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Reformasor - FUNDADO EM 1888 Indalicio Mendes SECRETARIO AGS A. Wantuil de Freitas DIRETOR Henrique Sonder:mann GERENTE, HUMILDADESS por Porto Carretro Nero. “Bem-aventurados os humildes — afirmou 0 Divino Mestre — porque deles é 0 reino dos eéus". E ainda: “Aquele que se humilha, seré exaltado, e 0 que se exalta seré humilhado”. A exaltacéio do humilde é a gloria de Deus; ¢ a que maior nivel poderia o homem aspirar, e que maior prémio The poderia ser concedido? A hu- mildade do Espirito condu-lo as elevadas regises do Ineognoseivel; a exaltagio do seu proprio “eu”, por suas forcas mesmas, em arremesso de soberbia, lanca-o, pelo contrario, as “trevas ex- teriores", aos abismos negregosos da degradaca Por mais estranho que pareca, é assim que se d4, e deste modo, & forca de querer exaltar-se, por sobrelevar-se aos demais, desprezando-os, 0 ho- mem cada vez mais se atasea no lodo que pro- duzem os pés a castigar a terra; e, em breve, essa argamassa o afoga, quando esperava ele alear-se e construir um castelo em tao frouxa e inconsistente base. Nao ha-de ser assim, portanto, Néo seré a matéria pesada que se eleve, mas essa outra que, sublimada, se aleandore nos espacos; e por ser verdade que a matéria atrai a matéria, tais sejam suas naturezas haveri atracéo para’ o inferno das sombras ou para o eéu da luz. O que. parecia, pois, incompreensivel absurdo, é a consequéncia légica da lei da atracdo universal, em toda a sua pujanca e amplitude. “Quem se humilhar seré exaltado” é conceito profundo que importa compreender, por isso mesmo, com sim- plicidade e que no entendem os _soberbos, os que impam de orgulho, os que nao enxergam senfio o seu mundo — que 6, afinal, sua misera pessoa; € natural corolario, ou melhor, inalie- navel parte do principio tinico e eterno que rege a tudo quanto existe. EY lidima consequéncia dessa norma inaba- lavef que os convictos de sua sabedoria nada possam entender do muito que igncrem; estando consigo mesmo satisfeitos, nada mais’ perscru- tam; tudo pretendendo saber, nada mais Ihes interessa, e a razio de tudo a encontram no angusto eirculo que se criaram, fugindo ao con- tacto do mundo exterior, onde existe realmente a razio de todas as coisas. Nem ha o mundo ce se amoldar a tao ridicula forma, senao que ha o homem de fazer para si o molde que se ajuste A forma geral. As foreas, que imagina esse homer cheio de vaidade ter criado, nao sé incapazes sie de leva-lo & compreens%io da ordem universal, mas também mais ¢ mais o agrilhoam num cérce- re voluntirio. Procurando exaltar-se, encontrar quem the diga: “Muda-te para o iltimo lugar, pois outro conviva existe mais digno do que tu, e a esse quero conceder o lugar de honra”. ¥, muito admirado fica de que haja alguém que Ihe seja superior; e inflama-re de célera, julgando-s ofendido, por nfo s6 no The apreeiarem os mé ritos, sendo também por o olharem de cima para baixo. De que teria sido isto resultado? Apenas dum falso juizo a seu préprio respeito; e a con- sequéneia fatal ser sofrer o exaltado a admoes tacéo humilhante, que bem devera ter evitado: Por que, entio — perguntara — aquele obseurs conviva, de cuja presenca ele nem se dera conta. ha-de ocupar o lugar de honra? Pois ele se olha cheio de merecimentos, eré-se de todos conhecido, pretende as homenagens de toda a gente; « aquele, que veio sem estardalhaco, que todo o tempo, antes do banquete, se sentou a um canto da sala; de quem ele jamais ouvira falar — aque Je & que mereca as honras da noite, enquanto ele € degradado, como um verme desprezivel, digno de escarnio? De que the valeram — continua — todos os esforcos por sobressair da massa ignara, Iutando por enriquecer-se de saber, buscando um nivel donde pudesse rir da estulta populaca, enchendo-se de vento por, eseapar as emanacé deletérias do chareo, ondé coleiam répteis imun- dos? Atiram-the & face essa mesma lame, cujo afrontoso contacto ele tanto evitara! Fazem-no descer ao mesmo degrau, de onde pensara que viera, vituperando-lhe os’ brios! Mas, ai, 6 que nunca deixara a lama, nem jamais se movera do primeiro degrau! Nada mais fizera senio acomodar-se & vasa, a qual, j por fim, trans- formara, por auto-sugestio, num jardim florido; e, ainda, numa verdadeira ilustio de sentidos de- formados, pensara realizado o sonho de voltejar acima de si mesmo Nao! Decerto nao serio tais forcas, oriun- das do orgulho e da vaidade, que exaleem o indi- viduo As regides que sonha. Da mesma forma que a pesada névoa da manha desce do eéu aos montes ¢ se imiscui nos vales que ainda modor- } i { i 250 rm, subindo e, por fim, desfazendo-se ao toque mfgico do raio do Sol, assim também tem o ho- mem de recéber o toque duma luz que o subli- me, carreando-o muito acima dos vapores duma atmosfera adensada. Por sua propria natureza, as névoas nao transpéem a altura das nuvens; mas, de esséncia diversa, o Espirito se elevara a regides jamais cogitadas, tangido por forca dessa energia superior que demora muito além do astro central de nosso sistema. Essa, a real exaltagio de quem nio dispse de forcas, mas espera-as duma Fonte capaz de ublima-lo; e quanto mais humilde se facs, tanto mais alto ‘se eleva, pois é do vale que sobe 0 nevosiro, e 6 esse nevoeiro que se transforma em nuvens, e sio essas muvens a béncio dos Céus, nas chuvas que dessedentam. Correm, humildes, os ribeiros, e glorificam o Senhor, a cantar entre as pedras, tio humildes quanto as Aguas modestas; mas sao essas Aguas uma poténeia, de que se utiliza o homem para seu sustento. Humildes e ocultas sao as raizes, sem as quais, entretanto, nio se erigem os tron- 08, nfio despontam as folhas, nio se enfloram as ‘ramagens — ainda feridas pelos meigos e vivificantes raios do nosso foco material de luz e de calor. Aguas e raizes trabalham & sombra de sua santa humildade, enaltecendo-se por isso mesmo que enaltecem a Forea da qual recoltam forcas. Nao pretendem mais alto posto, justa- mente porque, acreditam ji Ihes ser muito ser parte do grande Todo, essa realidade que, s6 ela, é efetivamente grande. Realidade & essa, com efeito, e tudo o mais é jactancia. Quanto maior a pedra, tanto mais se afunda no atoleiro; torne-se ela permeavel ao ar, e flutuara no agua- cal. Quanto mais o homem se encharque da baz6fia mundana, tanto mais preso se achara & grosseira matéria desse mundo: permita que se Ihe infiltrem os fluidos celestes, e com cles subira, exaltando-se aos olhos do Senhor. En- quanto, porém, se esforear por crescer aos olhos dos homens, continuard pequeno e cada vez me- nor; pois o$ homens buscarao, antes, esmaga-lo e carregé-lo de seus fluidos pesados. Por isto disse o Mestre: “Bem-aventurados os humildes, porque deles é 0 reino dos céus”. Humilhou-se ele mesmo, sofrendo o que nin- guém pudera sofrer, podendo, com um sé golpe de sua enorme vontade, exterminar seus algozes; mas humilhou-se, para ascender, no termo de seu suplicio, aos Céus, donde viera para esse exemplo vivo de humildade. Desceram os _pri- meiros cristiios aos cireos do sacrificio, padece- ram como se nada pudessem, tendo, no entanto, ao lado o exéreito invisivel do Senhor, 0 qual poderia ajudé-los desbaratando-Ihes todos os ini- migos; tudo viveram, para uma vida maior, numa atitude excelsa de encantadora humilha- céo. Humilhou-se 0 publicano, que, orando, sem onsar levantar os olhos, exclamou: “O' Deus, sé benevolente comigo, pecador”, e do qual disse Nazareno: “Digo-vos que este desceu justifi- cado para sua casa”; 20 passo que o fariseu, ao lado, dizendo: “O’ Deus, gracas te dou por nao ser como os demais homens, que sio ladrées, injustos, adiilteros, nem ainda como este publi- cano”, recebeu a reprovacio do Messias. Exal- e— REFORMADOR, Novemsno, 1947 tamo-nos toda vez que nos recolhemos & nossa humildade; somos humilhados sempre que vive- mos para nossa exaltacio. A muitos repugna o humilhar-se — afirmou Kardee — A vista, mesmo, do juizo do mundo, que os impede de fazé-lo, ainda que o quisessem; baste-nos, porém, pensar em que a cada passo nos humilhamos, em mil ocorréncias da vida diéria. Sao esses nadas que nos vao polindo, como as Aguas correntes vio desbastando as arestas das pedras, transformando estas em sei xos rolados, em areia fina, em pé impalpdvel. que rodopia no ar... Humilbaro-nos, sem querer e sem 0 sextiz, sch 2 peso — cic ¢ peso estulto da vangldria, mas da Lei Divina, que ampara os humildes para dar-lhes o lugar reser- vado aos eleitos dos Céus. EY mister, contudo, ainda mais: o dominio ~ do préprio intimo naturalmente rebelde, sempre disposto a irrefletida reacdo aos golpes do que o homem julga da adversidade. Cumpre esgotar © calice da amargura, sorvendo-o gota a gote, que abrasa e parece destruir, fibra a fibra, a alma atormentada; 0 caustico 6, porém, o Te médio desse Médico de todos nés, e de sua penosa, mas salutar agio resultaré novo tecido, com que se eleve o Espirito aos paramos de seu real objetivo : Se do Mestre somos seguidores, imitemo-lo; se Ihe somos discipulos, obedecamos-lhe; humi- Thou-se, para exaitar-se: fagamos nés o mesmo. Gloria Divina O Amor é a luz do mundo, como o Sol é a Forga da Terra. O Amor é Rei no clreulo das criaturas que vivem no ter. Para serdes acorrentados & ma- teria de lama. 6 seria adequada a luz mais mate- rial; melhor fonte de luz de Seu reino astral, Deus ho Thes ‘cencederia, Precisais da claridade e do calor do Sol, para uma vida inferior; mas os Gran- des tém luminosidade propria, como néo a tem 0 homem, porque miserével, Contudo, homem, sem- pre alcaio olhar a0 Pai, em gratidao e fervor; cantaio fulgor da gloria do dia, pois € uma parte da Gloria Divina! DIA GLORO Amo estas la Iumo de ta mondo, Kiel Suno (a Forto de la Tero. Bstas Rego la Amo en la rondo De kreitoj vivantaj en etero. Por ¢enitaj al kota materio Luma taiigus nur plej materiala; ‘Ne pli bonan konsentus Bona Dio Luman fonton de Sia regw’ astrala. Vi bezonas de Y Suno la helecon Kaj la varmon, por vivo malsupera; Sed la Grandaj ja havas mem lumecon, Kian homo ne havas, Gar mizera. Tamen, homo, al Patro la rigardon Giam Tevu, en danko kaj fervoro; De la gloro de U tay’ prikantu ardon, Ero estas gi mem de V Dia Gloro! 10-4-1947 M. SoLovsEv. (Mediumo Porto Carreiro Neto). Novemero, 1947 — Esflorando o Evangelho Substitutos “Ora, Tomé, um dos doze, no es- tava com eles, quando Jesus veio” Toso, 20-24. Tomé, descontente, reclamando provas, por aio haver testemunhado a primeira visita de Jesus, depois da morte, criou um simbolo para todos os aprendizes despreocupados das préprias obrigagoes. Ocorreu ao discipulo ausente o que acontece a qualquer trabalhador distante do dever que Ihe cabe. ‘A edificacao espiritual, com as suas béngios de luz, é igualmente um curso educativo. O’aluno matriculado na escola, sem assidui- dade As ligdes, apenas abusa do estabelecimento de ensino que o acolheu em suas hostes, por- quanto a simples ficha de entrada nao soluciona 9 problema do aproveitamento. Sem_o dominio do alfabeto, nao aleangara a silabacao. Sem a posse das palavras, jamais chegara & ciéncia da frase. Prevalece idéntico proceso no aprimoramen- tw do espirito. Longe dos pequeninos deveres para com os imaos mais proximos, como habilitar-se 0 ho- mem para a recepgao da graca divina? se evita © contacto com as obrigacdes humildes de cada dia, como dilatar os sentimentos para ajustar-se as gloria eternas? ‘Tomé nao estava com os amigos quando o Mestre veio. Em seguida, formulou reclamagées, criando 0 tipo do aprendiz suspeitoso e exigente. Nos trabalhos espirituais de aperfeigoamen- to, a questo é andloga. ‘Matricula-se o companheiro, na escola de vida superior; entretanto, ao invés de consa- grar-se ao servico das ligdes de cada dia, reve- jase apenas mero candidato a vantagens ime- diatas. Em geral, nunca se encontra, ao lado dos demais servidores, quando Jesus vem; logo apés, reclama e desespera. ‘A légica, no entanto, jamais abandona o caminho reto. Quem desejar a bénc&o divina, trabalhe por merecé-la. © aprendiz ausente da aula ndo pode recla- mar beneficios decorrentes da licio. Ausentes ‘Para alumiar os que esto assen- tados em trevas e sombra de morte; a fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz”, — Lucas, 1-79. EY razodvel que o administrador distribua servigos e responda pela mordomia que Ihe foi confiada. Detendo encargos da direcéo, 0 homem é obrigado a movimentar grande ntimero de pes- soas. Orientard os seus dirigidos, educara os REFORMADOR, 251 subalternos, dar-lhes-4 incum as que hes apurem as qualidudes no serv’ —_Isso, contudo, nao exime o dirigente das obry-,6es fundamen- tais que Ihe competem. Se houve alguém que poderia mobilizar mi- Indes de substitutos para o testemunho na Cros- ta da Terra, esse alguém foi Jesus. Dispunha de legides de emissarios esclare- cidos, mantinha incaleulaveis reservas a0 seu dispor. Poderia enviar a0 mundo iluminados filésofos para renovarem o entendimento das criaturas; médicos sdbios que @:rassem 0s cegos ¢ o8 loucos; condutores fiéis, uedicados a ensinar © caminho do bew Em verdade, desde os primérdios da orga- nizagao terrestre, mobiliza o Senhor a multidéo de seus cooperadores diretos, a nosso favor, mesmo porque suas mos divinas enfeixam 0 poder administrativo da Terra, mas urge reco- nhecer que no momento julgado essencial para © langamento do Reino de Deus, entre os homens, veio, Ele mesmo, & nossa esfera de sombras © conflitos. Nao enviou substitutos ou representantes. Assumiu_a responsabilidade de seus ensinamen- tos e, sdzinho, suportou a incompreensio e @ eruz Inspiremo-nos no Cristo e atendamos pes- soalmente ao dever que a vida nos confere. Perante Deus, todos nés temos servico intrans- ferivel EMMANUEL. (Paginas recebidas pelo médium Fran- cisco Candido Xavier). A Ciencia Oficial Os cientistas das Academias rejeitaram: A rotacio da Terra, Os meteoros, O galvanismo, ‘A circulagio do sangue, ‘A vacina, A ondulagéo da luz, © para-raios, A. daguerreotipia, © vapor, A hiélice, Os paquetes, Os caminhos de ferro, A iluminacao a gas, © fonédgrafo, ete., ete, ete. Quando nos lembramos de que a composicio quimica dos astros foi estudada cinco anos apés haver o genial Augusto Comte afirmado ser isso impossivel, que importéncia poderemos dar As opinides de cérebros menores que afirmam das suas citedras que os fendmenos espiritas sio uma “blague”? ei 252 —-——________» A carne e 0 sangue do Cordeiro de Deus por Vinicius. verdade, em verdade vos digo: Se nfig comerdes @ carne do Filho do homem @ no beberdes 0 seu sangue, nfo tendes a vida em vos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mime eu nele.” Os dizeres acima, dirigidos aos judeus, cau- saram grande escandalo. E, ainda hoje, muita gente esposa_o presente conceito dos discipulos do Senhor: Duro é este discurso, quem poderd entendé-lo? No entanto, considerando que as palavras do Mestre sio espirito e vida, verificamos que as assertivas em apreco so verdadeiras e cheias de sabedorii O espirito depende de alimento como o cor- po. Daf a afirmativa de Jesus: Eu sou o pao vivo que desci do céu. E, realmente, ele encarna a escola, a moral e a ética que constituem, em Seu conjunto, o nutrimento da alma. A palavra, escrita ou falada, encerra a ideia, estando para esta, gomo a matéria esté para o espirito. Assim como 0 pao material produz o sangue, base da vida corpérea, as ideias, que sao 0 pao da alma, geram a energia que orienta e conduz o homem nesta ou naquela direcéio, determinando, conse- quentemente, a sua norma de conduta. Que as ideias tracam e executam os pro- gramas da vida humana é fato que se nio poe em diivida nem se discute. Sio as fortas impon- derdveis do pensamento, as ideias em laténcia, que consumam os acontecimentos, dos mais sim- ples e rotineiros até Aqueles que revolucionam 0s povos e abalam os fundamentos das nossas sociedades.’ Cada ideologia, aceita ¢ assimilada, imprime determinada orientacao em seus adeptos. Haja vista o que fizeram os totalitérios nos setores onde pontificaram © Nazi-fascismo empeconhou a Europa en- volvendo o planeta na mais barbara e devas- tadora das guerras registadas nas paginas da histéria humana. As doutrinas extremistas — politicas ou religiosas — apaixonam as mas- sas, fanatizam e tumultuam, constituindo sérias ameacas & estabilidade social Da escolha da alimentacao depende a saiide ¢ a longevidadedos animais, inclusive o homem. Da mesma forma, da escolha do pio espiritual depende a satide psiquica, o equilibrio mental, bom senso, a compreensio e a conduta reta Existem téxicos tanto para o corpo como para a alma. Se escolhemos cuidadosamente os alimentos para aquele, com mais razio devemos escolher para esta, considerando que a matéria organizada € de duracdo efémera, e a alma é imortal Ora, assim sendo, concluimos que as _asser- ges do Mestre, apresentando-se como o alimento celeste cuja ingestdo e assimilacio formara nos- so cardter estruturando nossa personalidade de Sore REFORMADOR, modo que possamos, um dia, refletir a ima; d’Aquele a cuja semelhanca fomos criados, cerram, como dissemos, grande sabedoria. O mau nutrimento do corpo responde p acidentes e distiirbios que a Medicina denom na — doenca. A ma nutricao do Espirito explid a seu turno, a origem das desordens ¢ das lo curas que consubstanciam a confusio e 0 em que ora a Humanidade se debate. Sé ha u remédio para esse mal de tamanha gravid comer a carne e beber o. sangue do Cordei Deus. Nao basta comer-lhe a carne, isto é fronhar-se na letra de sua doutrina. E’ imp cindivel beber-Ihe o sangue, ou seja, saturar incorporando em si proprio, mediante a exq riéneia que procede da pratica, a vida que seu verbo encerra. Assim, comendo a sua ca © bebendo o seu sangue, ele estari em nés, nés estaremos nele, identificados no mesmo irmanados no mesmo espirito. 4 “Eu sou o po da vida, Quem come des pio, viveré eternamente; e 0 pao que eu dal para a vida do mundo, é a minha carne”. A vida é amor. Quem participa consciei mente da vida eterna, conquista, desde j&4 imortalidade, de vez que, mesino encarnado, sa a perceber as evidéncias e as realidades rituais © amor, fluido universal que tudo vivi € 0 poder criador e plasmador de todas as nitas formas através das quais a vida se ma festa e se ostenta. O Verbo humanado, mod de perfeicio na escala evolutiva, irradia, so aqueles que com cle se sintonizam, os fluid vitais de que se compée a sua mesma natu tornando-se, por isso, “o pao que da vida mundo.” Assimilar, pois, os eflivios vivifica que emanam do Filho de Deus é alimenta dele, & comer a sua carne, é beber o seu sangu “Eu sou a videira, vés sois as-varas, ei Pai, o viticultor... Como a vara nfo pode d fruto de si mesma, se nfo permanecer na vi assim, nem vés 0 podeis dar se nio permanes des em mim.” Quanto mais intimas e estreitas forem nossas relacdes com o Mestre, tanto mais em Thor conseguiremos haurir do seu coracio, esd nio insondivel da graca, aquele amor que 6 vida do Espirito como o sangue é a vida animal ¢ a seiva é a vida da planta. ‘Tanto com o po do corpo como com o alma, ocorre o fenémeno de transubstanciag O primeiro se transubstancia em sangue, eo gundo, em forca renovadora, impelindo-nos pad a frente e para o alto, no cumprimento do guinte imperativo: Séde perfeitos como o Pai celestial é perfeito. Somente a Eucaristia divina, que consis na transfusio do sangue do Cristo na Hur dade, poderd encontrar o caminho da verdadeld vida, solucionando os problemas do seu desting “O Bvangelho segundo o Fspiritismo”, em Esperant € 0 livro simbélico da futura civilizacao do Planeta todos os nossos Confrades de hoje se ufanarko de post em sua biblioteca um exemplar da primeira edicho € passi-lo aos seus descendentes, Precos: brochado Cr8 34,00; enc. em percaline Cf 40,00; meto coure Cr$ 70,00; todo couro Cr§ 90,0. ‘NoveMaro, 1947 — ——___— Tentando explicar)| Entre os que protestam contra o nosso correio informativo, alega vocé impossibilidade de crer em nossos trabalhos salvacionistas, com utilizagio de apetrechos que parecem copiar 0 material terrestre. ‘Aqui, referimo-nos a redes luminosas, acolé descrevemios sistemas defensivos. Realmente, voeés que ainda permanecem chumbados ao chao do Planeta, néo devem ser constrangidos a aceitar o que nao véem. ‘Um botinico europeu da noticias ao colega americano da existéncia de plantas desconhe- cidas na regio equatorial. O interessado, se deseja certificar-se pessoalmente, concorda com 08 sacrificios da viagem e observa por si mesmo. Em nosso caso, nao regateamos 0 noticiério € a viagem para’a andlise requerida é possivel; no entanto, quem se dispde a pagar o preco, constituido de esforco e aperfeigoamento na re- nunciacao? Quase sempre, vocés chegam aqui, qual acon- teceu a nés mesmos, brutalmente projetados pela morte, & maneira do foguete que os sébios pre- tendem atirar 4 face da Lua. Com referéncia ao assunto, assevera vocé que a forca mental dos espiritos desencarnados dispensaria semelhantes recursos e, por funda- mentar a assertiva, declara que os seus doentes psiquicos, obsidiados por entidades perversas, cedem perfeitamente As suas emissGes magnéti- cas, no uso da oracao. Nao duvido de suas possibilidades regene- radoras e curativas Habituou-se, porém, aos cdlculos da multi- plicacio? ‘Admite, porventura, que a forca suscetivel de ser colhida na queda de um regato seja idén- tica ao potencial da cachocira? Transfira essa imagem para as energias as- sociadas do mal e faca a conta. Provawelmente, lembraré que nos compete canalizar os recursos do bem com intensidade maior e mais vigorosamente. Creio que acaba- remos agindo assim, mas, por enquanto, de mi- nha parte, sou obrigado a confessar que, depois de muitos séculos, sémente agora’ me sinto im- pulsionado ao bem legitimo. ‘No seu parecer, 0 milagroso “fiat” do Gé- nesis, estaria em nossas méos, logo apés as peripécias do transe final do veiculo fisico ‘A poténcia mental de alta voltagem, contu- do, no é obra improvisa. Refere-se aos servicos de magnetismo, cura- dor em sua casa de satide, como se tudo repre- sentasse simples realizacdo da vontade pessoal. 0 trabalho para vocé é um jogo mecinico entre seus designios e suas energias. Efetivamente, seu concurso é precioso. ” Que seria das grandes cidades, habituadas vantagens do servico elétrico, se a tomada humilde se negasse & ligacéo com a usina? Quando administra os beneficios espirituais a03 necessitados, ndo pode ver a multidéo invi- sivel, agrupada’em torno de sua prestimosa colaboragio. Nem os desencarnados em dese- —— REFORMADOR, 258 quilfbrio que Ihe aproveitam o concurso fraterno, nem os benfeitores generosos que se utilizam de suas mios, de seu pensamento e de sua boa vontade. Em razio disso, a prece e 0 devota- mento aos semelhantes constituiréo seus pontos de apoio invaridveis, de vez que seus olhos mor- tais no podem identificar toda a extensio do quadro, sem grave dano para o seu equilibrio na tabela de lutas salutares da reencarnagio. Aceite a verdade ou nfo, voeé nao pode agir sdzinho. ‘Ainda que dispense a cooperagio das entidades amigas, sempre que sua consciéncia honesta es- tiver no socorro ao préximo, permanecerao elas em sua companhia. Quando nao seja por si, pelos necessitados. ‘Além disso, parece-me que vocé ainda ndo estudou, pacientemente, o problema alusivo aos lugares’ de cura. Diz-nos o diciondrio que o hospital é um estabelecimento de cuidado aos enfermos. Entretanto, existem centros dessa na- tureza, favoraveis e desfavoraveis. Desdobra-se-lhe a contribuicéo numa casa de amor evangélico, ideada no plano superior vagarosamente materializada na Terra, e traba- thadores encarnados e orientadores desencarna- dos nela encontram, por isto, ampla esfera de vibragdes adequadas, com base segura na sim- patia e na confianca. Pessoalmente, porém, es- tive, nos iiltimos tempos, em varios hospitais desfavoraveis. Refiro-me ‘a alguns “campos de concentraciio" da guerra europeia. Essas insti- tuigdes agrupavam enfermos de todos os matizes. Milhares de vitimas, flageladas e atormentadas, e centenas de carrascos, de mistura com incal- culavel numero de espiritos desligados do envol- trio terreno, em doloroso desequilibrio. Creia que a nossa colaboracao mental, e aqui me re- porto a companheiros infinitamente superiores a0 modesto servidor que Ihe escreve estas linhas, era reduzidissima, perante as emanagées do ddio que ali imperava, monstruosamente, O campo estava repleto de obsidiados, mas... a zona era desfavoravel ; Naturalmente, vocé interrogara: : — Porqué? por que motivo nao se impde 0 superior sobre o inferior? Respondendo, apenas direi que passou pelo mundo Alguém, cuja forca mental, renovadora e divina, levantava paraliticos e restituia a visio aos cegos. Impunha respeito aos scres das trevas com a simples presenca e chegou a devolver 0 ténus vital a corpos cadaverizados. Trouxe & Terra a maior mensagem do Céu e, um dia, em se vendo cercado pelos semelhantes, obcecados de inveja e citime, incompreensio e egoismo, or- gulho ¢ édio, ingratidao e indisciplina, injustica e maldade, recolheu as energias sublimes e infi- nitas, para dentro de si préprio, e entregou-se & eruz do sacrificio sem defender-se. Se vocé me perguntar o motivo, francamen- te, nfio saberia responder. ‘Admito que o Embaixador Excelso, assim procedendo, fixou a licdo da necessidade do Reino de Deus no Coragéo Humano. Cada homem, filho do Criador e herdeiro da Eternidade, hd-de crescer por si, aprimoran- do-se e elevando-se, usando a vontade ¢ a inteli- —9- 234 géncia. Cada criatura deverd a si propria o céu ‘ou o inferno em que se encontra. Recordo-me que o Divino Crucificado ensi- nou, certa feita: — 0 Reino Celeste esti dentro de vés! Quem nio desejar descobri-lo em si mesmo, aleancaré a posicio do enfermo que se nega a todos 0s processos de cura. Para um doente dessa espécie, médicos e remédios nao tém raz4o de ser. Quanto ao nosso material socorrista e as nossas milicias, as nossas turmas de vigilancia e organizagées’ que honram a hierarquia e a ordem, o trabalho e a evolucio, nos quadros do mérito & da justiea, tudo isso 6 do nosso regi- mento doméstieo. Até que vocés se reunam a nés, pelo golpe inevitével da morte, acreditario em nossos informes se quiserem, mesmo porque, de acordo com a velha filosofia popular, quem da 0 que pode, a mais nao é obrigado. Irmo X. (Mensagem recebida pelo médium Fran- cisco Candido Xavier). © primeiro centendrio de Cosme Marifio Em_ niithero especial, com 150 paginas e muitas fotografias, nossa veneranda colega Cons- tancia, de Buenos Aires, regista o primeiro cen- tenrio do nastimento de Cosme Marifio, ocorrido em, 27 de Setembro deste ano, pois aquele Mis- sionério apareceu sobre a Terra no dia 27 de Setembro de 1847. Em Agosto de 1946 dedicamos uma pagina (a 175) a esse pioneiro do Espiritismo no Novo Mundo, lembrando assim o Centenario de seu nascimento, e folgamos muito que os nossos Ir- mios de Buenos Aires hajam feito celebracio condigna do grande Trabalhador espirita. © referido numero especial traz artigos de 46 colaboradores, de diversos pais dentre os quais muitos do ‘Brasil, todos associados & ma- nifestacdo de carinho ao grande lutador que du- rante meio século esteve 4 frente do movimento naquela Repiblica irma, Constancia tem hoje 70 anos de vida e os seus 46 anos mais penosos passaram sob a hAbil direcio de Cosme Marifio. Foram anos de lutas desiguais contra os poderosos inimigos do Espi- ritismo, que empregavam todos os meios, in- elusive a violéncia, chegando a ferir o pioneiro a tiros de revélver. Consolidar o movimento espirita sob aquela tempestade era obra sémente cabivel a um Espi- rito superior, porque um homem comum da Terra eairia e com ele o movimento. Esse grande espi- rito foi Cosme Marifio, eujo centendrio hoje cele- bra a Argentina coma colaboracio entusiastica de toda 3 América. O-niimero especial dé Constancia 6 um mo- numento que passaraé 4 posteridade em nossas biblioteeas. O exemplo de Cosme Marifio nao desapa- recerA — 10 — —— REFORMADOR ——— Novemnno, 1947 E Roustaing continua por TOLIo TurEvaMBA. EY necessério que os espiritas vigiemos muito rigorosamente nossas acées para nao incidirmos nos erros que costumamos reconhecer em ele- mentos que professam outros credos. O espirito de tolerncia, por exemplo, foge sempre daque- le que se arroga o direito de descobrir faltas alheias, em defesa de pontos de vista préprios, considerados s6lidos e intangiveis por quem os esposa Todas as vezes que um espirita, ou soi-disant espirita, entra num debate sem serenidade nem apego aos fatos, esté falseando principios inde- clinaveis da Doutrina kardeciana e demonstrando 4 nao ser verdadeiramente espirita e muito mengs espirita-cristio. Nao se deve opinar sem co- nhecimento real, na comentacgaéo de um assunto: “0 que caracteriza um estudo sério 6 a continui- dade que se lhe dd”, disse o Codificador. Entre- tanto, a maioria, seno a totalidade dos que combatem “Os Quatro Evangelhos” ou J. B. Roustaing, ndo podem, em si consciéncia, afir- | mar haja feito “wm estudo sério” da grande e va- liosa obra meditmico-mecinica_psicografada por Mme. Collignon. E’ preciso nao confundir sim- ples leitura com estudo, isto & com “estudo sério”, que implica meditacao ¢ raciocinio. Para se efetuar “um estudo sério” de determinado assunto, é indispensavel serenidade, isencio de Animo e capacidade analitica. Ainda que, por questo de foro intimo, o8 opositores de Roustaing nao aceitem a ideia do “corpo fluidico” de Jesus, nem por isso deve “A Revelacéo da Revelacio” (“Os Quatro Evan- gelhos”) ser condénada, uma vez que encerra ensinamentos morais muito preciosos, perfeita- mente acataveis pelos mais exigentes defensores da Doutrina Espirita, segundo a prépria opiniao de Kardec. Lamentavelmente, porém, formou-se, dentro do Espiritsmo, uma corrente de negadores siste- maticos de Roustaing, que foi o coordenador de “Os Quatro Evangelhos”, corrente essa que, & simples referéneia do nome ilustre do bastonério de Liao, se inflama, se irrita, se descontrola e se empolga por estranho édio, esquecendo os preceitos de tolerancia, amor e caridade constan- tes da Doutrina, como se, no Espiritismo, fora possivel conciliar esses puros sentimentos cris taos com sentimentos que Ihes sio antagdnicos “O que, porém, nao podemos admitir é a pretensdo de alguns incrédulos, a de terem o mor nopdtio do bom serso-e que, sem guardarem conveniéncias ¢ respeitarem o valor moral de seus adversdrios, tachem, com desplante, de inep- 4 tos, 08 que néo Ihes sequem o parecer. Aos olhos de qualquer pessoa judiciosa, a opinido dos que, esclarecidos, observaram durante muito tempo, estudaram ¢ meditaram uma coisa, constituiré sempre, quando néo uma prova, uma presuncéo, ‘no minimo, a sen favor, visto ter logrado prender a atencéo de homens respeitdveis, que néo ti- nham interesse algum em propagar erros nem tempo a perder com futilidades.” Estas palavras de Allan Kardec podem ser aplicdveis ao caso. PE ee eee eee eee ‘NovEMBRO, 1947 Os que se mostram intransigentes e intole- rantes acerca de Roustaing, sero, em sua vida comum, exemplos de respeito fiel aos prineipios doutrinarios do Espiritismo? Pelo que fazem, em. Telacio a Roustaing e a “Os Quatro Evangelhos”, Parece-nos a nés que nfo... Se pudessem, cha- mariam 0 Codificador de Sao Kardec, ja que alguns o fazem “padroeiro” de batizados e casa mentos, sem atentarem para a impropriedade dessa pratica, que nio tem agasalho no corpo da Doutrina dos Espiritos, que Kardec legou a Humanidade A Federagio Espirita Brasileira e os homens de responsabilidade que se encontraram e se encontram em sua direcio jamais impuseram a ninguém a aceitagao da teoria do “corpo flui- dico” e de “Os Quatro Evangelhos”. Isto nao impede, no entanto, que a aceitem e encontrem na magnifica obra meditinico-mecanica recebida pelo “médium” Mme. Collignon e coordenada por J. B. Roustaing, todo 0 encanto que, aos estu- diosos e simples de coracéo, oferecem as ver- dades profundas que ela encerra. A maior demonstracao da forca espiritual de “Os Quatro Evangelhos” esta na sua natural resisténcia As invectivas dos que nfo os estuda- ram € os combatem, e dos que os leram per- funetériamente e nao os compreenderam. Nao importa. Apesar de tudo, Roustaing continua. . CARTA AOS JOVENS por Fontes pa Luz. Trmaos de minh’alma: Viva 0 Espirito do Cristo em nossos cora- ges € nos dos nossos companheiros Somos jovens, porque os milénios nfo nos decrepitam, mas renovam; e.porque nossos espi- ritos imortais apenas comecaram sua vida eterna, A vida eterna é patriménio do Eterno Pai, que no-la deu. Tomemo-la com reconhecimento -e entremos na sua posse A posse da vida eterna é a paz e a alegria do coracao, mas o peeado é a morte da alma. O pecado é a transgressiio da Lei; e a Lei @ boa, porque Amor, Amemos, ¢ teremos paz, e a paz nos dari alegria, e a alegria da paz interior nos encheré de felicidade a vida do espitito. A alegria é luz interior que vem de dentr 0 riso que vem de fora é engodo do mundo; ¢ © mundo mente. Precatai-vos pois da mentira do mundo, por- que @ mentira ilude e a ilusio leva ao erro, 0 erro perde. Pregais o bem, e 0 bem seduz as almas, © as almas vos aplaudem. Cuidai, porém, que of aplausos que sobem da Terra vos nao’ fechem 03 ouvidos do espirito A voz que desce do céu. Porque a voz que sobe da Terra fala do que se vé na Terra, ¢ na Terra s6 se vé o exto- rior; mas o Alto penetra o interigr dos sent: mentos. REFORMADOR —--——_—_—- 206 O interior € 0 real; o aparente é fietfcio, ¢ 0 ficticio é 0 engano. O engano traz a decepedo e a decepgio trix a amargura, ¢ a amargura tira a paz e a alegria do coracio. Séde pois, em esséneia, como 0 mundo vos vé e'vos celebra, para que nao suceda que sejais aos olhos do Senhor como os sepulcros caiadus ou os falsos profetas. Tende cuidado que a sede de parecerdes bon: vos néo leve a agirdes. bem aos olhos humanos, mas procurai que a virtude dos vossos coragée: determine vossas boas obras Porque é pelo fruto que se conhece a arvore mas nfo pela beleza exterior do fruto, e sim pela sua sanidade interior. A dor dos homens vos convida & caridadc Eu, porém, nao desejo que sajais simplesmente caridosos, mas, sim, cheios de amor. Porque onde existe amor nfo pode have: a caridade que se exterioriza na pritica meci- nica de um gesto comum Essa caridade custa e adi suaviza e redime. Jesus nfo foi nunca caridoso, no sentido restrito da palavra, porque sempre amou; e ja- mais falou em caridade. Porque a caridade entre os homens se faz de cima para baixo, mas c amor se manifesta nivelando planos. ‘Tendes a seiva do entusiasmo e o sol da mocidade. Purificai a seiva e dosai o Sol, para que nao se dé que a seiva se desperdice eo Sol vos queime. Séde esclareci“os na fé, equilibrados na es peranca e incondicionais no amor. Porque a fé cega leva ao fanatismo, a espe- ranga desequilibrada conduz 4 fantasmagoria mas o amor condicionado traz as malquerengas € as_disputas Nao busqueis fundar a vossa obra nas ps lavras. que poferis, mas no trabalho que fazei Porque a vida da palavra é 0 ato; porque o peu samento é semente e a palavra é arvore, mas 86 a obra é fruto. Nao mecais, pois, vosso trabalho pelas me- didas das -nveniéncias humanas ou do esfore menor, ou das convenedes da sociedade, Mar auilatai-o pela sus. intensidade, esséncia e fru- tifieacdo Nao vos inquieteis, todavia, com as colheitas do vosso esforco, mas com o plantio das vousas mos; porque, em verdade, ninguém colhe no dia que planta. E, as vezes, o que planta uma Arvore nao lhe colhe us frutos; mas das que virao por ela, no frutifiear das sementes que ela der Séde mansos e humildes, compreensivos ¢ tolerantes. Porque de pugnadores o mundo jé esta cheio, e nem por isso é bom: mas é d2 mansidio que ele precisa. Sois os renovadores do mundo. A rempva- cio do mundo é a institui¢o do Amor de Jesus. Enchei-vos, pois, do Amor de Jesus, para poder- des espatha-lo pelo mundo. Porque ninguém ai © que nao tem, nem node fazer a outrem seme Ihante Aquilo que nao Meu abraco vos dou e meu afeto, Jesus Nosso Senhor, vos abengée © amor lene, —u— 26 — 0 fantasma que perseguia a Mademoiselle Clairon (1) por ALLAN Karprc. Esta histéria fez muito barulho em seu tempo, quer pela posicéo da heroina, quer pelo grande mimero de pessoas que a testemunharam. Apesar de sua singularidade, provavelmente teria fieado esquecida, se Mademoiselle Clairon nao a houvesse registado em suas memérias, das quais extraimos a narraco que aqui vamos fazer. A analogia que ela apresenta com alguns fatos que se passam em nossos dias justifica sua in- clusio nesta Coleténea. Mademoiselle Clairon, como se sabe, era tao notavel pela beleza quanto pelo talento, como cantora e atriz de tragédia; inspirara ela a um jovem breto, o Sr. de S..., uma dessas paixdes {que muitas vezes decidem da vida ou da morte, quando nao se tem bastante forca de vontade para triunfar sobre tal sentimento. Mademoiselle Clairon sé the correspondia pela amizade; no entanto, a assiduidade do Sr. de 8... se tornou tio importuna que ela resolveu romper toda relagio com ele. O pesar que ele sofreti com esse rompimento The causou uma longa enfer- midade, da qual ele veio a morrer. Isso ocorreu em 1743. Oferecamos a palavra a Mademoiselle Clairon: “Decorreram dois anos e meio entre nosso conhecimento e sua morte. Ele mandou supli- car-me que Ihe concedesse, em seus tltimos momentos, a consolagio de me ver mais uma vez; minha roda me impediu de o fazer. Ele morreu s6, em companhia de seus criados e de uma velha senhora que hi muito tempo era a finiea pessoa de sua convivéncia. Residia ele entio em Rempart, perto de Chaussée-d’ Antin, zona que iniciava as suas primeiras construcdes residenciais e eu, na Rua de Bussy, perto da Rua de Seine e da abadia Saint-Germain. Eu tinha comigo minha mie, e diversos amigos vi- nham cear comigo... Eu havia acabado de can- tar umas cancées muito lindas, com as quais os meus amigos estavam maravilhados, quando se ouviu, ao bater onze horas, um grito agudissimo. A sombria modulacio e a duracdo dele pasma- ram a todos; eu me senti desfalecer e estive desacordada cerca de quarto de hora “Todos que estavam comigo, meus amigos, meus vizinhos e até a policia ouviam aquele mesmo grito, sempre & mesma hora, sempre partido de debaixo das minhas janelas e pare- cendo sair do ar vazio... Raramente eu ceava na cidade, e, quando isso sucedia, em minha casa nada se ouvia, e varias vezes, enquanto eu pedia noticias & minha mae e & minha gente, ou quando eu voltava para meu aposento, ele partia do meio de nés. Certa vez o presidente (2) Mademotselle Clatron nasceu em 1723 @ morreu em 1803. Estreou na troupe ttalienne com a idade de 13 fanos e na Comédie Francaise em 1748. Retirou-se do teatro em 1765, com a Idade de 42 anos. 2 ——— REFORMADOR ————. ——-— Novemsro, 1947 de B..., em casa de quem eu havia ccado, qui conduzir-me para casa, a fim de assegurar-se de que nada me sucederia em caminho. Enquanto ele se despedia de mim, & porta de minha casa, 0 grito partiu entre ele e mim. Como toda Paris, ele também conhecia essa histéria: no entanto, conduziram-no para seu carro, mais morte, do que vivo. “Doutra feita, eu pedi ao meu camarade Rosely para me acompanhar & Rua Saint-Honoré, onde eu ia escolher tecidos. O tinico assunto de nossa palestra foi o meu fantasma (era assim que 0 chamavam). Esse moco, cheio de vivaci dade, em nada acreditava, mas ficava comovido com a minha aventura. Ele insistiu comigo pare evocar o fantasma, prometendo que creria, se o fantasma Ihe respondesse. Ou por fraqueza ou por audacia, fiz 0 que ele me pedia: o grito repetiu-se trés vezes, terrivel pelo seu estrépito e pela rapidez. Em’ nosso regresso, foi neces sGrio 0 socorro de toda a gente da casa para nos tirar do carro, onde estavamos ambos dese: cordados. Depois dessa cena passei alguns mese#] sem ouvir o grito. Julguei-me livre para sempre mas estava enganada. “Todos os espetculos tinham sido transfe ridos para Versalhes, em virtude do casamentad do Delfim. Haviam-me arranjado, na Aven de Saint-Cioud, um quarto que eu ocupava a Sra. Grandval. As trés horas da manhi ei Ihe disse: Estamos no fim do mundo; o grit ficaria embaracado de vir procurar-nos aqui. Ele explodiu! A Sra. Grandval acreditou qu@j © inferno inteiro se achava em nosso quarto! ela correu, de camisa, de alto abaixo a case, na qual ninguém péde fechar olho aquela noite mas aquela foi a ultima vez que ele se fez ouvi; “Sete ou oito dias mais tarde, eu estav conversando com as pessoas do costume, quand -o toque de onze horas foi seguido de um tis de espingarda disparado contra uma das minka janelas. Todos ouvimos 0 estampido; todos mos 0 fogo; a janela no apresentou dano algum Concluimos que alguém me queria tirar a vidy; mas que havia errado 0 alvo € que era necessirig, para o futuro, tomar precaugses. O Sr. de ville, entdo tenente de policia, mandou dar busca nas casas situadas em frente da minha: & mu foram enviados intimeros investigadores; apesar de todos os cuidados que se tom: durante trés meses inteiros o tiro foi ouvido visto o fogo, sempre & mesma hora, no mem quadro da vidraca, da mesma janela, sem qu pessoa alguma pudesse descobrir de onde é partia. Esse fato ficou registado no proces policial ‘Acostumada com o fantasma que eu achat um diabo bom, pois que ele se limitava a meg pregar pecas, Sem pensar na hora que era sentindo muito calor, abri a referida janela, eu eo intendente nos debrucdmos @ sacada. A baterem as onze horas, explodiv o tiro e nol Jancou a ambos para o centro do aposento, onde caimos como mortos. Ao despertarmos do des maio, sentindo que nada tinhamos, miramo-n084 reciprocamente e afirmamos que haviamos rece bido a mais terrivel bofetada, ele na face esquer-Y ‘Novensno, 1947 da e eu na direita, e nos pusemos a rir como loucos “Dois dias mais tarde, convidada por Made- moiselle Dumesnil para comparecer a uma festi- nha -noturna que ela oferecia em sua residéncia, tomei um fiacre as onze horas, com a minha camareira. Havia um belo luar e nos conduziram pelos bulevares, onde as casas comecavam a ser construidas. Minha camareira me disse: Nao foi aqui que morreu o Sr. de S...? — Pelas informagées que me deram, deve ser naquela casa, disse-Ihe eu, apontando com o dedo uma das duas casas & nossa frente. De um dos pré- dios partiu o tiro de espingarda que me per- seguia, atravessando 0 nosso carro. Supondo-se atacado por salteadores, 0 cocheiro tocou a ga- lope. Quando chegamos, mal tinhamos readqui- rido 08 sentidos, e, de minha parte, eu estava tomada de um terror que durou muito tempo, confesso-o; mas aquele tiro foi o tiltimo de arma de fogo. “A essus explosdes sucedeu um bater de pal- mas, com certa medida e aumentos de intensi- dade. A esse ruido, com o qual a bondade do publico me havia acostumado, nao prestei aten- cao alvuma durante muito tempo; foram os meus amigos que o fizeram por mim. Temos estado a observar, diziam-me cles; é As onze horas, quase ubaixo da sua porta que se faz ouvir; ouvimos, mas nfo vemos pessoa alguma; 86 pede ser uma consequéncia do que tendes sofrido. Como esse ruido nada tinha de terrivel, nao conservei as datas de sua duracdo. Nao dei atencio igualmente aos sons melodiosos que depois se fizeram ouvir; parecia que uma voz celeste dava o preliidio de uma Aria nobre e comavente que ia cantar; essa voz comecava na esquina de Bussy e terminaya & minha porta; e, do mesmo modo que sucedia 208 sons préce- dentes, ouvia-se, mas nada se via. Finalmente, tudo cessou depois de pouco mais de dois anos Algum tempo depois, Mademoiselle Clairon veio a ouvir da velha senhora que permaneceu como atiga devotada do Sr. de S..., 0 relato dos iiltimos momentos dele. ‘Ele contava, disse ela, todos os minutos, até que ag dez e meia seu criado veio dizer-lhe que decididamente nio virieis. Apés um mo- mento de siléncio, ele me tomou a mao, com um aumento de desespero que me assustou, ¢ excla- mou: Barbara... ela nada ganharé com isso; eu a perseguirei tanto depois da morte, quanto a persegui durante a vida!..." Tentei acalmé-lo, mas ele j4 nao existia”. Na edicio que temos sob os olhos, essa narragao é precedida da seguinte nota sem assi- nattira: “Eis uma anedota mui singular, sobre a qual sem diivida houve e havera’ os mais dife- rentes juizos. Gosta-se do maravilhoso, mesmo sem erer nele: Mademoiselle Clairon parecia convencida da realidade dos fatos que cla conta. Contentamo-nos de notar que ao tempo em que cla foi, ou se julgou atormentada pelo seu fan- taema, tinha de vinte e ‘dois e meio a vinte cinco anos; que essa é a idade da imaginagio e que esta faculdade era continuamente exerci- REFORMADOR tada e exaltada nela pelo género de vida que levava no teatro e fora dele. Deve-se recordar ainda que ela disse, no comego das suas Memé- rias, que em sua infancia s6 a divertiam com aventuras de fantasmas e feiticeiros que Ihe diziam ser histérias verdadeiras”. Conhecendo o fato apenas pelo relato de ‘Mademoiselle Clairon, 86 0 podemos julgar por jinduc&o; pois bem, eis o nosso raciocinio: Esses acontecimentos, descritos com os mais minucio- sos pormenores por Mademoiselle Ciairon mesma, tém mais autenticidade do'que se houvessem sido relatados por um terceiro. Acrescentemos que, ‘ao escrever a carta em que faz o relato, tinha cerca de sessenta anos e ja estava passada a idade de credulidade a que se refere o autor da nota, Este autor nfo pée em divida a boa fé de Mademoiselle Clairon sobre a sua aventura, somente pensa que ela possa ter sido jogucte de uma ilusio. Que o tivesse sido uma vez, nada seria de admirar, mas que o tenha sido *urante dois anos e meio, isto j4 nos parece mais dificil; mais dificil ainda o ‘supor-se que essa ilusio tenha sido compartilhada por tantas pessoas, testemunhas oculares e auriculares dos fatos * até pela policia. Para nés que salemos o que pode ocorrer nas manifestacdes espiritas, a aven- tura nada encerra que nos possa surpreender, e nds a temos por provdvel. Nesta hipotese, nao hesitamos em pensar que o autor de todas essas diabruras nao tenha sido outro sendo a alma ou o espirito do Sr. de S..., se observarmos, acima de tudo, a coincidéncia de suds iiltimas palavras com ‘a duracio dos fenémenos. Ele disse: Eu a perseguirei tanto depois da minha morte quanto durante a minha vida. Pois bem, suas relacdes cont Mademoiselle Clairon haviam @urado dois anos e meio, precisamente tanto tempo quanto as manifestagdes depois da morte. ‘Ainda algumas palavras sobre a natureza desse Espirito. Ele nao era mau e foi com razao que Mademoiselle Clairon 0 qualificou de um diabo bom: mas n&o se pode também dizer que ele tenha sido a bondade mesma. A violenta paixio, & qual ele sueumbiu, como homem, prova que as ideias terrestres dominavam nele. Os tracos profundos dessa paixéo que sobreviveu & destruicéio do corpo provam que, como Espirito, ele ainda se achava sob a influéncia da matéria. Sua vinganca, por inofensiva que fosse, denota entimentos pouco elevados.: Se quisermos con- sultar 0 nosso quadro de classificago dos Fspi- ritos, nao seré dificil designar-Ihe a categoria; a auséncia de maldade real evita-Ihe natural mente a tiltima classe, a dos Espiritos impuros; mas ele se mantém evidentemente nas outras classes da mesma ordem; nada nele poderia jus- tificar uma categoria superior. Coisa digna de nota é a sucessio dos dife- rentes modos pelos quais manifestava ele a sua presenca. Foi no mesmo dia e no momento de sua morte que ele se fez ouvir pela primeira vez ¢ isso em meio de uma ceia alegre. Hm vida, via ele pelo pensamento a Mademoiselle Clairon cireundada da aurdola que a imaginacdo empres- ta ao objeto de uma paixfo ardente; mas, quando aalma é desembaracada do véu material, a iusto substitui a realidade. Ele esti a seu lado, ven- agi 258 — NovemBno, 1947 do-a cercada de amigos e isso devia excitar seu citime; com sua alegria e seus cantos, parece-lhe que ela insulta seu desespero e esse desespero se traduz por um grito de célera que ele repete didriamente & mesma hora, como para repreen- d6-la pela recusa de ir consola-lo em seus tiltimos momentos. Aos gritos sucedem os tiros de espin- garda, inofensivos, é verdade, mas que revelam uma raiva impotente e a vontade de perturbar- tae © repouso. Mais tarde seu desespero toma carater mais calmo; chegou provavelmente a ideias mais sis e toma parte em seus triunfos actisticos; resta-lhe a recordagéo dos aplausos de que ela era alvo e ele os repete. Por fim, ele fhe diz adeus, fazendo ouvir sons que parecem © eco daquela voz*melodiosa que tanto o havia eneantado em vida. (Revue Spirite, Fevereiro de 1858). ne Prepara hoje o teu amanha Bricto, por Josi ‘Reconhece! que a arvore & boa © sew fruto 6 bom, ou que a arvore & mae 0 seu fruto ‘mau: porque pelo . futo se conhece a Arvore”, Mow Ev gelhos.) Olha, homem, para dentro de ti; examina ao fim de cada dia o que disseste e fizeste. Pongera bem sobre isso e traga teu programa para o novo dia que te espera Se consegues diminuir, dia a dia, o teu acervo de erros, dé gracas a Deus e enfeita o eoracéio com a alegria mais pura, porque, assim, poderas vir a ser ainda como a Arvore boa que a4 bons frutos. Ninguém tem o direito de ser mau; todos temos 0 dever de ser bons. Nao te envaidecas de algum bem que praticares, porque o muito que deres seré insignificante em face do que deve- ris dar. Confronta o teu débito com o teu crédito. Se chegares & conclusio de que é lento o teu progresso moral, néo esmorecas e da maior aten- edo ainda a ti mesmo, para que possas ressarcir teus erros e tuas deficiéncias nos dias mais peéximos: = Nao deve entristecer-se aquele que, fazendo pouco, faz o que pode, mas aquele outro que, podendo fazer muito, nada faz. Para este, a caminhada ser mais Ardua, o tempo mais longo © 0 fardo mais pesado. 14 - REFORMADOR, ~ * Se os frutos do teu esforco sio mirrados, aduba o teu Espirito com o estudo, a compreen- sdo e a exemplificacio dos Evangelhos e lanca em tua vida novas sementes de trabalho, de caridade, de £6 e de auto-determinacao para 0 bem. Nao tardaré que florescam em tua alma as boas agdes e o teu Espirito sorrird, satisfeito, por encontrar a Primavera das alegrias santas. Alarma-te, porém, se tuas faltas continuam maiores do que as tuas virtudes, porque, entéo, te semelhas Arvore ma, cujos frutos sio maus, Nao se pode esperar que uma arvore ma dé bons. frutos. Por conseguinte, amigo, para um instantel na corrida louca em que vais Para, e pensa.,Olha para o passado, analisa © presente e refleté um pouco sobre o que faras no futuro que desconheces. O “ontem” nio tem segredos para ti, porque j4 0 viveste; o “hoje” nao te revela mistérios, porque vives em sua intimidade. Mas ? Podes tracar belos planos, arquitetar grandes projetos; tudo, porém, sobre hipéteses A noite, na solidéo do teu quarto, leva 0 pensamento a Jesus e faz tua prece com since- ridade e simpleza. Medita alguns minutos sobre © que tens feito de dtil aos teus semelhantes € © que poderias fazer e nao fizeste Lembra-te, irmio, que nao pode colher flo res quem semeia espinhos. O passado esta mor- to; 0 presente morre a todo instante, enquanto que o futuro esta por nascer... A vida do ho- mem é como o.ciclo do Sol: nasce, cresce, esplen- de; depois, esmaece, declina e desaparece Demais, 0s Evangelhos ensinam “Tudo 0 que quiseres que os homens te fa gam, faze assim também a eles; pois é nisto 0 que consistem a Lei e os Profetas.” Olha, companheiro de frajetéria terrena, para deptro de ti; examina ao fim de cada dia © que disseste e fizeste. Pondera bem sobre isso e traca teu programa para o novo dia que te espera Conversa contigo mesmo e sé sincero nos. teus pensamentos mais intimos Vai... Prepara hoje o teu amanha NoveMro, 1947 7 259 RECONHECIMENTO CONSOLADOR Respeitavel jurista e escritor patricio, resi- dente no Sul do Pais, havendo lido critica desfa- vordvel & obra da Casa de Ismael, escreve-nos longa missiva, animando-nos a prosseguir sere- namente no cumprimento do programa tracado pelos nossos Maiores e, ao referir-se ao trabalho da nossa Federacdo em favor do Esperanto, diz: “Bastaria o que a F.E.B. faz pelo Esperanto para justificar-Ihe o titulo de instituicio respeitavel”. Aquele confrade, que nao é esperantista, reconhece e proclama que tem grande significa- c&o a obra esperantista que vai sendo realizada por intermédio desta Casa em cumprimento dos Planos Superiores de transformacio do mundo e isso nos fored a refletir sobre o trabalho de divulgacio é utilizagio do Esperanto pela Casa de Ismael. ‘A divulgacio do Esperanto é tarefa lenta ¢ sujeita a muitos imprevistos. Serdio necessarios muitos decénios ou séculos de trabalho perseve- rante para que o Esperanto chegue ao seu triunfo final. Ele, Esperanto, tem que contar com a oposicio da rotina, com o desfavor e por vezes violenta perseguigao dos imperialismos linguis- ticos. A obra requer uma perseveranca secular; nao bastam uns decénios. ‘Terao as futuras di- retorias da Federacio a necessaria perseveranca de continuar a obra iniciada, mesmo que o Espe- ranto entre em desfavor dos governos, como tem sucedido em outros paises? Nao ha sempre o perigo de mudar-se de orientacio e perdermos os esforgos j4 empregados, com o prejuizo moral de uma mudanca de rumo? ‘Tudo isso foi pacientemente examinado ha onze anos, quando de simples simpatizante a Federacio ia passar ao trabalho ativo pelo Espe- ranto, ia iniciar a publicacio de obras didaticas, estabelecer a importacao de livros para distri- buigdo no Brasil, e como o Presidente de entio J desencarnou, é conveniente registarmos hoje em Reformador os principais tépicos daquele exame O resultado a que chegamos depois de pa- ciente discussio de todos os prés e contras foi © seguint Se a Federacdo realmente entrar no traba- Iho de divulgacio do Esperanto, essa decisao sera dos Guias e nao se detera nunca, porque eles trabalham de acordo com Planos Superiores que nao se alteram nunea. Se a obra néo encon- trar apoio nos Guias, nascera morta, desapa- receré logo sem resultado algum. Até hoje a Federacio nunca mudou de rumo. Mudam-se os homens, mas nunea a orientacio da Casa. Dentre s tarefas da Federacdo, ha uma combatida in- essantemente: a divulgacao da obra de Rous- taing. Em muitos paises, inclusive a Franca, 08 inimigos dessa obra conseguiram tornd-la esque- cida, mas na Federacao Espirita Brasileira nunca houve hesitacao. Portanto, “depois de pér a mao no arado, a Federacio nao olha mais para tras. Era essa’a convieedo de Guillon Ribeiro ao pas- sar da atitude de expectativa simpatica a de trabalho ativo. Se, decorridos mais de dez anos, o trabalho REFORMADOR ~ ~ esta aumentando sempre e j4 conta com a apro- vagdo expressa de grandes Espirit.s, cujas men- sagens em prosa e verso tém sido impressas em Reformador, a obra esperantista jé se incorporou aos deveres da Casa de Ismael € nio se detera mais, embora sobrevenha toda sorte de dificulda- des. 1” possivel, como sucedeu com a obra de Roustaing, que venhamos a sentir-nos abando- nados pelos outros paises e suportando luta interna; pode chegar o tempo em que o Espe- ranto parega vencido no mundo todo. Nada disso, porém, interromperé o trabalho da Federagao a favor da ideia esperantista. Desde que tenhamos © apoio dos Guias, prosseguiremos, isto é, 05 nos- sos sucessores prosseguitao; porque eles saberdo, como nés sabemos, que as grandes transforma- goes do mundo se processam muito lentamente, mas com absoluta seguranca, ja prevista pelos Espiritos superiores. Ora, como 08 nossos Guias nao mudam de direcdo e ja se manifestaram a favor do Esperanto, néo padece divida que a Federacio prosseguira sempre, decénios e sé- culos em fora, até vitoria final da ideia de lingua internacional. Embora ainda tao perto do ponto de partida, pois que estamos no 11.’ ano de trabalho pelo speranto na F.E.B., j4 podemos verificar que 08 nossos Guias estavam seguros de sua deciséo, porque o Esperanto realizou grandes progressos nestes anos mais recentes e nossos livros doutri- narios na lingua auxiliar 3% encontram, em todos ‘ses do mundo, leitores entusiastas. Tais 0 abrindo camino ao movimento espi- rita do futuro. Outra prova do acerto dos Guias esté no apoio que vimos recebendo de pessoas inteli- gentes e cultas, como o missivista a que nos referimos no inicio deste artiguete. Em todos 08 grupos espiritas do Pais o Esperanto conta com amigos dedicados que The compreendem a superior finalidade VOLTA BOCAGE Berilo Neves, notavel escritor do Brasil atual e ndo menos brilhante cronista dos nossos jornais e revistas, em sua crénica — O outro ~ ‘mundo, publicada'em a “A Noite", de 17 de Outubro tiltimo, diz-nos “BE, ainda hé meses, saiu a lume um Bocage péstumo, cujos sonetos o génio de Setfibal assinaria com garbo” Isto escreveu ele quanto a obra “Volta Bo- cage...”, recebida meditmicamente por Francis- co Candido Xavier. Mas, da mesma crénica, extrairemos também os seguintes trechos, todos eles digno da meditacao dos que ainda se revol- tam contra o fenémeno: “Ha versos atribuidos a Antero do Quental, que s6 0 grande poeta filosdfico de Portugal poderia ter composto “A luz dos modernos conhecimentos cientificos, s6 um espirito deveras presu- mido poderé negar fenémenos que trans- cendem 4s leis fisicas consuetudinarias”. is 260 — — ‘Novennno, 194 4 A Mediunidade por I. @. B. Aconteceré depois que derramarei © meu espirito sobre toda a carne; ‘vossos filhos e vosias filhas profe- tizardo, 08 vossos ancidos sonhardo, terdo ‘visdes 0s vossos mancebos; também sobre os servos € sobre as servas nagueles dias derramarei o . ‘meu espirito, — JoBt, IT. 28 € 29 So chegados os tempos preditos pelo pro- feta. Por toda a parte surgem médiuns: homens e mulheres, jovens e ancidos, gente iletrada e professores de Universidade. ‘América Delgado, Zilda Gama, Francisco Candido Xavier, Porto Carreiro Neto j4 representam uma longa escala! Dos trés primeiros nao precisamos falar, porque todos 0s leitores de Reformador os conhe- cem em livros que circulam ha decénios. Vamos tratar somente do quarto, cujo primeiro livro apareceu neste momento. Por alguns poemetos em portugués e Espe- ranto, reeebidos mediimicamente e publicados nestas cohmas, j4 0s leitores sabem que Porto Carreiro Neto'é médium de sublime inspiracio postiea, mas ainda ninguém sabia que esse ius: tre Professor da Universidade do Brasil rece> beria igualmente mensagens de impressionante expresso cientifica, como agora vemos no pri- moroso livro Ciéncia Diviria, de Jayme Braga, E” um livro desconeertante para os profes- sores da ciéncia oficial, entre os quais se acha o médium, cujo lapis esereven essas paginas que em muitos pontos Ihe contestam as conviccoes cientificas. Talvez seja audicia nossa eserever sobre essas li¢des, mas pareceu-nos necessirio que um membro do povo simples, um estudioso da Doutrina, dissesse algo, suas impressées do livro que se destina a todo 0 piblico espirita, no sémente aos sibios das Universidades. Num prefacio de 15 paginas, em cxcelente portuzuts, composicéo elegante, revisio perfeita, © médium nos esclarece sobre a sua mediunidade, faculdade pela qual revela muito respeito. Diz~ -nos: “...a8 ideias me assaltam aos turbilhdes, tendo cu, pois, necessidade de acompaphd-las com 0 lapis 0 mais depressa possivel. Nao tenho a menor ideia nem do que vou escrever de inicio, quando sinto a aprowimacdo de algum manifes- tante, nem, outrossim, do que escreverei ao fazer ponto nalgum poriodo”. Sé trata nesse preficio da mediunidade psi: cografica, mas quem escreve estas linhas 0 co- nhece igualmente como médium de incorporacio. J4 0 temos visto por muitas vezes incorporado, ora com o Guia, dirigindo trabalhos durante mais de uma hora, ora com Espiritos perturba- dos a serem doutrinados. Convém ficar aqui re- gistado, portanto, que Porto Carreiro nao é somente médium ‘psicégrafo, como se deduziria da leitura do livro: sua_misséo mediiinica é muito mais complexa. Ainda outra forma de mediunidade muito original de Porto Carreiro é a artistica, tio diferente da que se nota em Francisco Cindido Xavier. Este iltimo recebe Ste ag e4 — REFORMADOR um poema com a mesma desenvoltura com qué recebe prosa, ao correr do lapis; Porto Carreirog recebe um soneto lentamente, por inspiragio, verso e verso, sem aco mecdnica do braco. Por: vezes 0 poeta invisivel o visita em momento) inesperado, durante uma viagem, ou o inter rompe quando escrevendo ou lendo, Num dnibus, por exemplo, sente a presenca de um Espirito; e toma de um cartdo e lapis e vai escrevendo, em letra muito mitida, os versos que Ihe sio inspirados. Ao fim da viagem tem o trabalho’ pronto ou quase pronto. Assim tem recebido’ lindos sonetos de Camoes, de Bocage, de Abel Gomes e outros. Nao raro recebe belos. versos em Esperanto, alguns dos quais ja se acham! impressos em’ Reformador e outros e muite em sna pasta, sem publicidade. Passa a declarar no mesmo longo predm! que gostaria muito de poder apresentar o livro como seu, porque o acha interessante, mas © faz, porque tem certeza de que a obra nio 4 sua e sim de Jayme Braga, Refuta a teoria do subeonsciente, porque muitas ideias do livro séo: inteiramente novas e desconhecidas no mundo. ‘A seguir dé explicacdes de termos cientifieg cos, para que os leigos em ciéneia possam com preender o pensamento do Autor, tornando asin © prefacio uma breve iniciacéio em Fisica e Qui mica. ‘Apesar do esforco do prefaciador, o livre, requer muita reflexio e certa instrucao ¢ nia) esta ao aleance de todas as inteligéncias, come; os romances mediiinicos ou as mensagens morais. A obra parece destinada as rodas intelectuais no ao povo em géral. Nesse sentido, supreen de-nos a coragem da Editora, dando a primeira edicZio de cinco mil exemplares que é demasiada grande para livro de compreensao dificil. Bas! tariam dois mil exemplares para muitos anos Nalguns lugares mais dificeis, interfere zerra de Menezes, dando esclarecimentos, 8 dando o leitor a penetrar no pensamento 4 Autor, Em outros artiguetes prosseguiremos danda nossas impresstes do livro e desde j4 express! mos nossa imensa curiosidade por saber como sera recebida no mundo espirita brasileiro obra dessa natureza, por enquanto quase tinica pois que a inica de natureza semelhante, “ Grande Sintese”, de Pedro Ubaldi, em traducé de Guillon Ribeiro, s6 teve uma edicéo e ficoug em pequenas rodas de eruditos. Nio se suponha, no entanto, de nossas pala vras acima, que se trate de um livro friament cientifico, sem Deus nem fé, como costumam as obras de mera ciéneia. Nada disso! O livro um hino de louvores ao Criador e ao Unive Os seus esforcos mais ingentes séo para enten dermos 0 poema de Deus na Criacdo, para apren- dermos a ler o Livro Divino da Natureza. Neste sentido pode ele figurar como paginas de our da literatura religiosa. Findo o predmbulo do médium, vem uma’ “Apresentacio” do Autor, apenas de uma pagina, na qual define ele stia missio sobre a Terra. Essa misséo resume-se a isto: “....ezelareeer todas essas questdes que se debatem em livros, sem que se entendam”. “Desejo que tudo se 261 ‘Novevapno, 1917 ~ esclareca de modo elevado e consentaneo com a grandeza do Criador..., diz-nos o Autor in- visivel. Nao deve ficar olvidado neste primeiro arti- guete o aspecto literdrio do livro. Portugués de ei, excelente pontuacao, boa revisio, da-nos a impressio de obra classica de nossa literatura verndeula. Curas Miraculosas “...aquele que ere em mim, esse fard também’ as obras que eu Taco, & ainda Tard malores..." — (Joao, 14:12). ‘Toda a imprensa brasileira e os programas de ridio anunciam as curas miraculosas que esté fa- zendo 0 humilde e virtuoso sacerdote Padre Antonio Ribeiro Pinto. Nao h& quem as possa negar, por mais deserente que seja, pois que io centenas de fatos atestados por milhares de testemunhas Urucania tornou-se o grande centro de perigri- nagdo de todos os enfermos e sofredores. A fé con- jugada de milhares de pessoas reunidas ajuda as faculdades notaveis do grande médium curador ¢ opera maravithas. J4 hd eiguns anos ouviamos falar da faculdade que possuia esse sacerdote para curar obsessdes. Levavam-Ihe obsessos furiosos e num instante 0 sa- cerdote expelia o obsessor, deixando a vitima total- mente curada. Possuia um grande ascendente moral sobre os Espiritos inferiores ¢ se fazia obedecer & primeira ordem. Cumpria assim 0 mandamento de Jesus, dado aos seus discipulos, quanto aos Espi- ritos impuros| Mais tarde soubemos do seu poder igualmente notével em curar os alcoélatras: dava-Ihes uma bengio, e os viciados se achavam curados de seu terrivel vicio. Finalmente, cumprindo-se a palavra de Jesus, © Padre Ant6n:o Pinto revelou faculdades de fazer quase todas as obras que fazia o Divino Mestre. E' uma das mais poderosas mediunidades cura- doras de que se tem noticia Numa entrevista, o jornalista perguntou ao Pa- Anténio se apenas os catdlicos recebem as gragas de Deus, ao que ele respondeu sem hesitacdo que no, que todos os crentes recebem essas gracas 2 que s6 devemos trabalhar pela conversio dos materialistas, 86 estes esto realmente ‘errados Essa largueza de vistas do famoso sacerdote esté de pleno acordo com os ensinos dos Fepiritos superiores que 840 todos concordes em afirmar que « forma externa do culto nada vale: ninguém vale mals nem menos por ser espfrita, ou por ser cato= lico, ou protestante, ou budista, ou muculmano; mas 0 materialista que ndo eré na sobrevivencia da alma, nem em Deus, este 6 um transviado, porque nio pode recorrer A Fonte da vida, nao respeita em seus semelhantes nem em si mesmo a centelha divina da vida. Para o materialista, 0 homem nada tem de sagrado, de eterno, de divino; sdmente um agrogado de matéria, uma maquina que se pode destruix sem responsabilidade alguma especial. (© materiatisia merece toda a nossa compaixio, a cle devernos dedicar as nossas preces mais fervo- rosa; ele vive scm consolo, sem esperanca, prepa- REFORMADOR rando um caminho de espinhos para si mesmo. Esta- mos de pleno acordo com 0 Padre Anténio quanto 20 materialista. Realmente, a humanidade divide-se em duas partes apenas; os que créem em Deus € os que ndo créem. Tudo mais so minécias de pouca importancia ‘A humildade do Padre Antonio Pinto parece ser o trago maior do seu caréter. Ele possui aquela juumildade superior que atrai a Alta Protege dos bons Espiritos. Certa feita, um jornalista Ihe pedlu uma autobiografia. O humilde cristio reduzia-a a meia diizia de palavras, iniciando-a assim: “Sou filho natural de N. que morreu trés meses depois @o meu nascimento”. Com essa adordvel singeleza, anuneiou um fato que causa vergonha a todos quan- tes viernm a este mundo em consequéncia de uma unido iegitima, sem pai conhecido. Colocou a ver- dade acima de todos 0s conceitos e preconceitos s0- ciais © religiosos. Do ponto de vista da Tgreja, um filhd iegitimo ¢ filho de pecado, fruto da tentacdo sotanica. Pois 0, Padre Antonio fez essa declaragio ac jornalista e>m a mais encantadora singeleza, com a mais sublime humildade. Parece-nos gue basta- niava essa palavras para nos demonstrar sua gran- de elevagio espiritual, sua uniéo com Deus que despreza os juizos do mundo € 0s preconceitos so- ciais (© veriladeiro virtuoso nao sabe que 0 6, Tudo nele 6 espontineo, natural, Faz o bem por amor ao bem, sem se julgar com mérito algum por fa- zé-Jo. J4 pessui 0 automatismo do bem. Tuma das fotografias publicadas em Noite 1us- trada, vernos 0 Padre Antonio dando passes em um enfermo cara a mao direita, tendo a esquerda sobre 3 cos.as, Era‘esse 0 proceso empregado por Jesus © pelos apéstolos: “Jesus, estendendo a mio, to- cou-o..." (Mat. 8:3) “,..tocando-Ihe a mao, # febre a deixou.” (Mat. 8:15) “...pos as maos sobre alguns enfermos e os curou...” (Marcos, 6:5) pords as maos sobre os enfermos, e os curaro”. (Mareos, 16:18.) ‘As curas do Padre Anténio Pinto podem nio estar muito de acordo com o Cédigo Penal, mas esigo de perferio acordo com o Evangelho. Essas cus3 miracuiosas confirmam as Escrituras ¢ os cus nos dos Hspiritos superiores Diz. o Evangelista (Marcos, 6:15) que a des- crenga do povo impedia Jesus de fazer milagres: ‘Nao podia fazer ali nenhum milagre...” © pensa- mento negativo dos descrentes embaraca a agio benfeitora dos curadores, e, a0 contrario, a £6 cole- tiva auxilia a obra dos Espiritos. A massa de cren- tes reunidos em Urucinia cria o ambiente favoravel as curas realmente “milagrosas” que 0 Padre An- tOnio Pinto esta obtendo, No entanto, essa £6 fol ongendrada pelas primeiras curas. “Pois ao que tem, ser-Jhe-4 dado..." (Marcos, 4:25.) Nao necessitamos de registar pormenores sobre os acontecimentos de Urucdnia, porque tais mint- clas enchem tedos os jornais dos nossos dias. Bas- tamos deixar registado em Reformador que tals curas slo reais: » Agosto de 1947 oe Se o leitor desejar adquirir qualquer _livro espirita, basiard escrever um simples cartio a0 Departamento Editorial da Federacio Espirita Grusifeira, 4 Av. Passos, 30, Bio de Janeiro, para que o receba pelo Servico de Reembolso Postal. —17— A existéncia do inferno Por LINCOIA ARAUCANO. Absolutamente nada terfamos nés que ver com © ardoroso livro do Padre Paschoal Lacroix — A Bristéncia do Inferno Provada de Pleno Acordo com @ SG Razto — no qual defende S. Reva. a sua £6 robusta num Deus irado que condena a quase totalidade dos seus filhos as fogueiras. eternas. A questo interessaria sOmente aos catélicos romanos © passariamos por ela com 0 devido respeito que nos merecem todas as convicgdes humanas; mas a paginas tantas, ou, mais precisamente, a pagina 144, S. Revma. escreve esta epigrafe: Contra o Espiritismo, e passa a combater a doutrina reencar- nacionista e refutar o Espiritismo. Ai j4 nos parece de nosso dever pedir a palavra, com 0 devido res- peito, para examinarmos os argumentos do Autor Dogmatiza S. Revma.: “A morte 6 0 ultimo limite do prazo concedido para operar a salvacao”. Exuminemos esta proposicio. O homem morre em todas as idades; com alguns minutos, algumas horas, alguns dias, anos, decénios ou em ‘plena ve- thice. Uma criatura a quem Deus s6 concedet 10 anos de vida, s6 viveu infantilmente, brincando, sem pen- sar em coisa alguma séria, Mui pouco provavel que tenha feito algo digno da’ bem-aventuranca eter- na, Admitamos mesmo que s6 tenha feito mal. Seu discernimento ainda ¢ insuficiente para a pena se- verissima de uma condenacdo eterna. Seria justo que outro receba oitenta anos para preparar a sua salvaco e este s6 dez anos, dos quais sete foram passados sem responsabilidade, segundo a Doutrina da Igreja, e 86 trés teve ele para se aparelhar & vida eterna? O Autor 6 terminante: “Conforme @ morte achar cada wm, justo ‘ou pecador, amigo ou inimigo de Deus, assim sera a sua eterna sorte, ou de bem-aventurado ng céu, ow de réprobo no inferno”. © infeliz que nasceu e viveu num meio igno- rante, sem mestre de religido, nos remotos sertdes, morre sem sab:r distinguir entre o bem e 0 mal, pra- ticando o mal por ignorancia, mas estaré irreme- diavelmente condenado ao fogo eterno S. Revma. entra a atacar violentamente a dou- trina reencarnacionista que permitiria a esse infeliz salvar-se por meio de outras existéncias. A reen- earnagao € burla do démdnio para langar os homens no inferno, assegura-nos S. Reva. Cita o caso de uma menina que ele mesmo conhecera e que antes de completar quatro anos j4 sabia ler perfeitamente, escrever, fazer’ contas, mas isso nada tem que ver com teencarnagao, A’ menina sabia, porque o pai ensinou. O Autor mesmo nos ‘diz: “Razemos excecdo da doutrina budista, relutivamente recente, (1) da transmigragdo das almas ¢ das provacées infindus, todos os povos do mundo Jazen ‘comecar na morte lei inezordvel da justica como castigo sem fim. Contra esta opinido universal os espiritas sustentam a reencarnagdo e€ a continuagdo das provacées ¢ expiagées apés a morte...” Nio 6 exato que o budismo seja a tinica religiio reencarnacionista: também o bramanismo o 6 e, portanto, essa doutrina € mais velha e muito mais numerosa do que a Catélica Romana. Nao é exato, também, que todos os povos do mundo creiam em penas depois da morte, porque os materialistas, des- de os saduceus do tempo de Jesus até os positivistas do século vinte, néio créem na sobrevivéncia da alma. (2) Quinhentos anos mais antiga ¢ multo mats db vulgada do que o Cristianismo * 18 = REFORMADOR ——— —__—— Novemsno, Leamos os argumentos contra a reenca e as expiagdes depois da morte: “Nao ha diivida de que Deus teria prolongar para a alma separada do corpo tempo de merecimento, porém, de fato 0 fez. Sabémos isso com absoluta certeza pa revelacdo”. . Examinemos, pois, a revelagdo nos Livros grados da Igreja ‘No Velho Testamento encontramos logo 0 D eflogo (Bxodo, XX, 5 e 6): ...sou Deus z que puno a iniguidade dos pais nos filhos, na ceira e quart geracdo daqueles que me abo em...” N&o pune nos mesmos, nem nos seus e netos, mas na. terceira e quarta geracdo (in t et quartam qencrationém), porque 56 ent&o 08 cd pados j4 se reencarnaram e recebem as consequl clas de seus pecados. ~ Passando ao Evangelho, vemos Jesus inte gando os seus discipulos: “Quem dizem que eu © eles respondendo: “Dizem uns que és Jodo Bati outros, que Elias: outros, que Jeremias ou algu dos profetas”. (Mat. 16:13 ¢ i4) No 6 evidente que Jesus sabia que 0 povo tomaria pela reencarnagao de um grande vulto @ passado e 0 mesmo pensavam os discipulos? Mais adiante, Jesus declara que Joao Batis 6 Blias reencarnado (Mat. 17:10 a 13). Da Jesus diz Nicodemus que para entrar no cér] preciso nascer de novo (Jo. 3:1 a 12). Jesus ensi @ doutrina reencarnacionista com toda a cl quando diz que Joao Batista, filho de Zacarias Isahel, éujos pais todos conheciam, e viram- de a infanela, era a reencarnacao do Profeta Hi “Pois todos os profetas ea lei até Jodo profe ram; e se quereis recebé-lo, ele mesmo é Elias qu ha-de vir. O gue tem ouvidos ouca”... (Ma 1118 a 15) A doutrina reencarnacionista esté sdlidament apoiada na Revelacdo cristé, mas esté também velada no bramanismo, mil anos antes de Gaut Buda, confirmada por ¢le, fundador do Budismo, qu nhentos anos antes do Cristo. Quanto ao nimero 4 crentes, 0 dogma reencarnacionista tem o dob dos crentes que tem o dogma do inferno: etemp mas nio é 86: Sécrates e outros grandes filésof ensinaram essa doutrina; a si raz&o faz dela angular da Justi¢a Divina. 86 ela explica a lugdo universal e 6 necessaria, portanto, & cientifica como solugio do problema da evolug dos seres vivos, mais notadamente do homem. © Espiritismo nao @ inventou, nao a criou, a deseobriu, somente deu-lhe novo impulso no Od dente e com isso vai evitando o dominio do mate smo ated a que conduzem os dogmas: absuria ilégicos, blasiemos que reclamam fé cega num D que o fanatismo religioso transformou em m ‘odioso que criaria bilhdes de seres nas trevas mitivas, privados de todos os meios de se salva para serem condenados irremissivelmente por tod a eternidade. Com a doutrina da existéncia que pode ser até de alguns minutos, como jé 4 mos, seguida da condenagdo eterna, ficariain explicagao numerosos fatos naturais: geracdes conto que viveram e vivem fora da civilizagio desigualdade de ideias morais e intelectuais ina povos barbaros ¢ primitivos que existiram e exis eriados por Deus e sem a minima possibilidade salvareni-se > A doutrina do inferno eterno & tio ilégica, t repugnante, que engendra o ateismo materialist afasta a humanidade ocidental da religiao. As I jas que ensinam tal doutrina assumem uma respond Sabilidade tremenda perante Deus e a humanidad Felizmente, é um dogma em plena decadéncia, Novenpro. 1947 ~- tence aos séculos tenebrosos. Quem nd-lo informa € 0 mesmo Padre Lacroix nas pags. 77 e 78 do seu livro. Leamos “O professor George H. Beets, da North- western University, de Chicago, acaba de pu- blicar wm livro interessante, referindo nele 0 resultado de um inquérito sobre 0 estado dou- trinal das principais seitas protestantes da América do Norte. Reuniu em seu volume us respostas de 500 ministros protestantes de eredos diferentes ¢ de 200 estudantes de teo- loyia a um questiondrio de 56 quesitos sobre Pontos essenciais da doutrina cristd, Todos concordaram apenas na existéncia de Deus. Quanto a existéncia do inferno 53 ministros 86 11 estudantes de teologia aceitaram a pos- sibilidade de haver tal local de punigdo”. Reduzamios isso a percentagem: 10,6 % dos mi- aistros eréem no inferno, portanto, 89, % nao eréem. Dos estudantes de teologia, 94,5 negam o inferno « somente, 5,5 °% eréem nele. Logo, 0 inferno perde por 686’ votos contra apenas 64 a favor, ou sejam 1% contra © 9% a favor. Se os dogmas se apro- vam ou reprovam por votacdo, nos Concilios, j4 é tempo de proclamarem as Igrejas protestantes que Pus 6 todo amor e encontra sempre em sua infi- niin miseriedrdia os meios de salvar -seus filhos. Pata isso dispOe Ele de saber e poder intinitos ¢ 3 cternidade inteira. Os dogmas da unicidade da exis- ieucia e do inferno eterno seriam a faléncia do Criador: teria Ele falhado completamente na cria- cin, porque teria criado uma humanidade ineapaz ce salvar-se, pecadora, ignorante, indigna de seu Cnodor; e como a Arvore se conhece pelo fruto, Deus seria uma drvore mé, porque seus frutos se- ram esta humanidade t&o' Jonge de qualquer per- ieicao. ‘al caricatura de Deus fez 0 poeta dizer: “Depois Criador (honra The seja feita!) Achow a sua obra uma obra imperfeita, Mundo sarvafagal, globo de fancaria, Que nem um aprendiz de Deus assinaria A luz da verdade, da doutrina reencarnacionista. tudo se esclarece ¢ cnaltece ao Infinito a Divindade A Terra nio é senio pequena parte do Universo, penitenciéria proviséria para onde sio mandados os Espizitos rebeldes que perturbavam a harmonia de mundos mais adiantados. Os maus da Tetra slo degredados, est nprindo pena entre povos c:piritualmente’ primitivos e rudes. Estes, primiti- vos © rudes, so criangas espirituais, filhos da Terra e progridem inftlectualmente com o auxilio dos con- cenados que sio grandes inteligéncias desprovidas ae moral. Deus sabe salvar a todos: os maus, que sio desterrados para mundos inferiores, cumprem misses de progresso material e intelectual em suas penitenciérias, ajudando os Espiritos jovens a de- senvolver a inteligéncia e melhorar a situagio de habitabilidade de seu mundo. Além dos primitivos habitantes da Terra e dos culpados que aqui estéo cumprindo penas, ainda Deus nos envia grandes Missiondrios, Espiritos de clevagio moral e intelectual que nos vém guiar rumo @ felicidade eterna, ‘A Terra é habitada por trés categorias de seres humanos: 1.° — seus proprios filhos, criancas espi- rituais, formam 0s povos primitives, os selvicolas que ainda no so bons nem maus, que sio simbo- lizados por Adio e Eva no Eden, antes de haverem comido 0 fruto da Arvore da ciéncia do bem e do mal; 2.° — os rebeldes que sO progrediram em inteligéncia endo merecem ainda habitar mundos melhores; para estes a Terra é um mundo inferior, ou inferno, mas nao eterno, porque eles progredirio e sairéo d’aqui; 3.” — og raros Espiritos realmente — REFORMADOR 263 superiores, em misséo, que aqui se chamam Vicente de Paulo, Francisco de Assis, Thomas Edison, Allan Kardec, Zamenhof ¢ outros. Logo, nao conhecemos a humanidade inteira, mas sdmente uma pequena fragio e esta mesma ainda em formacdo, caminhando para a perfeigdo que tera fatalmente de aleancar um dia. A obra de Deus 6 um poema grandioso que nos enleva a adoracdo, ao ensejo de servi-Lo por amor, respeito, admiragéo, mas nao pelo pavor do Inferno, pelo terror de um monstro cruel que nos imporia violen- tamente que o améssemos e servissemos para no sermos lancados as chamas eternas. Reclamaria todo amor, mas s6 inspiraria todo 0 ddio, por nos haver criado ineapazes de nos salvarmos, nos expor tentacdo de deménios infinitamente mais inteli- gentes do que nos e s6 haver dado a um numero insigmficante de seus filhos os recursos necessérios a salvagio, numa desigualdade irritante e odiosa. Tal monstro 96 poderia ser temido ¢ odiado, mas nunca amado sinceramente, como devemos amar a um Deus:todo amor que nos salva a todos, absolu- tamente a todos, s6 nos deixando a escolha do tempo: uns seguem desde o inicio d caminho do bem e salvam-se cedo; outros seguem 0 caminho do mal, sofrem, repetem as provas, demoram, 30 Iancados a mundos inferiores (infernos), mas final mente se corrigem e por fim se salvam. A renga na existéncia da encarnacao inica e no inferno cterno é uma blasfémia, ofensa a infinita bondade de Deus, negacdo da sua sabedoria, do seu amor. Felizmente, como vimos acima, essa ideia_mons- truosa, s6'digna de séculos tenebrosos, vai desa- parecendo do mundo. Deus que the abrevie 0 desa- parecimento! DEUS por Herant T. SaNr’ANNA. 0” Deus! que Sois o Eterno Pensamento, A Vontade Suprema, 0 Movimento, Por exceléncia — a Acio! Que Sois @ Fonte donde jorra a Vida, Que Sois 0 Ignoto Ponto de Partida De toda a Criacio! Deus! Pai Augusto e Bom dos Universos! Aceitai minha prece nestes versos, A minha adoracao! Que a pobre lira se estremece e humilha, :ndo a minh’alma, 6 Pai! — a vossa filha, Entoa esta cangao! Desde a ameba perdida pelos mares, Desde 0 inseto que plaina pelos ares, Velais por mim, Senhor! E pelo tempo em fora vos buscando, Hei-de ir chorando e rindo e me artastando Empos do Vosso Amor! Vossa grandeza imensa nao me esmaga! . Vossa destra potente e amiga afaga O vosso filho, 6 Deus! E eu me estremeco e canto delirante, Quando vos fito a sés, por um instante, Do val dos prantos meus! 0’ Deus! O' Pai! O' Vida! 0’ Amor Eterno! Séde bendito, pois! Eu me prosterno Perante Vés — 6 Luz! Dai-me coragem, Pai, para buscar-Vos! Dai-me forcas e fé para encontrar-Vos Nos passos de Jesu 19 — 264 A memoria subconsciente por CRISTIANO AGARIDO. Parece estar hoje definitivamente verificado pela ciéncia que existe no homem — além da me- méria consciente, fraca, imprecisa, caduca, que per- de logo #0 % de suas aquisigées e Vicia o pouco que conserva — uma meméria subconsciente infaltvel, minuciosa, eterna, que tudo conserva em todos os seus pormenores ¢ para sempre Parece-nos estar aceita como suficientemente provada a existéncia dessa onipotente meméria sub- consciente, porque cla se revela em casos especiais, como nos acidentes que poem a vitima em perigo de morte. Vé 0 homem,. entdo, num rapido momento, 9 filme completo de toda a sua vida, de todos os seus pensamentos, desde os mais insignificantes, até 05 mais sérios, e 0 vé com todas as minticias. Se 0 fato no estiver aceito por todos os cientistas, como nos parece, est pelo menos pelo Dr. Gustavo Geley, médico dos mais ilustres, que trata pormenorizada- mente do assunto em sett livro “Do Inconsciente ao Consciente” e explica que os Expiritos que se comu- nicam meditnicamente ‘nao nos podem revelar is porque, 80 entrarem em contacto meditinico conos- co, sofrem limitagdes semelhantes &s da reencarna- Ho; 0 esquecimento de grande parte do passado e sémente reconstituem a sua personalidade da mais recente cncarnacio, revivem apenas a sua mai recente cxisténcia no mundo fisico Estendendo este conhecimento da existéncia des- sa poderosa meméria subconsciente as experiéncias do Coronel de Rochas e outros que demonstram a possibilidade de o sujet magnetizado reconstituir em todas as minicias periodos de sua existéncia passada, inclusive de outras encarnagoes, vamos chegar A conchisio de que essa meméria inconscien- te € do Espirito e, como ele, eterna. S6 existe o esquecimento para’ cérebro, porém nao © nunca para o Esnirito. No entanto, essa preciosa ¢ talvez fremenda faculdade do Espirito fica adormecida du- rante a encarnac%o ¢, em grande parte, durante as manifestaces mediuinicus que forcam 0 Espirito a reconstituir smente sua mais recente encarnacao ¢ até a reviver seus preconceitos, como no caso de alguns adversdrios da reencarnagio que, em suas comunicagées, continuam pondo em diivida essa ver- dade. Dizemos alguns, ‘porque hé outros que mudam completamente de gpiniio depois da morte © nos vém ensinar a doutrina reencarnacionista, sobre a qual tinham dtividas. Um destes exemplos € 0 de Sir Oliver Lodge qué, em livros escritos em vida, apresenta dividas e, nas mensagens dadas depois da morte, pela mediunidade de uma Sra. que aceita a doutrina palingenésica, ensina firmemente esse principio doutrindrio Essa poderosa meméria subconsciente, que vai conosco pela eternidade em fora e se manifesta em forma de intuigdes, inclinacoes, pendores, vocacio, como faculdades inatas no homem e sé excepcional- mente, como nos casos de acidentes e de experién- cias magnéticas, se mostra em toda a sua forca de pormenores analiticos, vern demonstrar, mesmo & juz da observacio cientifica materialisia, a doutrina reencarnacionista e.resolver & sua maior dificulda- de: o esqupcimento completo das existéncias pas- sadas ° ‘Demonstra que esse esquecimento existe mesmo dentro de uma encarnac&o; que esquecemos quase tudo que aprendemos, desde que 0 conhecimento se tenha transformado em faculdade e se torne des- necessdrio na memoria, por j4 poder empregar-se inconscientemente, mecinicamente, como patriménio do subconsciente.|Formulemos alguns exemptos vul- gares para melhor compreendermos essa transfor- magio do conhecimento em faculdade. Ao aprender- — 20 REFOR!L\D0R ——-——-—. “eeu para o subconsciente, ficado apagado da m NoveMsno, 19 mos nossa Ifngua materna, vamos conhecendo voedbulos um a um, depois’ as frases que com él formamos, mais tarde aprendemos a ler e vt enriquecendo sempre esse vocabulério até que entr mos a estudar gramética e conhecer as regras regem a linguagem. Pois bem, em plena mad quando empregamos fluentemente a lingua em n sos discursos, dispondo de milhares de voedb nao nos lembrames mais quando, como, onde, quem aprendemos cada um desses vocdbulos, cad uma das regras de gramética que j& empregam maquinalmente, sem reflexio alguma. Todo 0 trabalho de aprendizagem foi consciente, mas d méria cerebral, desde que se tornou faculdade,§ pode ser empregado inconscientemente. Posso fletir quanto queira, mas ndo me lembro quem ensinou as palavras de que hoje me sirvo falar © escrever em portugués © mesmo exemplo se torna mais notével caso de uma lingua estrangeira que aprenden mais tarde, com maior raciocinio. Aprendi_ ing em livros, em fonégrafo, em cursos com. diver professores, lendo literatura inglesa, ouvindo df cursos, sermées, programas de radio, cinema fa Hoje possuo um vocabulirio suficiente para falad escrever a lingua em assuntos simples: tenho; anormalidade de pronunciar mal diversas pala que aprendi s6 na leitura; mas absolutamente me Tembro eomo aprendi cada palavra, cada fra inglesa; por mais que me esforce, no consigo. cordar 9 momento em que aprendi cada vocdd nem cada regra de gramética inglesa; mas certeza que aprendi, porque quando necessito f fou ,escrever a lingua possuo esse conhecime ainda que muito limitado e imperfeito, No ent eu me recordo bem que comecei a aprender aos 18 anos, depois que sabia passivelmente 0 ranto; achava-me em. pleno desenvolvimento jf sabia-raciocinar sobre varios assuntos e exe uma profissio. Pols, apesar de tudo isso, to procesco de aprendizagem jf desapareceu da ml Ineméria, Limitamo-nos a citar exemplos_pessoais, por imodéstia, mas por, falta de outros; porém hemos de outros mais expressivos, como’o do €3g cimento [otal e ebsoluto de um idioma que se ‘A erianga que, por mud de empregar a lingua que fi fe 86 passa a empregar outra, em queze totaimente seu primeiro id correntemente E dentro da meama encarnacdo, dispondo} cérebro, podemos esquecer totalmente fudo que j4 nos nao interessa e ndo interessa J& se haver tansformado em faculdade, quio ‘compreensivel 6 0 esquecimento dos fatos de of encarnagio, mais remotos e transformados em culdades inatas? Enguanto aprendiamos a escrever & méqul tinhamos que conservar a memoria do lugar que se achava cada tecla; éramos forgados a peq mais nas teclas que no assunto da. escrita habito, 0 trabalho dos, dedos passa a ser meet e ja 96 pensamos na redacdo, porque os dedos prem automatic ° alguma. O esforgo consciente dos primeiros j& desapareceu para o datilégrafo e deixowl pensamento livre para funcdo mais importante, a de redigir seu trabalho Possuimos essa memdria maravilhosa que! mazena tudo, absolutamente tudo, quanto j&q tornou faculdade e, portanto, desnecessério & méria oxdindria ou cerebral. Bla pertence 20 rito e 6 seu céu ou seu inferno no estado de d carnagio, porque ele nio pode fugir dela: todo seus iniMus pensamentos Ihe esto preseates e julgados per ele mesmo com severidade, fo que ja fatay Novempro, 1947 —S——___—_—. assim, 0 seu tormento; ou todos os pensamentos bons constituem automaticamente sua felicidade. ‘Além dos pensamentos maus que formam 0 in- ferno e dos bons que fazem o céu, hé uma multidio imensa de pensamentos ociosos, banais, initeis, for- mando essa meméria subconsciente © eterna. A imensa maioria dos terricolas nio 6 muito ma nem muito boa: € infantil, pensa e fala como criancas ¢ deposita, nesse infinito armazem toda sorte de puerilidades que representam perda de precioso tem- po, de decénios vazios, de encarnagdes improdutivas, Na leitura de jomnais, revistas, livros, no cinema, a imensa matorla do que depositamos em nosso sub- consciente € material indtil, banal, fantastico que hos transforma a alma num armazem de quingui- Iharia inaproveitével, Mas isso ainda nio € 0 mais horrivel, embora seja um mal perdermos tanto tempo com pensamentos banais. O mais terrivel € a quantidade de cenas apavorantes que I depositam os crentes na existéncia do inferno, ao ouvirem a pregacao ou lerem livros que descrevem a danacio eterna dos maus Quando a humanidade conhecer melhor essa memoria subconsciente, fugiremos apavorados de tudo quanto nos possa inspirar pensamentos infe- lizes; cultivaremos 0 otimismo com 0 mesmo es- crapulo com que alimentamos o corpo. Toda a nossa literatura se transformard, todos os espetaculos se- rio rigorosamente otimistas. A Religiio s6 falaré do céu, nunca mais mencionaré o inferno. Ensinando-nos como se forma 0 ser aubcons- ciente, através dos pensamentos e sentimentos, a psicologia tem missio profundamente religiosa a cumprir no mundo. Esse ser subconsciente & a nossa propria personalidade real, 0 nosso “eu”, € pode conquistar sua felicidade ou fazer sua desgraca por meio dos pensamentos que cultiva, J4 ha milé- nios vimos acumulando pensamentos inferiores ou banais em nossa meméria subconsciente & assim formamos o homem velho, contra o qual temos que lutar. Os pensamentos ¢ sentimentos armazenados no subconsciente formam automatismos do bem ou do mal, os impulsos que nos governam e nos fazem agit contra a nossa consciéncia. Paulo de Tarso, gue se conyerteu a0 Cristianismo depois de haver Gultivado os mais terriveis pensamentos e senti- mentos de fanéticos religiosos do Judaismo, melhor do que ninguém soube dizer dessa luta entre 0 ho- mem veiho que domina o homem reformado. Em sua Bpistola aos Romanos, cap. 7, vers. 18 a 21, dia: “0 querer 0 bem esté comigo, mas o efe- tud-lo ndo estd. Pois ndo faco 0 bem que que~ ro; mas o mal que ndo quero, esse pratico. Mas se cu faco aquilo que ndo quero, jd ndo ‘sow eu que faco, mas sim o pecado que cm mtn habita. Portanto, querendo ew fazer 0 bem, acho a lei de que estd comigo o mal”. Qual de nés nao se poderia acusar, como Paulo, desse dominio tiranieo do homem velho? Além desse dominio do subconsciente sobre 0 consciente, no Estudo do Espiritismo ainda verificamos outro as- pecto no menos impressionante: € a natureza dos hossos Pensamentos novos e velhos que forma nossa Sociedade espiritual, atrai para nosso convivio Es- itos em afinidade com 0 nosso carater, com a nossa personalidade espiritual. Além de nds mes- mos nos obsidiarmos pelos pensamentos @ senti- mentos depositados em nosso subconsciente que nos Hiraniza, ainda atraimos outros obsessores que nao teriam poder algum sobre nds, se ndo encontrassem afmidade espiritual. Policiemos, pois, 08 nossos pensamentos e sen- timentos, porque cles tém um poder tremendo para criar 0 mal ou 0 bem, nosso inferno ou nosso céu. REFORMADOR ~~ 265 Da Unido das Juventudes Espiritas do Distrito Federal aos Jovens do Brasli I © mundo espiritista esté agora empolgado por um movimento novo, renovador e revolucionério: 0 movimento da Juventude Espirita. E’ este o tema mais palpitante do momento. O mais palpitante ¢ 0 mais controvertido. ‘As opinides e 08 julgamentos enunciados sobre cle sio, os mais diversos, chocantes, dispares, e, nio raro, disparatados. ‘A maneira de todas as Ideias novas e fortes, dessas que, mudam rumog @ vida humana, tem o movimento ‘espirita juvenil, nascido nas plagas des- ta terra brasileira, levantado as opiniées mais ve- ementes, e, por vezes, exaltadas, de quase toda a gente, opinides que, nem sempre, primam pelo sen- tido de justo eauilibrio que as devera caracterizar. ‘Assim 6 que, de um lado, ha os negadores per- tinazes, que soem condenar de improviso, sem mais detido exame, os trabalhos que a juventude vem realizando, tentando minar, desea forma, os alicer- ces da sua obra, @ qual subtraem todos os valores construtivos ¢ reais, reduzindo-a a mais simples ¢ sensaborosa expressio de entusiasmo fécil e incon- sequente; ¢ do outro, os profetas da ditima hora, os refinados aproveltadores, que, arrebatando a direcdo de nticleos juvenis, sugam-Ihes as energias, no pro- veito das suas ambicbes de aparecer ¢ realizar obras pessoalistas, desprezando o verdadeiro objetivo das Juventudes Espiritas, que 6, simplesmente, o do pre- paro do jovem, segundo o Evangelho de Jesus e Douttina dos Espiritos, para as realizagdes inadia- veis do espirito, na reconstrucdo individual que Ihes cabe, contribuindo destarte para a obra coletiva da reestruturagdo Ga sociedade humana, a caminho da redencao. Ha ainda aqueles que, por cegueira ou por des- caso, nenhutma opiniio formam a respeito, aceitando todos os juizos ou ndo aceitando nenhum. Sio os que se colocam & margem dos fatos, ignorando a marcha da vida (© que é certo, porém, & que a mocidade, em sua grands maioria, se debate, num esforco tre mendo, entre uns e outros, abandonada a si mesma, ou combatida com azrojo, ou ressugada com de- Airlo ‘Poucos aio os que, com espirito de verdadeiro ‘amor fraterno ¢ eaclarecimento cristiio, com desin teresse ¢ com carinho, se fazem seus orientadores € amigos, procurando rumar a mocidade para 0 Cristo, sem fazé-la passar primeiro pelas vias do seu inte- resse particular, Diante desse panorama desolador, nflo devemos e nao podemos por mais tempo silenciar; cabe-nos desmascarar os falsos apéstolos, cujas virtudes se recumem na habilidade de tirar de tudo o melhor proveito, sem se importarem com o prejuizo alheio. Nao o fazernos, porém, pelo simples prazer de des- mascarar ou de acusar, que esse gozo ndo sentimos, mas, sim, de pesar. Move-nos o desejo de precatar ‘@ juventude contra esses espélios, alertando-a para a defese, dos seus patrimonios eternos. Necessario 6 que proclamemos com vigor que a Juventude Espirita tem por finalidade precipua a1 — 266 instruir 0 jovem nos postulados da Doutrina Espi- rita, educando-o na moral evangélica, a fim de pre- Pard-lo para ser um espirita cristdo, um bom filho, um bom esposo, um bom pai, um bom amigo, um bom cidadao, um homem de bem, enfim, cultivando- -the as boas qualidades e retificando-Ihe as més clinagées, além de propiciar-Ihe as oportunidades de fazer 0 bem; e néo fazer dele um instrumento de Propaganda indébita de nome ou instituicées, por mais veneraveis que sejam, ou mera isca de re- cursos, transformando-o em méquina de angariar dinheiro. A finalidade da Juventude Espirita nao € dar festivais sobre festivais, para manter instituigbes: nem programas sobre programas artisticos, para divertir espiritos levianos; nem formar pseudo-pre- gadores, que, A moda de papagaios repetidores, sem conhecimento proprio ou som autoridade moral, se Fonham & disposic&éo de quantos houverem por bem servirem-se de seus préstimos Todavia, no € pequeno o mimero daqueles que se lancam a tarefa de fundar Juventudes para con- eretizarem velhos planos de sua mente, para o que, ha-de ela, forcosamente, empreender “campanhas” sobre “campanhas”, sem descanso! © resultado disso é que, mal surgem as Juven- tudes, Iogo comecam a fazer “campanha disso”, “campanha daquilo”, “‘campanha daquilo outro”, fes- tivais, programas artisticos, excursées de recreio, visitas, etc., etc. Eo estudo sério e metédico, da Doutrina e do Evangelho, vai sendo relegado e es- quecido, como coisa de somenos importanci ‘Nao raro, 6 ele substituido por atividades ou- tras, tomadas & conta de mais belas ou agradévels, como a feitura e apresentac&o de cronicas, poesias, caquetes, ete., ete. quando todas essas coisas nao devem constituir mais que suplementos dos seus programas. Além de tudo isso, h4 quem busque incutir no espirito do jovem uma aversdo ferrenha e lastima- vel pelas atividades meditinicas, que passam a cons- tituir, no seu julgamento, trabathos de Espiritismo de Vethos, para pessoas desvivificadas! Procura-se distrair a juventude da necessidade do aprendizado sério, e isso nfo esta certo, nem é justo. Sob 0 pretexto de que “Espiritismo € Ado’ substitui-se a meditactio ¢ o aprendizado do espirito pela atividade miltipla e avassaladora. Enfim, des- © miogo do seu caminho justo e bom Nao se diga que combatemos esse trabalho gi- gantesco ¢ salutar que a mocidade espirita vem realizando nos terrenos da caridade e do amor fra~ terno, ou que estamos pretendendo abolir as livres e insopitaveis expansdes da alma juvenil, proibindo- -Ihe as manifestacdes ¢ as alegrias da arte pura e dos movimentos fraternizadores que ela empreende, Estamos, to sdmente, chamando a atenc&o da mocidade para o fato de ser tudo isso complemento do seu programa, que nio deve ser anteposto ao estudo sério e metédico da Doutrina Espirita e do Lvangelho de Jesus, porgue s6 este poder fornecer as nossas almas a base sdlida de que carecemos para todos os empreendimentos da nossa vida "A fase juvenil passa célere como as primaveras, com 08 seus sonhos réseos, os seus encantamentos naturais e os seus entusiasmos gloriosos, e o dealbar ‘dos castelos da fantasia, ante o sol das realidades — 2 — REFORMALOK —t . NOVEMBRO, 1917 da dor, exige de cada ser humano uma fé sélida,} - aseada na conviegio e no sentimento esclarecido pr E aonde vamos buscar essa fé s6lida, baseada: - na conviegdo e no sentimento esclarecido, se nos nio! do preocupamos em adquiri-la pelo estudo sério, ao’ = qual preferimos os empreendimentos de toda a a classe? Alertai-vos, portanto, jovens companheiros, para, i que vos niio deixeis arrastar pelas influéncias avas = salantes ou por improvisados apéstolos, vaidosos ¢ ea interesseiros. Cuidado! Cuidado com todos aquees ame TU que se ndéo mostrarem realmente interessados em. te! vossa reforma intima, no vosso preparo para a vida, cia e que, ao invés de vos concitarem ao estudo e a: isias Dratica esclarecida dos ensinamentos evangéticos ame. 94 pretendem lancar-vos a um trabalho que pode ser i bonito, mas que, indiscutivelmente, n&o constréi! HeRNANT T, SANTANNA Secretdrio Geral, Do outro mundo por EpMUNpo Lis. © Congresso de Escritores, ora reunido em Belo J Horizonte, fez nestes dias um grande lugar a0 hu- 4 morismo, embora meu colega Alvaro Armando nio tenha ido ao interessante certame. Assim 6 que, ante-ontem, O Globo e outros jornais publicaram uma correspondéneia datada de Belo Horizonte e que nos dava conta da atitude do Congresso em face da literatura psicografica ‘Todos os que vimos o titulo da noticia, apres- samo-nos a Ié-la, na certeza de encontrar um debate de escritores a propésito do Espiritismo, os fenb- menos medifinieos que preocuparam sempre os in telectuais e que seduziram muitas altas expressbes da inteligéncia, bastando-nos citar aqui o nome de Maurice Maeterlinck, em quem, por certo, os escri 3 tores agora reunidos em Belo Horizonte hao-de re- conhecer um confrade suficientemente ilustre. ‘Acontece, porém, que, segundo a correspoudén cia em aprego, a atitude dos escritores foi apenas 4 humoristica. Ningném quis perder tempo com Allan Kardee, considerando 0 Espiritismo coisa muito pouco digna de intelectuais tao ilustres. Apareceu apenas um projeto tratando de direitos autorais das obras psicografadas, assunto assaz material, no qual 4 0s sécios do A.B.D.E. disporiam que os proventos vom essa literatura seria rachado, “fifty-fifty”, en tre a entidade espirita realizadora da obra e a A.B.D.E.! No 6 extraordingrio? Ainda se o projeto tra tasse apenas dos s6cios falecidos da novel Associa Ao poderiamos admitir a sociedade. Acontece, en- tretanto, que os quadros da A. B. D. E. sio ainda reduzidos ¢, nesse caso, o mais pratico seria mesmo 4 incluir os direitos sobre os livros meditinicos de Vitor Hugo, Humberto de Campos e outros escri tores muito rendosos que faleceram antes do apare- cimento da ilustre confraria das letras. Contudo, honra the seja feita — 0 plendrio néo aceita essa Sociedade com o outro mundo literdtio: rejeitou 0 projeto. Mas no o fez sem considerar que psicografia € mera pilhéria, 0 que mio nos pa- rece, desculpem, suas senhorias, atitude de intelec- tuais que se prezem desse nome. E tomaram uma

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