Aos 13 anos de idade, foi quando senti e percebi o racismo e a
discriminação racial cara a cara. Eu estudava na Escola Técnica que ficava há
uns 50 minutos de ônibus de minha casa, e eu morava na periferia de Curitiba, era a primeira vila da COHAB. E isso aconteceu dentro do ônibus, todos os dias eu, mais três meninas pegávamos o ônibus juntas no terminal do ônibus e íamos conversando, rindo, brincando, até chegarmos no nosso ponto. Um dia uma mulher, “morena” clara entrou no ônibus com uma criança de colo, elas sentaram praticamente de frente pra nós, a criança nos olhava e ria pra nós e nós retribuímos o sorriso, só que como a criança estava de costa pra mãe e de frente pra nós, a mãe não via que a criança estava brincando conosco, e essa mulher achou que nós estávamos rindo dela, e aí começou os insultos e todas as palavras foram proferidas pra minha pessoa e nós éramos 4 meninas, ficamos muito sem graça e começamos a responde-la, e num desses insultos ela disse: “gente da tua raça é muito baixa mesmo” e eu na inocência dos meus recém-feito 13 anos não entendi. Somente compreendi, quando uma de minhas amigas que estava junto comigo me explicou o porque? Nesse dia eu fui pra aula, mas não consegui me concentrar e a todo momento vinha na minha lembrança o rosto e as humilhações daquela mulher, isso aconteceu antes das 13hrs, após a aula fui pra casa e como tinha chorado a tarde inteira eu estava com meus olhos bem inchados e vermelhos, então minha avo perguntou o que tinha acontecido e eu narrei. E ela disse que isso não ficaria assim, e saiu e foi até o terminal de ônibus…não sei se ela encontrou ou descobriu que era a mulher....mas o fato dela ter tido uma atitude pra me proteger me fez muito bem! Naquela época não existia lei contra o racismo, já faz mais de 40 anos que isso aconteceu, mas a marca fica impressa através da dor de sentir que há pessoas que nos julgam a partir de nossa cor ou que fazem um conceito pré antecipado por conta dos estereótipos construídos a partir da estrutura racista brasileira. Eu só tinha 13 anos. Tenho que pra mim essa foi uma das primeiras batalhas que enfrentei...mas essa guerra não é só minha, é nossa! Me fortaleci pra enfrentar os meandros dessa estrutura. Maureen Lizabeth dos Reis, Funcionária Pública Aposentada, Psicóloga e Historiadora