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Padre Artur Milani

A GRANDE PROMESSA

Ou o bilhete de entrada segura no Paraíso,

oferecido pelo Sagrado Coração de Jesus

a todos os seus devotos.

Considerações e exemplos

para as nove primeiras sextas-feiras

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19.ª edição: Junho de 2008

20.ª edição: Fevereiro de 2011

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De acordo com os decretos pontifícios, declaramos que aos factos narrados neste
livro, não temos intenção de atribuir senão uma fé humana: nem queremos de modo
algum antecipar o juízo da Igreja no que se refere a revelações privadas mencionadas
nestas páginas.

Padre Artur Milani

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AS PROMESSASDO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

1. A todos darei as graças necessárias ao seu estado.

2. Farei reinar a paz em suas famílias.

3. Consolá-los-ei em todos os seus sofrimentos.

4. Serei seu refúgio durante a vida e sobretudo na hora da morte.

5. Abençoarei largamente todas as suas iniciativas.

6. Os pecadores encontrarão em meu coração a fonte e o oceano infinito da minha


misericórdia.

7. As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas.

8. As almas fervorosas elevar-se-ão rapidamente a grande perfeição.

9. Abençoarei os lares em que for exposta e honrada a imagem do meu Coração.

10. Aos padres concederei a graça de comoverem os corações mais endurecidos.

11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes gravados no meu
coração e d’Ele jamais serão apagados.

12. «Eu te prometo, no excesso da misericórdia do meu Coração, que o meu amor
omnipotente concederá a todos aqueles que comungarem na primeira sexta-feira do
mês durante nove meses seguidos, a graça da perseverança final; estes não morrerão
na minha desgraça nem sem receberem os sacramentos, servindo-lhes o meu Coração
de asilo seguro naquela hora extrema.»

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A GRANDE PROMESSA
Em que consiste?
Entre as numerosas promessas do Santíssimo Coração de Jesus a Santa Margarida
Alacoque, há uma feita à Santa em 1689, um ano antes da sua morte, que merece ser
conhecida por todos. É a duodécima das que os livros de devoção ordinariamente
mencionam e é expressa por estas palavras:

«Eu te prometo, no excesso da misericórdia do meu Coração, que o meu amor


omnipotente concederá a todos aqueles que comungarem na primeira sexta-feira do
mês durante nove meses seguidos, a graça da perseverança final; estes não morrerão
na minha desgraça nem sem receberem os sacramentos, servindo-lhes o meu Coração
de asilo seguro naquela hora extrema.»

Esta é a “Grande Promessa” do Coração misericordioso de Jesus que vamos explicar


brevemente neste livrinho, a fim de despertar em todos o mais vivo desejo de aceder
ao convite amoroso de Jesus que nos oferece um meio tão fácil de assegurar a sorte
eterna à nossa alma.

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AUTENTICIDADE DESTA PROMESSA
Antes de tudo, aos que tivessem qualquer dúvida sobre a realidade desta “Grande
Promessa”, dizemos que ela é realmente autêntica, como se manifesta pelos escritos
da privilegiada confidente do Santíssimo Coração de Jesus. De facto, a Igreja, com
toda aquela diligência que costuma empregar quando se trata de elevar à honra dos
altares os seus santos, fez um diligente e minucioso exame de todos os escritos de
Santa Margarida, e não só não achou neles nada para censurar, mas confirmou-os
plenamente com a sua autoridade, permitindo a divulgação dos mesmos aos fiéis.
Notemos ainda que o Sumo Pontífice Bento XV transcreveu textualmente a “Grande
Promessa” dizendo que «de facto foram essas as palavras de Jesus à sua serva fiel».

Para nós, o juízo da Igreja, mestra infalível da verdade, é mais do que suficiente para
que dela possamos falar livremente com a mais profunda convicção do nosso espírito.

O que não se pode compreender, é que esta Divina Promessa tenha ficado tanto
tempo esquecida, pois foi só em 1869 que o Pe. Franciosi começou a torná-la
conhecida. Talvez fosse o receio de que logicamente não se pudesse sustentar, ou de
que os fiéis viessem a abusar dela. Pode-se, porém, verificar que tais receios eram
infundados, pois os fiéis desta devoção ficam cada vez mais afervorados no bem,
além de que os mais doutos teólogos têm demonstrado, com solidíssimos argumentos,
que ela é plenamente conforme à doutrina da Igreja acerca do oceano infinito das
divinas misericórdias.

Se alguém perguntar: «Como pode, de uma coisa tão pequena, resultar tão grande
efeito?» responderemos, com o autor do livro de ouro Manete in dilectione mea, que
«entre esta pe-quena coisa e o magnífico efeito há um elemento em que se não
pensou: a Misericórdia infinita».

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BREVE COMENTÁRIO
Antes de tudo, manifestando-se a Santa Margarida, Jesus pronunciou estas solenes
palavras: «Eu te prometo», para bem entendermos que, tratando-se de uma graça tão
extraordinária, quer empenhar a sua palavra divina, aquela palavra de que diz o
Evangelho: «Passarão o Céu e a Terra, mas a minha palavra nunca passará.» Jesus
imediatamente acrescenta: «no excesso da Misericórdia do meu Coração», para
reflectirmos bem que não se trata de uma promessa comum, fruto da sua Misericórdia
ordinária, mas de uma promessa tão grande, que só podia vir de um excesso de
misericórdia verdadeiramente infinita, como se quisesse dizer: «Oh! Almas remidas
pelo meu Sangue, é tão grande a promessa que vos faço, que com ela quase se
esgotam os tesouros da minha Misericórdia. A vós pertence saber aproveitá-la.»

Para que fiquemos plenamente seguros de que Ele saberá a todo o custo manter o que
promete, apela logo depois para o seu «Amor Omnipotente», isto é, para aquele amor
que tudo pode em favor daqueles que n’Ele confiam. Isto significa que todos os
manejos do demónio para arrancar--Lhe aquela alma serão por Ele triunfalmente
aniquilados, estando disposto a fazer um milagre se for necessário, para que aquele
que fez as nove Comunhões não se perca.

Quando afirma, de modo absoluto que «concederá a graça da penitência final», Ele
quer referir--se àquela última graça, a mais preciosa de todas, de que depende a
salvação eterna conforme as palavras seguintes:

«Esses não morrerão na minha desgraça», isto é, alcançarão certamente a felicidade


do Paraíso.

Quanto à promessa de «não morrerem sem receberem os Santos Sacramentos», não


deve ser tomada em sentido absoluto, mas relativo, isto é, se o moribundo se achar
em estado de pecado mortal, Ele fará com que receba o perdão por meio de uma boa
confissão; e se por infelicidade imprevista, vier a perder a fala, ou de qualquer modo
não puder receber os Santos Sacramentos, a sua Omnipotência divina saberá induzi-lo
a fazer um acto de contrição perfeita, e assim restituir--lhe a sua amizade pois sem
excepção alguma, «o seu Coração adorável servirá de asilo seguro a todos naquela
hora extrema».

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CONDIÇÕES REQUERIDAS
As condições requeridas para alcançar o fim da “Grande Promessa”, que é o Paraíso,
são estas:

1 – «Fazer nove comunhões.» – É pois evidente que não estaria em regra quem só
tivesse feito um certo número de comunhões e não as nove.

2 – «Nas primeiras sextas-feiras de nove me-ses.» – É necessário notar bem que estas
nove comunhões devem ser feitas “absolutamente” nas primeiras sextas-feiras do
mês. Sendo feitas em qualquer outro dia da semana, por exemplo no domingo ou
mesmo numa sexta-feira que não seja a primeira do mês, não dão direito à “Grande
Promessa”. Fazemos também notar que esta devoção das nove primeiras sextas-feiras
não deve ser confundida com a devoção geral da primeira sexta-feira, embora o dia
seja o mesmo. Nem o confessor pode comutar o dia e, se o fizer, nenhum valor tem a
dispensa, porque a Igreja a ninguém concedeu esta faculdade e quem dela também se
servisse, não teria satisfeito as condições requeridas pela “Grande Promessa”.

3 – «Durante nove meses consecutivos.» É a terceira condição. Significa que as nove


comunhões devem ser feitas na sexta-feira de nove meses «seguidos, sem interrupção
alguma».

Quem, depois de ter feito, cinco, seis, sete comunhões, interrompe um mês, ainda que
involuntariamente ou por esquecimento, ou porque impedido, «não teria com isto
cometido falta alguma, mas seria obrigado a recomeçar a série desde o começo»; as
comunhões já feitas, se bem que santas e meritórias, não podem entrar no número das
nove. Deve recomeçar-se.

Teólogos autorizados consideram a interrupção como não existente, tratando-se de


«causa grave».

A prática das nove comunhões pode começar em qualquer mês do ano, segundo a
comodidade de cada um. Para aqueles que frequentam colégios seria muito
conveniente começar no início do ano escolar, terminando assim no fim do ano.

Educadores e educadoras, vede que campo maravilhoso a vós se oferece, e quantas


almas podeis assim conduzir com segurança ao porto da salvação! As almas juvenis
são mais dispostas a acolher os convites amorosos de Jesus, e estas almas salvas por
vós formarão um dia a vossa coroa no céu.

4 – «Com as devidas disposições.» – Para este fim, basta que as comunhões sejam
feitas na «graça de Deus», sem se requerer para isto fervor especial.

Mas é evidente que quem fizesse qualquer dessas comunhões «sabendo que está em
pecado mortal», não só não asseguraria o Paraíso, mas, abusando assim de modo tão

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indigno da Divina Misericórdia, tornar-se-ia com este horrendo sacrilégio merecedor
dos mais terríveis castigos.

É por conseguinte aconselhável que se renove cada vez a intenção de querer fazer
estas comunhões para obter o fruto da “Grande Promessa” e reparar as ingratidões e
abandonos causados pelos homens ao Santíssimo Coração de Jesus neste
«Sacramento de Amor».

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ALGUNS ESCLARECIMENTOS
1 – Aos sacerdotes e às pessoas que comungam cada dia, basta que tenham a intenção
de fazerem também estas nove comunhões das primeiras sextas-feiras para honrarem
o Santíssimo Coração de Jesus e repararem as ingratidões e os ultrajes que Ele recebe
de tão grande número de pobres pecadores. Seria bom renovar esta intenção em cada
primeira sexta-feira até ao fim da prática, como dissemos acima. Os sacerdotes e
todos aqueles que comungam diariamente farão «coisa óptima» repetindo toda a vida
esta série de nove comunhões, formulando a intenção de recomeçarem quando
terminarem a série precedente. Não é necessário renovarem esta intenção cada vez.
Basta formulá-la uma vez para sempre.

É certamente louvável para todos repetirem uma ou mais vezes as ditas comunhões
particulares quando houver qualquer dúvida fundada, ainda que leve, de as não
haverem feito a primeira vez com as disposições requeridas.

2 – Quem fizesse estas comunhões para depois se entregar a uma vida de pecado,
demonstraria com esta perversa intenção, ter afecto ao pecado e, por conseguinte, as
suas comunhões seriam todas sacrilégios; evidentemente não poderia pretender ter
assegurado a posse do Paraíso. Como bem nota um comentador, Pe. Garcia,
aconteceria nesse caso o que acontece nas companhias de seguros, as quais, quando
aceitam o seguro de uma casa, de um navio, etc., fazem o dito seguro para os casos de
acidentes e desgraças não previstas, mas nunca desastres ou acidentes premeditados,
determinados de propósito, com intenção má. É evidente que só no primeiro caso e
não neste segundo é que a companhia está obrigada a pagar os danos sofridos por
quem está no seguro.

3 – A respeito daqueles que depois de terem feito as nove comunhões e com santa
intenção, tiverem depois a desgraça de se perverterem e de viverem mal, visto que
Jesus não exceptuou ninguém na sua “Grande Promessa”, podemos concluir, com
certeza, que mesmo estes infelizes, pelo excesso de misericórdia do seu amor
omnipotente terão a graça de se converterem, antes de morrerem, e de se salvarem,
como o provam inúmeras prodigiosas conversões de pobres pecadores.

– Esta devoção – perguntará alguém – não virá favorecer a presunção, gravíssimo


pecado, contra o Espírito Santo?

A pergunta seria perturbadora se não existisse, de um lado, a promessa incondicional


de Jesus que nos quis induzir a pôr n’Ele toda a nossa confiança, fazendo-se Ele
próprio fiador da nossa salvação pelos méritos infinitos do seu Coração adorável, e
se, de outro lado, não existisse a autoridade da Igreja, que nos convida a
aproveitarmos deste meio tão fácil para alcançarmos a vida eterna. Não hesitemos
pois em responder que não favorece de modo algum a presunção, mas aviva em nós a
esperança de irmos um dia para o Paraíso, não obstante a nossa miséria e fraqueza.

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Além disto, a experiência mostra-nos claríssimamente que em vez de favorecer a
presunção, esta devoção torna as almas cada vez mais sequiosas de ganhar o Céu com
a prática do bem, e sempre mais vigilantes sobre si mesmas, a fim de estarem sempre
na graça de Deus. É este certamente um dos mais preciosos frutos que se podem
colher nesta piedosa devoção.

Com que serena confiança, a nosso ver, se apresentará a alma diante de São Pedro
para ter livre entrada no céu, baseado nesta mesma devoção que será como o seu
bilhete de entrada!

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CONSELHOS PRÁTICOS
Agora que, caro leitor, decidiste assegurar a todo o custo a sorte da tua alma, o
demónio, cheio de ódio e furor, porque se trata da tua eterna felicidade, porá diante de
ti um sem número de dificuldades para impedir a execução do teu plano.

A primeira dificuldade que te apresenta é a da Confissão e da Comunhão em dia de


semana, por teres obrigação de te apresentares ao trabalho a hora determinada, ou
porque as tuas ocupações não to permitem. Esta dificuldade é certamente muito
grave, mas não insuperável; se quiseres levantar-te naquele dia meia hora mais cedo,
poderás muito bem atender às tuas devoções e às exigências do teu trabalho ou das
tuas ocupações. Tudo está nisto: que deves bem compenetrar-te de que, sendo insigne
o benefício almejado, deves impor-te algum sacrifício.

Outra dificuldade que frequentemente surge é a de não achar facilmente e depressa


um confessor para te reconciliar com Deus. Mas esta dificuldade também facilmente
se resolve, chegando mais cedo, ou melhor ainda, para maior segurança, confessando-
te no dia anterior.

É ainda possível que o tempo venha a conspirar contra ti. Precisamente no dia em que
deves comungar, um forte aguaceiro cai repentinamente, ou ainda pesada chuva caída
durante a noite pode ter deixado a estrada intransitável.

É esta a ocasião de te mostrares na verdade animado de espírito de fé, dizendo: para


ganhar o Paraíso, vale bem a pena que eu me imponha algum sacrifício! Deus, para
salvar a minha alma, morreu por mim na cruz, e eu recuaria diante de um friozinho e
de um pouco de chuva por seu amor, para procurar assim a felicidade eterna da minha
alma!?

Outra dificuldade é a do esquecimento. Tem acontecido encontrarem-se pessoas que


dizem: eu já tinha feito seis, sete, oito comunhões, e um belo dia não despertei a
tempo, ou não me lembrei de que era o dia marcado, e assim perdi tudo. Que dizer a
estas almas, senão que o demónio lhes pregou uma boa partida?! Tenham paciência e
recomecem de novo: terão assim ainda maior mérito diante de Deus.

Seria por isso muito conveniente unirem-se entre si três ou quatro pessoas para
mutuamente se avisarem do compromisso assumido.

Estas e muitas outras dificuldades poderão suscitar o inimigo da tua alma; mas
poderás vencê--las todas com o auxílio de Deus, empregando, pela tua parte, toda a
boa vontade.

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UM CONVITE AOS SACERDOTES
Muitos sacerdotes angustiaram-se pelo estado da sua paróquia e, depois de tentarem
todos os meios para melhorarem a situação espiritual do rebanho, entregam-se ao
desânimo, repetindo intimamente as palavras dos Apóstolos: «Trabalhámos toda a
noite e nada pescámos…» A estes, quiséramos lembrar aquilo que outros zelosos
padres, experimentados nesta devoção, deixaram escrito, isto é, «que a propagação da
“Grande Promessa” é um dos meios mais eficazes, senão o mais eficaz, para induzir
paróquias inteiras, inclusive os homens, a frequentarem os Santíssimos
Sacramentos». Façam a experiência e verão.

Procurai somente serdes prontos e zelosos em proporcionar aos fiéis a facilidade de


se confessarem, e não tardareis a presenciar verdadeiros prodígios da graça. O
Santíssimo Coração de Jesus triunfará da frieza, da apatia, da indiferença e do
respeito humano, que são as pragas da sociedade moderna, e tornarão a florescer a fé
e os bons costumes.

É evidente que se não obterá tudo de uma vez, como por magia, mas tudo virá pouco
a pouco. Aos primeiros voluntários juntar-se-ão devagar os outros, e a solenidade da
primeira sexta-feira do mês tornar-se-á a cerimónia mais consoladora e mais piedosa
da paróquia.

Quantas almas refractárias a todos os outros convites amorosos da graça, afastadas de


Deus desde longos anos, foram subjugadas pelo amor infinito do Santíssimo Coração
de Jesus.

Quantos desgarrados sentiram de novo nascer--lhes no coração a esperança, com um


simples olhar para a Sua doce imagem! Quantas almas transviadas que, depois de
desperdiçarem, como o filho pródigo do Evangelho, os dons do Senhor, assim pela
“Grande Promessa” repetiram estas belas palavras: «Levantar-me-ei e irei ter com o
meu Pai – Surgam et ibo ad patrem meum.»

– Tende confiança – repete a todos o Santíssimo Coração de Jesus – Eu venci o


mundo! – Tende confianças, repito-vos também eu, e vereis os milagres de graça e de
misericórdia que pode e sabe fazer o Divino Coração de Jesus.

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RESULTADOS QUE SE OBTÊM PELA DIVULGAÇÃO
DA GRANDE PROMESSA
Caríssimos irmãos, lede os felizes resultados que podeis alcançar pela divulgação da
“Grande Promessa”:

1 – A “Grande Promessa” é ordinariamente o golpe decisivo da graça que realiza o


bom êxito de uma missão.

2 – Traz à Comunhão da primeira sexta-feira grande número de fiéis.

3 – A confissão renovada durante nove meses seguidos perde aquele aspecto terrível
que costuma ter para tantos cristãos pouco praticantes.

4 – O fruto destas confissões continuadas é mais duradouro.

5 – Traz muitas vezes a paz e a união no seio das famílias até então desunidas.

6 – Os que fazem estas nove comunhões já não se contentam apenas com a comunhão
pascal, mas aproximam-se mais frequentemente da Sagrada Mesa, e pouco a pouco
até diariamente.

7 – Faz com que refloresçam os bons costumes, renova o fervor das associações
católicas, dos círculos das Filhas de Maria, infundindo nas almas o espírito da
devoção ao Santíssimo Coração de Jesus.

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DOUTRINA CONSOLADORA
Soror Inês, irmã de Santa Teresinha do Menino Jesus, no opúsculo «Novíssima
verba», narra o seguinte episódio com as próprias palavras de Santa Teresinha.

«A Irmã Maria da Eucaristia queria acender os círios para uma procissão. Não tendo
fósforos, aproxima-se da pequena lâmpada que está diante das relíquias, porém
encontra-a quase apagada, consegue todavia acender a sua vela, e com esta todos os
círios da comunidade.

«Vendo isto (é Teresinha que fala), eu fiz esta reflexão: Quem poderá gloriar-se das
próprias obras? Uma pequena lâmpada semi-apagada pode acender aquelas belas
chamas, que por sua vez poderão acender uma infinidade de outras e incendiar até o
mundo inteiro. A primeira causa deste incêndio, de onde vem? – Daquela humilde
lampadazinha.

«Assim acontece na comunhão dos Santos. Sim, uma pequena centelha poderia fazer
nascer grandes luminares da Igreja, por exemplo: Doutores, mártires… Muitas vezes
sem o sabermos, as graças e as luzes que recebemos são devidas a uma alma
escolhida, porque o bom Deus quer que os santos comuniquem uns aos outros a graça
por meio da oração, a fim de que no Céu se amem com grande amor, muito maior
ainda do que o da família, mesmo tratando-se da família mais perfeita da Terra.»

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A COMUNHÃO DOS SANTOS! QUE
DOUTRINA CONSOLADORA!
Oh! Pobre pecador, estás desesperado; sentes todo o horror do abismo que as tuas
culpas abriram entre ti e o teu Deus e parece-te impossível levantares-te da tua mísera
condição. Em torno de ti não vês senão trevas, e sentes-te perdido. Meu pobre irmão,
afasta estes pensamentos e cobra animo. Jesus espera-te com alegria nos seus braços
para te dar o abraço do perdão, com aquela terna compaixão com que o pai do filho
pródigo acolheu o filho que, arrependido, tornava à casa paterna.

Um número imenso de humildes criaturas vivem imoladas, oram, sofrem, levam


resignadas o peso da sua cruz; são felizes de expiarem, com os seus sofrimentos, as
culpas dos pobres pecadores, e estas almas ignoradas, que somente na eternidade
chegarás a conhecer, serão para ti, aqui na terra, a pequena lâmpada semi-apagada;
ajudar-te-ão a reacender a chama da tua fé, a deixar a vida insidiosa do pecado, e a
pôr-te de novo no caminho do Céu.

Coragem! Não estás só. Um grande número de almas generosas que lerão estas
considerações unirão também elas as suas orações mais ardentes àquele Coração que
estendeu na Terra a rede de amor que une todos os eleitos do Céu para pedirem a tua
salvação.

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ESTÁS VIVO OU MORTO?
Para responderes a esta pergunta, deves reflectir que temos duas vidas: a vida natural
que resulta da união do corpo com a alma, e a vida espiritual que resulta da união da
alma com Deus por meio da graça. A primeira extingue-se pela morte que é a
separação da alma do corpo; a segunda, pelo pecado mortal, que é a separação da
alma de Deus.

A vida natural alimenta-se com o pão quotidiano, e a espiritual com o pão eucarístico,
por isso chamado o Pão da alma. É por isso que Nosso Senhor disse: «Eu sou o pão
da vida»… «Se não comerdes da minha carne e não beberdes o meu sangue, não terei
a vida em vós» – «Quem come este Pão viverá eternamente.»

Agora responde: Estás vivo ou morto? – Se comes este pão, estás vivo; se não o
comes, estás morto. Quantos mortos que julgam estarem vivos! Quantos cadáveres
ambulantes privados da vida espiritual, porque há muitos anos vivem longe do Pão da
vida!

Pertences talvez ao número desses infelizes? Serias tu um ramo seco, separado da


árvore da vida e destinado ao fogo eterno!?... Reflecte, meu irmão!

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INFELICIDADE DO POBRE PECADOR
Ninguém é mais infeliz na Terra do que aquele que tem a alma manchada do pecado
mortal. Como poderia ele viver tranquilo no meio das suas desordens? Para o ímpio,
diz o Espírito Santo, não há paz. Uma profunda tristeza e um subtil remorso, à
maneira de serpente venenosa, intoxicam-lhe a existência. Ele não está vivo, mas
morto. O pecado aniquilou a vida sobrenatural da sua alma. Diante dos olhos de
Deus, é objecto do mesmo horror que para nós causa a vista de um cadáver
putrefacto.

E assim como um morto já não pode agir, assim também ele nada mais pode fazer
que tenha valor para a sua vida eterna.

Pode o pecador possuir todas as riquezas e os tesouros da terra, a sua alma, porém, é
mais pobre e lastimável do que o último mendigo que estende a mão à caridade
pública. Está preso à cadeia de Satanás que o tem seguro como escravo seu, e ai dele
se a morte o surpreende neste estado!

Triste e infeliz condição! Acha-se suspenso por um ténue fio por cima do abismo do
inferno, e este fio está nas mãos daquele Deus que ele continua a ultrajar.

Que será dele quando se apresentar ao tribunal do juiz eterno?!

Irmão pecador, já pensaste em todas estas coisas? – Que resolves? – Deus quer
readmitir-te à sua amizade, quer abraçar-te, apertando-te sobre o seu Coração Divino.
Quererás tu continuar a ficar surdo à voz da misericórdia? Reflecte seriamente!...

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NÃO POSSO CONVERTER-ME
Às vezes encontram-se pobres pecadores que dizem ao sacerdote: Padre, tem razão,
eu queria ter um pouco mais de fé para fazer estas nove sextas-feiras que me sugere;
mas para isto devo confessar-me, devo comungar, numa palavra, devo converter-me:
eu não me sinto capaz de mudar de vida, não posso converter-me. Que devo fazer?
Pois bem, o Coração de Jesus que é o oceano infinito de misericórdia para todos, e
que não deseja senão que o pecador se converta e viva, sugere a este respeito um
meio muito fácil. Aparecendo à venturosa irmã Maria Chambom, fez-lhe esta solene
promessa:

«O pecador que disser a oração seguinte: Padre Eterno, ofereço-Vos as Chagas de


Nosso Senhor Jesus Cristo, para curar as das nossas almas, alcançará a sua
conversão.» Acrescentou: «Eu desejo que os sacerdotes a dêem a miúdo aos
penitentes no santo tribunal.»1

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PRIMEIRA SEXTA-FEIRA
Salvar-me-ei ou condenar-me-ei?
Já te aconteceu, devoto leitor, assistir ao jogo que fazem as crianças, desfolhando
margaridas para saberem a sua sorte? A criança quer saber, por exemplo, se irá para o
Paraíso ou para o Inferno; ei-la que, uma por uma, arranca e joga cada petalazinha da
flor e vai repetindo: Paraíso!.... Inferno!... até chegar à última pétala que pronunciará
a sua terrível sentença. Se a sorte for benigna e a presenteou com o Paraíso, alegra-se
e faz festa; se porém a inocente florzinha teve a audácia de a condenar ao Inferno, faz
mil caretas e protestos e recomeça a sorte com outras flores até achar a resposta que
lhe agrada.

Pode bem a nossa vida comparar-se a uma flor que andamos a desfolhar cada dia até
que ceifados pelo alfange da morte, nos encontraremos diante do Juízo Divino que
pronunciará sobre nós a sentença sem apelo: Paraíso ou Inferno.

Quando as crianças fazem as interrogações de que falámos sobre a sua sorte, sabem
que estão a brincar e não dão à sorte senão a importância de uma brincadeira. Mas
podemos nós considerar a nossa vida como um gozo de prazer? Não nos ensina a fé
que ela é para nós um grande dever, cheio da mais tremenda responsabilidade? Que
entre todas as coisas que devemos fazer aqui na Terra, há uma que para todos é
«absolutamente necessária», ou melhor, é a única coisa verdadeiramente necessária, a
de salvar a nossa alma? Já algum dia pensámos nisto seriamente? E se já pensámos
nisto, fizemo-nos esta pergunta: «Salvar-me-ei, ou pelo contrário, condenar-me--ei?...
Serei um dia anjo vestido de luz e de alegria imortal no Paraíso, ou um demónio
cercado de chamas e dilacerado pelas penas eternas do Inferno?»

Este pensamento fazia tremer de pavor os santos, e poderemos nós viver tranquilos
com a consciência pesada com tantos pecados?... Não sabemos que basta um só
pecado mortal para merecermos o Inferno?... E se nos viesse uma morte repentina?....
Ora Jesus com a sua “Grande Promessa” vem livrar-nos deste tremendo pesadelo e
dá-nos esta consoladora resposta «terás a graça da perseverança final, isto é, irás
certamente salvo para o Paraíso, se fizeres nove comunhões nas primeiras sextas-
feiras do mês, durante nove meses consecutivos».

Jesus, portanto, neste momento põe nas tuas mãos o “Bilhete do Paraíso”, e dá-te a
”chave de ouro” que um dia te abrirá a porta do Céu. Resta--te saber aproveitar esta
graça verdadeiramente extraordinária que o seu Coração misericordioso te oferece.

Animado destes sentimentos, aproxima-te com grande fé da santa comunhão e repete


devotamente a seguinte

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ORAÇÃO

Ó dulcíssimo Coração de Jesus, que resgatastes a minha pobre alma com o preço do
vosso Divino Sangue, fazei que eu compreenda bem quanto é preciosa a graça que
quereis fazer-me com a vossa “Grande Promessa”, a fim de que, vencendo todos os
obstáculos que o demónio procurará levantar, possa cumprir com verdadeiro
sentimento de «fé, amor e esperança», estas «nove comunhões», para assegurar assim
a salvação da minha alma. Sagrado Coração de Jesus, creio no vosso amor por mim, e
estou certo de que não me abandonareis.

EXEMPLO

Jesus-Menino aparece no altardiante de todo o povo

Lê meu devoto leitor, este novo prodígio operado pelo «Amor Infinito» do teu Deus,
a fim de que, ao fazeres as tuas Comunhões das primeiras sextas-feiras, possas estar
sempre animado de grande espírito de fé na presença real de Jesus na Santa Hóstia.

Em 20 de Abril de 1905 – segundo foi referido naquele tempo pelos jornais espanhóis
– houve uma aparição de Jesus Menino em Manzeneda, cidade de Espanha,
presenciada por todo o povo.

Na Igreja dos Padres Redentoristas, encerravam-se uma série de Exercícios


Espirituais com solenes funções reparadoras. O pároco, Pe. Pedro Rodrigues, tinha
exposto o Santíssimo Sacramento e uma multidão compacta e devota, depois da
recitação do Rosário, ouvia as exortações do Pe. Mariscal, um dos missionários.

De repente, o pregador interrompe bruscamente. O auditório até então atento, parecia


dominado por uma agitação misteriosa. Os que estavam sentados tinham-se posto de
pé sobre os banquinhos e genuflexórios; os outros levantavam-se na ponta dos pés
para ver melhor, enquanto corria por toda a igreja um surdo murmúrio. O pregador,
que não conseguia explicar a causa, chamou a atenção do público para que não
faltasse ao respeito que se devia à majestade de Deus, presente no adorável
Sacramento, e conseguiu por alguns instantes obter um pouco de calma. Mas eis que
uma menina de sete anos, chamada Euxódia Veha de Escurida, com voz argentina
põe-se a gritar: «Também quero ver o Menino!»

A esta exclamação, os fiéis não se puderam mais conter. O Pe. Mariscal voltou-se
para o altar para onde convergiam os olhares de todos e pôde ver o grande prodígio
que tão profundamente comovia todo o povo.

O pároco, ajoelhado diante do altar, contemplava a doce aparição. Sobre o trono, no


lugar do Ostensório, via-se um Menino que parecia ter seis ou sete anos, com um
vestido mais cândido do que a neve, que sorria amorosamente aos fiéis estendendo-
lhes as mãozinhas.

Do rosto divino, todo radiante de encantadora beleza, desprendiam-se raios

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vivíssimos de luz, enquanto os olhos cintilavam como duas estrelas. Observou-se que
sobre o peito havia uma ferida da qual saía um pequeno rego de sangue que escorria
sobre o vestido branco, tingindo-o de vermelho.

A visão durou algum tempo e depois desapareceu. As cerimónias naquela tarde


continuaram no meio das lágrimas e dos soluços; os confessionários funcionaram até
à meia-noite, pois todos queriam reconciliar-se para poder receber no dia seguinte a
Santa Comunhão aquele belíssimo Menino aparecido no Altar.

O facto também foi publicado no Mensageiro do Sagrado Coração.

Jaculatória – Sagrado Coração de Jesus, esperança daqueles que morrem em Vós,


tende piedade de nós.

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SEGUNDA SEXTA-FEIRA
«Jesus é amor!»
Deus é amor: amar significa dar-se. Ora, Deus deu-nos tudo o que temos… eis a
«Criação». Amar é manifestar os próprios pensamentos: e Deus falou pela boca dos
profetas e do seu Divino Filho: eis a «Revelação». Amar é tornar-se semelhante ao
amado; e Deus fez-se nosso irmão; eis a «Encarnação». Amar é sofrer pelo amado, e
Deus imolou-se por nós na Cruz: eis a «Redenção». Amar é estar sempre junto do
amado: eis a «Eucaristia». Amar é dividir a própria felicidade com o amado: eis o
«Paraíso».

É impossível compreender com quanto amor Deus nos amou! Consideremos o que
fez Jesus Cristo por nós.

Éramos escravos do demónio e fez-nos filhos de Deus; tínhamos merecido o Inferno,


e abriu--nos as portas do Paraíso; estávamos cobertos de iniquidades, e lavou-as no
seu Sangue. Por nós ocultou a sua glória, a sua dignidade, e fez-Se menino. Por nós
sofreu o frio, a fome, a sede, a pobreza, o exílio, a humilhação, a calúnia, as
acusações mais infames. Foi amarrado, flagelado, escarrado, ridicularizado,
esbofeteado, coroado de espinhos, considerado pior do que Barrabás, condenado à
morte, crucificado entre dois ladrões. Deu-nos a sua graça, os seus ensinamentos, os
seus méritos divinos, o seu Sangue; do alto da cruz, quando nada mais Lhe restava,
deixou-nos a própria Mãe para Mãe nossa.

Mas não termina aqui o seu amor infinito por nós. O seu Coração não quis deixar-nos
órfãos nesta terra de exílio, e por isso realizou o maior dos seus milagres dando-Se a
Si mesmo a nós no adorável Sacramento da Eucaristia. Assim Ele fez-Se nosso
companheiro, nosso médico, nosso advogado, nosso alimento e vítima sempre
imolada no Santo Sacrifício da Missa.

Ah! Jesus pode bem justamente repetir a cada um de nós as palavras do profeta: «que
poderia eu ter feito mais pela minha vinha, e não fiz?»

A tanto amor, porém, uma grande parte dos homens e dos próprios cristãos não
responde senão com frieza, com apatia, com ingratidão. Por isso aparece à apóstola
do seu amor e, mostrando-lhe o seu Coração Divino atravessado pela lança, repete-
lhe estas palavras: «Eis o Coração que tanto amou os homens, até morrer e consumir-
se para lhes demonstrar o seu amor; e em compensação da maior parte deles não
recebe senão frieza e ingratidões! …»

Na manifestação do seu Coração Divino, coroado de espinhos, ferido pela lança,


encimado pela cruz, envolto nas chamas e gotejando sangue, Jesus quis dar-nos a

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entender quão grande foi o seu amor por nós e quanto é monstruosa a ingratidão
daqueles que vivem esquecidos d’Ele e não cuidam da salvação da alma.

Mais de oitenta e duas vezes Jesus apareceu a Santa Margarida para lhe repetir estas
palavras cheias de tanta tristeza, que deveriam enternecer todos os corações: «Minha
filha, tem compaixão de Mim: estou triste porque não sou amado!...»

Um dia a Madre Santa Margarida (falecida em Vische Canavese em 1915),


meditando sobre o amor infinito de Deus pelas suas criaturas, dirige a Jesus estas
palavras:

– Dizei-me, Jesus, porque é que o vosso Coração encerra tanto amor e porque o
derramais assim sobre a vossa indigna criatura?

Jesus respondeu-lhe:

– O meu Coração é o Sacrário vivo da divindade que Ele encerra na sua plenitude e a
divindade é o Amor. Não compreendes que o Amor, sempre activo, é semelhante a
um grande rio, que corre e se precipita?

– Sim, o Amor derrama-se mas porquê sobre a minha miséria?

– A tua miséria atrai-Me porque sou a Misericórdia; a tua fraqueza cativa-Me porque
sou o Omnipotente; as tuas culpas reclamam-Me, porque sou o Puro e Me sacrifiquei
por ti… Deixa-me derramar sobre o teu coração o excesso do meu amor.

Se quiséssemos, portanto, exprimir com uma só palavra o que é Jesus para nós,
deveríamos repetir a resposta que deu a uma alma privilegiada, Soror M. Josefina,
adoradora do Sagrado Coração que Lhe perguntara: «Quem é Jesus?» – Resposta:
«Jesus é Amor!»

ORAÇÃO

Ó Jesus, eu creio no vosso infinito Amor por mim! Tudo o que tenho e sou devo-o ao
vosso Amor que com milagre contínuo me conserva: é o Vosso Amor que por mim se
imolou no Calvário e continua a imolar-se todos os dias nos nossos altares. É o vosso
Amor que tantas vezes purificou as chagas da minha alma, que me alimentou tantas
vezes na vossa Eucaristia, que me preparou um prémio de glória imortal no Céu.

«Ó Amor infinito, que viveis no Divino Coração de Jesus, fazei-Vos conhecido dos
homens para que Vos amem como quereis ser amado.» (M. S. Margarida)

EXEMPLO

Os triunfos do Santíssimo Coração de Jesus

Para conhecer quanto Jesus é fiel em manter a sua “Grande Promessa”, lede este

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outro facto narrado pelo próprio agraciado, o qual depois da sua conversão se tornou
um ardente apóstolo de Sagrado Coração.

«Convém que se saiba, assim se exprime o Senhor Salvador do Sagrado Coração, que
como o filho pródigo, eu tinha abandonado o aprisco do bom Pastor. Fui ingrato! As
pastagens mais belas e perfumadas eram para mim, eu era objecto das mais ternas
solicitudes, das carícias mais doces e delicadas. Fui ingrato! Abandonei Deus, fugi
para longe d’Ele que me corria atrás de mim, chamando-me com os nomes mais
carinhosos. Como fui ingrato! Depois d’Ele me ter alcançado, repeli-O, maltratei-O,
calquei-O aos pés, crucifiquei-O!... Vivi durante muitos anos, sem nem sequer pensar
no bom Pastor…

Um dia, porém, de repente, uma recordação me vem à mente…; sem querer, volto
com o pensamento àquela idade feliz da minha infância… Vejo-me ajoelhado diante
do Coração de Jesus para O receber na Sagrada Comunhão. A Grande Promessa do
Santíssimo Coração triunfa: Jesus, no excesso da misericórdia do seu amor, tinha-se
recordado da ovelhinha perdida.

Hoje, finalmente, cumpro o voto que então fiz de publicar esta graça extraordinária, a
fim de convencer a todos de que: «Quem faz as nove sextas-feiras em honra do
Sagrado Coração de Jesus, é impossível que se condene, porque Jesus será sempre
fiel à sua “Grande Promessa.”

Jaculatória – Sagrado Coração de Jesus, eu creio no vosso amor por mim (300 dias de
indulgência).

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TERCEIRA SEXTA-FEIRA
Amor pede amor
Vimos que Jesus é Amor, todo amor, e só Amor por nós; vive somente de Amor e só
se alimenta de Amor. Veio trazer à terra este fogo divino do seu Amor e não tem
outro desejo senão o de inflamar com ele todos os corações. É este Amor que O
impele a dar-Se sem medida àqueles que O procuram; que O faz tremer sobre a sorte
da ovelha desgarrada para a reconduzir ao redil do seu Pai: que O faz gemer sobre a
cegueira de tantos pobres pecadores que vivem esquecidos d’Ele, que caminham à
beira da sua perdição eterna!

Pois bem: Ó alma fiel e amante de Jesus, tu que sabes compreender a angústia do seu
Coração, tens o dever de O consolar, tens o dever de Lhe retribuir o seu infinito Amor
por ti. E o melhor meio é dar-Lhe almas que poderás conquistar com as tuas orações e
os teus sacrifícios.

«O mundo está a tornar-se frio como o gelo» – assim falou Jesus à Madre Luísa
Margarida – «o egoísmo sufoca os corações, os homens afastaram-se do fogo da
caridade e pensam estar longe do seu Deus, quando Eu – Amor infinito – estou perto
deles… Encarnei-Me para me unir ao homem, morri para o salvar. O meu sacrifício
foi bastante poderoso para resgatar a humanidade, e até infinitamente mais; mas o
homem, feito livre, deve cooperar na obra da sua salvação. A superabundância dos
meus méritos dá-lhes para este fim uma graça eficaz, mas quantos rejeitam a minha
graça! Tomo então almas, revisto-as de Mim mesmo, continuo nelas a minha paixão,
servindo-Me delas como de canais purificados, derramo por meio delas no mundo
uma afluência nova da graça e de perdão.»

Orar pelos pecadores, sacrificar-se por eles, é este, portanto, o presente mais
agradável que elevou Santa Teresinha do Menino Jesus a tão excelsa santidade; este é
o convite que Jesus repete a todos aqueles que sabem compreender o seu amor.

Jesus também te faz este convite, e com voz amorosa diz-te: «Filho, amas-me?... Dá-
me almas! Pensa que no mundo há inúmeros pecadores que se perdem!... Ainda um
instante e muitos destes passarão para uma eternidade de tormentos!... Não tens
compaixão da sorte terrível que os espera? Não há almas que desejarias com
empenho tirar do caminho da perdição? As tuas oraçãoes e os teus sacrifícios podem
ainda salvá--las, abrir-lhes as fontes da Misericórdia, dar-lhes os méritos do meu
Sangue, e tu recusarás ao teu Deus esta divina consolação de poder associar-te à
grande obra da salvação dessas almas?... Reza pelos pobres pecadores, à tua oração
une os teus sacrifícios. A oração em meu nome é o sacrifício que triunfa de tudo.»

Não sejamos insensíveis a este amoroso convite do Coração dulcíssimo de Jesus,

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oremos e ofereçamos alguns sacrifícios por todos os pobres pecadores, mas
especialmente por aqueles que estão unidos a nós pelo sangue ou pela amizade.
Podemos ter a certeza de que a nossa oração não será perdida. Todos os nossos actos
sejam actos de amor, imitando também nós aquele santo religioso alfaiate, Geraldo
Majela, que a cada ponto de agulha repetia: Senhor, eu Vos amo: salvai uma alma!

ORAÇÃO

Ó Coração misericordioso de Jesus, tende piedade de tantos pobres pecadores que


vivem longe de Vós, com a alma manchada de tantas torpezas, sem reflectir que estão
suspensas sobre o abismo do inferno para onde, de um momento para o outro, podem
precipitar-se. Ó Piedosíssimo Redentor das nossas almas; Cordeiro de Deus que
apagais os pecados do mundo, pelos méritos infinitos das Vossas Sacratíssimas
Chagas e do Vosso preciosíssimo Sangue tende piedade deles, a fim de que, atraídos
pela vossa infinita bondade, detestem as suas culpas e se convertam a Vós.

EXEMPLO

Amor heróico de uma menina de 4 anos

Narra o Pe. Grawley nas suas conferências evangélicas:

Eu estava em Biarriz, há algum tempo e lá ouvi o seguinte episódio da boca de um


missionário. É uma belíssima história. Ele preparava meninas chinesas para a
Primeira Comunhão. Havia dois grupos na sala: meninas de sete aos doze anos que
iam fazer a Comunhão em breve, e umas vinte pequeninas que assistiam para
aprenderem o catecismo.

«Deveis saber, disse o missionário, que na pequena prisão do tabernáculo, na âmbula


de ouro, na Hóstia branca, está Jesus. Está aí, espera-vos com impaciência para Se dar
a vós, porque Ele ama todas as crianças.»

Entre essas meninas, havia uma de quatro anos. Depois do catecismo disse à irmã:

– Deixa-me ir falar com o Padre?

Com a resposta afirmativa, a menina vai bater à porta do Padre.

Que vens fazer aqui?

– Padre, tenho uma coisa a dizer-te… Tu ensinaste-nos que Jesus está no Sacrário…
que lá nos espera… que ama os pequeninos… Deve amar-me mais do que às outras,
porque sou a mais pequenina… e depois eu desejo… não deves fazê-l'O esperar…
dá-Mo!

O Padre estava perplexo.

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– É verdade, disse finalmente: Jesus espera as meninas, mas não as demasiado
pequeninas.

– Demasiado pequenina? – Que quer dizer, ser demasiado pequenina? Sei o


catecismo como as outras.

O Padre ficou novamente preocupado.

Para sair do embaraço perguntou:

– Quantos anos tens?

– Não sei.

– Mostra-me os teus dentes.

Ela mostrou os dentinhos de leite.

– Mas tens ainda os dentes de leite, é demasiado pequenina.

A menina calou-se um momento.

– E quando eu não tiver estes dentes, prometes que me darás Jesus?

– Sim, prometo.

– E Mo darás todos os dias?

– Sim.

A menina sai e volta dez minutos depois, mas em que estado, meu Deus! Tremendo;
com o rosto banhado em lágrimas e a boca manchada de sangue… Com uma pedra
ela tinha feito saltar os dentinhos de leite.

Chorei, contou o Missionário, e tomei-a nos braços.

– Se fosse de manhã, disse-lhe, eu te daria já Jesus; mas vem amanhã cedo e recebê-
l'O-ás.

– Agora, disse ela ao padre, tu Mo darás todos os dias?

– Sim, minha menina, todos os dias.

No dia seguinte, com a cabecinha enfaixada, ela apresenta-se e naquela pequenina


boca ferida pelo amor, Jesus vem depor o seu favo de mel, o mel do seu Coração.

Quanta confusão deveríamos sentir ao considerar um tão grande amor no coração de


uma criança de quatro anos apenas, filha de pagãos!

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Supliquemos a Jesus que inflame também o nosso coração de amor generoso para nos
sacrificarmos por Ele.

Jaculatória – Ó Jesus, fornalha ardente do amor divino, fazei que eu também me


inflame de amor por Vós.

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QUARTA SEXTA-FEIRA
Infinita benevolência de Jesus pelas almas
Quem poderá descrever a infinita bondade e ternura do Coração de Jesus pelas nossas
almas? Foi por amor destas almas que veio à terra, que trabalhou durante trinta anos
na humilde oficina de Nazaré, que sofreu tantas dores e humilhações na sua Paixão e
morreu na Cruz.

Passou a vida fazendo o bem a todos e abraçando a todos na efusão do seu Amor
divino: mas os que tiveram as suas predilecções especiais foram as almas puras e
inocentes das crianças. Com elas gostava de falar: acariciava-as, aben-çoava-as e
chamava-as afectuosamente para junto de Si. Eram os seus amigos mais queridos, os
seus predilectos, os seus benjamins.

Como naquele tempo, ainda hoje e sempre as almas mais puras e inocentes são o
objecto privilegiado das suas mais preciosas graças.

Na vida de Soror M. Josefina (falecida em Turim em 1917) lê-se o seguinte, quando


era ainda pequena:

«O meu Jesus, escreve ela, vinha surpreender--me no meu trabalho e nos meus
brinquedos. Um dia enquanto estava a trabalhar, transportando pedras para uma
construção, o meu carrinho estava tão pesado, que eu não podia fazê-lo andar nem
para diante nem para trás… Estava em pé, perto de mim, Jesus olhava-me… Confusa
pela sua presença, disse-Lhe:

– Senhor, Tu que tudo podes, não me queres ajudar um pouco?

Imediatamente pôs a mão no carrinho, enquanto eu fazia força no outro lado. Tornou-
se tão leve o carrinho que andava sozinho. Eu nem queria acreditar, tal era a minha
surpresa.

– Pobre menina, disse Jesus, porque não Me chamaste logo para te socorrer? Vê
como são insensatos os homens! Na sua extrema fraqueza, eles podem dispor da
Força Divina e não a querem.»

Quem não se sente comovido ao considerar tanta condescendência de Jesus que não
hesita em vir do céu para ajudar uma criança nos seus brinquedos infantis? Poderia
Jesus dar prova de maior ternura pelas suas criaturas?

Se Jesus, portanto, se abaixa assim para nós, saibamos também nós, seguindo o seu
exemplo, humilhar-nos, ser condescendentes e serviçais para com o nosso próximo,
lembrando-nos de que Ele considera como feito a Si próprio aquilo que fazemos ao

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menor dos nossos irmãos que se acha em necessidade. Esse é o melhor modo de
corresponder ao seu amor e de ficarmos merecedores da sua “Grande Promessa”.

Sabe-se também que Jesus se entretinha muito familiarmente com aquele lírio de
pureza que foi Rosa de Lima, a ponto de passear com ela no seu jardim, colher flores
e levar-lhas. Um dia, a santinha feito uma bela coroa com estas flores e pô-la na
cabeça de Jesus, mas Ele tirou-a e com ela cingiu a fronte da inocente menina
dizendo:

– Não, minha pequena esposa, a coroa de rosas é para ti: para mim a coroa de
espinhos.

Se Jesus nos mostra amar assim tanto a simplicidade e a inocência das crianças,
prometamos também nós praticar estas belas virtudes, fugindo com horror de tudo o
que pode ofuscar o candor da nossa alma. Assim gozaremos também das inefáveis
delícias do seu divino amor.

ORAÇÃO

Coração dulcíssimo de Jesus, que amastes com tanta ternura as crianças por causa da
sua inocência e candura, compadecei-Vos da nossa juventude exposta a tantos perigos
e seduções e não permitais que ela se deixe arrastar pela onda de lodo e corrupção
que a circunda. Reconduzi também, ó Jesus, à observância da lei, os pobres filhos
pródigos que fugiram da casa do Pai para se entregarem às suas paixões, a fim de que
um dia todos venham cantar os vossos louvores no céu.

EXEMPLO

Jesus em colóquio afávelcom uma menina de oito anos

É impossível dar uma ideia, mesmo sumária, dos numerosos poetas que revelam a
infinita preocupação de Jesus pelas almas. Na vida da irmã Marta Maria Chambon, da
Visitação de Chambery na França, falecida em 2 de Março de 1907 com 63 anos, lê-
se que a esta santa religiosa lhe aparecia o Menino Jesus na Santa Hóstia, todas as
vezes que comungava, desde o dia da sua Primeira Comunhão até à morte. Não se
contentando com este insigne favor, Jesus tornou-se o inseparável companheiro da
sua mocidade: seguia-a nos trabalhos do campo, conversava afavelmente com ela
pela estrada e acompanhava-a até à sua casa paterna.

«Estávamos sempre juntos. Oh! como eu era feliz! Tinha o Paraíso no coração», dizia
ela no fim da sua vida, relembrando essas antigas e suaves recordações. Na época,
porém, em que gozava esses extraordinários favores, nem sequer pensava em contar a
alguém a sua íntima familiaridade com Jesus, julgando na sua santa ingenuidade que
todos possuíssem o mesmo privilégio.

Este outro facto que aqui relatamos, é narrado pelo Pe. M. Crawley:

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«Uma menina de oito anos dirigida por ele estava a preparar-se para a Primeira
Comunhão. Para demonstrar a Jesus o seu ardente amor, privou-se de frutas e de todo
e qualquer refresco durante todo o Verão. Mas Jesus, que não se deixa vencer por
ninguém em generosidade, recompensou-lhe a caridade heróica com comunicações
sensíveis durante a Santa Comunhão.

Esta florzinha do Coração de Jesus falara-Lhe como uma irmã falaria ao irmão, e
Jesus perguntou-lhe com a mesma ternura e familiaridade.

– Irmãzinha minha, amas-me?

– Meu caro Jesus, estas coisas não se perguntam.

– E porque não, irmãzinha minha?

– Porque, bem sabes, meu Jesus, que Te amo e que o meu coração é todo teu!

– Sim, Eu sabia-o; mas gosto de ouvir repeti-lo, por isso é que to pergunto.

Algum tempo depois a menina tinha esquecido o seu ingénuo colóquio. Por sua vez
sente também a necessidade de perguntar a Jesus.

– Meu Jesus, queres bem à tua irmãzinha?

Jesus então responde também:

– Irmãzinha minha, estas coisas não se perguntam.

– Porquê? – diz ela ingenuamente.

– Porque bem sabes que o meu Coração Divino te pertence inteiramente.

– Querido Jesus, receava ter-te magoado em alguma coisa. Agora estou contente.»

Jaculatória – Ó Coração de Jesus, cheio de Bondade e de Amor, tende piedade de nós.

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QUINTA SEXTA-FEIRA
O Coração misericordioso de Jesuse os pobres pecadores
Jesus declarou mais de uma vez no Santo Evangelho que veio à terra movido pela
compaixão para com os pobres pecadores. «Não vim para chamar os justos, mas os
pecadores»… «Não quero a morte do pecador mas que se converta e viva.» O seu
Coração Divino é asilo em que os pecadores encontram a salvação, e ao mesmo
tempo é a fonte e o oceano da misericórdia. Todas as suas fadigas, todas as suas
humilhações, todos os transes da sua Paixão e Morte, não tiveram outro fim senão a
salvação dos pecadores.

Ele é o bom Pastor que, deixando em segurança as noventa e nove ovelhas, corre
pelos penhascos à procura daquela que se desgarrou e, achando-a, carrega-a aos
ombros até ao aprisco. Nas ovelhas que estão seguras podemos ver representados os
anjos do Paraíso, que Ele deixou para vir à Terra em socorro da humanidade
pecadora.

Ele é o Pai amoroso que chora sobre a miséria do pobre filho pródigo, e não descansa
enquanto não o vê tornar à casa paterna. Corre jubiloso ao seu encontro. Abraça-o,
aperta-o sobre o seu coração, e convida todos os seus amigos a regozijarem-se
consigo dizendo: «Este meu filho estava perdido e foi encontrado; estava morto, e
ressuscitou.»

Ele é o defensor da mulher adúltera contra os seus acusadores, dizendo-lhes: «Aquele


que de entre vós é inocente atire-lhe a primeira pedra»: voltando-se depois para ela,
pronunciou estas palavras consoladoras: «Mulher, ninguém te condenou? Pois bem,
nem Eu te condeno. Vai em paz e não voltes a pecar.»

O seu Coração é todo compaixão e parece não achar alegria maior do que a de
perdoar aos pobres pecadores e de reconciliá-los com o seu eterno Pai. Perdoa a
Zaqueu indo visitá-lo na sua casa; perdoa à Madalena, pecadora pública que durante
um convívio se lança a seus pés, banhando-os com uma torrente de lágrimas; perdoa
à Samaritana, revelando-lhe os pecados que ela cometera; perdoa a Pedro que O tinha
vergonhosamente renegado, e volveu para ele um olhar de compaixão; perdoa do alto
da Cruz aos seus algozes, desculpando-os junto do seu Eterno Pai, porque não sabiam
o que faziam; perdoa ao bom ladrão e faz-lhe aquela consoladora promessa: «Hoje
mesmo, estarás comigo no Paraíso.»

Um dia Jesus, mostrando a Soror Benigna o Inferno, disse-lhe:

«Vês, Benigna, aquele fogo? Por cima deste abismo Eu estendi como que uma rede
feita com os fios da minha Misericórdia, para que as almas não venham a cair nele:

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mas aqueles que se querem condenar, vão com as mãos abrir aqueles fios para caírem
nele e quando já lá estão, nem mesmo a minha bondade os pode salvar. Estas almas
são mais perseguidas pela minha misericórdia do que o malfeitor pela polícia, mas
fogem à Misericórdia.»

«A porta da minha Misericórdia não está fechada à chave, está apenas encostada: por
pouco que se toque nela, abre-se; até uma criança pode abri-la e até mesmo um velho
com poucas forças. A porta da minha Justiça, pelo contrário, é fechada à chave e
abre-se somente a quem me obriga a abri-la; mas Eu espontaneamente nunca a
abrirei.»

Oh! Como Jesus ama os pobres pecadores! Como deseja apertá-los sobre o seu
Coração e dar-lhes o ósculo do perdão! Não derramou por eles todo o seu Sangue?

É por isso que nenhuma oração Lhe agrada mais do que aquela que fazemos pela
conversão dos pecadores.

Na vida de Soror Josefina, já citada, lê-se este belo episódio que revela quais são os
anelos do seu coração:

Estava ela um dia a estudar na História Sagrada o ponto em que Noé soltou a pomba
para fora da arca, quando de repente um olhar a penetrou… Era Ele!... Jesus!...

– Queres ser sempre a minha pomba?

– Sim… Mas dar-me-ás asas para que depressa possa estar junto de Ti.

– Procura cumprir antes a tua missão. Vê, a pomba só volta à arca trazendo o ramo de
oliveira no bico. É o símbolo da paz. Quero que sejas intermediária entre Deus e os
homens…

Ora, suplica, expia: Estou desejoso de perdoar: Deseja também tu pedir e obter o meu
perdão.

ORAÇÃO

Ó misericordiosíssimo Jesus, todo bondade e ternura para com os pobres pecadores,


eu Vos ofereço hoje por eles a minha humilde oração, porque sei que é coisa muito
agradável ao Coração Divino que quis ser rasgado pela lança do soldado a fim de lhes
dar até a última gota de Sangue. Ó Jesus despertai-os do torpor, fazei com que
compreendam a sorte terrível que os espera se não se emendarem, e, pelos méritos
das vossas Sacratíssimas Chagas, por todos os transes da vossa cruel agonia, pela
vossa morte ignominiosa, não permitais que se percam essas almas que vos custaram
tantas penas. Ó Jesus, tende piedade e misericórdia de todos, especialmente dos
pecadores obstinados que estão em perigo de morte!

EXEMPLO

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A conversão de um conhecido socialista maçónico

Em 14 de Abril de 1909, morria em Ventimiglia, (Itália), João Pedro Ferrari, que


durante muitos anos tinha sido um dos mais ardentes elementos do partido socialista.

Na sua mocidade fora educado religiosamente no Colégio dos Padres Jesuítas, no


Principado de Mónaco, e praticara com muita piedade e devoção as nove sextas-feiras
em honra do Sagrado Coração de Jesus. Entretanto, porém, nas escolas públicas de
então, reinava o mais puro materialismo e ele não tardou em abandonar toda aquela
prática religiosa, dando livre curso àquelas paixões que arrastaram miseravelmente na
lama tanta juventude incauta.

Alistou-se no partido socialista, e pôs-se a fazer ardente propaganda entre as massas


operárias com tão ardente fervor que já no liceu era tido como suspeito pela Polícia.
Durante os anos de universidade inscreveu-se na loja maçónica «Os Persistentes» de
Ventimiglia. Depois de formado em Direito, consagrou-se inteiramente à causa do
proletariado; foi chamado a fazer parte de administrações públicas na Comuna e na
Província. Enquanto esta actividade febril era um meio para fazer calar a voz da
consciência, no seu coração travava-se uma luta atroz. No entanto, o Sagrado Coração
de Jesus, apesar das ingratas repulsas que dele recebia, não cessava de o chamar para
o tirar do caminho da perdição em que se transviara.

Ao vê-lo exteriormente, com as suas maneiras sempre alegres e joviais, vivo e


sorridente, parecia ser o homem mais tranquilo e mais feliz do mundo; mas que paz
pode gozar quem vive longe de Deus?

Um dia, quando ainda era universitário, falando com um padre que fora seu prefeito
no Colégio, ao recordar-se da devoção ao Sagrado Coração, da paz serena e da
felicidade que gozava quando vivia na graça de Deus, deixando repentinamente cair
aquela máscara de alegria superficial, exclamou chorando:

– Ah! Padre, sou um infeliz, sou um desgraçado!... tenho o Inferno no coração, não
posso mais.

Em vão procurou o padre valer-se daquele momento da graça para o ajudar a voltar
para Deus.

– Não, Padre, é impossível, estou muito comprometido, que dirão os meus


companheiros?... Não, não, repetiu, enxugando as lágrimas e recompondo-se como
arrependido daquilo que dissera, fraqueza quando afinal era sinceridade.

Assim continuou ainda abafando os remorsos com que o Coração de Jesus o


estimulava a arrepender-se. Raiou finalmente o dia em que começou a render-se à
graça de Deus. Retirou-se do partido, apresentou a sua demissão de Conselheiro
comunal, representante da minoria, e não fez mistério dos seus sentimentos de fé. Em
1905, valendo--se de uma circunstância exterior, Nosso Senhor abalou-o fortemente
com o pensamento da condenação eterna. Fez então a sua confissão geral (como ele

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mesmo o declarou ao próprio irmão) a Sua Excelência monsenhor Daffa, bispo de
Ventimiglia, a quem entregou os seus documentos maçónicos. A santa morte da sua
piedosa mãe, dois anos depois, aproximou-o mais de Deus, mas foi por meio da
doença que o Coração de Jesus triunfou totalmente nele.

Em 6 de Maio de 1908, quando no tribunal estava a estudar os autos do processo de


um pobre que defendia, foi acometido dos primeiros escarros de sangue. O mal foi
sempre aumentando, mas também crescia nele ao mesmo tempo o espírito de piedade
e paciência, a ponto de edificar a todos os do sanatório onde se encontrava.

Quando podia levantar-se, ajudava devotamente à Missa aos domingos na capela do


Sanatório. Nas crises mais agudas implorava com mais fervor o Sagrado Coração de
Jesus, e aproximava-se frequentemente da mesa eucarística. O tratamento que seguia
causava-lhe grandes sofrimentos; mas não se queixava nem gemia.

– «Ah! Lembro-me com horror, escrevia ele, destes pequenos suplícios durante os
quais eu não emitia nenhum gemido… E isto, não para me fazer de estóico, mas para
oferecer a Deus menos indignamente os meus tormentos em expiação dos meus
pecados.»

Sendo transportado para Ventimiglia nos últimos dias de vida, a sua alma esteve
continuamente unida a Deus pelo fervor da oração e dos santos pensamentos. Com os
olhos voltados para o Céu e lágrimas de arrependimento, em alta voz oferecia
compungido a sua vida ao Senhor em reparação das suas culpas, pedindo somente a
graça de poder morrer depois de perfeitamente purificado e de ter reparado com o
bom exemplo o mal que tinha feito.

Convém lembrar aqui uma piedosa e eloquente circunstância. Ao terminar a vida do


colégio, ele tinha tomado a resolução de trazer consigo a imagem do Sagrado
Coração de Jesus e a de Maria Santíssima, como afirmação perene da sua devoção.
Na imagem do Sagrado Coração o Superior, ao entregar-lha, escreveu o seguinte:

«Os Corações de Jesus e de Maria sejam teus guias para o Paraíso»: ele, ao recebê-la,
acrescentou do próprio punho: «Maria Santíssima, rogai por mim». Nem mesmo nos
anos mais infelizes da sua vida jamais se separou totalmente das suas caras imagens.
Estas mesmas imagens, durante a sua doença e principalmente nas últimas horas da
vida, cobria-as de beijos em sinal de gratidão e reparação. Apertando-as junto ao
coração, com a calma serena do justo, na paz da mais viva esperança cristã, entregou
a sua bela alma a Deus.

Depois de convertido, Ferrari repetia sempre: «Quero que todos saibam que eu
espontaneamente, com grande consolação, voltei à prática da Religião na qual de ora
em diante viverei enquanto Deus me conceder viver, e na qual quero morrer.»

Jaculatória – Coração de Jesus, vítima dos pecadores, tende piedade de nós.

39
SEXTA SEXTA-FEIRA
O Sagrado Coração de Jesusconvida-nos a rezar pelos
pobres pecadorese a fazer sacrifícios por eles
O Coração de Jesus é o mais sensível e delicado de todos os corações. Por isso não
pode deixar de se comover com todas as nossas misérias, com todas as nossas
angústias e dores. Não cai dos nossos olhos uma lágrima, não sai dos nossos lábios
um gemido, do peito um suspiro, que Lhe não firam ternamente o Coração. E esta sua
ternura não é somente pelas almas que mais de perto O seguem, que se sacrificaram
por Ele: mas abraça todas as criaturas sem excluir os seus inimigos. Parece até que
para estes é que se dirigem os seus mais ardentes suspiros e as suas mais delicadas
ternuras. Não há maior inimigo de Deus do que aquele que O ultraja com o pecado,
que despreza e profana o seu amor, que Lhe renova quotidianamente as dores da sua
Paixão e Morte, e contudo, a estes pobres filhos pródigos, que vivem longe da casa do
Pai, Ele reserva as suas solicitudes e atenções mais amorosas.

O mundo, tal como nos tempos de Noé, ainda necessita actualmente de ser purificado
da sua corrupção, mas não é com um dilúvio de águas que Deus quer purificá-lo, mas
sim com um dilúvio de chamas… as chamas do seu amor, que irrompem do seu
Coração cheio de Bondade e Misericórdia pelos homens.

Voltado para os seus amigos e para todas as almas generosas, Jesus parece dizer-lhes:
«Não vedes quantos infelizes tomam o caminho da perdição sem verem o abismo
tremendo que está prestes a tragá-los para sempre?... Não vedes como é incalculável
o seu número?

Há anos e anos que eu os chamo…, a minha voz está rouca de tanto os chamar; mas
não Me têm ouvido… voltam-Me as costas com desprezo depois de Me atirarem ao
rosto esta resposta iníqua: «não precisamos de Ti… não te conhecemos!» No entanto,
por eles desci do Céu, por eles subi ao Calvário, por eles morri na Cruz, por eles
renovo todos os dias a minha imolação incruenta nos altares! Oh! Amigos meus,
preço do meu Sangue. Às vossas orações juntai os vossos sacrifícios, as vossas penas,
as vossas lágrimas, para que se encha a medida da minha Misericórdia, se derrame a
graça e sejam salvos. Neste mesmo instante muitos estão para cair nas chamas do
Inferno; vós podeis impedi-los, podeis obter-lhes mais uma graça, podeis abrir-lhes as
portas do Céu!...

Não vos comovem estes gemidos amargos do Coração misericordioso de Jesus? Não
quereis salvar almas?... Não vedes com que facilidade podeis salvar um grande
número, fazendo-vos apóstolos desta bela devoção das nove primeiras sextas-feiras
com a qual darei a cada um, um bilhete de entrada no Paraíso?

40
Para Santo Ambrósio salvar uma alma «é obra maior do que criar: e obra mais
gloriosa do que ressuscitar, pois é assegurar a posse da vida eterna». E com Santo
Agostinho: «Salvaste uma alma? Predestinaste a tua.»

Sabemos que a bem-aventurada Capitânia teria de boa vontade dado a vida para
salvar uma só alma, e que pediu ao seu confessor licença para se levantar cada noite
para visitar Jesus Crucificado por aqueles que naquela hora dormiam em estado de
pecado mortal, a fim de lhes obter a conversão e salvação.

O Pe. Mateus Crawley tinha de pregar numa cidade de maçónicos e incrédulos e onde
tinha quase desaparecido todo o sentimento religioso. O arcebispo, ao convidá-lo,
tinha-lhe dito: «Se eu vir um homem inclinar-se diante do Sagrado Coração direi que
é milagre.» O Pe. Mateus para garantir o êxito favorável da pregação, recomendou-se
a muitas almas boas, pediu orações e sacrifícios por sua intenção, pois tratava-se de
«ressuscitar um cemitério». O sucesso da missão foi prodigioso. Todos, até os
homens mais perversos, foram ouvi-lo, e no quarto dia «não apenas um», mas todos
estavam prostrados diante do Sagrado Coração, chorando e soluçando. Houve muitas
estrondosas conversões e, entre estas, a de um apóstata que havia 20 anos levava vida
escandalosa. Ao arcebispo que não sabia como explicar tão maravilhoso sucesso,
disse: «Excelência, não tardareis a conhecer o segredo.»

De facto recebeu poucos dias depois uma carta das religiosas de que falámos, na qual
dizia a superiora: «Todas rezámos e oferecemos obras expiatórias, mas de modo
especial Soror Maria, a qual ofereceu como acto heróico a própria vida pela
ressurreição do cemitério (dos pecadores). Jesus aceitou o seu sacrifício e acabámos
de enterrá-la.»

Sacrificar-se pelas almas, eis o segredo infalível para obter a própria salvação!

Um dia Jesus, solicitando Soror Benigna a rezar pelos pobres pecadores, disse-lhe:
«Pede-me, e alcançarás o que pedes; Eu pus-te como intermediária entre os pobres
pecadores e o teu celeste Esposo; defende a sua causa; diz-me: Jesus, queres deixar
que se percam essas almas pelas quais morreste na Cruz? Tu és a ressurreição e a
vida; ressuscita tantos corações que há muito tempo estão sepultados nas trevas da
morte.»

Queres agora saber qual foi neste sentido o feliz êxito da confidente do Divino
Coração imolando-se toda pela salvação dos pecadores? Foi o próprio Jesus que lho
revelou em 1916 (ano da sua morte), com estas palavras: «Quem salva uma alma
salvou a própria alma, e tu já salvaste até agora mais de um milhão!»

ORAÇÃO

Ó meu doce Jesus sinto-me profundamente comovido ao ouvir os gemidos dolorosos


que arranca do vosso Coração a mísera sorte dos pobres pecadores!

Ó Jesus! Lembrai-vos de que por eles descestes do Céu à Terra, que por eles

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derramastes todo o vosso Sangue preciosíssimo. Não! não permitais que se perca o
fruto da vossa Redenção, e com o prodígio do vosso amor omnipotente libertai-os das
insídias de Satanás e convertei-os em gloriosos troféus da vossa misericórdia! Para
este fim aceitai as minhas penas e dores, e bendirei o vosso Coração Divino para
sempre.

EXEMPLO

O pagamento das almaspela moeda de ouro do sofrimento

O Pe. Mateus Crawley, numa série de pregações à Juventude Católica Feminina de


Nápoles, ensinou e explicou numa conferência o segredo para converter as almas.
Este segredo consiste em três coisas: – 1.º Comunhão frequente, feita com grande fé e
amor. – 2.º Confiança firme, cega, ilimitada, tal, que devemos, nos casos mais
difíceis, mais desesperados, exclamar: Jesus confio em Vós. – 3.º Pagar a compra das
almas com a moeda de ouro do sofrimento aceite com amor, ocultando sob o sorriso
as contrariedades, as dores, os incómodos, as decepções de cada dia. Por fim, narrou
este belíssimo facto:

«Eu conheci uma senhora virtuosíssima que tinha um filho pródigo para converter.
Este jovem pervertido por um mau companheiro tinha desertado da casa paterna,
entregando-se a uma vida pecaminosa. A mãe, desolada, ao pensar que o filho podia
perder-se para sempre e assim separar-se dela por toda a eternidade, ficou tomada de
uma dor desesperada, e veio ter comigo para receber uma palavra de conforto, um
conselho. Ouvi tudo e disse-lhe:

– Senhora, quer prometer-me cumprir três coisas fielmente pela conversão do seu
filho?

– Padre, peça-me qualquer sacrifício contanto que eu saiba um dia que o meu filho se
salvou.

Dei então à senhora o segredo para a conversão do filho. Todos os dias ela começa de
facto por receber o seu Jesus na Santa Comunhão, adquire uma confiança sólida,
inabalável, abraça as suas cruzes e contrariedades quotidianas, ocultando-as debaixo
do sorriso. Passam-se quinze anos de orações, fé e sofrimento. Finalmente ela recebe
um telegrama que lhe anuncia uma grave doença do filho; este, porém, não quer ver a
mãe; ela manda ter com ele um tio sexagenário recentemente convertido e que no dia
anterior tinha feito a sua primeira comunhão. Apenas o tio vê o pobre doente, diz-lhe
para o comover:

– Deixei a tua mãe prostrada diante do Sagrado Coração orando por ti.

O jovem blasfemando e em tom de desespero, res-ponde:

– Não quero minha mãe, não quero Deus, nem quero mesmo confessar-me; afaste-se
de mim.

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A doença agrava-se cada vez mais, informa-se a mãe que responde:

– É preciso que venha; trazei-o à força, quero que morra nos meus braços; quero vê-
lo morrer reconciliado com Deus.

O doente é transportado em vagão reservado e depois num carro de ambulância.


Chega à cidade onde se encontrava na varanda, esperando-o pálida como cera, a
pobre mãe, a mártir que aguarda o seu filho pródigo.

Quando a vê o filho exclama:

– Não quero vê-la, levem-me para casa do porteiro.

A mãe ordena que no quarto do pobre filho se prepare um altarzinho junto à cama
com a imagem do Sagrado Coração, uma lâmpada e flores.

Enquanto isso, eu e a mãe rezávamos com maior confiança ainda.

– Jesus, dizia ela, Tu és o meu Jesus, Tu és Omnipotente, eu Te amo e tenho inteira


confiança que serei atendida porque és o Pai da misericórdia infinita. Vês o caso
desesperado: o meu filho blasfema até à hora da morte, não me quer ver; mas eu
confio em Ti; recebo-Te cada manhã no meu coração, tenho fé. Tenho em mãos o
capital de ouro que é o sofrimento para Te pagar a alma do meu filho querido; reparai
as dores que ele Te causou. Coração de Jesus, confio em Ti!

Deixam o doente na casa do porteiro, sozinho. O tio esconde-se atrás de um guarda-


vento a fim de ver quais as impressões do jovem diante do rei do amor. Em certo
momento o pobre tísico começa a fixar a imagem do Sagrado Coração… depois, duas
lágrimas… e com esforço sentando-se na cama, com os braços abertos põe-se a gritar:

– Sagrado Coração de Jesus, perdoai-me, perdoai-me!

O tio corre para junto do pobre sobrinho:

– Que há? Que estás a fazer?

– Quero um sacerdote.

Chamam-me; corro ao leito do moribundo e confesso o pródigo de Deus, o pródigo


da pobre mãe. Confissão maravilhosa, de verdadeiro arrependimento! Terminada a
confissão digo-lhe:

Agora deve pedir perdão à mãe…

– Sim, sim, perdão…

Chega a mãe amparada por duas pessoas, com o rosto sorridente mas tão desfigurado
pela dor, que comovia os corações mais empedernidos. O filho ao vê-la estende os

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braços, e soluçando implora o perdão. Dou a santa comunhão ao moribundo abraçado
à santa mãe. Apenas recebeu Jesus, o doente exclama: Perdão! E morre! A cena era
sublime…

Jaculatória – Ó Coração de Jesus, magoado pelos numerosos pecados, tende piedade


de nós!

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SÉTIMA SEXTA-FEIRA
Sagrado Coração de Jesus, confio em Vós!
Uma das mais terríveis tentações que muitas vezes assaltam as próprias almas
piedosas, é a do desânimo e desconfiança. O demónio apresenta Deus como um
senhor excessivamente severo, um pai sem compaixão que tem sempre na mão a
espada da sua justiça inexorável prestes a desencadear sobre elas os raios da sua
vingança.

Quem sabe – vai sussurrando o tentador, se Deus te perdoou! – Tens a certeza de ter
feito uma boa confissão?... de teres sinceramente detestado todas as tuas culpas?... de
estares na graça de Deus?... Não, não!... Não é possível que Deus te tenha
perdoado!...

Contra tais tentações deve reavivar-se o espírito de fé que nos faz considerar a Deus
todo cheio de bondade e de misericórdia, sempre disposto a acolher o pecador
arrependido, e mais pronto a perdoar-lhe do que uma mãe a retirar o seu filho do
fogo.

É de suma vantagem recordar que para o Coração misericordioso de Jesus, perdoar é


uma necessidade, uma glória, uma alegria. É uma necessidade, porque a sua
misericórdia não se pode exercer, se não acha misérias a destruir; é uma glória porque
os pecadores salvos pelo seu amor «cintilarão como pedras preciosas e serão a coroa
da Divina Misericórdia», é uma alegria, porque todo o Paraíso se regozija com Ele
pela conversão destes pecadores.

Por mais carregado de inimizades que seja um pecador, as suas culpas desaparecem
no abismo da sua Misericórdia, como desaparece uma gota de água no meio do mar.
Por maior que seja a sua ingratidão, o abuso das graças de Deus, e o número dos seus
pecados, estes não poderão jamais superar a grandeza da sua misericórdia que é
infinita. Duvidar, portanto, que Deus possa perdoar é cometer a mais grave ofensa ao
seu amor por nós.

Meditemos, para nosso consolo, o que se lê a esse respeito nos escritos da venturosa
Soror Benigna:

«Escreve, minha Benigna, apóstola da minha misericórdia, que a principal coisa que
desejo se saiba, é que Eu sou todo amor, e que o maior desgosto que se poderia dar ao
meu Coração seria duvidar da minha Bondade... O meu coração não somente se
compadece, mas alegra-se quanto maior for a reparação a fazer, contanto que não haja
malícia... Se soubesses a transformação numa alma cheia de misérias, se Me deixasse
agir!... Amo tanto as almas!!!

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Assim como o fogo se alimenta de combustível, assim a minha misericórdia se
alimenta de misérias a destruir; tanto mais misérias acha para destruir, tanto mais
cresce à medida que se lhe aumenta o combustível.

Oh! minha Benigna, se pudessem saber quanto Eu amo os homens e quanto se alegra
o meu Coração quando crêem neste amor! Crêem muito pouco!... muito, muito
pouco!

Se soubessem quanto desagrada a Deus duvidar da sua Bondade! Por maiores que
sejam os pecados e os crimes das minhas criaturas, Eu estou sempre pronto, não só a
perdoá-los mas a esquecê-los, desde que os pecadores voltem para Mim... O maior
dano que o demónio faz às almas, depois de lhes ter feito cometer o pecado é a
desconfiança. Se uma alma tem confiança, ainda tem o caminho aberto; mas se o
demónio consegue fechar o coração pela desconfiança, oh! quanto tenho de lutar para
reconquistar essas almas!

Escreve, minha Benigna, escreve para que se saiba. É certo que cem pecados Me
ofendem mais do que um; se este um, porém, for de desconfiança, fere-Me mais o
Coração do que os outros cem; porque a desconfiança fere o meu Coração no seu
íntimo, amo tanto os homens!»

Estas palavras concordam com as revelações de Jesus a Santa Catarina de Sena:

«Os pecadores que no momento da morte desesperam da minha misericórdia,


ofendem-Me muito mais gravemente e desgostam-Me mais com isto, do que com
todos os pecados que possa cometer uma criatura.»

ORAÇÃO, para obter uma confiança ilimitada:

«Meu dulcíssimo Jesus, infinitamente misericordioso, Pai muito terno das almas, e
particularmente das mais enfermas, que levas com uma ternura toda especial nos
divinos braços, venho a Ti, para Te pedir pelo amor e pelos méritos do teu Sagrado
Coração, a graça de repousar em segurança no tempo e na eternidade em teus divinos
e amorosos braços.» (Dos escritos de Soror Benigna).

EXEMPLO

Uma confiança viva é omnipotentesobre o Coração de Jesus

De uma longínqua região da Itália, que não podemos indicar, uma fervorosa apóstola
da “Grande Promessa”, que em brevíssimo tempo soube difundir este livrinho, às
centenas e centenas de exemplares, colhendo em toda a parte os frutos mais
consoladores de bem, e que da nossa parte terá sempre a mais viva gratidão, mandou-
nos em Julho de 1929 esta belíssima relação que, além de revelar a sua grande
devoção, nos faz como que tocar com o dedo, quanto é certo que a viva confiança é
na verdade toda poderosa sobre o Coração de Jesus:

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«Alegro-me por poder finalmente cumprir a promessa de dar a conhecer ao seu
coração de sacerdote as grandes graças que Jesus bondoso quis conceder à minha
família.

Sem cuidar a forma, escrevo-lhe singelamente a nossa história e desejaria achar as


expressões capazes de manifestar de modo conveniente o drama íntimo e profundo
que se desenrolou nas nossas almas, ou melhor no nosso ambiente, a fim de que V.
Rev.ma possa compreender o exacto valor de todas as minhas afirmações Jesus
saberá, como sempre, agir em meu lugar.

No mês de Janeiro do ano findo, devido a uma série de raptos e circunstâncias


gravíssimas e especiais, um cunhado nosso encontrou-se numa situação
verdadeiramente desastrosa, quanto ao seu património. A mais completa ruína
ameaçava a sua família – ruína que nos teria também atingido a nós, porque tínhamos
empenhado grandes quantias. Era um magnífico passado que estava a ponto de
desmoronar, e humanamente nenhuma esperança havia de se conseguir de modo
algum evitar tal desastre.

Repito-o com plena e perfeita consciência da verdade das muitas afirmações: tudo
estava perdido.

Não lhe sei exprimir a nossa dolorosa angústia. Por um acto de fé viva, consagrámos
à Virgem de Lourdes todas as nossas coisas; pus as chaves de casa nas mãos da bela
imagem da Virgem que temos no nosso jardim, e Ela, a Virgem santa e pura, dignou-
se aceitar o nosso gesto de confiança, levando-o ao Coração do seu Divino Filho de
modo quase maravilhoso. No mês de Agosto estávamos todos reunidos na montanha
sempre sob o peso daquela penosa cruz. Num dia de maior desânimo, todos juntos
nos dirigimos para a capelinha da aldeia onde neste dia só se conservava Jesus no
Sacrário. Cheios de fé, fizemos subir ao altar as nossas duas crianças: uma menina de
três anos e um menino de cinco anos. Batendo à porta do Tabernáculo, repetiam
connosco:

Ouves, Jesus? Não digas “não” aos teus amiguinhos N... N...

Enquanto isto, nós, prostrados diante de Jesus, implorávamos o milagre, prometendo


consagrar a nossa vida à propagação do reino do Sagrado Coração, especialmente sob
a forma das primeiras sextas-feiras. Depois daquele dia, em nossa casa houve uma
série de verdadeiros milagres. O Sacratíssimo Coração de Jesus quis, por nós, fazer
coisas maravilhosas, levando-nos por assim dizer nos seus braços a cada momento, e
dando-nos a força e capacidade para vencermos obstáculos humanamente
insuperáveis. Nenhum exagero há nestas minhas afirmações. As pes-soas que
seguiram de perto cada facto não sabem explicar tal mudança, e unem-se a nós para
chamar à nossa histó-ria um verdadeiro milagre da misericórdia do Sagrado Coração.

Não somente desapareceu todo o perigo, mas Jesus soube de tal modo desfazer a
obscura confusão dos nossos negócios, que nos conduziu, no próprio dia da primeira

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sexta-feira do mês à conclusão de um contrato magnífico, verdadeiramente
inesperado. E para melhor nos convencer de que tudo era obra da sua Divina
Misericórdia, na outra primeira sexta-feira quis ainda conceder-nos outra graça
importantíssima. Feita a nossa promessa aos pés de Jesus, pensámos logo em cumpri-
la e foi então que me veio às mãos o seu livrinho A Grande Promessa. Comprei
imediatamente uns cem exemplares que com o quadro do Sagrado Coração distribuí
pelas famílias daquele lugar da montanha, pedindo a todos que se unissem para uma
novena das primeiras sextas-feiras. Jesus fez com que aqueles bons camponeses,
habitualmente muito rebeldes à frequência dos sacramentos, compreendessem e
aceitassem com entusiasmo a prática reparadora das primeiras sextas-feiras. Na
primeira sexta-feira de Setembro começou-se a piedosa novena; todos a fizeram com
fervor até ao fim. Já havia mais de 20 anos que algumas mulheres não se
aproximavam dos sacramentos. Jesus certamente recebeu com agrado a homenagem
de reparação daqueles corações simples e bons.

Nesse mesmo tempo, também em outras paróquias vizinhas, sempre por intermédio
da “Grande Promessa”, começou-se a prática das primeiras sextas-feiras, e com êxito
verdadeiramente consolador em toda a parte.

Jesus quer reinar em todos os corações, e eu considero-me na verdade feliz e grata


pela graça exímia que me concede de poder levá-l'O a tantos e tantos lugares.

Narrei-lhe brevemente a nossa graça, a qual se pode chamar um conjunto de graças,


porque Jesus todos os dias tem sido bom para connosco.»

Aqui termina a narração. Que dizer diante de tantos prodígios?

Soou a “hora de Deus”; a vós zeladores do Sagrado Coração, pertence cooperar na


obra do seu Amor e não descansar até que Jesus reine em todos os corações.

Jaculatória – Coração de Jesus, rico de misericórdia para com aqueles que Vos
invocam, tende piedade dos pecadores.

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OITAVA SEXTA-FEIRA
O amor misericordioso de Jesussabe converter os nossos
pecadosem fontes de graça
É impossível que o Coração de Jesus despreze uma alma que se quer reconciliar com
Ele. Zaqueu, Madalena, a adúltera, a Samaritana, São Pedro, o bom ladrão, são
apenas pequenas provas daquela fonte inesgotável de bondade e ternura que é o seu
Divino Coração para os pobres pecadores. Se é grande o desejo do pecador em obter
o perdão, é ainda maior o de Jesus em conceder este perdão ao pecador arrependido.

Narra-se que estando São Jerónimo um dia em oração diante do Santíssimo


Crucifixo, Jesus lhe perguntou:

– Jerónimo, queres dar-Me um presente?

– Sim, meu Senhor, eu Vos dou todas as minhas penitências por vosso amor, nesta
minha solidão. Estais satisfeito?

– Desejaria alguma coisa mais.

– Pois bem, eu Vos dou as minhas fadigas e todas as obras que escrevi para Vos
tornar conhecido e amado. Estais contente, Jesus?

– Sim, mas não terias um presente mais belo ainda para Me dares?

– Que mais posso dar-Vos, ó Jesus, eu que estou cheio de misérias e de pecados?

– Pois bem, respondeu Jesus, dá-me os pecados para que Eu possa ainda lavá-los no
meu Sangue e de novo gozar da alegria divina de os perdoar.

Lede o que está escrito na vida de Soror Benigna Consolata:

«Uma vez que os pecados são perdoados, convertem-se para a alma que os comete
em fonte de graça, porque são fontes perenes de humildade... Tudo contribui para
transformar a nossa alma; tudo, até mesmo as suas próprias imperfeições, são nas
minhas mãos divinas como tantas pedras preciosas, porque as transformo em outros
tantos actos de humildade que esta alma inspirada faz por Mim...

Se aqueles que constroem as casas pudessem transformar e aproveitar os restos e


todos os escombros do material da construção, como se considerariam felizes... Pois
bem, a alma fiel pode fazê-lo com o meu divino auxílio, e as próprias faltas, até as
mais graves e vergonhosas se tornam pedras fundamentais do edifício da sua
perfeição.»

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Um dia a santa religiosa tinha posto sobre o papel em que escrevia uma pequena
estátua de Jesus, feita de barro, e esta casualmente caiu. Ela, erguendo-a prontamente
deu um beijo a Jesus dizendo:

– Se não caísses, ó Jesus, este beijo não o terias!...

– É assim mesmo, minha Benigna, quando cometes alguma falta sem advertência,
não Me ofendes; mas o acto de humildade que fazes depois, o acto de amor, tu o
fazes com advertência, e isto é dar-Me um beijo que não Me terias dado se não
cometesses aquela imperfeição.

Em outra circunstância:

«... O meu amor alimenta-se consumindo misérias, e a alma que mas traz em maior
número, contanto que seja um coração contrito e humilhado, essa é a que mais Me
agrada, porque Me dá maior ocasião de exercer o meu ofício de bom Salvador. Mas o
que te quero dizer, ó minha Benigna, e Eu concentro em poucas palavras a muita
doutrina, é isto: que a alma nunca tenha terror de Deus: Deus está sempre pronto a
usar de misericórdia para com ela: o maior prazer que pode ter o Coração do teu Jesus
é poder levar ao seu Eterno Pai o maior número de pecadores que puder. São estas as
minhas glórias, ó Benigna, são as minhas jóias: oh! Eu amo tanto os pobres
pecadores! Olha, minha querida, escreve isto: Se Me queres dar um grande prazer, crê
no meu amor: se Me queres dar um prazer ainda maior, crê mais ainda, e para dar-Me
o máximo prazer, não ponhas limite algum a esta confiança no meu amor.»

Oxalá todos os pobres pecadores lessem e meditassem estas ternas efusões do


Coração misericordioso de Jesus! Em vez de aviltarem cada vez mais, eles repetiriam
com a grande confidente do Santíssimo Coração, a angélica Soror Benigna: «Eu
alegro-me de ser um abismo de misérias, de ser mesmo só miséria, porque assim dou
maior importância à tua misericórdia.»

ORAÇÃO

Ó Coração Divino de Jesus, que tanto amais os pobres pecadores que estaríeis
disposto a vir de novo do Céu para renovar a vossa Paixão e Morte em favor de cada
um deles, alcançai-nos a todos a graça de chorar com lágrimas de verdadeira dor, os
nossos pecados que foram a causa de tantas e tão acerbas dores.

Ó Jesus, perdoai a ofensa que com eles temos causado ao Vosso sensibilíssimo
Coração, e pela vossa infinita Bondade e Misericórdia, fazei que não Vos tornemos
mais a ofender, mas sim, que Vos amemos com todo o fervor da nossa alma.

Lembrai-Vos, ó Jesus, que se é certo que abismo atrai abismo, o abismo da nossa
miséria atraia o abismo insondável da vossa Misericórdia infinita.

EXEMPLO

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Não quero Padres!

Este facto acerca do qual, devido a certas reservas, não podemos dar maiores
pormenores, aconteceu numa cidade de Itália setentrional.

Consumido pela tísica, consequência das suas devassidões, com 23 anos de idade, um
jovem morria, desesperado, no meio da angústia dos pais que tinham inutilmente
tentado todos os meios para o induzir a receber os Santíssimos Sacramentos antes de
morrer.

Quando menino, estando ainda no colégio, tinha com muita piedade praticado a
devoção das nove sextas-feiras em honra do Sagrado Coração de Jesus. Porém,
depois abandonou a Igreja e os sacramentos, entregando-se a uma vida escandalosa.
Primeiramente, empregou-se num banco e gastava na desordem e nas orgias tudo
quanto ganhava; mais tarde deixou a Pátria para viver na Inglaterra, onde se
empregou como criado de hotel. Finalmente, atacado pela doença que o devia levar
ao túmulo, voltou ao seio da família.

Pobre jovem! Com a consciência carregada de tantos pecados estava agora à beira do
abismo na sua ruína externa: não somente não pensava em remediar o seu estado com
um sincero regresso a Deus, mas repelia com desdém o convite que almas boas lhe
faziam para isso. Sobre ele, porém, velava aquele Coração misericordiosíssimo de
Jesus que prometeu a salvação àqueles que praticam a devoção das nove sextas-
feiras. Por isso não se podia perder.

Um sacerdote, antigo companheiro de colégio, valendo--se do motivo da amizade, e


certamente movido pelo dulcíssimo Coração de Jesus, conseguiu poder fazer-lhe uma
visita e com liberdade procurou persuadi-lo a reabilitar-se e a voltar à amizade com
Deus.

– Se não tens mais nada para me dizer – interrompeu o pobre moribundo – podes
retirar-te... Recebo-te como amigo, mas como padre, não, não: vai-te embora não
quero padres...

O ministro de Deus procurou acrescentar alguma boa palavra para o acalmar, mas em
vão.

– Basta, repito-te, não quero padres... vai-te embora!...

– Pois bem, visto que queres que me vá, eu te saúdo, meu pobre amigo! – e preparou-
se para partir.

Quando estava, porém, para deixar o quarto voltou-se ainda para o moribundo com
olhar de compaixão, dizendo:

– Será a primeira vez que não se verifica a “Grande Promessa” do Sagrado


Coração!...

51
– Que estás a dizer? – replicou com voz mais calma o moribundo. O piedoso
sacerdote voltando para junto do leito, respondeu:

– Digo que seria a primeira vez que se não veria cumprida a “Grande Promessa” feita
pelo Sagrado Coração de Jesus, de conceder uma boa morte àqueles que em vida
tiverem feito uma novena de Comunhões nas primeiras sextas-feiras do mês.

– E que tem isso a ver comigo?

– Que tem? Não te recordas, caro amigo, que no colégio, fizemos juntos estas
comunhões das primeiras sextas-feiras? Tu fizeste-as então com sincera devoção
porque amavas o Sagrado Coração de Jesus; quererias agora resistir à sua graça, com
a qual te convida ao perdão com misericórdia infinita?

Enquanto falava, o enfermo chorava, e quando acabou disse-lhe, soluçando:

– Amigo, ajuda-me! Ajuda-me; não abandones este pobre desgraçado! Vai chamar
um dos capuchinhos da igreja vizinha.

Recebeu com piedade os Santíssimos Sacramentos e expirou alguns dias depois,


bendizendo aquele Coração que com tanta misericórdia lhe dava um sinal certo da
eterna salvação.

Jaculatória – Sagrado Coração de Jesus, confio em Vós (300 dias de indulgência a


cada vez).

52
NONA SEXTA-FEIRA
«O meu nome está escrito no céu!»
Alma devota do Sagrado Coração, que durante nove meses foste fiel em aproximar da
Santíssimo Comunhão na primeira sexta-feira para alcançar o fim da “Grande
Promessa”, alegra-Te hoje e faz festa, porque há motivo. Antes de tudo, porém, com
lágrimas de reconhecimento, deves exprimir a Jesus, que ta inspirou e te ajudou a
cumpri-la, toda a gratidão da tua alma. Fizeste a tua parte; a Jesus tocará agora fazer a
sua. Podes duvidar que Ele não cumpra a sua promessa? Podes pensar que uma alma
que confiou n’Ele possa ficar iludida? Certamente que não. Deus empenhou a sua
palavra e passarão antes o Céu e a Terra, mas as suas palavras nunca passarão. Goza
pois da alegria mais pura e santa que possa experimentar o teu coração ao pensar na
sorte feliz que te espera por toda a eternidade. É verdade que as paixões poderão
ainda levantar-se furiosas; que o demónio ainda poderá multiplicar os seus assaltos
furibundos; que a tua natureza frágil ainda poderá ceder à sensualidade; mas confia
que Jesus estará sempre ao teu lado e velará, com a ternura do mais afectuoso amigo
sobre ti, pronto sempre a estender-te a mão para te levantar das tuas quedas. Ele não
te abandonará, até ao dia em que te veja entrar segura no porto da salvação, como
quem tivesse na mão o bilhete de ingresso na pátria bem-aventurada. É Jesus mesmo
que te assegura a posse dela com a sua “Grande Promessa”.

Na vida de Santa Teresa do Menino Jesus, lê-se que quando esta santa era ainda
menina, saindo uma noite a passeio com o seu pai, parou para contemplar o sugestivo
espectáculo do céu crivado de estrelas cintilantes, e admirou-se ao ver que um grande
grupo delas, das mais brilhantes, tinham a forma de T (letra inicial do seu nome).
Voltando-se para o pai, toda radiante de alegria, disse-lhe: «Vê, papá, o meu nome
está escrito no céu!» Teresa falava com a ingenuidade de uma criança, mas ao mesmo
tempo, fazia uma magnífica profecia, sem o saber. Sim o seu nome estava realmente
escrito no céu; desde então ela figurava no livro das almas privilegiadas.

Assim também, do mesmo modo, podes repetir uma expressão semelhante; «O meu
nome está escrito no céu.» Podes ainda dizer mais: «O meu nome está escrito no
Coração adorável de Jesus, e ninguém poderá jamais apagá-lo.»

ORAÇÃO

Que alegria, ó meu caro Jesus, inunda neste mundo a minha alma! Que mérito tinha
eu, para que Vós me fizésseis esta graça extraordinária, inspirando-me esta prática
das nove sextas-feiras com a qual pela vossa “Grande Promessa” me assegurais a
salvação eterna! Ah! Não me bastaria toda a eternidade para Vos exprimir a minha
grande gratidão! Ó meu dulcíssimo Jesus, fazei com que eu viva sempre na graça,
observando exactamente todos os mandamentos de Deus e da Igreja, e que não torne

53
mais a expulsar-Vos do meu coração com o pecado mortal, mas com o vosso divino
auxílio tenha a ventura de perseverar no vosso serviço ate à morte.

Ó Jesus eu creio no vosso amor infinito por mim, pobre e miserável pecador, e peço-
Vos a graça de confiar cada vez mais em Vós, abandonando-me com plena confiança
nos braços da vossa Divina Misericórdia no tempo e na eternidade. Assim seja.

EXEMPLO

O Sagrado Coração de Jesusvela com grande amor sobre os seus devotos

Vela até mesmo sobre tudo o que se refere à saúde do corpo. Narra o Pe. Mateus, já
diversas vezes citado, que um dia devia tomar o comboio para Bordéus, onde era
esperado para uma série de pregações. Chega à estação e toma lugar numa carruagem.
Espera, espera, mas o comboio não parte.

– Para onde vai Sr.? – pergunta o empregado.

– Para Bordéus.

– Para Bordéus? Mas o comboio para Bordéus já partiu há muito tempo.

– Pobre de mim – exclama – e quer fazer? Estava muito aborrecido com o penoso
incidente.

Mas eis que o chefe da estação recebe um telegrama anunciando uma catástrofe. O
comboio de Bordéus tinha descarrilado com numerosos mortos e feridos. Que teria
sido dele se tivesse seguido com os outros viajantes? O Sagrado Coração de Jesus
tinha assim salvo do perigo aquele que com tanto zelo propagava a sua devoção.

Vela ainda com maior amor pelos interesses da alma. Lede o seguinte facto
acontecido na cidade de Lovaina (Bélgica) e narrado por um sacerdote testemunha
desta graça singular concedida pelo Sagrado Coração a uma piedosa senhora daquela
cidade. Estava ela ligeiramente indisposta, e como estava próxima a primeira sexta-
feira do mês na qual costumava comungar mandou avisar o seu confessor, porque
desejava confessar-se e receber já os Santos Sacramentos. Este veio, confessou-a para
satisfazer o seu desejo, mas quanto a administrar-lhe o Santo Viático e a Extrema--
Unção disse que não havia razão suficiente para isso.

Mandou-se chamar o doutor Lefevbre, insigne professor da universidade católica da


Lovaina. Logo que chegou a senhora disse-lhe: doutor, cheguei ao fim, desejo receber
os últimos sacramentos.

– Senhora, respondeu o doutor, para receber os últimos sacramentos é necessário que


haja pelo menos algum perigo; no seu caso, não há perigo algum, por isso não lhe
posso dar o consentimento.

54
A senhora, porém, tanto insistiu e suplicou que lhe fosse dada esta consolação, que o
sacerdote, inspirado pela segurança com que repetia que dentro de pouco morreria,
acabou por trazer-lhe a Santíssima Comunhão. Logo que comungou, em poucos
instantes o seu estado piorou ao extremo, apenas dando tempo para lhe administrar a
Extrema-Unção. Depois de a receber, disse: «Agora é preciso deixar tudo.» E na
verdade, muito deixava: um marido que era um anjo de bondade, quatro filhinhos
queridos e um riquíssimo património de cujas rendas entregava cada ano cinquenta
mil francos para obras pias.

«É preciso deixar tudo» – repetia – «tal é a vontade de Deus; o meu coração está em
paz.»

Poucos instantes depois, expirou com a doce esperança de alcançar o Paraíso


prometido pelo Sagrado Coração de Jesus aos seus devotos.

Jaculatória – Coração de Jesus, delícia de todos os santos, tende piedade de nós.

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COROAZINHA AO SAGRADO
CORAÇÃO DE JESUS
– Deus, vinde em meu auxílio (Deus, in adjutorium meum intende).

– Senhor, socorrei-nos e salvai-nos (Damire, ad adjuvandum me festina).

– Glória ao Pai e ao Filho, e ao Espírito Santo (Gloria Patri).

– Como era no princípio, agora e sempre. Amen (Sicut erat).

I. Meu amorosíssimo Jesus, quando medito no vosso santíssimo Coração e o vejo


todo piedade e doçura para com os pecadores, sinto que o meu se enche de alegria e
de confiança de que será por Vós bem acolhido. Ai de mim! Quantos pecados tenho
cometido!... Mas agora, como Pedro e como Madalena, os choro e detesto por serem
ofensas a Vós, ó meu sumo Bem. Oh! Sim, perdoai-mos todos e fazei que eu morra,
pelo vosso santíssimo Coração. Sim, Vo-lo peço, fazei que eu morra antes que tornar
a ofender-Vos, fazei que eu viva só para Vos amar.

Pai Nosso, Ave-Maria, 5 Glórias e a jaculatória: Meu doce Jesus que tanto nos amais,
fazei que eu Vos ame cada vez mais.

II. Bendigo, ó bom Jesus, o vosso humílimo Coração e Vos dou graças, porque ao
apresentardes-mo por exemplar, não só com fortes desejos me incitastes a imitá-l'O,
mas ainda à custa de tantas humilhações vossas me mostrastes e aplanastes o
caminho. Como tenho sido louco e ingrato! Quanto me desviei do bom caminho! Per-
doai-me: nada mais quero de soberba e ambição, para assim alcançar a paz e a
salvação. Dai-me ânimo para o obter e bendirei o vosso Coração eternamente.

Pai Nosso, Ave-Maria, 5 Glórias e a jaculatória: Meu doce Jesus que tanto nos amais,
fazei que eu Vos ame cada vez mais.

III. Admiro, ó Jesus, a paciência do vosso Coração e Vos dou graças por tantos
exemplos maravilhosos de sofrimentos que nos deixastes. Tenho pesar de ter
mostrado até este dia a minha indigna fragilidade que não sabe sofrer nada. Meu
amado Jesus, infundi no meu coração um ardente e constante amor às tribulações, às
cruzes, às mortificações, à penitência, para que, seguindo--Vos para o Calvário,
chegue convosco à glória e alegria do Paraíso.

Pai Nosso, Ave-Maria, 5 Glórias e a jaculatória: Meu doce Jesus que tanto nos amais,
fazei que eu Vos ame cada vez mais.

IV. Na presença do vosso mansíssimo Coração, ó amado Jesus, horrorizo-me ao ver o

56
meu tão diverso do vosso; pois muitas vezes me inquieto e agasto à menor sombra,
gesto ou palavra que me contrarie. Senhor, perdoai-me estes sentimentos e dai-me a
graça de imitar em qualquer contrariedade a vossa inalterável mansidão e assim gozar
continuamente da vossa santa paz.

Pai Nosso, Ave-Maria, 5 Glórias e a jaculatória: Meu doce Jesus que tanto nos amais,
fazei que eu Vos ame cada vez mais.

V. Entoem-se louvores, ó Jesus amado, ao vosso generosíssimo Coração, vencedor da


morte e do inferno. Fico sobremaneira confundido ao ver-me tão pusilânime, que
estremeço a qualquer injúria; mas não será mais assim. De Vós imploro tanta
fortaleza e valor para sofrer as injúrias que, combatendo e vencendo na Terra, vá
depois alegre triunfar convosco no Céu.

Pai-Nosso, Ave-Maria, 5 Glórias e a jaculatória: Meu doce Jesus que tanto nos amais,
fazei que eu Vos ame cada vez mais.

Voltemo-nos para Maria Santíssima, consagremo-nos também a Ela, e cheios de


confiança em seu Coração maternal digamos-Lhe:

Pelas singulares prerrogativas do vosso dulcíssimo Coração, alcançai-me, ó poderosa


Mãe de Deus e minha Mãe, uma verdadeira e perseverante devoção ao Sagrado
Coração de Jesus, vosso muito amado Filho, para que, conservando--me unido, com
Ele pelos meus pensamentos e afectos, cumpra todos os meus deveres, e com alegria
de coração sirva a Jesus, hoje e todos os dias da minha vida.

V. Doce Coração de Jesus que ardeis de amor por nós (Cor Jesu, flagrans amore
nostri).

R. Inflamai com o vosso amor o nosso coração (Inflamma cor nostrum amore tui).

Oremos

Deus Todo-poderoso, concedei-nos que, nós que glorificamos o santíssimo Coração


do vosso amado Filho, recebamos o benefício do seu amor, e nos alegremos com os
seus frutos. Por Cristo, nosso Senhor. Amen.

57
CÂNTICOS
Portugal ao coração de Jesus
Coração santo! Aqui nos tens prostrados;

És nosso rei, vimos render-te preito.

Livra do mal os filhos resgatados

Com tanta dor no sangue do teu peito.

Coro

Protege, ó Cristo, o nosso Portugal,

Que é seu brasão – a Chaga do teu lado,

E sempre quis por timbre seu real,

Ser filho teu, teu mais fiel soldado.

A ti pertence a terra portuguesa…

Nossa Rainha é tua Mãe bendita;

Somo cristãos, não há maior nobreza!

Teu coração de amor por nós palpita.

Sempre cristãos – aqui vimos jurar-Te:

Sempre guardar as leis do teu amor

Erguer bem alto o teu nobre estandarte

E, se é mister, morrer por ti, Senhor.

58
Coração Santo
O Coração Santo – Tu reinarás

Tu nosso encanto – Sempre serás.

Se o mundo iníquo – Me combater,

Sempre a teu lado – Hei-de vencer.

Como o soldado – Vela a seu Rei

Assim meu sangue – Por Ti darei.

Coro

Coração Santo – Chama de amor.

Eu quero amar-Vos – Com mais fervor.

59
Queremos Deus
Queremos Deus! Homens ingratos

Ao Pai supremo, ao Redentor,

Zombam da fé os insensatos

Erguem-se em vão contra o Senhor.

Coro

Da nossa fé, ó Virgem,

O brado abençoai:

Queremos Deus, que é nosso Rei!

Queremos Deus, que é nosso Pai!

Queremos Deus! Um povo aflito,

Ó doce Mãe, vem repetir

Aos vossos pés, d’alma este grito,

Que aos pés de Deus fareis subir.

60
Cantemos a Jesus
Cantemos a Jesus Sacramentado,

Cantemos ao Senhor.

Deus está aqui dos Anjos adorado,

Adoremos a Cristo Redentor.

Coro

Glória a Cristo Jesus,

Céus e Terra bendizei ao Senhor.

Louvor e glória a Ti, ó Rei da Glória!

Amor p’ra sempre a Ti, ó Deus de amor.

No tabernáculo prisioneiro

Está por nosso amor;

Quis ficar aqui por nosso Companheiro

Para ser-nos de alívio em nossa dor.

61
O Salutaris
O Salutaris Hostia,

Quae coeli pandis ostium,

Bella premunt hostilia,

Da robur, fer auxilium.

Uni trinoque Domino

Sit sempiterna glória,

Qui vitam sine termino

Nobis donet in patria. Amen

Tantum ergo

Tantum ergo Sacramentum

Veneremur cernui,

Et antiquum documentum

Novo cedat ritui,

Praestet fides suplementum

Sensuum defectui.

Genitori, Genitoque

Laus et jubilatio,

Salus, honor, virtus quoque

Sit et benedictio.

Procedenti ab utroque

Compar sit laudatio. Amen

62
Índice
A GRANDE PROMESSA 8
Em que consiste? 8
AUTENTICIDADE DESTA PROMESSA 9
BREVE COMENTÁRIO 10
CONDIÇÕES REQUERIDAS 11
ALGUNS ESCLARECIMENTOS 13
CONSELHOS PRÁTICOS 15
UM CONVITE AOS SACERDOTES 16
RESULTADOS QUE SE OBTÊM PELA DIVULGAÇÃO DA GRANDE
17
PROMESSA
DOUTRINA CONSOLADORA 18
A COMUNHÃO DOS SANTOS! QUE DOUTRINA
19
CONSOLADORA!
ESTÁS VIVO OU MORTO? 20
INFELICIDADE DO POBRE PECADOR 21
NÃO POSSO CONVERTER-ME 22
PRIMEIRA SEXTA-FEIRA 23
Salvar-me-ei ou condenar-me-ei? 23
SEGUNDA SEXTA-FEIRA 26
«Jesus é amor!» 26
TERCEIRA SEXTA-FEIRA 29
Amor pede amor 29
QUARTA SEXTA-FEIRA 33
Infinita benevolência de Jesus pelas almas 33
QUINTA SEXTA-FEIRA 36
O Coração misericordioso de Jesuse os pobres pecadores 36
SEXTA SEXTA-FEIRA 40
O Sagrado Coração de Jesusconvida-nos a rezar pelos pobres pecadorese a
40
fazer sacrifícios por eles
SÉTIMA SEXTA-FEIRA 45
Sagrado Coração de Jesus, confio em Vós! 45
OITAVA SEXTA-FEIRA 49
O amor misericordioso de Jesussabe converter os nossos pecadosem fontes de
49
graça
NONA SEXTA-FEIRA 53
63
«O meu nome está escrito no céu!» 53
COROAZINHA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 56
CÂNTICOS 58
Portugal ao coração de Jesus 58
Coração Santo 59
Queremos Deus 60
Cantemos a Jesus 61
O Salutaris 62

64

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