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30 ANOS DA
CONSTITUIÇÃO
8818
CIDADÃ
DEBATES EM
SUA HOMENAGEM
20
A PROMESSA DEMOCRÁTICA: UM
BALANÇO DAS PROPOSTAS DE
INICIATIVA POPULAR LEGISLATIVA
NA ASSEMBLEIA NACIONAL
CONSTITUINTE E NOS 30 ANOS DA
CONSTITUIÇÃO DE 1988
Suellen Moura1
Thiago Burckhart2
Resumo
A Constituição cidadã de 1988 marcou história no constitucionalismo
brasileiro por ter sido redigida com uma expressiva participação popular reali-
zada por diversos instrumentos. A promessa democrática resultante deste
processo encontrou uma série de entraves, problemas e dificuldades ao longo
dos 30 anos de sua implementação. A falta de confiança nas instituições
políticas é um dos elementos que marcam a crise da democracia representa-
tiva e demonstra as contradições da promessa democrática. Nesse sentido,
o objetivo deste capítulo é de realizar um balanço da participação popular,
por meio de iniciativas legislativas, na Constituinte de 1988 e no período de
Introdução
O ideário democrático passou a fazer parte mais consistentemente do discurso
político logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. No Brasil, a democracia contem-
porânea passou a ser gestada logo após o fim da ditadura militar, tendo por um de
seus maiores símbolos a Assembleia Nacional Constituinte que resultou na elaboração
da Constituição de 1988. A Assembleia Nacional Constituinte, portanto, se insere na
dinâmica de construção política e jurídica de uma promessa democrática, assentada
numa concepção substancial de democracia que corresponde à positivação e efetivação
de novos direitos, tendo sido reconhecida a participação popular como elemento
fundamente da soberania popular.
Este capítulo tem por objetivo fornecer subsídios teóricos pare refletir sobre a
construção da promessa democrática no Brasil por meio da Constituição de 1988.
Para tanto, será realizado um balanço da participação popular realizada por meio
das propostas de iniciativa popular legislativas no âmbito da Assembleia Nacional
Constituinte e ao longo dos 30 anos de vigência do texto constitucional. O estudo
3 Para aprofundamentos, ver: SARTORI, Giovanni. Democrazia: cosa è? Roma: Rizzoli Libri, 2006; MIGUEL,
Luis Felipe. Democracia e representação: territórios em disputa. São Paulo: Editora UNESP, 2014; DAHL,
Robert. Sobre a democracia. Tradução de Beatriz Sidou. Brasília: Editora da UnB, 2001; PATEMAN, Carole.
Participação e teoria democrática. Tradução de Luiz Paulo Rouanet. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
4 HOBSBAWN, Eric. Globalização, democracia e terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 97.
5 “Com efeito, na oratória política do nosso tempo, que em sua quase totalidade pode ser descrita, nas
palavras do grande Leviatã de Thomas Hobbes, como “discurso insignificante”, o termo “democracia”
tem como significado esse modelo-padrão de Estado; e isso significa um Estado constitucional, que
oferece a garantia do império da lei e de vários direitos e liberdades civis e políticas e é governado
por autoridades, que devem necessariamente incluir assembléias representativas, eleitas por sufrágio
universal e por maiorias numéricas entre todos os cidadãos, em eleições realizadas a intervalos regulares
entre candidatos e/ou organizações que competem entre si. Os historiadores e os cientistas políticos
podem recordar-nos, e com razão, de que esse não é o significado original de democracia e de que com
certeza não é o único”. HOBSBAWN, Eric. Globalização, democracia e terrorismo, p. 98.
6 Para aprofundamentos, ver: ACKERMAN, Bruce. The rise of world constitutionalism. Yale Law School,
1997.
7 HÄBERLE, Peter. Teoría de la Constitución como ciencia de la cultura. Madrid: Tecnos, 2000.
8 Para uma análise crítica, ver: ELSTER, Jon. Forças e mecanismos no processo de elaboração da
constituição. In BIGONHA, Antonio Carlos Alpino; MOREIRA, Luiz (orgs). Limites do Controle de
Constitucionalidade. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.
9 Nesse sentido, utiliza-se a distinção realizada por Chantal Mouffe entre “político” e “política”. De acordo
com a autora, o termo “político” se refere a uma dimensão maior, marcada pelas relações de poder em
uma sociedade. Já o termo “política” designa a política institucional realizada no âmbito de cada Estado.
Cfe. MOUFFE, Chantal. El retorno de lo político: comunidade, ciudadanía, pluralismo, democracia radical.
Buenos Aires: Paidós, 1999.
10 ALVES, José Carlos Moreira. Discurso de instalação da Assembleia Nacional Constituinte. Revista
Ciência Jurídica, v. 3, n. 26, p. 33-39, mar/abr. 1989, p. 08.
12 VERSIANI, Maria Helena. Constituição de 1988: a voz e a letra do cidadão. Revista Democracia Viva, n.
40, setembro de 2008.
14 HERKENHOFF, João Baptista. Gênese dos Direitos Humanos. 2. ed. Aparecida, SP: Santuário, 2002.
15 “Há, portanto, representativo e oxigenado sopro de gente, de rua, de praça, de favela, de fábrica, de
trabalhadores, de cozinheiros, de menores carentes, de índios, de posseiros, de empresários, de
estudantes, de aposentados, de servidores civis e militares, atestando a contemporaneidade e
autenticidade social do texto que ora passa a vigorar.” Trecho do discurso de Ulysses Guimarães na
promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, em 5 de outubro de 1988.
16 CHINAGLIA, Arlindo. A reconquista da cidadania. In. BACKES, Ana Paula; AZEVEDO, Débora Bithiah de. A
sociedade no parlamento: imagens da Assembleia Nacional Constituinte de 1987/1988. Brasília: Câmara
dos Deputados, 2008, p. 09.
17 CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil. O longo Caminho. 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2002, p. 7.
18 DE PAULA, Regina. Documentário Cartas ao País dos Sonhos. Brasília: TV Senado, 2013.
21 Gráfico extraído de: BRANDÃO, Luis Coelho. Os movimentos sociais e a Assembleia Nacional Constituinte
de 1987-1988: entre a política institucional e a participação popular, Op. Cit., p. 82.
Como José Afonso da Silva afirma, o processo de elaboração do texto que resultou
na Constituição de 1988 foi permeado por uma dinâmica de embate entre conservadores
e progressistas. Tanto a Comissão Afonso Arinos (Comissão Provisória de Estudos
Constitucionais) como a Assembleia Nacional Constituinte, como um todo, eram
compostas de maioria conservadora que entraram em constante embate com a minoria
progressista. No entanto, foram produzidos resultados razoavelmente progressistas23
ao longo da Assembleia Constituinte. Os conflitos também se mostraram presentes
nos processos de crise da Constituinte, como foi o caso do “Centrão”, a inatividade
da Comissão e Sistematização em 1987, a interrupção dos trabalhos da Constituinte
entre 18.11.1987 a 28.1.1988, o processo de realização de acordos políticos, dentre
outros24. No entanto, prevaleceu na Assembleia Nacional Constituinte, como resultado,
a elaboração de um documento essencialmente progressista que primou pela cidadania
enquanto fundamento da República Federativa do Brasil (art. 1º, inciso II), e pela forma
democrática, inscrita na noção de “Estado democrático de direito” (art. 1º, caput),
23 SILVA, José Afonso da. O processo de formação da Constituição de 1988. In: LIMA, João Alberto de
Oliveira. A gênese do texto da Constituição de 1988. Brasília: Senado Federal, 2013, p. XXIV – XXV.
24 Para aprofundamentos sobre as dinâmicas da Constituinte, bem como sobre o processo de modernização
do direito, ver: KOERNER, Andrei; FREITAS, Lígia Barros de. “O Supremo na Constituinte e a Constituinte no
Supremo”. Lua Nova, São Paulo, 88: 141-184, 2013; e, QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. A modernização do
direito penal brasileiro. São Paulo: Quartier Latin, 2007.
Tal participação ocorreu sobretudo por meio das chamadas “emendas populares”25.
Assegurado pelo art. 24 do Regimento Interno da Assembleia Nacional Constituinte,
as emendas teriam que ser subscritas por pelo menos trinta mil eleitores, em listas
organizadas por, no mínimo, três entidades associativas legalmente constituídas,
responsáveis pela idoneidade das assinaturas. Ao todo foram recebidas 122 emendas
populares, apresentadas à Comissão de Sistematização. Elas foram marcadas por
uma heterogeneidade temática, variando de termas desde esportes até desarmamento
nuclear, além de uma heterogeneidade de entidades responsáveis, o que demonstra a
pluralidade de atores e perspectivas que tentaram influenciar o processo político na
Constituinte –entidades sindicais, associações profissionais, técnicas, científicas ou
acadêmicas; entidades religiosas; entidades patronais ou empresariais; entidades civis
(defesa dos direitos humanos, consumidor, de minorias, de mulheres, associações de
moradores, entidades estudantis, etc.) e instâncias ou entidades ligadas aos poderes
executivo ou legislativo (associações de municípios, câmaras de vereadores, assem-
bleias legislativas, prefeituras, dentre outros).
25 Para aprofundamento, ver: MICHELS, Carlos. Cidadão constituinte: a saga das emendas populares. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
A ANC pode ser entendica, nesse contexto, como a construção de uma promessa
democrática que redefine os limites até então estabelecidos do que era – e do que podia
ser – a democracia e a cidadania. O desenho de Estado estabelecido na Constituição
ampliou a possibilidade efetiva da construção de um novo modelo de sociedade,
baseado e fundado na cidadania. As emendas populares, por terem sido um mecanismo
de participação popular bem sucedido, demonstram empiricamente a vontade popular
por mudanças estruturais na ordem da política estatal, indicado pela homogeneidade
de temáticas incluídas nas propostas recebidas.
29 MARMELSTEIN, George. Curso de Direitos Fundamentais. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 186.
30 URBINATI, Nadia. Crise e Metamorfoses da democracia. Tradução de Pedro Galé e Vinicius de Castro
Soares. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, n. 82, jun. 2013, p. 06.
Ao discorrer sobre esse direito, o autor elucida a participação como o direito dos
direitos, não exatamente por ser um direito moralmente superior, mas, precisamente,
porque consiste em um direito apropriado no caso em que os indivíduos divergem
sobre os direitos que possuem. Aludindo à concepção de Karl Marx sobre ser o direito
de participação um direito negativo34, o autor traça uma via alternativa de encarar esse
31 WALDRON, Jeremy. Derechos y desacuerdos. Madrid: Marcial Pons, 2005, p. 281, (tradução nossa).
32 Ibidem, p. 281.
33 Ibidem, p. 281.
34 Karl Marx dividiu direitos do homem de direitos do cidadão, estabelecendo, em síntese, que o primeiro é
o direito do homem egoísta, separado dos demais homens da sociedade e, o segundo, direitos políticos
que só podem ser exercidos em comunidade com outros homens. Nesse sentido, Waldron defende que
o direito de participação não constitui um direito negativo, pois o direito ao voto, por exemplo, não pode
ser garantido pela legislação – esta apenas impõe limites ao governo executivo. Ainda, também não
consiste em uma liberdade negativa para expressar uma preferência por um político favorito. O direito
ao voto vai além e requer muito mais que uma abstenção; requer instituições e operações de sistemas
administrativos, mão-de-obra, recursos, pessoal para executar ações do governo, etc. WALDRON, Jeremy.
Derechos y desacuerdos. Madrid: Marcial Pons, 2005, p. 279, (tradução nossa).
36 Cf. WALDRON, Jeremy. Derechos y desacuerdos. Madrid: Marcial Pons, 2005, p. 285, (tradução nossa).
37 URBINATI, Nadia. Crise e Metamorfoses da democracia. Tradução de Pedro Galé e Vinicius de Castro
Soares. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, n. 82, jun. 2013, p. 07.
38 Ibidem, p. 07.
A Lei originariamente não previa em seu rol o crime de homicídio qualificado que
trata de crimes de maior gravidade, cujo delito compreende a incidência da intenção de
matar aliado a algum fator que tornou o crime ainda mais grave (motivo fútil ou torpe,
meios cruéis, acobertamento de outro crime e dificultação de defesa). Em dezembro de
1992, a atriz Daniella Perez, filha da autora de telenovelas Glória Perez, foi brutalmente
assassinada por Guilherme de Pádua, e sua esposa, Paula Nogueira Thomaz. Daniela
era protagonista de uma novela da Rede Globo naquele ano, motivo pelo qual o episódio
causou profunda comoção popular. Além disso, a mãe da atriz denunciou as “regalias”
a que os autores do crime tinham direito, ou seja, mesmo sendo acusados de homicídio
qualificado, os acusados tiveram direito a fiança e, quando condenados, cumpriram
parte da pena em regime semiaberto.
39 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto de Lei n. 113, de 1994. Dá nova redação ao art. Primeiro da Lei 8072,
de 25 de julho de 1990, que dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. Quinto, inciso XLIII,
da Constituição Federal, e determina outras providências. Disponível em: https://www25.senado.leg.br/
web/atividade/materias/-/materia/22214, Acesso em 01 ago. 2018.
42 SENADO FEDERAL. Projeto de Lei da Câmara n° 45, de 1999–LEI DA CORRUPÇÃO ELEITORAL. Disponível
em: <https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/41854>. Acesso em: 01 ago.
2018.
44 Ibidem, p. 13.
Por fim, o quarto projeto de lei de inciativa popular corresponde à Lei Complementar
135/2010: a Lei da Ficha Limpa. O Projeto de Lei da Câmara n° 58, de 2010 (comple-
mentar) (Nº na origem: PLP 168/1993) foi registrado como autoria da Câmara dos
Deputados, inciativa do Presidência da República.49 Apresentado em 22/10/1993,
o projeto pretendeu alterar a Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, que
estabelece, de acordo com o § 9º do art. 14 da Constituição Federal, casos de inelegi-
bilidade, prazos de cessação e determina outras providências, para incluir hipóteses
de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no
45 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Combatendo a corrupção eleitoral. Biblioteca Digital da Câmara dos
Deputados–Centro de Documentação e Informação Coordenação de Biblioteca, Brasília, 1999. Disponível
em: <http://bd.camara.gov.br>.
46 SENADO FEDERAL. Projeto de Lei da Câmara n° 36, de 2004. Disponível em: <https://www25.senado.leg.
br/web/atividade/materias/-/materia/68396>. Acesso em: 01 ago. 2018.
48 ANDRÉ, Daniela. Moradia: Proposta de iniciativa popular. Câmara Agência Notícias, 07 ago. 2002.
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/agencia/noticias/21644.html>. Acesso em: 01 ago. 2018.
O projeto foi encabeçado por entidades que fazem parte do Movimento de Combate
à Corrupção Eleitoral (MCCE), e mobilizou vários setores da sociedade brasileira, entre
eles, a Associação Brasileira de Magistrados, Procuradores e Promotores Eleitorais
(Abramppe), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB), organizações não governamentais, sindicatos, associações e confederações
de diversas categorias profissionais, além da Igreja católica. Foram obtidas mais de 1
milhão e 600 mil assinaturas em apoio.51
Dos quatro projetos que se originaram da iniciativa popular, três deles versam
sobre pontos de forte apelo popular: corrupção e penas para crimes hediondos. Dois
desses projetos versaram sobre temas relacionados à corrupção, tema que vem à
mente de grande parte dos brasileiros quando o assunto é política. Esse contexto
demonstra, em alguma medida, que há uma preocupação, em tese, a com a lisura dos
agentes públicos. Se essa preocupação é parte de um projeto maior de criminalização
da própria política já é um assunto que não cabe refletir neste artigo52. Outro projeto
tratou de uma questão penal muito importante e ainda teve respaldo em um episódio
trágico, que causou comoção nacional, além de contar com a iniciativa de uma pessoa
conhecida pelo público, Glória Perez. Por fim, dos quatro projetos, pode-se dizer que o
mais peculiar é o que criou Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social, que teve
interesse popular por tentar resolver o problema da moradia no país. Ele também foi
o projeto que mais demorou para ser aprovado (14 anos, ao todo).53
Uma nova forma de participação por iniciativa popular tem sido pensada. A coleta
de assinaturas de apoio a projetos de lei de iniciativa popular poderá ser feita pela
Internet, sendo que a mudança está entre as sugestões da comissão especial da
51 LADEIRA, Beatriz Maria do Nascimento. Compreendendo a Lei da Ficha Limpa. Tribunal Superior Eleitoral,
Revista eletrônica EJE n.4, ano 5. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/o-tse/escola-judiciaria-eleitoral/
publicacoes/revistas-da-eje/artigos/revista-eletronica-eje-n.-4-ano-5/digressoes-sobre-as-doacoes-de-
campanha-oriundas-de-pessoas-juridicas>. Acesso em: 01 ago. 2018.
53 4 PROJETOS de iniciativa popular que viraram leis. Politize. Disponível em: < http://www.politize.com.
br/4-projetos-de-iniciativa-popular-que-viraram-leis/>. Acesso em: 01 ago. 2018.
Alguns dados, obtidos de pesquisas sobre a confiança nas instituições podem ser
destacados. “Retratar a confiança do cidadão em uma instituição significa identificar
se o cidadão acredita que essa instituição cumpre a sua função com qualidade, se faz
isso de forma em que benefícios de sua atuação sejam maiores que os seus custos e
se essa instituição é levada em conta no dia-a-dia do cidadão comum”56.
54 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Coleta de assinaturas de apoio a projetos de lei de iniciativa popular poderá
ser feita pela Internet. Câmara dos Deputados, 09 fev. 2018. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/
camaranoticias/noticias/POLITICA/553306-COLETA-DE-ASSINATURAS-DE-APOIO-A-PROJETOS-DE-LEI-
DE-INICIATIVA-POPULAR-PODERA-SER-FEITA-PELA-INTERNET.html>. Acesso em: 03 ago. 2018.
55 WALDRON, Jeremy. Derecho y desacuerdos. Madrid: Marcial Pons, 2005, p. 295, (tradução nossa).
57 ICJBRASIL 2017: Confiança da população nas instituições cai. FGV, 24 out. 2017. Disponível em: <https://
portal.fgv.br/noticias/icjbrasil-2017-confianca-populacao-instituicoes-cai>. Acesso em: 03 ago. 2018.
58 Foram realizadas 2.824 entrevistas presenciais em 174 municípios, com margem de erro máxima 2 pontos
percentuais para mais ou para menos considerando um nível de confiança de 95%. Isto significa que se
fossem realizados 100 levantamentos com a mesma metodologia, em 95 os resultados estariam dentro
da margem de erro prevista. Disponível em: < http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2018/06/15/
e262facbdfa832a4b9d2d92594ba36eeci.pdf>. Acesso em: 03 ago. 2018.
59 DATAFOLHA. Partidos, Congresso e Presidência são instituições menos confiáveis do país. Datafolha
Instituto de Pesquisas, São Paulo, 15 jun. 2018. Disponível em: <https://datafolha.folha.uol.com.br/
opiniaopublica/2018/06/1971972-partidos-congresso-e-presidencia-sao-instituicoes-menos-confiaveis-
do-pais.shtml>. Acesso em: 03 ago. 2018.
60 MIGUEL, Luis Felipe. Democracia e representação: territórios em disputa. 1 ed. São Paulo: Editora Unesp,
2014.
61 LEFORT apud MIGUEL, Luis Felipe. Democracia e representação: territórios em disputa. 1 ed. São Paulo:
Editora Unesp, 2014., p. 13.
Atentos a isso, é preciso uma construção não apenas de uma cultura democrática,
mas também “investigar o próprio sentido de democracia”65. Isso porque,
62 Ibidem, p. 14.
63 “Condorcet demonstrou, já no século XVIII, que, na presença de mais de duas alternativas e mais de duas
pessoas votantes, há sempre o risco de que escolhas de indivíduos racionais levem a resultados coletivos
irracionais. A partir dele, Kenneth Arrow estabeleceu, no século XX, que a soma das racionalidades
individuais não produz uma racionalidade coletiva”. Ibidem, p. 14.
64 Cf. MIGUEL, Luis Felipe. Democracia e representação: territórios em disputa. 1 ed. São Paulo: Editora
Unesp, 2014., p. pp. 15-17.
65 Ibidem, p. 27.
Quando uma democracia se encontra fragilizada, quase nada é tão frágil quanto
defender seu fim ao invés de tentar aprimorá-la. Democracia e representação são
territórios em disputa e são formas de exercício de poder. É verdade que autorização e
accountability (obrigação que os poderes públicos têm de se responsabilizar por seus
atos) são instrumentos que promovem a incerteza quanto ao exercício do poder, que,
como dizia Przeworski, é a marca da política democrática67. Mas, se são insuficientes,
como de fato são, nem por isso são descartáveis. “Formas de representação que deles
prescindem, como porta-vozes auto instituídos, quase com certeza estarão em pior
situação no que se refere a seu caráter democrático”68.
Considerações finais
A promessa democrática inscrita na Constituição de 1988 é marcada por uma
série de contradições. Em efeito, apesar do processo participativo da ANC ter resultado
em uma Constituição cujo texto é marcadamente progressista, em que sua plena
realização teria a potencialidade de transformar uma realidade ainda marcada pela
desigualdade – das mais variadas naturezas, política, social, econômica, cultural,
dentre outras – é fato, entretanto, que o processo de aplicação e concretização da
Constituição é marcado por uma série de conflitos de natureza política. O fato de
que em 30 anos de vigência somente tenham sido aprovados 4 projetos de iniciativa
popular em âmbito nacional demonstra a frágil cultura política de grande parte do povo
brasileiro, que por desconhecimento ou desinteresse não participa da vida política
ativamente da vida política nacional.
66 URBINATI, Nadia. Crise e Metamorfoses da democracia. Tradução de Pedro Galé e Vinicius de Castro
Soares. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, n. 82, jun. 2013, p. 6.
67 PRZEWORSKI, Adam. Ama a incerteza e serás democrático. In: Novos Estudos, São Paulo, n. 9, p. 36-46,
1984 [1983].
68 MIGUEL, Luis Felipe. Democracia e representação: territórios em disputa. 1 ed. São Paulo: Editora Unesp,
2014.
Referências
ACKERMAN, Bruce. The rise of world constitutionalism. Yale Law School, 1997.
ALVES, José Carlos Moreira. Discurso de instalação da Assembleia Nacional
Constituinte. Revista Ciência Jurídica, v. 3, n. 26, p. 33-39, mar/abr. 1989.
ANDRÉ, Daniela. Moradia: Proposta de iniciativa popular. Câmara Agência Notícias,
07 ago. 2002.
BRANDÃO, Luis Coelho. Os movimentos sociais e a Assembleia Nacional Constituinte
de 1987-1988: entre a política institucional e a participação popular. Dissertação de
Mestrado em Sociologia. Universidade de São Paulo, 2011.
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Combatendo a corrupção eleitoral. Biblioteca Digital
da Câmara dos Deputados–Centro de Documentação e Informação Coordenação de
Biblioteca, Brasília, 1999.
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Coleta de assinaturas de apoio a projetos de lei de
iniciativa popular poderá ser feita pela Internet. Câmara dos Deputados, 09 fev. 2018.