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Resumo
O artigo procura abordar as relações entre arte e política presente na obra de
Joseph Beuys. A hipótese para a análise baseia-se no fato de a obra do artista
alemão não poder ser reduzida a mero discurso político. Pois, no momento do
diálogo, de interação com o público, Beuys acredita que ambos estão esculpindo;
“todo homem é um artista”. Seja na forma de cartazes, múltiplos, vídeos,
performances, ou “conversas”, o espectador não só é levado a transformar a
sociedade em que vive (ação política), mas também a transformar-se, a construir
uma nova estrutura pessoal, aberta e, portanto, plena de significados – poética.
Restringimo-nos às duas obras “Não conseguiremos sem a rosa” e “Uma rosa pela
Democracia Direta” – cartaz e múltiplo, uma vez que esses dois trabalhos nos
permitem refletir sobre algumas questões da produção beuysiana.
Palavras- chave: Joseph Beuys; Arte e Política; Arte Contemporânea.
Abstract
The article seeks to address the relationship between art and politics present in the
work of Joseph Beuys. The hypothesis for the analysis is based on the fact that the
work of the German artist can not be reduced to mere political discourse. At the
moment of dialogue, interaction with the public, Beuys believed both are carving, so
"every man is an artist." Whether in the form of posters, multiples, videos,
performances, or "conversations", the viewer is led to not only transform the society
in which he lives (political action), but also to become, to build a new staff structure,
open and therefore full meanings - poetry. Restrict ourselves to the two works "will
not succeed without a rose" and "A Rose for Direct Democracy" - poster and
multiple, since these two works allow us to reflect on some production issues
present in the work of Beuys.
Keywords: Joseph Beuys. Art and Politics. Contemporary Art.
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Camila Reis; Paloma Santos; Manoel Friques. REDIGE v. 4 (Edição Especial), jul. 2013.
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INTRODUÇÃO
O Cartaz “Não conseguiremos sem a rosa” e o Múltiplo “Uma rosa pela Democracia
Direta”
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O múltiplo “Uma rosa pela Democracia Direta” de 1973 é derivado do cartaz “Não
conseguiremos sem a rosa”, realizado um ano antes por Joseph Beuys a partir da
sua participação na Documenta V de Kassel. Observamos uma imagem do próprio
artista, que aparentemente se encontra sentado, com a feição de quem está
dialogando. De costas, vemos um homem (desfocado) também sentado, com quem
o artista conversa. O cartaz apenas nos permite ver a parte superior dos corpos
das duas pessoas, acima do tórax. Beuys está usando seu famoso chapéu de feltro
e seu colete de pescador. O homem, vestindo um paletó azul e o que parece ser
um par de óculos típico da década de 1970, parece um homem comum – um típico
cidadão alemão.
Uma rosa vermelha, que podemos notar em primeiro plano entre os dois, tem,
contudo, uma posição de destaque: ela prepondera na composição, enquanto eles
se encontram perifericamente à esquerda. A rosa, muito longa, nos dá a impressão
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de ser muito maior do que sabemos que ela é. Vermelho e delicado, o botão da
rosa está entreaberto. Está colocado dentro de um recipiente de vidro com água,
que parece ser um copo. É interessante atentarmos para o fato de a comprida rosa
vermelha estar como ponto de destaque do cartaz. Do ângulo em que a foto foi
tirada, a rosa ocupa 2/3 do quadro, enquanto os outros dois ocupam 1/3. Para
finalizar, temos a assinatura do artista começando exatamente no botão da rosa.
Em sua contribuição para o evento, Beuys passou 100 dias conversando com as
pessoas que visitavam a Documenta, de manhã até ao anoitecer; ele dialogava
sobre diversos assuntos visto que sua intenção era entrar em contato com o
público. Da interação com os visitantes, o artista produziu alguns objetos, dentre
eles, o cartaz Não conseguiremos sem a rosa, e um livro – Cada Homem um
Artista, que reúne as conversas de um final de semana. As falas registradas em
livro e a imagem descrita anteriormente ressaltam, antes de tudo, Joseph Beuys
como um articulador e um idealizador. Através destas e de outras obras, o artista
consegue mostrar ao mundo uma única ideia: o princípio de que a arte é antes de
tudo uma ação pública, uma articulação do pensamento.1
1
Informações retiradas da palestra “Joseph Beuys: Arte, Filosofia e Ativismo Social”, ministrada por Antonio
D´Avossa em 16 de setembro de 2010 no SESC Pompéia.
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Contudo, a obra de Beuys não pode ser reduzida a um mero discurso político. As
suas crenças transbordam para o seu fazer artístico, seja na forma de cartazes,
múltiplos, vídeos, performances, ou “conversas” (como as do gabinete). Nas duas
obras analisadas, o espectador não só é levado a transformar o seu entorno, mas,
sobretudo, a si mesmo. É neste sentido que encontramos o conceito de Escultura
Social: no momento do diálogo, da interação com o público, Beuys está esculpindo
– ele acredita. Não se trata, com isso, da noção clássica ou tradicional de
escultura, entendida como a representação de imagens plásticas em relevo sobre
um determinado material. No caso de Beuys, a escultura é imaterial, mas nem por
isso deixa de ser concreta. Pois, a escultura só se torna possível a partir da troca.
“Todo homem é um artista”, segundo o próprio Beuys. Uma melhor compreensão
de sua poética deve, necessariamente, passar pelo contexto de sua produção,
exposto a seguir.
Após a Segunda Guerra Mundial, a crise europeia chega ao seu ápice, não apenas
no sentido econômico e estrutural dos países destruídos, mas principalmente uma
crise de identidade. Como era possível uma cultura que possui como alicerce a
ciência e a razão poder “aceitar” os horrores da guerra? Neste sentido, é inevitável
que no campo das artes esta crise se dê através do congelamento, do bloqueio
com relação à produção artística:
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Nesse sentido, a arte americana vem como um impulso, segundo Giulio Argan
(2006), a “criação imediata de fatos estéticos”. Uma arte que se apresenta a partir
de uma potência; como uma força desafiadora do ser humano:
Entretanto, essa arte imediata e “vital”, repleta de ímpeto criativo, é sustentada por
uma sociedade de consumo, voltada ao trabalho e à acumulação de capital: “Afinal,
a arte é a não inibição num mundo onde a inflexível ‘regularidade’ da vida social,
inteiramente empenhada no esforço produtivo e na acumulação capitalista, cria
uma condição geral de inibição e neurose” (Id, Ibid, p.508). Desse modo, a arte
americana surge como uma arte que se permite dialogar com os moldes do
American Way of Life. Ela vem como um sopro de criatividade dentro de uma
sociedade “planejada” e fundada, ao menos idealmente, na democracia:
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É o que percebemos num primeiro momento, com o cartaz e o título da obra “Não
conseguiremos sem a rosa”, que remetem-nos à histórica imagem da Revolução
dos Cravos2. Os cravos vermelhos dispostos nos canos das armas dos militares
dialogam paradoxalmente: a beleza das flores e a frieza e a rigidez das armas. É
importante ressaltar que a revolução é posterior à origem do cartaz e múltiplo –
apenas em um ano –, mas que, de certa maneira, possuem um diálogo comum,
frutos de um mesmo contexto: as conquistas sociais da década de 1970.
2
Movimento ocorrido em Portugal, que derrubou o regime ditatorial de Antônio Oliveira de Salazar no ano
1974. Com o golpe militar em 1926, Salazar instalou um regime inspirado no fascismo italiano. As liberdades
de reunião, de organização e de expressão foram suprimidas com uma nova constituição em 1933.
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Ideologia política de esquerda surgida no final do século XIX por partidários do marxismo. Esta ideologia que
acreditava que a transição para uma sociedade socialista poderia ocorrer sem uma revolução, mas por meio de
uma evolução democrática.
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The public myth of Beuys life and work, by now having achieved
proportions that make any attempt to question it or to put into historic
perspective an almost impossible critical task, is a result of these
conditions, just as it tries to perpetuate them by obscuring historical
facticity. (BUCHLOH, 2001. p.200)
Buchloh continua sua linha de pensamento afirmando que através do mito – sobre
a figura de Beuys e de seu trabalho artístico – a Alemanha do pós-guerra encontra
lugar para retirar prematuramente a “culpa” e a responsabilidade dos fatos que
ocorreram durante a Segunda Guerra Mundial:
In the work and public myth of Beuys the new German spirit of the postwar
period finds its new identity by pardoning and reconciling itself prematurely
with its own reminiscences of a responsibility for one of the most cruel and
devastating forms of collective political madness that history has known.
(Id, Ibid. p.203)
De fato, Beuys elabora uma narrativa biográfica complexa, difícil de ser verificada:
Had it not been for the Tartars I would not be alive today. They were the
nomads of the Crimea, in what was then no man’s land between the
Russian and Germany fronts, and favored neither side. I had already struck
up a good relationship with them, and often wandered off to sit with them.
‘Du nix njemcky’ they would say, ‘du Tartar’ and try to persuade me to join
their clan. Their nomadic ways attracted me (...). Yet it was they who
discovered me in the snow after the crash, when the German search
parties had given up. I was still unconscious then and only came round
completely after twelve days or so, and by then I was back in a German
field hospital. So the memories I have of that time are images that
penetrated my consciousness. The last thing I remember was that it was
too late to jump, too late for the parachutes to open. That must have been
a couple of seconds before hitting the ground. Luckily I was not strapped in
(...) My friend was strapped in and he was atomized on impact – there was
almost nothing to be found of him afterwards. But I must have shot through
the widescreen as it flew back at the same speed as the plane hit the
ground and that saved me, though I had bad skull and jaw injuries. Then
the tail flipped over and I was completely buried in the snow. That’s how
the Tartars found me days later. I remember voices saying ‘Voda’ (Water),
then the felt of their tents, and the dense pungent smell of cheese, fat and
milk. They covered my body on fat to help it regenerate warmth and
wrapped it in felt as an insulator to keep warmth in. (BEUYS apud BEUYS;
GOMES, 2010, p.14)
Como piloto da Força Aérea Alemã, Beuys teve seu avião abatido na região da
Crimeia. Muitas questões são ambíguas, entretanto. Afinal, que tipo de relação o
artista poderia ter desenvolvido com essa população a ponto de, efetivamente, ter
sido convidado a participar do clã? Difícil dizer. O mais importante são os
elementos – queijo, leite e, principalmente, feltro e gordura – que Beuys incorpora
em toda sua poética, dentro dessa imagem romantizada de seu salvamento.
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Dentro dessa consideração não biográfica, mas poética, da forma como o criador
alemão lida com a História, Júlio do Carmo Gomes no livro Cada Homem um
Artista (2010) entende que essa operação é um recurso que produz uma verdade
artística autônoma, independente dos fatos; independente dele esquecer, ou pior,
falsificar o passado histórico alemão dentro de sua obra:
Contrário a Buchloh, Gomes ratifica sua opinião com relação ao “compromisso com
a verdade” dentro do fazer artístico:
Para Jean-Philippe Antoine, Beuys cria índices, não símbolos. Sob essa ótica, a
relação entre a poética de Beuys e a História seria algo operado, na realidade, pelo
espectador. Assim, o artista apenas sugere certas interpretações ao colocar
objetos em contextos específicos, que já carregam em si uma potência de
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Seguindo essa linha, os elementos das obras são figurativos, mas não são
conectados a outros de forma a fazer um sentido lógico, ou seja, narrativo,
sintático. É uma colagem aberta. Retornando ao pensamento de Antoine, a
atenção de Beuys é toda voltada para a ativação do espectador:
4
Ciência fundamentada por C.S. Peirce que estuda as linguagens verbal e não verbal.
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Contudo, observamos que o índice necessita que haja, por parte do interpretante,
essa leitura: “Mas só funciona como signo quando uma mente interpretadora
estabelece a conexão em uma dessas direções. Nessa medida, o índice é sempre
dual; ligação de uma coisa com outra.” (Id)
Por fim temos o símbolo, ligação de terceiridade (análise pronta), que possui uma
definição extremamente direta: “Sendo uma lei, em relação ao seu objeto o signo é
um símbolo.” (Id, Ibid, p.67). Dessa maneira: “[...] extrai o seu poder de
representação porque é portador de uma lei que, por convenção ou pacto coletivo,
determina que aquele signo represente seu objeto.” (Id.)
Ligando os materiais usados por Beuys, mencionados por Antoine, obtemos uma
interpretação interessante contida no livro O que é Semiótica sobre os índices:
“Rastros, pegadas, resíduos, remanências são todos índices de alguma coisa que
por lá passou deixando suas marcas” (SANTAELLA, 2004, p.66).
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Figura 04 – Flores.
Fonte: Warhol, 1967.
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Podemos, então, entender que Beuys buscava rever o espaço institucional da obra
de arte e, dessa forma, a sua capacidade simbólica. Era necessário ir contra esse
espaço tradicional, era necessário deslocá-lo ou subvertê-lo. A partir desse
deslocamento, o espectador é convidado a participar das obras, sendo de uma
maneira corporalmente ativa – comum aos movimentos artísticos da década de
1960 – ou mentalmente, como podemos observar em Beuys. Em ambos os casos,
o público é convidado a sair do lugar da mera contemplação estético-visual da arte
para fazer parte dela, vivê-la. É neste contexto que podemos compreender a
escultura social proposta por Beuys.
A linguagem pode ser entendida como um meio de se fazer arte de uma maneira
abrangente. Essa “escultura” começa a ser modelada a partir de uma ideia ou de
um pensamento, a linguagem é a sua massa modeladora e que é esculpida no
momento da fala, através da língua e da boca. Faz uso de um material intrínseco e
inerente a todo ser humano, fazendo de todos nós possíveis escultores. Como
conclui Antoine: “Modelagem plástica do ar pela boca e laringe a palavra fabrica
uma ‘impressão na matéria’ sem a qual o acontecimento do sentido não ocorreria.”
(ANTOINE, 2009, p.176).
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dar a rosa à alguém transmite a intenção sugerida por Beuys, quando o artista diz
que a partir da rosa poderemos mudar algo: propagá-la ratificaria o pensamento do
artista. Essa ação incitaria ao pensamento e, nesse momento, estaríamos
esculpindo junto a ele. O cartaz indica o caminho, e o múltiplo transforma a sua
ideia em ação. É o multiplicar do múltiplo.
Logo, a escultura social não está preocupada com suas características puramente
estéticas, e sim com a forma poética com que um conteúdo será elaborado
coletivamente pelas pessoas:
escultura que é social (e que precisa da interação entre indivíduos) e que tem no
homem sua massa modeladora e seu escultor, se encontra representada no
próprio indivíduo que a constrói a partir do diálogo com o outro. Logo, este homem
possui, ao mesmo tempo, tanto o local a que esta escultura pertence quanto o seu
significado:
Meu caminho passava pela palavra; por mais que pareça estranho, não
provinha do chamado talento artístico. Quando percebi que a palavra seria
também uma via única, então decidi-me pela arte (...). A arte me levou ao
conceito de uma escultura que começa na palavra e no pensamento; que
aprende a construir ideias com a palavra, e a transferir, para as formas, o
sentir e o querer. Se o pensamento não falhar nessa tarefa, se prosseguir
inabalável, aparecerão as imagens que espelham o futuro. As ideias
tomarão forma. (BEUYS apud D´AVOSSA; In: FARKAS, 2010, p. 14).
A escultura social defende que todos somos artistas e que podemos desenvolver o
nosso potencial criativo. Entretanto, esse potencial criativo precisa ser
compartilhado. O artista (incluindo todos nós) não faz uma obra de arte sozinho;
faz-se necessária a colaboração do outro, a participação do espectador; é uma
maneira de todos serem colaboradores e coautores.
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CONCLUSÃO
Para além de sua ocupação como artista, Joseph Beuys foi professor na faculdade
de Belas Artes de Dusseldorf. Dedicava-se totalmente a esta função, onde possuía
muito carisma entre os alunos. Suas aulas logo se tornaram polêmicas, pois
lecionava a maioria delas apenas palestrando do lado de fora da faculdade. Beuys
acreditava no puro poder da palavra, enquanto comunicadora de conceitos.
A partir do estudo de duas obras de Joseph Beuys, “Não conseguiremos sem a rosa”
e “Uma rosa pela Democracia Direta” podemos perceber, através da análise dos
fatos históricos e míticos relacionados à vida do artista, como esses influenciaram a
sua poética. A arte de Beuys deve ser compreendida para além da mera exposição
do fazer artístico. O artista retira o espectador da pura contemplação e o recoloca no
papel de participantes pensantes de suas obras. Assim suprime a primazia do
individualismo no complexo coletivo social. Com o uso de materiais como a gordura,
sangue, alimentos, cobre e feltro que possuem o dever de transmitir tais conceitos,
(BORER, 2001, p.20) assim o nomeia como “o condutor de almas”.
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Dessa forma, Beuys quer romper com as hierarquias dominantes das esferas sociais
e culturais. Segundo o artista, a humanidade se encontra corrompida e doente,
individualista e mesquinha; guerras e crises econômicas levaram a sociedade
moderna ao seu limite material e espiritual, sendo agora necessária uma mudança
radical. Desse modo:
Isto faz pensar que, para uma mudança acontecer, é necessária uma mudança de
postura, uma nova forma de nos colocarmos no mundo em que vivemos. Todavia,
é preciso se libertar dos antigos padrões e isto é uma forma de se fazer arte e
principalmente uma maneira de se fazer política. É preciso injetar nosso capital de
criatividade, rumo à liberdade de escolhas e pensamento.
Quando Beuys falava sobre arte (‘de momento, eu já não pertenço à arte’)
falava sobre a sociedade e o ser humano. Nesse sentido predispõe-se ao
campo político, à ação na polis, porque acredita que o objeto da política é
a liberdade. (GOMES apud BEUYS, 2010, p.42).
Sendo assim, ao pensar a coletividade da ação artística, esta se torna política. Esta
relação entre arte e política está colocada na obra de Beuys no sentido defendido
por Jacques Rancière, como forma operativa, e não por seu conteúdo:
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[...] a arte não é política antes de tudo pelas mensagens que ela transmite
nem pela maneira como representa as estruturas sociais, os conflitos
políticos ou as identidades sociais, étnicas ou sexuais. Ela é política antes
de mais nada pela maneira como configura um sensorium
espaço temporal que determina maneiras do estar junto ou separado, fora
ou dentro, face a ou no meio de... Ela é política enquanto recorta um
determinado espaço ou um determinado tempo, enquanto os objetos com
os quais ela povoa este espaço ou o ritmo que ela confere a esse tempo
determinam uma forma de experiência específica, em conformidade ou em
ruptura com outras: uma forma específica de visibilidade, uma modificação
das relações entre formas sensíveis e regimes de significação,
velocidades específicas, mas também e antes de mais nada formas de
reunião ou de solidão. (RANCIÉRE, 2010, p. 45)
REFERÊNCIAS:
ANTOINE, Jean-Philippe. "Eu não trabalho com símbolos." Joseph Beuys, A
experiência e a construção da lembrança. In: Arte & Ensaios. Rio de Janeiro:
Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais - EBA /UFRJ, ano XVII,
n. 19, p. 168-181, 2009.
ARGAN, Giulio. Arte Moderna. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
BEUYS, Joseph; GOMES, Júlio de Carmo (trad) Cada Homem um Artista. Porto: 7
Nós, 2010.
BORER, Alain. Joseph Beuys. São Paulo: Cosac & Naif, 2001.
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BUCHLOH, Benjamim. Beuys: The Twilight of the Idol. In: Gene Ray (ed.) Joseph
Beuys, Mapping the Legacy. Nova York: D.A.P, 2001.
HOHLFELDT, Marion. Sub specie ludi Função e estrutura de uma "arte lúdica". In:
Arte & Ensaios. Rio de Janeiro: Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes
Visuais – EBA/ UFRJ, ano XI, n. 11, p. 81-89, 2004.
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