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Professora:

Núbia de Paula Rafael Barreto Ramos


Curso SUPREMO 2017 & 2018

CURSO PROCURADOR DA CÂMARA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE


Direito Civil - Responsabilidade Civil (AULAS VIRTUAIS)

Professora: Núbia de Paula

08/08/17
A responsabilidade civil nasce da concepção da conduta humana. Toda conduta humana traz
consigo uma responsabilidade.

1. Origem da responsabilidade civil


A responsabilidade civil tem duas origens, por isso ela se divide em:

a) Responsabilidade civil contratual:


O dever de responsabilidade/de indenizar parte pelo pressuposto de o inadimplemento de uma
obrigação.

Está disposta dos arts. 389 a 420 do CC.

O inadimplemento que caracteriza esta responsabilidade civil contratual nasce de a para b.

A tem uma obrigação para com b e, no momento em que a descumpre esse pacto, nasce para b o direito
a ser indenizado se, desse inadimplemento, veio a ser produzido um dano.

Há, então, o dever manifesto pelo descumprimento de uma obrigação que gera um dano. SE há o dano,
nasce o dever de indenizar.

“A obrigação do autor/parte está manifesta nos arts. 389 (obrigação de dar e de fazer), 390 (obrigação
de se abster, de não fazer, de não dar), 391 (consequência do descumprimento das duas primeiras
obrigações).”

Nascerá o dever de responsabilidade do inadimplemento que gera um dano.

Art. 389 - CC. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

Art. 390 - CC. Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente desde o dia em que executou
o ato de que se devia abster.

Art. 391 - CC. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor.

b) Responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana:

Mais importante porque é mais controversa, mais polemizada.

Na responsabilidade civil extracontratual não se diz que o dever de indenizar/que a causa raiz da
responsabilidade será gerada através de um inadimplemento, porque, nesta, não existe um contrato
entre as partes. As partes, muitas vezes, sequer se conhecem. Não existe um pacto prévio.

O dever de indenizar nasce de um dever legal de abstenção (a em relação à coletividade).

Ex. Terceiro que bate em meu veículo.

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Professora: Núbia de Paula Rafael Barreto Ramos
Curso SUPREMO 2017 & 2018

Nasce o dever de indenizar porque o art. 927 – CC traz a premissa, qual seja, aquele que, por ato ilícito,
provoca/causa dano a outrem tem o dever de indenizar, ainda que o dano não tenha se evidenciado por
relação contratual.

Coletividade na questão normativa. Na lei há uma concepção que, por ato ilícito, não posso gerar dano a
outrem.
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Art. 927 - CC. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187) , causar dano a outrem, fica obrigado a repará-
2
lo .

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por
sua natureza, risco para os direitos de outrem.

(1) Aquele que, por ato ilícito: O código civil de 1916 lastreava a responsabilidade civil apenas em cima
do ato ilícito subjetivo, ou seja, aquele que está no art. 186 – CC.

Já o código civil de 2002 alicerça a responsabilidade civil em 2 pilares, quais sejam, nos arts. 186 (ato ilícito
subjetivo) e 187 – CC (ato ilícito objetivo ou abuso de direito).

Art. 186 (conceitua o ato ilícito no ordenamento jurídico pátrio) ou 187 – CAUSAS DA
RESPONSABILIDADE + DANO = DEVER DE INDENIZAR (ART. 927 – CC – vide acima)
Art. 186 - CC. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Dispõe sobre o ato ilícito subjetivo (devem ser analisados o dolo e culpa).

Denomina-se subjetiva o ato ilícito é praticado por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência.

Analisa-se o elemento volitivo.

No direito civil, dolo e culpa se equivalem.


Contraexemplo. Indivíduo dirige embriagado, extrapola o limite de velocidade, fura o sinal vermelho,
contudo chegou ileso até sua casa.

Há uma previsão sancionatória para esta prática, contudo não é civil, pois este exige o dano.

Atos podem ter reflexos nos âmbitos penal, civil e administrativo.

Assim, considerando que o indivíduo não causou dano a ninguém, para o Direito Civil não haverá a punição

Nos âmbitos administrativo (excesso de velocidade) e penal (direção perigosa e dirigir embriagado), ainda
que não haja dano, haverá sanção, pois não é feita esta análise. A simples violação da norma gerará a
sanção.

Pela premissa do ato ilícito subjetivo, não há dever de indenizar, ainda que se tenha cometido um ato se
ilícito, se este, no âmbito civil, não tenha gerado um dano.

NÃO SE OLHA A CONDUTA, POIS ESTA PODE GERAR UM ILÍCITO PENAL, ADMINISTRATIVO E CIVIL. LOGO,
DEVE-SE OLHAR SE HOUVE DANO.

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ILÍCITO CIVIL = VIOLAÇÃO DA NORMA + DANO – pressuposto do ilícito subjetivo (art.


186 – CC) + A REPROVAÇÃO DO ORDENAMENTO JURÍDICO QUE GERA A
REPONSABILDIADE DE INDENIZAÇÃO (art. 927 – CC).
Assim, pode haver ato ilícito sem o dever de indenizar, porque, se não houver o dano, ainda que haja o ato
ilícito, não haverá responsabilidade civil.

O ILÍCITO PODE NÃO SER INDENIZÁVEL SE NÃO GERAR DANO.

Nos âmbitos penal e administrativo NÃO se exige o dano para que haja a responsabilização.

Art. 187 - CC. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos
bons costumes.

Dispõe sobre o ato ilícito objetivo. Também conhecido como teoria dos atos emulativos.

Discorre sobre o abuso de direito. Somente pode abusar do direito aquele que detém o direito. Assim,
inicialmente, a conduta é lícita, todavia, ao exceder a prática desse direito, comete-se o ilícito.

Parte-se de uma conduta lícita, ou seja, o ato, inicialmente, era lícito.

“O ato subjetivo já nasce ilícito. O objetivo, noutro passo, era lícito, conquanto, tendo o direito, ao
exercer, excede-se e, o abuso, é configurado como ato ilícito.”

Ex. Pessoa capaz elabora testamento que dispõe 100% do patrimônio. Configurado o abuso de direito.

Pela análise do art. 187, conclui-se que o abuso de direito está baseado em quatro vertentes, quais sejam,
a) fim econômico, b) fim social, c) boa-fé e d) bons costumes.

NÃO TEM COMO PRESSUPOSTO O DANO.


ENUNCIADO 539 (VI Jornada de Direito Civil) – O abuso de direito é uma categoria jurídica autônoma
em relação à responsabilidade civil. Por isso, o exercício abusivo de posições jurídicas desafia controle
independentemente de dano.
Desta feita, há situações que o abuso de direito não configura dano, mas, ainda assim, é passível de
indenização.

Trata-se de uma EXCEÇÃO DA REGRA.

Informativo 480 – STJ - LEASING. ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL.

Trata-se de REsp oriundo de ação de reintegração de posse ajuizada pela ora recorrente em desfavor do
ora recorrido por inadimplemento de contrato de arrendamento mercantil (leasing). A Turma, ao
prosseguir o julgamento, por maioria, entendeu, entre outras questões, que, diante do substancial
adimplemento do contrato, ou seja, foram pagas 31 das 36 prestações, mostra-se desproporcional a
pretendida reintegração de posse e contraria princípios basilares do Direito Civil, como a função social do
contrato e a boa-fé objetiva. Consignou-se que a regra que permite tal reintegração em caso de mora do
devedor e consequentemente, a resolução do contrato, no caso, deve sucumbir diante dos aludidos
princípios. Observou-se que o meio de realização do crédito pelo qual optou a instituição financeira
recorrente não se mostra consentâneo com a extensão do inadimplemento nem com o CC/2002.
Ressaltou-se, ainda, que o recorrido pode, certamente, valer-se de meios menos gravosos e
proporcionalmente mais adequados à persecução do crédito remanescente, por exemplo, a execução do
título. Precedentes citados: REsp 272.739-MG, DJ 2/4/2001; REsp 469.577-SC, DJ 5/5/2003, e REsp
914.087-RJ, DJ 29/10/2007. REsp 1.051.270-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/8/2011.

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José divide um carro em 36x por meio de leasing. Paga 30 parcelas e fica inadimplente em 6 parcelas. Com
o não pagamento da primeira parcela, o banco pode requer busca e apreensão do automóvel.

Contudo, o STJ tem entendido que esta situação caracteriza abuso de direito, pois houve o adimplemento
substancial materializado na quitação das 30 de 36 parcelas.

Permitir ao banco fazer a busca e apreensão do veículo causaria dano muito maior àquele que pagou as
30 parcelas.

Nesta situação, se cumprido o mandado de busca e apreensão, mesmo que não tenha causado dano,
configura-se o abuso de direito (ato ilícito objetivo), acarretando em indenização.

Pode-se, no entanto, ajuizar a ação para buscar a quitação.

NO ATO ILÍCITO OBJETIVO É POSSÍVEL A CONFIGURAÇÃO DO ABUSO DE DIREITO SEM A OCORRÊNCIA DO


DANO.

É VISTO PELA CONDUTA FINALÍSTICA, ISTO É, INDEPENDENTEMENTE SE HOUVE CULPA OU DOLO. NÃO
SE ANALISA O ELEMENTO SUBJETIVO.

Enunciado 37 - CJF

A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e fundamenta-se somente no


critério objetivo-finalístico.

(2) Fica obrigado a repará-lo: NÃO TRAZ NENHUMA PREMISSA DE VINCULAÇÃO ANTERIOR – NÃO
NECESSÁRIA A RELAÇÃO CONTRATUAL. BASTA A EXISTÊNCIA DO DANO E ATO ILÍCITO

2. Função da responsabilidade civil


A função da responsabilidade civil é buscar um ressarcimento daquilo que foi perdido por uma
das partes, seja em razão de um contrato (contratual), seja em razão do descumprimento de
uma premissa/dever legal (extracontratual), ou seja, tem como função o reestabelecimento do
status quo.

3. Excludentes de ilicitude
Pratica-se uma conduta ilícita, mas o legislador decide que esta não merece reprovação pelo
ordenamento jurídica.

Retira-se a ilicitude. Assim, o ato ilícito, passa a não ser mais lícito.

Como regra, não haverá o direito de indenizar (há exceções).


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Art. 188 - CC. Não constituem atos ilícitos:

I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

Trata da legítima defesa e do exercício regular de um direito.

a) Legítima defesa: Analisada conforme no direito penal. A legítima defesa putativa (praticada contra
agressão inexistente), neste caso, TAMBÉM NÃO EXCLUIRÁ O DIREITO DE INDENIZAR.

Nesta, há quatro análises a serem feitas:


Não haverá o
Contra o próprio dever de
agressor indenizar se
exercida dentro
dos limites
Legítima defesa

Haverá o direito
de indenizar,
Terceiro contudo há ação
regressiva contra
aquele que
praticou o dano.


Putativa Haverá o direito
(praticada contra de indenizar
agressão
inexistente)

A legítima defesa praticada com excesso acarreta no direito de indenizar, todavia o quantum será
analisado de forma proporcional.

Vide, também, o art. 930, inciso I – CC abaixo.

b) exercício regular do direito: Só há que se falar em exercício regular de direito daquele que é o titular
do mesmo.

Ex. Jornalista que reporta uma notícia. Artistas que são fotografados em situações constrangedoras. Se
for apenas para reportar a notícia, não haveria o direito de indenização. O jornalista está no local para
reportar uma situação. Assim, configurada a excludente de ilicitude (vide informativo 499 – STJ abaixo).

II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim


de remover perigo iminente – CAI
Trata do estado de necessidade. Ocorre quando se pratica um dano para evitar um dano maior.

O estado de necessidade somente exclui a licitude quando o fato puder ser


imputado à vítima do dano, ou seja, quando a própria vítima provocou a
situação (o art. 188 deve ser lido com os arts. 929 e 930 – CC).
Nos casos em que o dano é causado a terceiro, pode-se, todavia, ajuizar
ação de regresso em face do causador do dano.

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Ex – ESTADO DE NECESSIDADE COM DEVER DE INDENIZAR. Indivíduo dirigindo nos limites de velocidade
quando uma criança entra em sua frente. Este desvia o veículo, atingindo o automóvel que estava
estacionado. Configurado o estado de necessidade, contudo há o dever de indenizar. Poderá ser ajuizada
ação de regresso contra os pais da criança.

Assim:

- Regra geral: Havendo o estado de necessidade, haverá a exclusão da ilicitude.

Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem
absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.

- Exceção: Haverá excludente de ilicitude somente se houver culpa exclusiva da vítima.

- Exceção da exceção: Se não há culpa exclusiva da vítima, deve-se indenizar, contudo se terá a ação
regressiva.

Art. 929 - CC. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados
do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram.

Representa um absurdo jurídico. Este artigo dá mais valor ao patrimônio do que à vida. Assim, esta
concepção é muito criticada pela doutrina.

Art. 930 - CC. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o
autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado.

Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art.
188, inciso I).

Informativo 499 – STJ - INDENIZAÇÃO. MATÉRIA JORNALÍSTICA. DIREITO DE INFORMAR. LIBERDADE DE


IMPRENSA.

A Turma deu provimento ao recurso para afastar a responsabilização da empresa jornalística, ora
recorrente, pelo pagamento de indenização ao recorrido (magistrado), sob o entendimento de que, no
caso, não existiria ilícito civil, pois a recorrente teria atuado nos limites do exercício de informar e do
princípio da liberdade da imprensa. O Min. Relator observou que a análise relativa à ocorrência de abuso
no exercício da liberdade de expressão jornalística a ensejar reparação civil por dano moral a direitos da
personalidade fica a depender do exame de cada caso concreto; pois, em tese, sopesados os valores em
conflito, máxime quando atingida pessoa investida de autoridade pública, mostra-se recomendável que
se dê prevalência à liberdade de informação e de crítica. Na hipótese dos autos, tem-se que a matéria
jornalística relacionou-se a fatos de interesse da coletividade, os quais dizem respeito diretamente aos
atos e comportamentos do recorrido na condição de autoridade. Tratou a recorrente, na reportagem, em
abordagem não apenas noticiosa, mas sobretudo de ácida crítica que atingiu o ora recorrido, numa zona
fronteiriça, de marcos imprecisos, entre o limite da liberdade de expressão e o limiar do abuso do direito
ao exercício dessa liberdade. Esses extremos podem ser identificados no título e noutras passagens
sarcásticas da notícia veiculada de forma crítica. Essas, porém, estão inseridas na matéria jornalística de
cunho informativo, baseada em levantamentos de fatos de interesse público, que não extrapola
claramente o direito de crítica, principalmente porque exercida em relação a casos que ostentam
gravidade e ampla repercussão social. O relatório final da "CPI do Judiciário" fora divulgado no mesmo
mês da publicação da matéria jornalística, em dezembro de 1999; elaborada, portanto, sob o impacto e a
influência daquele documento público relevante para a vida nacional. E como fatos graves foram
imputados ao ora recorrido naquele relatório, é natural que revista de circulação nacional tenha dado
destaque à notícia e emitido cáustica opinião, entendendo-se amparada no teor daquele documento
público. Portanto, essa contemporaneidade entre os eventos da divulgação do relatório final da CPI e da
publicação da notícia eivada de ácida crítica ao magistrado é levada em conta para descaracterizar o abuso
no exercício da liberdade de imprensa. Desse modo, embora não se possa duvidar do sofrimento
experimentado pelo recorrido, a revelar a presença de dano moral, este não se mostra indenizável, dadas

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as circunstâncias do caso, por força daquela "imperiosa cláusula de modicidade" subjacente a que alude
a Suprema Corte no julgamento da ADPF 130-DF. Precedentes citados do STF: ADPF 130-DF, DJe de
5/11/2009; do STJ: REsp 828.107-SP, DJ 25/9/2006. REsp 801.109-DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em
12/6/2012.

Informativo 371 – STJ (não encontrei o assunto em análise no informativo): Realização de notícia crime
que, posteriormente, não é confirmada, vindo a ser arquivada trata-se de exercício regular do direito.

Obviamente, desde que a notícia crime não extrapole, não seja configurada a má-fé ou a vontade de
prejudicar terceira pessoa.

Deve-se respeitar os limites da boa-fé e eticidade.

ENUNCIADO 553 – VI Jornada de Direito Civil – Nas ações de responsabilidade civil por cadastramento
indevido nos registros de devedores inadimplentes realizados por instituições financeiras, a
responsabilidade civil é objetiva.

Se houve o exercício regular do direito, não há o dever de indenizar.

4. Elementos da responsabilidade civil


Há uma divergência na doutrina.

4.1. Elementos da responsabilidade civil - Conduta humana


Parte-se do pressuposto de que a ação/omissão somente se for praticada/emanada de uma
conduta humana é que haverá o dever de indenizar.

Conduta humana ilícita com culpa ou sem culpa.

Toda a ação que provoca dano que não provém de uma conduta humana, em regra (vide nota
abaixo), não gera o dever de indenizar.

Ex. Caso fortuito ou de força maior – meu carro foi arrastado em razão de chuva torrencial e
danificou o carro da Isabela – não há o dever de indenizar.

Nota:
“Se meu animal praticar dano ao patrimônio de outrem, há o dever de vigilância, de cuidado
que paira sobre o animal, sobre o menor.”

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02/01/18
4.1.1. Responsabilidade do menor
No Brasil, EXISTE responsabilidade do menor.

Como regra, o menor responde de forma SUBSIDIÁRIA (art. 928 – CC).


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Nesse caso, trata-se de responsabilidade indireta dos pais (art. 932, inciso I – CC).

A responsabilidade dos pais é objetiva e solidária (entre os pais, aqueles que detêm
o poder familiar).
A emancipação voluntária não exclui a responsabilidade indireta que os
pais têm sobre os filhos menores.
A emancipação não tem alcance sobre a responsabilidade civil.

“Mesmo emancipado, há o dever de indenizar.”

Enunciado 450 – CJF

Considerando que a responsabilidade dos pais pelos atos danosos


praticados pelos filhos menores é objetiva, e não por culpa presumida, ambos os
genitores, no exercício do poder familiar, são, em regra, solidariamente
responsáveis por tais atos, ainda que estejam separados, ressalvado o
direito de regresso em caso de culpa exclusiva de um dos genitores.
Para fins de responsabilidade civil, não importa quem está com a guarda dos filhos menores. A
responsabilidade recai para quem ou para aqueles que têm ou detêm o poder familiar.

(1) Responsabilidade indireta: É aquela que, ainda que não se tenha praticado o ato, responderá pelo ato
praticado por outrem em razão do dever de guarda/de cuidado.

A responsabilidade indireta inserta no art. 932 – CC é objetiva, ou seja,


independe de dolo/culpa.
“O elemento volitivo não importa. O que importa é o dever de cuidado/de guarda que não foi exercido
corretamente.”

Art. 932 - CC. São também responsáveis pela reparação civil:

I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;

II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho
que lhes competir, ou em razão dele;

IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo
para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;

V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.

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RESPONSABILIDADE OBJETIVA NA RESPONSABILDIADE INDIRETA - Art. 933 - CC. As pessoas indicadas


nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos
praticados pelos terceiros ali referidos.

Nota:
- Responsabilidade objetiva do Estado:

Enunciado 558 – CJF

São solidariamente responsáveis pela reparação civil, juntamente com os agentes públicos que praticaram
atos de improbidade administrativa, as pessoas, inclusive as jurídicas, que para eles concorreram ou deles
se beneficiaram direta ou indiretamente.

4.1.1.1. Situações em que o menor responderá diretamente (art. 928 – CC)

Há o litisconsórcio sucessivo (se os pais não puderem responder, chama-se o menor).

Ademais, há a responsabilidade mitigada (o juiz mitigará o quantum indenizatório a fim de propiciar o


menor a responder de forma que não ferirá sua dignidade/seus recursos mínimos necessários).”

O menor será responsabilizado diretamente quando o responsável não tiver condições de responder.

Art. 928 - CC. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não
tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes.

Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa, não terá lugar se privar
do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.

4.1.1.2. Responsabilidade do menor perante o ECA (art. 122, inciso II – ECA)

Art. 122 - ECA. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:

II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;

4.1.1.3. Ação regressiva (art. 934 – CC)

O tutor, se responde, com seu patrimônio, por ato praticado por menor, poderia mover ação regressiva
para reaver o que pagou.

De outra sorte, a ação regressiva não é possível quando se trata dos pais em
relação aos filhos menores.
“Se os pais arcarem com um prejuízo que o menor provocou, não terão ação regressiva contra o
menor.”

Art. 934 - CC. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele
por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou
relativamente incapaz.
Nota:
O mesmo raciocínio supra se aplica ao empregador em relação aos atos praticados por seus
empregados.

“Pouco importa se o empregador fiscalizou ou não, não irá se eximir da responsabilidade que é
objetiva.”

Após, poderá ajuizar ação de regresso contra o empregado.

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4.1.1.4. Curiosidades da responsabilidade indireta dos pais em relação a seus filhos

a) A emancipação NÃO ilide a responsabilidade dos pais (vide Enunciado 41 – CJF);

b) Impossibilidade da ação regressiva (vide art. 934, in fine – CC).

Enunciado 41 - CJF

A única hipótese em que poderá haver responsabilidade solidária do menor de 18 anos com seus pais é
ter sido emancipado nos termos do art. 5º, parágrafo único, inc. I, do novo Código Civil.
o
Art. 5 – CC - A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática
de todos os atos da vida civil.

Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:

I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público,
independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver
dezesseis anos completos;

IMPORTANTE:
- A exceção quanto à necessidade de conduta humana para gerar responsabilidade civil está
inserta responsabilidade indireta (art. 932 – CC – vide acima);
Pessoas que responderão por condutas de terceiros por terem o dever de vigilância, fiscalização.

4.2. Elementos da responsabilidade civil - Culpa


Na responsabilidade civil, a culpa não é levada em consideração.

A conduta é praticada com dolo ou culpa que, no entanto, não será levada em consideração no
momento da fixação da indenização.

“Na responsabilidade objetiva, a conduta pode ter sido dolosa ou culposa, mas essa culpa/dolo
não é levado é consideração quando da fixação do quantum indenizatório.”
Art. 944 - CC. A indenização mede-se pela extensão do dano.

Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o
juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.

Informativo 513 - STJ

DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ESTADO DE NECESSIDADE. PROPORCIONALIDADE NA


FIXAÇÃO DE INDENIZAÇÃO.

O estado de necessidade, embora não exclua o dever de indenizar, fundamenta a fixação das
indenizações segundo o critério da proporcionalidade. (Leva-se em consideração a culpa na hora de
dosar a indenização). A adoção da restitutio in integrum no âmbito da responsabilidade civil por danos,
sejam materiais ou extrapatrimoniais, nos conduz à inafastabilidade do direito da vítima à reparação ou
compensação do prejuízo, ainda que o agente se encontre amparado por excludentes de ilicitude, nos
termos dos arts. 1.519 e 1.520 do CC/1916 (arts. 929 e 930 do CC/2002), situação que afetará apenas o
valor da indenização fixado pelo critério da proporcionalidade. REsp 1.292.141-SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 4/12/2012.

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Art. 945 - CC. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua
indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do
autor do dano.
Não haverá a exclusão da responsabilidade de indenizar. Será realizada uma análise equitativa dessa
culpa para se saber até que momento houve a participação do sujeito “A” e do sujeito “B”.

Pode-se discutir a culpa concorrente1 na responsabilidade objetiva.


(1) Culpa concorrente: A culpa concorrente não exclui o dever de indenizar, mas apenas levará em
consideração a gradação, a culpa a ser levada em consideração por aqueles que o praticaram na medida
que o praticaram.

Enunciado 46 – CJF

A possibilidade de redução do montante da indenização em face do grau de culpa do agente, estabelecida


no parágrafo único do art. 944 do novo Código Civil, deve ser interpretada restritivamente, por
representar uma exceção ao princípio da reparação integral do dano[,] não se aplicando às
hipóteses de responsabilidade objetiva (suprimido pelo Enunciado 380 –
CJF). (Alterado pelo Enunciado 380 - IV Jornada)
Embora a culpa não seja analisada para fixar o quantum indenizatório na responsabilidade objetiva, toda
conduta será praticada com culpa ou com dolo.

Na conduta terá o elemento subjetivo.

Somente em alguns casos, tais como responsabilidade civil do Estado, dano ao meio ambiente, essa culpa
não será levada em consideração.

Mas a culpa concorrente pode ser levada em consideração, porque está imbuída no elemento da conduta
humana.

Pode-se aplicar a culpa concorrente tanto nas hipóteses de responsabilidade objetiva quanto nas hipóteses
de responsabilidade subjetiva.

Por isso que esse enunciado foi alterado pelo anunciado 380 – CJF. Vejamos:

Enunciado 380 - CJF

Atribui-se nova redação ao Enunciado n. 46 da I Jornada de Direito Civil, pela supressão da parte
final: não se aplicando às hipóteses de responsabilidade objetiva.
Nota:
- Elementos da responsabilidade civil (aspectos importantes):
1) Conduta humana

a) Caso fortuito ou de forma maior, via de regra, não são considerados para efeito de responsabilidade
civil. Isto é, será excludente de responsabilidade, pois não há conduta humana.

b) Na responsabilidade indireta, é possível que a pessoa seja responsabilizada por ato que não praticou.

“Ainda que não tenha praticado a conduta, sou responsável por aquele que praticou.”

Na responsabilidade indireta, a culpa não é levada em consideração, uma vez que quem praticou o ato foi
o outro.

11

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Curso SUPREMO 2017 & 2018

b.1) Responsabilidade civil do menor

A reponsabilidade será dos pais que detêm o poder familiar.

Haverá o litisconsórcio sucessivo, ou seja, o menor será chamado a responder subsidiariamente se tiver
condições.

Some-se a isso, o Juiz irá dosar o quantum de forma equitativa, isto é, haverá a aplicação mitigada da
indenização.

2) Culpa

No direito civil, depende se a culpa é lato ou estrito sensu.

Analisa-se a culpa in concreto, casuística, aplicada ao caso concreto (não é analisada em abstrato).
3
As culpas in vigilando , in eligendo e culpa in custodiendo
1 2

(1) Culpa in vigilando: Havia o dever de cuidado.

Ex. Pais em relação aos filhos (art. 932, inciso I – CC).

(2) Culpa in eligendo: Elege-se uma pessoa, responsabilizando-se por ela.

Ex. O empregador em relação ao seu empregado.

As culpas in vigilando, in eligendo foram substituídas pelo previsto no art.


932 – CC na responsabilidade indireta, que instituiu a responsabilidade
objetiva, com ação regressiva, exceto no caso dos pais em relação aos
filhos menores, tal como disposto no art. 933 – CC.
(3) Culpa in custodiendo: É a presunção da falta de cuidado pela guarda de
coisa ou animal.
A culpa in custodiendo foi substituída pelos arts. 936, 937 e 938 – CC, que
institui a responsabilidade objetiva.
- Somente há duas situações em que o guardião do animal não responde
por danos que ele causar a terceiro:
a) Culpa da vítima (art. 936, in fine – CC);
Ex. Cão bravo e eu invado o lote para furtar manga. O proprietário não irá indenizar, pois é culpa da vítima.

b) Caso fortuito ou força maior (art. 936, in fine – CC).


Ex. Vaca sai da fazenda e vai para rodovia, provocando danos em veículo em que estava dirigindo.

Se o dono do animal prova que foi um terremoto que destruiu a cerca (força maior), não irá responder.

Ele não vai responder não porque a cerca era bem feita, mas sim porque se trata de uma excludente de
responsabilidade.

Art. 936 - CC. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar
culpa da vítima ou força maior.

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Art. 937 - CC. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que
resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja
necessidade fosse manifesta.
“Se tinha necessidade de reparo e o dono não fez, independe se sabia ou se achou que tinha feito o
suficiente. Aqui, não é levado em consideração.”

Art. 938 - CC. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano
proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar
indevido.
Ex. Dona Mariquinha mora no terceiro andar e adora colecionar vasos de violetas. No local não tem cerca,
grade. Vem um vento forte e derruba o vaso na cabeça do Nicolas.

Isso não vai excluir o dever de Mariquinha de reparar os danos que Nicolas teve.

Nesse caso, a responsabilidade é OBJETIVA.

IMPORTANTE:
- Hipóteses de responsabilidade objetiva que estão previstas no Código Civil:

a) Responsabilidade (art. 932 – CC);

b) Dono ou detentor do animal (art. 936 – CC);

c) Dono de edifício pelos danos que resultarem de sua ruína se esta provier de falta de reparos (art. 937
– CC);

d) Habitante de prédio das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido (art. 938 – CC).

- Reponsabilidade objetiva vs. culpa presumida:

Tanto a responsabilidade objetiva quanto a culpa presumida têm um ponto em comum, qual seja,
inversão do ônus da prova.
Pontos diferentes:

a) Culpa presumida de responsabilidade subjetiva: Se a culpa não for


provada, não haverá indenização.
b) Responsabilidade objetiva: Não se deve provar a culpa. Deve-se provar, tão somente, a culpa, o nexo
causal e o dano.

A culpa é analisada apenas quando da fixação do quantum indenizatório.

- Situações importantes:
a) Responsabilidade subjetiva com necessidade de prova do dano: Tem-se o autor com os seguintes
ônus:

i. Provar a culpa;

ii. Provar o dano.

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4.3. Elementos da responsabilidade civil - Nexo de causalidade


É o “tubo condutor” entre a conduta do agente e o dano sofrido pela vítima.

Na responsabilidade subjetiva, o nexo causal é a culpa/dolo.

Na responsabilidade objetiva, o nexo causal é a violação à norma.


b) Responsabilidade objetiva SEM necessidade de prova do dano: Tem-se o autor com os seguintes ônus:

i. Provar o dano.

NÃO HÁ O ÔNUS DE PROVAR A CULPA.

c) Responsabilidade subjetiva COM DANO PRESUMIDO: Tem-se o autor


com os seguintes ônus:
i. Provar a culpa.
NÃO SE TEM QUE PROVAR O DANO, POIS SE CONFIGURA QUE O DANO É VISÍVEL, É
PERCEPTÍVEL.
Ex. Fui atropelado e perdi as duas pernas, os dois braços e fiquei cego de um olho. Não
é necessário provar o dano.
Ex2. Abalo psicológico de uma mãe que perdeu o filho num atropelamento. Não é
necessário provar o dano.

d) Responsabilidade objetiva COM DANO PRESUMIDO: Tem-se o autor


com os seguintes ônus:
i. Provar o NEXO DE CAUSALIDADE.
NÃO SE TEM QUE PROVAR O DANO, POIS É PRESUMIDO.
Ex. Banco de dados que inscreve indevidamente seu nome no SPC. O dano é presumido
– entendimento pacificado do STJ.

Nota:
- Elementos MATERIAIS da responsabilidade civil:
a) Conduta;

b) Dano.

- Elementos IMATERIAIS da responsabilidade civil:

a) Nexo de causalidade.

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4.3. Nexo de causalidade


É o elemento subjetivo ou imaterial da responsabilidade civil que promove a ligação entre a
conduta e o dano.

“É o ‘tubo condutor’ entre a conduta do agente e o dano sofrido pela vítima.”

“É a ligação entre a conduta e o dano.”

Na responsabilidade subjetiva, o nexo causal é a culpa/dolo.

Na responsabilidade objetiva, o nexo causal é a violação à norma.

“Na responsabilidade civil, mesmo objetiva, é necessário o nexo de causalidade.”

“Na responsabilidade objetiva, pode faltar a culpa, mas não pode faltar o nexo de
causalidade.”

4.3.1. Teorias acerca do nexo de causalidade

4.3.1.1. Teoria da equivalência das condições

Não foi recepcionada pelo Código Civil, uma vez que não conferia limites à
responsabilidade civil.

“É como se eu pudesse ser responsabilizado por infinitas hipóteses.”

“Todos os atos relativos àquele dano seriam levados em consideração.”

Ex. Estava chovendo torrencialmente. João estava alcoolizado, falando ao celular e em excesso de
velocidade. O sinal não estava funcionando em uma das principais avenidas da cidade. Havia uma
passeata no momento da chuva.

Todos os efeitos seriam levados em consideração: a passeata, o fato de o semáforo estar desligado, a
embriaguez, até mesmo um buraco na via seria levado em consideração.

Ou seja, é muito amplo considerar que haveria responsabilidade civil por todos os elementos inerentes à
situação.

4.3.1.2. Teoria da causalidade adequada – recepcionado pelo Código Civil


Teoria adotada em diversos julgados do STJ, Tribunais Estaduais.
Desenvolvida por Von Kries.

Somente se considera a causa relevante que provocou o dano. As condições também


são levadas em consideração. Ainda que a causa não tenha sido direta e
imediata, será levada em consideração.
“Somente se considera a causa relevante, aquilo que é importante.”

A indenização deve ser adequada aos fatos que para ela colaboram.

“O juiz, quando da fixação da indenização, não levará em consideração nada que não tiver
contribuído diretamente para com o dano.”

Trabalham-se as teorias da concausalidade1.

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Deve-se considerar se a concausalidade é totalmente independente, relativamente


independente e afins.
Enunciado 47 da I Jornada de Direito Civil

O art. 945 do novo Código Civil (CULPA CONCORRENTE), que não encontra correspondente no Código
Civil de 1916, não exclui a aplicação da teoria da causalidade adequada.

CULPA CONCORRENTE - Art. 945 - CC. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso,
a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor
do dano.

(1) Concausalidade: Ensina Roberto Senise Lisboa que a concausalidade é a concorrência de causas de
determinado resultado. E podemos classificá-la como:

a) concausalidade ordinária, conjunta ou comum onde a seqüência de condutas é coordenada e


dependente de duas ou mais pessoas, que de forma relevante contribuem para a produção do evento
danoso.

Ex. Duas pessoas que coagem alguém para celebração de certo negócio. Nesse caso, todos os agentes
respondem solidariamente aplicando-se o art. 942, caput do C.C.

b) concausalidade acumulativa é a existente entre condutas de duas ou mais pessoas que são
independentes entre si, mas que causam prejuízo.

Ex. Duas pessoas, em alta velocidade dirigindo um carro atropelam um mesmo pedestre, no meio do
cruzamento.

Cada agente, nesse caso, deve responder na proporção de suas respectivas culpas.

c) concausalidade alternativa ou disjuntiva existe quando entre duas ou mais condutas, sendo que
apenas uma delas é importante para a ocorrência do dano.

Ex. Duas pessoas tentam espancar alguém, uma erra o golpe e, o outro acerta, vindo a alvejar a cabeça
da vítima e lhe fraturando inúmeros ossos. Isso numa briga generalizada ocorrida num estádio de
futebol. Apenas o último ofensor responderá pelas lesões corporais e danos provocados.

Art. 942 - CC. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à
reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente
pela reparação.

Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas designadas
no art. 932 (vide acima).

- Fonte: http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2353

4.3.1.3. Teoria do dano direto e imediato – recepcionada pelo Código Civil


Representa a doutrina majoritária.
Leva em consideração as condições para o evento.

A diferença em relação à teoria da causa adequada é que, para esta, as condições são levadas
em consideração.

Para a teoria do dano direto e imediato somente as causas são levadas em


consideração.
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Somente se consideram as causas que foram diretamente contributivas


para o evento danoso.
Art. 403 - CC. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os
prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do
disposto na lei processual.

Esse artigo ilustra que a teoria do dano direto e imediato foi recepcionada pelo Código Civil.

IMPORTANTE:
Em prova, tanto a teoria da causalidade adequada quanto a teoria do dano direto e imediato
podem ser aplicadas. Dependerá do caso concreto.

No entanto, a doutrina majoritária é adepta da teoria do dano direto e imediato.

SUPERIMPORTANTE:
- Diferença entre a Teoria da Causalidade Adequada e a Teoria do Dano Direto e Imediato:
a) Teoria da Causalidade Adequada: Por essa teoria, há o trabalho da concausalidade (leva-se em
consideração a concausa).

Para essa teoria, ainda que não se obste o nexo de causalidade, poderá haver a responsabilização.

b) Teoria do Dano Direto e imediato: Trabalha-se com a obstação do nexo de causalidade, isto é, obstado
o nexo de causalidade, não haverá o dever de indenização.

“Para saber qual teoria aplicar, interessante acompanhar os informativos do STJ para entender, em cada
caso de responsabilidade, qual tem sido o entendimento.”

- Diferença entre condição e causa:


a) Condição: É tudo aquilo que envolveu o dano. Tudo aquilo que, ainda que não tenha contribuído
diretamente para o evento, poderia tê-lo agravado, mas não diretamente.

NÃO PODE MAJORAR A SITUAÇÃO DAQUELE QUE VAI SER RESPONSABILIZADO.

NOUTRO GIRO, PODE MITIGAR A RESPONSABILIDADE.

Ex. Condição do tempo, equipamento que estava danificado, estrada mal conservada, etc.

b) Causa: Aquilo que pode ser imputado diretamente ao sujeito. Deve ser levado em consideração para
que o sujeito indenize/majore-se o quantum indenizatório.

TANTO PARA A TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA QUANTO PARA A TEORIA DO DANO DIRETO E
IMEDIADO, SOMENTE PODE SER LEVADO EM CONSIDERAÇÃO PARA AGRAVAR A SITUAÇÃO E PARA
FIXAR O QUANTUM INDENIZATÓRIO AQUILO QUE DIRETAMENTE CONTRIBUIU.

Ex. Estava chovendo torrencialmente. João estava alcoolizado, falando ao celular e em excesso de
velocidade. O sinal não estava funcionando em uma das principais avenidas da cidade. Havia uma
passeata no momento da chuva.

Nesse caso, são causas: embriaguez, alta velocidade, estar falando ao celular.

NÃO É CAUSA: Semáforo estar desligado, passeata (será utilizado para mitigar).

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4.3.2. Excludentes do nexo de causalidade

A conduta é ilícita, houve o dano, mas o nexo de causalidade desapareceu.

Se houver exclusão do nexo de causalidade, ainda que a conduta seja


lícita, haverá a exclusão da responsabilidade.
4.3.2.1. Excludentes do nexo de causalidade - Culpa/fato exclusiva(o) da vítima

Nessa situação, o comportamento da vítima É O FATO DECISIVO PARA A OCORRÊNCIA DO DANO.

“Se a vítima não tivesse agido daquela maneira, o dano não teria ocorrido.”

A conduta do autor é um mero instrumento para operacionalizar uma vontade que a vítima já tinha
arquitetado.

Ex. Eu estou saindo de férias, decidi ir para uma praia mais privativa. Estou dirigindo tranquilo na estrada
dentro dos limites de velocidade, aparece uma pessoa na frente do carro que atravessa com o intuito de
cometer suicídio, logrando êxito em sua empreitada.

Eu não poderei ser responsabilizado, uma vez que fui mero instrumento. Poderia ter sido eu, o caminhão
que passou antes, o carro que passou depois.

Cometi o ato ilícito de matar alguém, mas houve a excludente de nexo de causalidade.

Contraexemplo. Suicídio assistido – contribui-se para o evento, havendo responsabilização.

Regra válida para relação entre particulares, pois o STJ já pacificou o


entendimento de que, em suicídio ocorrido dentro de estabelecimento
prisional, configura-se a responsabilidade civil do Estado (situação
excepcional) (vide informativo 520 em nota abaixo).
4.3.2.2. Excludentes do nexo de causalidade - Força maior/caso fortuito (art. 393 – CC)
1
Não vai haver dever de indenizar se houver caso fortuito/força maior .

Válida para a responsabilidade civil extracontratual (vide atenção abaixo).


(1) Caso fortuito/força maior: “Algo que não dependeu de mim e não dependeu de terceiro.” Algo que,
ainda que não houvesse vontade, teria acontecido.

Comum associar o caso fortuito/força maior a eventos da natureza.

“Não é um fato que pode ser imputado a mim ou a terceiro. É, simplesmente, um elemento não
humano que será determinante para que aconteça o dano. Então, a minha ação, de nada valeria.”

Ex. Enxurrada que levou meu carro levando-o a abalroar outro.

Trata-se do caso fortuito externo, pois o caso fortuito interno não é capaz
de excluir o nexo de causalidade.
Art. 393 - CC. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se
expressamente não se houver por eles responsabilizado.

Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário,


cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

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4.3.2.2.1. EXCEÇÃO ao caso fortuito/força maior (Súmula 479 – STJ)

Súmula 479/STJ - 11/07/2017. Recurso especial repetitivo. Consumidor. Recurso especial


representativo de controvérsia. Responsabilidade civil. Dano moral. Banco. Instituições bancárias.
Danos causados por fraudes e delitos praticados por terceiros. Responsabilidade objetiva. Fortuito
interno. Risco do empreendimento. Verba fixada em R$ 15.000,00. Precedentes do STJ. Súmula
28/STF. CPC, art. 543-C. CDC, arts. 6º, VIII, 14, 17 e 39, III. CCB/2002, arts. 186 e 927, parágrafo
único. CF/88, art. 5º, V e X)

«As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados


por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no
âmbito de operações bancárias.»
ATENÇÃO:

Na responsabilidade civil contratual1, nem sempre o nexo de causalidade


será excluído pelo caso fortuito/força maior, pois, se o devedor estiver em
mora/inadimplente, esses não alcançarão a excludente do nexo de
causalidade, remanescendo, ainda assim, o dever de indenizar por parte do
devedor.
A responsabilidade civil contratual NÃO será excluída pelo caso fortuito/força maior quando o
devedor já está inadimplente (art. 399 – CC).

“Se o devedor está inadimplente, ainda que ocorra caso fortuito ou de força maior, NÃO VAI
HAVER A EXCLUSÃO DO DEVER DE INDENIZAR.”

Ex. Obrigação de empréstimo de coisa – Maria me emprestou a moto, tendo eu que devolvê-la
na sexta, dia 15. Na sexta-feira, Maria não apareceu e eu não restituí a coisa. No dia 16, acontece
uma forte chuva e a moto vem a ser danificada, tendo em vista que a levou.

Não posso me abster da obrigação de restituir a coisa da maneira que ela me foi emprestada ao
argumento de caso fortuito/força maior, porque eu já estava inadimplente.
Art. 399 - CC. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa
impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se
provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente
desempenhada.

(1) Responsabilidade civil contratual vs. Responsabilidade civil extracontratual: Para se caracterizar a
responsabilidade civil é necessário que se coadunem quatro elementos, a saber: a ação ou omissão do
agente, a culpa ou o dolo do agente, a relação ou o nexo de causalidade e o dano.

A Responsabilidade Civil Contratual, como o nome mesmo já sugere, ocorre pela presença de um contrato
existente entre as partes envolvidas, agente e vítima. Assim, o contratado ao unir os quatro elementos da
responsabilidade civil (ação ou omissão, somados à culpa ou dolo, nexo e o consequente dano) em relação
ao contratante, em razão do vínculo jurídico que lhes cerca, incorrerá na chamada Responsabilidade Civil
Contratual.

Em relação à Responsabilidade Civil Extracontratual, também conhecida como aquiliana, o agente não
tem vínculo contratual com a vítima, mas, tem vínculo legal, uma vez que, por conta do descumprimento
de um dever legal, o agente por ação ou omissão, com nexo de causalidade e culpa ou dolo, causará à
vítima um dano.

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Ambas as figuras de responsabilidade civil estão fundamentadas, genericamente, nas palavras do


artigo 186 do Código Civil, in verbis :

Art. 186 - CC. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Desse modo, pode-se verificar que a única diferença entre as duas figuras de responsabilidade civil
encontra-se no fato de a primeira existir em razão de um contrato que vincula as partes e, a segunda
surge a partir do descumprimento de um dever legal.

- Fonte: https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1974721/qual-a-diferenca-entre-responsabilidade-civil-
contratual-de-extracontratual-joice-de-souza-bezerra

Nota:
- Responsabilidade Civil do Estado em suicídio ocorrido no interior de presídio:
Informativo 520 – STJ

DIREITO ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO NO CASO DE SUICÍDIO DE


DETENTO.

A Administração Pública está obrigada ao pagamento de pensão e indenização por danos morais no caso
de morte por suicídio de detento ocorrido dentro de estabelecimento prisional mantido pelo Estado.
Nessas hipóteses, não é necessário perquirir eventual culpa da Administração Pública. Na verdade, a
responsabilidade civil estatal pela integridade dos presidiários é objetiva em face dos riscos inerentes ao
meio no qual foram inseridos pelo próprio Estado. Assim, devem ser reconhecidos os referidos direitos
em consideração ao disposto nos arts. 927, parágrafo único, e 948, II, do CC. AgRg no REsp 1.305.259-SC,
Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 2/4/2013.

4.3.2.3. Excludentes do nexo de causalidade - Culpa/fato de terceiro

É um elemento controverso.

No fato de terceiro, este é estranho à relação, isto é, não participa como vítima e nem como autor.

Contudo, será o elemento decisivo para que o dano aconteça, provocando a exclusão do nexo de
causalidade.

caberá ao autor do dano demonstrar que este foi


No fato de terceiro,
proveniente de uma conduta de terceiro.
4.3.2.3.1. Regra
1 2
4.3.2.3.1.1. Fato de terceiro equiparado a fortuito interno – NÃO SE CARACTERIZA COMO EXCLUDENTE
DO NEXO DE CAUSALIDADE

Não retira o dever de indenizar.

“Caso fortuito interno é aquele que, ainda que não haja culpa/vontade/intenção, houve um liame
subjetivo.”

Ex. Por meio de um contrato de transporte – comprei uma passagem para viajar e, no meio do caminho,
o motorista vem a sofrer um ataque cardíaco, o ônibus cai num abismo, pessoas falecem e eu tive danos
graves, inclusive perdas de membros.

Houve um caso fortuito interno – ninguém esperava que o motorista tivesse um ataque cardíaco.

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Ex2. Pneu careca, falta de manutenção do veículo – pode-se imputar, direta ou indiretamente, à pessoa
prestadora do serviço – não retira o dever de indenizar.
1
4.3.2.3.1.2. Fato de terceiro equiparado a fortuito externo

Somente é equiparado ao fortuito externo contra aquele que não se tenha ação
regressiva.
Ex. Peguei um ônibus e fui atingido por uma bala perdida, não dando tempo, nem mesmo, de saber de
onde veio. O fato ocorreu num local de alto índice de violência.

“Caso fortuito externo é aquele que não se pode imputar, ainda que indiretamente, àquele que faça parte
da relação.”

Se houver a possibilidade de ação regressiva contra aquele que causou o dano, não se terá a exclusão do
dever de indenizar.

“Primeiro se indenizará para, depois, reaver o prejuízo através de ação regressiva.”

O fato de terceiro exclui o nexo de causalidade quando puder ser


equiparado ao fortuito externo.
1
4.3.2.3.1.3. Fato de terceiro equiparado ao estado de necessidade (EXEPCIONALMENTE, excludente do
nexo de causalidade – SOMENTE QUANDO IMPUTAR O ESTADO DE NECESSIDADE AO CAUSADOR DO
DANO)

Quando o fato de terceiro é equiparado ao estado de necessidade, não


provoca a exclusão do dever de indenizar (vide análise art. 188, inciso II –
CC – páginas 5 e 6), salvo em situação excepcional.
Para que se exclua o nexo de causalidade, é necessário que se possa imputar o dano à vítima, sendo o
estado de necessidade a causa exclusiva do resultado danoso.
Caso não se possa imputar a responsabilidade da vítima no evento danoso ou não tendo sido essa causa
exclusiva para que esse ocorresse, NÃO HAVERÁ A EXCLUDENTE DE NEXO DE CAUSALIDADE.

“Nem sempre o fato de terceiro vai excluir o nexo de causalidade. Somente o fará quando puder ser
equiparado a fortuito externo. Se for equiparado ao estado de necessidade, em regra, não excluirá o
nexo de causalidade. O estado de necessidade somente exclui nexo de causalidade em situação
excepcional, qual seja, quando se imputa diretamente a conduta ao causador do dano”

Contraexemplo. Quando se tem, por exemplo, que a criança atravessa na frente do carro e, para evitar o
seu atropelamento, atinjo os veículos que estão estacionados à margem, há o fato de terceiro (a criança
causou o dano).

Se para não atingir esse terceiro, eu atingi bem alheio, esse fato de terceiro não vai excluir nexo de
causalidade, pois é equiparado ao estado de necessidade e, neste, para que haja a exclusão da ilicitude, é
necessário que o dano seja imputado à vítima que, nesse caso, é o próprio causador do dano.

Diante do narrado, considerando que a criança causou o dano e eu abalroei o veículo, verifica-se que não
há a incidência da excludente do nexo de causalidade. Deverei indenizar, contudo posso entrar com ação
de regresso contra os pais da criança.

(1) Equiparado: Têm fatos praticados por terceiros que se equiparam ao caso fortuito e também ao estado
de necessidade.

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IMPORTANTE:
- Excludentes de ilicitude1 são diferentes das excludentes do nexo de causalidade2.

(1) Excludentes de ilicitude: Estão insertas no art. 188 do Código Civil e são:

a) Legítima defesa;

b) Exercício regular do direito;

c) Estado de necessidade.

“Ainda que haja um nexo de causalidade, a conduta que era ilícita teve excluída sua ilicitude, sendo
considerada como lícita. Se a conduta é lícita, ainda que tenha provocado um dano, não se pode sofrer
reprovação do ordenamento jurídico.”

Sem ilicitude, pode haver indenização.


“Responsabilidade civil ainda que praticada conduta lícita que tenha provocado um dano.”

Há casos em que, mesmo a conduta sendo lícita, deverei indenizar, pois se manteve o nexo de
causalidade.

Ex – RESPONSABILIDADE CIVIL – CONDUTA LÍCITA. Estado de necessidade – agi para evitar um mal maior,
mas só não indenizo se puder ser imputado à vítima a causa do dano.

Vide crítica ao art. 929 – CC (página 6).

Art. 188 - CC. Não constituem atos ilícitos:

I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.

Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem
absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.

(2) Excludentes do nexo de causalidade: A conduta é ilícita, houve o dano, mas o nexo de causalidade
desapareceu.

Sem nexo de causalidade, NÃO haverá indenização. Não há


responsabilidade civil se não houver nexo de causalidade, ainda que haja
ato ilícito.

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04/01/17 & 05/01/17


4.3.2.3.2. Exceções – excludentes do fato de terceiro
Situações em que, ainda que haja o caso fortuito externo, haverá o dever de indenizar.

Há situações em que a jurisprudência e a legislação não consideram o fato de terceiro, ainda


que equiparado ao fortuito externo, como uma excludente do nexo de causalidade.

Ex – RISCO DO EMPREENDIMENTO. Contrato de transporte, Súmula 479 – STJ (vide abaixo).

Ainda que seja um fato de terceiro equiparado ao caso fortuito externo, configura-se a teoria do
risco que, por sua vez, é implementada em alguma situações, remanescendo o dever de
indenizar.

4.3.2.3.2.1. Contrato de transporte (art. 735 – CC)

O contrato de transporte é uma exceção do fato de terceiro como excludente do nexo de causalidade.

“Se cabe ação regressiva do transportador para com o terceiro, ele não pode se elidir da
responsabilidade.”

“Ainda que haja a excludente por fato de terceiro, NÃO haverá a excludente do nexo de causalidade.”

Ex. Viagem de ônibus em que o motorista dirige corretamente, contudo um veículo abalroa o ônibus,
provocando diversos danos, inclusive morte dos passageiros.

A empresa de ônibus não pode se elidir da responsabilidade de indenizar os contratantes do serviço de


transporte ao argumento de que houve fato de terceiro que se equipara a fortuito externo (não estava na
linha de desdobramento).

Trata-se da exceção prevista no art. 735 –CC, uma vez que a empresa de ônibus tem ação regressiva contra
o motorista que veio a provocar o acidente. Essa deve indenizar os passageiros e, ulteriormente, procurar
o ressarcimento dos valores pagos por aquele que de fato provocou o dano.

Art. 735 - CC. A responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro não é elidida
1
por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva.

(1) Contra o qual: Contra o fato de terceiro, mesmo que seja fortuito externo.

4.3.2.3.2.2. Teoria do risco/risco do empreendimento

Ainda que haja um fortuito externo, haverá o dever de indenizar.


Em algumas situações, a jurisprudência coloca que, ainda que haja um fortuito externo, isto está
precificado, sendo considerado como um evento que poderia acontecer no empreendimento.

Ex. Assaltos em agências bancárias – em casos de assaltos a mão armada em bancos, a jurisprudência do
STJ tem considerado que, em que pese ser um fato de terceiro, a instituição financeira não pode se elidir
do dever de indenizar daquele que sofreram o dano.

Ainda que seja um fato de terceiro equiparado a um fortuito externo, o fato estava imbuído nos riscos do
empreendimento.

23

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Curso SUPREMO 2017 & 2018

Súmula 479/STJ - 11/07/2017. Recurso especial repetitivo. Consumidor. Recurso especial


representativo de controvérsia. Responsabilidade civil. Dano moral. Banco. Instituições bancárias.
Danos causados por fraudes e delitos praticados por terceiros. Responsabilidade objetiva. Fortuito
interno. Risco do empreendimento. Verba fixada em R$ 15.000,00. Precedentes do STJ. Súmula
28/STF. CPC, art. 543-C. CDC, arts. 6º, VIII, 14, 17 e 39, III. CCB/2002, arts. 186 e 927, parágrafo
único. CF/88, art. 5º, V e X)

«As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados


por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no
âmbito de operações bancárias.»
Ainda que seja um fato de terceiro equiparado a um fortuito externo, é considerado como fortuito interno
porque ele não exclui o dever de indenizar.

Não exclui o nexo de causalidade pois está inserido no risco do empreendimento.

Ex. Fraude em internet banking.

CUIDADO:
- Deve-se ter cuidado com a casuística para fins de caracterização da teoria do risco/risco do
empreendimento:

a) Uma coisa é se ter na agência o assalto a mão armada

Isso pode ser precificado em eventual seguro, risco do empreendimento, sendo abarcado pela teoria do
risco/risco do empreendimento.

b) Ex. Psicopata que atirou num shopping center.

Não se pode considerar que o fato de um psicopata invadir um local público e alvejar diversas pessoas seja
considerado como risco do empreendimento, porque não há uma concepção de que ocorra com grande
incidência.

Desse modo, se não está precificado, pode ser considerado como fato de terceiro, pois não está ligado
pela atividade exercida pelo empresário/pessoa jurídica.

4.4. Elementos da responsabilidade civil - Dano


O dano é um elemento material1.

(1) Elemento material e elemento imaterial:

a) Elemento material: Conduta + dano;


b) Elemento imaterial: Nexo de causalidade.

4.4.1. Dano
2
É toda perda que a vítima possa ter tido com a ação que provocou o evento danoso.

Perda de ordem material ou imaterial.

“A perda auferida pela conduta praticada pelo autor pode ser dano estético, psicológico, presumido. O
dano extrapola a matérias.

(2) Ação: Ato ilícito, abuso de direito, praticado com culpa ou sem culpa e que não esteja sob o respaldo
da excludente de ilicitude ou do nexo de causalidade.

24

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Curso SUPREMO 2017 & 2018

A legislação não conceitua dano.


A responsabilidade civil tem como foco reestabelecer, restaurar uma situação que existia antes
do evento danoso ser praticado. Busca o ressarcimento da perda que a pessoa experimentou.

O dano é o prejuízo, a perda que foi sofrida com a prática da conduta, seja esta lícita (Ex. Estado
de necessidade) ou ilícita.

Nota:
A regra é que não há reponsabilidade civil sem dano.

A responsabilidade civil sem dano é situação excepcional.

Ex. Responsabilidade objetiva (arts. 932 - responsabilidade indireta - pais, tutor e curador e
afins –, 936 – dono ou detentor de animal, 937 – dono de edifício - e 938 – CC – habitante de
prédio).

Ex2. Culpa presumida.

Ex3. Dano pela perda de uma chance que, inicialmente, não pode ser
precificado/apurado materialmente, mas não significa que não houve dano.
4.4.2. Ônus da prova

Aplica-se a regra do art. 373 – NCPC quanto à prova do dano.

Há situações em que o dano não precisa ser provado (vide página 14).

Na responsabilidade civil objetiva e na culpa presumida HÁ A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.

O art. 373, §1º - NCPC traz ampliou as hipóteses de inversão do ônus da prova. Trata-se da chamada
1
CARGA DINÂMICA DA PROVA .

(1) Carga dinâmica da prova: Apesar da regra ser pelo dano como pressuposto da responsabilidade civil,
há casos em que o autor não precisa provar o dano, uma vez que esse, por exemplo, pode ser presumido
ou então se aplica a exceção do ônus da prova inserta no art. 373, §1º - NCPC.

Art. 373 - NCPC. O ônus da prova incumbe:

I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;

II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.


o
§ 1 Nos casos previstos em lei (Ex. Código de Defesa do Consumidor nos casos de vícios de produto ou de
serviço) ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade
ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à
maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz
atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão
fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se
desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.
o o
§ 2 A decisão prevista no § 1 deste artigo não pode gerar situação em que a desincumbência do encargo
pela parte seja impossível ou excessivamente difícil.

25

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o
§ 3 A distribuição diversa do ônus da prova também pode ocorrer por convenção das partes, salvo
quando:

I - recair sobre direito indisponível da parte;

II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito.


o o
§ 4 A convenção de que trata o § 3 pode ser celebrada antes ou durante o processo.

4.4.3. Classificação

4.4.3.1. Danos materiais/patrimoniais

Correspondem a um desfalque sofrido no patrimônio, materialmente falando.

Ex. Houve perda total do veículo, as despesas hospitalares ficaram em cem mil reais.

- Dividem-se em:

4.4.3.1.1. Lucros cessantes

A visão não é retrospectiva, mas sim prospectiva. Olha-se para o futuro.

É tudo aquilo que se deixa de ganhar na linha de desdobramento daquele que sofreu o dano, ou seja, não
é o que potencialmente foi deixado de ganhar (o dano potencial não é indenizável no Direito Civil).

“Vou na minha linha de desdobramento e verifico o que deixei de ganhar, por exemplo, com um
acidente veicular por não poder ir ao trabalho”.

É considerado negativo, pois não houve, inicialmente, uma redução ao patrimônio , no entanto não houve
o acréscimo ulterior.

Ex. Lucas está se locomovendo de moto e, de repente, há um choque entre a moto dele e outro
motociclista. O outro motociclista é trabalha como motoboy autônomo e fica impossibilitado para o
trabalho pelo período de 40 dias. O motoboy comprova que, nesses 40 dias, diariamente, lucrava uma
média de R$200,00.

O Juiz, então, fará o cálculo de quanto o motoboy deixou de ganhar ao longo dos 40 dias em razão do
evento danoso.

4.4.3.1.2. Danos emergentes/dano positivo

Para apuração do que é incluído no cálculo do dano emergente, deve-se adotar uma visão retrospectiva.

“Ao invés de olhar para frente, olha-se para trás pensando ‘o eu tinha antes da conduta, o que eu perdi
por causa da conduta’. Vejo, então, tudo que perdi em razão da conduta.”

É tudo aquilo que se tinha e não se tem mais por causa da conduta praticada, presente o nexo de
causalidade.

Art. 402 - CC. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor
efetivamente perdeu (dano emergente), o que
abrangem, além do que ele
razoavelmente deixou de lucrar (lucros cessantes).
Art. 948 - CC. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:

I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o


luto da família (dano emergente);

26

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II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-


se em conta a duração provável da vida da vítima (lucros cessantes).
4.4.3.2. Danos morais/não patrimoniais

O STJ já pacificou que o entendimento referente ao abalo emocional está ultrapassado.

Atualmente, o dano moral deixou de ser o mero abalo, desconforto, dissabor.

Para que se configure o dano moral, deve-se pautar na conduta do ato ilícito, da violação do direito.

“Houve a violação do direito e, ainda que não houvesse um dano patrimonial, o dano moral foi
evidenciado.”

Há o dano moral quando há alguma violação/dano da personalidade que pode ser psicológico.

Enunciado 159 - CJF

O dano moral, assim compreendido todo dano extrapatrimonial, não se caracteriza quando há mero
aborrecimento inerente a prejuízo material.

“Há o dano moral somente quando houve um dano injusto”.

“Deve-se provar o dano, pois, se é inexistente, não se pode requerer a indenização.”

Contraexemplo. Inserção indevida de nome do SPC de pessoa cujo nome já no SPC por outra dívida.

Houve o injusto, contudo não houve o dano, pois o nome já estava no SPC.

Súmula 385/STJ - 11/07/2017. Responsabilidade civil. Dano moral. Consumidor. Anotação irregular em
cadastro de proteção ao crédito. Indenização. Descabimento quando preexistente legítima inscrição,
ressalvado o direito ao cancelamento. Recurso especial repetitivo. Recurso especial representativo da
controvérsia. CDC, art. 43, § 2º. CCB/2002, art. 186. CF/88, art. 5º, V e X. CPC, art. 543-C.

«Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral,
quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.»

4.4.3.2.1. Responsabilidade extracontratual/aquiliana – ENTENDIMENTO SUPERADO

Há uma discussão de que o dano moral seja uma possibilidade de requerer a indenização com base na
responsabilidade civil extracontratual/aquiliana.

Não seria possível buscar indenização por dano moral em razão de descumprimento contratual.

Essa concepção deve ser vista com muita cautela, pois já foi relativizada.

Há possibilidade de enquadramento tanto na responsabilidade civil


extracontratual ou contratual.
Não mais é correta a afirmativa de dizer que o dano moral é um fenômeno que acontece na
responsabilidade extracontratual ou aquiliana, porque pode evidenciar o ajuizamento, cobrança e
fixação de dano moral com base em relação contratual ou inadimplemento contratual, mas desde que o
contrato/inadimplemento verse sobre o preceito fundamental previsto na Constituição.

Enunciado 411 - CJF

O descumprimento de contrato pode gerar dano moral quando envolver valor fundamental protegido
pela Constituição Federal de 1988.

Ex. Dignidade da pessoa humana, direito à liberdade, igualdade.

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4.4.3.2.2. Dano presumido no dano moral

São situações que geram um abalo tão evidente na vítima que dispensam prova desse dano.

Presume-se o dano.

Não é necessário fazer prova do dano. Ele está demonstrado pelas circunstâncias.

Ex. Mãe que perde o filho em atropelamento (não é um mero abalo).

Ex2. Súmula 388/STJ - 11/07/2017. Responsabilidade civil. Dano moral. Consumidor. Banco. Prestação
de serviço. Cambial. Cheque. Simples devolução. Não caracterização do dano. CCB/2002, art.
186. CF/88, art. 5º, V e X. CDC, art. 14.

«A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral.»

Ex3. Súmula 403/STJ - 11/07/2017. Responsabilidade civil. Dano moral. Direito à imagem. Publicação
não autorizada. Fins econônicos ou comerciais. Prova do prejuízo. Desnecessidade. CCB/2002, art. 186 e
927. CF/88, art. 5º, V e X. CCB, art. 159.

«Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com
fins econômicos ou comerciais (SUPRIMIDO PELO ENUNCIADO 587 – CJF –
VIDE PÁGINA 44).»
“Se não houve autorização e minha imagem foi utilizada para fins comerciais (SUPRIMIDO PELO
ENUNCIADO 587 – CJF – VIDE PÁGINA 44., eu não tenho que provar o dano. O dano será
presumido. A análise já é feita para fixação do dano moral. Se houve dano patrimonial (danos
emergentes e lucros cessantes), devo fazer a prova, contudo, para o dano moral, é dispensado, pois este
é presumido.”

DIREITOS DA PERSONALIDADE – IMAGEM - Art. 20 - CC. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à


administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da
palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a
seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a
respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. (Vide ADIN 4815)

4.4.3.2.3. Dano estético

Ocorre quando há uma perda num aspecto morfológico.

A vítima tem uma perda na sua estrutura morfológica que gerará, além do aspecto da utilização de um
membro (Ex. A perda de um braço - limitará a funcionalidade), afetará o aspecto psicológico (Ex. Uma
cicatriz para a pessoa que vive da aparência, tal como uma modelo).

4.4.3.2.3.1. Cumulação de dano moral com dano estético - POSSIBILIDADE

Há uma controvérsia quanto à possibilidade de cumulação de dano moral com dano estético.

A Súmula 387 do STJ considera que o dano estético é uma nova espécie de dano patrimonial.

Assim, o dano patrimonial tem duas espécies, quais sejam:

a) Dano moral;

b) Dano estético.

ASSIM, O DANO ESTÉTICO NÃO É UMA ESPÉCIE DE DANO MORAL (SE ASSIM O FOSSE, NÃO SERIA POSSÍVEL
A CUMULAÇÃO).

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O dano estético é uma modalidade autônoma de dano não patrimonial, não


sendo mera espécie do dano moral.
Súmula 387/STJ - 11/07/2017. Responsabilidade civil. Dano moral. Dano estético. Cumulação.
Possibilidade. CCB/2002, art. 186. CF/88, art. 5º, V e X.

«É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.»

Nota:
- Até então, foi visto que o dano se configura como:
a) Patrimonial/material

b) Não patrimonial/imaterial

b.1) Dano moral

b.2) Dano estético

4.4.3.3. Novos danos (vide item “7” abaixo)


4.4.3.3.1. Dano pela perda de uma chance1
Surgiu no caso referente ao programa televisivo “Show do Milhão”, no qual determinada pessoa ajuizou
ação alegando que a pergunta de 1 milhão de reais não havia resposta. Assim, requereu indenização por
dano em razão da perda da chance te der ganhado 1 milhão de reais, pois, se a pergunta não tem resposta,
jamais conseguiria acertá-la, ao passo que, se tivesse, haveria possibilidade que isso ocorresse.

NÃO SE CONFIGURA COMO LUCRO CESSANTE2.


No dano pela perda de uma chance, pauta-se pela questão da eventualidade, mas que está
na linha de desdobramento da vítima.
“O que a parte requer na indenização pela perda de uma chance não é pelo que conseguiria, mas sim a
OPORTUNIDADE POR TER BATALHADO PELA OPORTUNIDADE.”

Ex. Participei de quase todas etapas do concurso, restando somente a prova oral. Então, sou atropelado
por um carro, ficando num hospital gravemente ferido e, diante disso, não consigo participar da prova
oral.

Além da indenização por danos materiais, danos estéticos, poderia pedir a indenização pela perda de uma
chance, sob a prerrogativa de que poderia ter passado no certame.

Não é pacífico na doutrina a inserção do dano pela perda de uma chance como dano material ou
imaterial. Na verdade, como se está no âmbito da prospecção, há uma tendência a se considerar que
esse dano poderia ser um dano material, mas uma nova modalidade, tendo em vista que não se encaixa
nem nos lucros cessantes e nem nos danos emergentes.

Fundamenta-se nos arts. 927, 186 e 187 – CC.

A indenização é, necessariamente, por dano material ou imaterial. Entretanto, conforme outrora


mencionado, a doutrina ainda não pacificou o entendimento quanto à classificação do dano pela perda
de uma chance. Questiona-se, então, no caso concreto: Qual é a chance perdida? Pode ser uma perda
patrimonial ou da personalidade.

Ex – perda de uma chance por violação a direito da personalidade. Reconhecimento público, tal como um
prêmio que teria sido recebido pela pessoa, ficando essa mundialmente famosa.

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(1) Chance: é uma oportunidade.

(2) Lucro cessante: O lucro cessante, espécie de dano material também está na linha de desdobramento
do sujeito que, , ao contrário do dano pela perda de uma chance, é certa. É uma prospecção, contudo é
certa.

Art. 927 - CC. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-
lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por
sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Art. 186 - CC. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187 - CC. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente
os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

5. Responsabilidade civil objetiva


Há casos de responsabilidade civil não só no Código Civil, mas no ordenamento jurídico como
um todo.

A responsabilidade objetiva é uma EXCEÇÃO.

Nessa, trabalha-se com a teoria do risco, em que não se leva a culpa em consideração, ou seja,
é feita uma análise sem culpa.

5.1. Legislação esparsa


5.1.1. Responsabilidade civil do Estado (art. 43 – CC e art. 37, §6º - CF).
Art. 43 - CC. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus
agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores
do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.

Art. 37 - CF. § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços
públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado
o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

5.1.2. Código de Defesa do Consumidor (arts. 12, 13, 14, 18, 19 e 20 – CDC)
Código de Defesa do Consumidor - SEÇÃO II
Da Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem,


independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua utilização e riscos.

§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera,
levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

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I - sua apresentação;

II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III - a época em que foi colocado em circulação.

§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado
no mercado.

§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:

I - que não colocou o produto no mercado;

II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;

III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando:

I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;

II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou
importador;

III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.

Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso
contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação
dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. § 1° O serviço é defeituoso
quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - o modo de seu fornecimento;

II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III - a época em que foi fornecido.

§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.

§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:

I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.

Art. 15. (Vetado).

Art. 16. (Vetado).

Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.

SEÇÃO III
Da Responsabilidade por Vício do Produto e do Serviço

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente
pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que
se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a

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indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas


as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes
viciadas.

§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:

I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais


perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço.

§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior,


não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula
de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor.

§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão
da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou
características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial.

§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° deste artigo, e não sendo possível
a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos,
mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos
incisos II e III do § 1° deste artigo.

§ 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o


fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor.

§ 6° São impróprios ao uso e consumo:

I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;

II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados,


nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares
de fabricação, distribuição ou apresentação;

III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam.

Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que,
respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações
constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o
consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - o abatimento proporcional do preço;

II - complementação do peso ou medida;

III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios;

IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais


perdas e danos.

§ 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo anterior.

§ 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento


utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais.

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao
consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as

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indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir,


alternativamente e à sua escolha:

I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais


perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço.

§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e
risco do fornecedor.

§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se
esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade.

Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de qualquer produto
considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de empregar componentes de reposição originais
adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas do fabricante, salvo, quanto a estes
últimos, autorização em contrário do consumidor.

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer
outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e,
quanto aos essenciais, contínuos.

Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo,
serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste
código.

Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos e serviços
não o exime de responsabilidade.

Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de termo expresso, vedada a
exoneração contratual do fornecedor.

Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação
de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores.

§ 1° Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão solidariamente pela
reparação prevista nesta e nas seções anteriores.

§ 2° Sendo o dano causado por componente ou peça incorporada ao produto ou serviço, são responsáveis
solidários seu fabricante, construtor ou importador e o que realizou a incorporação.

5.1.3. Responsabilidade civil por danos ambientais (Crime ambiental ou ações ambientais) (art. 14,
§1º - Lei 6938/81)

Ocorre porque, nesse caso, aplica-se a teoria do risco, não sendo realizada análise de culpa.

Art 14 – Lei 6938/81 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e
municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e
danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:

I - à multa simples ou diária, nos valores correspondentes, no mínimo, a 10 (dez) e, no máximo, a 1.000
(mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTNs, agravada em casos de reincidência específica,
conforme dispuser o regulamento, vedada a sua cobrança pela União se já tiver sido aplicada pelo Estado,
Distrito Federal, Territórios ou pelos Municípios.

II - à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público;

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III - à perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de


crédito;

IV - à suspensão de sua atividade.

§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente
e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade
para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

§ 2º - No caso de omissão da autoridade estadual ou municipal, caberá ao Secretário do Meio Ambiente


a aplicação das penalidades pecuniárias previstas neste artigo.

§ 3º - Nos casos previstos nos incisos II e III deste artigo, o ato declaratório da perda, restrição ou
suspensão será atribuição da autoridade administrativa ou financeira que concedeu os benefícios,
incentivos ou financiamento, cumprindo resolução do CONAMA.

§ 4º Nos casos de poluição provocada pelo derramamento ou lançamento de detritos ou óleo em águas
brasileiras, por embarcações e terminais marítimos ou fluviais, prevalecerá o disposto na Lei nº 5.357, de
17 de novembro de 1967. (Revogado pela Lei nº 9.966, de 2000)
o
§ 5 A execução das garantias exigidas do poluidor não impede a aplicação das obrigações de indenização
o
e reparação de danos previstas no § 1 deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)

5.2. Código Civil (arts. 932, 936, 937 e 938 – CC)


art. 932 – Substituiu a culpa in vigilando e in eligendo.

Código Civil

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;

II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho
que lhes competir, ou em razão dele;

IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo
para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;

V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.

Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima
ou força maior.

Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta
provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.

Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele
caírem ou forem lançadas em lugar indevido.

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07/01/18
6. Questões recorrentes em prova acerca da responsabilidade civil
6.1. Veículo locado

A locadora de automóveis responde solidariamente pelos danos causados pelo locatário


causados a terceiros no curso do contrato de locação.

Ainda que no contrato diga que não haverá responsabilidade da locadora sobre danos causados
a terceiros, essa, por lei, é responsável.

Independentemente do pagamento de seguro para acionamento da locadora, ela é, por lei,


solidariamente responsável.

“Quando terceiro acionar, a locadora não pode se eximir. Deve pagar o terceiro e,
posteriormente, entrar com ação regressiva para fins de ressarcimento.”

Nesse caso, a responsabilidade é solidária e objetiva (teoria do risco).


Súmula 492 - STF

A empresa locadora de veículos responde, civil e solidariamente com o locatário, pelos danos por este
causados a terceiro, no uso do carro locado.

Ex. Faço a locação do veículo e provoco dano a veículo/bem de terceiro.

6.2. Veículo alienado sem transferência junto ao DETRAN

A responsabilidade civil será do novo dono, tendo em vista que a transferência da


coisa móvel se opera pela tradição.
“A coisa perece para o antigo proprietário e a responsabilidade civil recairá, após a tradição, ao
novo proprietário.”

Justificável por não se tratar de responsabilidade civil indireta.


Não há nenhum dispositivo na legislação que diga que o antigo proprietário responderá pelos danos
causados pelo novo proprietário.

Súmula 132/STJ - 11/07/2017. Responsabilidade civil. Acidente de trânsito. Ausência do registro da


transferência. Ilegitimidade do antigo proprietário veículo. CPC, art. 370, V. Lei 6.015/73, art. 129, 7º.

«A ausência de registro de transferência não implica a responsabilidade do antigo proprietário por dano
resultante de acidente que envolva o veículo alienado.»

SUPERIMPORTANTE:
Quanto ao veículo alienado sem transferência junto ao DETRAN, no que tange às questões
administrativas (Ex. Multas), o que importa é o que consta no documento do veículo, uma vez
se tratar de obrigação propter rem1.

“Tanto é que, para transferência do automóvel, devo liquidar as dívidas corolários de multas.”

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“Quanto às questões administrativas e infrações penais, pode haver responsabilidade solitária.


No entanto, no que concerne à responsabilidade civil, caberá ao novo proprietário a reparação
do dano.”
(1) Obrigação propter rem: É uma obrigação real, que decorre da relação entre o devedor e a coisa. Difere
das obrigações comuns especialmente pelos modos de transmissão. Propter rem significa “por causa da
coisa”.

Assim, se o direito de que se origina é transmitido, a obrigação o segue, seja qual for o título translativo.
A transmissão é automática, independente da intenção específica do transmitente, e o adquirente do
direito real não pode recusar-se a assumi-la. São exemplos da obrigação, que pode ser identificada em
vários dispositivos esparsos do Código Civil, já que não a disciplinou isoladamente: a obrigação imposta
ao condômino de concorrer para as despesas de conservação da coisa comum (artigo 1.315); a do
condômino, no condomínio em edificações, de não alterar a fachada do prédio (artigo 1.336, III); a
obrigação que tem o dono da coisa perdida de recompensar e indenizar o descobridor (artigo 1.234); a
dos donos de imóveis confinantes, de concorrerem para as despesas de construção e conservação de
tapumes divisórios (artigo 1.297, § 1º) ou de demarcação entre os prédios (artigo 1.297); a obrigação de
dar caução pelo dano iminente (dano infecto) quando o prédio vizinho estiver ameaçado de ruína (artigo
1.280); e a obrigação de indenizar benfeitorias (artigo 1.219).

- Fonte: https://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/1257/Obrigacao-propter-rem

6.3. Veículo emprestado

Responsabilidade solidária entre o condutor (aquele que pegou o veículo


emprestado) e o proprietário (aquele que emprestou o automotor).

Não importa se o empréstimo foi a título gratuito ou oneroso2.

Assim, verifica-se que, no empréstimo, segue-se a regra da locação (vide


acima).
(2) Empréstimo oneroso: Sinônimo de locação.

- Resp 1344962 – STJ


RECURSO ESPECIAL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. MILITAR. REDUÇÃO DA CAPACIDADE LABORATIVA. DANOS
MORAIS E MATERIAIS. PENSIONAMENTO CIVIL. CULPA E NEXO CAUSAL. REVISÃO. REEXAME DE PROVAS.
SÚMULA Nº 7/STJ. FIXAÇÃO DO PERCENTUAL. ÚLTIMO SOLDO NA ATIVA. PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO
INTEGRAL DO DANO. PROPRIETÁRIO DO VEÍCULO. LEGITIMIDADE PASSIVA. LIQUIDAÇÃO POR ARTIGOS.
DANO MORAL. INEXISTÊNCIA DE EXCESSO.

1. Trata-se de ação de indenização por danos morais e materiais cumulada com pedido de pensão civil
proposta por vítima de acidente de trânsito que sofreu redução parcial e permanente da capacidade
laborativa.

2. As instâncias ordinárias reconheceram o nexo causal e a culpa exclusiva do preposto da recorrente no


acidente. Nesse contexto, observa-se que a alteração de tal entendimento demandaria a análise do acervo
fático-probatório, providência vedada pela Súmula nº 7/STJ.

3. A presumida capacidade laborativa da vítima para outras atividades, diversas daquela exercida no
momento do acidente, não exclui por si só o pensionamento civil, observado o princípio da reparação
integral do dano.

4. O soldo foi adotado como parâmetro para o cálculo da pensão civil. Sua fixação no percentual de 100%
(cem por cento) encontra amparo no princípio da reparação integral do dano, sendo incabível a pretensão

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de incidirem descontos em virtude do afastamento da atividade militar, determinado pelo acidente


causado pelo preposto da própria recorrente.

5. O proprietário responde direta e objetivamente pelos atos culposos de quem conduzia o veículo e
provocou o acidente, independentemente de ser seu preposto ou não, podendo a seguradora denunciada
responder solidariamente, nos limites contratados na apólice. Precedentes.

6. Se as partes, no curso do processo de conhecimento, não logram demonstrar a extensão de todo o


dano causado à vítima, o ordenamento jurídico pátrio permite que se prove fato novo na liquidação por
artigos, desde que não se promova indevida alteração do julgado, nos termos dos arts. 475-E e 475-G do
Código de Processo Civil.

7. A indenização por dano moral fixada pelo acórdão recorrido no valor de R$ 30.600,00 (trinta mil e
seiscentos reais) não se apresenta abusiva ou excessiva, de modo a justificar a intervenção do Superior
Tribunal de Justiça. Incidência, no caso, do óbice da Súmula nº 7/STJ.

8. Recurso especial não provido.

(REsp 1344962/DF, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
25/08/2015, DJe 02/09/2015)

6.4. Veículo roubado

Não há responsabilidade do proprietário pela não assunção de risco.


SUPERIMPORTANTE:
Na análise casuística da responsabilidade civil, examina-se a teoria do risco, isto é, se o sujeito
em análise assume o risco ou não.

Ex. Quando eu loco o veículo, eu assumo o risco; quando eu alieno o veículo, assumo um risco
mitigado; veículo emprestado, assumo um risco.

De outra sorte, no veículo roubado, não assumo o risco.

6.5. Responsabilidade civil indireta do empregador (art. 932, inciso III – CC)

Salienta-se que, como se trata de responsabilidade civil indireta, essa será OBJETIVA.

“O sujeito, nesse caso, empregador, responderá independentemente de dolo ou culpa


(responsabilidade objetiva).”

Some-se a isso, o empregador responderá e poderá ajuizar ação regressiva contra seu
empregado.

Dessarte, a responsabilidade, in casu, é solidária.

Art. 932 - CC. São também responsáveis pela reparação civil:

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do


trabalho1 que lhes competir, ou em razão dele2;
(1) No exercício do trabalho: Em horário de trabalho.

(2) Em razão do trabalho: Horário à disposição.

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Ex. Horas in itinere (excluída pela reforma trabalhista – deve-se aguardar posicionamento da
jurisprudência); intervalo intrajornada (Ex. Horário de almoço).

Trata-se da antiga culpa in eligendo que, a seu turno, foi substituída pela responsabilidade
objetiva com o Código Civil de 2002.

6.6. Responsabilidade civil médica ou por dano médico1 (art. 951 – CC2)

A regra geral é que a responsabilidade civil médica é subjetiva, ou seja,


necessário o elemento da culpa para fixação de indenização.
Assim, são necessários:
a) Conduta;

b) Nexo de causalidade;

c) Culpa (dolo e culpa em sentido estrito);

d) Dano sofrido pela vítima.

(1) Responsabilidade civil médica ou por dano médico: Caracteriza-se como atecnia denominar essa
responsabilidade como “responsabilidade por erro médico”, pois, muitas vezes, não ocorre um erro, mas
permanece o dever de indenizar.

(2) Art. 951 – CC: Trata tanto dos médicos quanto das profissões equiparadas, tais como advogados,
engenheiros.

Código Civil

HOMICÍDIO - Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:

I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;

II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração


provável da vida da vítima.

LESÃO OU OFENSA À SAÚDE - Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o
ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum
outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.

DEFEITO QUE IMPOSSIBILITE O OFÍCIO - Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não
possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além
das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão
correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.

Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma
só vez.

Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele
que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte
do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.

6.6.1. Código de Defesa do Consumidor (art. 14, §4º - CDC)

Consoante, art. 14, caput, do CDC, o fornecedor de serviço (Ex. Clínica, hospital, etc.) responde
OBJETIVAMENTE.

De outra sorte, o profissional liberal, conforme §4º do mesmo dispositivo, responderá analisando-
se a premissa da CULPA (somente se der causa ao evento danoso).

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Art. 14 - CDC. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela


reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada


mediante a verificação de culpa.
6.6.2. Cirurgião plástico
Deve-se ponderar se a cirurgia é reparadora (obrigação de meio) ou estética (obrigação de resultado).

6.6.2.1. Cirurgia plástica reparadora

Aquela em que o médico luta contra uma patologia ou defeito.

Nesse caso, não há a promessa de resultado.

Cirurgia de meio (não é de resultado). Assim, a responsabilidade do


médico é subjetiva (somente se agir com culpa).
Ex. Pessoa que sofreu acidente e teve sua face queimada. O médico promete melhorar o máximo possível
a aparência.

6.6.2.2. Cirurgia plástica estética

Cirurgia de resultado. Dessa maneira, a responsabilidade do médico é


objetiva (independe de culpa).
Ex. Faço uma rinoplastia. O mínimo que se espera é que meu nariz fique melhor do que era.

Se eu tive o dano, não tenho que provar a culpa.

7. Novos danos
7.1. Considerações iniciais - Dano moral
Importante relembrar o enunciado 159 – CJF.
Enunciado 159 - CJF

O dano moral, assim compreendido todo dano extrapatrimonial, não se caracteriza quando há
mero aborrecimento inerente a prejuízo material.
Esse enunciado traz a premissa do que é considerado novo dano moral.

O dano moral é a violação a um dos direitos de personalidade que estão insertos nos arts. 11 a
21 do Código Civil (vide nota abaixo).

STJ, não se considera o mero aborrecimento, mas, em alguns casos


Segundo o
específicos previstos no CDC, aplica-se a teoria do risco.

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7.1.1. Presença de insetos em produtos

7.1.1.1. Resp 747.396 – DF de 2008

Somente se considera a ocorrência do dano moral se houver a INGESTÃO do líquido, no caso, refrigerante.

Se não ingeriu o refrigerante, não configura dano moral.

Decisão nos termos do enunciado 159 – CJF (vide acima).

“O mero dissabor de ter um inseto no refrigerante, por si só, não configura o dano moral, tendo em
vista que essa teoria (dissabor configurar dano moral) é ultrapassada por ter gerado uma ‘indústria do
dano moral’.”

- Resp 747.396 – DF - EMENTA

RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AQUISIÇÃO DE REFRIGERANTE CONTENDO INSETO. DANO


MORAL. AUSÊNCIA.

1. A simples aquisição de refrigerante contendo inseto em seu interior, sem que seu conteúdo tenha sido
ingerido ou, ao menos, que a embalagem tenha sido aberta, não é fato capaz de, por si só, de provocar
dano moral.

2. "O mero dissabor não pode ser alçado ao patamar do dano moral, mas somente aquela agressão que
exacerba a naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas aflições ou angústias no espírito de quem
ela se dirige" (AgRgREsp no 403.919/RO, Quarta Turma, Relator o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira,
DJ de 23/6/03).

3. Recurso especial conhecido e provido.

7.1.1.2. Resp 1.239.060 – MG de 2011

Diferentemente, se o líquido vier a ser ingerido, CARACTERIZA-SE O DANO MORAL.

“Há um risco por consumir um produto com inseto em seu inteiror.”

Aborda o caminho que a jurisprudência tem tomado, qual seja, análise com base na TEORIA DO RISCO.

- Resp 1.239.060/MG – EMENTA

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO CONSUMIDOR. RECURSO ADESIVO.

ADMISSIBILIDADE. REQUISITOS. AQUISIÇÃO DE ALIMENTO COM INSETO DENTRO. INGESTÃO PELO


CONSUMIDOR. DANO MORAL. EXISTÊNCIA. VALOR.

REVISÃO PELO STJ. POSSIBILIDADE, DESDE QUE IRRISÓRIO OU EXORBITANTE.

1. Além de subordinar-se à admissibilidade do recurso principal, nos termos do art. 500 do CPC, o próprio
recurso adesivo também deve reunir condições de ser conhecido. Nesse contexto, a desídia da parte em
se opor à decisão que nega seguimento ao recurso adesivo inviabiliza a sua apreciação pelo STJ, ainda que
o recurso especial principal venha a ser conhecido.

2. A avaliação deficiente da prova não se confunde com a liberdade de persuasão do julgador. A má


valoração da prova pressupõe errônea aplicação de um princípio legal ou negativa de vigência de norma
pertinente ao direito probatório. Precedentes.

3. A aquisição de lata de leite condensado contendo inseto em seu interior, vindo o seu conteúdo a ser
parcialmente ingerido pelo consumidor, é fato capaz de provocar dano moral indenizável.

4. A revisão da condenação a título de danos morais somente é possível se o montante for irrisório ou
exorbitante. Precedentes.

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5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido. Recurso adesivo não conhecido.

(REsp 1239060/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/05/2011, DJe
18/05/2011)

- Informativo 472 – STJ

TERCEIRA TURMA

DANO MORAL. CONSUMIDOR. ALIMENTO. INGESTÃO. INSETO.

Trata-se de REsp em que a controvérsia reside em determinar a responsabilidade da recorrente pelos


danos morais alegados pelo recorrido, que afirma ter encontrado uma barata no interior da lata de leite
condensado por ela fabricado, bem como em verificar se tal fato é capaz de gerar abalo psicológico
indenizável. A Turma entendeu, entre outras questões, ser incontroverso, conforme os autos, que havia
uma barata dentro da lata de leite condensado adquirida pelo recorrido, já que o recipiente foi aberto na
presença de testemunhas, funcionários do Procon, e o laudo pericial permite concluir que a barata não
entrou espontaneamente pelos furos abertos na lata, tampouco foi através deles introduzida, não
havendo, portanto, ofensa ao art. 12, § 3º, do CDC, notadamente porque não comprovada a existência
de culpa exclusiva do recorrido, permanecendo hígida a responsabilidade objetiva da sociedade
empresária fornecedora, ora recorrente. Por outro lado, consignou-se que a indenização de R$ 15 mil
fixada pelo tribunal a quo não se mostra exorbitante. Considerou-se a sensação de náusea, asco e
repugnância que acomete aquele que descobre ter ingerido alimento contaminado por um inseto morto,
sobretudo uma barata, artrópode notadamente sujo, que vive nos esgotos e traz consigo o risco de
inúmeras doenças. Note-se que, de acordo com a sentença, o recorrente já havia consumido parte do
leite condensado, quando, por uma das pequenas aberturas feitas para sorver o produto chupando da
própria lata, observou algo estranho saindo de uma delas, ou seja, houve contato direto com o inseto, o
que aumenta a sensação de mal-estar. Além disso, não há dúvida de que essa sensação se protrai no
tempo, causando incômodo durante longo período, vindo à tona sempre que se alimenta, em especial do
produto que originou o problema, interferindo profundamente no cotidiano da pessoa. REsp 1.239.060-
MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/5/2011.

- Informativo 499 – STJ

TERCEIRA TURMA

DANO MORAL. PRESERVATIVO EM EXTRATO DE TOMATE.

A Turma manteve a indenização de R$ 10.000,00 por danos morais para a consumidora que encontrou
um preservativo masculino no interior de uma lata de extrato de tomate, visto que o fabricante tem
responsabilidade objetiva pelos produtos que disponibiliza no mercado, ainda que se trate de um sistema
de fabricação totalmente automatizado, no qual, em princípio, não ocorre intervenção humana. O fato
de a consumidora ter dado entrevista aos meios de comunicação não fere seu direito à indenização; ao
contrário, divulgar tal fato, demonstrando a justiça feita, faz parte do processo de reparação do mal
causado, exercendo uma função educadora. Precedente: REsp 1.239.060-MG, DJe 18/5/2011. REsp
1.317.611-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/6/2012.

7.1.1.3. Resp 1.424.304-SP de 2014

Retomada a teoria do risco, no qual se entende que, em alguns casos, NÃO É NECESSÁRIA A INGESTÃO,
pois, se for uma relação de consumo, basta colocar o consumidor em risco (teoria do risco) para se
configurar o dano moral.

- Resp 1.424.304 – SP – EMENTA

RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL.


AQUISIÇÃO DE GARRAFA DE REFRIGERANTE CONTENDO CORPO ESTRANHO EM SEU CONTEÚDO. NÃO

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INGESTÃO.EXPOSIÇÃO DO CONSUMIDOR A RISCO CONCRETO DE LESÃO À SUA SAÚDE E SEGURANÇA.


FATO DO PRODUTO.EXISTÊNCIA DE DANO MORAL. VIOLAÇÃO DO DEVER DE NÃO ACARRETAR RISCOS AO
CONSUMIDOR. OFENSA AO DIREITO FUNDAMENTAL À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA. ARTIGOS
ANALISADOS: 4º, 8º, 12 e 18, CDC e 2º, LEI 11.346/2006

1. Ação de compensação por dano moral, ajuizada em 20/04/2007, da qual foi extraído o presente recurso
especial, concluso ao Gabinete em 10/06/2013.

2. Discute-se a existência de dano moral na hipótese em que o consumidor adquire garrafa de refrigerante
com corpo estranho em seu conteúdo, sem, contudo, ingerí-lo.

3. A aquisição de produto de gênero alimentício contendo em seu interior corpo estranho, expondo o
consumidor à risco concreto de lesão à sua saúde e segurança, ainda que não ocorra a ingestão de seu
conteúdo, dá direito à compensação por dano moral, dada a ofensa ao direito fundamental à alimentação
adequada, corolário do princípio da dignidade da pessoa humana.

4. Hipótese em que se caracteriza defeito do produto (art. 12, CDC), o qual expõe o consumidor à risco
concreto de dano à sua saúde e segurança, em clara infringência ao dever legal dirigido ao fornecedor,
previsto no art. 8º do CDC.

5. Recurso especial não provido.

IMPORTANTE:
Em relação ao dano moral, o mero dissabor foi substituído pela TEORIA DO RISCO.

Ex. Colocar o consumidor em risco potencial. O mero risco potencial configura o dano pois há um
dever de cuidado do fornecedor para com o consumidor.

“Os três REsp`s supramencionados representam uma transição: mero


aborrecimento não caracteriza dano moral; necessária a configuração de
um dano, mas, em alguns casos, prescindível o dano, bastando colocar o
outro em risco para configurar o dano moral.”
Nota:
Código Civil - CAPÍTULO II
DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e
irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e
danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo
o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.

Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar
diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.

Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida
em lei especial.

Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou
em parte, para depois da morte.

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Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.

Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a
intervenção cirúrgica.

Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.

Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que
a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.

Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.

Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome.

Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem


pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da
imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que
couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins
comerciais. (Vide ADIN 4815)

Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção
o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.

Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as
providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma. (Vide ADIN 4815)

7.1.2. Dano moral presumido


Situações em que a jurisprudência e a doutrina consideram o dano moral como presumido.

7.1.2.1. Introdução conceitual

7.1.2.1.1. Responsabilidade contratual do dano moral

Importante relembrar que o inadimplemento contratual gerará dano moral se houver o descumprimento
de direito fundamental previsto na CF.

Enunciado 411 - CJF

O descumprimento de contrato pode gerar dano moral quando envolver valor fundamental protegido
pela Constituição Federal de 1988.

7.1.2.1.2. Classificação do dano moral QUANTO À NECESSIDADE DE PROVA

7.1.2.1.2.1. Dano moral subjetivo - REGRA

Levará em conta os elementos subjetivos de culpa/dolo.

Necessário fazer prova de qual foi o dano.

7.1.2.1.2.2. Dano moral objetivo/presumido - EXCEÇÃO

Não é necessário fazer prova do dano, pois é presumido.

7.1.2.2. Dano moral presumido - Hipóteses


Ocorrerá quando o abalo (não mero aborrecimento, mas o abalo danoso que viola um dos
direitos de personalidade) for tão latente/evidente que afasta a necessidade de fazer prova.



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7.1.2.2.1. Inserção indevida de nome nos cadastros de proteção ao crédito


A mera inserção já configura o dano. Dano moral presumido.

Não é por causa da carga dinâmica da prova (art. 373, §1º - NCPC), mas sim pelo entendimento
jurisprudencial de que o dano é presumido.

Deve-se provar:

a) Conduta

b) Nexo causal

c) Dano (mera inserção).

7.1.2.2.2. Perda de um membro (dano estético)


SEMPRE haverá indenização por dano moral que, por sua vez, é presumido.

7.1.2.2.3. Perda de um ente da família


Dano evidentemente presumido, dispensando-se a prova.

Ex. Mãe que perde um filho em atropelamento.

7.1.2.2.4. Devolução indevida de cheque


Súmula 388/STJ - 11/07/2017. Responsabilidade civil. Dano moral. Consumidor. Banco. Prestação de
serviço. Cambial. Cheque. Simples devolução. Não caracterização do dano. CCB/2002, art. 186. CF/88,
art. 5º, V e X. CDC, art. 14.

«A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral.»

7.1.2.2.5. Publicação de imagem não autorizada


Houve alteração recente dessa súmula.
Súmula 403/STJ - 11/07/2017. Responsabilidade civil. Dano moral. Direito à imagem. Publicação não
autorizada. Fins econônicos ou comerciais. Prova do prejuízo. Desnecessidade. CCB/2002, art. 186 e
927. CF/88, art. 5º, V e X. CCB, art. 159.

«Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não


autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais
(suprimido pelo enunciado 587 – CJF).»
Enunciado 587 – CJF

O dano à imagem restará configurado quando presente a utilização


indevida desse bem jurídico (dano injusto), independentemente da
concomitante lesão a outro direito da personalidade, sendo dispensável a
prova do prejuízo do lesado ou do lucro do ofensor para a caracterização
do referido dano, por se tratar de modalidade de dano in re ipsa (dano
moral presumido).

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Assim, atualmente prevalece o entendimento de que o mero uso da


imagem sem autorização, ainda que para fins não econômicos ou
comerciais, REMONTA DIREITO À PERCEPÇÃO DE DANO MORAL.
TRATA-SE DE DANO MORAL PRESUMIDO.

IMPORTANTE
- Necessidade de prova:

a) Responsabilidade SUBJETIVA com dano presumido:

i. Culpa;

ii. Conduta;

iii. Nexo causal.

b) Responsabilidade OBJETIVA com dano presumido:

i. Conduta;

ii. Nexo causal.

7.1.3. Classificação do dano moral QUANTO ÀS PESSOAS ATINGIDAS

7.1.3.1. Dano moral direto

Quando a pessoa vitimada integra a relação.

7.1.3.2. Dano moral indireto (efeito ricochete)

Terceira pessoa é atingida.

7.1.4. Natureza jurídica da indenização do dano moral


Assunto controverso. Há duas correntes em vigor.

7.1.4.1. Teoria do desestímulo


Espelha-se na teoria norte-americana do punitive damages.

O Juiz, quando fixa o dano moral, deve levar em consideração:

a) A reparação da vítima (não há que se falar em ressarcimento, pois os direitos de personalidade não
são precificados);

b) Aspecto educativo, pedagógico

Punir a pessoa que causou o dano para que ela não cause o mesmo dano a terceira pessoa.

Timidamente recepcionada em alguns casos, pois é controversa.


7.1.4.2. Teoria mista

O aspecto principal do dano moral é o reparador.

Assim, o aspecto educativo ou pedagógico seria acessório.

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“O quantum indenizatório, sob aspecto educativo ou pedagógico, não pode se sobrepor ao


aspecto reparador que, a seu turno é principal.”

Teoria aceita pela jurisprudência e doutrina majoritárias.


7.1.5. Critérios para fixação do dano moral

a) Deve-se buscar a extensão do dano;

b) Grau de culpa dos envolvidos;

Ex. Em que grau a vítima contribuiu para o dano.

c) Situação socioeconômica dos envolvidos;

d) Aspecto psicológico dos envolvidos.

7.2. Novos danos


7.2.1. Dano estético
Caracterizado quando há prejuízo na morfologia corporal em relação à funcionalidade do membro ou, em
determinados casos, mero caráter embelezador.

Ex. Perda de um braço, top model que fica com cicatriz no rosto.

Já tratado. Três pontos importantes:

a) Possibilidade de cumulação de dano moral com dano estético (Súmula 387 – STJ)

- Justificativas:

A uma, ambos são danos presumidos/objetivos.

“Tanto no dano moral quanto no dano estético, deve-se provar o nexo, a conduta, no entanto, o dano é
presumido.”

A duas, dano estético não é uma subespécie de dano moral, configurando-se como espécie autônoma.

“Se fossem da mesma espécie, caracterizar-se-ia bins in idem.”


1
b) Quantificação do dano estético – aplica-se a EQUIDADE

c) Sempre será presumido.

Súmula 387/STJ - 11/07/2017. Responsabilidade civil. Dano moral. Dano estético. Cumulação.
Possibilidade. CCB/2002, art. 186. CF/88, art. 5º, V e X.

«É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.»

(1) Equidade: O ordenamento pátrio concede ao juiz a mais ampla liberdade para arbitrar o valor da
reparação dos danos não-materiais. Esse discricionarismo conferido ao julgador – quem melhor pode
analisar e sopesar a matéria de fato –, permite que ele se utilize da equidade e aja com prudência e
equilíbrio.

Com efeito, na aplicação do direito ao caso concreto, à luz do novo sistema civil, a palavra de ordem é
equidade. STOLZE GAGLIANO e PAMPLONA FILHO fazem importante distinção: “a) decisão com equidade
é toda decisão que se pretende estar de acordo com o direito, enquanto ideal supremo de justiça; b)
decisão por equidade é toda decisão que tem por base a consciência e percepção de justiça do julgador,
que não precisa estar preso a regras de direito positivo e métodos pré preestabelecidos de interpretação;
c) decisão utilizando a equidade como meio supleivo de integração e interpretação das normas é toda
decisão proferida no sentido de encontrar o equilíbrio entre norma, fato e valor (aplicação do direito ao

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caso concreto), na hipótese de constatação de uma contradição entre a norma legal posta e a realidade,
gerando uma lacuna”.14

No plano Constitucional, a equidade está presente nos princípios da dignidade humana, da solidariedade
social e da igualdade substancial.

Na lição de MIGUEL REALE, a Constituição de 1988 não recepcionou integralmente o art. 127 do Código
de Processo Civil, segundo o qual o “juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei”.

“Reconhece-se, hoje em dia, que a equidade, além de ser essencial ao suprimento das lacunas da
legislação, constitui sempre critério requerido para a justa interpretação das leis em vigor, de tal sorte
que, em consonância com a Carta Magna de 1988, o juiz deve ser considerado sempre autorizado a decidir
por equidade, desde que não contrarie norma legal expressa. Deve-se, pois, entender o citado art. 127
tão-somente no sentido de negar-se ao juiz o poder-dever de julgar ‘exclusivamente por equidade’, salvo
lei que para tanto autorize.

Com efeito, ao aplicar a lei, o julgador não pode, tão-somente, restringir-se à subsunção do fato à norma.
Deve estar atento aos princípios maiores que regem o ordenamento jurídico e aos fins sociais a que a lei
se dirige, face ao comando do art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil: “Na aplicação da lei, o juiz
atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”

Na sistemática do Código de 2002, fins sociais e bem comum enquadram-se na categoria dos conceitos
jurídicos indeterminados, deixados intencionalmente pelo legislador para o juiz aplicá-los aos casos
concretos, de acordo com as circunstâncias particulares, condições sociais, econômicas, políticas,
culturais, etc. Esse campo de conceitos indeterminados, conceitos-válvulas ou flexíveis,
ou standards jurídicos, é o específico e próprio da equidade.

- Fonte: http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/files/anexos/8243-8242-1-PB.htm

7.2.2. Dano pela perda de uma chance

Indenizam-se as chances que se igualam ou excedem 50% de probabilidade.

A uma, sempre levará em consideração o caso concreto:

a) Juiz considerará se os acontecimento estavam na sua linha normal de


acontecimento/desdobramento;

b) Grau de probabilidade da chance;

c) Propensão ao quantum indenizatório

“Havendo a probabilidade, será de 10%, 20%, etc.”

A duas, se configura tanto no aspecto material quanto patrimonial.


“Não é espécie nem de dano patrimonial e nem de dano material.”

Para se configurar como dano material, deve ser dano emergente (visão retrospectiva) ou lucro cessante
(visão prospectiva). Nas duas situações, consegue-se quantificar quanto se perdeu/deixou de ganhar.

De outra forma, na perda de uma chance, NÃO SE CONSEGUE QUANTIFICAR.

“Provo que perdi a chance, mas, quanto valeu essa chance, o Juiz quem dosará.”

Todavia, é possível traçar uma linha intermediária entre o dano moral e o dano patrimonial. Desse
modo, parte da jurisprudência tem manifestado que o dano pela perda de uma chance é um novo dano,
porque pode configurar tanto uma perda material (EQUIPARADO a lucro cessante ou dano emergente)
quanto a uma perda moral (EQUIPARADO a dano moral).

NÃO HÁ PREVISÃO LEGAL ESPECÍFICA. Assim, levam-se em consideração as regras gerais, arts. 927,
186, 187, 944, 945.

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Enunciado 444 - CJF


A responsabilidade civil pela perda de chance não se limita à categoria de
danos extrapatrimoniais, pois, conforme as circunstâncias do caso
concreto, a chance perdida pode apresentar também a natureza jurídica de
dano patrimonial. A chance deve ser séria e real, não ficando adstrita a
percentuais apriorísticos.
A três, no caso concreto, os valores da indenização pela perda de uma chance serão equitativamente
menores quando comparados ao dano moral ou patrimonial.

- Justificativas:

a) Nos danos moral e patrimonial já se tem a configuração de possibilidades de prova do dano ou do dano
presumido, no caso do dano moral.

b) De outra forma, no dano pela perda de uma chance, devo provar, primeiramente, a perda da chance e,
segundo, fica-se adstrito a uma indenização cujo valor não se pode ser provado.

Ex. Se possível casos semelhantes em que configurados dano moral e dano pela perda de uma chance, no
caso de dano moral, o quantum indenizatório seria muito maior.

Na perda de uma chance, trabalha-se com um dano potencial.

No dano moral/patrimonial, trabalha-se com danos reais.

NÃO SIGNIFICA QUE O ORDENAMENTO JURÍDICO PASSOU A INDENIZAR O DANO REMOTO2


(chances mínimas, ou seja, as que estão abaixo de 50% de probabilidade).
(2) Dano remoto:


- Fonte: https://cadorim.blogspot.com.br/2012/08/direito-das-obrigacoes-perdas-e-danos.html

Art. 927 - CC. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-
lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por
sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Art. 186 - CC. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187 - CC. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente
os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Art. 944 - CC. A indenização mede-se pela extensão do dano.

Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz
reduzir, eqüitativamente, a indenização.

Art. 945 - CC. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será
fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.

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7.2.2.1. Teoria da perda de uma chance por responsabilidade médica


Responsabilidade do médico pela cura do paciente.
Ex. Médico utilizou-se do medicamento “A” que tem percentual de cura menor que medicamento
“B” por ter custo mais barato, ser fornecido pelo SUS, etc e, em razão dessa escolha o paciente
vem a óbito.

se tem que provar que os


Os tribunais têm caminhado no sentido de que
medicamentos, de fato, são diferentes entre si e que um garantiria a
sobrevida/cura/melhora gradual do paciente em contrapartida ao outro
que foi utilizado.
Ademais, trata-se de responsabilidade subjetiva (não é objetiva). Analisar-
se-á a culpa do médico.
- Deve-se provar:
a) Conduta;

b) Nexo causal;

c) Dano;

d) Culpa (dolo e culpa estrito sensu).

NÃO se pode trabalhar com o dano presumido, pois o dano é potencial. Presumido é o dano que
é real.
No dano pela perda de uma chance, consegue-se provar tão somente a perda de uma chance.
Se a chance iria se concretizar, jamais se saberá.

7.2.3. Danos morais coletivos (art. 6º, inciso VI – CDC)


Não é subespécie de dano moral. Apesar de doutrina, em alguns casos,
considerá-lo como tal, deve ser tido como dano autônomo, assim como os
danos estético e pela perda de uma chance.
Art. 6º - CDC - São direitos básicos do consumidor:

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;

Ex. Fabricante produziu anticoncepcionais placebos.

Assim, várias mulheres, no Brasil, que se utilizaram do medicamento regularmente engravidaram.

O STJ, então, aplicou o dano moral coletivo, fixando indenização milionária ao fabricante.

Nessa decisão, o STJ levou em consideração o critério misto (principal: reparação do dano; acessório:
caráter educativo, pedagógico) para fixação do dano moral.

Nesse caso o STJ NÃO LEVOU EM CONSIDERAÇÃO O ABALO DAS VÍTIMAS (“estava preparada para ser mãe
ou não”), mas sim o fato da funcionalidade do remédio.

NÃO SE UTILIZOU DA TEORIA DO RISCO, uma vez que, caso tivesse sido utilizado, aquelas mulheres que
utilizaram o remédio, mas não engravidaram, teriam direito à indenização.

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7.2.3.1. Pontos em comum com o dano moral


a) É uma violação de algum direito de personalidade (arts. 11 a 21 – CC).

b) Dano presumido/dano moral objetivo.


7.2.3.2. Conceito
Ocorre quando um dano atinge, ao mesmo tempo, direitos de personalidade de pessoas:
a) determinadas (sei exatamente que foi lesado) – direitos individuais homogêneos

ou
b) determináveis (a priori, não sei quem foi lesado, mas consigo quantificar) – direitos coletivos.

Dessarte, atinge tanto direitos individuais homogêneos quanto direitos coletivos1 (em sentido
estrito).
Não atinge direitos difusos1, pois, nesses, as pessoas são indeterminadas ou indetermináveis
(“Não consigo saber quem foi lesado pelo dano”).
(1) Direitos coletivos em sentido lato: Dividem-se em:

(1.1) Direitos difusos: A classificação e a diferenciação literal legal dos direitos coletivos em sentido amplo
é dada pelo parágrafo único do artigo 81 do Código de Defesa do Consumidor, que dispõe:

A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de
natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de
natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a
parte contrária por uma relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.
(grifou-se)

Das três categorias de direitos transindividuais supramencionados, os direitos difusos são aqueles que
possuem a mais ampla transindividualidade real. Além disso, têm como características a indeterminação
dos sujeitos titulares – unidos por um vínculo meramente de fato -, a indivisibilidade ampla, a
indisponibilidade, a intensa conflituosidade, a ressarcibilidade indireta - o quantum debeatur vai para um
fundo[1].

São exemplos de direitos difusos a proteção da comunidade indígena, da criança e do adolescente, das
pessoas portadoras de deficiência e:

a) o direito de todos não serem expostos à propaganda enganosa e abusiva veiculada pela televisão, rádio,
jornais, revistas, painéis publicitários; b) a pretensão a um meio ambiente hígido, sadio e preservado para
as presentes e futuras gerações; (...) e) o dano difuso gerado pela falsificação de produtos farmacêuticos
por laboratórios químicos inescrupulosos; f) a destruição, pela famigerada indústria edilícia, do
patrimônio artístico, estético, histórico turístico e paisagístico; g) a defesa do erário público; (...) j) o dano
nefasto e incalculável de cláusulas abusivas inseridas em contratos padrões de massa; k) produtos com
vícios de qualidade ou quantidade ou defeitos colocados no mercado de consumo; (...)[2]

Para Ada Pellegrini Grinover, a categoria dos direitos difusos:

(...) compreende interesses que não encontram apoio em uma relação base bem definida, reduzindo-se o
vínculo entre as pessoas a fatores conjunturais ou extremamente genéricos, a dados de fato
freqüentemente acidentais ou mutáveis: habitar a mesma região, consumir o mesmo produto, viver sob
determinadas condições sócio-econômicas, sujeitar-se a determinados empreendimentos, etc.[3]

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(1.2) Direitos coletivos em sentido estrito: Os direitos coletivos em sentido estrito, por sua vez, têm como
características a transindividualidade real restrita; a determinabilidade dos sujeitos titulares - grupo,
categoria ou classe de pessoas -, unidos por uma relação jurídica-base; a divisibilidade externa e a
divisibilidade interna; a disponibilidade coletiva e a indisponibilidade individual; a irrelevância de
unanimidade social e a reparabilidade indireta[4].

São hipóteses que versam sobre direitos coletivos em sentido estrito:

a) aumento ilegal das prestações de um consórcio: o aumento não será mais ou menos ilegal para um ou
outro consorciado. (...) Uma vez quantificada a ilegalidade (comum a todos), cada qual poderá
individualizar o seu prejuízo, passando a ter, então, disponibilidade do seu direito. Eventual restituição
caracterizaria proteção a interesses individuais homogêneos; b) os direitos dos alunos de certa escola de
terem a mesma qualidade de ensino em determinado curso; c) o interesse que aglutina os proprietários
de veículos automotores ou os contribuintes de certo imposto; d) a ilegalidade do aumento abusivo das
mensalidades escolares, relativamente aos alunos já matriculados; e) o aumento abusivo das
mensalidades de planos de saúde, relativamente aos contratantes que já firmaram contratos; (...) g) o
dano causado a acionistas de uma mesma sociedade ou a membros de uma associação de classe (...); h)
contribuintes de um mesmo tributo; prestamistas de um sistema habitacional; (...) i) moradores de um
mesmo condomínio.[5]

(1.3) Direitos individuais homogêneos: Os direitos individuais homogêneos, também chamados "direitos
acidentalmente coletivos" por José Carlos Barbosa Moreira[6], são aqueles que decorrem de uma origem
comum, possuem transindividualidade instrumental ou artificial, os seus titulares são pessoas
determinadas e o seu objeto é divisível e admite reparabilidade direta, ou seja, fruição e recomposição
individual[7].

O tratamento especial conferido aos direitos individuais homogêneos tem razões pragmáticas,
objetivando-se unir várias demandas individuais em uma única coletiva, por razões de facilitação do
acesso à justiça e priorização da eficiência e da economia processuais.

São exemplos de situações que envolvem direitos individuais homogêneos:

a) os compradores de carros de um lote com o mesmo defeito de fabricação (a ligação entre eles, pessoas
determinadas, não decorre de uma relação jurídica, mas, em última análise, do fato de terem adquirido
o mesmo produto com defeito de série); b) o caso de uma explosão do Shopping de Osasco, em que
inúmeras vítimas sofreram danos; c) danos sofridos em razão do descumprimento de obrigação contratual
relativamente a muitas pessoas; d) um alimento que venha gerar a intoxicação de muitos consumidores;
e) danos sofridos por inúmeros consumidores em razão de uma prática comercial abusiva (...); f) sendo
determinados, os moradores de sítios que tiveram suas criações dizimadas por conta da poluição de um
curso d'água causada por uma indústria; (...) k) prejuízos causados a um número elevado de pessoas em
razão de fraude financeira; l) pessoas determinadas contaminadas com o vírus da AIDS, em razão de
transfusão de sangue em determinado hospital público.[8]

Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery conceituaram os direitos individuais homogêneos
como:

(...) direitos individuais cujo titular é perfeitamente identificável e cujo objeto é divisível e cindível. O que
caracteriza um direito individual comum como homogêneo é a sua origem comum. A grande novidade
trazida pelo CDC no particular foi permitir que esses direitos individuais pudessem ser defendidos
coletivamente em juízo. Não se trata de pluralidade subjetiva de demanda (litisconsórcio), mas de uma
única demanda, coletiva, objetivando a tutela dos titulares dos direitos individuais homogêneos. A ação
coletiva para a defesa de direitos individuais homogêneos é, grosso modo, a class action brasileira.[9]
(grifou-se)

(1.4) Diferenciação dos direitos coletivos em sentido lato: Hugo Nigro Mazzilli exemplificou e distinguiu
as categorias de direitos transindividuais segundo as suas origens:

A) se o que une interessados determináveis é a mesma situação de fato (p. Ex., os consumidores que
adquiriram produtos fabricados em série com defeito), temos interesses individuais homogêneos;

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B) se o que une interessados determináveis é a circunstância de compartilharem a mesma relação jurídica


(como os consorciados que sofrem o mesmo aumento ilegal das prestações), temos interesses coletivos
em sentido estrito;

C) se o que une interessados indetermináveis é a mesma situação de fato (p. Ex., os que assistem pela
televisão à mesma propaganda enganosa), temos interesses difusos.

De acordo com Nelson Nery Júnior[11], parte da doutrina tem se equivocado ao classificar o direito
transindividual segundo a matéria genérica, afirmando, por exemplo, que questões ligadas ao meio
ambiente dizem respeito a direitos difusos.

Para o processualista supracitado, o que determina seja classificado um direito como difuso, coletivo em
sentido estrito, individual puro ou individual homogêneo é o tipo de tutela jurisdicional que se
pretende quando da propositura da ação, sendo que um mesmo fato pode dar ensejo à pretensão difusa,
coletiva stricto sensu e individual. Exemplifica o citado autor:

O acidente com o Bateau Mouche IV, que teve lugar no Rio de Janeiro no final de 1988, poderia abrir
oportunidades para a propositura de ação individual por uma das vítimas do evento pelos prejuízos que
sofreu (direito individual), ação de indenização em favor de todas as vítimas ajuizada por entidade
associativa (direito individual homogêneo), ação de obrigação de fazer movida por associação das
empresas de turismo que têm interesse na manutenção da boa imagem desse setor da economia (direito
coletivo), bem como ação ajuizada pelo Ministério Público, em favor da vida e segurança das pessoas,
para que seja interditada a embarcação a fim de se evitarem novos acidentes (direito difuso). Em suma,
o tipo de pretensão é que classifica um direito ou interesse como difuso, coletivo ou individual.[12]
(grifou-se)

(1.5) Conclusões finais: Em conclusão, os direitos transindividuais ou coletivos em sentido lato se


classificam em direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos.

Os direitos difusos são aqueles que possuem o mais elevado grau de transindividualidade e, em face disso,
não há como determinar todos os sujeitos titulares, o que, por outro lado, dá sustentação à
indivisibilidade do objeto e a sua reparabilidade indireta.

Os direitos coletivos em sentido estrito caracterizam-se pela transindividualidade restrita ao número de


sujeitos que compõem uma determinada classe, grupo ou categoria de pessoas, unidas por uma relação-
jurídica base, permitindo-se apenas a disponibilidade coletiva do objeto.

Os direitos individuais homogêneos, ou acidentalmente coletivos, decorrem de uma origem comum e são
dotados de transindividualidade artificial ou instrumental, para fins de economia processual e facilitação
ao direito de acesso à justiça, os sujeitos titulares são determinados e podem fruir individualmente do
objeto da reparação.

- Fonte: https://draflaviaortega.jusbrasil.com.br/noticias/323065455/resumo-dos-direitos-difusos-
coletivos-e-individuais-homogeneos

7.2.4. Dano social3 e difuso2


Segundo Antônio Junqueira de Azevedo, o dano social e difuso é aquele que representa
um decréscimo no nível de vida, empobrecimento social.
Ex . Aquela pessoa que joga papel na rua; aquela pessoa que está fumando próximo a um posto
de combustível; médico que utiliza dosagem errada de medicamento, loja do aeroporto que,
aproveitando cancelamento de voo, aumenta seus preços; pai que, com seu filho, solta um balão
configurariam dano social e difuso.
- LEMBRAR QUE, para que haja indenização, DEVE HAVER DANO;
Ex. Papel, quando jogado por muitas pessoas, entopem bueiros e causam enchentes; o cigarro pode gerar
a explosão do posto de combustível; balão pode cair sobre a residência e gerar dano de grandes
proporções, etc.

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O dano social é atinge a sociedade como um todo, verificável, mormente, em danos


ambientais.

É possível a cumulação de dano social com dano moral coletivo, pois se


tratam de figuras diferentes.
“É possível ter danos a pessoas determinadas e danos ao meio ambiente.”
Ex. Rompimento da barreira da Samarco em Bento Rodrigues, distrito de Mariana/MG.

Foca-se bastante na questão da segurança. Por ação ou omissão, coloca-se a sociedade em


risco, o que resultará danos a pessoas indeterminadas ou indetermináveis.
(2) Dano difuso: Atinge pessoas indeterminadas ou indetermináveis. Não se consegue saber a extensão
do dano, das pessoas que foram vitimadas com a conduta.

(3) Dano social: Atinge a sociedade como um todo.

7.2.4.1. Dano social e difuso - Jurisprudência - Recurso Cível 71001281054/TJRS - 2007


Caso de dano social configurado no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.

Trata-se do caso do Toto Bola, sistema de loteria que existia, à época, que fraudava, gerando
empobrecimento, abalo social.

Dessa maneira, o TJRS configurou a indenização e todos os danos provocados pela fraude do Toto Bola
como um dano social.

- Recurso Cível 71001281054 - EMENTA

TOTO BOLA. SISTEMA DE LOTERIAS DE CHANCES MÚLTIPLAS. FRAUDE QUE RETIRAVA AO CONSUMIDOR
A CHANCE DE VENCER. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS. DANOS MATERIAIS
LIMITADOS AO VALOR DAS CARTELAS COMPROVADAMENTE ADQUIRIDAS. DANOS MORAIS PUROS NÃO
CARACTERIZADOS. POSSIBILIDADE, PORÉM, DE EXCEPCIONAL APLICAÇÃO DA FUNÇÃO PUNITIVA DA
RESPONSABILIDADE CIVIL. NA PRESENÇA DE DANOS MAIS PROPRIAMENTE SOCIAIS DO QUE INDIVIDUAIS,
RECOMENDA-SE O RECOLHIMENTO DOS VALORES DA CONDENAÇÃO AO FUNDO DE DEFESA DE
INTERESSES DIFUSOS. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

1. Não há que se falar em perda de uma chance, diante da remota possibilidade de ganho em um sistema
de loterias. Danos materiais consistentes apenas no valor das cartelas comprovadamente adquiridas, sem
reais chances de êxito.

2. Ausência de danos morais puros, que se caracterizam pela presença da dor física ou sofrimento moral,
situações de angústia, forte estresse, grave desconforto, exposição à situação de vexame, vulnerabilidade
ou outra ofensa a direitos da personalidade.

3. Presença de fraude, porém, que não pode passar em branco. Além de possíveis respostas na esfera do
direito penal e administrativo, o direito civil também pode contribuir para orientar os atores sociais no
sentido de evitar determinadas condutas, mediante a punição econômica de quem age em desacordo
com padrões mínimos exigidos pela ética das relações sociais e econômicas. Trata-se da função punitiva
e dissuasória que a responsabilidade civil pode, excepcionalmente, assumir, ao lado de sua clássica função
reparatória/compensatória. “O Direito deve ser mais esperto do que o torto”, frustrando as indevidas
expectativas de lucro ilícito, à custa dos consumidores de boa fé.

4. Considerando, porém, que os danos verificados são mais sociais do que propriamente individuais, não
é razoável que haja uma apropriação particular de tais valores, evitando-se a disfunção alhures
denominada de overcompensantion. Nesse caso, cabível a destinação do numerário para o Fundo de
Defesa de Direitos Difusos, criado pela Lei 7.347/85, e aplicável também aos danos coletivos de consumo,
nos termos do art. 100, parágrafo único, do CDC.

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6. Tratando-se de dano social ocorrido no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul, a condenação deverá
reverter para o fundo gaúcho de defesa do consumidor.

Recurso parcialmente provido.

(Recurso Cível Nº 71001281054, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Ricardo Torres
Hermann, Julgado em 12/07/2007)

IMPORTANTE:
No dano moral coletivo, no dano pela perda de uma chance e no dano estético, a indenização é
destinada às vítimas.

7.2.4.2. Dano social e difuso – destinação da indenização


A jurisprudência tem entendido que a indenização vai para um fundo especial (de combate
ou repressão que estaria sob fiscalização do Ministério Público) ou entidades
beneficentes.
Ex. No caso do Toto Bola supra, a indenização foi para uma entidade beneficente.

7.2.4.3. Cumulação dano social com difuso com dano moral coletivo
REsp 1.293.606/MG

Informativo 547 - STJ

DIREITO DO CONSUMIDOR. HIPÓTESE DE DESCABIMENTO DE CONDENAÇÃO EM INDENIZAÇÃO POR


DANO MORAL COLETIVO.

Não cabe condenação a reparar dano moral coletivo quando, de cláusula de contrato de plano de saúde
que excluiu a cobertura de próteses cardíacas indispensáveis a procedimentos cirúrgicos cobertos pelo
plano, não tenham decorrido outros prejuízos além daqueles experimentados por quem,
concretamente, teve o tratamento embaraçado ou teve de desembolsar os valores ilicitamente
sonegados pelo plano. Como categoria autônoma de dano, a qual não se relaciona necessariamente com
os tradicionais atributos da pessoa humana relativos à dor, sofrimento ou abalo psíquico, é possível
afirmar-se cabível o dano moral coletivo. Além disso, embora o mesmo direito não pertença, a um só
tempo, a mais de uma categoria de direito coletivo (direitos difusos, coletivos em sentido estrito e
individuais homogêneos), isso não implica dizer que, no mesmo cenário fático ou jurídico conflituoso,
violações simultâneas de direitos de mais de uma espécie não possam ocorrer. No entanto, na hipótese
não se vislumbra dano de ordem coletiva, cujas vítimas seriam os atuais contratantes do plano de saúde,
nem de ordem difusa, cujas vítimas seriam os indetermináveis futuros contratantes do plano. Os
prejuízos, na hipótese, dizem respeito a direitos individuais homogêneos. Na verdade, a cláusula
contratual restritiva permanece inoperante até que algum contratante venha a pleitear o serviço por ela
excluído. Antes disso, é mera previsão contratual abstrata, incapaz de gerar qualquer efeito fora da
idealização normativa avençada. Aplica-se a antiga – e cotidianamente repetida – ideia segundo a qual a
responsabilidade civil requer, de regra, ilegalidade da conduta (salvo exceções de responsabilização por
ato lícito), dano e nexo causal. Se é certo que a cláusula contratual em apreço constitui reconhecida
ilegalidade, não é menos certo que nem toda ilegalidade se mostra apta a gerar dano, circunstância essa
que se faz presente no caso em exame. REsp 1.293.606-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
2/9/2014.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO CONSUMIDOR. TUTELA DE INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS,


COLETIVOS E DIFUSOS POR UMA MESMA AÇÃO COLETIVA.

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Em uma mesma ação coletiva, podem ser discutidos os interesses dos consumidores que possam ter
tido tratamento de saúde embaraçado com base em determinada cláusula de contrato de plano de
saúde, a ilegalidade em abstrato dessa cláusula e a necessidade de sua alteração em consideração a
futuros consumidores do plano de saúde. O CDC expõe as diversas categorias de direitos tuteláveis pela
via coletiva. Com efeito, as tutelas pleiteadas em ações civis públicas não são necessariamente puras e
estanques – ou seja, não é preciso que se peça, de cada vez, uma tutela referente a direito individual
homogêneo, em outra ação, uma tutela de direitos coletivos em sentido estrito e, em outra, uma tutela
de direitos difusos, notadamente em ação manejada pelo Ministério Público, que detém legitimidade
ampla no processo coletivo. Sendo verdadeiro que um determinado direito não pertence, a um só tempo,
a mais de uma categoria, isso não implica afirmar que, no mesmo cenário fático ou jurídico conflituoso,
violações simultâneas de direitos de mais de uma espécie não possam ocorrer. Nesse sentido, tanto em
relação aos direitos individuais homogêneos quanto aos coletivos, há – ou, no mínimo, pode haver – uma
relação jurídica comum subjacente. Nos direitos coletivos, todavia, a violação do direito do grupo decorre
diretamente dessa relação jurídica base, ao passo que nos individuais homogêneos a relação jurídica
comum é somente o cenário remoto da violação a direitos, a qual resulta de uma situação fática apenas
conexa com a relação jurídica base antes estabelecida. Assim, eventual negativa indevida do plano de
saúde pode gerar danos individuais, concretamente identificáveis em posterior liquidação. Mas essa
recusa é antecedida por uma relação jurídica comum a todos os contratantes, que podem ou não vir a
sofrer danos pela prática abusiva. A mencionada relação jurídica base consiste exatamente no contrato
de prestação de serviços de saúde firmado entre uma coletividade de consumidores e a administradora
do plano, razão pela qual se pode vislumbrar o direito coletivo, e não exclusivamente um direito individual
homogêneo. Vale dizer, portanto, que há uma obrigação nova de indenizar eventuais danos individuais
resultantes da recusa indevida em custear tratamentos médicos (direitos individuais homogêneos), mas
também há outra, de abstrata ilegalidade da cláusula contratual padrão, e que atinge o grupo de
contratantes de forma idêntica e, portanto, indivisível (direitos coletivos em sentido estrito). Por outra
ótica, eventual ajuste da cláusula ilegal refere-se a interesses de uma coletividade de pessoas
indeterminadas e indetermináveis, traço apto a identificar a pretensão como uma tutela de interesses
difusos. REsp 1.293.606-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/9/2014.

IMPORTANTE:
- Dano moral coletivo vs. dano social e difuso:

Dano moral coletivo Dano moral social e difuso


1) Atinge pessoas determinadas ou 1) Atingem a sociedade/interesses difusos
determináveis; (pessoas indeterminadas ou indetermináveis);

2) Atinge vários direitos de personalidade; 2) Causa rebaixamento do nível social ou
empobrecimento social;
3) A indenização é destinada às VÍTIMAS;
3) Indenização para FUNDO ESPECIAL ou
4) São, por natureza, danos extrapatrimoniais. INSTITUIÇÃO DE CARIDADE;
Portanto, somente atingem direitos
EXTRAPATRIMONIAIS. 4) Pode ser tanto indenização por DANO
MATERIAL ou EXTRAPATRIMONIAL.

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Nota:
- Aspectos importantes dos quatro novos danos:
1) O dano pela perda de uma chance é o dano potencial e não remoto. Indeniza as probabilidades iguais
ou superiores a 50%.

2) É possível a cumulação do dano estético com dano moral, tendo em vista que são espécies autônomas
do gênero danos extrapatrimoniais.

O dano estético é presumido.

3) O dano moral coletivo atinge pessoas determinadas ou determináveis e a indenização será sempre
EXTRAPATRIMONIAL.

Dano moral presumido é dano presumido.

4) O dano social atinge tanto a indenização material quanto a extrapatrimonial e será sempre versado
sobre interesses difusos;

a) Se for dano social MORAL, é presumido (na concepção de prova


inconteste do abalo configurado);
b) Se for dano social MATERIAL, NÃO É PRESUMIDO, sendo necessário
provar o dano provocado e a extensão do dano.
“Não se precisa provar todo o dano, mas se provar claramente que houve o dano. Pode ser dano tanto a
curto prazo quanto a longo prazo.”

Ex. Caso do rompimento da barragem.

5) O dano moral (gênero) somente será presumido nos casos outrora tratados, tais como, por exemplo,
negativação, devolução de cheque sem fundo, uso indevido de direito de imagem, perda de membro.

8. Responsabilidade civil no Código de Defesa do Consumidor


Abordagem superficial, uma vez não ser o objetivo do módulo.

8.1. Considerações iniciais


A relação de consumo se firma quanto a um consumidor e um fornecedor.

O fornecedor fornece o produto a um consumidor em potencial ou consumidor equiparado que,


então, sofrerá o vício ou fato do produto.

Ex. Compro ou sou presenteado pelo produto e sofro um dano.


Art. 2° - CDC - Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que
haja intervindo nas relações de consumo.

Art. 3° - CDC - Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira,
bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

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§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.

§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as


de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista.

8.2. Regra geral da responsabilidade civil no CDC (art. 6º, inciso VI – CDC)
Art. 6º - CDC - São direitos básicos do consumidor:

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;

8.2.1. Responsabilidade objetiva

A responsabilidade civil, no âmbito do CDC, é objetiva.

8.2.2. Teoria da reparação integral do dano/Princípio da reparação integral

A teoria aplicada é a teoria da reparação integral do dano.

O consumidor tem direito à reparação nos aspectos materiais, morais, estéticos dos danos que vier a
sofrer por fato ou vício do produto.

“O consumidor inserto no art. 3º do CDC tem direito a ser indenizado, integralmente, caso sofra
qualquer tipo de dano. Será reparado em todas as suas esferas.”

8.2.3. Responsabilidade solidária entre fornecedor e produtor

Haverá solidariedade entre fornecedor e produtor.

8.3. EXCEÇÃO – Profissional liberal – responsabilidade subjetiva (art. 14, §4º - CDC)

Quando se tratar de profissional autônomo, a responsabilidade será subjetiva.

Ex. Advogado; médico, exceto no caso da cirurgia plástica estética, caso em que será responsabilidade
objetiva;).

8.3.1. Exceção da exceção – médico – cirurgia plástica estética – responsabilidade objetiva

Em caso de cirurgia plástica estética, será obrigação de resultado e, dessa maneira,


RESPONSABILIDADE OBJETIVA do médico.
Art. 14 - CDC. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar,
levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - o modo de seu fornecimento;

II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III - a época em que foi fornecido.

§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.

§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:

I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

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II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada


mediante a verificação de culpa.
9. Regras da cláusula de não indenizar
9.1. Admitida
A cláusula de indenizar é admitida em contratos bilaterais/paritários.

NÃO PODE SER CONTRATO DE ADESÃO.

O contrato paritário não pode violar norma cogente.

9.2. Vedada

a) Responsabilidade civil extracontratual;


b) Excluir ou limitar danos morais;

c) Contratos de adesão;

d) Relações de consumo;

e) Quando se tratar de crime ou de ato lesivo doloso;

f) Contrato de transporte;

g) Contrato de guarda.


Art. 734 - CC. O transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens,
salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade.

Parágrafo único. É lícito ao transportador exigir a declaração do valor da bagagem a fim de fixar o limite
da indenização.

Súmula 161/STF - 11/07/2017. Responsabilidade civil. Transporte. Cláusula de não indenizar.


Inoperância.

«Em contrato de transporte, é inoperante a cláusula de não indenizar.»

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