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ACÓRDÃO
Documento: 1201852 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/08/2015 Página 2 de 9
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS PESSOA LINS
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : CERVEJARIAS KAISER BRASIL S/A
ADVOGADOS : MARCELO AVANCINI NETO E OUTRO(S)
LEONARDO PERES DA ROCHA E SILVA E OUTRO(S)
CRISTINA A. DE OLIVEIRA MOURA E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFESA DA SAÚDE DO CONSUMIDOR
SAUDECON
ADVOGADO : FRANCISCO ANTÔNIO DE OLIVEIRA STOCKINGER E OUTRO(S)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
O presente feito foi retirado de pauta por indicação do Sr. Ministro Relator.
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.185.323 - RS (2010/0048082-0)
RECORRENTE : CERVEJARIAS KAISER BRASIL S/A
ADVOGADOS : MARCELO AVANCINI NETO E OUTRO(S)
LEONARDO PERES DA ROCHA E SILVA E OUTRO(S)
CRISTINA A. DE OLIVEIRA MOURA E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFESA DA SAÚDE DO
CONSUMIDOR SAUDECON
ADVOGADO : FRANCISCO ANTÔNIO DE OLIVEIRA STOCKINGER E OUTRO(S)
RELATÓRIO
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Superior Tribunal de Justiça
causa por parte da SAUDECON, com a consequente assunção do feito pelo Parquet" e que
"não se conheça do recurso especial por não se vislumbrar qualquer violação da lei federal no
v. acórdão recorrido" (fls. 971-982).
Peticiona a Saudecon argumentando que o acordo firmado com a ré prevê
"condição suspensiva, qual seja: ratificação do mesmo pelo Ministério Público e homologação
judicial, havendo de ser rejeitada a pretendida declaração de abandono da causa, na
eventualidade de não homologação do acordo".
É o relatório.
VOTO VENCIDO
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Superior Tribunal de Justiça
O SENHOR MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO (Relator):
3. O processo coletivo pode ser ajuizado, também, por entidades civis, como
associações e sindicatos, defendendo diretamente seus associados, ou todo o grupo (ainda
que não associados), desde que compatível com os fins institucionais.
No primeiro caso, a atuação é por representação e se exige anuência do
interessado.
Na segunda hipótese, como ão exemplo as ações civis públicas, em regra,
ocorre a substituição processual, sendo que a entidade atua em juízo em nome próprio,
defendendo direito alheio (de todo um grupo), evidentemente dispensada a procuração.
Nessa esteira, para legitimar-se ao ajuizamento de ação civil pública, a
associação deve preencher os requisitos legais, notadamente os alusivos à qualidade dos
direitos postos em litígio e à chamada representatividade adequada.
Com efeito, no particular, mostra-se viável a defesa coletiva de direitos dos
consumidores mediante o ajuizamento de ação civil pública por entidade que tem esse fim
institucional, em vista do disposto no artigo 81 do Código de Defesa do Consumidor, verbis.
Quanto à representatividade adequada, exigem-se o requisito temporal e a
pertinência institucional da associação, nos termos do art. 82, inciso IV, do CDC:
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Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados
concorrentemente:
(...)
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que
incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos
protegidos por este código, dispensada a autorização assemblear.
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e individuais homogêneos (art. 81, do CDC).
7. Além de beneficiar as vítimas, que vêem suas demandas serem
resolvidas de maneira uniforme e com suporte institucional, a legitimação ad
causam do Ministério Público e das ONGs para a propositura de Ação Civil
Pública prestigia e favorece o próprio Judiciário, que, por essa via, sem
deixar de cumprir sua elevada missão constitucional, evita o dreno de
centenas, milhares e até milhões de litígios individuais.
8. O CDC aplica-se aos contratos de seguro (art. 3º, § 2º), bem como aos
planos de capitalização, atividade financeira a eles equiparada para fins de
controle e fiscalização (art. 3º, §§ 1° e 2, do Decreto-Lei 261, de 28 de
fevereiro de 1967).
9. O seguro, como outros contratos de consumo, pode ensejar conflitos de
natureza difusa (p. ex., um anúncio enganoso ou abusivo), coletiva stricto
sensu e individual homogênea.
10. A legitimação do Ministério Público para a propositura de Ação Civil
Pública, em defesa de interesses e direitos difusos e coletivos stricto sensu,
é automática ou ipso facto e, diversamente, depende da presença de
relevância social no campo de interesses e direitos individuais homogêneos,
amiúde de caráter divisível.
[...]
12. A relevância social pode ser objetiva (decorrente da própria natureza
dos valores e bens em questão, como a dignidade da pessoa humana, o
meio ambiente ecologicamente equilibrado, a saúde, a educação) ou
subjetiva (aflorada pela qualidade especial dos sujeitos – um grupo de
idosos ou de crianças, p. ex. – ou pela repercussão massificada da
demanda).
13. Há relevância social na tutela dos interesses e direitos dos
consumidores de Sociedades de Capitalização, grandes captadoras de
poupança popular mediante remuneração, cuja higidez financeira importa à
economia nacional, tendo por isso mesmo o Estado o dever de controlar
"todas as operações" e de fazê-lo "no interesse dos portadores de títulos de
capitalização" (arts. 1º e 2º, do Decreto-Lei 261/67).
14. Artifícios engenhosos criados pela empresa de capitalização – como a
ausência de cadastro atualizado de endereços dos subscritores, o que a
impossibilitaria de notificá-los da premiação por sorteio da Tele Sena e,
conseqüentemente, de entregar-lhes o que lhes é de direito – prejudicam
não apenas as vítimas diretas da desconformidade de consumo, mas a
própria higidez difusa do sistema de capitalização como um todo.
15. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido para
reconhecer a legitimidade do Ministério Público para a defesa judicial dos
interesses dos consumidores de plano de capitalização.
(REsp 347.752/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 08/05/2007, DJe 04/11/2009)
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Superior Tribunal de Justiça
No parecer de fls. 971-982, o eminente Subprocurador-Geral da República José
Bonifácio Borges de Andrada consignou:
7. No curso da tramitação no STJ, apresentaram as partes acordo
entabulado com base no suposto atendimento dos interesses do
consumidor a partir da substituição da expressão "sem álcool",
questionada, por "não alcóolica", almejando, com isso, pôr fim ao litígio.
8. Em seguida, vieram os autos para manifestação ministerial.
É o relatório.
9. O Ministério Público Federal é veementemente contrário à homologação
do acordo.
10. As litigantes desafiam a inteligência de juristas, julgadores e do
cidadão-consumidor ao pretenderem estabelecer no acordo que "a
substituição da expressão 'SEM ÁLCOOL' pela expressão 'NÃO
ALCÓOLICA', associada à informação já constante nos rótulos atuais de
BAVARIA SEM ÁLCOOL, sobre a presença de 0,5% de álcool em volume,
atende tanto aos interesses dos consumidores quanto aos da KAISER" (Fl.
961e).
11. Isso porque a troca de uma expressão que nega a presença de álcool
no produto por outra que o atesta como sendo "não alcóolico", em nada
arrefece a violação a dispositivos do CDC atinentes à boa-fé nas relações
de consumo e ao dever de se prestar informações verdadeiras ao
consumidor, consoante apontado na exordial da ação civil pública encetada
pela SAUDECON, e posteriormente reiterado nas contrarrazões do recurso
especial.
[...]
12. Da forma como realizado o pacto, cujos "considerandos" enaltecem os
interesses econômicos da cervejaria, em detrimento do direito do
consumidor à informação clara e objetiva..
[...]
13. À vista desses fundamentos, tem-se que os dispositivos do Decreto nº
6.871/09, ventilados indiretamente no ajuste, não podem ser interpretados
de modo a que não se de cumprimento ao disposto no CDC quanto ao
direito do consumidor de ter acesso à correta e verdadeira
informação sobre os produtos por ele consumidor.
14. Nas respectivas normas não existe permissivo para a fabricante divulgar
informação sem a verdade ou não veraz, como queira.
15. Assim, se álcool há na cerveja, seu rótulo não deve vir estampado como
"sem álcool", levando o consumidor a erro quanto á composição do produto
e menos ainda como "não alcóolico" o que na ótica do consumidor é
exatamente a mesma coisa.
[...]
18. Nesse cenário vislumbra-se que do ponto de vista material, face ao
princípio da boa-fé objetiva, a substituição da expressão "SEM ÁLCOOL"
por "NÃO ALCOÓLICA" em nada prestigiou as normas protetivas do art. 6º,
III e IV, e art. 9 do CDC, cujas interpretações, diante do princípio do favor
debilis, devem ser realizadas com máxima amplitude, de modo de mitigue,
com eficácia plena, a vulnerabilidade técnica a que a coletividade está
sujeita.
[...]
20. Ademais, causa muita estranheza o fato de a associação de
consumidores, que até a fase de contrarrazões ao recurso ordinário
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diligenciou firmemente pelo banimento da informação de rótulo capaz de
induzir o consumidor em erro, repentinamente alterar seu entendimento
para daí compactuar com termos que exaltam o interesse da cervejaria, o
fazendo com poucas menções à necessidade de se proteger o consumidor
da inverdade contida no rótulo da cerveja BAVÁRIA SEM ÁLCOOL.
[...]
22. Por outro lado, se essa C. Turma não entender que se verificou o
abandono da causa pela recorrida, em face dos termos do acordo subscrito,
há de deferir, de todo modo o pedido que ora o Ministério Público faz de
ingressar no feito na qualidade de litisconsorte ativo, para que a demanda
defensiva dos direitos dos consumidores não esmoreça por eventual inércia
da parte autora. (fls. 974-981)
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Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor,
fácil e imediatamente, a identifique como tal.
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acessórios, revela-se como uma das faces de atuação ou operatividade do princípio da
boa-fé objetiva - não decorrem necessariamente "do exercício da autonomia privada nem de
explicitação legislativa, podendo manifestar-se em qualquer relação obrigacional, em graus
escalonados de intensidade conforme o dinâmico desenrolar da relação":
"O adimplemento atrai e polariza a obrigação. É o seu fim". Com essas
palavras, Clóvis do Couto e Silva inicia a sua obra "A obrigação como
Processo", que entre nós introduziu, já na década de 1960, a noção
dinâmica da relação obrigacional, considerada como "estrutura de
processos" e como "totalidade", para a qual a noção de adimplemento
desempenha um papel fundamental, distinto do mero modo de extinção das
obrigações. O extremado relevo deste papel para a própria noção de
obrigação só agora vem reconhecido pelo direito legislado...
[...]
Para bem marcar a diferença, observe-se que o Código de 1916 elencava
as regras acerca do inadimplemento no Título II do Livro III da Parte Especial
(Do Direito das Obrigações) sob a genérica denominação "Dos Efeitos das
Obrigações". Este elenco de regras vinha posto misturadamente às regras
sobre o inadimplemento (Capítulo XIII), logo subseqüente à parte onde se
classificavam as "Modalidades das Obrigações" (Título I), e
antecedentemente ao Título relativo ao fenômeno da transmissão das
obrigações (reduzido ao caso da Cessão de Crédito, no Título III). O novo
Código, diferentemente, introduz nesta matéria alteração metodológica que
deve ser bem realçada.
[...]
No Título III, ao invés de englobar, assistematicamente, todas as formas
pelas quais a relação obrigacional pode desaparecer, cuidou-se
especificamente do cumprimento, ou adimplemento, ou ainda, pagamento,
seja o cumprimento direto voluntário e adequado pelo devedor,
correspondente ao conceito técnico ou estrito de adimplemento, seja o
chamado cumprimento indireto, tudo nomeando, com maior rigor técnico,
"Do Adimplemento e Extinção das Obrigações".
[...]
Foi esta importância vital do adimplemento na economia da relação
obrigacional que o novo Código pretendeu realçar, inserindo o tema em
capítulo autonômo. Adquiriu assim novo realce a pioneira concepção de
Couto e Silva, que já dera frutos na doutrina e na jurisprudência.
[...]
Não mais se discute, em foros da ciência jurídica, que a relação jurídica
obrigacional
"alberga, sem prejuízo de sua unidade, uma pluralidade de elementos
autonomizáveis com utilidade para a captação do seu regime,
constituindo, por isto, uma realidade complexa".
Documento: 1201852 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/08/2015 Página 25 de 9
Superior Tribunal de Justiça
Documento: 1201852 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/08/2015 Página 26 de 9
Superior Tribunal de Justiça
O mesmo se diga daquela que utiliza hipérboles nas mensagens publicitárias.
Todavia, a apresentação de características banais como excepcionais e a falsa
afirmação acerca da composição do produto devem ser reputadas como enganosas.
(RÊGO, Nelson Melo de Moraes. Da boa-fé objetiva nas cláusulas gerais de direito do
consumidor e outros estudos consumeristas. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 155)
Nessa toada, o art. 30 do CDC dispõe que toda informação ou publicidade
suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma com relação a produtos e serviços
oferecidos, obriga o fornecedor.
Junto ao dever de informação tem-se a faculdade do fornecedor de anunciar
seu produto ou serviço, sendo certo que, se o fizer, a publicidade deve refletir fielmente a
realidade anunciada (princípio da veracidade), em observância à principiologia do Código do
Consumidor.
Nessa linha de intelecção, o princípio da vinculação da publicidade reflete a
imposição da transparência e da boa-fé nos métodos comerciais, na publicidade e nos
contratos.
Ressoa inequívoco o caráter vinculativo da informação e da publicidade, de
modo que o fornecedor de produtos ou serviços se obriga nos exatos termos da publicidade
veiculada, sendo certo que essa vinculação se estende também às informações prestadas
por funcionários ou representantes do fornecedor.
Recorro novamente ao magistério do Ministro Antonio Herman Benjamin:
O art. 30 dá caráter vinculante à informação e à publicidade - andou
bem o legislador ao separar as duas modalidades de manifestação
do fornecedor, considerando que aquela é mais ampla do que esta.
Por informação, quis o CDC, no art. 30, incluir todo tipo de manifestação do
fornecedor que não seja considerado anúncio, mas que, mesmo assim,
sirva para induzir o consentimento (= decisão) do consumidor. Aí estão
incluídas as informações prestadas por representantes do fornecedor ou
por ele próprio, bem como as que constam em bulas ou em alguns rótulos
[...]
A vinculação atua de duas maneiras: primeiro, obrigando o fornecedor,
mesmo que se negue a contratar; segundo, introduzindo-se (e
prevalecendo) em contrato eventualmente celebrado, inclusive quando seu
texto o diga de modo diverso, pretendendo afastar o caráter vinculante.
Daí que não impede a vinculação eventual informação do fornecedor,
sempre a latere do anúncio, de que as alegações têm mero valor indicativo.
Ainda assim, opera, integralmente, a força vinculante do alegado. (Op. cit.,
p. 184)
Documento: 1201852 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/08/2015 Página 27 de 9
Superior Tribunal de Justiça
6. A bebida alcóolica, assim como o cigarro, é produto de periculosidade
inerente à saúde do consumidor.
Nesse passo, é notório que os consumidores das denominadas cervejas sem
álcool, em regra, optam por esse produto justamente por esse diferencial em sua
composição, seja por questões de saúde, seja por convicções religiosas ou filosóficas.
Muito embora a recorrente questione a prova produzida nos autos, por
especialista da área de nutrição - demonstrando que o álcool, mesmo em quantidade ínfima,
é extremamente danoso para doenças como alcoolismo, diabete, cirrose hepática, além de
outras síndromes mais raras -, independentemente da nocividade do produto oferecido pela
recorrente ao mercado consumidor, no caso, a informação inverídica acerca de componente
relevante do produto, por si só, é abusiva e fere o standard ético-jurídico essencial à higidez
da relação de consumo.
Ora, como o teor de álcool médio da cerveja comum é de cerca de 5% por
cento, e a produzida pela recorrente não ultrapassa 0,5%, nada impede constar na
embalagem do produto que se trata de cerveja com reduzido teor alcóolico - o que, ademais,
prestará melhor esclarecimento ao consumidor acerca de dado relevante -, não se podendo
aceitar, contudo, seja veiculada informação inverídica.
No caso, em virtude da ausência de veracidade a respeito de sua composição,
o produto oferecido pela recorrente tem periculosidade adquirida, isto é, apresenta risco
superior ao legitimamente esperado pelo consumidor.
De outra parte, a multa diária prevista para o caso de descumprimento da
sentença - no valor de 1.000 (mil) salários mínimos, após 90 dias do trânsito em julgado da
decisão de procedência do pleito exordial -, mostra-se adequada.
7. A mesma controvérsia ora em exame foi dirimida pela Terceira Turma [REsp
1181066/RS, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO
DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em 15/03/2011, DJe 31/03/2011], em decisão assim
ementada:
DIREITO DO CONSUMIDOR. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITO BÁSICO DO CONSUMIDOR À
INFORMAÇÃO ADEQUADA. PROTEÇÃO À SAÚDE. LEGITIMIDADE AD
CAUSAM DE ASSOCIAÇÃO CIVIL. DIREITOS DIFUSOS. DESNECESSIDADE
DE AUTORIZAÇÃO ESPECÍFICA DOS ASSOCIADOS. AUSÊNCIA DE
INTERESSE DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. ARTS. 2.º
E 47 DO CPC. NÃO PREQUESTIONAMENTO. ACÓRDÃO RECORRIDO
SUFICIENTEMENTE FUNDAMENTADO. CERVEJA KRONENBIER.
UTILIZAÇÃO DA EXPRESSÃO "SEM ÁLCOOL" NO RÓTULO DO PRODUTO.
IMPOSSIBILIDADE. BEBIDA QUE APRESENTA TEOR ALCOÓLICO
INFERIOR A 0,5% POR VOLUME. IRRELEVÂNCIA, IN CASU, DA
EXISTÊNCIA DE NORMA REGULAMENTAR QUE DISPENSE A MENÇÃO DO
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Superior Tribunal de Justiça
TEOR ALCÓOLICO NA EMBALAGEM DO PRODUTO. ARTS. 6.º E 9.º DO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
[...]
3. Não se exige das associações civis que atuam em defesa aos interesses
do consumidor, como sói ser a ora recorrida, autorização expressa de seus
associados para o ajuizamento de ação civil que tenha por objeto a tutela a
direitos difusos dos consumidores, mesmo porque, sendo referidos direitos
metaindividuais, de natureza indivisível, e especialmente, comuns a toda
uma categoria de pessoas não determináveis que se encontram unidas em
razão de uma situação de fato, impossível seria a individualização de cada
potencial interessado.
4. À luz dos enunciados sumulares n.ºs 282/STF e 356/STF, é inadmissível
o recurso especial que demande a apreciação de matéria sobre a qual não
tenha se pronunciado a Corte de origem.
5. Inexistindo nos autos elementos que conduzam à necessidade de
formação de litisconsórcio passivo necessário da União com a recorrente, já
que a demanda diz respeito exclusivamente às informações contidas no
rótulo de uma das marcas de cerveja desta, não há falar, in casu, em
competência da Justiça Federal.
6. A comercialização de cerveja com teor alcoólico, ainda que inferior a
0,5% em cada volume, com informação ao consumidor, no rótulo do
produto, de que se trata de bebida sem álcool, a par de inverídica, vulnera
o disposto nos arts. 6.º e 9.º do CDC, ante o risco à saúde de pessoas
impedidas ao consumo.
7. O fato de ser atribuição do Ministério da Agricultura a padronização, a
classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas,
não autoriza a empresa fabricante de, na eventual omissão deste, acerca
de todas as exigências que se revelem protetivas dos interesses do
consumidor, malferir o direito básico deste à informação adequada e clara
acerca de seus produtos.
8. A dispensa da indicação no rótulo do produto do conteúdo alcóolico,
prevista no já revogado art. 66, III, "a", do Decreto n.º 2.314/97, não
autorizava a empresa fabricante a fazer constar neste mesmo rótulo a não
veraz informação de que o consumidor estaria diante de cerveja "sem
álcool", mesmo porque referida norma, por seu caráter regulamentar, não
poderia infirmar os preceitos insculpidos no Código de Defesa do
Consumidor.
9. O reexame do conjunto fático-probatório carreado aos autos é atividade
vedada a esta Corte superior, na via especial, nos expressos termos do
enunciado sumular n.º 07 do STJ.
10. Recurso especial a que se nega provimento.
(REsp 1181066/RS, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado
em 15/03/2011, DJe 31/03/2011)
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Superior Tribunal de Justiça
prejuízo de outras disposições de lei, em caracteres visíveis e legíveis,
os seguintes dizeres:
I - nome empresarial do produtor ou fabricante, do padronizador, do
envasilhador ou engarrafador ou do importador;
II - endereço do produtor ou fabricante, do padronizador, do envasilhador
ou engarrafador ou do importador;
III - número do registro do produto no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento ou o número do registro do estabelecimento importador,
quando bebida importada;
IV - denominação do produto;
V - marca comercial;
VI - ingredientes;
VII - a expressão: Indústria Brasileira, por extenso ou abreviada;
VIII - conteúdo, expresso na unidade de medida correspondente, de acordo
com normas específicas;
IX - graduação alcoólica, expressa em porcentagem de volume
alcoólico, quando bebida alcoólica;
X - grau de concentração e forma de diluição, quando se tratar de produto
concentrado;
XI - forma de diluição, quando se tratar de xarope, preparado líquido ou
sólido;
XII - identificação do lote ou da partida;
XIII - prazo de validade; e
XIV - frase de advertência, conforme estabelecido em legislação específica.
Parágrafo único. O rótulo da bebida não deverá conter informação
que suscite dúvida ou que seja falsa, incorreta, insuficiente ou que
venha a induzir a equívoco, erro, confusão ou engano, em relação à
identidade, composição, classificação, padronização, natureza,
origem, tipo, qualidade, rendimento ou forma de consumo da bebida,
nem lhe atribuir qualidade terapêutica ou medicamentosa.
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. HUGO GUEIROS BERNARDES FILHO
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : CERVEJARIAS KAISER BRASIL S/A
ADVOGADOS : MARCELO AVANCINI NETO E OUTRO(S)
LEONARDO PERES DA ROCHA E SILVA E OUTRO(S)
CRISTINA A. DE OLIVEIRA MOURA E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFESA DA SAÚDE DO CONSUMIDOR
SAUDECON
ADVOGADO : FRANCISCO ANTÔNIO DE OLIVEIRA STOCKINGER E OUTRO(S)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto do relator, negando provimento ao recurso especial, pediu vista o Ministro
Raul Araújo.
Aguardam os demais.
Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti.
Documento: 1201852 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/08/2015 Página 37 de 9
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS PESSOA LINS
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : CERVEJARIAS KAISER BRASIL S/A
ADVOGADOS : MARCELO AVANCINI NETO E OUTRO(S)
LEONARDO PERES DA ROCHA E SILVA E OUTRO(S)
CRISTINA A. DE OLIVEIRA MOURA E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFESA DA SAÚDE DO CONSUMIDOR
SAUDECON
ADVOGADO : FRANCISCO ANTÔNIO DE OLIVEIRA STOCKINGER E OUTRO(S)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Adiado por indicação do Sr. Ministro Relator.
Documento: 1201852 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/08/2015 Página 38 de 9
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.185.323 - RS (2010/0048082-0)
VOTO
Documento: 1201852 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/08/2015 Página 40 de 9
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.185.323 - RS (2010/0048082-0)
RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO
RECORRENTE : CERVEJARIAS KAISER BRASIL S/A
ADVOGADOS : MARCELO AVANCINI NETO E OUTRO(S)
LEONARDO PERES DA ROCHA E SILVA E OUTRO(S)
CRISTINA A. DE OLIVEIRA MOURA E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFESA DA SAÚDE DO
CONSUMIDOR SAUDECON
ADVOGADO : FRANCISCO ANTÔNIO DE OLIVEIRA STOCKINGER E OUTRO(S)
VOTO
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.185.323 - RS (2010/0048082-0)
RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO
RECORRENTE : CERVEJARIAS KAISER BRASIL S/A
ADVOGADOS : MARCELO AVANCINI NETO E OUTRO(S)
LEONARDO PERES DA ROCHA E SILVA E OUTRO(S)
CRISTINA A. DE OLIVEIRA MOURA E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFESA DA SAÚDE DO
CONSUMIDOR SAUDECON
ADVOGADO : FRANCISCO ANTÔNIO DE OLIVEIRA STOCKINGER E OUTRO(S)
VOTO-VISTA
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produtos de periculosidade inerente à saúde do consumidor; j) "(...)é notório que os consumidores
das denominadas cervejas sem álcool, em regra, optam por esse produto justamente por esse
diferencial na composição do produto, seja por questões de saúde ou mesmo por convicções
religiosas ou filosóficas"; k) a informação inverídica acerca de componente relevante do produto
é abusiva e fere a ética essencial às normas de consumo; l) a multa diária prevista para o caso de
descumprimento da sentença, no valor de 1.000 (mil) salários mínimos, após 90 dias do trânsito em
julgado, mostra-se adequada; m) há precedente da Terceira Turma julgando a mesma controvérsia -
REsp 1.181.066/RS; n) "A dispensa da indicação no rótulo do produto do conteúdo alcóolico,
prevista no art. 66, III, 'a', do Decreto 2.314/97, não autorizava o fabricante a fazer constar
neste mesmo rótulo a incorreta informação de que o consumidor estaria diante de cerveja
'sem álcool', mesmo porque referida norma, por seu caráter regulamentar, não poderia
infirmar os preceitos insculpidos no Código de Defesa do Consumidor"; o) a elaboração e
interpretação do regulamento administrativo não pode ser contrária ao disposto no art. 4º, I, do
Código de Defesa do Consumidor; p) o art. 21 do Decreto-Lei 986/69 dispõe que "não poderão
constar da rotulagem denominações, designações, nomes geográficos, símbolos, figuras,
desenhos ou indicações que possibilitem interpretação falsa, erro ou confusão quanto à
origem, procedência, natureza, composição ou qualidade do alimento, ou que lhe atribuam
qualidades ou características nutritivas superiores àquelas que realmente possuem"; q) o art.
21 do Decreto-Lei 986/69 é compatível com o art. 2º da Lei 8.918/94; r) "(...) o art. 11 do
superveniente Decreto Presidencial 6.871/2009, que regulamentou a Lei 8.918/94 -
revogando o Decreto 2.314/97, que embasa o pleito da recorrente - dispõe que o ´rótulo da
bebida deverá conter, em cada unidade, sem prejuízo de outras disposições de lei...", ficando
nítido o reconhecimento implícito, pelo próprio Decreto regulamentar da Lei 8.918/94, da plena
incidência do Decreto-Lei 986/69, no que tange à rotulagem de bebidas; e s) o art. 462 do Código de
Processo Civil autoriza seja tomado em conta o superveniente Decreto Presidencial 6.871/2009.
Pedi vista dos autos para uma melhor capacitação acerca da controvérsia.
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Superior Tribunal de Justiça
Afirma a recorrente ser necessária a expressa autorização dos associados para que
a associação autora possa ingressar em juízo na defesa de interesses coletivos.
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Superior Tribunal de Justiça
Brasil Ltda tem como causa de pedir o suposto prejuízo causado aos consumidores em geral em
decorrência de desconformidade entre a informação "sem álcool", constante do rótulo do produto
"cerveja Bavária sem álcool", e sua efetiva composição, na qual há presença de álcool, ainda que
em percentual reduzido, o que contrariaria disposições do Código de Defesa do Consumidor - CDC.
Ocorre que a classificação desse tipo de cerveja, como "sem álcool", não se traduz
em prática isolada da sociedade ré, pois tem como base a Lei 8.918/94, regulamentada antes pelo
Decreto 2.314/97 e atualmente pelo Decreto 6.871/2009.
Por ocasião da propositura da presente ação civil pública, a Lei ainda hoje vigente
encontrava-se regulamentada pelo Decreto 2.314/97, que, em seus arts. 10 e 66, III, quanto à
classificação das cervejas, por Lei "estabelecida, em todo o território nacional", em caráter de
"obrigatoriedade", assim dispunha, in verbis:
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"Art. 10. As bebidas serão classificadas em bebida não alcoólica e bebida
alcoólica. (Redação dada pelo Decreto nº 3.510, de 2000)
§ 1o Bebida não alcoólica é a bebida com graduação alcoólica até meio
por cento em volume, a vinte graus Celsius. (Incluído pelo Decreto nº
3.510, de 2000)
§ 2o Bebida alcoólica é a bebida com graduação alcoólica acima de meio
e até cinqüenta e quatro por cento em volume, a vinte graus Celsius.
(Incluído pelo Decreto nº 3.510, de 2000)
§ 3o Para efeito deste Regulamento a graduação alcoólica de uma bebida
será expressa em porcentagem de volume de álcool etílico, à temperatura
de vinte graus Celsius. (Incluído pelo Decreto nº 3.510, de 2000)"
Atualmente, vige o Decreto 6.871/2009, que, em seus arts. 12 e 38, este com
praticamente a mesma redação do art. 66 acima transcrito, dispõem in verbis:
Cumpre assinalar, de outro lado, que, como a legislação impugnada vigora em caráter
geral, obrigando a todos, é possível que diversos outros fabricantes de bebidas tenham lançado no
mercado cervejas com a classificação oficial "sem álcool", desde que contenham esses produtos
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teor de álcool menor ou igual a 0,5% (meio por cento) em volume.
Nesse sentido, prevendo a hipótese de o dano estar sendo causado por mais de um
sujeito, José dos Santos Carvalho Filho admite a formação do litisconsórcio passivo na ação civil
pública, ainda que entenda, para outros casos, ser raro na modalidade necessário, verbis:
"Litisconsórcio passivo é o que se forma pela reunião de vários réus no
mesmo processo. Embora a lei tenha silenciado sobre essa modalidade de
cúmulo subjetivo, poderá naturalmente fazer-se presente quando sejam
dois ou mais os responsáveis pela violação dos interesses difusos ou
coletivos. É o caso, para exemplificar, em que duas empresas industriais
particulares estejam retirando areia de rio e, em conseqüência, causando
danos ao meio ambiente. A ação civil pública, diante do fato, deve ser
dirigida contra ambos os responsáveis pelo dano. Deverá formar-se
então litisconsórcio passivo na referida ação."
(in: Ação Civil Pública. Comentários por Artigo. 8ª ed. Rio de Janeiro: Editora
Lumen Juris, 2011, p. 184/185)
Portanto, no caso dos autos, diante da natureza da tutela requerida na ação civil
pública, com repercussão no princípio da livre concorrência, é condição de validade do processo e
de eficácia do provimento jurisdicional pretendido a formação do litisconsórcio passivo, devendo ser
citados:
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classificação "sem álcool" que fabrica, com base apenas em impressões subjetivas da associação
promovente, a pretexto de que estaria a violar normas gerais do CDC ao fazer constar no rótulo da
bebida a classificação oficial determinada em lei especial e no decreto regulamentar.
A esse propósito, o nobre Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO lembra
que Aristóteles chegou a afirmar que: "a medida da justiça é a lei", ou a ação humana
conforme a lei, ou contida nos limites da lei; para o filósofo grego: "uma vez que o injusto é um
transgressor da lei, e o justo se mantém dentro dos seus limites, é evidente que toda
legalidade é de algum modo justa".
O eminente Ministro EROS ROBERTO GRAU, por sua vez, ao defender a
aplicação da doutrina real do Direito, explica que: "praticamos o pensar - a busca dos
significados - e, não meramente o conhecer - a busca da verdade"; e conclui: "no âmbito do
Direito, inexiste o verdadeiro, mas tão somente o aceitável (justificável)."
A conduta da recorrente, agindo dentro das normas específicas que regulam sua
atuação, é plenamente aceitável.
Dessa forma, não se mostra adequado intervir no mercado pontualmente,
substituindo-se a lei especial e suas normas técnicas regulamentadoras por decisão judicial leiga e
subjetiva, de modo a obstar a venda de produto por sociedade empresária fabricante, que segue
corretamente a legislação existente acerca da fabricação e comercialização da bebida, máxime
quando nem sequer se questiona a continuidade da comercialização por outros produtores.
Com essas considerações, peço vênia para divergir do voto do ilustre Relator para:
b) caso superada a preliminar acima, dar parcial provimento ao recurso especial para
julgar improcedente a ação civil pública.
É como voto.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS PESSOA LINS
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : CERVEJARIAS KAISER BRASIL S/A
ADVOGADOS : MARCELO AVANCINI NETO E OUTRO(S)
LEONARDO PERES DA ROCHA E SILVA E OUTRO(S)
CRISTINA A. DE OLIVEIRA MOURA E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFESA DA SAÚDE DO CONSUMIDOR
SAUDECON
ADVOGADO : FRANCISCO ANTÔNIO DE OLIVEIRA STOCKINGER E OUTRO(S)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Ministro Raul Araújo dando parcial
provimento ao recurso especial, divergindo do relator, e o voto da Ministra Maria Isabel Gallotti
acompanhando a divergência, e o voto dos Ministros Antonio Carlos Ferreira e Marco Buzzi no
mesmo sentido, a Quarta Turma, por maioria, deu parcial provimento ao recurso especial,
julgando improcedente a ação civil pública, nos termos do voto divergente do Ministro Raul
Araújo, que lavrará o acórdão. Vencido o relator.
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