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As composições poéticas, “Ela canta pobre ceifeira” e “Gato que brincas na rua” são exemplos
da presença da temática “dor de pensar”.
No texto poético “Ela canta pobre ceifeira”, num primeiro momento o sujeito poético centra-se
num elemento exterior a ceifeira e o seu canto, procedendo à descrição de ambos (estrofes 1-3).
Posteriormente reflete sobre os seus sentimentos e emoções suscitadas pela visão da figura feminina
(estrofes 4-6).
A voz da ceifeira desperta no sujeito poético sentimentos antagónicos, como se percebe através
da antítese “Ouvi-la alegra e entristece” (v.9). Por um lado “alegra” por vê-la feliz em plena harmonia
com a natureza; por outro “entristece” porque está desenquadrado com a realidade, isto é, das duras
condições de vida no campo, nas quais a ceifeira parece não ter consciência, pois se tivesse, não teria
motivos para cantar.
Perante isto, o sujeito poético aspira “poder ser tu sendo eu/ ter a tua alegre inconsciência/ e a
consciência disso” (v.17-19), o que encerra um paradoxo, dado que deseja ter consciência da ceifeira
por esta ser feliz sem pensar, tendo consciência disso.
Ciente de que é refém do pensamento dirige através de sucessivas apóstrofes aos elementos da
natureza (“o céu/ o campo/ o canção”, v.19-20) onde exprime o desejo de ser de certa forma,
contagiado por aquele campo simples e harmonioso, o que o conduziria à felicidade a que se vê privado
pela sua híper lucidez.