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b) A dor de pensar – Explicações

As composições poéticas, “Ela canta pobre ceifeira” e “Gato que brincas na rua” são exemplos
da presença da temática “dor de pensar”.

No texto poético “Ela canta pobre ceifeira”, num primeiro momento o sujeito poético centra-se
num elemento exterior a ceifeira e o seu canto, procedendo à descrição de ambos (estrofes 1-3).
Posteriormente reflete sobre os seus sentimentos e emoções suscitadas pela visão da figura feminina
(estrofes 4-6).

Apesar de partir da focalização objetiva do conto da ceifeira enquanto trabalho, o sujeito


poético caracteriza esta mulher através do adjetivo “pobre” (v.1), apresentando de seguida, uma
possível explicação para o seu canto “Julgando-se feliz talvez” (v.2). Esta aparente felicidade perpassa na
sua voz “alegre”, todavia, o sujeito poético perceciona na mesma uma “anonima viuvez” (v.4), ou seja,
uma existência marcada pela perda e solidão.

A voz da ceifeira desperta no sujeito poético sentimentos antagónicos, como se percebe através
da antítese “Ouvi-la alegra e entristece” (v.9). Por um lado “alegra” por vê-la feliz em plena harmonia
com a natureza; por outro “entristece” porque está desenquadrado com a realidade, isto é, das duras
condições de vida no campo, nas quais a ceifeira parece não ter consciência, pois se tivesse, não teria
motivos para cantar.

Na verdade, há um contraste na forma como ambos percecionam a vida, a ceifeira, julgando-se


“feliz” (v.2), “canta sem razão” (v.13), isto é, não revela ter consciência da sua difícil condição; o sujeito
poético pelo contrário, tem consciência de que não consegue sentir sem pensar, sem intelectualizar as
suas emoções.

Perante isto, o sujeito poético aspira “poder ser tu sendo eu/ ter a tua alegre inconsciência/ e a
consciência disso” (v.17-19), o que encerra um paradoxo, dado que deseja ter consciência da ceifeira
por esta ser feliz sem pensar, tendo consciência disso.

Ciente de que é refém do pensamento dirige através de sucessivas apóstrofes aos elementos da
natureza (“o céu/ o campo/ o canção”, v.19-20) onde exprime o desejo de ser de certa forma,
contagiado por aquele campo simples e harmonioso, o que o conduziria à felicidade a que se vê privado
pela sua híper lucidez.

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