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Pronome

Pronome – é a classe de palavras que reúne unidades em número limitado e que se refere a um
significado léxico pela situação ou por outras palavras do contexto. De modo geral, esta
referência é feita a um objeto substantivo considerando-o apenas como pessoa localizada do
discurso. (falar sobre a dimensão vazia do signo)

Pessoas do discurso

Pessoas do discurso – São duas as pessoas determinadas do discurso: 1.ª eu (a pessoa


correspondente ao falante) e 2.ª tu (correspondente ao ouvinte). A 3.ª pessoa, indeterminada,
aponta para outra pessoa em relação aos participantes da relação comunicativa.

Do ponto de vista semântico, os pronomes estão caracterizados porque indicam dêixis (“o
apontar para”), isto é, estão habilitados, como verdadeiros gestos verbais, como indicadores,
determinados ou indeterminados, ou de uma dêixis contextual a um elemento inserido no
contexto, como é o caso, por exemplo, dos pronomes relativos, ou de uma dêixis ad oculos,
que aponta ou indica um elemento presente ao falante. A dêixis será anafórica se aponta para
um elemento já enunciado ou concebido, ou catafórica, se o elemento ainda não foi enunciado
ou não está presente no discurso.

A dêixis também envolve, como vimos, o lugar da 3.ª pessoa no discurso, só que de maneira
negativa, em relação a eu e tu, que tem localização definida. Por isso é que línguas há, como o
português, que podem fazer, quando isto se impõe, a distinção entre localização
indeterminada e localização determinada ou imediatamente determinável (“objeto que se
encontra à vista dos falantes”: aquele / aquele ali, aquela lá). Acrescenta Coseriu, de quem
tomamos a lição, que é por este caráter relativamente indeterminado da 3.ª pessoa que a
situação possessiva que lhe corresponde às vezes pode necessitar de ulteriores
esclarecimentos: seu / seu mesmo, seu próprio, seu dele [ECs.1, 301 n.37].

A localização positiva de ele ou aquele pode ainda dar-se pelos entornos extralinguísticos ou
pelo gesto, que indica a direção em que o objeto pode achar-se. Os pronomes podem
apresentar-se como absolutos – capazes de funcionar como núcleo de sintagma nominal, à
maneira dos substantivos – ou como adjuntos do núcleo, à maneira dos adjetivos, dos artigos e
dos numerais, como veremos abaixo.

Classificação dos pronomes

Classificação dos pronomes – Os pronomes podem ser: pessoais, possessivos, demonstrativos


(abarcando o artigo definido), indefinidos (abarcando o artigo indefinido), interrogativos e
relativos.
Pronomes pessoais – Os pronomes pessoais designam as duas pessoas do discurso e a não
pessoa (não eu, não tu), considerada, pela tradição, a 3.ª pessoa:

1.ª pessoa: eu (singular), nós (plural),

2.ª pessoa: tu (singular), vós (plural) e

3.ª pessoa: ele, ela (singular), eles, elas (plural).

As formas eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles, elas, que funcionam como sujeito, se dizem
retas.

A cada um destes pronomes pessoais retos corresponde um pronome pessoal oblíquo que
funciona como complemento e pode apresentar-se em forma átona ou forma tônica. Ao
contrário das formas átonas, as tônicas vêm sempre presas à preposição:

pronomes pessoais retos pronomes pessoais oblíquos


átonos (sem prep.) tônicos (c/prep.)

Singular: 1.ª pessoa: eu me mim

2.ª pessoa: tu te ti

3.ª pessoa: ele, ela lhe, o, a, se ele, ela, si

Plural 1.ª pessoa: nós Nos nós

2.ª pessoa: vós Vos vós

3.ª pessoa: eles, elas lhes, os, as, se eles, elas, si

Exemplos de pronomes oblíquos átonos:

“Queixamo-nos da fortuna (destino) para desculpar a nossa preguiça” [MM].

“A melhor companhia acha-se em uma escolhida livraria” [MM].

Exemplos de pronomes oblíquos tônicos:


“Os nossos maiores inimigos existem dentro de nós mesmos: são os nossos erros, vícios e paixões”
[MM].

“As virtudes se harmonizam, os vícios discordam entre si” [MM].

Se a preposição é com, dizemos comigo, contigo, consigo, conosco, convosco, e não: com mi,
com ti, com si, com nós, com vós.

Pronome oblíquo reflexivo – É o pronome oblíquo da mesma pessoa do pronome reto,

significando a mim mesmo, a ti mesmo, etc.:

Eu me vesti rapidamente.

Nós nos vestimos.

Eles se vestiram.

Pronome oblíquo recíproco – É representado pelos pronomes nos, vos, se quando traduzem
a ideia de um ao outro, reciprocamente:

Nós nos cumprimentamos (um ao outro).

Eles se abraçaram (um ao outro).

Formas de tratamento – Existem ainda formas substantivas de tratamento indireto de 2.ª


pessoa que levam o verbo para a 3.ª pessoa. São as chamadas formas substantivas de
tratamento ou formas pronominais de tratamento:

você, vocês (no tratamento familiar)

o Senhor, a Senhora (no tratamento cerimonioso)

A estes pronomes de tratamento pertencem as formas de reverência que consistem em nos


dirigirmos às pessoas pelos seus atributos ou qualidades que ocupam:

Vossa Alteza (V. A., para príncipes, duques)

Vossa Eminência (V. Em.ª, para cardeais)

Pronomes possessivos

São os que indicam a posse em referência às três pessoas do discurso:

Singular:
1.ª pessoa: meu minha

2.ª pessoa: teu tua

3.ª pessoa: seu sua

Plural:

1.ª pessoa: nosso nossa

2.ª pessoa: vosso vossa

3.ª pessoa: seu sua

Pronomes demonstrativos – São os que indicam a posição dos seres em relação às três
pessoas do discurso. Esta localização pode ser no tempo, no espaço ou no discurso:

1.ª pessoa: este, esta, isto

2.ª pessoa: esse, essa, isso

3.ª pessoa: aquele, aquela, aquilo

Este livro é o livro que está perto da pessoa que fala; esse livro é o que está longe da pessoa
que fala ou perto da pessoa com quem se fala; aquele livro é o que se acha distante da 1.ª e da
2.ª pessoa.

Nem sempre se usam com este rigor gramatical os pronomes demonstrativos; muitas
vezes interferem situações especiais que escapam à disciplina da gramática.

Pronomes indefinidos – São os que se aplicam à 3.ª pessoa quando têm sentido vago ou

exprimem quantidade indeterminada. Funcionam como pronomes indefinidos substantivos,


todos invariáveis: alguém, ninguém, tudo, nada, algo, outrem.

“Ninguém mais a voz sentida

Do Trovador escutou!” [GD].

São pronomes indefinidos também, todos variáveis com exceção de cada: nenhum, outro
(também isolado), um (também isolado), certo, qualquer (só variável em número: quaisquer),
algum, cada:

“As tiras saem-lhe das mãos, animadas e polidas. Algumas trazem poucas emendas ou nenhumas” [MA.2, 274].

“A vida a uns, a morte confere celebridades a outros” [MM].


Locução Pronominal Indefinida – É o grupo de palavras que vale por um pronome indefinido.
Eis as principais locuções: cada um, cada qual, alguma coisa, qualquer um, quem quer, quem
quer que, o que quer que, seja quem for, seja qual for, quanto quer que, o mais (hoje menos
frequente que a maior parte, a maioria):

“As verdades não parecem as mesmas a todos, cada um as vê em ponto diverso de perspectiva” [MM].

Pronomes interrogativos – São os pronomes indefinidos quem, que, qual e quanto que se
empregam nas perguntas, diretas ou indiretas:

Quem veio aqui?

Que cabeça, senhora?

Que compraste?

Qual autor desconhece?

Qual consideras melhor?

Quantos vieram?

Quantos anos tens?

Em lugar de que pode-se usar a forma enfática o que:

“Agora por isso, o que será feito de frei Timóteo?! Era naquele tempo um frade guapo e alentado! O que será
feito dele?” [AH.4, II, 135].

Pronomes relativos – São os que normalmente se referem a um termo anterior chamado


antecedente:

Eu sou o freguês que por último compra o jornal.

O que se refere à palavra freguês.

O pronome relativo que desempenha dois papéis gramaticais: além de sua referência ao
antecedente como pronome, funciona também como transpositor de oração riginariamente
independente a adjetivo e aí exercer função de adjunto adnominal deste mesmo antecedente.

No exemplo, a oração O freguês compra por último o jornal é degrada a função de adjunto
adnominal na oração complexa: Eu sou o freguês que por último compra o jornal.

Os pronomes relativos são: qual, o qual (a qual, os quais, as quais) , cujo (cuja, cujos, cujas),
que, quanto (quanta, quantos, quantas), onde.
José

E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, você?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama, protesta?

e agora, José?

Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,


não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José?

E agora, José?

Sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio — e agora?

Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora?

Se você gritasse,

se você gemesse,
se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse...

Mas você não morre,

você é duro, José!

Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, José!

José, para onde?

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