées de reconhé- cimento para coragdes alheios, ainda mesmo quando sejam preciosas jéias do nosso escrinio espiritual. Em nossa expectagdo ansiosa por ver a soma de nossos gestos nobres, podemos parecer egoistas, ingratos e maldizentes. Copiemos o pomicultor sensato Preparemos a terra, auxiliando-a e aduban- do-a. Em seguida, lancemos ao solo sementes ¢ mudas valiosas. O servico mais importante caberé ao Senhor da Vida. Ele cuidara das cireunstancias favoré. veis no espago e no tempo, desenvolvendo-nos a sementeira, ou anular-nos-d 0 servigo, através de processos naturais, adiando a realizacéo de nos- 808 desejos, em virtude de razdes que deseo- nhecemos. O pomicultor equilibrado trabalha com titu- los de sincera confianga no Céu, ignorando, de maneira absoluta, se colhera flores ou frutos de suas obras, no quadro do imediatismo humano. Ampara-se, todavia, na Providéncia Divina e trabalha sempre, em beneficio de todos. Cumpramos, assim, nossa tarefa, por mais alta ou mais humilde, operando invariavelmente em nome de Jesus. Sejam para nés a gloria de amar e o prazer de servir. EMMANUEL. (Paginas recebidas pelo médium Fran- cisco Candido Xavier). La Evangelio Lau Spiritismo (") (Recebido pelo médium. Francis ¢0 Candido Xavier, em 28 de Novem bro de 1947). Torna a beleza do Evangelho Santo "A renovar-se para o mundo inteiro, Santificante e ldeido roteiro A claridade excelsa do Esperanto E’ a mensagem dos filhos’do Cruzeiro Ao mundo que transborda angiistia e espanto, Estandarte sublime, sacrossanto, De verdades eternas mensageiro: Simples, nobre, feliz, vasta e divina, Eis que a lingua dos Povos descortina © Cédigo da Vida, claro e puro! Salve Brasil da Paz, augusto e grande, De onde o Esperanto em luz se eleva e expande Para a Gléria terrestre do futuro Cruz E Souza. (@) O médium tinha em m&os 4 volume da edicto em Esperanto de “O Evangelho segundo o Esplrtismo” e meditava sobre a significacao do grande livro em- Mimgua mundial, quando se Ihe apresentou -o Poets, ta lando-Ihe da elevacHo desse trabalho e a seguir Ihe deu © songto que aqul apresentamos. | ~~ Dezemsro, 1947 — O Padre Anténio por I. Pequeno. Os nossos leitores j4 conhecem o padre An- tonio, vigdrio de paupérrimo lugarejo do Estado de Minas, homem de poucas letras, mestico ¢ filho ilegitimo de uma mulher humilde; no en- tanto, desde que o Brasil é Brasil, jamais houve um padre, um bispo ou um cardeal que conse- guisse aleangar a posicio a que chegou o sacer- dote que os préprios padres declararam, pela imprensa, ter sido ordenado por complacéncia dos seus ‘examinadores. Antes dele, cuja mediunidade nao péde ser ceultada pelo clero poderoso, que sempre inveja 08 dons meditinicos que o Cristo prometeu aos de coragio simples, outros padres existiram, como o frei Luiz, em Petropolis, ¢ o padre Busta: quio, que igualmente conseguiram realizar curas, semelhantes as espiritas, mas, de forma mais ou menos oculta, visto que aos padres, que exer- cem © dominio sobre os seus companheiros hu- mildes, ndo convém que alguém se possa apre- sentar, a0 povo, como mais digno do que eles no recebimento das béncios dos Céus. Parece-nos, porém, que o padre Antonio é realmente um bom médium curador. 5 verdade que j4 0 fizeram assinar wma declaracio man- dando que todos obedecam a Santa Igreja, visto que nao gostaram da sua declaracio espontanea, anteriormente feita, de que todas as religioes sao boas; mas, ainda agora, fugindo As festancas e@ homenagens que lhe preparavam para o dia 27 de Novembro, no Rio, homenagem em que certamente nao seria esquecido o gazofilacio, ele, apesar da ordem do bispo, do avido e do auto- mével colocados & ‘sua disposigao pelo exmo. se- nhor Presidente da Republica, provou exube- rantemente ser bom médium, preferindo seguir © conselho que seu guia transmitiu pela mediu- nidade audiente, e ficou em Urucania. Se o padre Anténio seguir os conselhos do seu guia, consethos que ele ouve como médium audiente que 6, a sua mediunidade sera conser- vada, tal qual’ vem acontecendo ao maior mé- dium do mundo — Francisco Candido Xavier; mas, se ele obedecer As ordenancas de homens, desrespeitando os conselhos do Espirito que o protege, podemos asseverar, pelo estudo e pela observacao que os espiritas temos do assunto, que ele perderd a mediunidade, ou, pior ainda, podera. ser abandonado pelo seu guia e se tornar Joguete dos Espiritos impuros. Pelo que se tem observado, cremos que o padre Antonio saberd resistir 4s tentacdes pre- paradas pelos seus préprios colegas. eS JA’ SE INSOREVEU? Se deseja receber um exemplar de cada livro novo logo que saia do prelo, basta escrever um bilhete postal & Livraria da Federacdo Es- pirita Brasileira, ordenando que o insereva no servico de “novidades”. O livro lhe sera reme- tido pelo servico de reembolso postal. ~ REFORMADOR ————. 279 Situacéo embaracosa por CRISTIANO AGARIDO. 1 Conta-nos o Evangelista Marcos que os ju- deus ficaram em situagdo embaragosa quando Jesus Ihes perguntou se o batismo. de Joao era do Céu ou dos homens. Qualquer das duas alter- nativas os comprometia. Tiveram que responder dizendo que nao podiam responder. E’ a situa- cao lamentével de quem esti fora da verdade, Procurando equilibrar-se debalde em falsa po. sigho. Fato semelhante dé-se hoje no Brasil com 08 nossos irmaos catélicos a respeito do Padre Anténio Pinto. Jesus ordenou aos seus diseipulos que curas- sem os enfermos, pondo-lhes as mos, e declarou que essa cura seria um dos sinais que acompa- nhariam os que créem: “Estes sinais hdo-de acompanhar aqueles que créem: em meu nome expeliréo deménios ; falaréo outras linguas; pegaréo em serpentes;: € se beberem qualquer coisa mortifera, néo Thes fard mal algum; poréo as maos sobre os enfer- ‘mos € os curardo”, (MARCOS 16:17-18.) Ele mesmo exemplificou tal doutrina, por- que expelia os obsessores, curava os enférmos pela simples imposicio das méos. Portanto, o Processo de cura dos cristios € este e no ode recorrerem & medicina materialista; mas foi-se enfraquecendo a fé e hoje o Papa, os Cardeais, os Bispos, os Sacerdotes ¢ os Crentes catélicos Passaram a recorrer &s drogas e a medicina oficial. O Padre Anténio Pinto demonstra com fatos as centenas, diante de milhares de testemunhas, que o processo ensinado por Jesus da plenos re- sultados; ele cura repentinamente alguns loucos, expelindo deles os Espiritos obsessores, e cura igualmente enfermidades fisicas julgadas incuré- veis pela medicina. Negar as curas atestadas por tanta gente, registadas em centenas de jornais e ilustradas com fotografias, seria insensato. Hé uma do- cumentagio muito mais positiva’ das curas do Padre Anténio Pinto, em Urucdnia, de que pos- suimos das curas de Jesus, realizadas na Pales- tina e s6 muito mais tarde registadas por escrito. Nenbum cristio duvida das curas relatadas no Evangelho, porque tem fé, existe um dogma; mas 0 descrente pode perfeitamente negar aque- Jas curas e atribui-las & fantasia dos narradores. Justamente 0 contrario, porém, se dé com as curas do Padre Anténio Pinto, porque sio muitos jornalistas a regista-las no’ momento em que Ocorrem, tomando impressdes fotograficas, fil- mes, e as testemunhas s&o nossos contempora- neos de todas as correntes religiosas, de todos 08 graus de cultura. Negar estas curas seria tio insensato como negar a guerra de 1939/45. EB estag*curas confirmam as que nos sao relatadas pelos Evangelistas, dio mais forca ao Evangelho, Porque se efetuam pela aplicagdo do método en- sinado por Jesus. Portanto, todos os cristios devem regozijar-se, render gracas a Deus por esta confirmagio das letras sagradas. eae 280 — No entanto, a situagdo da Igreja Catélica 6 tio embaracosa agora como aquela dos judeus que nao puderam responder & pergunta de Jesus quanto a origem do batismo de Joao Batista. Se a Igreja confirmar as euras do Padre Antonio e disser que ele est cumprindo o ensino de Jesus, a sua situagio é horrivel, porque confessa que $6 um de seus milhdes de sacerdotes tem valor, é crente, e assim desclassifica todo o Clero, inelu- sive os Cardeais e 0 Papa, porque nenhum deles apresenta aqueles “‘sinais que acompanham os que créem”, Se nao créem, so falsos discipulos e nao devem continuar exercendo o sacerdécio. Para nao desclassifiear todas as suas Auto- ridades, a Igreja é forcada a declarar nulo o ver- siewlo de Marcos acima transerito e nao crer nas curas do Padre Anténio Pinto; mas se negar os fatos atestados por tanta gente, pelos seus proprios fiéis, estaré acusando de mistificacio a um de seus sacerdotes e ao préprio Cristo, pois que este deu o exemplo de tais curas suprana- turais. E” passo demasiado ousado e que, se ten- tado, mina o fundamento mesmo da Igreja, por- que além das curas “‘milagrosas” registadas pelos Evangelistas, nas vidas dos Santos ha numerosos exemplos da mesma natureza e os fiéis créem e pedem as curas supranormais. A Igreja ensina que ha “milagres” e, se passar a negé-los, des- tri sua propria doutrina e perde sua razio de ser, por outras palavras, confessa sua propria faléncia. ‘A Igreja néo pode negar fatos que formam seu proprio fundamento e dos quais esta cheia a sua Historia; tem que confirma-los; mas, se os confirmar, além da situagio embaracosa’em que fica, de 86 possuir, no mundo todo, um tinico sacerdote que preenche os requisitos evangélicos, cabe-lhe o dever de destituir todos os outros como inadequados, destituir a hieraquia inteira, desde os seminaristas até o Papa, e confirmar as curas meditinicas que se processam no Brasil, por toda a parte, de obsessdes e doencas, pelos mesmos processos aplicados por Jesus e pelo Padre Anténio Pinto, isto 6, pela prece © pelos passes magnéticos. $6 resta & Igreja a solucio que os judeus deram pergunta de Jesus: dizer que nada pode dizer. Mas nao é esta a sua atitude; é muito menos prudente: esta ousando negar do pitlpito as curas e sendo seus pregadores contestados pelos figis. Numa paréquia desta Capital, tim. pregador negou peremptdriamente as curas do Padre Ant6nio Pinto, atribuiu tudo A supersti- ¢&o, ao fanatismo do povo; mas uma fiel se ergueu e protestou, declarando que ela propria fora curada de doenca incurdvel, “milagrosamen- te”, em Urucania. z Como terminard a situagio émbaragosa da Igreja? E” fécil de prever-se: Pela imprensa e pelo radio a totalidade dos crentes catélicos toma conhecimento dos fatos e mui ldgicamegte os aceita como verdadeiros, porque esto bem ates- tados; esta crenca no poder curador do Padre Antonio do Grama (como ele era mais conhecido até ba pouco) é confirmada pelo piblico espirita que todo eré nas curas dessa natureza, isto é nas curas meditinicas negadas pelo clero caté- —B- REFORMADOR Dezempro, 1947 f lico; portanto, os fiéis catélicos fieam em opo- sigdo muito legitima contra seus pastores e per- dem nestes a confianca. Resultado paradoxal: o Padre Anténio Pinto, um sacerdote catélico; esti encaminhando multidées de pessoas o Espiritismo! $6 no Espiritismo encontrardal essas pessoas explicagdes para os fendmenos que esto ocorrendo em Urucania. Se a missio desse grande médium perdu rar alguns anos e 0 despeito do clero continuar a ataca-lo, o Espiritismo no Brasil tomaré um| impulso imprevisivel. Se em 1947 as oficinas da Federacio tivera necessidade de fazer quatro edigdes de “O Evans gelho segundo o Espiritismo” (computada af edigéo em Esperanto e as trés em portugués)4 alguns anos mais tarde, se Deus nos concede a continuagao da tarefa do Padre Antonio Pintg sera necessario conservar uma grande impresso ra ininterruptamente trabalhando para fornecey aos seus estudiosos esse precioso curso de Dou trina cristi. Isso est de acordo com a Missio do B Dois anos antes iniciémos a campanha por editora maior e, agora, percebemos que ela vird atrasada e pequena para as necessidades d movimento de evangelizagao. SEDE OTIMISTAS! Se sentis no coracdo dividas sobre o futuro 4 paz da Humanidade; se pensais que o sofrimento, dor, as lutas reinario sempre sem remédio: maioria das mentes humanas dormem e apen sonham com gozos animais que engendrarko not inimigos e novos ataques e destruicdo; pessimismo tera razéo de vos prender; mas gentai-o das vossas mentes e fugi desse ablam crede, fende £6 nos pensamentos esperancosos. § estes pensamentos de esperanca que semeiam 6 0 do futuro; o pensamento e a vontade criardo 0 turo. Irmaos, segul, pois, 0 conselho, as semé do bem nunca hio-de perecer. L. L. ZaMENHoF, / Original: ESTU OPTIMISTOJ! Se vi sentas dubojn en la koro pri estonto paca de P homaro, se vi pensas ke sufer’ doloro, lukton regos Giam, kaj sen Sparo; Ke plimulto de V hommensoj dormas kaj nur songas animalajn guojn, kiuj novajn malamikojn formas, novajn fortatakojn kaj detruojn: Prave vin brakumas pesimismo; sed forpelu gin el viaj mensoj kaj forkuru gia de abismo; kredu, fidu de ? esper’ al pensoj. Ti semas de V estont’ ta bonon; pens’ Kaj volo la estonton Kreas. Sekvu do, gefrato, Ia admonon, de 1a bon’ ta semoj ne pereas, 12-5 -1945. L. L, ZaMennor, 3 (Lait diktado skribis mediume F. V. DEZEMBRO, 1947 REFORMADOR —- ——— 281 Pagina d0 Watal s: Seenes fe “Lua para alumiar as nacoe Sereee on ”, — Luveas, 2-52. Ha claridade nos incéndios destruidores que consomem vidas e bens. Resplendor sinistro transparece nos bombardeios que trazem a morte. Reflegos radiosos surgem do lanca-chamas. Relémpagos estranhos assinalam a movimentagdo das armas de fogo. No Evangetho, porém, é diferente. . Comentando 0 Natal, assevera Lucas que o Cristo é a luz para alumiar as nagoes Néo chegou impondo normas ao pensamento religioso. “ Nao interpelou governantes ¢ governados sobre processos politicos. ] Nao disputou com os fildsofos quanto ds origens do homem. Ndo concorreu com os cientistas na demonstragéo de aspectos parciais € transitérios da vida. | \ Fez luz no espirito eterno. \ . Embora tivesse o ministério enderecado aos povos do mundo, néio marcou | @ a sua presenca com expressdes coletivas de poder, quais exército © sacerdécio, — @ @©@® armamentos e tribunais, ©® © Trouxe claridade para todos, projetando-a de Si mesmo. Revelou a grandeza do servigo é coletividade, por intermédio da con. © sagragao pessoal ao Bem Infinito. Nas reminiscéncias do Natal do Senhor, meu amigo, medita no préprio roteiro. Tens suficente luz para a marcha? Que espécie de claridade acendes no caminho? Foge ao brilho fatal dos curtos-circuitos da célera, néo te contentes com a lanterninha da vaidade que imita o pirilampo em vdo baivo, dentro da noite, apaga a labareda do citime € da discérdia que atira coragdes aos -precipicios do crime ¢ do sofrimento. Se procuras 0 Mestre Divino e a experiéncia cristd, lembra-te de que na Terra hd clarées que ameacam, perturbam, confundem e anunciam arra- samento.. . Estards realmente cooperando com o Cristo, na extingéo das trevas, acendendo em ti mesmo aquela sublime luz para alumiar? EMMANUEL. Pagina recebida pelo médium francisco Candido Xavier 282 - O Livro Em vez de dizer Al-Cordn, que 6 0 nome oficial do livro sagrado e significa “A Leitura”, os mucul- manos dizem apenas AI-Kitdb, o livro, com 0 mesmo sentido, ou, mais extensamente, Kitab Allah, livro de Deus. ‘Também a palavra grega, hoje universa- lzada, Bidtia, significa somente “livros”; € o plural de bibtion, livro; porque a Biblia 6 a reuniao de todos os livros sagrados do Cristianismo. Como se vé da critica que os europeus tém feito de nossa edigéo em Esperanto de O Livro dos Espiritos, hé nc Velho Mundo uma tendéncia de encarar o primeiro livro de Allan Kardee como a Codificaciio toda e, portanto, de suporem que aquela primeira obra do Mestre seja o Livro por exceléncia dos espiritas, Nao é acertado esse modo de encarar © grande livro, porque ele € apenas parte da Codi ficacio. Se quisermos reduzir a um minimo a Co. Gificacdo, poderemos deixar de considerar 0 Céu ¢ 0 Inferno, Génese e Obras Péstumas, cujos ensinos realmente se acham subentendidos nos trés primel- Tos, mas nunca poderiamos deixar de considerar in- dispenséveis os trés primeiros: O Livro dos Hspiri- tos, O Livro dos Médiuns e O Bvangelho segundo o Espiritismo, Ng Brasil, 0 livro simbélico do Espiritismo nao & © Livro dos Espiritos, 6 O vangelho segundo o Espiritismo, o tinico livro de Kardee que jé adquiriu abreviatura popular. Chamam-lIhe os nossos confra- des simplesmente 0 Bvangetho. Assim aparece no mundo a primeira corrente Teligiosa: que simboliza todo o ensino com o titulo © Bvangelho. Os catélicos se referem as Escrituras, 98 protestantes a O Livro de Deus, os mugulmanos @ O Livro, mas os espiritas no Brasil falam sdmente do estudo de O Hvangetho, mesmo referindo-se a0 estudo geral da Doutrina Fspirita. ‘Um dos nossos confrades costuma referir-se & Codificac&o como formada dos cinco lyros maiores de Kardec, assim como*o Pentateuco é formado dos cinco livros de Moisés e representa a Primeira Re- velacéo, os quatro Rvangelhos e o livro de Atos dos Ap6stolos formam os cinco livros principais da Se- gunda Revelacio. De qualquer sorte, o livro por exceléncia do espirita brasileiro € 0 terceiro de Kardec, que equi- valeria, se admitissemos a comparac&o acima, a0 Levitico ao Evangelho de Lucas, dois livros encan- tadores da Biblia A recente publicacdo em Esperanto de O Hvan- getho segundo o Espiritismo causou muita emocio nos espiritas esperantistas do Brasil; despertou aqui entusiasmo maior do que o aparecimento na mesma, Lingua de O Livro dos Espiritos que tanto tem agra~ dado no Velho Mundo, © Sr. Ruben Ariza Martin, de S. Paulo, nos escreveu: “Hu tomava por chauvinismo as profecias que predicem grande missdo cristd para nossa Pétria, ‘mas depois de receber em Esperanto a excelente tradugdo de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, refletindo sobre as 733 sociedades espiritas que exis. tem neste Estado, estou convencido desse glorioso porvir”. Quase nos mesmos termos escreveram as senho- ritas Josefina e Leonarda Schembri, de Belo Hori- zonte! “Pensdvamos na Missdo do Brasil, anunciada em “Brasil, Coracdo do Mundo, Pétria do Evange- tho”, como coisa para remoto futuro, porque vemos ainda tanta maldade por toda a parte; mas a pre~ senga desse volume nos faz lembrar que tudo é nada —u— REFORMADOR —— : -, DEZEMBRO, 1947 Giante dos designios de Deus que se cumprem “com. 03 homens, sem os homens ¢ a despeito dos homens”, JG sentimos palpitante esse futuro nas luminosas| paginas desse volume de nossa bela filosofia, to consoladora, e, ainda, tdo progressiva como o proprio. Espirito”, © Sr. Leénidas Silva, de Bauru, escreve: “Com verdadeira emogao releio este excelente livro que eu jd conhecia em portugués. Agora, a bela lingua internacional, 0 Esperanto... Acho @ traduedo irropreensivel ¢ espero que cle terd um. grande éxito no mundo todo, como i4 esté alcancan- do “La Libro de ta Spiritoj”, © Sr. A. Caetano Coutinho, do Rio, diz “Nessa magistral traducdo, “O Evangelho se} gundo 0 Hspiritismo” € belissima joia. ..” © Prof. Elidio Taveiros, de Rio Claro, Estado] de S. Paulo, esereve: “Kiquei muito comovido ao receber o livro. Ndo sei como expressar minha alegria... Cordiais com: gratulagées pelo relevante servico prestado ao Esp Titismo e ao Esperanto no mundo todo”. © Prof. René Ventura Sales, de Suzano, Estado: de 8. Paulo, esereve: “Bsse livro espatharé pelo mundo a mais conse; ladora doutrina que jé foi dado ao homem. conhecer; 2 demonstrard aos espiritas ¢ experantistas de to 4 Terra quanto 0 Brasil 6 progressista” © Sr. Francisco Almada, de Santos: “Tive agraddvel surpresa em receder o tivro. Abrico com impaciéncia ¢ por acaso encontrei 0 Capitulo 27.°: “Pedi ¢ obtereis”. Lio capitulo te © pus-me @ meditar: “Sim, quando as preces saem dv coragdo, Deus nos ouve...” Do mesmo modo 9 precedente, “La Libro de ia Spiritoj”, a trad € de orguthar-se”. Francisco Candido Xavier escreveu: “Um grande abraco pelo aparecimento de. Bvangelio®... E’ uma coroa aos esforcos na dows trina da fraternidade que o Esperanto veio estabe’ lecer no mundo... Penso que, do Alto, Dr. Zamenhoh Abel Gomes e outros paladinos do divino ideal Vilam-se com 0 aparecimento do livro”. © livro por exceléncia do espfrita brasileiro & “O Evangelho” e 6 com a edi¢&o em Esperanto desse- livro que o espirita brasileiro inicia a obra inter- nacional de mostrar ao mundo qual o aspecto do4 Fspiritismo que pode transformar a humanidade, terné-la feliz © esperancosa. Nio sio es etemas, discussées dos metapsiquistas, a eterna experimen: tacdo dos “cientificos” que hiio-de trazer a paz ea felicidade ao mundo; ser “O Evangelho”, falando Giretamente a0 coracio do homem. La Evangelio lait Spiritismo € a bandeira de paz e amor que 0 Brasil apresenta & humanidade sofredora e dese vorada do nosso séeulo de transigéo. Grafica Mundo Espirita S. A, A Federacio Espirita Brasileira, sensibili-4 zada com a oferta espontinea que varios con- 4 frades Ihe tém feito de agdes da “Sociedade Anénima Grafica Mundo Espirita”, a todos esses amigos apresenta os seus agradecintentos. { DEZEMBRO, 1947 Da Unido das Juventudes Espiritas do Distrito Federal aos Jovens do Brasil 1" Depois da eclosio fenoménica no setor do me- Giunismo, que tantas converses provocou no selo Gas gentes cultas e civilizadas; depois da multipli- cidade de fatos do psiquismo experimental, a respeito de cuja positivagao e autenticidade testificaram as mais insuspeitas e autorizadas vozes da Ciéncia; depois da universalidade de mensagens e revelagses de toda ordem, que os emissérios do Senhor trou- xeram & Humanidade sofredora; depois de tantas luzes ¢ inefaveis consolagdes promanadas do regaco amantissimo do Pai, surge agore, entre nés, isto é em terras do Cruzeiro do Sul, com 0 mesmo carater intensivo e extensivo, qual se fora nova e diferente modalidade de avivamento espiritual, a alma. moca da nossa geragdo fundamente penetrada pelo ideal de recristianizacéio das criaturas E’ de fato algo sobremodo assemelhado com a fenomenologia medianimica 9 que ora nos 6 dado observar nos dominios da mocidade espirita em to. das as latitudes do nosso pais. A exemplo, porém, do que ocorreu com as ma- nifestagdes meditinicas, das quais todos se fizeram gntusiastas, sem saber bem o que aplaudiam ¢, por isso mesmo, se permitindo improvisé-las a eito a esnio, @ preocupagio febricitante de que no momen. to muitos se acham animados para fundarem Ju. ventudes Espfritas — apenas com o fito de Thes ver aumentado o ntimero — deixa transparecer evidente sintoma de flagrante irresponsabilidade. Porque, tal “como no basta a um Centro contar com a presence. mais ou menos regular de alguns médiuns para que se decida pela instalagéo de sessdes experimentais ou praticas, fazendo-se necessfrio antes de tudo ter alguém, bastante competente e idéneo, que possa assumir a responsabilidade de tio delicada tarefa, assim também, nos Grupos Espiritas, ainda que re. lativamente frequentados por elementos mogos, nao convém cogitar-se da fundacao de Juventudes ou Mocidades senio quando se depreenda ‘a possibili- dade, ou, melifor, se tenha absoluta certeza de serem clas confiadas @ pessoas de “comprovada capacidade intelecto-moral”, conforme prescrigéio textual das Normas para adesdo @ Unido das Juventudes Bapi- ritas do Distrito Federal em tal sentido. E’ de todo aconselhével que a par da oportuni- dade, necessidade e conveniéneia invocadas em favor desse empreendimento, esteja presente em primeiro lugar aquela condigao, a tnica que o justifica e faz valer qualquer outra, por isso que é a mais fun- damental dentre quantas a natureza do assunto im. Ponha & nossa consideracio. Facil 6 atinar-se com a razio de ser dessa precaugio. E’ que, no caso, est4 em jogo a formacao doutrinéria do jovem, que sob pretexto algum pode ou deve ressentir-se de quaisquer falhas e viciagses, E” Gbvio que nem de leve pomos em dtivida a boa intencdo ou a boa £6 de quantos, por auto-determi- nagdo, a si mesmos se constituem em orientadores de Juventudes ou Mocidades. Releva notar, porém, que a questdo ai nfo 6 apenas de boa intengii ou de boa £6, envolve também, necessiriamente, a ideia e competéncia ¢ idoneidade, requisitos estes de que REFORMADOR — — 283 Aquelas condigées nem sempre se fazem acompar nhar. Justifica-se, pois, plenamente, 0 imperative Intelecto-moral de a formacio doutrinaria dos mocos somente ser confiada a quem possa de fato estar a altura de conduzi-la & base de rigoroso critério de seguranga e sabedoria, de modo a que a exceléncla dos fins nio seja comprometida pela fnciria dos meios. Parece que exageramos a importincia da escolha do orientador. Entretanto, é do Evangetho @ adverténcia de que se um cego se poe a gular outro cego, anibos acabardo caindo no abismo. “Se, portanto, a luz que em ti hé si trevas, qudo gran. des serdo tais trevas” Vale a pena insistirmos no assunto que toma mos para termo de comparagio, Exatamente como aconteceu com o mediunismo cspirita, cujas altas finalidades © justas aplicagées foram algumas vezes inescrupulosamente desvirtuadas, a ameaca do de- turpagac do movimento juvenil no seio do Espiritismo também reeai sobre o provavel desvio dos scus tle. vantados objetivos. Como nfo ser assim, se a mania de querer aparecer continua sendo o grande mal? Que outra coisa esperar-se do personalismo exacer- bado e da vaidade insatisfelta de alguns dos nossos irméos? Pouco ge thes d4 estejam prejudicando a formacao di mentalidade juvenil deste que, iludine do-se, ‘possam dar a ilusio de que se acham em postos de comando, em posigie de evidéncia. Lo- Srardo insinuar-se? Acreditamos que nfo. Das ses s6es pritieas ou experimentais, a mocidade estudiosa colheu a sabia © prudente ligio de que os mistificas Gores podem também ser encontrados no plano fie Sico, quicd em maior nimero que nos proprios domi. nios do mundo invisivel. Aprendeu que nfo deve somente acautelar-se contra os pseudo-gulas e falsos protetores da erraticidade e sim, igualmente, contra 05 que, entre nés, se mostram empenhados em se fazerem passar como tais, mal dissimulando as suas segungas intengdes. Hscarmentados da dura expe- Hiéncia por que passaram os médiuns incautos, que todos foram sacrificados & ignordncia enfatuada de pretensos doutrinadores, que a si mesmos nio se haviam doutrinado antes de 0 fazer 208 outros, os mogos espiritas, que ora surgem para o aprendizado evangélico, nfo se deixario imolar as aras do sacri ficio a que tente arrastd-los, desalmadamente, a. irresponsabildaide e inconsciéneia de quem quer que seja. Guardam no imo dalma aquela sublime reco- mendagio do Senhor e Mestre, que diz: “Ou fazet @ Grvore boa, e 0 seu fruto bom, ow fazei a arvore mii e © seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a Grvore. Porventura se colhem uvas dos espinheiros ow figos dos abrolhos? Assim, toda arvore boa. produz bons frutos, e toda arvore mé produz fru- tos maus. Nao pode a arvore boa dar maus frutos; nem a firvore ma dar frutos bons. Toda arvore que n&o di bom fruto cofta-se e langa-se no fogo”. Excesso de cscrapulo? Pruridos de intolerfincia.? Assomos de puritanismo? Nao. Apenas zelo dou trinario © sentido de preservacio pelo jé precioso patriménio filoséfico-moral que para n6s representa © Espiritismo cristéo. Dificll conceber-se que alguémm ossa ensinar sem ter aprondido. Impossivel admi- tir-se que alguém possa transmitir a outrem, com Proveito, qualquer ensinamento, se nao tem, ele préprio, profundo conhecimento de causa da matéria tomada para estudo. Nao séré isso ignorar que nio sabe ou fingir ndo saber que ignora? © preparo doutringrio da mocidade, tal qual 0 15 234 — desenvolvimento meditinico, € coisa serissima, Em- bora, em relac&o 2 este, saibamos todos que boa parte do aproveitamento dos médiuns depende deles préprios, contudo ninguém ousa negar que muito influem, para apressé-lo ou retardé-lo, aqueles que dirigem os exercicios e aplicacdes de suas faculda- des, E quantos que nem apressam nem retardam, anulam, de uma vez, qualquer possibilidade de apro- veitamento! Tal qual o dirigente de sessdes praticas, ‘ quem nfo compete improvisar médiuns, mas favo- recer 0 exercicio métodico de suas faculdades, se as tiver, também nfio cabe ao orientador forgar ten déncias ou criar vocacées nos mocos e, sim, saber distingut-las ¢ aproveité-las quando realmente exis- tam. Esta a razio por que insistimos em afirmar que a funcho de orientador no é coisa assim téo fGcll nem simples como a primeira vista pode pa- recer. Se 0 seu desempenho consistisse em entreter fa atenciio dos jovens, distraindo-Ihes a imaginacio, recreando-lhes espirito, sem davida alguma que nfio haveria uma s6 alma de Deus que no estivesse habilitada para fazé-lo. Se o programa das sessdes das Juventudes f0sse encher-Ihe 0 tempo com novi- fades de toda sorte, claro que isso seria tarefa possivel a qualquer um. Logo, que cada qual, nesse sentido, pese suas possibilidades, mega seu préprio valor ¢, com a mio na consciéiicia, ajuize se pode chamar a si a responsabilidade de tio melindrosa quo delicada incumbéncia, Se tal houvessem feito quantos dentre nossos irmAos se arvoraram em di- retores de trabalhos meditinicos, em desenvolvedores de médiuns, em “redentores verbais” dos espiritos desencarnados, acreditamos que haverla menos ins- trumentos e mais trabalho, pouca doutrinagio ¢ multe Doutrina. ALBERTO NOGUEIRA GAMA Presidente. CAMINHO CRISTAO Aos irmdos do “C. B. Amor e Ca- ridade”, de Alegre - Esptrito Santo. Eis a estrada do espirito cristo: — Amar a Deus e 0 mundo que O reflete, Perdoando setenta vezes sete ‘Toda ofensa que fere o coracio; Guardar consigo.o titulo de irmao Que mil gestos de amor faz e repete; Ser paz onde a discérdia se intromete, Ser sacrificio pela redencio; Bendizer as pedradas dos caminhos, Amparar inimigos escarninhos E combater em si a treva e o mal! Eis 0 roteiro iluminado e vivo, Que transforma os grilhdes do homem cativo Em tesouros da Patria Universal. Joko pe Devs. (Soneto recebido pelo médium Francisco Candido Xa- vier, em sesso com irmios do “C. B. Amor e Caridade”, de Alegre, em Pedro Leopoldo, na noite de 30-947) ~— 16 — ——— REFORMADOR -—~—~— Dezeeno, 1947.9 Mensagem incompleta Ao pé da pagina 301 da edicgfio em Esperanto } de O Evangelho segundo o Espiritismo, encon- tramos a seguinte nota: “Na terceira edicéo francesa esta comur cagao (1) nao esté assinada, mas’ na primeira edicfo acha-se assinada por Erasto, e tem texto @ mais longo, cuja continuacio é a seguinte: “Ide, pots, e levai a_palavra divina: aos grandes que a desprezarao, aos eruditos que exigirao provas, aos pequenos e simples que & aceitario; porque principalmente entre os mér- tires do trabalho, desta provacio terrena, encon- 4 trareis fervor e fé. Ide; estes receberdo com hinos de gratidio e louvores a Deus a santa consolagio que Ihes levareis, e baixarao a fronte, 3 rendendo-Lhe gracas pelas afligées que a Terra Ihes destina. “Arme-se a vossa falange de decisio e co- ragem! Mos A obra! o arado est pronto: a j terra espera; arai! “Jde e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele vos confiou; mas, atencio! entre os chamados para o Espiritismo muitos se trans 3 viaram; reparai, pois, vosso eaminho e segui a J verdade. “Pergunta. — Se entre os chamados para o: Espiritismo, muitos se transviaram, quais os si nais pelos quais reconheceremos os que se acham no bom eaminho? “Resposta. — Reconhecé-los-eis pelos prin- efpios da verdadeira caridade que eles ensinaréo e praticario. Reconhecé-los-eis pelo nimero de 4 aflitos a que levem consolo; reconhecé-los-is pelo seu amor ao préximo, pela sua abnegagio, pelo seu altruismo; reconhecé-los-cis, finalmente, pelo triunfo de seus principios, porque Deus quer © triunfo de Sua lei; os que seguem a Sua lel, esses Sao os escolhidos e Ele Ihes dard a vitéria, mas Ele destruira aqueles que falseiam o espl-% rito dessa lei e fazem dela degrau para conten tar sua vaidade e sua ambicéio. (1) Na 84." edico brasileira essa_mensagent se acha nas paginas 268 e 269, j4 corrigida quanto A assinatura, mas ainda incompleta, como na 3 francesa de onde foi traduzida. Em futuras edicées "g scr transcrito esse lindo trecho que j4 aparece, em nota, na tradugdo em Esperanto. DEZEMBRO, 1947 — Viagens no mundo dos Espiritos por FRANCISCO V. LORENZ. x Horrorizado, olhou Franchezzo essa Agua © per- guntava a si mesmo se em tal lama podiam realmente Achar-se almas perdidas; nisto, um coro de lamentos @ pedidos de socorro atingiram-Ihe os ouvidos e como- veram-Ihe 0 coragio. Seus olhos, que j4 se haviam acostumado A escuridao, distinguiram cé e 14 formas humanas que faziam vos esforcos por sairem do lod» fem que se atolavam até 0 pescoco. Franchezzo Ihes gritou que deviam vir a ele, que’ estava na margem; eles, porém, ndo o ouviam nem 0 viam, e 0 ex-pirata Ihe explicou que eram como surdos cegos para com os que se encontravam ao derredor, que ele mesmo, também, em certo tempo, havia caido Ro lago lodoso, ‘mas, por seu préprio estorco, conseguira com muita dificuldade sair de 14, 0 que, segundo pen- sava, seria, para a matoria, Impossivel sem auxillo alhelo.. ‘Como 08 gritos ansiosos continuassem a pedir pie- dade e socorre, e. como um desses gritos desesperados parecia vir de muito perto, entrou Franchezzo no asque- Toso tremedal, contendo a repugnancla que sentia; apro- ximot-se de um Espirito masculino, all atolado, e, em- pregando todas as suas forcas, conseguiu libertar os pés do infellz, enlacadas por vegetais enredosos e, ora Puxando-o, ofa carregando-o, trouxe esse Espirito & margem, onde 0 mesmo cal ao cho, inconsclente. Enquanto Franchezzo salvara esse inteliz, 0 ex-pl- rata socorria um outro; e, muito contente com o éxito dos seus esforcos, ofereceu-se para salvar do tremedal mals um atolado, e teve também desta vez igual éxito, a0 mesmo tempo que Franchezzo lbertava do lodo um homem e¢ uma mulher que all gemiam. ‘Depois de se lavatem todos com a agua pura duma fonte, exortou Franchezzo og que foram salvos que, por sua vez, socorressem outros Espiritos sofredores dese pais tenebroso e, antes de se despedir, explicou-Ihes como poderlam, por melo de boas obras, ‘clevar-se a regiGes mais felizes. © ex-pirata, porém, pediu que Franchezzo © aceltasse ‘como companheiro em suas peregrinagdes, © que Ihe foi permitido. ‘Og dois viandantes encontraram, naquelas regives escuras, poucos Espiritos propensag & vida de arrepen- @imento; a grande majoria recetfa-os com escérnco € Irriso, e alguns até os atacaram com violéncia, assim que Franchezzo se resolveu a procurar outras regides, menos decaldas. A ditima experiénela fol realizada na ecasiio em que encontraram, diante da porta duma eabana, um homem e¢ uma mulher que estavam bri- gando um com o outro. Ambos eram de aspecto repe- Tente; 0 homem estava espancando a mulher tio terri- velmente, que Franchezzo intervelo pedindo que pa- rasse. Em resposta, ambos, 0 homem e a mulher se lancaram sobre o pacifftador, e $6 se retiraram quando o ex-pirata se pos em defesa do amigo. ‘Aquela mulher, seduzida por aquele homem, junto com ele matara o marido; ambos foram presos ¢ entor- eados; e all, no “inferno”, passavam o tempo acusando um 20 outro, e brigando. Delxando- aquele par de celerados, vleram Fran~ chezzo e 0 ex-pirata a uma grande montanha escura. Subindo penosamente ao cume, perceberam dum lado da montanha grandes e profundas fendas nas rochas, terrivels covas pretas e horrivets precipicios. De algu- mas dessas covas ‘salam lamentos, queixas e sdplicas pedindo a Deus socorro. Segundo a proposta do ex: Fata, os dois viandantes fizeram das numerosas ervas, que ‘all cresclam, uma corda comprida; Franchezzo atou uma extremidade da corda a uma rocha, e 0 compa- nhelro desceu por ela, com lgelreza e seguranca que havia adquirido na Terra, em sua longa prética como marinhelro; chegado abatxo, atou na corda 0 corpo dum Infellz que estava gemendo, deitado no cho. Franchezzo puxou a corda e trouxe 'o Espirito para’ cima, colo- cando-o num lugar seguro. ‘De maneira Igual foram salvos do precipiclo todos os que all se achavam, e, por fim, sublu pela corda 0 REFORMADOR ~~ —— 285 ex-pirata. Franchezzo fol avisado, pela voz do seu Guia invistvel, que essas almas haviam sido condenadas, por suas proprias consciéncias, a esses precipicios de sofrimento, por terem produzido, na vida terrestre, s!- tuagSes dé desespero para as vitimas de seu (dio e ‘egoismo. ‘Obedecendo & voz do Gula, os dols amigos desceram da_montanha e continuaram a sua peregrinacio. Che- garam, depols de algum tempo, a uma enorme mata, Cujas Arvores fantasticas semethavam as figuras que, multas vezes, aparecem em terrivels pesadelos. Os ramos sem folhas pareciam estendet-se, como bracos vives, para agarrare segurar o viandante infeliz. AS Taizes, compridas e semelhantes a. serpentes, esten- diam-se pelo chio e ameacavam fazé-lo calr. Os tron- feos eram nus e denegrides, como se tivessem sido ehamuscados pelo bafo deletério do fogo, Da casca eorrla uma viscosidade grossa, turva e, qual forte grude, prendia cada mao que vinha em contacto com ela, Barbas compridas duma estranha e escura espécie de musgo cobriam os ramos e embucavam e desviavam do caminho os que tentavam atravessar essa fantastica mata. Fracos gritos que pedlam socorre, como saldos das bocas de pessoas exaustas ou meio-afogadas, vinham da medonha mata, e cf e 14 se podiam ver que almas presas se esforcavam por livrar-se dos horrendos abra- gos que as sufocavam, porém, nfo aparecia sinal algum de éxito. Algumas dessas alinas estavam presas, pelos és, nas hediondas ralzes; outras estavam com as mios grudadas nos troncos das arvores; outras eram presas pelas barbas dos musgos escuros; ainda a outras 0s ramos esmagadores prendiam pelas cabecas e pelos fombros. Animals ferozes andavam assustando essas almas infelizes, sobre cujas cabecas voavam enormes abutres. “Quem so estas almas desgracadas?" perguntou Franchezz0 a0 seu Guta invisivel, ¢ este Ihe respondeu: “Sao os Espiritos que, quando viviam na Terra, sentiam prazer em atormentar os seres humanos, iangavam Seus semelhantes as feras, para que estas os dilaceras- sem; so os Espiritos que praticaram crueldades desu- manas, escravizavam e torturavam suas pobres vitimas, @ escameciam a doutrina divina de amor e compaixéo. Enquanto estas almas no sentirem verdadeiro arrepen- dimento © ndo se decidirem a trabalhar pelo bem do préximo, n&o poderao ser libertadas da situacao oca- slonada’ por suas préprias culpas Quando os dois peregrinos sairam da “Mata de Desolacho” e dali se ausentaram, encontraram-se com 0 querido Hassein, que deu a Franchezzo agradaveis noti- clas da nolva deste, e declarou que o ex-pirata devia separar-se do seu libertador, para ser levado por Has- sein a outra regitio, onde outro Espirito se encarregaria de auxilié-lo para,'em pouco tempo, poder elevar-se a uma_regiéo mais’ alta. Depols de se despedir dos dois smigos, continuou Franchezzo a sua viagem, e em breve avistow 0 Amigo Fiel que o estava aguardando. Cumprimentaram-se cordiaimente e contaram um ao outro as suas aven- turas, apés 0 que 0 Amigo Fiel explicou que fora enviado para acompanhar Franchezz0 numa nova viagem, deter- minada pelos seus superiores. (Con inua). Abreviaturas Telegraficas Em outro local deste mimero damos em abreviatura os nomes de nossos livros, a fim de diminuir 0 custo das encomendas por meio de telegramas. ‘Além dessas abreviaturas, registramos um “endereco telegrafico com a mesma finalidade de baratear o custo dos pedidos por via telegré- fica. Bastara enderecar o telegrama com as le- tras: LIBRURBO RIO DF, para que chegue logo as nossas mios. De todos 08 livros novos que forem apare- cendo, iremos convencionando novas abreviatu- ras. O telegrama com essas abreviaturas nao & cifrado, paga a taxa comum de telegrama em linguagem clara. —w— 286 Xingamento para o futuro por LINCOIA ARAUCANO. No porvir, quando quiserem ofender duramente a uma menina endiabrada, hfio-de chamar-Ihe “Ma- ricota Serelepe”. Este nome lembraré um novo sa- tans feminino, criagéo de Casimiro Cunha pela mao de Francisco Candido Xavier Maricota Serelepe “é um diabinho imortal, por- que habilmente pintado pelo poeta em ensinamentos sublimes que interessam n&io a petizada, como faz supor o livro repleto de figuras em cores berrantes, mas ao filésofo maduro, ao pensador profundo, ao pregador do Evangelho. ‘Quantas vovés no futuro hiio-de contar aos ne- tinhos a histéria dessa menina endiabrada e de tudo que the sucedeu durante e depois da vida! Outra personagem, do mesmo livro, e que talvez entre para a vida, pela tremenda impressio que causa, € 0 Gigante Mao Segura, téo digno de viver como 0 Adamastor de Camées, ou como 0 Remorso Cacador de Feras, de Guerra Junqueiro. Ha personagens de ficcfio que se imortalizam, Quem nao admira Sherlock Holmes como uma rea- lidade? ‘Temos lido coisas muito boas que o Céu nos manda pela mo dos grandes médiuns e mission4- rios, mas talvez nenhuma nos encantasse tanto como estas trinta e oito paginas da “Histéria de Maricota”. ‘Como o livro ainda demora a chegar as méos dos leitores de Reformador e muitos hio-de olhé-lo com .desprezo, com> livro para criancas, permitam- -me transcrever aqui algumas das quadrinhas que 44 prevejo na boca de povo do século que vem, como aconteceu com os versos de Camées © prefacio do livro é um lindo poema dirigido as erlancas, em linguagem ao alcance de um menino de oito anos. (© primeito quadro representa a escola: a pro- fessora desalentada assiste a uma das diabruras de Maricota Serelepe. Os alunos se horrorizam, por- cue a endiabrada arranca os cabelos de uma cole- guinha na carteira préxima e a descrigio do qua- dro comega assim: Maricota Serelepe Era menina travessa. Nao havia disciplina Que the dobrasse a cabeca. E termina: Nao era apenas sapeca: Fugia @ qualquer dever. Vivia a brutalidade, Fazia 0 mal por prazer. No segundo quadro’ aparece a mamae de Mari- cota repreendendo-a initilmente, pois a resposta do diabinho é: “Gente velha que se acabe” No terceiro quadro vem a cena de Maricota ex- puisa da escola. No quadro seguinte esta ela fugin- do para a rua, em plena vadiagem: Aprendew na malandragem © furto, 0 assovio, a vaia; Em breve tempo encontrow Meninos de sua laia. — 18 — --— REFORMADOR — mentando os. animais e os passarinhos. aparece burlando a policia: Dezestero, 1947 Em novo quadro j4 aparece mendigando Escapulindo ao trabalho, Ezpuisa dos bens da escola, Fazia-se pobrezinha, Saindo a pedir esmola. Vemo-la em novo quadro perseguindo e ator Depois nos Varando portas estreitas, Pulando grandes janclas, Sabia’ correr dos guardas E burlar as sentinelas. No quadre oitavo a endiabrada morre. No mun- do espiritual aparecem-Ihe monstros apavorantes ¢ ela foge numa corrida louca, desabalada, mas tudo 6 imitil, porque os monstros sio seus pecados ¢ vio j com ela por toda a parte. Seu Inferno vai com ela. Depois de longos e horriveis padecimentos, ator mentada pelos monstros que a seguiam pelas trevas sem fim, a infeliz chorou e implorou a compaixto g divina. Jesus mandou-lhe um mensageiro que aft gentou os monstros. Hstava arrependida e podlag passar do inferno do desespero para a escola ds regeneracio, da reparacio, . Foi entdo que apareceu, De feia ¢ enorme estatura, Um zelador de criancas, © Gigante Mao Segura. “© Mensageiro de Jesus que afugentou os mon tros, entrega a menina ao Gigante que é o executor: da Lei de Causa ¢ Bfeito. Diz 0 poema: “0 mensageiro do Cristo Haplicow-thg: Esta menina Nevessita Fcother-se Acs campos de disciplina ALE que se regenere, De-Ihe recursos de emenda. Praticou muita maldade, Precisa de corrigenda. esse instante, Maricota Foi levada em aftigto Para um campo escuro ¢ triste De servico ¢ de prisdo”. Maricota Serelepe viverdé como tantas outras personagens de ficclio: Adio, Eva, Caim, Abel, Ape lo, as Musas, Saturno, Adamastor e sera nome abo- minvel no futuro. Nao s6 as criancas estio da| parabens pelo aparecimento desse livro, mas todos: os espiritistas, porque nesse livro a Doutrina ape rece por si mesma, partindo dos exemplos. Maricota Serelepe, a heroina de “Hist6ria def Maricota”, 6 uma personagem perfeita, destinad a longa vida, 4 Ease um dos cinco livros que os Espiritos or! creveram recentemente pela mio de Francisco Cin dido Xavier ‘DetempRo, 1947 ——___________ REFORMADOR ———_——. Rendendo Gracas :: (Sonetos recebides pelo médium Francisco Candido Xavier, em reunides de 4, 5 ¢ 6 de Outubro de 1947, em Pedro ‘Leopoldo, com a presenca de D. Zaira Junquelra Pitt, amiga pessoal do poeta, desencarnado em Fevereiro de 1947, e distinta cooperadora do Espiritismo paulista, que vem’ trabalhando em favor dos Itmios hansenianos do Es tado de S. Paulo) Bendita sejas, Dor, por onde féres, Luz sublime entre as luzes mais sublimes, Benfeitora do Céu, que nos redimes, Aureolada de ocultos resplendores! @ - ® oe Nos teus bracos maternos salvadores, oo Com que, amorosa ¢ justa, nos comprimes, ©0868 Lavei minhalma © reagatei meus crimes ©0o De outras eras nos gozos tentadores. Agradego-te as portas que me abriste, - Usando a lepra — a chave escura e triste Que nos compele o ser a owvir-te a 86s. Contigo, ‘na amargura e na agonia, Encontrei, solucando de alegria, © Cristo amado que morreu por nés! AOS COMPANHEIROS DE PIRAPITINGUI Amados, que a verdade fortalece, Dos portos luminosos que transponho, Em nossa imensa luta os olhos ponho, Na comunhéo do amor envolta em prece. sofrimento é a luz que nos aquece, Sinal de Deus que nos aclara o sonho No porvir de alegria, almo e risonho, De ventura que nunca desfalece. Nas dores que laceram como adagas, Nao olvideis Jesus em sangue e chagus, No seu trono de ligrimas doridas!. Contemplando-Ihe a cruz ingrata e escura, Lavaremos no pranto da amargura As trevas que trazemos de outras vidas LIBERTO, ENFIM. Outrora, @ frente ds conquistadores, — Num trono de fantdsticas riquezas, Despojando cidades indefesas, ©0@ Comandei 0 cortejo de esplendores! ©60 @@ Depois... infernos atormentadores, tf @©®@® @ Braseiros vivos, maldigées acesas, © Ligado & angistia de milhées de’ presaa, Apunhalado o peito por mil dores Depois ainda... um reino de feridas, Um sétio de afligdes desconhecidas E um cetro de degredo ¢ solidéo. Mas, em seguida @ lepra que devora, Deslumbrado, acordei na Eterna Aurora, De alma liberta para a redengao. Jesus Gongazves. —19— 288 "Milagres” e curas medidinicas por ORLANDO RoMERO. ‘A meditinidade 6 uma faculdade, isto é, um dom préprio do homem, podendo variar de indi- viduo a individuo, e ser mesmo ausente em muitas pessoas. Como sabemos, sio miiltiplas as modalidades dessa faculdade, e é nosso desejo falar, sucintamente, sobre a mediunidade cura- dora, no s6 pela magnificéneia com que cla se reveste, como também pelo sensacionalismo que tais fatos provocam, Tanto a Histéria como os livros fundamen- tais de todas as religides antigas, estao refertos de fatos referentes a curas mediinicas, sem em- bargo venham rotulados com o nome de “mila. gres”. A Doutrina dos Espiritos nos ensina, mui Iogicamente, que nao existe o tal milagre na acep¢aio geral do termo, pois o milagre seria a derrogacao das leis naturais, leis imutaveis e absolutamente sabias; seria um feito extraordi- nario em oposi¢éo A Lei Divina. Ora, tal con- cepeio é por demais errénea, profundamente in- cocrente, e no merece o mais superficial exame filoséfico. Portanto, temos que apelar para as proprias leis da Natureza. E’ isso que o Espi tismo nos mostra a luz meridiana, sem rodeios e sem 0 comodismo dos dogmas humanos. Sabe- mos, hoje, que existe em torno-de nés, ao der- redor de todas as coisas, o Fluido Universal, também chamado Fluido Elementar ou Primitivo, sem qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisio. Segundo os Espiritos “esse fluido é suscetivel de inameras combinacdes e o que chamamos fluido elétrico, fluido magnético, sio modificagdes do fluido universal, que nao é propriamente falando, senio uma matéria mais perfeita, mais sutil, e que se pode considerar independente”. Pois bem, os Espiritos Superio- res, 0S nossos Mentores do Espago, se utilizam do fluido universal com muito bem Ihes apraz, manipulando-os, a fim de ministrarem os seus efeitos curativos aos enfermos, quer encarnados, quer desencarnados. As curas mediinicas, os casos de taumaturgia, requerem 0 auxilio, o con- curso de um médium. “Médium 6 o ser, é'o indi- viduo que serve de trago de unio aos Espiritos, para que estes possam comunicar-se facilmen- te com os homens: Espiritos encarnados. Por. conseguinte, sem médium, n&o ha comunicacées tangiveis, mentais, escritas, fisieas, de qualquer Natureza que seja”. E’ sabido que os seres semelhantes atuam com seus semelhantes e como seus semelhantes, e nésmespiritos encarnados, somos semelhantes aos espiritos, embora desen- carnados. Os médiuns tém, pois, uma faculdade toda especial em seu perispirito que Ihes permite entrar em estreita comunicagao, maior ou menor afinidade, com os espiritos, suprimindo a refra- tariedade natural e estabelecendo uma corrente, uma verdadeira fusdo perispiritual. Quanto mais perfeita a fusio, mais inconsciente o médium, mais notiveis as comunicacdes obtidas, maiores éxitos alcangam os fenémenos. — 20 — —— REFORMADOR DEZEMBRO, 197 Qualquer individuo pode, pois, possuir mals’ ‘ou menos o privilégio desta ou daquela medi nidade, e para tal nfo sao exigidos os precon-3 ceitos de casta, nem de cor, e muito menos é levada em consideracdo a crenca religosa que professa. O imprescindivel € 0 desejo de curary de praticar a Caridade, é a vontade de amenizé ‘os males do préximo, tanto por parte do sensitivog quanto do médico espiritual; ¢ em consequén desse contubérnio fraternal, dessa alianca prol do Bem, hi como que’a formacao de jacto fluidico, contendo em sua composicgao gredientes hauridos do fluido universal, e qu & diretamente aplicado sobre a regitio carecent do enfermo. E’ oportuno dizer que.o estado, que se encontra o paciente, também contribal para o maior ou menor éxito da operacio: ag menta ou diminui a forca vibratéria dos fluido Dai o valor da Prece, da Fé, da confianca e Deus. ‘A propésito, encontramos em Kardee 0 8 guinte: “O poder da fé se demonstra, de mo direto ¢ especial, na aco magnética; por s intermédio, 0 homem atua sobre o fluido, age universal, modifica-Ihe as qualidades e lhe uma impulséo por assim dizer irresistivel. decorre que aquele que, a um grande poder fi dico normal, junta ardente fé, pode, 86 p forca de sua vontade dirigida para o bem, oper esses singulares fenémenos de cura e outro tidos antigamente por prodigios, mas que nif passam de efcitos de uma lei natural. Tal motive por que Jesus disse a seus discfpulel (no caso da cura do’ menino lunatico) : se ni © curastes, foi porque nao tendes fé” notar, 0 eto nfo necessitava de auxilio dire de qualquer médium; tanto The era possivel Ther fluidos magnéticos do meio ambiente, d dos préprios apdstolos, como ele, o Mestre d Mestres, nfo ignorava outras fontes ricas ¢ fluidos indispensaveis, gracas & sua grande sup rioridade espiritual), como os seus diseip também o faziam, € os homens o fizeram todas as épocas e o fazem nos dias atuais, apes dos pesares, apesar das proibicdes e da inet lidade da medicina oficial, materialista; 4 do repiidio da Igreja Romana, que tem o dis de exorcizar tudo aquilo que nao se proce dentro de seus bastidores, e de imputar ao Dials as inumerdveis curas de obsidiados, de loucu progressivas, de paralisias, de tumores maligno de operacdes cirirgicas, de afeccdes varias, ete etc., operadas, em todos os recantos, por inter médio do Espiritismo. Diante disso, se € que Sat resolveu praticar o bem, sem olhar a quem, e sei nenhuma vantagem financeira, é que ele se nerou, desistiu de persistir. no crime e no para se transformar em anjo benfazejo. Dai mos gue a evolugio se processa ininterrupta, tudo, no Universo, caminha para o bem... até. Deménio! Sé6 a Igreja de Roma permanece esta cionéria, surda aos toques das Trombetas celeyg tes, refrataria As influéncias do Bem e da Ver dade! Dezemsro, 1947 Felizmente, os casos de taumaturgia se re- petem, indistintamente, em todas as camadas sociais. Todos conhecemos de perto os recentes casos ocorridos em plena cidade do Recife, os casos de Madame Jael de Carvalho; sabemos dog escindalos provocados pelos padres e pelos médicos, a ponto de proibirem aquela senhora de praticar o bem, de sarar as dores do proximo, de lenir os sofrimentos daqueles que reconheceram a impoténcia da medicina oficial; entretanto, logo em seguida, surge 0 caso de um padre, no Estado de Minas Gerais, operando as mesmas curas de Madame Jael. S¢ aquela “Agua benta”, tdo pro- clamada pela imprensa e pelas estagdes radio- fonicas, possui, efetivamente, propriedades tera- péuticas, € porque ela nada mais é que a 4gua fuidifieada que todos os espiritas conhecem ¢ utilizam. Como se trata de um padre da Igreja Catélica todos se calam, todos acham que ele tem direito, que nfo 6 medicina ilegal, nem charlatanismo, e a’ propaganda assume propor cGes verdadeiramente fantasticas! A verdade, porém, 6 que a faculdade é a mesma. O padre é um médium curador. As condi- Ses de mediuniddae sio absolutamente iguais, € 0 éxito depende do mérito dos Espiritos comu- nicantes, da £¢ que o paciente nutre em seu cora- co do valor moral do médium, que nao passa de simples intermedirio, de aparelho utilizado pelos médicos espirituais para a efetivacio de curas meditmicas, erréneamente chamadas “mi- lagres”. + | ABEL E CAIM Genesis, IV: 9 a 11 e 16. “Que fizeste, Caim?” “Acaso o guarda Sou de Abel, Jeova, ou seu irméo?” 0’ palavras cruéis de alma bastarda, Que a si mesma despreza — e quer perdio! Nem de Nod a muralha te resguarda, Caim, do teu remorso e maldicéo! A Justica de Deus, se as vezes tarda, E’ por deixé-la ao préprio coragio! Pai! Abel fui chamado, e que ironia! Pois repara o Caim, que eu fui, maldito, Quando, orgulhoso, nfo Te conhecia! Da minha cruz de dor ouve o meu grito: Dame a luz do Cruzeiro, que extasia No Calvario de estrelas do Infinito! 16 -4-47 ABEL Gos. (Médium Porto Carreiro Neto). REFORMADOR —————— Charitas por V. CY RIO, 4 (“Estado”) —- N&o vou contar cémo ¢ que a palavra latina, que designa uma das trés grandes virtudes cristas, se transformou no topd- nimo Xarita, nome do pequeno povoado de pesca- dores ‘situado ao fundo do Saco da Jurujuba. A histéria que vou contar 6 recente e muito mais significativa. Caridade, sindnimo de Amor e nao simples- mente de esmola como hi muita gente que pense, 6 sentimento, virtude ou dever que admite estranhas interpretacées e em cuja pritica variadas e grandes siio as divergéncias, Pode até mesmo acontecer que aquilo que para uns seja caridade, para outros me- rega ser classificado como cruel perversidade. Pode servir de exemplo este caso que vou narrar, ocor- rido ai em Sio Paulo, em data nfo longingua e cuja autenticidade estou habilitado a provar, se for con- testada. HA tempos, conversando aqui sobre leituras ju- venis, mencionei 0 fato, aliéis bem conhecido, de que as freiras no gostam dos livros infantis de Monteiro Lobato e procuram impedir que as criangas sob sus influéncia ou jurisdic&o os leiam. Disto sel nfo 86 pelo que me dizem e ougo, mas por experiéncia do- méstica e direta. Fol a propésito daquela observa- go incidente qué velo ao meu conhecimento 0 caso que quero divulgar, H4 tempos foi internada na Santa Casa de Misericérdia uma crianea enferma. Era um menino vivo e esperto. J& no hospital, teve noticia de que, num concurso infantil em que pouco antes tomara parte, havia obtido um prémio, um livro que Ihe seria enviado pelo Correlo. Quem conheca criancas fe saiba estimé-las, j4 est4 a ver o jabilo, o orguiho @a ansiedade do garoto. Tanto maior quando o livro anuneiado era um, que ele ainda ndo conhecia, do seu autor predileto. Pediu encarecidamente a pes: soas da familia que Ihe haviam dado a alvigareira noticia que, logo que o volume chegasse, Iho levas- sem, pois & sua enfermidade niio o impedia de ler durante as horas que passava sdzinho. Prometeram. E 0 doentinho conheceu dias de ansiosa expectativa e antecipacao. Corrida uma semana, mais ou menos, a familia levou ao pequeno o precioso pacote que o Correio acabava de entregar na residéncia. E’ fécll imagi- nar a alegria do menino e pintar a cena. O doente abriu 9 pacote, olhou livro, com os olhos cheios de satisfagdo ¢ de gulodice mental; mas pé-lo de Jado, sobre a mesa de cabeceira, para conversar com 03 patentes, pedindo noticias de casa, dos scus inte~ resses infantis e contando como passou os dias de hospital, a marcha da doenca, pequenos incidentes. ‘Finalmente, terminada a visita, a familia reti routse eo garoto pegou 0 livro para, ansioso, iniciar a leitura. Foi quando entrou no quarto a freira, ou “ima”, que servia de enfermeira e vinha atender ao enfermo e dar-Ihe o remédio. Quis saber 0 que estava lendo e quando viu que era uma obra de ‘Monteiro Lobato, alarmada ¢ severa arrecadou o livro, dizendo que nao podia ler aquilo e que 0 volume teria que ser devolvido & familia para que © queimasse, Borbulharam as lagrimas dos olhos lo doentinho que pediu e implorou. A irma “de Ca- ridade’ manteve-se impiedosa. Aquilo era leitura proibida! Se o menino queria ler, ela Ihe empres- taria uma Historia Sagrada; mas Monteiro Lobato, nao! Era nefando. Era pecado. E o pequeno enfer- mo, a chorar, viu a freira partir, carregando 0 seu volume precioso. ‘No dia seguinte, por ocasiio da visita, o livro fol de fate devolvido & familia, por entre censuras —a— 290 ——-—__-—_ Asperas por havé-lo trazido, e com a recomendagio expressa de entregd-lo As chamas logo que chegasse casa. Na auséncia da zelosa enfermeira, o menino replicou que ndo Ihe queimassem o livro; que o guardassem com cuidado; que ele queria 1é-lo quan- do ficasse bom e nio mais estivesse sob o poder daquela freira m4. Naturalmente, a familia pro- meteu que o livro seria preciosamente conservado e que ele o leria quando saisse do hospital, ‘Mas o menimo nunca voltou A casa. A moléstia de que sofria raras vezes perdoa, e a crianga s6 saiu do hospital dentro de um caixfo estreito. Levou ho coragéo a magoa de néo ter lido o livro que ganhara com o seu esforco. Quando, porém, um coracdo para de bater, cessam e se extinguem as m@goas grandes ou pequenas que o enchem. EY a esperanga e consolo de todos nés. A familia, porém, guarda a amargura pungente de saber que 0 ente querido partiu com o azedume de Ihe ter sido negado um dos iltimos pequenos prazeres que poderia ter tido para amenizar as longas horas dos seus tristes e derradeiros dias de enfermo. Nao ha alma sensivel que nio compreenda essa amargura e nao The dé a sua simpatia. © a freira? — perguntardo. A freira tem a sua consciéncia tranquil. Talvez tenha rezado um pa- dre-nosso e uma ave-maria por aquela alma inocente. ‘Mas nunca teré pensado no sofrimento intitil e esta- pido que causou e de que nunca se arrependeré.. E mesmo possivel que esteja convencida de que pra- ticou um ato de caridade crista, evitando que o espi- rito de uma crianca bebesse nas p4ginas do livro uns momentos de prazer e esquecimento das dores ~que Ihe pungiam o eprpinho debil. E esta 6 uma concepgio de caridade. Que cari- dade eruel! Ora, isto aconteceu, em tempos recentes, na Santa Casa de Misericérdia de Sio Paulo. A ironia dos nomes (Ext. de 0 Hstado de 8. Paulo, de 5-8-47). Na lembrancga dod mortod (Soneto recebido pelo médium Francisco Candido Xavier, na “Casa Espirita”, de Juiz de Fora, em ses- so ptblica da noite de 7'de Julho de 1947). Das sombras, onde a Morte se Tevanta — Enlutada ‘madona do poents — Também procede a luz resplandecente Da verdade imortal, profunda e santa. No timulo, 0 mistério se agiganta, Torturando a razdo desfalecente. . Bm seu portal, 0 Sol volta ao nascente E a vida generosa britha e canta, Oh! ciéncia, que sondas de maos cegas, Em véo procuras Deus! debalde negas!... A miséria de luz é 0 teu contraste. Além da morte, encontrarés, chorando, O quadro doloroso € miserando Dos monstros pavorosos que criaste. ANTERO DO QUENTAL, — 22 — ———— REFORMADOR ————. brane, 1981 Visées Lé-se no Courrier de Lyon: a 303 oe 'Na noite de 27 para 28 de Agosto de 1857, produziu-se um caso singular de visio intuitiva em Croix-Rousse, nas seguintes circunstancias: “Ha cerca de trés meses, os esposos B..., ho nestos operdrios teceles, movidos por sentimento de louvavel comiseragao, recolheram ao seu lar, como criada, uma jovem um tanto idiota que mora num subiirbio de Bourgoing. “No domingo passado, entre duas e trés horas da manhé, 03 esposos B... foram despertados em sobressalto, por Iancinantes gritos langados pela criada que se achava deitada num s6t&o contiguo ao quarto deles. ‘A Sra. B... acendeu uma lampada, subiu ao sétdo em que se achava a criada que, mergulhada em, lagrimas © num estado de exaltagio de espfrito d- ficll de descrever-se, chamava, torcendo os bragos ‘em terriveis convulsdes, pela mie que ela acabara de ver morrer diante dos seus olhos, segundo afir mava. “Depois de haver consolado, como pode, a moga, a Sra, B... voltou para seu quarto. Este incidents estava quase esquecido, quando ontem, terga-feira, na parte da tarde, um carteiro entregou ao Sr. B. uma carta do tutor da moga, comunicando @ e que, na noite de domingo para segunda-feira, ent as duas ¢ as trés horas da manh&, sua mae morrers em consequéncia de uma queda que sofrera do alte de uma escada. “A pobre idiota partiu ontem mesmo de manhl para Bourgoing, acompanhada do Sr, B..., seu pe trao, para receber a parte da heranca que The cabe pela morte de sua mae, de quem ela vira tio tris: temente em sonho o deploravel fim’ . Nao so raros 0s fatos dessa natureza, e sempre’ teremos ocasiio de relatar alguns, cuja autentic. Gade nao pode ser contestada. Algumas vezes s: G&o durante 0 sono, em estado de sonho; ora, como: os somhos néo sto outra coisa senfio um estado sonambulismo natural incompleto, designaremos as vis6es que se realizam nesse estado pelo nome de! visdes sonambiiticas, a fim de distingui-las das que; se dio em estado de vigilia e as quais chamaremoe’ visdes pela vista dupla, Chamaremos, finalmente visées estdticas as que ocorrem no éxtase; gerah. mente estas tém por objeto os seres ¢ as coisas do; mundo incorpéreo. © fato que segue pertence & se, gunda categoria. — Um armador de navios do nosso conhed- mento, residente em Paris, faz poucos dias nos rev latou 0 seguinte: “No més de Abril passado, estando um pouco indisposto, fui com meu sécio passear nas Tulherias. Estava um tempo soberbo; o jardim, cheio de gente. De repente a multidéo desap de diante dos meus othos; nfio percebo mais o meu corpo, estou como que transportado e vejo distin tamente um navio entrando no porto do Havre! Reconheco-o como La Clémence, que estévamos « perando das Antilhas; vejo-o amarrar-se ao cals distinge claramente os mastros, as velas, os mar, nheiros e todos os mais minuciosos pormenorss como se eu estivesse no lugar. Digo entio ao met gompanheiro: “Bis o La Olémence que chege; hoje Dezempro, 1947 ~~ mesmo ainda teremos noticias; a travessia foi feliz”. Quando cheguei em casa, entrogaram-me um tele- grama. Antes de lé-lo, eu disse: “E’ a comunicacio da chegada do La Clémence que entrou no Havre as trés horas”. O telegrama confirmava, de fato, @ entrada na mesma hora em que eu o vira das ‘Tulherias.” Quando as visées tém por objeto os seres do mundo incorpéreo, podersse-ia, com certa aparéncia de razo, atribui-las & Imaginag&o e qualificar de alucinagdes, porque nada pode provar-lhes a exati- Go; mas, nos dois casos que acabémos de relatar, aparece a realidade mais material e mais positiva. Desafiamos a todos os fistologistas e a todos os fil6- sofos a no-las explicarem pelos sistemas ordinarios. Sé @ Doutrina Espirita pode explicé-las pelo fené- meno da emancipacéo da alma que, escapando-se momentaneamente das vestes da carne, transporta- -se para fora da esfera de atividade corporal. No primeiro caso acima, 6 provével que a alma da mae tenha vindo procurar a filha para the comunicar sua morte; mas, no segundo, 6 certo que nao foi © navic que veio encontrar o armador nas Tulherias; portanto, foi a alma deste que se transportou ao Havre para vé-lo. ALLAN Karvec. (Revue Spirite, Janeiro de 1858) Se aaa TEE JUVENTUDES ESPIRITAS Conforme se acha registado a pagina 250 da colegio do Reformador de 1936, a primeira Uniio de Juventude Espirita que se fundou, no mundo, sur giu em 22 de Maio de 1932, na sede do Centro “Maria de Nazaré", no distrito de Sant’Ana, da Capital paulista, por um grupo de centros adesos 4 Federacio Espirita Brasileira Reformador de 1936, as paginas 259, 260, 319 © 885, publicou, nao s6 0 magnifico programa da “Uniéio da Juventude Espirita do Distrito de San- ¥Ana”, como também, integralmente, os Estatutos dela. . Quatro anos depois da realizado desse sonho, fundou-se no Rio, em 6 de Setembro de 1936, no Centro “Amaral Ornelas”, também adeso & Fede- ra¢ao, a Unigio da Juventude Espirita “Amaral Or- elas” (Reformador de 1936, pag. 356), e, logo de- ols, em, 18 do Outubro de 1936, fundava-se a Unido Ga Juventude Fspirita de Nova Iguassu, também serminada dentro de um centro adeso a Federacio Gspirita Brasileira — 0 “Ié, Esperanca © Caridade” (Reformador de 1936, pag. 445). Antes da fundagdo dessas duas tiltimas, j4 exis- lam a Associacdo dos Mogos Espiritas, com sede em Santos, em S. Paulo, a Juventude Ateneu Espirita t Madrid, fundada em Abril de 1936, e a Juven- tude Espirita de Porto Rico, fundada em 8 de Maio esse mesmo ano, Como vemos, a mais antiga associagéo espi- ta de jovens, no Brasil e no mundo, parece-nos ser a Uniio da Juventude Espirita do Distrito de San- YAna, cuja existéncia ininterrupta de 1982 até hoje, tsdieada sempre aos estudos evangélicos, é bem ima demonstragao do quanto vale um programa ldealizado por inspiragio do Alto, qual 0 que, entdo, {i publicado em Reformador. REFORMADOR —— — 201 Monumentos literarios por LINo TELEs. A obra mais importante da literatura mun- dial é, em miltiplos sentidos, a Biblia: No Direi to, ela é a fonte de todas as conquistas humani- tarias, de grande reformas sociais, por vezes efetuadas por ateus, mas realizando o ideal cristéo da Biblia, Na arte, é uma das maiores fontes de inspiragao de pintores, escultores, poe- tas, compositores. Nas letras, é'0 primeiro livro que fez nascer a literatura de grandes e pequenas linguas como 0 russo, o alemao, 0 bilgaro, 0 flamengo e muitas outras da Europa, da Asia e da Africa e em alguns idiomas indigenas da América, elevando-os de dialetos a linguagem de cultura. Pode dizer-se que a civilizagio do mundo nasceu da Biblia. A gléria de haver publicado esse monu- mento, em Esperanto, coube 4 Inglaterra. A parte maior do trabalho intelectual foi realizada pelo Dr. Zamenhof, mas também os ingleses Padre John Cyprian Rust, Alfred Edward Wackrill © escossés John Mabon Warden tomaram parte no trabalho: traduziram todo o Novo Testa- mento e reviram a tradueio do Velho Testa- mento, realizada toda pelo Dr. Zamenhof. Quan- to ao custeio da edicdo, coube a honra as duas irmas Peckover, Priscilla Hannah e Algerina. Priscilla Hannah Peckover passou toda a sua longa existéncia de 98 anos trabalhando em obras de progresso e caridade. Conheceu o Esperanto quando j se achava ela com 73 anos de idade € se entusiasmou tanto que animou a publicagdo da Biblia e pagou a primeira edicéo de 10.000 exemplares, bem como os clichés para futuras reproducées. Essa benfeitora da humanidade naseeu em 27 de Outubro de 1833, conheceu o Esperanto em 1906, e desencarnou em 8 de Se- tembro de 1931. Foi principalmente ela quem conquistou para sua Patria a gloria de ser o primeiro pais do mundo que publicou a Biblia em Esperanto. Os esperantistas do Brasil rejubilam com seus sdmideanos ingleses por esse grande servico prestado A humanidade e contentam-se modes- tamente com um 2.’, um 3.’ e um 4." lugares nessa_louvavel emulacao de servir s futuras geracGes. O segundo lugar pertence a “Bhagavad- -Gita”. Embora muito menor do que a Biblia, esse livro dos Vedas é uma das glérias da huma. nidade; tem 3.500 anos de vitdrias e ja existe em todas as linguas do Planeta. E’ um poema religioso, reencarnacionista, composto origind- riamente em sfnscrito sob 'ditado de um Espi- rito de sublime elevagao. E 0 terceiro e 0 quarto lugares? ja estara interrogando 0 leitor curioso. HW’ a "Divina Co: média”? E’ “Dom Quixote”? E’ “Eneida?” “E’ Iliada”? “Os Miseraveis”? Para nds espiritistas, que cremos no futuro e sabemos que O Evangelho segundo o Espiri- tismo j& esta preparando sua 35.* edi¢io em portugués e O Livro dos Espiritos, a vigésima edi¢ao no Brasil, no ha diivida de que o terceiro © 0 quarto lugares pertencem, sem favor algum, a esse dois livros do Mestre, os quais estio desti- — 23 nados a transformar o mundo e engendrar uma nova civilizagio planetéria. Concedeu-nos Deus a graca de publicarmos, antes de qualquer outro povo, na lingua inter- nacional, em edigdes bem cuidadas, os dois maio- res monumentos da literatura espirita, porque © “Brasil, Cora¢io do Mundo, Patria do Evange- tho” jé est iniciando a sua missio destinada a transformar o mundo nos futuros milénios. Nao parecesse aniincio e diriamos que todo espirita brasileiro deveria ufanar-se de possuir a primeira edigéo em Esperanto de La Evangelio lait Spi- ritismo e de La Libro de la Spiritoj e de passa-la aos seus descendentes. Referimo-nos sémente 4 primeira edigdo, porque as outras, em papel or- dinario, nao terdo valor bibliografico. PROFECIAS QUE SE CONFIRMAM Quando o Espirito de Humberto de Campos denominou o Brasil de “Patria do Evangelho”, longe estivamos de compreender-Ihe as palavras e julgavamos, mesmo, que a expressio repre- senitasse simplesmente o seu grande amor & Ter- ra que o agasalhou e amou. ‘Agora, alguns anos depois, vamos verifi cando que a designacao se apoiava na construgio existente e na que se operaria nos anos que se sucedessem. Em 1947, dez anos depois daquela profecia, a Federacio Espirita Brasileira tira trés edicées do livro “O Evangelho segundo o Espiritismo”, num total superior a 30.000 exemplares; uma outra, do mesmo livro, em Esperanto, e que ja esta correndo o mundo; uma edicio de 5.000 exemplares de Sintese de 0 Novo Testamento e, finalmente, os espiritas do Brasil receberio um novo livro, verdadeiro Evangelho para o século que passa, porque em linguagem apropriada & época. — Agenda Crista, de André Luiz Este tiltimo livro, apesar de se nos. apresn- tar como da autoria de André Luiz, nao nos parece que seja dele realmente. Julgamo-lo, antes, um trabalho realizado por muitos Espiritos, todos de elevada hierarquia, obra idealizada, meditada fe preparada por uma Assembleia Superior, e, finalmente, entregue a0 nosso querido André, para que cle o transmitisse ao médium Franciseo Candido Xavier. Que me perdoe o André se cometo uma in- justiga no meu julgamento, mas a perfeigéo com ‘que nos slo apresentados os ensinamentos, reca- pitulando-mos aqueles mesmos deveres que o Cristo nos recomendou como necessidade para © nosso progresso, a maneira por que Sao apre- sentados, a sublimidade integral de toda a obra, fazem-nos crer que, Se a nossa opiniéo nao esta acorde com a verdade dos fatos, pelo menos o livro foi revisto por uma Assembleia de Espi tos, e, entio, e 86 entdo foi transmitido ao hu- milde’ trabalhador, de Pedro Leopoldo. ‘Também nos vem impressionando sobrema- neira a outra profecia em que o Espirito de Hum- berto nos classificou a Patria como “Coracéo do Mundo”. E esta, igualmente, se vem consoli- ‘dando para quem tenha olhos de ver. Basta lera triste situagéo do Espiritismo em Franga,. oo - REFORMADOR — Dezemsno, 1947 na colecdo de Reformador as poucas cartas qui vém sendo possivel publicé-las todas, para que se tenha um pequena ideia do que hé sido o trabalho do Bi em beneficio do Mundo, levando a todos os cantos do Planeta as obras basicas do Cri nismo redivivo, através da Codificacio recel por Allan Kardee, bem como pelos planos, existentes, de edi¢ées mundiais de nossas pr cipais obras mediimicas, recebidas no Brasil p Zilda Gama, Francisco Candido Xavier e outra ‘Nao hA necessidade de grande esforco p compreendermos que a profecia de Humberto nao é simples conjetura, mas realidade que coneretiza dia a dia. Que os espiritas compreendamos a res sabilidade que pesa sobre 03 nossos ombros e q todos possamos auxiliar a Editora que se dedicando a tao grande empreendimento, a elevado ideal. Contemporaneos de Kardec A propésito de nosso artigo publicado Reformador, de Setembro, como mesmo ti desta nota, escreve-nos atencioso leitor pedi esclarecamos 0 seguinte: 1° — Se Léon Del nao é um dos pensadores espiritas do tempo Kardec; 2.” — Se as obras dese ilustre mest da Doutrina nfo continuam sendo reeditaads Franca. Deseja essa explicacdo, porque Ihe cons que a nossa afirmativa tio penosa, naquele tigo, nos seguintes termos: “Nos dias de Ki houve muitos pensadores espiritas que esc ram livros doutrinarios, mas nenhum deles d gou até nés por meio de reedicées em Fi n&o esti exata quanto a Léon Denis Respondemos: Allan Kardec desencarno 31 de Margo de 1869 e Leon Dénis em 12 de A de 1927, 58 anos depois do Mestre; logo, Ed Dénis néo é um dos pensadores que escreva livros doutrinarios no tempo de Kardec. E? dos mais brilhantes discfpulos de Kardee, por 6 mais nosso contemporaneo, como escritor, que de Kardee, porque seus melhores livros muito posteriores & desencarnacao do Me Em resposta A segunda questao, quanto pesa termos de negar! As obras de Léon D do mesmo modo que as de Kardec e de Geb Délanne nio esto sendo reimpressas em ha mais de vinte anos. As edicdes mais re de que temos noticia sio as seguintes: de A Kardee: L’Evangile selon le Spiritisme, 54° milhar; Le Livre des Esprits, 1922, 10° Thar; de Gabriel Délanne: L’Ame est Immo 1923, 7.* milhar. Todas estas edicGes, feitas um quarto de século, e todas as anteriores! se acham h4 muitos anos esgotadas. Ainds, pouco vimos no Psychic News, de Londres, apelo dirigido aos espiritas de todos os paises mundo, no sentido de que auxiliem os irmios franceses que se acham inteiramente vados de literatura doutrinaria. Igualmente p correspondéneia de .migos sabemos que é (: 23 de Novembro de 1947. DezaMBRo, 1947 —— Para confronto, 0 nosso amavel correspon- dente queira notar que no Brasil O Hvangelho segundo o Espiritismo ja se acha no 244.’ mi- Ihar e O Livro dos Espiritos no 136.’ milhar. Convém deixarmos bem claro esse triunfo passageiro das trevas em outros paises, para que os espiritas sinceros saibam medir sua respon- sabilidade e nfio se enveredem pelo despenhadeiro Gas negacées. Sabemos que o triunfo das trevas é passageiro, que mais tarde o Senhor da Seara mandara novos trabalhadores para restaurar a Verdade, mas isso nfo isenta de responsabilidade os infelizes demolidores que, na sede de brilhar, de exibir ciéncia, lancam a divida sobre as Es: crituras, sobre a mediunidade e sobre as mais respeitaveis instituigdes espiritas. Pregagéo da Doutrina em Esperanto Desde 0 inicio da divulgacio do Esperanto, no Brasil, muitos espiritas aprenderam o idioma neutro internacianal, mas nunca se ofereceu en- sejo de o empregarem na pregacio de nossa Doutrina. As primeiras palestras doutrindrias em Es- peranto, se néo estivermos enganados, realiza- ram-se numa solenidade espirita esperantista na sede da Federagio Espfrita Brasileira, na tarde Havia o Prof. Aldino de Freitas concluido com o maximo éxito um de seus cursos na Casa de Ismael e, por sugestéo dos alunos aprovados nos exames, resolveu-se que a entrega dos diplo- mas, conferidos pela Liga Esperantista Brasileira, fosse realizdda em sessio publica da Federacdo, com solenidade proveitosa & propaganda dos dois ideais da Cas: Presidiu & sessio 0 Vice-Presidente da Fe- deragéo, Dr. Silvio Brito Soares, que em nome da Liga Esperantista passou As maos dos onze alunos aprovados o modesto diploma intitulado Atesto pri Lernado. Em nome da turma de diplomados falaram um rapaz e um senhorita, ambos espiritas espe- rantistas, um jovem representante do movimento espirita esperantista e 0 Professor do curso, na seguinte ordem: 0 Sr. Paulo de Oliveira Ludka, em nome da turma, fez uma brilhante palestra doutrindria em Esperanto; seguiu-se-lhe o Sr. José Gosenza que dirigiu a ‘palavra aos assistentes nfo espe- nantistas em portugués, depois, falando aos es- yerantistas, fez cloquente e erudito discurso toutrinario em Esperanto; a Senhorita Aucélia e Melo falou igualmente em Esperanto sobre sssunto‘doutrindrio e, por fim, o Prof. Aldino de Freitas fez vibrante e inspirada palestra em _ lsperanto sobre o ideal espirita esperantista. Belos ensinamentos em linguagem elegante, iwguranca doutrinéria, inspiracao superior, foi «que revelaram os quatro oradores esperan- tstas, todos jovens, que pela primeira vez, ao aicrofone da Casa de Ismael, fizeram a pregacio vie nossa grandiosa Doutrina na lingua mundial is fraternidade. j___ Assim podemos deixar registado que o pri- neiro orador espirita que empregou o Esperanto j qd REFORMADOR, para expressar suas ideias doutrind nosso jovem patricio Paulo de O! © segundo foi José Cosenza, o terceiro foi a se- nhorita Aucélia Melo, o quarto foi o Prof. Aldino de Freitas, todos em 23 de Novembro de 1947 Nao foi a primeira vez que se discursou em Esperanto da tribuna da Casa de Ismael, porque em 22 de Abril de 1945, por ocasidio da visita dos membros do 10.° Congresso Brasileiro de Esperanto a Federacao, o Diretor da Propaganda do Esperanto na Casa de Ismael fez uma sau- dacio em Esperanto aos ilustres visitantes ¢ Thes deu informacées sobre o idealismo espirita, como se vé em Reformador de Maio de 1945, pagina 118; mas nao foi uma pregac&o de Dou- trina, foi mera informacio dada aos ilustres visitantes sobre o idealismo espirita que se harmoniza com o ideal esperantista e com todos os ideais superiores da humanidade; portanto, © primeiro lugar coube aos jovens esperantistas, em 23 de Novembro de 1947 MEDITEMOS por SILVANO CINTRA DE MzLo. Quando o Espiritismo se espalhou pela Eu- ropa e deslumbrou os homens cultos da época, tal foi o entusiasmo que os seus ensinamentos trouxeram que os homens passaram a supor que © plano de propaganda deveria ser orientado pelos terricolas, de uma forma intensa, baru- Ihenta, com banquetes e festancas outras’de que fala a’ historia. Desse entusiasmo apareceram varias obras, algumas pessoais, opinides divergentes comeca- ram a surgir em Varios pontos e, entio, organi- zaram-se congressos e mais congressos, ora num, ora noutro pais, ora numa, ora noutra’ cidade Esqueceram-se os homens de que o movi- mento deveria ser dirigido pelo Alto, todos que- riam falar ¢ ser obedecidos, suas ideias pessoais deveriam dominar,.seus nomes deveriam ficar registados como esteios do movimento, ninguém desejava ser trabalhador anénimo, e,' com tais processos puramente humanos, porque de pala- vras e nio de trabalho construtivo, fizeram que 0s Espiritos procurassem outro povo, entre o qual 0 Espiritismo fésse recebido em completa harmo- nia com o Evangelho do Cristo, como anterior- mente eles haviam recomendado em “O Evan- gelho segundo o Espiritismo”. Vieram, assim, para o Brasil, aqueles que so os verdadeiros chefes do movimento, e, gra- cas a Deus, a Federacio Espirita Brasileira soube colocar-se em sintonia com eles, ¢ a obra se tornou realmente notavel, porque jé vai atra: vessando fronteiras ¢ oceanos Agora, que o movimento espirita brasileiro cresceu vertiginosamente, porque os homens da Federacio se deixaram guiar pelos Espiritos e nunca pelos homens, necessario se torna.que me- ditemos sobre 0 que entio se passou na Europa e tomemos, desde ja, a disposicio de cada um fazer o que pode, sem’ condenar o que faca menos e sem procurar as gloriolas da terra, efémeras, senfio prejudiciais quando da nossa chegada ao Além. — 25 - VIDA (*) (Recebidos pelo médium Fran- cisco Candido Xavier, em 21 © St de Maio de 1947). Nem a paz, nem o fim! A vida apenas EY tudo que encontrei e 6 tudo que me espera! © ouro, a fama, o prazer e as ilusdes terrenas S80 lodo, fumo e cinza ao fundo da cratera Esvaiu-se a vaidade!.., Os jabilos e as penas, ‘A alegria que exalta e a dor que regenera, Em cenério diverso aprimorando as cenas, Continuam, porém, vibrando noutra esfera. Morte, desvenda & Terra os planos que descobres, Fala de tua luz aos mais vis © 808 mais nobres, Renova 0 coragdo do mundo impenitente! Dize aos homens sem Deus, nos circulos escuros, Que além do gelo atroz que te reveste os muros, H6 vida... sempre a vida... a vida eternamente.. DIANTE DA TERRA Fugindo embora 4 paz de eternos dons divinos, Sem furtar-se, porém, @ luta que aprimora, © homem 6 0 semeador dos seus proprios destinos, ‘Ave triste da noite, esquivando-se @ aurora Em derredor da Terra, estrelas cantam hinos, Glorificando a luz onde a Verdade mora, Mas no plano da carne os impulsos tigrinos Fazem a ostentacio da miséria que chora! Necessdrio vencer nos vortices medonhos, Santificar a dor, as lagrimas e 0s sonhos, ‘Do inferno atravessar 0 abismo igneo e fundo Para ver a extensio da noite estranha e densa, Que os servos da maldade e os filhos da descrenga Estenderam, sem Deus, sobre a fronte do mundo!.. EDMUNDO XAVIER DE BARROS. (*) Os lindos sonetos acima foram recebidos numa reunigo intima s6 do médium com o nosso companhetro de redacio Ismael Gomes Braga, em escrita intelramente mec&iniea, com letras enormes. Notémos que 0 nome hos era intelramente desconhecido entre os poctas de Yingua portuguesa e perguntémos ao Espirito onde poderfamos obter inforines a seu respelto. Respondeu- Thos: “Nos registos do Exéreito brasileiro por volta de 1899; porque ful oficial” Em nenhuma enciclopédia encontrémos 0 nome, mas, por intermédio de um oficial, Tecebemos os seguin- tes dados: “capitio da Arma de Cavalaria, Edmundo Fran: elseo Xavier de Barros, filho de Porfirio Antonio Xa- Vier de Barros, naselde em 1861, no Estado de Goia2, Assentow praca voluntariamente’ no 2.9 Regimento de ‘Artiharia ‘a Cavalo em 15 de Outubro de 1877. Alferes a4 de Janeiro de 1890. 1 Tenente a 12 de Janeiro de ‘se3, Capitao a 18 de Outubro de 1901. Faleceu no servigo ative, na Capital Federal, em 17 de Janeiro ‘de 1905" Por enquanto nenhum outro dado possutmos sobre © poeta invisivel. Nao gabemos se deixou obras lite- rarias, se era conhecldo como poeta 26 — REFORMADOR - Dezestpro, 1947 Propaganda Catélica Em 15 de Dezembro, os jornais de todo 0 mundo, inclusive “O Globo”, publicaram dois legramas redigidos em estilo do século décimo, © primeiro, de Paris, diz que quatro ninas, cujos nomes nfo cita, viram a “Virgem Maria” na Igreja de uma aldeia Francesa, p dindo-Ihes que fosse construfda uma gruta na proximidades do templo. Diz o mesmo despacho telegrafico que grata foi levantada, mas nao nos informa 4 mimero de gazofilicios que nela foram colocadosg O segundo telegrama, este de Roma, noti que o Diabo compareceu numa sessio espirit dando om resultado que a senhora, de quem ¢ se apoderou, e que era protestante, se conve ao eatolicismo. Comentemos: Se 0 primeiro espirito com parecesse num Centro Espirita, os espiritas 0 riam dovtrinado, classificando-o como um esp Tito periurbado, visto que esse negéclo de gruta alias rendoso, nao interessa ao meio espfrita. Quanto ao suposto Diabo, 0 caso é mais ing teressante. Se a Igreja diz que o Diabo é inteligentf simo, capaz de enganar a todo o mundo e que tem em mira levar as criaturas para a perdicio, concluiremos que o Diabo, agora, passou a tra balhar em beneficio da Igreja Catélica, usanda de suas artimanhas para conseguir a converséog de adeptos do protestantismo, tornando-os télicos. As histérias foram, pois, mal engend NOVIDADES A Federagio Hspirita Brasileira pelo seu D partamento Editorial mantém um servico de “Nov Gades” de grande interesse para os estudiosos d Doutrina, © cliente que se inscreve nesse scrvigo recebe! 08 livros novos logo que saem do prelo pelo servigo postal de reembolso e fica a par de tudo que publl- camos. Hé clientes que se inscrevem sdmente para as primeiras edigdes, outros, em nimero menor, que reccbem igualmente todas as reedicées do mo livro. Para inscrever-se nesse servigo, basta dar-no ordem em um bilhete postal ou carta, esclarect se deseja receber 0 livro em brochura, ou en nado, e se desoja igualmente livros em Espera 'Temos clientes que s6 se inscrevem para livros e Esperanto, outros s6 para obras em portugues | outros, finalmente, que recebem todos os nos livros. Quase nunca publicamos mais de um livro por més e 0 preco em brochura raramente excedi a quinze eruzeiros, de sorte que as nossas edigdes no custam ao cliente mais de cingu centavos em média por dia. q 1947 © Ontro “Eu” Passei na Terra, de dnimo referto De vidos desejos, a tecer amores. De uns e de outros colhi 86 dissabores, E tinha walma apenas um deserto. Do Amor téo longe, ¢ das pairdes tdo perto, Do desespero aos bragos € das dores, A mim dizia: “Elmano, se ndo fores Amigo de ti mesmo, 0 Averno € certo!” Como, porém, buscar em negro mundo Essa luz, para achar a mim, perdido Nas trevas de mim mesmo, no “eu” imundo? Ouvi, entdo: “Apura teu sentido, E acharés, em ti proprio, no “ew” profundo, O que deveras ser —€ nao tens sido!” 11-2-47. DRZEMBRO, Bocace. (Recebido pela, médium Porto Carrelro Neto). mE ENN NO SECULO XX (Soneto recebido pelo médium Francisco Candido Xavier, em sesso ptiblica, em Pedro Leopoldo, na noite de 3-10-47). Homem, néo vale 0 cérebro vuledneo Votado @ ciéncia que te desconforta, Na vocagio para a matéria morta Que extfavasa, terrivel, de teu ordnio, Cogumelo que pensa subitdneo Emparedado em carcere sem porta, Se preferes a espada, que te importa A grandeza dum dtomo de urénio? Foge i extrema peniria que te aguarda A inteligéncia librica € bastarda, Incauta penetrando abismos tredos.. Nao prossigas sem Deus, cindindo os ares! Ai da Terra infeliz se descifrares Toda a extensdo dos césmicos segredos! A. Dos ANsos Organizagado Federativa Além de centenas de Unides Municipais, de Centros e de Grupos que formam o Quadro Fe- derativo da Federacio Espirita Brasileira, a ela adesos diretamente ou através das suas federa- das, so suas adesas, como sociedades de ambito estadual, as seguintes grandes e modelares asso- ciagdes do Pais: Federacio Espirita de Alagoas " cd Amazonense Cearense do Est.’ do Esp.° Santo Paraibana Pernambucana Riograndense do Norte do Rio Grande do Sul Sergipana Bahiana Mineira Paraense REFORMADOR ——~--— — 295 0 88’ Aniversario de Zamenhof As diversas sociedades esperantistas desta Ca- pital efetuaram festas em 13, 14, 15, 16 e 17 deste més em homenagem ao Missionrio Lazaro Luiz Zamenhof que em 15 do més completaria 88 anos de encarnagéo, se ainda entre nés. Mas infeliz- mente para o mundo, desde 14 de Abril de 1917 que o grande Espirito regressou & patria espiritual. Nascido em 15 de Dezembro de 1859 e desencar- nado em 14 de Abril de 1917, Zamenhof passou sobre @ Terra pouco mais de 57 anos. Um dos oradores que ouvimos nas solenidades evidenciou que Zamenhof foi inconfundivelmente grande como sébio, como santo e como apéstolo, Bfetivamente, nao se sabe que mais admirar nesse Espirito superior, se a sun moral realmente de san- to, se o seu ardor de apéstolo, se a sua genialidade incomparével. Num programa de radio uma ilus- tre advogads tratou da obra humanitéria ¢ social de Zamenhof, igualmente demonstrando que foi um Profundo sociélogo eminentemente humanitério. Antes € depois de Zamenhof, grandes homens, nomes eternizados na Historia, trabalharam na mes- ma missio do sdbio polonés, mas sempre Ihes fal- tava, a tais sébios, uma ou varias das qualidades necessdrias a realizar a obra. Uns tinham grande talento, mas thes faltava a fora imensa do amor & humanidade e sua obra nascia morta; outros dispunham de grande capacidade Ge trabalho, de fervor apostélico, mas thes faltava o necessdrio talento. O primeiro que reunia todas as qualidades para dar ao mundo uma lingua neutra internacio- nal, plenamente viva, em funcionamento em todos os paises, com seu espirito préprio, 0 tmico que erfou adeptos e os transformou em’ apéstolos, foi Zamenhof. ‘Muitos pensavam e pensam ainda que 0 pro- blema de lingua neutra internacional 6 simplesmen- te cientifico, nada tenha de moral, e trabalharam, somente como cientistas, mas seus projetos j4 sal- ram mortos de suas mios. SO 0 amor de um grande Espirito € capaz de dar vida a um orga- nisnio social. Conquistar continuadores, lig4-los pelo coracéo A ideia, de sorte a eternizé-la entre os homens, era problema divinamente moral, Um cien- tista pode realizar grandes coisas sobre a matéria, mag nfo Ihe pode dar vida. Um poema imortal, um Bvangelho, uma grande obra de arte, s6 podem par- tir do coragéo de um Ser superior. Igualmente o Esperanto, se ndo partisse do coragio de um Ser superior, teria tido a sorte do Wolapiik, do Ido, do Oci¢ental, do Medial que nasceram mortos, porque foram obra apenas de ciéncia humana. Técnica mente qualquer desses projetos poderia ocupar o lugar do Esperanto, mas thes faltou a vida, essa forga misteriosa que s6 Zamenhof soube dar a uma Ingua artificial. O mundo ainda nfo compreende todo esse mistério da vida do Esperanto, mas ja sente esse fendmeno iinico na Historia da Huma- nidede e por isso em todas as cidades cultas do Planeta se festeja o dia 15 de Dezembro © mundo pressente, pelos seus elementos mais progressistas, toda a imensa transformacio que uma Mingua comum de todos ha-de efetuar na sociedade humana planctéria. O homem é um ser racional que busca sempre seu bem-estar, sua felicidade. Desde — 21

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