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Nocoes Basicas de Conservacao de Livros e Documentos PDF
Nocoes Basicas de Conservacao de Livros e Documentos PDF
Imagine a situação: documentos rasgados, amassados e manchados, livros com as capas soltas, lombadas
danificadas e cadernos com costuras rompidas. Diante de tantos danos, o que devemos fazer primeiro para
salvar estes materiais?
A primeira coisa que vem a nossa mente é a necessidade de consertar o que está danificado, ou seja, restaurar
o material degradado. Pensamos a partir da seguinte lógica: devemos restituir a integridade física destes
materiais para que de novo possam estar acessíveis à pesquisa e ao estudo. Seguindo este raciocínio teríamos a
seguinte seqüência de trabalho: primeiro restaurar o material, depois conservá-lo e assim estaríamos
preservando a informação para o futuro.
Será que procedendo deste modo estamos realmente salvaguardando estes livros e documentos danificados?
Aparentemente sim, a curto prazo. No entanto, caso não identifiquemos os fatores que causaram a sua
degradação, estaremos apenas nos iludindo, e, infelizmente, reduplicando o mesmo dano em um futuro
próximo. O que fazer, então?
Diante de um acervo danificado e em risco de perda, a primeira providência a ser tomada é efetuar um
minucioso diagnóstico dos motivos que levaram à sua degradação, estancar ou minimizar estes agentes
agressores. Assim procedendo estamos evitando que esses fatores de degradação se disseminem e atinjam
outros livros ou documentos. Por mais paradoxal que possa parecer, diante de um acervo em risco, a primeira
atitude efetiva a ser tomada é conservá-lo. Inverte-se, portanto, a seqüência restauração, conservação e
preservação e adotamos uma nova seqüência: preservação, conservação e restauração. Preservar para não
restaurar, eis a questão.
A restauração é uma atividade técnica muito onerosa, pois exige equipamentos e materiais de alto custo além
de mão de obra especializada. Ao término do trabalho de restauração, todo o benefício do tratamento volta-se
para um único objeto. Se este livro restaurado retornar ao mesmo local de guarda e ao meio ambiente que
causaram o seu dano, o dispêndio de energia e de recurso financeiro foram em vão. Para termos um
procedimento efetivo e duradouro benéfico ao acervo a logo prazo, devemos criar uma política de preservação
voltada para a realidade do acervo de cada Instituição ou Biblioteca.
Ao estabelecermos critérios para o tratamento de um acervo, estamos criando prioridades e implantando uma
política de preservação, escalonando as atividades técnicas a serem desenvolvidas e dotando o local de guarda
do acervo com as condições ambientais favoráveis à sua conservação. A partir deste recorte e das metas a
serem atingidas, passamos à ação física de conservação preventiva, que nada mais é que a atualização prática
das metas desta política de preservação. Neste instante toda a relação custo/benefício estará voltada para o
acervo de modo integral, isto é, benefício partilhado por todos, custo dividido entre vários livros.
Diferentemente do trabalho de restauração, a conservação preventiva é uma atividade técnica de baixo custo
financeiro e de fácil implementação. O conhecimento do motivo que causou a degradação de um acervo e a
utilização de materiais alcalinos para a guarda são fundamentais para o trabalho de conservação preventiva.
Apresentaremos a seguir os principais fatores de degradação de material bibliográfico. Procuramos especificar
os procedimentos técnicos necessários para minimizar e controlar estas fontes de degradação.
Conservação Preventiva
Umidade e Temperatura
Esses dois fatores de degradação de acervos são extremamente comuns a nossa realidade
de país de clima tropical. A umidade é o conteúdo de vapor d’água presente no ar
atmosférico, resultante da combinação dos fenômenos de evaporação e condensação
d’água, que estão intrinsecamente relacionados à temperatura ambiental
Independentemente do tipo de fibra, todo o papel possui uma característica comum, o seu
caráter higroscópio, ou seja, toda a fibra de papel absorve água e perde água de acordo com
a taxa de umidade existente no local em que está sendo mantido.
Essa oscilação de umidade faz com que as fibras se dilatem ao absorver excesso de
umidade e se contraiam ao perder umidade. Esse movimento brusco de contração e
dilatação ocasiona rupturas na estrutura do papel, causando o seu enfraquecimento. A
temperatura elevada aliada à umidade excessiva e à falta de aeração são os fatores básicos
para a proliferação de esporos de fungos e bactérias. O controle da umidade se faz através
de desumidificadores, para locais úmidos, e de umidificadores, para locais secos. A
temperatura é controlada através de aparelhos de ar refrigerado. A taxa adequada para a
manutenção de um acervo é a seguinte: temperatura de 22º a 25ºC, umidade relativa de
55%. A medição da temperatura se faz com o uso de termômetros, e a de umidade com
higrômetros, podendo-se utilizar também o termoigrômetro (junção dos dois
equipamentos).
Além dessas constantes contrações e dilatações a que as fibras dos papéis estão sujeitas
devido às variações de umidade e temperatura, a proliferação de agentes biológicos de
degradação, como insetos, fungos e bactérias, encontra um local propício para sua
disseminação em ambientes úmidos e quentes.
Luz
A poluição atmosférica é um dos fatores que mais atinge os acervos. Essa poluição deriva-
se da poeira do dia a dia que se deposita sobre os materiais e também dos gases tóxicos
que são emitidos por automóveis, fábricas, queima de lixo, etc.
Nos grandes centros urbanos é comum a poeira conter resíduos de produtos químicos que
catalisam reações químicas que aceleram a degradação dos acervos. Os gases ácidos
agridem muito rapidamente a estrutura química dos materiais, estando essa degradação
relacionada diretamente aos níveis de umidade do meio ambiente.
Os insetos, fungos, bactérias e roedores, denominados agentes biológicos de degradação, são causadores de
danos irremediáveis ao acervo e também à segurança do prédio. Sendo assim, muito cuidado deve ser tomado
para evitar a proliferação desses agentes predadores. Os países de clima tropical apresentam as condições
climáticas ideais para o rápido desenvolvimento desses inimigos do acervo, isto é, temperatura e umidade
elevadas. A higienização sistemática do acervo, o monitoramento da temperatura, da umidade são pré-
requisitos básicos para o controle de sua ação danosa.
Os insetos e os roedores são basicamente atraídos ao acervo através da ação do homem ao
introduzir nele fontes de alimentação. Os métodos de combate a esses organismos
envolvem, na maioria das vezes, o uso de produtos químicos, através da desinfestação do
acervo. Os insetos mais comuns presentes nos acervos são as traças, as baratas, os anóbios
e os cupins.
Ao lidar diariamente com o acervo, o homem introduz e utiliza uma série de materiais
impróprios à conservação de livros e documentos. Às vezes a tentativa bem intencionada
de tentar estancar a degradação provoca, na realidade, danos irreversíveis. Essas tentativas
amadoras não fundamentadas nos princípios de conservação se cristalizam com o correr do
tempo, transformando-se em hábitos que levam indiretamente a acelerar a degradação de
livros e documentos.
Apresentamos uma série de recomendações técnicas gerais, com a finalidade de facilitar a
identificação de procedimentos técnicos corretos ao lidar com problemas cotidianos de
conservação de acervos.
Reservar espaço de três milímetros entre cada livro para facilitar sua retirada da
prateleira e evitar o atrito entre as capas (desgaste por abrasão).
Não puxar os livros pelo topo (cabeça) ao retirá-lo das estantes, os volumes devem ser
retirados da estante pelo centro da lombada.
Evitar umedecer as pontas dos dedos com saliva para virar as páginas do livro.
Evitar dobrar as margem superiores ou interiores das folhas para marcar as páginas
Evitar encapar os livros com papel pardo ou similar. Essa aparente proteção contra a
poeira causa, na realidade, mais dano do que benefício ao volume em médio e curto
prazo. O papel tipo pardo, de natureza ácida devido a seu processo de feitura, transmite
seu teor ácido para os materiais que estiver envolvendo (migração ácida).
Não utilizar fitas adesivas tipo durex e fitas crepes, cola branca (PVA) para evitar a
perda de um fragmento de um volume em degradação. Esses materiais possuem alta
acidez, provocam manchas irreversíveis onde aplicado.
Não utilizar grampos e clips metálicos, esses materiais enferrujam com o correr do
tempo, deixando, no local aplicado, manchas marrons, oxidando o papel, causando o
rompimento das fibras com subseqüente rasgo do papel.
Evitar a incidência direta de luz solar sobre o acervo, a luz solar provoca o
esmaecimento de cores, amarelamento do papel e esfacelamento do couro.
Não encostar as estantes nas paredes: evita-se que a umidade presente nas paredes se
transmita aos volumes.
Colocar telas protetoras contra insetos nas janelas de bibliotecas situadas em locais de
muita vegetação.
Não abrir os livros que forem atingidos diretamente por água e que estejam com as
folhas molhadas.
Intercalar papel mata-borrão para secar as folhas e as capas de livros atingidos por
água.
Nunca secar os livros molhados com calor: sol, forno de cozinha, secador de cabelo. O
calor em excesso faz o papel secar muito rapidamente, causando ondulação do
material.
Usar as duas mãos para virar as páginas de jornais: segurar no topo e no pé da página
para virá-lo.
Optar por encadernação inteira, ao mandar encadernar um livro. Não sendo possível
fazer encadernação inteira, optar por encadernação meia com cantoneiras.
Higienização de Acervo
A operação técnica de higienização nada mais é do que manter o acervo de modo limpo e
asséptico. Uma operação tão simples de ser realizada e que, por isso mesmo, passa
desapercebida para nós, transforma-se a curto prazo em um dos mais sérios problemas
enfrentados por bibliotecários, arquivistas e por todos aqueles que têm a missão de manter
um acervo em bom estado.
A poeira, depositada dias após dias sobre os livros e documentos, causa sérios danos para a conservação do
acervo. O acúmulo de poeira na superfície das obras interfere no seu aspecto estético e constitui-se em uma
fonte contínua de acidez e degradação. Sendo assim, a higienização deve ser executada de modo sistemático, a
fim de manter o acervo livre dessa fonte contínua de acidez, deixando-o o mais saudável possível. Os
procedimentos técnicos básicos para a atuação na área de higienização são os seguintes:
Limpar os livros com trinchas ou pincel nas áreas da cabeça (parte de cima), no pé
(parte de baixo) e na goteira (parte lateral). Deve-se segurar o livro pelo centro com a
lombada voltada para cima, para evitar que, durante o processo de limpeza, a poeira
penetre por entre as folhas. Os livros que forem incorporados ao acervo devem ter
prioridade no processo de higienização. Estes livros devem ser limpos individualmente,
e folha a folha, forrando-se a mesa de trabalho com papel de tonalidade clara (branca
de preferência) para possibilitar a identificação da sujidade removida. O ideal é utilizar
uma mesa de higienização com sucção.
Reforçar a limpeza, com pincel ou trincha, no centro das folhas do livro. Este é o local preferido pelos
microorganismos para se desenvolverem e atacarem o papel. Isso se deve, principalmente, ao fato de ser a
lombada do livro coberta com espessa camada de cola em geral de base protéica que se torna uma fonte
potencial de alimento para os microorganismos.
Iniciar a higienização das estantes pela prateleira superior. A limpeza pode ser feita
com o auxílio de um aspirador de pó doméstico, de flanela ou perfex. Essa limpeza é
denominada de limpeza a seco, pois não utiliza vias aquosas de limpeza.
Trabalho de higienização dos livros e das estantes deve ser feito segundo escala de
trabalho a ser estipulada. A princípio de 2 em 2 meses, de acordo com o tamanho do
acervo.
Atenção especial deve ser tomada ao se utilizar o aspirador de pó para limpeza das áreas
externas do livro, devem-se observar os seguintes procedimentos:
Revestir internamente o saco coletor de lixo do aparelho com um saco de lixo de
plástico descartável. Esta medida evita o acúmulo de sujidade no coletor de lixo do
aspirador de pó, tornando a sua limpeza segura e asséptica.
Revestir o bocal de sucção de limpeza do aparelho com tecido de filó. Na eventual sucção de um
fragmento importante do livro, ele é facilmente recuperado sem ter-se de abrir o saco coletor de lixo.
Higienização de Documentos
A limpeza de documentos avulsos deve ser feita com o auxílio de pó-de-borracha. O pó-de-
borracha é facilmente obtido através da seguinte operação:
Ralar a borracha Tk plastic em ralador inox, a fim de obter uma fina película.
Utilizar tecido de puro algodão para ajudar a fricção e evitar o contato com os dedos.
Higienização do Assoalho
A remoção da poeira depositada no assoalho deve ser feita com cuidado, a fim de evitar o seu deslocamento
para a superfície das estantes e para os livros. Idealmente deve ser realizada com o auxílio de aspirador de pó,
pois assim evita-se que a poeira fique em suspensão. Não se deve utilizar vassoura ou espanadores como na
higienização doméstica, esse procedimento faz com que a poeira se desloque de um local para outro.
Procurar utilizar, na impossibilidade de ter aspirador de pó, a vassoura revestida de pano levemente
umedecido. É necessário que a poeira grude no pano, evitando o seu deslocamento para outra área do acervo.
Todos sabemos que a climatização de acervo exige um alto custo financeiro. Manter aparelhos de ar
refrigerado, desumidificadores e umidificadores funcionando vinte e quatro horas parece quase que inviável.
Mesmo não sendo possível contar com estes aparatos tecnológicos, muito pode ser feito para minimizar os
danos causados pela temperatura e umidade por meio da racionalização do espaço disponível para a guarda do
acervo.
A disposição das estantes na sala de guarda deve sempre ser pensada de modo a facilitar a aeração (a
movimentação e circulação do ar), observando-se os seguintes procedimentos:
Não abrir o livro molhado ou úmido para tentar secar as folhas do livro. Ao abrir,
aleatoriamente, as folhas do livro, a água, depositada em algumas folhas, penetra para
outras não atingidas ou levemente atingidas, causando o alastramento do problema.
Intercalar o papel mata-borrão entre as capas e retirar todo o excesso de água possível.
Não expor o livro ao sol para secar, nem colocá-lo perto de forno. A secagem com calor
se dará muito rapidamente, causando grande deformação do papel.
Produtos inflamáveis devem ser guardados isolados em armários especiais e longe das
áreas de trabalho e circulação de pessoas.
O esclarecimento prévio dos funcionários sobre como proceder em caso de incêndio é
fundamental para a segurança e rápida evacuação do local. Devemos ter em mente que em
primeiro lugar está a vida humana. Sendo assim a prioridade é a segurança das pessoas.
Deve-se sempre ter em local visível e amplamente difundido o número de emergência do
corpo de bombeiro. Tem-se revelado de grande utilidade a criação de uma brigada de
incêndio dentro do estabelecimento, formada por funcionários que ficam encarregados de
vistoriar as dependências e as áreas de guarda do acervo.
A montagem de exposições de livros, gravuras e mapas deve sempre obedecer a diretrizes básicas de
conservação, evitando-se, assim, que as peças sofram degradação durante o período de exposição.
Apesar de o período de uma exposição ser curto, os problemas que advêm da exposição
inadequada das peças causam danos irreversíveis ao material, o que costumamos
denominar de envelhecimento precoce do material ou envelhecimento acelerado do
material.
Utilizar cartão neutro com gramatura de no mínimo 600gr, a fim de afastar a obra em
relação ao vidro.
Não utilizar fitas adesivas ou colas para a fixação das gravuras no cartão de base do
passe-partout.
As gravuras nunca devem ser expostas sob os efeitos da luz solar ou incandescente. A
recomendação de iluminação é de no máximo 60 lux luz.
As peças que forem expostas sem passe-partout devem sempre ter um afastamento em
relação ao vidro, evitando o contato direto da gravura com o vidro.
Os livros expostos abertos devem ter suportes especiais de sustentação (“berço”) como
medida de proteção a sua estrutura.
Conclusão