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Ingestão de alimentos
Feed intake
Resumo
A maioria dos animais de produção é alimentada à vontade, ou seja, tem livre acesso ao alimento
na maior parte do tempo. Para que a produção seja eficiente é necessário elevar o nível de consumo
voluntário, pois em geral, quanto mais o animal come, mais ele produz e se torna mais eficiente.
A amplitude da ingestão é direcionada pela exigência nutricional e uma estimativa aproximada de
quantidade de alimento que um animal vai ingerir pode ser calculada pela exigência de proteína, energia
e outros nutrientes para a mantença e produção. No entanto, há vários fatores que podem interferir
com a concordância entre exigência e ingestão, como o volume do alimento, que pode ser um fator
determinante no nível de ingestão alcançada, especialmente nos ruminantes.
Palavras-chave: Energia, fatores extrínsecos, fatores intrínsecos, proteína
Abstract
The vast majority of livestock are fed ad libitum, with free access to feed during most of the time. In
order to achieve efficient production, it is necessary to raise levels of voluntary feed intake – in general,
the more the animal eats, the more it produces and the more efficient it becomes. Intake amounts are
guided by nutritional requirements, and an approximate estimate of how much an animal will ingest can
be calculated from levels of protein, energy and other nutrients required for maintenance and production.
However, there are several factors that can interfere with the concordance between requirements and
actual intake, such as feed volume, which can be a determinant factor for achieved intake, especially
in ruminants.
Key words: Energy, extrinsic factors, intrinsic factors, protein
1
Doutorado Zootecnia – Universidade Estadual de Maringá.
2
Professor – Departamento de Zootecnia - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
3
Graduação – Zootecnia Universidade Estadual de Maringá.
4
Mestrado – Zootecnia Universidade Estadual de Maringá.
5
Professor Titular – Departamento de Zootecnia - Universidade Estadual de Maringá – Pesquisador I CNPq.
* Autor para correspondência
Recebido para publicação 18/03/08 Aprovado em 01/10/09
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Nos alimentos de alta qualidade (concentrados), a rejeição de grande quantidade de alimento, os animais
exigência metabólica tende a ser o fator limitante. podem escolher a parte de maior digestibilidade da
No caso de rações em que a maior parte é constituída dieta. Geralmente, porções mais fibrosas, como
por forragem, o nível de saciedade de ingestão os colmos, são rejeitados; fator este que pode ser
não é alcançado devido à limitação de fatores da reduzido pela trituração da forragem. Nas forragens
qualidade dos alimentos que interfere impondo um tropicais, em que as folhas e colmos podem ser bem
menor nível de ingestão e assim um menor plano diferenciados a respeito da qualidade (Moreira et
nutricional é alcançado. Os detalhamentos dos al., 2004) as sobras podem ser elevadas (acima de
mecanismos que afetam este limite são diversas 60%) (Olibajo et al., 1974).
hipóteses que incluem, enchimento, tempo, fatores
metabólicos e limites homeostáticos do animal.
Mecanismos que controlam a ingestão
O peso de alimento que o animal consome em
um determinado período de tempo é a ingestão. No Todos os efeitos de consumo voluntário são
caso de alimentação no cocho, ou seja, de animais controlados pelo sistema nervoso central (Van
confinados, a ingestão é simplesmente o peso diário Soest, 1994). Geralmente, considera-se que o
do alimento fornecido menos as sobras (Abrahão et consumo é controlado por uma série de sinais de
al., 2006). A acurácia da mensuração é muito mais feedback negativo do trato digestivo, fígado e outros
difícil em situações de pastejo, e métodos indiretos órgãos na resposta da presença dos nutrientes. Os
devem ser aplicados (Zeoula et al., 2002). animais memorizam as consequências metabólicas
dos alimentos pelas propriedades sensoriais
(aparência, sabor e textura) e podem então escolher
Palatabilidade alimentos preferidos ou evitar aqueles que já teve
alguma experiência prévia. Todo o sistema pode
Se a seleção, que ocorre devido a maior ou a menor
ser visto como uma cascata (Figura 1). Uma vez
palatabilidade de determinado alimento é um fator
na boca, o alimento pode ser engolido ou rejeitado,
que interfere no consumo, dois ou mais alimentos
dependendo do seu sabor ou textura (Marques
individuais ou forragem devem ser oferecidos
et al., 2000). Depois da absorção, a maioria dos
isoladamente, e o consumo separado dos respectivos
produtos da digestão vai ao fígado e depois para
alimentos é então mensurados (Zeoula et al., 1999).
a circulação. Existem diversos tipos de receptores
Experimentos similares podem ser conduzidos em
no rúmen, intestino e fígado que podem informar
condições de pastejo quando diferentes espécies
ao sistema nervoso central (SNC), sobre o volume,
forrageiras são pastejadas por animais testes. Tais
osmolaridade e pH do alimento. Uma vez na
experimentos permitem a ingestão seletiva de
circulação os metabólitos são disponibilizados para
diferentes alimentos, forragens ou suplementos. Os
o suporte de várias atividades metabólicas. Algum
ruminantes selecionam alimentos baseados no sabor
desequilíbrio maior entre o material absorvido
e cor (Munkenbeck, 1988).
na circulação e a taxa de remoção é denominado
Algumas forragens só são consumidas quando como “desconforto metabólico”. Este fato pode ser
são a única escolha, mas podem ser rejeitadas se associado às propriedades sensoriais do alimento
existir o oferecimento de algum alimento alternativo. recentemente ingerido e tende a induzir a rejeição
Animais com apetite voraz podem apresentar menor do alimento na próxima vez em que o animal tiver
discriminação que animais com baixa demanda. contato com o alimento (Forbes, 2000). É claro que
O controle da quantidade de sobras é necessário todo o sistema é coordenado pelo sistema nervoso
para restringir a seleção. Quando é permitida a central (SNC) pela via que inclui o hipotálamo como
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SNC
Tempo
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Neste trabalho, observou que o tempo de pastejo e a de lâminas foliares é baixa, o ruminante é capaz
(TP) foi significativamente maior no período seco de conseguir que mais de 80 % de sua dieta seja
do que no período das águas. Entretanto, esse composta de folhas. O aumento no tempo de pastejo
aumento não foi suficiente para impedir queda em decorrência da maior seletividade aumenta o
na ingestão de forragem e, consequentemente, desvio de energia líquida para mantença o que, junto
no ganho de peso vivo. Em geral, longo TP é com a baixa qualidade nutricional, resulta em baixo
indicativo de que o consumo está limitado pelas desempenho animal. Todavia, caso não houvesse
características estruturais da pastagem. Estes esse aumento na seleção de folhas, a queda no ganho
mesmos autores, encontraram correlações negativas poderia ser ainda maior.
entre TP e disponibilidade de MS e de folhas, e na
Geralmente, quando o crescimento do animal
relação material morto e material verde presente em
é reduzido em conseqüência de subnutrição, ele
pastagens dos gêneros Panicum e Brachiaria.
é capaz de se recuperar, apresentando ganho
Quando a quantidade de forragem por bocada compensatório. Normalmente ocorre aumento na
é reduzida há decréscimo correspondente no ingestão de alimentos após a finalização do período
consumo de forragem, a menos que haja acréscimos de restrição. Isso pode explicar os altos consumos
compensatórios na taxa de bocada e/ou no tempo de de forragem pelos animais no trabalho de Brâncio
pastejo. Isso pode ser exemplificado pelos resultados (2000) observados em novembro.
da Tabela 1 (Brâncio, 2000). Observa-se que
Os resultados obtidos por Brâncio (2000)
durante o período seco houve redução no tamanho
mostram que quanto melhor for a qualidade da
da bocada que, no entanto, não foi compensado
forrageira, menor oferta de forragem é necessária
pela taxa de bocada. Assim, verificou-se sensível
para maiores ganhos de peso obtidos pelo animal.
redução no consumo de MS pelos animais. Esse
Assim, o ponto crítico para se conseguir bom
autor verificou ainda, que não houve variação no
desempenho por animal se constitui na determinação
tempo de pastejo.
da oferta de forragem que não limite o consumo pelo
Pode-se observar ainda na Tabela 1, a existência animal. Esse modelo, conhecido por pull model, é o
de correlações positivas entre oferta de folhas e de mais aceito pelos nutricionistas animais atualmente.
matéria seca e relação folha:colmo com o consumo. Nele a idéia é que “o animal come porque cresce”
Com base no trabalho de Brâncio (2000) pode-se e não como o definido pelo modelo do push model
concluir que o consumo máximo ocorre quando que o animal responderia a ingestões forçadas de
os animais estão em pastagens com alta densidade alimento. Portanto, a lógica seria que aumentos de
de folhas acessíveis ao animal, e que caule e/ou desempenho, como consequência do aumento de
material morto podem limitar o consumo, mesmo ingestão de matéria seca, seriam obtidos apenas
quando a disponibilidade de matéria seca é alta. quando o consumo potencial estivesse restrito.
Segundo Walker (1995), a seleção da dieta é a chave Todavia, essa costuma ser a condição usualmente
do processo que influencia o status nutricional do encontrada em pastejo.
animal. Isso reforça a importância da seletividade
Além da disponibilidade, outras características
para o desempenho animal, a ponto de ela ser
da estrutura da pastagem podem tornar-se
considerada como o aspecto mais importante do
importantes. Nesse sentido, a taxa de lotação ou a
comportamento de pastejo. Analisando-se os dados
oferta de forragem exercem influência marcante,
apresentados na Tabela 1, é possível observar o
não só por interferirem na disponibilidade do pasto,
esforço animal para maximizar a participação da
mas também pelo seu efeito sobre a sua densidade
fração folha na sua dieta. Mesmo em condições
e sua estrutura.
onde a percentagem de material morto é muito alta
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Para se obter manejo adequado das pastagens, no rúmen de animais fistulados (Zeoula et al., 1999).
torna-se necessário conhecer não apenas as Carro et al. (1991) encontraram relação significativa
características físicas, estruturais e anatômicas das entre consumo voluntário e fração solúvel da MS,
espécies forrageiras, a quantidade de forragem a taxa de degradação da MS e de FDN. Embora
oferecida aos animais e o valor nutritivo, mas as características da degradação de FDN não são
também a quantidade de forragem consumida pelo próximas ao relacionado com o consumo para MS
animal e o valor nutritivo da forragem efetivamente de forragens, a simples correlação entre consumo e
consumida. conteúdo de FDN foi altamente significante, o que
reforça a importância de medir FDN habitualmente
em programas de avaliação de forragens.
Valor nutritivo
Sabe-se ainda, que deficiências de nutrientes
O valor nutritivo da forragem disponível específicos podem limitar o consumo (Minson,
geralmente tem grande influência na quantidade de 1990). Alimentos com o conteúdo de PB inferior a
forragem consumida pelos ruminantes. De acordo 6-7% podem reduzir o consumo (Minson e Milford,
com Forbes (1995) a partir da década de 60, tornou- 1967; Hoyos e Lascano, 1985).
se claro a existência de uma relação positiva entre
Os ruminantes são capazes de controlar a
a digestibilidade da forragem consumida e o seu
ingestão de energia, contanto que a densidade de
consumo diário em bovinos de corte e ovinos.
nutrientes seja suficientemente alta para que não
Euclides et al. (2000) encontraram correlação
haja interferência por restrições físicas (Forbes,
positiva para o consumo voluntário da matéria seca
1995). Este controle é possível através da detecção
(CVMS) e digestibilidade in situ da matéria seca
dos níveis de ácidos graxos, produzidos pela
(DISMS) e negativa com o conteúdo de FDN da
fermentação, pelos receptores presentes no rúmen e
dieta.
pelos receptores hepáticos.
A velocidade de digestão crescente e maior taxa
de passagem de partículas ocorrida pela trituração
da forragem, por exemplo, faz com que o consumo
seja maior. A digestibilidade é relativamente fácil
de ser medida, mas provavelmente não é a medida
mais útil para predizer o consumo. Isto ocorre
devido ao fato de que alguns alimentos podem ser
insuficientemente digeridos, mas passar rapidamente
pelo trato digestivo, assim ocupa espaço durante
menos tempo que um alimento mais digestível
com uma taxa de passagem mais lenta. Exemplo: a
moagem de forragem de baixa qualidade aumenta
a taxa de passagem e consumo, mas pelo fato de
estarem em pequenas partículas há uma menor
permanência no trato e consequentemente são
menos digeridos. A taxa de passagem pelo trato não
é um bom predito de consumo; no entanto, uma
medida mais útil é a taxa de degradação do alimento
no rúmen. A degradação pode ser medida pela
suspensão de sacos de nylon que contêm o alimento
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Conclusão
comportamento ingestivo, consumo diário de matéria seca e ganho de peso médio (GPD) dos animais em pastagem de Panicum maximum cv. Tanzânia com pastejo
Tabela 1. Médias das características do pasto, frações da planta, composição química e digestibilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO) da dieta selecionada,
g/cab/dia
GPD
A ingestão de alimentos é influenciada por
313
615
390
38
muitos fatores, de uma forma em geral, a mesma
está relacionada com as características dos alimentos
pastejo
Tempo
e do estado fisiológico do animal. Se os nutrientes
528
536
545
560
(h)
estão presentes na alimentação na mesma taxa ao
Comportamento ingestivo
38,2
39,0
31,8
32,0
a distensão é o fator dominante que afeta a ingestão
de dietas com baixa qualidade.
bocado (g)
Tamanho
413
762
491
482
Referências bibliográficas
kg MS/ 100
Consumo
forragem
kg PV
3,34
2,16
1,89
2,79
75,9
80,6
72,3
76,3
(%)
Valor nutritivo da dieta
21,7
57,5
(%)
8,0
9,7
PB
14,1
1,40
3,70
3,40
(%)
5,40
2,10
2,90
9,70
80,5
96,5
93,4
86,9
(%)
50,3
35,9
25,5
50,5
(%)
10,9
12,3
22,9
18,9
(%)
38,8
51,9
51,6
30,7
3419
4420
2842
rotacionado.
Nov
Período
Jun
Set
972
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