Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Topicos de Fisica Nuclear e Particulas E PDF
Topicos de Fisica Nuclear e Particulas E PDF
Florianópolis, 2009
Universidade Federal de Santa Catarina
Consórcio RediSul
Instituições Consorciadas
Núcleo de Formação
Responsável Nilza Godoy Gomes
ISBN 978-85-99379-58-5
1 Introdução...................................................................... 9
2 O Núcleo Atômico......................................................... 21
2.1 Composição e propriedades gerais...................................... 23
2.2 Radioatividade.......................................................................29
2.3 Fissão e Fusão Nuclear......................................................... 35
Referências.................................................................... 102
Apresentação
O conteúdo deste volume tem como objetivo dar ao estudante uma visão ge-
ral e introdutória sobre a Física Nuclear e das Partículas Elementares. Inicial-
mente, fazemos um pequeno histórico do desenvolvimento desta importante
área da Física ao longo do século XX, com destaque para a descoberta do nú-
cleo atômico, os mésons e os neutrinos, além de outras partículas importan-
tes para nosso entendimento atual do microcosmo. Posteriormente, algumas
propriedades fundamentais do núcleo atômico, visto como uma coleção de
prótons e nêutrons, são apresentadas e discutidas juntamente com os fenô-
menos da radioatividade, fissão e fusão nuclear. Esta discussão pertence ao
ramo conhecido atualmente como Física Nuclear de baixa energia.
Os Autores
1 Introdução
1 Introdução
Poucos anos mais tarde, este modelo foi no entanto refutado por um fa-
moso experimento realizado pelo físico neozelandês Rutherford, cujos
resultados foram apresentados à comunidade em 1911. Mais ou menos
na mesma época em que o elétron foi detectado pela primeira vez, foi
descoberto um importante fenômeno conhecido como Radioativida-
de, segundo o qual alguns elementos conhecidos emitiam partículas
de carga elétrica positiva ou negativa com energia várias ordens de
grandeza superior às energias observadas na escala atômica ou mole-
cular. Rutherford utilizou um destes elementos, o qual emitia partículas
eletricamente positivas (as chamadas partículas ) para bombardear
uma fina placa de ouro colocada perpendicularmente ao feixe de partí-
culas alfa. Observando o desvio destas partículas ao atravessar a placa,
Rutherford pode concluir que o átomo, ao contrário do que imaginara
Thomson, deve ser formado por uma distribuição de carga positiva e
de pequena dimensão (cerca de dezenas de milhares de vezes menor),
quando comparada com as dimensões totais do átomo. Esta importan-
te observação serviu para a formulação do chamado Modelo Plane-
tário do Átomo, proposto mais tarde por Niels Bohr. Mas não menos
importante foi o fato de que este experimento pode ser considerado
Introdução 11
como o nascimento da Física Nuclear e com ela o aparecimento de
uma série de partículas novas, dando origem a um ramo da Física co-
nhecido hoje como Física das Partículas Elementares.
Modelo de
Thomson
para o
átomo
Rutherford e a
Descoberta do
Núcleo
12
tâncias da ordem do tamanho do núcleo, já que elas são imperceptíveis
no nosso dia-a-dia do mundo macroscópico, ao contrário do que ocorre
com as forças eletromagnéticas, de longo alcance e responsáveis por
toda a estrutura molecular que constitui a matéria tangível.
Átomo
Núcleo
Elétron
Nêutron Próton
Figura 1.2: O átomo e seus constituintes principais.
Introdução 13
ta usando-se uma técnica de observação dos chamados raios cósmicos,
que chegam constantemente ao nosso planeta provenientes do espaço.
14
Nessa ocasião, Occhialini estava indo passar férias nos Pirineus,
uma cadeia montanhosa européia. Lattes pediu-lhe que levasse al-
gumas das novas chapas. De volta a Bristol, a surpresa: duas mar-
cas eram as primeiras provas da existência do méson pi. Essa partí-
cula havia sido prevista em 1935 pelo japonês Hideki Yukawa, e os
físicos esperavam encontrá-la havia doze anos. Mas as evidências
de Occhialini ainda não eram suficientes. Se as chapas fossem ex-
postas em um lugar mais alto, poderia haver um maior número de
marcas que confirmariam a descoberta.
Introdução 15
Vamos voltar um pouco agora à década de 1920. Nesta época, Paul Di-
rac desenvolveu uma teoria para o elétron, incorporando à Mecânica
Quântica as idéias introduzidas por Einstein em sua Teoria da Relati-
vidade Restrita. Como resultado desta teoria, Dirac obteve o resultado
surpreendente de que, mesmo para um elétron livre, sua energia pode-
ria ser negativa. Dirac tentou na época encontrar uma interpretação
satisfatória para este resultado, e suas idéias acabaram evoluindo para
o conceito de antipartícula. Colocando de forma simplificada, pode-
mos dizer que as soluções de energia negativa encontradas por Di-
rac correspondem na verdade a soluções de energia positiva não para
o elétron, mas para uma outra partícula com exatamente a mesma
massa, porém com carga positiva. Esta seria, então, o antielétron, ou
+
pósitron ( e ), como foi posteriormente conhecido. Acontece que, em
1933, uma partícula com exatamente estas características foi encon-
trada, reforçando, conseqüentemente, esta interpretação. Quando um
elétron é colocado em presença de um pósitron, as duas partículas se
transformam em um fóton com energia pelo menos igual à soma das
energias de repouso das duas, e dizemos que houve uma aniquilação
elétron-pósitron. Mas a teoria desenvolvida por Dirac pode ser aplica-
da sem maiores problemas a outras partículas do tipo férmion, como o
próton e o nêutron. Desta forma podemos imediatamente concluir que
a toda partícula do tipo férmion deve corresponder sua antipartícula,
fato que foi sendo comprovado com o passar do tempo.
16
forte dentro do alvo, permite uma observação do mesmo sem causar
grandes distúrbios em sua estrutura original, enquanto que a partí-
cula alfa, que na verdade corresponde ao núcleo do átomo de Hélio,
interage tanto via força eletromagnética quanto via força forte ao se
aproximar o suficiente de um alvo hadrônico.
Introdução 17
sos internos ocorridos no núcleo. Já a radioatividade beta pode aparecer
+ −
em forma de partículas de carga positiva ( ) ou de carga negativa ( ).
Após a descoberta do pósitron, sabia-se que a + correspondia à emis-
são de pósitrons a partir de algum tipo de processo ocorrido no núcleo,
−
enquanto que a correspondia à emissão de elétrons. O problema com
este tipo de reação é que nem a energia nem o momento total eram con-
servados a partir da observação das partículas envolvidas e detectadas
no processo. Na época, alguns Físicos famosos chegaram a admitir que a
Conservação da Energia e do Momento não deveriam ser princípios ge-
rais da natureza. Para tentar “salvar” a situação, o alemão Wolfgang Pauli
sugeriu que deveria existir uma outra partícula participante do processo
e que não era detectada. Tal partícula deveria ter carga nula e massa zero
(ou muito próxima disso). Na verdade, partículas com massa zero e sem
carga já eram conhecidas: é o caso do fóton. A novidade é que esta outra
partícula, proposta por Pauli e que recebeu a denominação de neutrino,
deveria ser um férmion, enquanto o fóton é um bóson. O físico italiano
Enrico Fermi apostou na hipótese de Pauli e formulou uma teoria para o
decaimento . Segundo esta teoria, tal processo, embora ocorra dentro
do núcleo, não deve ter sua origem na força forte, mas sim em outro tipo
de interação, que ficou conhecida como força nuclear fraca ou mais ge-
nericamente como força fraca, já que ela não precisa ocorrer necessaria-
mente dentro do núcleo, como observado posteriormente. Embora Pauli
tenha postulado a existência do neutrino na década de 1930 e a teoria de
Fermi tenha sido desenvolvida na década de 1940, somente em 1956 o
neutrino foi pela primeira vez observado experimentalmente, de forma
indireta porém irrefutável.
18
evidências são todas no sentido de que o neutrino tem massa, embo-
ra não tenha ainda sido possível determiná-la exatamente.
Introdução 19
Resumo
Vimos que tanto o experimento de Rutherford de 1911 quanto expe-
rimentos bem mais recentes realizados ao longo do século XX têm
em comum o mesmo tipo de interpretação dos resultados: no primeiro
caso, a descoberta do núcleo e posteriormente de suas partículas cons-
tituintes (próton e nêutron); no segundo, a descoberta dos quarks como
os tijolos fundamentais para a construção da matéria. Além disto, apre-
sentamos outras partículas fundamentais da natureza, como os neutri-
nos e os chamados bósons de calibre. A contribuição de dois notáveis
físicos brasileiros ao tema foi também rapidamente apresentada.
20
2 O Núcleo Atômico
2 O Núcleo Atômico
O Núcleo Atômico 23
ainda menores. Dependendo da energia destas partículas, os detalhes
da estrutura nuclear se revelam de forma mais ou menos detalhada.
Para energias da ordem de alguns poucos milhões de elétron-volts
( eV ), é suficiente uma descrição baseada nestes dois tipos de partí-
culas apenas. Se aumentarmos esta faixa de energia de aproxima-
damente cem vezes, graus de liberdade associados ao aparecimento
de mésons podem começar a ficar importantes; e, se subirmos ainda
mais em energia (de um fator 1000 ou mais) teremos que recorrer
provavelmente a uma estrutura mais fundamental, como a dos qua-
rks, dos quais falaremos mais adiante.
Assim, pode-se dizer que o núcleo é cerca de 1000 vezes menor que
um átomo, enquanto que a energia associada ao primeiro é um mi-
No entanto, unidades lhão de vezes maior. Outro dado importante é a massa dos constituin-
como cm e g, embora nos
dêem uma idéia de ordem tes nucleares. O próton e o nêutron têm uma massa bem parecida, da
de grandeza quando ordem de 10 -24 g. Por exemplo, é muitas vezes conveniente expressar
comparamos a dimensões a massa em termos de seu equivalente em energia ou energia de re-
do nosso dia-a-dia, não 2
pouso usando a conhecida relação massa-energia E = mc , sendo c
são muito úteis na escala
nuclear. a velocidade da luz no vácuo. Daqui em diante usaremos os termos
“massa e energia de repouso” de forma indistinta. Desta forma, temos
os valores 939,566 MeV e 938, 272 MeV para as massas de repouso
respectivamente do nêutron e do próton. Uma outra forma comum
de expressar as massas do próton e do nêutron é através da unidade
Claro que esta é uma
estimativa bastante de massa atômica ( u.m.a. ou simplesmente u ), cujo equivalente em
grosseira, e cálculos mais energia é 1u = 931, 494 MeV . Estes valores podem ser empregados
elaborados mostram que para uma estimativa da velocidade de um núcleon dentro do núcleo,
a energia cinética média
ou seja:
de um núcleon dentro
do núcleo chega a ser de
2T 2Tc 2 2 ×1
aproximadamente v= = 2
=c ,
20 MeV. m mc 939
onde T = 1MeV é a energia cinética. Portanto,
v
≈ 0, 05 .
c
24
Isto significa que podemos, em primeira aproximação, tratar seu mo-
vimento sem fazer uso das chamadas correções relativísticas. Ainda
usando estes dados, pode-se calcular o chamado comprimento de
onda de de Broglie associado ao núcleon, o qual é dado por:
h hc
= = ,
mv 2mc 2T
onde h é a constante de Planck. Utilizamos acima a constan-
te hc = 1240MeV.fm. Tomando ainda nossa melhor estimativa para a
energia cinética do núcleon como sendo 20 MeV , temos finalmente Usamos unidades de MeV
para a energia e fm para
que ≈ 6,5 fm . Mas este número é bastante próximo de um raio nu-
distância.
clear típico. Agora, sabemos que uma condição para que os efeitos
quânticos sejam importantes na descrição do movimento de um sis-
tema é que o comprimento de onda de de Broglie associado às partí-
culas que formam este sistema seja da mesma ordem que as dimen-
sões do mesmo. Assim, concluímos que o núcleo é um objeto cuja
estrutura deve ser obtida a partir dos princípios básicos estabelecidos
pela Mecânica Quântica.
O Núcleo Atômico 25
Ver por exemplo Mecânica,
À
Curso de Física de Berkeley,
vol 1, em problemas do época de Rutherford, a secção de choque era cal-
Capítulo 15. culada usando Mecânica Clássica, porém os expe-
rimentos mais modernos precisam ser interpretados à
luz de cálculos usando os princípios da Mecânica Quân-
Obtida do espalhamento tica. Curiosamente, a chamada secção de choque de
entre duas partículas Rutherford fornece exatamente o mesmo resultado se
eletricamente carregadas e
que interagem através da usarmos Mecânica Clássica ou Quântica para obtê-la, e
força de Coulomb. assim a interpretação original de Rutherford estava rigo-
rosamente correta.
E 2 = ( pc) 2 + me c 2 ,
de onde obtemos:
pc 4000 MeV .
26
Para o comprimento de onda de de Broglie associado do elétron tere-
mos então:
h hc 1240
= = = 0,3 fm .
p pc 4000
Cada uma das espécies nucleares (ou tipos diferentes de núcleos) co-
nhecidas, seja ela natural ou artificialmente produzida, é caracterizada
pelo número de nêutrons N e número de prótons (ou número atômico)
Z . Na verdade, costuma-se caracterizar a espécie nuclear pelo seu nú-
O Núcleo Atômico 27
mero Z e pela soma A = Z + N , também conhecida como número de
massa ou simplesmente número de núcleons. É possível encontrarmos
espécies nucleares com mesmo A porém Z diferentes, cujos núcleos
correspondentes são chamados de núcleos isóbaros. Por outro lado,
núcleos com mesmo Z e valores de A diferentes são chamados de isó-
topos. Embora não seja a única empregada na literatura, usaremos aqui
A
a notação X Z para indicar um certo tipo de núcleo (ou espécie nucle-
X representa o símbolo do elemento químico correspondente.
ar), onde
Podemos ainda usar simplesmente o par de números ( Z , A ). A figura 1.3
mostra as espécies nucleares conhecidas em função dos seus números
de prótons e nêutrons. Observe que à medida que o número de núcleons
aumenta existe uma tendência do número de nêutrons ficar progressi-
vamente maior que o número de prótons. Este fato se deve ao aumento
da repulsão coulombiana dentro do núcleo (devido ao aumento do nú-
mero de prótons), que passa então a competir com a interação nucle-
ar atrativa. Aliás, esta competição é em grande parte responsável por
fenômenos de instabilidade nuclear, como a instabilidade e a fissão
Corresponde ao
decaimento ou nuclear. No entanto, esta não é a única razão para que várias espécies
transformação em nucleares sejam instáveis, fenômeno do qual falaremos a seguir.
outras espécies através
da emissão de certas
partículas.
28
2.2 Radioatividade A radioatividade consiste
em um fenômeno no
Pode-se dizer que o estudo do decaimento radioativo de alguns ele- qual o núcleo emite
mentos pesados (como o Urânio) corresponde ao nascimento da Física partículas provenientes
de sua estrutura original
Nuclear. Por razões históricas costuma-se classificar a radioatividade
ou que são criadas
em três tipos principais, conhecidos como radioatividade , e . por algum tipo de
No entanto, em muitos processos de decaimento radioativo importan- transformação ocorrida
tes ocorre emissão de outras partículas como prótons, nêutrons e até nesta estrutura.
mesmo partículas mais pesadas, como núcleos leves. Neste ponto, de-
ve-se distinguir o que se costuma chamar na literatura de núcleos leves
( A < 20 ), núcleos médios ( 20 < A < 70 ) e núcleos pesados ( A > 70 ).
Núcleos de elementos com Z > 92 são chamados de transurânicos,
tendo-se até o momento conhecimento de núcleos com Z ≈ 115 , al-
guns dos quais são produzidos artificialmente em laboratório.
O Núcleo Atômico 29
N a verdade, é o mesmo processo que ocorre na emis-
são dos chamados raios X (energia na faixa de eV ),
no caso atômico. Só que agora, como as energias estão
na faixa de MeV, a freqüência da radiação é correspon-
dentemente muito maior.
(partícula alfa)
Decaimento 4
He
Alfa 2
263
106
Sg
259
104
Rf
Antes Depois
30
Antes de mais nada devemos definir o valor Q de uma reação
como sendo a diferença entre a massa total dos reagentes e a
massa total dos produtos da reação. Na verdade, devemos entender
esta diferença de massa (ou seu equivalente em energia) lembrando
sempre da relação massa-energia de Einstein. Se Q > 0 , uma parte da
massa das partículas iniciais do processo é transformada em energia,
a qual é em geral liberada em forma de energia cinética das partí-
culas finais. Se por outro lado Q < 0 , uma parte da massa é agora
transformada em energia que é então absorvida para a formação dos
produtos finais. Por esta razão, é preferível definir o valor Q em ter-
mos da energia de repouso dos participantes da reação. Desta forma,
na reação de decaimento representada acima, o chamado valor Q
da mesma deve ser positivo para que o processo possa ocorrer espon-
taneamente, ou seja,
Q = ( M X − M Y − M a )c 2 ,
onde M a representa a massa nuclear correspondente. Podemos
agora pensar no núcleo X (também chamado de núcleo pai no
decaimento) como sendo originalmente formado por duas partes
que interagem entre si: o núcleo Y ( ou núcleo filho) e a partí-
cula . Sabemos que a pequenas distâncias entre as duas par-
tes (alguns poucos fermis) a força nuclear domina, porém a partir
de distâncias pouco maiores a força forte vai rapidamente a zero
e apenas a repulsão coulombiana entre as partes existe. A figura
É importante
2.4 ilustra esquematicamente este comportamento para o poten-
estabelecermos aqui a
cial entre o núcleo Y e a . Podemos pensar neste como sendo o diferença entre meia-vida
sente na presença do núcleo filho. Su-
potencial que a partícula e vida-média. Imagine
ponha agora que a tenha uma energia cinética igual a | Q + V0 |, que se queira acompanhar
um grupo de pessoas
onde V0 representa a profundidade do poço de potencial nuclear.
nascidas no mesmo dia.
Classicamente ela pode então estar nas regiões a ou c mostradas Diremos que a vida-média
na figura 2.4, mas não pode passar de uma região para outra. De do grupo corresponde
acordo com a Mecânica Quântica no entanto existe uma probabi- à média aritmética da
idade que estas pessoas
lidade de “vazamento” ou “tunelamento” através da região b . Na
atingem até sua morte.
verdade, esta possibilidade nos diz que, mesmo que a tenha a Já a meia-vida é o tempo
energia cinética correta, ou seja, o valor Q seja positivo, a emissão que se passou para
da mesma por um núcleo não é imediata, e o quão rápida ou lenta que metade do número
inicial de pessoas no
vai ser a emissão vai então depender da estrutura detalhada dos
grupo tenha morrido.
núcleos pai e filho. Por exemplo, cálculos elaborados mostram que Naturalmente, os conceitos
238
no caso do U 92 , um núcleo -instável, a partícula precisa em de meia-vida e vida-
média de 1021 tentativas por segundo, ou seja, atingir a “parede” média podem ser usados
21 9 tanto no decaimento α
da barreira de potencial 10 vezes por segundo durante 10 anos
como em outros processos
para escapar. Na prática é mais conveniente definir uma meia-vida radioativos.
para o núcleo -instável, ou seja, dada uma amostra do material
radioativo, a meia-vida é o tempo para que metade do material ori-
O Núcleo Atômico 31
ginal decaia. Quanto maior a probabilidade de tunelamento, por-
tanto, menor será a meia-vida do elemento. Assim, para o caso do
Th90 a meia-vida para emissão é de 4 ×1017 s , enquanto que
232
220
para o Th90 é de apenas 10−5 segundos.
V(r) (MeV)
40
30
20 a c
b
Q 10
0
-10
-20
-30
Vo -40
-50
0 10 20 30 40
r (fm)
−
Assim, a chamada radiação ocorre graças à transformação de
Você verificará mais um nêutron em um próton dentro do núcleo e a conseqüente emis-
adiante, que existem
são de um elétron e um antineutrino (antipartícula do neutrino e ).
outros dois tipos de
neutrinos. Note que o sub-índice e está sendo usado para designar o neutrino
+
do elétron. Já a radiação ocorre devido à transformação de um
próton em um nêutron com a emissão de um pósitron acompanhada
32
de um neutrino. Observe que do ponto de vista energético, o segundo
processo não é favorecido pois o nêutron tem uma massa ligeiramen- Lembre da definição do Q
te maior que o próton. No entanto, se o núcleo como um todo adquirir da reação.
uma configuração mais estável após o decaimento, o processo será
energeticamente possível. Finalmente, a terceira reação mostrada é o
que chamamos de captura de elétrons ( CE ), onde um elétron atômico
é capturado por um próton nuclear, transformando-se em um nêutron
através da interação fraca.
ve
14
C Beta - e-
6 14
7
N
(elétron)
ve
18
F Beta + e+
9 18
8O
(pósitron)
Antes Depois
Figura 2.5: Exemplos de decaimento beta no núcleo.
O Núcleo Atômico 33
135 135
Exemplo 2: Considere o par de núcleos isóbaros Cs55 e Ba56 .
Que tipo(s) de decaimento pode(m) ocorrer entre eles?
34
2.3 Fissão e Fusão Nuclear
56
Exemplo 3: Vamos obter a energia de ligação do núcleo de Fe26 .
O Núcleo Atômico 35
B (26,56) = (−55,93494 + 26 ×1, 00782503 + 30 ×1, 00866491) × 931,479
B(26,56)=492,219MeV.
36
1,0030
1,0025
1,0020
1,0015
M/A (u)
1,0010
1,0005
1,0000
0,9995
0,9990
0 50 100 150 200 250
A
Fissão Fusão
H
2 H
2
235
U
3
He
200 MeV 3.2 MeV
93
Rb
140
Cs
Nêutron Próton
Figura 2.7: Ilustração dos processos de fissão (figura à esquerda) e fusão nuclear.
O Núcleo Atômico 37
A pesar da simplicidade do raciocínio apresentado
para explicar tanto a fusão quanto a fissão, não
podemos achar que isto explica tudo, pois, se assim
fosse, rapidamente todos os núcleos leves se fundiriam
até se transformarem em ferro, assim como os pesados,
através de processos de fissão, também o fariam. No en-
tanto, estes dois tipos importantes de reações nucleares
são fortemente atenuados em condições normais (con-
dições na superfície de nosso planeta por exemplo).
38
o que nos dá kT ≈ 7 MeV . Por outro lado, à temperatura ambiente
sabemos que kTA = 0, 025eV e, assim, obtemos,
kT 7 ×106
= −2
⇒ T ≈ 1011 K ,
kTA 2.5 ×10
onde TA = 300 K . Para vencer a barreira coulombiana, então, o gás
de neônio deveria estar a uma temperatura altíssima. Na verdade, a
situação não é tão desanimadora quanto parece, uma vez que mesmo
não tendo uma energia cinética suficiente para ultrapassar a barreira,
existe uma probabilidade do sistema “tunelar” através dela de forma
equivalente ao que ocorre na emissão , só que agora no sentido
contrário. Mesmo assim, se considerarmos a fusão de dois núcleos de
Hidrogênio (próton) para formar deutério abaixo da barreira (a altura
da barreira é bem menor nesse caso), a energia cinética média por
partícula deve ser da ordem de ≈ 10KeV ( 1KeV = 1000eV ), o que sig-
nifica uma temperatura aproximada de 80 milhões de graus Celsius .
A reação neste caso é a seguinte:
p + p → 2 H1 + e + + .
O Núcleo Atômico 39
A fusão nuclear é, na realidade, a grande fonte de
geração de energia de uma estrela. Vale também
ressaltar o papel dos neutrinos nas reações do tipo apre-
sentado anteriormente, uma vez que, ao ocorrerem no
interior das estrelas, o único dos seus produtos que tem
grande probabilidade de delas escapar é o neutrino já
Dizemos que a secção que ele interage muito fracamente com a matéria. Pode-
de choque do neutrino
se então, a partir da observação de neutrinos que che-
é muito pequena,
comparada à de outras gam ao nosso planeta, aprender muito do que ocorre em
partículas. uma estrela. No entanto, dada a dificuldade de detecção
do neutrino, são necessários detectores extremamente
sofisticados, montados em locais e sob condições mui-
to especiais, além de um tempo considerável de obser-
vação para que se tenha uma informação confiável. No
caso dos neutrinos solares, algumas observações im-
portantes foram feitas nessa linha, durante décadas.
A qual ocorre
A seqüência de reações do tipo mostrado acima ilustra então a forma-
principalmente para
núcleos na região do ção dos núcleos mais pesados.
urânio (A » 200 ou
mais). Voltando agora ao caso da fissão, podemos usar um modelo seme-
lhante à emissão da partícula , com a diferença de que agora os dois
fragmentos, após a emissão, têm mais ou menos o mesmo tamanho.
Ainda, enquanto na emissão de um núcleo pesado é emitida uma
40
energia de alguns poucos MeV , na fissão de um núcleo na mesma re-
gião de A , a energia emitida por reação chega a centenas de MeV . A
fissão, por sua vez, pode ser induzida pela captura de nêutrons lentos
(nêutrons cuja energia cinética é de poucos KeV ), por um isótopo de
um dado elemento, o qual então se transforma em outro que se fissio-
na imediatamente. É o caso da reação de fissão induzida:
n + 235U → 236
U → 93 Rb + 141Cs + 2n .
O Núcleo Atômico 41
as mesmas aproximações utilizadas em exemplos anteriores, pode-se
calcular o valor Q para esta reação e obter-se o valor Q = 17,59 MeV
(Sugerimos que você encontre este valor).
2 0,5
23
= ⇒ x = 1,5 × 1023 átomos de 2 H1 ,
6 × 10 x
3 0,5
23
= ⇒ y = 1, 0 ×1023 átomos de 3 H1 ,
6 ×10 x
onde usamos o valor 6 ×1023 para o número de Avogadro. Assim, a
energia total liberada é:
Q total = y × Q = 1, 0 ×1023 ×17, 6 MeV = 17, 6 ×1023 ×1, 6 ×10−13 J = 28,16 ×1010 J ,
em que, no último passo, usamos a relação entre MeV e J ( Joule) .
Para uma potência de 100 W , a energia acima fornece o tempo total t :
28,16 ×1010
t= = 0, 2816 ×1010 s 89anos
102
42
Resumo
A partir de algumas propriedades nucleares gerais e bem conhecidas
experimentalmente, mostramos que o núcleo, constituído por pró-
tons e nêutrons, deve ser tratado como um sistema quântico e que
correções devidas à Relatividade Restrita podem ser desprezadas em
primeira aproximação. Vimos ainda, qualitativamente, como o “tune-
lamento” quântico pode explicar o comportamento do decaimento ,
assim como os fenômenos de fissão e fusão nuclear. Alguns exemplos
numéricos envolvendo a relação entre massas nucleares e massas
atômicas e sua importância para o balanço energético de reações e
decaimentos nucleares foram apresentados.
O Núcleo Atômico 43
3 Física das Partículas Elementares:
Modelo Padrão
3 Física das Partículas Elementares:
Modelo Padrão
3.1 Introdução
48
A existência de centenas de novas partículas reforçou a idéia de que
essas partículas não poderiam ser elementares e, sim, deveriam ter
uma subestrutura que passou a ser procurada pelos físicos. A respos-
ta final para esta confusão inicial foi o modelo padrão, desenvolvido
nos anos 1970 e, hoje em dia, a teoria oficial das partículas elementa-
res. Os seus ingredientes básicos são: seis quarks, seis leptons, as res-
pectivas antipartículas e os bósons de calibre ( (fóton), g ( gluons),
Z e W ), interagindo através das forças fraca e eletromagnética que,
neste modelo, são descritas de forma unificada através da teoria ele-
tro-fraca e da força forte, como discutiremos melhor na seção Intera-
ções Fundamentais. Os quarks e léptons e os bósons de calibre são Não podem ser
imaginados como fundamentais ou elementares, no entanto, sob subdivididos em partes
certas condições podem ser criados ou destruídos. Neste capítulo va- menores.
mos discutir de um modo um pouco mais detalhado algumas proprie-
dades dessas partículas, como elas interagem entre si, e dar uma idéia
de como funcionam os aceleradores de partícula onde elas são detec-
tadas. A idéia fundamental é mostrar que a infinidade de partículas
que foram sendo observadas nos aceleradores e, a priori, imaginadas
como fundamentais, são de fato compostas por um pequeno número
de partículas genuinamente fundamentais, indivisíveis.
u c t γ
Quarks
d s b g
ve vµ vτ Z
Léptons
e µ τ W
I II III
As Três Gerações da Matéria
Longo (lei
Corpos celes-
do inverso
Força gra- Graviton tes, planetas,
~ 10-36 do qua-
vitacional (massa ?) estrelas, bura-
drado da
cos negros
distância)
50
Energia de
Carga Numero Ba- Isospin Estranhe-
Nome Símbolo Repouso I3
(Q ) riônico ( B ) (I ) za ( S )
( MeV )
Up u 5 +2 / 3 e 1/ 3 1/ 2 1/ 2 0
Down d 8 -1/ 3 e 1/ 3 1/ 2 −1/ 2 0
Charm c 1500 +2 / 3 e 1/ 3 0 0 0
Strange s 160 -1/ 3 e 1/ 3 0 0 −1
Top t 174000 +2 / 3 e 1/ 3 0 0 0
Bottom b 4200 -1/ 3 e 1/ 3 0 0 0
Tabela 3.2: Propriedades dos quarks.
HÁDRONS
Bárions: (qqq)
Mésons: (q q)
Bárions
O Nêutron O Próton
d u
d u
u
d
n = udd p = uud
52
Essa reação, em princípio, não contradiz os princípios de conservação
de energia-momento e carga elétrica. Um outro exemplo consiste na
reação entre um próton e um anti-próton, em que, como resultado,
apenas observamos mésons. Esses fatos sugerem a existência de uma
lei de conservação, como a que existe no caso da carga elétrica, com
a qual estamos bem familiarizados. Através da postulação ad-hoc de
uma “lei de conservação” adequada, será proibida a ocorrência de
certas reações e, conseqüentemente, poderemos entender os resul-
tados experimentais. A seguir vamos definir o que se entende pela
grandeza aditiva que associamos às partículas e que denominamos
por número bariônico B , e que se conserva nas reações. A todo bá-
rion ( anti-bárion) associamos o número bariônico B = 1( B = -1) , e a
todo méson e demais partículas o número bariônico zero.
Aqui outra vez pode ser usada a analogia com a conservação da carga
elétrica para a compreensão deste comportamento. Recordemos que,
a partir do decaimento de um fóton (neutro), só é possível a produção
de pares elétron-pósitron, de modo a garantir a conservação da carga
elétrica. Com o objetivo de compreender a criação de kaons e hípe-
rons apenas aos pares, M. Gell-Mann nos EUA e Nishijima no Japão, em
1952, prontamente associaram a estas partículas uma nova proprieda-
de, que foi batizada por Gell-Mann de estranheza, e que, mais uma vez
era uma grandeza conservada nas reações envolvendo a força forte.
Segundo Gell-Mann e Nishijima, os Kaons possuíam estranheza S = 1 ,
os sigmas e o lambda S = −1 , e os píons, prótons e nêutrons S = 0 .
Postergaremos uma discussão mais aprofundada do significado físico
da estranheza e do número bariônico para uma seção posterior.
54
n p
udd uud
S=0
Σ0
Σ+
S = -1 Σ −
dds -1 -½
0
uds ½ 1 uus I3
Λ
Ξ− Ξ0
S = -2 dss uss
Q = -1 Q=0 Q = +1
∆− ddu
∆0 duu ∆+ uuu ∆++
S=0 ddd -3/2 -1 -1/2 0 1/2 1 3/2 I3
S = -3 Ω− Q=0
sss
Q = -1
56
o número quântico de cor não pode servir para classificar as partícu-
las ou apresentar uma influência direta na interação entre elas.
Mésons
Méson Pi
d
u
K0 K+
S = +1 ds us
π− π0 π+ ud
S=0 Ι3
-1
dū 0
η0 +12 +1
-1 2
S = -1 sū sd Q = +1
K - -1 K0
Q = -1 Q=0
1 0
| u >⇒ , | d >⇒ .
0 1
58
Os operadores de isospin correspondem às matrizes, I = ( I1 , I 2 , I 3 )
onde:
1 0 1 1 0 −i 1 1 0
I1 = ( ) I2 = ( ) I3 = ( )
2 1 0 2 i 0 2 0 −1
3.3 Léptons
60
Símbo- Energia de Re- Número
Nome Carga ( Q ) Spin( ) Vida média
lo pouso ( MeV ) Leptônico
62
10-9 m 10-10 m 10-15 - 10-14 m
+ +
+
+
+ +
+
+
+
a) Força forte
b) Força fraca
64
satisfizerem as leis de conservação do processo que estivermos des-
crevendo, em princípio, podem contribuir. É fato que na maior parte
das vezes alguns poucos diagramas são dominantes, e um único ou
poucos diagramas podem representar a física envolvida. Apesar da
aparente simplicidade desses diagramas, não podemos esquecer que
a eles estão associadas complexas expressões matemáticas que vão
permitir o cálculo quantitativo das reações por eles representados, Não entraremos em
detalhes no que diz
isto é, a obtenção das seções de choque que podem ser confrontadas
respeito a esses cálculos,
com os dados experimentais. apenas utilizaremos
esses diagramas como
O diagrama da figura 3.8 corresponde ao espalhamento(colisão) de um recurso auxiliar na
discussão qualitativa
dois elétrons. A interação entre os elétrons(férmions) se dá através da
dos processos envolvidos
troca de fótons(bósons) que não têm carga. na física das partículas
elementares.
e- e-
e- e-
Figura 3.8: Diagrama de Feynman do espalhamento
de elétrons pela força eletromagnética.
q q
p
u d u
u π−
d
u d d
∆0 τ = 0.6 x 10-23 s
66
As partículas mediadoras da interação fraca são os bósons massivos
W + e W − , que carregam carga elétrica e o neutro Z 0 . Os mediadores
da interação fraca podem alterar o sabor, isto é, transformar um qua-
rk de um sabor em outro. Por exemplo, no decaimento beta, que é um
processo devido à interação fraca, o nêutron ( udd ) se transforma no
próton( uud ). Na figura 3.11 representamos o processo de decaimento
beta no contexto do modelo padrão:
n → p + e − + ve (decaimento beta)
p ud u ve e-
w-
a)conservação de energia-momento.
68
Exemplos:
1) Decaimento beta
n → p + e − + ve
Na reação acima:
β−
Ecin
Figura 3.12: número de elétrons por faixa de energia versus Energia cinética do
elétron emitido
M = E1 + E2 = p12 + m12 + p2 2 + m2 2
0 = p1 + p2 ⇒ p1 = − p2
portanto,
( ) = p +m + p +m +2
2
M2 = p12 + m12 + p2 2 + m2 2 2
1
2
1
2
1
2
2 ( p12 + m12 )( p12 + m22 )
70
no decaimento estava sendo conservada, a nova partícula não deve-
ria ter carga elétrica e sua massa deveria ser aproximadamente nula,
uma vez que as partículas beta(elétrons) mais energéticas possuíam
energia cinética igual a todo o valor Q do processo de decaimento.
Um Acelerador de Partículas
Rudimentar
vácuo
Feixe de
Elétrons
Ânodo
Cátodo Bobinas Bobinas
Focalizadoras defletoras
72
No caso em que colidimos partículas de mesma massa, os colisores
têm a grande vantagem de realizar a colisão no referencial de centro
de massa e, neste caso, toda a energia é disponível para a reação.
Acelerador Circular
CAVIDADE
ACELERADORA
e+
COLISÕES
INJEÇÃO
e-
ÍMÃS
FOCALIZADORES
ÍMÃS
DEFLETORES
Figura 3.14: Diagrama esquemático de um sincrotron.
F v
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
B entrando
no papel
+
+
+
+
+
B⊥v ⊥F
74
mv 2
F = macp = =| q | vB ,
R
onde q é a carga da partícula, v o módulo da sua velocidade, B a
intensidade do campo magnético e R o raio da órbita circular. Como
o momento da partícula é p = m ⋅ v ,podemos reescrever a equação
acima como:
p = q BR (i).
v
E ' = (v)( E − pc)
c
v 1
p ' = (v)( p − E ) , (v ) = ,
c2 v2
1− 2
c
onde nos restringimos ao movimento em uma dada direção espacial,
digamos a direção x ( v = vx ). Se considerarmos duas partículas com
Um invariante energias e momentos ( E1 , p1 ) e ( E2 , p2 ), a partir das relações acima po-
2
relativístico é uma demos definir o invariante relativístico, s :
grandeza que tem
o mesmo valor em s 2 = ( E1′ + E2′ ) 2 − c 2 ( p1′ + p2′ ) 2 = ( E1 + E2 ) 2 − c 2 ( p1 + p2 ) 2
qualquer referencial
No referencial do centro-de-massa ( CM ) para partículas de massas
iguais, o momento total é
P = p1 + p2 = p1 + (- p1 ) = 0
E CM = E1 + E2 = p12 + M 2c 4 + p22 + M 2c 4 = 2 E1 , E1 = E2 .
s 2 = ( E1 + E2 ) 2 − c 2 ( p1 + p2 ) 2 = (2 E1 ) 2 = ( E CM ) 2 (a)
76
( E CM ) 2
E LAB = 2
− Mc 2 .
2 Mc
A expressão acima mostra que, se acelerarmos prótons com uma ener-
gia de 200GeV no laboratório, teremos no referencial do centro-de-
massa apenas uma energia de aproximadamente 20GeV disponível
para a reação. Por exemplo, numa aniquilação próton-antipróton, toda
a energia das partículas no referencial do CM é convertida em novas
partículas, sendo este tipo de reação especialmente interessante, uma
vez que todos os números quânticos das partículas que colidem de-
saparecem e, assim, partículas completamente diferentes podem ser
formadas. Os colisores, portanto, levam uma enorme vantagem em
comparação com aceleradores com alvo fixo. Um exemplo onde esta
vantagem ainda é maior ocorre na aniquilação elétron-pósitron, onde
CM
elétrons e pósitrons acelerados com energia de 1GeV ( E = 2GeV )
vão corresponder a uma energia de 4000GeV no laboratório, isto é,
4000 vezes mais energia.
Detectores
K - + p → ∑- + +
∑ − → Λ 0 + e − + e
e-
∑−
π-
π+
^º
p
K-
78
ou chuveiros de partículas dissipam uma fração de sua energia, que
surge como luz cintilante, que é acoplada a um detector de luz, tal
como um tubo fotomultiplicador, e a um contador. Através da medida
dessa energia dissipada, podemos inferir a energia da partícula, que é
o que nos interessa.
80
4 Noções sobre Astrofísica Nuclear
4 Noções sobre Astrofísica Nuclear
84
o Universo. Nestes momentos iniciais a temperatura era gigantesca,
e conseqüentemente também era gigante a energia cinética média
das partículas. Nessa situação o Universo estava em expansão, au-
mentando de tamanho com as partículas movendo-se a velocidades
imensas. À medida que o Universo se expande, ele se esfria. Neste
ponto foi fundamental a descoberta feita por Edwin Hubble, em 1929,
de que o espectro de luz emitido por galáxias distantes sistematica-
mente se desviava para o vermelho quando comparado ao espectro
de galáxias próximas e, além disso, quanto mais distante a galáxia, A explicação para o
desvio ao vermelho foi
maior era o desvio. O físico russo A. Friedmann obteve uma solução
possível através da teoria
para as equações de Einstein que mostrava que o Universo deveria da relatividade geral de
estar alterando a sua forma. Uma das possíveis soluções consiste em Einstein.
assumir que o Universo está em expansão e, portanto, todos os obje-
tos passam a ficar cada vez mais distantes uns dos outros, inclusive
o espaço vazio pelo qual a luz se propaga. Isto explica a razão para
que haja um aumento no comprimento de onda da luz vinda de to-
Desvio ao vermelho.
das as galáxias distantes. A energia de um fóton é dada pela relação
Temperatura
< Ec >= 3 kT ≅ kT ,
2
onde k é a constante de Boltzmann.
86
1) O primeiro nanosegundo (10 -9s)
3) O Primeiro segundo
4) Os primeiros 25 minutos
88
Em certos casos essa atração é suficiente para que os aglomerados
adquiram uma massa adequada a se transformarem em embriões
de estrelas, isto é, nas protoestrelas. A atração gravitacional leva a
protoestrela a se contrair, causando o aumento de sua temperatura
e, assim, evoluindo para a fase de pré-seqüência principal, quando
atinge uma temperatura suficiente para dar início a uma seqüência de
reações nucleares (reações termonucleares), que vão ser responsáveis
por grande parte dos elementos mais leves que o ferro. A duração
desta fase pode ser de bilhões de anos.
Até este ponto, discutimos de forma esquemática as várias fases da Por definição uma
evolução do Universo segundo a teoria da grande explosão, em que estrela é um objeto
destacamos a importância da física de partículas e nuclear. A seguir, astronômico composto
por gás ionizado,
vamos discutir como as estrelas evoluem, que elementos químicos são confinado através da
formados nas estrelas e como a energia é produzida numa estrela. força gravitacional, e
que emite radiação
eletromagnética como
resultado das reações
nucleares que ocorrem
4.3 Energia Nuclear e Nucleossíntese no seu interior.
Nucleossíntese primordial
Uma vez que o deuteron é formado, outros núcleos podem ser obtidos
a partir das reações seguintes:
d + n → 3H +
d + p → 3 He +
d + d → 3H + p
d + d → 3 He + n
3
H + p → 4 He +
3
He + n → 4 He +
90
106
Super gigantes
104
Gigantes
102
sequência vermelhas
principal
L (Lsol)
(anãs)
1
Sol
10-4
T (K)
O B A F G K M
azul tipo espectral vermelho
Figura 4.1: Diagrama HR
92
desbalanceamento entre a pressão e a gravidade. A estrela reage de
modo a encontrar uma nova fonte de energia que a estabilize contra
a força da gravidade que tende a contraí-la. Assim, os vários estágios
da evolução estelar são caracterizados pelos diferentes mecanismos
de geração de energia. Todas as estrelas iniciam seu ciclo de vida
como uma estrela da seqüência principal, obtendo sua energia através
da queima do hidrogênio (isto é, da fusão do hidrogênio em hélio
no seu núcleo). Com isto, a estrela adquire um núcleo composto por
hélio e, como resultado da contração, o núcleo vai se tornando mais
quente até o momento em que, eventualmente, o hélio pode iniciar
reações de fusão que terão como resultado oxigênio e carbono. O
hidrogênio ainda continuará sendo queimado nas camadas que cir-
cundam o núcleo. Como resultado, temos uma geração de energia
pela estrela muito maior (mais brilho) do que no caso da queima de
hidrogênio e, além disso, ocorrerá uma grande emissão de energia na
direção da superfície da estrela, que é mais fria, com o conseqüente
aumento do tamanho da estrela. Neste caso, a estrela deixará de fazer
parte da seqüência principal do diagrama HR . Estrelas que iniciaram
sua vida com menos do que cerca de 10 massas solares vão parar Nebulosa Planetária:
a sua geração de energia na queima do hélio e evoluir para a fase é uma camada de gás
de gigante vermelha, supergigante vermelha para, por fim, atingir o em expansão ejetada
por uma estrela gigante
momento em que ejetarão uma nebulosa planetária e terminarão
vermelha no fim de sua
as suas vidas como anãs brancas. Já uma estrela que iniciar a sua vida. Apesar do nome,
vida com mais do que cerca de 10 massas solares continuará o pro- não tem nenhuma
cesso de fusão no seu núcleo além da queima do hélio até obter um relação com planetas.
núcleo de ferro e, então, evoluirá para a fase de supergigante, quando
ejetará a maior parte de sua massa em uma explosão de supernova,
terminando a sua vida ou como uma estrela de nêutrons ou como um
buraco negro. A queima de hélio em uma estrela de pouca massa ( < 3
massas solares) se inicia de maneira espetacular. O hélio começa a se
fundir de forma abrupta e explosiva. Este processo de ignição rápida
do hélio é chamado de “flash de hélio”, dura poucos minutos e tem um
11
pico de luminosidade da ordem de fantásticos 10 L . A rapidez com
que os processos ocorrem depende da massa inicial da estrela, estre-
las de massas muito baixas ( < 0, 08M ) nunca irão além da queima
do hidrogênio e permanecerão para sempre na seqüência principal e
terminarão sua vida como anã marrom.
Gigante
Estrela de
Anã Branca Buraco Negro
Nêutrons
0.1 1 10 100
Figura 4.2 Diagrama esquemático de evolução estelar. No eixo horizontal está indi-
cado a massa da estrela da sequência principal em unidades de massas solares. Note
o uso da escala logarítmica.
Nucleossíntese
94
primordiais em processo de colapso. Quando a temperatura alcança
7
cerca de 10 K , a fusão do hidrogênio se torna possível, e o ciclo do
próton, determinado pelas cadeias de reações pp , inicia-se, dando
origem a uma estrela da seqüência principal e transformando hidro-
gênio em hélio no seu núcleo. Este é o processo dominante para es-
trelas com massas menores que 1,2M . Por exemplo, 98% da energia
do Sol é obtida a partir deste ciclo. A seguir, apresentamos as 3 pos-
síveis reações pp :
Cadeia pp -I
p + p → d + e − + e ( Q = 1, 44 MeV , Ee ≤ 0, 42 MeV )
d + p → 3 He + ( Q = 5, 49 MeV )
3
He + 3 He → 4 He + 2 p
Cadeia pp - II
3
He + 4 He → 7 Be + ( Q=1,59 MeV)
7
Be + e − → 7 Li + e (Q = 0,86 MeV )
7
Li + p → 2 4 He (Q = 17,35 MeV )
Cadeia pp - III
7
Be + p → 8 B + ( Q = 0,13 MeV )
8
B → 8 Be + e − + e ( Q = 17, 05 MeV )
8
Be → 2 4 He
Ciclo CNO
12
C + p → 13 N +
13
N →13 C + e + + ve
13
C + p → 14 N +
14
N + p → 15 O +
15
O → 15 N + e + + ve
15
N + p → 12C + 4 He .
Se a estrela for pouco massiva, a sua contração vai parar antes do nú-
cleo de ferro se formar. Quando a fusão termina, uma estrela pequena
vai encolhendo vagarosamente até que os elétrons sob alta pressão
impeçam o processo de contração. Quando isto ocorre, o núcleo de
ferro ainda não foi formado, e as camadas externas que haviam sido
parcialmente queimadas explodem, deixando ao final de todo o pro-
cesso um núcleo de elementos mais leves que o ferro. A estrela se
torna uma anã branca.
96
H He
He C, O
C Ne, Mg
O SI, S
SI, S Fe
Fe
Núcleo
Para compreendermos como uma estrela pode fazer frente à sua pró-
pria atração gravitacional, que produz uma enorme pressão que tende
a levá-la ao colapso, vamos discutir brevemente o que ocorre com o gás
de partículas do qual é constituído o seu interior. Em geral, estaremos
interessados em descrever o interior de estrelas formado por gases de
partículas fermiônicas (elétrons, nêutrons, prótons etc). Neste caso, o
gás consiste em um típico sistema onde os efeitos quânticos são impor-
tantes e apenas certas energias são permitidas para tais sistemas con-
finados. As partículas são arranjadas em níveis de energias. Quando a
temperatura é próxima de zero e, por conseqüência, todos os níveis de
menor energia estão ocupados, o gás é chamado de degenerado e a sua
correspondente pressão, que se deve ao princípio de exclusão de Pauli,
é chamada de pressão de degenerescência. No caso das estrelas anãs
brancas, as partículas degeneradas são os elétrons, e nas estrelas de
nêutrons são os nêutrons. Seja qual for o caso, o gás resiste fortemente
à compressão, pois a única maneira de uma nova partícula ser absor-
vida pelo sistema é ocupando um nível com energia alta e desocupado,
o que exigirá muita energia. É a pressão de degenerescência originada
do gás de partículas fermiônicas, a baixa temperatura, que irá impedir
o colapso da estrela devido à gravidade.
98
1,4 M e densidade da ordem de 1014 g/cm3 . Acredita-se que uma es-
trela de nêutrons é formada por uma crosta sólida de núcleos pesados Note que esta densidade
é gigantesca. Corresponde
de cerca de 1Km de raio. Abaixo desta crosta deve haver uma camada
a concentrarmos a massa
grossa de nêutrons num estado semelhante a um líquido e, por fim, de 100 milhões de carros
um pequeno núcleo sólido, que não é ainda bem conhecido, talvez populares num volume
composto por quarks. Sob certas condições, a estrela de nêutrons não equivalente à cabeça de
um alfinete.
é capaz de resistir a um posterior colapso, gerando o que é conheci-
do como buraco negro. Acredita-se que um buraco negro deve ter se
originado do resfriamento de uma estrela de nêutrons, devido à emis-
são de neutrinos. A detecção dos mesmos é uma possível maneira
de descobrirmos o que aconteceu nesses últimos estágios da vida de
uma estrela.
Crosta Sólida
“Líquido” de Nêutrons
Núcleo Sólido
100
Resumo
Apresentamos a teoria da grande explosão bem como algumas das
evidências experimentais que dão sustentação a esta teoria. Em cada
fase da evolução do Universo discutimos os conceitos da Física de
partículas elementares e nuclear envolvidos. A partir do diagrama
H - R , falamos sobre a evolução estelar e, com isto, discutimos as
condições para uma estrela de nêutrons se formar. Mostramos como
os elementos químicos se formaram através da nucleossíntese.
Capítulo 3
102
Capítulo 4
Sites da Internet
103