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Lições de Medicina Legal Dr.

Aurélio Rodrigues 2017


SUMÁRIO:

I. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE MEDICINA LEGAL.


Introdução.
Medicina legal: a) Conceito, b) Definição, c) Sinonímia. A medicina legal
como especialidade. Relações com as outras ciências: médicas e jurídicas.
Noções históricas da medicina legal. Classificação e importância do estudo
da medicina legal: Para o médico. Para o Jurista. Divisão didáctica da
disciplina.
Situação actual da medicina legal no mundo e em Angola.

CONCEITO
A medicina legal é uma ciência de largas proporções e de extraordinária
importância no conjunto de interesses da colectividade porque ela existe e
se exercita em razão das necessidades de ordem pública e social.
DEFINIÇÃO
Devidos as suas enormes relações com outras ciências e ao seu extenso raio
de actividade, é difícil definir com precisão a medicina legal. Em geral,
cada um conceitua esta ciência como entende sua prática, sua contribuição
e sua importância diante dos justos e elevados reclames ou duma certa
repugnância da sociedade.
Daí as diferentes definições dos diversos autores:
1. AMBROISE PARE: é a arte de fazer relatórios em juízo.
2. ADELON: é a medicina considerada em suas relações com a
existência das leis e a administração da justiça.
3. CRECCHIO: é o estudo do homem são ou doente, vivo ou morto,
somente naquilo que possa formar assunto de questão forense.
4. LACASSAGNE: é a arte de pôr os conceitos médicos ao serviço da
administração da justiça.
5. BUCHNER: é a ciência do médico aplicada aos fins da ciência do
direito.
6. MARIA LEONOR: é a especialidade que utilizando os
conhecimentos técnico-científicos de todas as ciências que
subsidiam a medicina tais como a biologia, física, a química e
outras, presta esclarecimentos para a actuação da justiça.
7. CASPER: é a arte de periciar os efeitos das ciências médicas para
auxiliar a legislação e a administração da justiça.
8. ADÃO SEBASTIÃO: é a ramificação médica que trata da violação
das células, tecidos, órgãos, aparelhos e sistemas, organismo no seu
todo do ponto de vista hospitalar, social, jurídico com ou sem
implicações criminais.
Definição comum entre todas: É a Ciência (médica) cujo objectivo é o
esclarecimento de todas as questões de ordem biológica, que surgem no
exercício do Direito.

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SINONÍMIA:
A medicina legal tem recebido denominações várias, cada qual revelando
as diversas tendências com que ela tem sido encarada em sua finalidade e
em sua conceituação. Assim a definição mais certa e menos imperfeita
é a de medicina legal, embora tenhamos outros sinónimos, conhecidos
como :
 Medicina legalis forensis (A. Pare)
 Relationes medicorum (F. Fidelis)
 Questiones medico legalis (P. Zacchias)
 Medicina crítica (Amman)
 Schola juris consultorum médica (Valentíni)
 Jurisprudência médica (Alberti)
 Antropologia forensis (Hebastreit)
 Bioscopia Forensis (Mayer)
 Medicina legal judicial (Prunelle)
 Medicina política (Marc)
 Medicina forense (Sydney Smith)
 Medicina judiciária (Lacassagne).

A MEDICINA LEGAL COMO ESPECIALIDADE:

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Divergem os autores sobre o assunto. Há quem afirme ser a Medicina Legal
especialidade médica. Pensamos que sendo ela um conjunto de
conhecimentos médicos, paramédicos e biológicos objectivando servir às
ciências jurídicas e sociais, não é especialidade, mas, sim disciplina
aplicada que admite especialidades.
A medicina legal, segundo FRANÇA “é uma disciplina de amplas
possibilidades e grande dimensão pelo facto de não se ater somente ao
estudo da ciência hipocrática, mas de se constituir na soma de todas as
especialidades médicas acrescidas de fragmentos de outras ciências
acessórias, sobre valendo-se entre elas a ciência do Direito. Hélio Gomes
assevera “o laudo pericial, muitas vezes, é o prefácio de uma sentença”.
A medicina legal é a arte estritamente científica que estuda os meandros do
ser humano e sua natureza, desde a fecundação até depois de sua morte. Ela
exige dos seus obstinados professadores, além do conhecimento da
medicina e do direito, o de outras ciências, para emitirem pareceres
minudentes, claros, concisos, e racionais objectivando criar na consciência
de quem tem por missão julgar, um quadro o mais preciso da realidade.

RELAÇÕES DA MEDICINA LEGAL COM OUTRAS CIÊNCIAS

Relaciona-se especificamente no campo da medicina com a patologia,


psiquiatria, Traumatologia, neurologia, radiologia, anatomia e fisiologia
patológicas, microbiologia e parasitologia, obstetrícia e ginecologia e,
finalmente, com todas as especialidades médicas.
Com as ciências jurídicas e sociais, empresta sua colaboração ao estudo do
direito penal nos problemas relacionados às lesões corporais, aborto legal e
aborto criminoso, infanticídio, sedução e crimes contra a liberdade sexual.
Com o direito civil nas questões da paternidade, nulidade do casamento,
testamento, início da personalidade e direito do nascituro.
Com direito administrativo quando avalia as condições dos seus agentes, no
ingresso, nos afastamentos e aposentadorias.
Com o direito processual civil e penal quando estuda a psicologia da
testemunha e a psicologia da confissão do delinquente e da vítima.
Com o direito constitucional quando estuda a dissolução do matrimónio e a
protecção à infância e à maternidade. Com a lei das contravenções penais
ao tratar dos anúncios dos meios anticoncepcionais e da embriaguez.
Com o direito trabalhista no estudo das doenças do trabalho, do acidente de
trabalho com a prevenção de acidentes, com a insalubridade e a higiene do
trabalho.
Com o direito penitenciário ao tratar dos aspectos problemáticos da
sexualidade nas prisões e da psicologia do encarcerado com vista à
liberdade condicional.

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Com o direito ambiental quando se envolve nas questões ligadas às
condições de vida satisfatórias num ambiente saudável seja nos locais de
trabalho, seja fora deles.
Com o direito dos desportos analisando detalhadamente as diversas formas
de lesões culposas ou dolosas verificadas nas disputas desportivas e no
aspecto do ″doping″.
Com o direito internacional público ao considerar amparo à velhice e à
criança.
Com o direito internacional privado ao decidir as questões civis
relacionadas com o estrangeiro.
Com o direito comercial não apenas nas perícias dos bens de consumo mas
ao atribuir as condições da maturidade para a plena capacidade civil dos
economicamente independentes.
Com direito canónico no que se refere entre outras coisas, a anulação de
casamento em que a perícia de conjunção carnal pode resultar fundamental
na operação do processo pelo tribunal.
Assim a medicina legal tem um extenso raio de actividade nos diversos
ramos do direito. Ainda se relaciona com a história natural no estudo da
antropologia e da genética nos problemas da identificação e no estudo da
entomologia no processo de determinação do tempo de morte pela fauna
cadavérica.
Relaciona-se também com a química, a física, a Toxicologia, a balística, a
dactiloscopia e a documentoscopia. Com a sociologia, a economia e a
demografia no estudo do desenvolvimento e nos aspectos da natalidade.
Com a filosofia, a estatística, a informática e a ecologia.

IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA MEDICINA LEGAL

O direito moderno não pode deixar de aceitar a contribuição cada vez mais
íntima da ciência e o magistrado não deve desprezar o conhecimento dos
técnicos, pois só assim é possível a aproximação da verdade que se quer
apurar. Não é exagero algum, afirmar que é inconcebível uma boa justiça
sem a contribuição da medicina legal cristalizando-se a ideia de que a
justiça não se limita ao conhecimento da lei.
Por outro lado muitos têm pensado que basta ser um bom médico para
desempenhar bem as funções periciais; é puro engano.
A medicina legal requer conhecimentos especiais e trata de assuntos
exclusivamente seus, como por exemplo: o infanticídio, asfixia mecânica e
a identificação médico-legal.
Também é mero engano, acreditar que a medicina legal seja apenas
aplicada aos casos particulares dos conhecimentos gerais que constituem os
diversos capítulos da medicina. É necessário saber distinguir o certo do
duvidoso; explicar clara e precisamente os factos para uma conclusão

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acertada, não omitindo detalhes que, para o médico geral, não têm nenhum
valor mas que, na medicina legal, assumem importância muitas vezes
transcendente.
Para o juiz é indispensável o seu estudo a fim de que possa apreciar melhor
a verdade num critério exacto, analisando os informes periciais e
adquirindo uma consciência dos factos que constituem o problema jurídico.
Talvez seja esta a mais fundamental missão da perícia médico-legal:
orientar e iluminar a consciência do magistrado.
Muitas vezes, a liberdade, a honra e a vida de um indivíduo estão
subordinados ao esclarecimento de um facto médico-legal que se oferece
sob os mais diversos aspectos.
O advogado, na sua actividade liberal, também necessita muito destes
conhecimentos no curso das soluções dos casos de interesse dos seus
representados.
Os médicos também carecem de conhecimento do direito médico, no
estudo de jurisprudência médica, tão imprescindíveis à sua vida
profissional e ainda de uma consciência pericial nos casos em que haja um
interesse da justiça na apreciação de um facto inerente a vida e a saúde do
homem.
A medicina legal também contribui com precisão e eficiência as
necessidades gerais do direito, transcendendo assim ao simples carácter
informativo.

CONCLUSÕES:
1. É inconcebível uma boa justiça sem a contribuição da medicina
legal.
2. Para o médico desempenhar bem e fielmente as funções periciais
deve ter conhecimentos periciais sobre medicina legal tais como:
infanticídio, asfixia mecânica, identificação médico-legal e outros.
3. Para se exercer a medicina legal exigem-se conhecimentos jurídicos
que só podem ser assimilados com a actividade pericial ante os
tribunais no trato das questões médicas do interesse da lei.

DIVISÃO DIDÁCTICA DA MEDICINA LEGAL:

Sob o ponto de vista didáctico a medicina legal está dividida em medicina


legal geral (Deontologia e Diceologia) e medicina legal especial.
A primeira parte, também chamada jurisprudência médica, estuda as
obrigações, os deveres e os direitos dos médicos, particularizando-se
Os capítulos sobre o exercício legal e ilegal da medicina, segredo médico,
honorários médicos, responsabilidade médica e ética médica, assuntos
estes, que orientam o médico no exercício regular da sua profissão.

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A medicina legal especial disciplina-se nos seguintes capítulos:
1. Antropologia médico- legal.*
2. Traumatologia médico-legal.
3. Sexologia médico- legal.
4. Tanatologia médico- legal.
5. Toxicologia médico- legal.
6. Asfixiologia médico- legal.
7. Psicologia médico- legal.
8. Psiquiatria médico- legal.
9. Criminalística.
10.Infortunística.
11.Genética médico- legal.
12.Vitimologia.
13.Balística forense.

ÂNGULO DIDÁCTICO:

A. GERAL
1. Direito, deveres e obrigações (Deontologia).
2. Exercício Legal e ilegal, honorários, responsabilidade médica e ética
médica, procedimentos reguladores de profissões (Diceologia).
B. ESPECIAL
1. (Identidade e identificação médico-legal e Judiciária)
2. (Lesões corporais e danos corporais e agentes provocadores ou
causadores das lesões)
3. (Sexualidade dos pontos de vista: (Normal, anormal e criminoso)
4. (Cuida da morte e do morto)
5. (Cáusticos / Venenos).
6. (Esganadura, enforcamento, afogamento, estrangulamento, soterramento,
sufocação direita e indirecta, asfixias por gases irrespiráveis).
7. (Transtornos mentais e de condutas, os problemas da capacidade civil, da
responsabilidade sob o ponto de vista Medico forense)
8. (Psíquico normal, causas deformados de capacidade de entendimento, de
testemunha, de confissão, do delinquente e da própria vitima.
9. (Investiga tecnicamente os indícios materiais do crime, seu valor e sua
interpretação nos elementos constados do corpo do delito).
10. (Acidentes e doenças do trabalho higiene e insalubridade laborais).
11. Especifica as questões voltadas ao vínculo genético.
12. Trata da vítima como elemento inseparável na oclusão e justificação
dos delitos. (Aspectos criminogénicos do criminoso, da vítima e do
ambiente)
13. Traumatismos provocados por armas de fogos e outros aspectos
técnico-físicos relacionados as armas de fogo e explosões.

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ABORDAGEM TEMÁTICA - *** SITUAÇÃO ACTUAL DA
MEDICINA LEGAL NO MUNDO E EM ANGOLA

Medicina Legal

1. Resumo Histórico
1.1 - A Medicina Legal no mundo
Desde a muito, alguns factos que ocorriam no seio das sociedades e que
eram encaminhados para as cortes de justiça, careciam de pareceres da
medicina. Assim sendo, devido a demanda crescente destes factos e das
solicitações, foram se destacando algumas personalidades que contribuíram
com sua sabedoria para ajudar no esclarecimento de muitos casos tornando-
se célebres. - Embora considerada uma especialidade relativamente nova, a
história do surgimento da Medicina Legal no mundo, remonta desde a era
a.C. - Alguns testemunhos deixados como “a Lei de Talião, o código de
Hamurabi (Babilônia séc. XVIII a.C.), o Código de Manu (Índia 1300 -
8000 a.C.), a Lei das XII Tábuas (449 a.C.) e livros sagrados. – antigos
Hebreus, legislação de Moisés e no Antigo Testamento –” que continham
já alguns esboços sobre este assunto. - O exame feito ao corpo de Júlio
César (44 a.C.), aonde foi determinado que dos vinte e três ferimentos
apenas um foi fatal e que ficou com referência da primeira perícia médico-
legal na história da Medicina Legal, realizada pelo médico Artemísio,
segundo relatos de Suetónio. - Primeira obra escrita de medicina legal na
China, cujo autor é Hsi Yuan Lu autor do volumoso manual de aplicação. -
Período positivo é o moderno que se inicia no século XVIII até aos dias
actuais. período moderno como propriamente científico da Medicina Legal,
1575 Ambroise Paré (França) publica o primeiro tratado de medicina legal
“Dês Rapports et Des Moyens Démbaumer les Corpos Morts”. - Com o
desenvolvimento das sociedades surgiram organizações que constituíram
normas e procedimentos para melhor responder as questões da justiça que
requeriam o emprego dos conhecimentos da medicina, tornando assim a
Medicina Legal como ramo da medicina auxiliar ao sistema de justiça. -
Assim a Medicina Legal foi se implantado aos poucos como um meio
auxiliar ao sistema de justiça e hoje, a par do desenvolvimento tecnológico,
se aprimoram os conhecimentos científicos e se aperfeiçoam cada dia as
normas e métodos para uma boa resposta as questões que vão surgindo no
fórum médico-legal. - Assim sendo, na actualidade com as novas dinâmicas

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científico-técnicas nas mais diferentes áreas do saber, a medicina legal vem
beneficiando de melhorias e inovações, na sua metodologia e prática de
actuação. - Várias são as instituições e organizações do ramo da medicina
legal e ciências forenses locais e internacionais que têm desenvolvido
actividades e eventos visando a divulgação e uniformização dos
procedimentos no âmbito deste ramo da ciência em pleno desenvolvimento.

1.2 - Medicina Legal em Angola

Em Angola o exercício da medicina legal data da era colonial, cuja


estrutura jurídica e sistema organizativo eram similares as de Portugal até
antes da Independência (1975). - Era uma área que dependia organicamente
do Ministério Público, constituída por um grupo de médicos que eram
solicitados para realizar as perícias médico-legais nos diversos âmbitos. -
Pós independência, caracterizou-se por um deficit marcado na área da
medicina legal, com a saída de técnicos (nacionais) já escassos se não
mesmo inexistentes e falta de estímulos para atracção de novos quadros
nesta área. - Com novo vínculo orgânico “Ministério do Interior”, Direcção
Nacional de Investigação Criminal “DNIC”, o exercício da medicina legal
em Angola foi mantido pela cooperação estrangeira (cubana e russa) com
grande realce para os médicos Dr. Lopez, Dr.ª Gladez (ambos de Cuba) e
Dr. Valéry Miliotin (Rússia) mais tarde em 1987 – Dr. Gregori Chavlovsky
(Ucrânia). - 1996 Entrada do primeiro médico legista angolano o Prof.
Doutor Adão Manuel Sebastião - da escola russa, mais tarde dois outros
também da mesma escola, o Dr. Aurélio Ngueve (2000) e o Prof. Doutor
Óscar Panzo (2009-2011); - (2008-2012) primeira formação pelo executivo
de dezassete especialistas em Medicina Legal e Ciências Forenses ) na
República Portuguesa. - Apesar do vínculo orgânico ao Ministério do
Interior, a Medicina Legal serve de suporte para o apoio técnico-científico
ao Ministério Público, por intermédio dos instrutores processuais, com
grande realce ao âmbito penal. - Actualmente convertida em Departamento
Nacional, da DNIC sob tutela da Policia Nacional, um órgão do Ministério
do Interior, a Medicina Legal em Angola ainda rege-se no âmbito penal,
pelo ordenamento jurídico deixado por Portugal, com mais de 129 anos,
pois desde a independência ainda não foi alterado o código processual
penal de 1886. Até a data presente, ainda com um número bastante
reduzido de técnicos (19 médicos legistas angolanos e 4 expatriados), a
Medicina Legal em Angola depara-se com limitações: falta de
infraestruturas, de equipamento e meios técnicos, aprovações de diplomas

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legais, e de recursos humanos especializados nas diversas áreas de apoio a
Medina Legal…
1.3 - Cronologia de algumas efemérides em Medicina Legal
(44 a.C.) : primeira perícia (autópsia) médico-legal na história da Medicina
Legal - feito ao corpo de Júlio César.
1209: “Legislação Canónica” – Inocêncio III, decretou que os médicos
deveriam visitar os feridos que estivessem à disposição dos tribunais.
1234: “Decretales – Peritorum indício Medicorum “ – Gório IX exigia que
os médicos, devem seu parecer para diagnosticar entre as várias lesões a
que fosse mortal; Ou “De Probatione” - declarava nulidade do casamento
quando a mulher permanecia virgem, pois o casamento não se consumava.
1521: Necropsia do Papa Leão XIII, sob suspeita de morte por
envenenamento.
1525: “Editto della gran carta dalle Vicaria de Napoli” – Itália, que exigia o
parecer dos peritos profissionais, antes da decisão dos juízes.
1532: “Código Criminal Carolino (Legislação Carolina) – sob governo de
Carlos Magno foi promulgado a lei básica do Império Germânico, que
estabelece a intervenção do médico nos crimes de homicídios, abortos,
infanticídios, ofensas físicas, obrigando neste caso o exame de corpo delito,
da vítima bem como do acusado. Fica preceituado que os juízes devem se
apoiar nos médicos.
1575: Ambroise Paré escreve sua obra denominada “ Tratado dos
Relatórios” que entre ou temas de cirurgia, aborda temas médico legais
como: Asfixias, Feridas, Embalsamamentos, virgindade e outros.
1578: João Felipe Ingrassia, na Itália publica seu livro sobre Medicina
Legal.
1595: Batista Condrochi, Itália publica um tratado de Medicina Legal; e
Fortunato Fedele também publica sua obra de Medicina Legal. 1641: Paolo
Zachias e peritos da Rota Romana escrevem a obra “Questões Médicos
Legais”, em 3 volumes, que englobam – sexologia, psiquiatria, morte
milagrosa, etc. sendo considerado marco na história da Medicina Legal.
1836: Reforma do ensino em Portugal inclui o ensino da Medicina Legal.
1845: Lima Leitão em Portugal traduz o livro de Sedillot
1993: Reinício do ensino da Medicina Legal apenas na Faculdade de
Direito, Universidade António Agostinho Neto.
1996: Angola recebe o primeiro médico legista Angolano, formado na
Ucrânia Dr. Adão Manuel Sebastião.
2001: Reinício do ensino da Medicina Legal na Faculdade de Medicina de
Angola, Universidade António Agostinho Neto.

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2011: 1º Congresso de Medicina Legal dos Países de Língua Oficial
Portuguesa, Funchal- Madeira/ Portugal.
2008-2012: Instituto Nacional de Medicina Legal de Portugal, forma o
primeiro grosso de Médico Legistas de Angola (17 médicos) e cinco
Especialistas em Ciências Forenses.
2012: 2º Congresso de Medicina Legal dos Países de Língua Oficial
Portuguesa, Ceara/ Brasil
2016: 3º Congresso de Medicina Legal dos Países de Língua Oficial
Portuguesa, Luanda / Angola.

2- Conceito: Medicina Legal - A ampla abrangência do seu campo de


acção e íntimo relacionamento entre o pensamento biológico e o
pensamento jurídico explicam por que até o momento não se definiu, com
precisão, a Medicina Legal. As definições variam, conforme os autores.
Assim os autores têm, ao longo dos anos, tentado inúmeras definições
dentre as quais se destacam: - É uma ciência que emprega os
conhecimentos médicos e biológicos para auxiliar o direito na correcta
administração da justiça.
[Gisbert Calabuig, J. A. & Villanueva Cañadas, Magalhães T, ANTUNES
I, Vieira DN] - É uma especialidade médica e jurídica que utiliza
conhecimentos técnico-científicos da medicina para o esclarecimento de
factos de interesse da Justiça. Seu praticante é chamado de médico legista
ou simplesmente legista. [Gisbert Calabuig, J. A. & Villanueva Cañadas,
Magalhães T, ANTUNES I, Vieira DN]. "É a medicina a serviço das
ciências jurídicas e sociais". [Genival V. de França] Constitui a
sistematização de conhecimentos médicos especializados aplicados a
problemas legais específicos. Seu método é o de pesquisa operacional e o
objecto é o de realização da prova pericial. [Seixas Santos] À Medicina
Legal compete a missão de buscar um ponto entre o pensar jurídico e o
pensar biológico: Busca para garantir o bem-estar das pessoas, no sentido
de manter a integridade física e mental (direito) e minimizar os danos na
parte biológica (medicina). Devem os juristas ter conhecimento de
Medicina Legal a fim de saber o que deve ser pedido aos peritos, de um
lado, e de outro para poder interpretar o auxílio recebido: advogados devem
ter conhecimento para não prejudicar o cliente, deve saber interpretar o
resultado da perícia médica.
Desta forma, considera-se que compete à medicina legal, como ciência
social, não só o diagnóstico do caso mas, também, a contribuição, através
da perícia, para a «terapêutica» das situações e sobretudo para a sua

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prevenção e reabilitação/reintegração/reinserção. “O médico legista não é
o especialista dos cadáveres mas, antes, o especialista da avaliação da
violência ou, melhor ainda, da vítima, sejam as questões referidas a
pessoas mortas ou, como é mais frequente, a pessoas vivas”. [M. Teresa,
Medicina Legal, INTRODUÇÃO À MEDICINA LEGAL, Faculdade de
Medicina da Universidade do Porto, 2003/2004].
A Medicina Legal subdivide-se em duas grandes áreas a saber: Patologia
Forense e Clinica Forense.
3- Patologia Forense (Tanatologia Forense) A Tanatologia Forense é o
ramo das ciências forenses que partindo do exame do local, da informação
acerca das circunstâncias da morte, e atendendo aos dados do exame
necrópsico, procura estabelecer: - a identificação do cadáver - o mecanismo
da morte - a causa da morte - o diagnóstico diferencial médico-legal
(acidente, suicídio, homicídio ou morte de causa natural). Estes, são os
objectivos mais importantes da Tanatologia Forense, nem sempre fáceis de
atingir. As dificuldades que se colocam ao médico que é responsável pela
autópsia são por vezes muitas e de natureza muito diversa. Nem sempre é
possível estabelecer a identificação. Em casos em que os cadáveres são
encontrados em avançado estado de decomposição, que não são procurados
(nem por familiares, nem por forças policiais) e em que não há qualquer
informação sobre o caso, pode não se chegar à sua identificação. Nem
sempre é possível chegar a um diagnóstico sobre a causa da morte. É aqui
onde se realiza a autópsia “médico-legal” para o esclarecimento de cada
caso em investigação “CSI”
4- Clinica Forense
1. Objectivo e âmbito da intervenção da Clínica Forense
Área da Medicina Legal que tem como principal objectivo a avaliação de
danos na integridade físico-psíquica de uma pessoa, através da realização
de uma perícia, na perspectiva médico-biológica, que permitirá definir em
termos técnico-científicos e num determinado quadro jurídico, os danos
temporários e permanentes susceptíveis de serem objecto de sanção penal
e/ou indemnização, ou de benefícios fiscais ou sociais, entre outros. Este
tipo de actividade pericial é da responsabilidade dos Serviços de Clínica
Forense que, nos termos da lei é chamada a realizam exames em três áreas
relativamente distintas: a Clínica Médico-Legal, Psicologia Forense e a
Psiquiatria Forense. Iremos referir-nos aqui particularmente à Clínica
Médico-Legal, uma vez que as questões de Psicologia e Psiquiatria e serão
tratadas em capítulo específico. As perícias podem ser realizadas em
diferentes âmbitos do Direito, sendo-o, maioritariamente, em sede de

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Direito Penal, do Trabalho e Civil, mas podendo ter lugar noutros âmbitos
como, por exemplo, do Direito Administrativo ou de Família e Menores. A
etiologia das perícias é diversa, surgindo mais frequentemente associada a
agressões físicas, acidentes de trabalho e de viação, a maus tratos e a
crimes sexuais; casos há, no entanto, que podem ser relativos a outros tipos
de acidente (domésticos, desportivos, etc.), à avaliação do estado de
toxicodependência, do estado de saúde, etc.. Os exames efectuados em sede
de Direito Penal são, sobretudo, relativos a crimes contra a integridade
física (agressões e acidentes de viação), a crimes sexuais e a maus tratos ou
violência doméstica. Os exames efectuados em sede de Direito Civil são,
na sua grande maioria, relativos à avaliação do dano corporal pós-
traumático em casos de acidentes de viação e, por vezes, de agressão,
podendo haver lugar a outros exames neste âmbito como, por exemplo,
para avaliação do estado de saúde (casos de acção de despejo ou de
questões de seguros, entre outros), ou para determinação da idade ou do
sexo. Os exames efectuados em sede de Direito do Trabalho relacionam-se,
quase exclusivamente, com acidentes de trabalho. Estes exames, por lei,
são da competência da Medicina Legal, sempre que requeridos por
entidades judiciais ou judiciárias (Lei). Podem, no entanto, alguns deles ser
requeridos por entidades privadas, como as companhias de seguros, as
próprias vítimas ou, em casos específicos, pelos serviços hospitalares, pelas
Comissões de Protecção e Crianças e Jovens em Perigo, entre outros. As
perícias devem ser, maioritariamente, realizadas no Departamento de
Medicina Legal. No entanto, sempre que tal se revele necessário, podem
ser efectuadas, por exemplo, nos hospitais, em lares, em escolas ou
infantários, ou mesmo em casa das vítimas.

Referencia Bibliográfica

1- Gisbert Calabuig, J. A. & Villanueva Cañadas, Medicina Legal Y


Toxicologia, 6ª Edição, Editora Masson S.A., Barcelona, 6ª Edição,
Masson, Pág. 8 – 70
2- Oliveira Sá, Clínica Médico-Legal da reparação do dano Corporal em
Direito Civil. APADAC, Coimbra, 1992.
3- M. Teresa, Medicina Legal, INTRODUÇÃO À MEDICINA LEGAL,
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, 2003/2004)
4- Teresa Magalhães, Agostinho Santos, Diogo Pinto da Costa,
INTRODUÇÃO À MEDICINA LEGAL E OUTRAS CIÊNCIAS
FORENSES, Apontamento de Medicina Legal, FMUP, A cena do crime e

12
o exame do corpo no local, Apontamento de Medicina Legal,
FMUP,2010/2011, Porto
5- Agostinho Santos, Introdução à Patologia Forense, A cena do crime e o
exame do corpo no local, Apontamento de Medicina Legal, FMUP,
2010/2011,Porto
6- Agostinho Santos, Teresa Magalhães, Fátima Pinheiro, A cena do crime
e o exame do corpo no local, Apontamento de Medicina Legal, FMUP,
2010/2011,Porto
7- França, Genival Veloso, Medicina Legal, 8ª Edição, Editora Guanabara
Koogan, Rio de Janeiro, 2008
8- França Genival Veloso, Fundamentos de Medicina Legal, Editora
Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, PAG. 8-18 2005

 Gomes Hélio, Medicina legal, 33ª edição 2003


 Chavlovski Gregori, Medicina legal, colecção Faculdade Direito
UAN, 2002. Reedição 2014.
 Fascículo sobre autópsias ano lectivo 2004/2005 , Medicina legal -
Faculdade de Medicina UAN, Professor Doutor Adão Manuel
Sebastião.
 Delton Croce e Delton Croce Júnior, Manual de Medicina Legal, 5ª
edição, 2004
 Lições de Medicina Legal –Aurélio Rodrigues

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ANEXOS

ANATOMIA HUMANA – TERMOS ANATÓMICOS

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