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O Tarô, apesar de nos chegar da antiguidade sem um manual de instruções, sempre foi
operado da forma oracular clássica: uma pessoa, denominada Consulente, elabora um
questionamento ou pergunta a uma segunda pessoa, o agente canalizador da resposta ou
conselho, denominado aqui por Tarólogo.
O desenvolvimento do jogo se processa em três momentos distintos: inicialmente o
Consulente verbaliza seu questionamento, e solicita uma resposta ou aconselhamento ao
Oráculo. O Tarólogo então manipula as cartas e, com a ajuda do Consulente, são escolhidas
algumas que são deitadas sobre a mesa. Por fim o Tarólogo interpreta o Oráculo mediante a
disposição que as cartas assumiram.
Diante desta dinâmica, qualquer estudante sério imediatamente deve perguntar-se: de que
maneira a escolha de algumas cartas de forma aleatória de um conjunto maior, cuja
sequência foi pervertida por múltiplos embaralhamentos, pode responder de maneira coerente
aos questionamentos que lhe são dirigidos?
Chamo a atenção do leitor porque aqui parece residir o cerne da validação ou não deste
instrumento. Reflitamos. Ora, a mera aleatoriedade não pode responder coerentemente a
questionamentos específicos. Não podemos relegar à sorte a explicação de sua aparente
coerência se quisermos tratar seriamente o Tarô.
Se durante a leitura de um texto comum como um jornal ou um anúncio, as frases nos fazem
sentido, de modo a compreendermos uma informação por ela veiculada é porque houve uma
intencionalidade em sua construção por parte de outra consciência (o escritor) com o qual
partilhamos certos códigos construtivos que chamamos de gramática, semântica, enfim, da
língua que utilizamos.
Achar que a mera justaposição aleatória de palavras poderá construir textos coerentes é
reduzir a comunicação a um dadaísmo estéril e sem função para além da negação do próprio
código. Assim, se determinada sequência de Arcanos deitados à mesa, apresenta, reiteradas
vezes, inegável coerência, esta sequência só pode ter sido estabelecida de forma intencional,
ou seja, não aleatória. Porém, se a metodologia de escolha das cartas utilizada pelo Tarô não
se dá de forma aleatória, como o processo aparentemente sugere, visto as cartas serem
embaralhadas de forma caótica, onde reside seu princípio inteligente? De onde seus arroubos
de sabedoria, e, sobretudo, como isto se manifesta durante o jogo?
E cá estamos diante da pedra de toque de toda mancia. É nesse ponto, inexplicavelmente não
tratado pela grande maioria dos livros de Tarô, que se separam os estudantes sérios dos
deslumbrados.
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01/12/2020 A mecânica do tarô e os operadores do oráculo. - Clube do Tarô - Tarot
Os operadores do oráculo
O que torna coerente a disposição das cartas é uma interferência espiritual! É a participação
de outra Consciência Autônoma, que se aproxima do ritual (é um ritual!) porque, por alguma
razão, sente simpatia pelo que é realizado e, sobretudo, por irmanarem-se em certos
objetivos comuns, mesmo que não tenhamos consciência disso.
Os que não acreditam nem operam nesta conexão com outra Consciência, independente do
nome que lhe dê, dificilmente obterão do Tarô sua amplitude filosófica. E, pior ainda, podem
ver-se como joguete de Consciências pouco desenvolvidas, que com o tempo poderão lhe
soprar pensamentos menos nobres.
Para os menos avisados vou direto ao assunto: existe um mundo espiritual, existe a
coexistência de vários planos de Consciências, e por mais que a humanidade ainda não tenha
compreendido, existe um grande plano do qual fazemos parte e uma de nossas funções nesta
existência é compreendermos nosso lugar nesse todo.
Por mais subjetivo que possa parecer, há uma tendência à evolução que perpassa todos os
seres e que, no caso de um Tarólogo sincero, cujos objetivos forem ealmente nobres, por
certo atrairá, do plano espiritual, Guias e Auxiliares que compreendem a disposição do
estudante para a execução de uma tarefa da qual ainda não se deu conta por completo.
Essas Consciências podem ser compreendidas de várias maneiras, desde Egrégoras que o
universo espiritual tem desenvolvido desde muito, até Guias Pessoais e Protetores. Para Sarah
Bartlett (A Bíblia do Tarot): “As 78 cartas do baralho de Tarot possuem a extraordinária
faculdade de o conseguir espelhar, dando-lhe também acesso imediato ao seu «eu» mais
profundo, quer lhe chame intuição, alma, guia interior, mensageiro divino ou anjo da guarda”.
Correto, mas como se dá esse auxílio? Por que esse Guia ou Auxiliar não se materializa na
nossa frente e nos fala diretamente? Por que a necessidade do Tarô? Acredito que estas
Consciências não nos contatam diretamente porque não podem, não conseguem, quer seja
por diferenças entre as características “físicas” de nossas dimensões, ou ainda, talvez, para
não interferir de maneira contundente em nosso livre arbítrio.
Creio que única maneira controlada de se expressar na exígua interseção de nosso plano
“real”, com o universo operativo dessas Consciências advindas de outros planos, se dê através
da manipulação mental de símbolos e/ou arquétipos. Conceitos complexos como Justiça,
Verdade ou Amor, com um pouco de treino mental podem ser disparados através de uma
imagem.
E aqui parece residir a chave, pois tais conceitos perpassam todo o tipo de comunidade
minimamente evoluída. Conceitos matemáticos também parecem universais. Por exemplo,
independentemente da unidade de distância (metros, polegadas ou as dimensões utilizadas
no planeta XYZ), quando se divide a circunferência de um círculo pelo seu diâmetro, se
obtém sempre 3,14 vezes a unidade utilizada. O número π (pi) existe, independente do
ponto do universo que nos encontremos. (A propósito: 22 Arcanos divididos por 7 dimensões
de manifestação= 3,14. Meditemos).
Assim, se conseguirmos “traduzir” nossos conceitos em imagens mentais, associados a uma
atitude receptiva, parece que disponibilizamos a esse Guia condições de manipulação de
informações, e que este pode nos responder igualmente na forma de imagens que,
dependendo de nossa disposição e talvez certa paranormalidade, a mente resgata na forma
de pensamentos ou insigts.
O Tarô neste caso funciona como ferramenta abstratizante da mente, disponibilizando
símbolos capazes de serem operados por Consciências Espirituais. Por esta razão, a mente do
Tarólogo deve, durante a leitura, se colocar de forma abstraída de suas funções
normais/cotidianas de classificar, medir, ponderar, funcionando mais como antena de
recepção.
Essa manifestação espiritual se dá em dois momentos durante a prática do Tarô. O primeiro
momento é durante o embaralhamento das cartas, onde, esta Consciência, já conectada com
o questionamento que foi direcionado ao Oráculo, influencia certos nervos dos braços e das
mãos do Tarólogo para que se ordenem as cartas conforme seu (da Consciência Espiritual)
objetivo de comunicação.
Para tal o ato de embaralhar deve ser mecânico, quase irracional. A mente do Tarólogo deve
permanecer concentrada na pergunta e no esquema de disposição de cartas que será
utilizado. Neste caso a interferência do guia espiritual se dá de forma sutil, através de
sugestões mentais ao controle do sistema motor.
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