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Notas:

- Livro transcrito.
- Erros de revisão mantidos.
- Número de páginas mantidos do original.
- Problemas de formatação por desconhecimento técnico.

Quem tiver conhecimento, fique à vontade para fornecer a melhor


versão digital desse pdf.
Prefácio
A Mulher é sem dúvida a maior e mais inspirada de todas as criações. A
vontade de nos unirmos a Ela é tão forte e natural, que nos submete a toda
uma vida de esforço e provações diárias. É por Ela que vivemos.
Infelizmente, é por ela que muitos de nós homens também morremos
diariamente. Homens que nunca tiveram a sorte de ter em suas mãos as
chaves que abrem os corações femininos. Mas e se existisse realmente o
segredo que nos desse tal poder de seduzi-las?

Existe uma Comunidade Secreta de Sedutores.

Homo Seductus é uma das Sociedades Secretas mais antigas do mundo,


embora não existam provas de que ela ou seus rituais realmente existam.
Essa sociedade permanece viva não através de páginas virtuais, como as
que muitos homens adentram diariamente. Nessas páginas eles se fascinam
com os procedimentos que criamos, porém, ao contrário do que pensam, o
sucesso de um Sedutor não se baseia no seu conhecimento técnico. O
sucesso/de um Sedutor se baseia num grande alinhamento de todas as
partes que compõem sua vida. Em suma, os maiores de todos os Sedutores
são simplesmente homens que são bem resolvidos consigo mesmos. Essa
comunidade se mantém viva através de uma vasta rede de irmãos formada
pelos poucos e verdadeiros amantes das mulheres que praticam o Amor
aplicando os seus princípios em cada ato do seu dia a fim de tornarem-se
homens livres e melhores.

Comprovada ou não a sua existência, a verdade é que essa sociedade é


muito mais real do que muitas das mentiras que vivemos hoje e podemos
jurar que são reais. Mentiras que a sociedade nos impõe desde o início dos
tempos de maneira a nos transformar em androides para que sirvamos a
um sistema que nos utiliza como robôs. Cada um desses androides percorre
uma vida inteira pensando ser livre, sem saber que na

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verdade, vive um esquema que já foi previamente programado desde o seu
nascimento.

A verdadeira felicidade e o verdadeiro Amor são verdades ainda


desconhecidas pela grande maioria dos humanos. A sociedade nos impõe
metas e condições para se alcançar tal plenitude, porém, quase todos os que
aceitam essas condições impostas terminam por passar os anos de suas
vidas iludidos, servindo ao externo somente, sem darem-se conta do que têm
que realizar no interno.

É chegada a hora de a verdade ser revelada.

O sucesso no Amor não é o prêmio dado àquele que investe sua vida na
conquista do ouro, do diploma, da profissão, ou do matrimonio, mas sim, é
o prêmio dado a todo aquele que se empenha na conquista de si mesmo.

Os pergaminhos aqui escritos trarão luz às mentes de todos aqueles que se


cansaram de procurar fora a verdade a respeito do Amor. Essa verdade é
mantida muito bem escondida por aqueles que têm medo de que as
descubramos, pois se assim o fizermos, descobriremos que somos deuses, não
escravos.

Liberte sua mente de toda dúvida, medo ou descrença. As páginas


seguintes lhe romperão os véus da mentira que foi forçado a acreditar e o
levarão ao conhecimento chave dos corações femininos através das
vivências de alguns membros dessa Sociedade de Sedutores. Após a
última página, fica por sua conta concluir o que lhe é real ou não.

ZERA

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Capítulo 1: Morrendo de Amor
Hugo tentava admirar sua cidade mais uma vez.

Abaixo de seu ponto de observação, 200 metros à frente, após a larga rua de
mão dupla, via-se o parque.

Usualmente, seu bosque, pleno de natureza, parecia a todo o momento


inspirar e espirar a beleza de suas flores e árvores, cheias de cor, perfume e
alegria.

A sinfonia dos pássaros fazia fundo às canções das crianças que brincavam à
beira da lagoa, pulando corda, fazendo cirandas...

- Por que estão tão felizes? Qual é a graça? — murmurou vertendo uma
lágrima, que demorou vários segundos para atingir a calçada do alto
edifício onde se encontrava.

Já fazia uma semana que as lágrimas de Hugo lhe tiravam pouco a pouco a
capacidade mais importante de seus olhos: a de absorvera beleza. Fechá-los
ele ainda conseguia, porém, por noites e noites seguidas, os olhos fechados
não lhe traziam o sono que tanto precisava.

Seus soluços magoados e seu travesseiro molhado lhe perturbavam à noite,


mantendo-o desperto para sofrer as dores que nenhum remédio parecia
curar.

Perdera peso. Já não comia direito e seu corpo que antes já era magro,
agora se assemelhava a um lençol pálido repousado sobre um cabo de
vassoura ambulante.

O parque, onde passara boa parte de sua juventude, agora não parecia mais
ter vida. Tentava admirá-lo como nos velhos tempos, mas tal qual a visão de
um canino, não enxergava mais as cores.

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Apenas sua audição não tinha sido afetada. Ainda lhe permitia ouvir os
lamentos e choros que ele mesmo projetava sobre as paredes, que de tão
tristes mantinham-se em silêncio e inexpressivas. Como que
compartilhando da mesma dor e sentimento que seu morador.

Naquele dia não havia trânsito na rua.

Correndo os olhos por ela, era possível ver, à esquerda e à direita, carros de
polícia e bombeiros bloqueando seu perímetro.

Ao centro, somente pessoas curiosas e duas câmeras de TV. Todos


olhando para cima, apreensivos.

Hugo era a estrela pela primeira vez na vida. Após anos no anonimato, tinha
agora seus 15 minutos de fama, talvez local, nacional, ou até internacional.
Não que quisesse ser famoso, mas, alguém que fique de pé sobre o parapeito
da sacada de um apartamento a mais de 100 metros do chão, é algo que não
se vê todo dia.

Já havia dez minutos que lhe batiam à porta tentando fazê-lo desistir,
pedindo-lhe para entrar, mas Hugo já tinha previsto isso. Bloqueara a porta
arrastando á ela toda a sua mobília de maneira que ninguém o pudesse
dissuadir.

-Karisa... Dessa vez eu vou...

Soltou as mãos que o apoiavam no teto da sacada do vizinho de cima. -

Por que não pula?

-Quem é você? — perguntou Hugo assustado, voltando as mãos para o


apoio e retomando o equilíbrio.

Puxa... Essa é uma pergunta difícil de responder! Você mesmo sabe quem você
-

é?

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Debruçado sobre a sacada do apartamento ao lado, com a calma de um monge,
estava um homem que realmente chamava a atenção.

O blazer escuro que o vestia, dava-lhe um aspecto de homem maduro, porém, o


corte acinturado, combinado com suas calças apertadas, botavam em dúvida a
idade que tinha. E, sobretudo, havia uma faixa vermelha escura envolvendo o
seu braço direito.

Era um personagem belo e ao mesmo tempo estranho, pois sua pele ainda
jovem contrastava com a mecha de cabelos brancos que tinha na cabeça. Na face
um cavanhaque indecifrável.

O homem fitava Hugo. Cada olho tinha em si um negrume tão sólido, que não
parecia ter íris ou pupilas, mas sim, apenas um buraco escuro que dava caminho
à sua alma.

Hugo titubeava enquanto permanecia preso no olhar de seu vizinho, sem saber a
quê se devia aquela paralisia que passava a dominá-lo. Seria a falta de forças
consequente dos dias que já não se alimentava? Seria o olhar, hipnótico que
estava a receber, como o pardal que cai às patas do gato que o marca para
morrer?

 Como imaginei. Seu problema é coragem. Você não a tem! — seguiu o estranho.

 Eu tenho sim! Saia daqui! Vou pular agora!

 Não entende? Mesmo que você pule e consiga acertar a calçada, isso ainda não
será coragem. É justamente a atitude de desistir da vida que mostra o quanto
você é covarde!

Hugo começava a confundir-se. Não sabia mais se pulava pela vergonha que as
palavras do homem lhe causavam, ou se ficava mais um instante para
praguejar e resistir à sua provocação.

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- Coragem é assumir o risco de estar vivo! É viver! — Continuou seu
vizinho, a quem nunca vira antes.

 Você não devia estar aqui! Você não tem nada haver com isso! Deixe-me em
paz! — disse Hugo, utilizando-se de todo o orgulho que lhe sobrava.

 Isso não vai acabar quando você acertar o chão. Nada vai mudar ou se
resolver. Depois que afundar-se na calçada você viverá exatamente aquilo que
vive agora. Não há como fugir. Terá que decidir sua vida, nessa ou em outra.

 O que é você? Um padre? O homem riu-se todo. O que deixou

Hugo ainda mais nervoso.

-Não... Muito longe disso. Sou um Sedutor disse o vizinho levando a mão ao
bolso da calça.

-Ahn? — disse Hugo franzindo as sobrancelhas e fitando-o novamente.

De repente um vulto negro caiu do andar superior em direção a Hugo


derrubando-o contra o piso de sua sacada.

Era um policial que pulara da sacada de cima amarrado por uma corda, numa
tentativa de agarrá-lo e empurrá-lo para dentro enquanto ele sé distra ia
discutindo com o vizinho.

A multidão gritava e aplaudia.

Hugo estava a salvo. Não mais iria aproximar-se do parapeito. Estavam todos
felizes e aliviados!

Contudo, a expressão no rosto do policial mudou-se repentinamente


quando ao olhar para Hugo viu que de sua nuca escorria um filete de

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sangue pelo chão. Ele batera a cabeça na queda e estava agora
inconsciente.

Torpor. Era o que sentia Hugo quando abriu os olhos. Ele estava imóvel sobre
uma cama de hospital. Somente os olhos se mexiam. O corpo imóvel parecia
relaxado, e por toda a sua extensão somente uma sensação de prazer e alívio.
Era como acordar com uma ressaca após um sono com pesadelos. De qualquer
forma, era sem dúvida o estado de maior tranquilidade que experimentara
durante aqueles dias.

Um minuto passou apenas a contemplar a serenidade que o dominava. Mas nos


segundos seguintes pôs-se a perguntar do que se aliviara. Por que estava ali?

Fechou os olhos com força. Estava de volta à realidade. Lembrou-se do que


aconteceu para que estivesse ali naquele momento. Lembrou-se então do que
sentia antes de cair no chão de sua sacada. Sem abrir os olhos, levou a mão à
testa e começou a soluçar e lacrimejar em silêncio.

 Ele já está voltando! Ufa! — disse a enfermeira.

 Eu não queria voltar, enfermeira! — disse Hugo.

 Calma! Vai ficar tudo bem! — disse ela enquanto injetava no seu soro um líquido de
aspecto leitoso.

Hugo aos poucos voltou ao seu estado de relaxamento anterior.

Durante os minutos seguintes não mais se moveu. Permaneceu de olhos fechados


ali, porém não naquele lugar, mas dentro de si mesmo O efeito do calmante
estava a proporcionar-lhe uma experiência diferente de tudo o que já
experimentara. Começava a sonhar, porém lucidamente.

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Lembrou-se de seu vizinho, e das poucas palavras que ouvira dele antes de
cair. Com calma, deixou o orgulho de lado e começou a refletir sobre o sentido
daquilo que lhe dizia o homem que o distra ía.

As reflexões em seu sonho dopado eram como um despertar. Um despertar


de sua consciência. Ele sempre soube que o homem estava certo em suas
afirmações, mas nunca haveria de dar-lhe ouvidos enquanto permanecesse
lá, de pé sobre o parapeito da sacada de seu apartamento, preenchido por
seu orgulho e suas lamentações. Porém agora, débil da racionalidade, podia
ouvir com calma o pouco do que lhe foi dito.

A seringa terminou. O sono pesou. Hugo adormeceu profundamente. Em seu


sonho apenas a imagem do estranho. Enigmático, intimidante.

Os raios do Sol penetravam as persianas de seu leito. Era um novo dia.

Hugo comia com avidez as torradas e bebia sedento o leite sem açúcar de seu
café da manhã.

-Tem alguém que quer te ver — disse a enfermeira, que agora já era outra,
provavelmente cobrindo o turno daquela que acalmara Hugo na noite
anterior.

-Sim. Mande entrar — disse ele com a boca cheia.

Enquanto esperava a entrada da visita, Hugo imaginava quem seria. Seria sua
mãe, que mesmo morando noutro pais teria sabido do ocorrido pela televisão e
teria vindo só para vê-lo? Seria a Karisa, que teria se comovido ao vê-lo
tentando se matar no telejornal?

Começou então a ouvir passos lentos e secos. Tal som lhe eliminou as
possibilidades até então pensadas. Quem seria?

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 Muito obrigado! Você foi muito gentil!

Era o homem da sacada vizinha. Estava a despedir-se da enfermeira,


sorrindo, balançando-lhe a mão e fitando-a nos olhos tão profundamente, que
ela não conseguia soltar-lhe da mão, nem sequer dizer palavra. Ele a soltou e
veio em direção à cama de Hugo, com o passo ainda lento a caminhar:

 Como estou feliz em vê-lo deitado! disse ele abrindo um enorme


sorriso.

 Ah sim! Por sorte estou bem. Não foi nada grave...


Hugo terminou de mastigar e continuou:

 Não sei... Sinto que tenho que agradecê-lo... Mas tenho que ser sincero:
sinto algo muito estranho em você!

-Eu sei. Devo pedir que me desculpe, Mas a conversa estranha que
tivemos ontem foi a forma que encontrei de ganharmos tempo. Eu sabia
que eles iam tomar alguma atitude, mas temi que você a tomasse antes
deles, os policiais que estavam no andar de cima.

 Mas mesmo assim... Até agora não sei nada de você Como nunca nos
vimos antes, se mora no apartamento ao lado?

 Me mudei para lá há pouco tempo. Mas quase nunca paro lá. Vivo mais
fora de casa do que dentro dela... Viajo muito.

O tom de voz do homem trazia tranquilidade a Hugo, que agora


esfregava as pontas dos dedos limpando-se das migalhas da torrada:

 Sabe... Eu tenho que te dizer uma coisa: você estava certo. Eu


realmente não tenho coragem. E matar-me não iria fazer-me mais
corajoso... — disse Hugo olhando para baixo.

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-Sabe... Eu também tenho que te dizer uma coisa: você tem sim muita
coragem! Estar vivo é uma prova de coragem todos os dias. Acredito que eu
só tenha conseguido chamar a sua atenção porque um dia eu já passei pelo
mesmo episódio que você passou ontem — disse o homem a sentar-se na
poltrona ao lado da cama.

-Tentou se suicidar atirando-se de um prédio?

-Não exatamente. Mas tentei também pôr um fim a minha vida... — levou a
mão à testa e continuou — Você não vai acreditar... Eu bebi uma garrafa inteira
de xampu da minha ex-esposa.

-Nossa! Digo... Acredito sim! Mas não deu certo então, graças a Deus! -

Graças a Deus, e aos brócolis que eu comi naquele dia no jantar. Os médicos

disseram que foi a única coisa que me salvou, pois naquela

quantidade de xampu, um estômago vazio se envenenaria certamente. -

Mas o que o levou a tomar tal atitude?

-Não sei se devemos conversar sobre isso agora... Digo... Você está se
recuperando não só da pancada que sofreu, mas também das feridas
emocionais que te afligiam, não é? Não quero dar-lhe mais coisas tristes para
pensar.

-Bom... Eu te entendo... Mas acontece que eu refleti muito sobre as


palavras que você me disse ontem. Eu realmente tenho que resolver a
minha vida, e o quanto antes eu o fizer, melhor, não é?

-Sirn. Você tem razão.

Seguiu-se um pequeno silêncio. Ambos pareciam estar pensando em algo. Hugo


ficou sem graça e começou:

-Bom... Até agora não sei seu nome. Como se chama?

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-Me chamo Afim.

 Afim? Nunca vi um nome assim! O meu é Hugo - disse estendendo-lhe a mão


para cumprimentá-lo.

Afim cumprimentou-o balançando-lhe a mão, mas ainda permanecia em


silêncio. Era proposital. Ele queria ver Hugo falando.

 Escuta... Tem uma coisa que eu queria te perguntar, porque eu acho que não
ouvi direito. Você disse que era um Sedutor?

-Exatamente! - disse Afim com um sorriso.

 Mas como assim? Me explique direito isso... Você seduz as mulheres?

-Seduzo a tudo. É amor somente. Trato as pessoas com amor, e elas me tratam
com amor também. Simples assim.

 Eu não concordo! - disse Hugo acenando com o dedo no ar - Eu trato as


pessoas com amor. Mas parece que elas não sabem retribuir... Não sei...
Lembro-me da Karisa...

-Acho que você falou esse nome antes de eu falar com você, não é? -

Sim.

 Ela era sua namorada?

-Era... - o olhar de Hugo foi para baixo, visivelmente triste, então continuou
- Sabe... Ela foi tudo que eu mais amei na minha vida... Mas parece que todo
o amor que eu dei à ela ainda não foi o suficiente_ Ela foi uma ingrata!

 Eu não concordo! - Disse Afim acenando com o dedo no ar, imitando o jeito
de Hugo - Ela pode não ter te amado da maneira como você queria... Mas as
pessoas nos amam como podem!

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Hugo bateu com o punho no colchão, relutante:

E trair é alguma maneira de amor, por acaso? Fazer o outro sofrer é amor?
-

-Tudo na vida acontece por algum motivo. E esse motivo só existe para te ajudar
- disse Afim reclinado na cadeira, sem exaltar-se.

-Não consigo ver o quê de bom pode vir de uma desgraça assim! -
murmurou Hugo agora também se reclinando sobre o encosto de sua cama
olhando para o teto.

-Eu entendo a sua dor. Ela não é menor nem maior do que a que eu senti
quando bebi a garrafa de xampu. Eu agradeço todos os dias a mulher que me
traiu. Sem aquela desgraça, eu teria permanecido no comodismo, e nunca
teria descoberto o que eu descobri em seguida - Afim usou-se de mais um
silêncio proposital, que rapidamente surtiu efeito.

-E o que você descobriu? - disse Hugo mordendo a isca.

-Descobri os segredos do amor. E desde então a minha vida se tornou um


sonho. Tão delicioso, que até hoje, às vezes me pego me beliscando para ver
se estou realmente acordado ou se estou sonhando.

-Me conta esse segredo! É isso que estou precisando! - Disse Hugo
levantando as costas e virando-se de frente para Afim.

Afim olhou o relógio de bolso com atenção. Aquela seria uma longa
história.

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Capitulo 2: Uma Garrafa de Xampu

Era um menino bonito

Afim era o filho que toda família sonhava ter, Gentil, comportado e
assíduo nos estudos e na igreja que frequentava.

Tamanho prodígio tinha cadeira reservada em qualquer academia da


época. O que não demorou a acontecer, e logo, ainda jovem, Afim
adentrou-se no mundo acadêmico, cumprindo com os desígnios do
sistema capitalista.

Sua Vida era completa aos olhos de muitos. Filho de uma família de boas
condições financeiras e dono de uma mente sadia, o futuro de Afim
prometia ser brilhante.

Contudo, em seus momentos de major intimidade, pedia a Deus em


segredo que lhe preparasse uma companheira, para que então, unidos em
sagrado matrim6nio, pudesse desfrutar dos prazeres de uma Vida a dois.
Já tinha completado 19 anos de idade, porém ainda n3o se sentia homem
por completo. Isso o atormentava.

Desde os 12 anos de idade, criou o habito de confessar-se ao reverendo, que


por muitos anos foi seu melhor amigo.

Paulo, o reverendo, era um homem de meia idade. Um enorme Cora3o


cheio de bondade, mas que em contrapartida era duro e austero quando
se tratava de doutrinar.

Afim, dotado de uma conduta retilínea, jamais feria os desígnios que na


igreja recebia. Contudo, sempre que se aproximava de Paulo, apresentava-se
encolhido como somente aquele que deve muito haveria
de encolher-se. Suas confiss5es eram sempre as mesmas, fato

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Paulo franzir a testa sempre que o via diminuto, pois já sabia sobre o que iriam
conversar a seguir.

As confissões sempre giravam em torno dos desejos de Afim. Logo cedo ele
percebera que dentro de si ardia um fogo incontrolável.

Era o desejo que sentia pelas irmãs que na igreja congregavam com ele toda
semana. Meninas simpáticas e muito belas, como todas as meninas que em sua
cidade nasciam.

Afim ponderava a força de suas palavras de maneira a tomá-las o menos


sacrílegas possível. Ele sabia do temperamento de Paulo, e por isso tentava
maquiar suas confissões, pois sabia que se em suas palavras pudesse expressar
toda a força de sua luxúria corria o risco de ser expulso da igreja e visto como
um profano aos olhos de todos.

Paulo utilizava-se de toda paciência e bondade ao ouvir Afim, porém


terminava por repreendê-lo sempre, dizendo-lhe que seus pensamentos eram
depravados e que eles só o perseguiam porque em sua mente faltava oração,
o que dava espaço para que nela reinasse o demônio.

Pelos anos que se seguiram, Afim criou também o hábito do segredo, pois os
anos de reprovação que sofrera de Paulo lhe fizeram ver que nem 10 rosários
por dia lhe ocupariam a mente o suficiente.

Prodigioso pelo lado de fora, e considerando-se profano pelo lado de


dentro, Afim vivia uma luta interna entre o seu lado santo e seu lado
demônio, como assim chamava-o até então.

Os estudos avançavam e, ao formar-se no ginásio, foi convidado a estudar


numa das academias mais respeitadas do país, a qual ficava noutra cidade da
região. Para seguir com seus estudos, Afim teve que mudar-se para a outra
cidade e deixar a sua família a chorar.

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Já na academia, Afim tivera a oportunidade de preencher sua mente com as
ciências da engenharia, e com os olhos verdes de Marta.

Ela era fulgurante. Os cabelos ruivos que contornavam a pele alva de seu rosto,
quando expostos ao sol, tomavam um tom alaranjado, que se estendia por suas
ondas suaves como as chamas de uma fogueira. Era uma musa de beleza ímpar.
Digna da inveja de todas as deusas.

Afim enamorou-se de Marta no instante em que se sentaram juntos para estudar


pela primeira vez.

Durante os anos de academia que se seguiram, Afim viveu o seu primeiro amor
platônico. Tão forte quanto todo primeiro amor. Porém, mais doloroso do que
tudo que já sentira.

Era como uma ânsia que lhe atacava o estômago e que passava o dia todo a
corroer-lhe, mas que à noite, e somente à noite na hora de dormir, o aliviava e
permitia que dormisse, para que então, voltasse a vê-la enquanto sonhava.
Algo precisava ser feito antes que aquela infecção de amor lhe dominasse por
completo. Mas o que poderia fazer?

Como que por ironia de uma infância culpada, o amor que sentia por Marta era
ainda um pecado para Afim, assim como tudo que confessava a Paulo. A musa a
quem se via entregue era nada menos que a namorada de um dos maiores
empresários da cidade. Um homem grisalho que tinha no mínimo o dobro da
idade dela. Não era mentira que Marta estaria muito melhor servida por um
jovem viril como Afim, porém, a fortuna de seu namorado se estendia sobre um
vasto império comercial que atingia até mesmo as cidades vizinhas.

A ferida aberta no peito de Afim aumentava à medida que sua amizade com
Marta crescia e se aprofundava. Eles eram muito próximos e

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confidentes. Afim sentia a certeza de que encontrara a sua mulher, e também
sentia que Marta o apreciava à altura. Também pudera: Afim teve 4 anos para
mostrar cada um dos traços de seu caráter e todo o seu brilhantismo à ela.

Afim mantinha em segredo, nas ultimas páginas de seu caderno de estudos, um


enorme repertório de crônicas e poesias que começara escrever desde que se
deu conta da paixão que sentia por Marta. Ali naquelas folhas podia expressar seus
sentimentos com toda a riqueza de detalhes que nunca pudera expressar a mais
ninguém. Um homem apaixonado se declara a cada palavra, e a julgar pelo teor
de seus sentimentos, naquele caderno encontrava-se uma obra de peso, a qual o
tornaria o maior escritor romântico de todos os tempos, mas que se fosse divulgada
poderia custar-lhe a vida.

Era inverno e o vento frio cortava o rosto de Afim. Numa tentativa de aliviar o
fardo que carregava, tomou um trem e foi para sua cidade natal fazer uma
surpresa para sua família e ter com seu reverendo a conversa que havia tempos
não tinha.

Com as mãos nos bolsos e novamente se encolhendo, aproximou-se do homem


que estava de costas:

 Reverendo Paulo!

 Afim, meu filho! Há tempos não conversamos! Lembro-me de que na sua infância
ainda nos falávamos com frequência, mas depois que se tornou rapaz os estudos o
deixaram um pouco ocupado para lembrar-se de mim, não foi?

 Nunca esqueci a nossa amizade, Paulo. Aliás, ela me ajudou por todos esses
anos a chegar aonde cheguei. Sou muito grato ao senhor.

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Paulo envelhecera muito durante os anos da juventude de Afim. Seus cabelos
agora eram todos brancos, mas no seu rosto a ternura ainda marcava presença
mesmo por trás dos óculos cujos graus aumentavam anualmente.

 Diga-me então, filho, o que trouxe para me contar? — Disse Paulo a sentar-
se e indicar o banco para que Afim fizesse o mesmo.

 Reverendo... Passei todos esses anos orando para curar-me daqueles


pensamentos que tinha... - disse Afim, mentindo conscientemente - Sinto que me
curei deles, pois agora minha vontade é outra. Estou apaixonado por uma
mulher, reverendo!

 Aleluia, Afim! Que maravilha! Deus tem a companheira ideal e ela está
reservada a todo homem que se mantiver firme na doutrina! Mas... Você não
me parece estar tão feliz quanto deveria... O que se passa dessa vez? — disse
Paulo se aproximando de Afim.

 Eu a amo com todo meu coração, reverendo... Mas sinto-me ainda um pecador.
Ela é a namorada do Carlos Castanha.

 Deus do céu! Deus do céu! - disse e repetiu Paulo, fazendo o sinal da cruz sobre o
peito duas vezes — Afim! Você perdeu o juízo? Cobiçar a mulher do próximo é
um pecado sem tamanho! Ainda mais se tratado da mulher de Carlos Castanha!
Ele é o homem mais poderoso da região! — Paulo, de tão nervoso, levantou-se do
banco.

 Eu sei, Paulo... Mas...

 Mas nada! Eu também sabia! Esses anos todos que esteve distante deixou se
influenciar pelo demônio! Você nunca se afasta do pecado!

Afim baixou a cabeça. No rosto uma profunda tristeza. Paulo continuou:

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-Como pode querer sempre aquilo que não te pertence? De quê lhe
serviram todos esses anos ouvindo a palavra? Você vai arder no inferno para
todo o sempre e será...

Paulo ia continuar com seus vitupérios, porém se conteve.

Afim estava a chorar encolhido sobre o banco do confessionário, tal qual se


encolhia na infância. Porém, o som das lágrimas de Afim caindo sobre a madeira
do assoalho comoveu Paulo. Afim já não era mais um menino, e ver um
homem chorando é uma cena que pode quebrar o coração de qualquer
pessoa que tenha um.

-Filho, aonde vai?

Afim se levantara e saíra a chorar.

Pelas ruas todos o miravam com espanto. Olhos vermelhos e enxugando as


lágrimas na manga do paletó preto que vestia. Naquele dia não quis mais ver
sua família. No trem, de volta para a casa onde se alojava, todos o olhavam,
mas não sabiam o que fazer. E nem tinham o que fazer. A única pessoa que
poderia curar-lhe o chacra cardíaco era Marta.

Somente seu travesseiro lhe sabia ouvir sem julgamentos, e foi com ele que
se confessou a noite toda. Confessou-se chorando e soluçou até dormir.

No dia seguinte, Afim não podia explicar à Marta a razão de seus olhos
estarem tão vermelhos e inchados. Ela tentou confortá-lo como pôde, mas
naquele dia Afim não disse palavra. Estava a transformar-se. Aceitara seu lado
profano, pois já não conseguia duelar com ele. Contudo, a força de seu
caráter o impedia de revelar suas verdadeiras intenções para Marta, pois
sabia que se o fizesse, corria o risco de incutir-lhe a ideia de adultério, e
macular a imagem de sua amada era uma hipótese que ele

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não aceitava. Esperaria 100 anos se fosse preciso, mas jamais se declararia enquanto
ela estivesse com Carlos.

A primavera chegou, e junto com o desabrochar das flores vieram também


raios de paz à mente de Afim. Ele já não lutava consigo mesmo. Estava ciente de
que seu caso era uma questão de tempo. Tempo até que sua paixão se curasse,
ou tempo até que morresse.

O verão chegou e Afim graduou-se engenheiro. Era agora um diplomado e podia


voltar para sua cidade, viver com sua família, ter um emprego digno, e ocupar
sua cabeça com outras coisas além de Marta. Talvez até a esquecesse, com a ajuda
de Deus.

Era chegado o dia de tomar o trem e deixar seu alojamento. Fez questão de
despedir-se de todos os amigos e amigas e firmar contatos com os mesmos de
maneira que a amizade pudesse se estender mesmo com a distância. Mas fez
questão de deixar por último a despedida que lhe seria mais difícil.

Parece que ela tinha pensado a mesma coisa, e quando Afim chegou à casa de
Marta, ela já estava com os olhos marejados:

 Marta! O que foi? Parece que estava chorando, ou quase para chorar... —
Perguntou Afim.

 Sabe... Hoje eu me despedi de muitos dos amigos com quem estudamos juntos.
Mas agora enquanto eu te esperava, não sei... Eu comecei a chorar. Me dá
um abraço?

Afim a abraçou. Vários segundos de pé, fundidos. Podia sentir o coração de


Marta a pulsar forte junto ao seu peito. Podia sentir seu perfume doce a
revestir-lhe as narinas. Podia ouvir sua respiração e as puxadas do seu nariz, que
eram decorrentes do choro que a tomava sutilmente.

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Eles se soltaram. A face de Afim acabara de mudar-se completamente.
Agora estava com os olhos mais vermelhos que os de Marta e as lágrimas de
seus olhos já pingavam pela barba do queixo. Tanto para se falar... Afim
parecia querer declarar-se, mas à cada tentativa, a voz não lhe saía à garganta.
Talvez impedido por seu anjo da guarda que sabia que aquele não era o
momento.

Passaram ali alguns minutos a conversar, mas quanto mais falavam da vida
que os aguardava lá fora, mais distantes se sentiam, e mais lenços de papel
levavam ao rosto. Era uma cena de muitos significados. Ambos choravam a
distância que os separaria. Tamanha importância mútua, seguida dos
olhares profundos que trocaram durante 4 anos, era a prova de que eram
almas gêmeas, as quais somente uma lâmina podia separar. Mas o que mais
doía em Afim era constatar ali que ela sentia o mesmo por ele, mas não
podia admitir isso. Preferia esconder de Afim, de seu namorado, e até de si
mesma. Trocaram os últimos contatos para que nunca se perdessem um do
outro. Antes que Afim se fosse, Marta entregou-lhe um origami. Era um
Tsuru. O primeiro que ela conseguira fazer em toda sua vida. Deu-lhe como
amuleto desejando-lhe proteção e boa sorte.

No trem Afim adormeceu. Talvez como maneira de fugir da angústia que o


tomaria caso passasse a viajem toda a reproduzir mentalmente o que
vivera instantes atrás.

De volta ao seio de sua família, uma nuvem de amor o envolveu, e como


bálsamo lhe tirou toda a dor e deu-lhe tremenda paz e bem estar.

Um ano se passara.

Afim já estava firme trabalhando num escritório de engenharia e inclusive


recebera uma promoção. Comprara seu carro e vivia agora sozinho num
apartamento próximo à casa de seus pais. Seus ganhos já eram
satisfatórios. Contudo, Afim empenhava-se diariamente em cumprir com horas
extras de trabalho. Cedo deixava o seu leito, tarde ia se deitar.

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Passava seu dia num transe hipnótico vivendo exatamente como um androide.
Parando de cumprir suas tarefas apenas no momento de recarregar a bateria. O
alarme do despertador era o botão que o ligava e tirava da tomada todos os dias.

Era estranho. Mais de duas décadas de sua vida, batalhando por sua formação,
agora convergiam para aquele momento, que aparentemente representava
sucesso, realização pessoal e profissional. Mas Afim aos poucos começava a
despertar do transe no qual se aprofundara e estava percebendo aquilo estava
longe de ser a plenitude que esperava sentir.

Todos os poucos a quem confessava essa sensação diziam-lhe que o que lhe faltava
era uma companheira. Afim torcia o nariz, pois sabia que, em partes, isso poderia
estar certo.

Numa certa manhã de sábado, Afim tomava seu café quando na televisão passou
uma notícia:

"Hoje, á meia noite, foi preso pela Polícia Federal o empresário Carlos Castanha.
Envolvido com jogo do bicho, tráfico de armas e lavagem de dinheiro, Carlos
mantinha várias empresas ao redor de sua cidade para encobrir a origem de seus
verdadeiros lucros, que eram na verdade, provenientes do crime. A polícia o
mantém preso em cela especial até a data do julgamento".

Afim correu para a janela. Queria atirar-se por ela e voar pelo céu como um
pássaro.

-Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! - gritava


com as mãos apoiadas sobre a base da janela.
Aos poucos se ajoelhou, curvou-se, tocou o chão com a cabeça e pôs-se a dizer
"obrigado". Começou a chorar de emoção. Ainda curvado, juntou as mãos e mais
"obrigados" seguiu proferindo.

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Agora deitado a agradecer, Afim saudava seu lado demônio, que se
abraçava com seu lado santo. Sabia o horror que estava a praticar
felicitando-se pela desgraça de Carlos, mas não havia maneira de esconder
a felicidade que lhe brotou no coração e agora saía pelos olhos, boca, nariz e
até ouvidos.
Deitado sobre o tapete da sala, Afim olhava, calmamente e sorrindo, o relógio
de parede. Passaram-se mais de 30 minutos que estava atrasado para seu
trabalho e sequer tinha tomado banho.
Levantou-se de estampido e correu para o chuveiro. Banhou-se como um gato.
Correu para seu guarda roupas, e antes de vestir-se, arrancou as páginas
finais do seu caderno de faculdade que ainda guardava consigo. Dobrou-as
rápido e gentilmente as colocou num envelope. Ele não iria trabalhar.

Entrou em seu carro e saiu acelerado. Ele tinha uma entrega especial.
Urgente. Nem mesmo o melhor sistema de correios poderia fazer essa
entrega na velocidade precisava.
Uma hora depois, estava em frente á casa de Marta, porém estava tudo
fechado. Não sabia se batia á porta ou não. Saiu de seu carro e colocou o
grosso envelope na caixa de correspondência com os dizeres: "aos
cuidados de Marta". Colocou seu nome no remetente e saiu.

Já se passava da metade do dia e ele estava de volta à sua casa. Conferiu seu
celular e nele havia mensagens preocupadas de seus colegas de trabalho lhe
perguntando por que não viera trabalhar naquele dia. la começar a
respondê-las quando o celular tocou. Era Marta:

 Alô! Afim! — disse ela com uma voz ofegante.


 Sim!
 Eu preciso te ver. Acabei de ler tudo o que me mandou. Como nunca me
mostrou isso tudo antes? A gente precisa se ver agora! Estou indo para a i!

Afim não conseguia falar, mas com o pouco de voz que teve, tratou de
informar à Marta as coordenadas de sua casa.
Ele não podia acreditar! Uma resposta tão rápida e em seguida poderia vê-
la de novo, como havia um ano não via. Prontamente voltou às

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mensagens que ia responder em seu celular. Pensou em dar satisfações
respeitosas para explicar sua ausência. Refletiu por alguns segundos, e logo
enviou a todos: "Estou bem. Não se preocupem". Não era nada respeitoso de
sua parte, porém, não havia mais nada em sua cabeça. Era a resposta mais
sincera que tinha. Arrumou seu apartamento, arrumou a si mesmo e
esperou.

Em menos de uma hora Marta estava no portão de seu condomínio com uma
mochila e pedindo para subir. Ela estava subindo. Com que expressão iria
recebê-la? Seria a alegria uma boa recepção para uma mulher cujo
namorado acabara de ser encarcerado? Mais uma vez parou de pensar.
Pensar apenas o sabotava. Até que a porta soou batidas que vinham de fora.

Abriu a porta e viu sua musa com o rosto coberto de lágrimas, que lhe fitou
por um segundo, mas que logo o agarrou pela nuca e o beijou na boca sem
sequer dizer "olá".

Com seus abraços apertados, Marta empurrou Afim para a parede


continuando a chorar e penetrar-lhe a boca com sua língua aveludada. Sem
abrir os olhos, próxima à boca de Afim, começou a falar:

-Eu sempre te amei, Afim! Desde o primeiro minuto — dizia isso enquanto de
seus olhos ainda fechados escorriam lágrimas que se juntavam às que
também estavam a sair dos olhos dele.

Afim segurava o rosto de Marta com firmeza, como que se estivesse a


memorizá-lo através de suas digitais. Sem sair de sua boca, trancou a porta
e retirou-lhe a mochila que trazia nas costas. Lentamente enquanto se
beijavam com furor, foram se abaixando sobre o carpete da sala.
Ajoelhados, como que numa reverência mútua, despiram seus corpos sem
dizer uma palavra.

Os lábios de Afim o conduziam por um passeio em meio às paisagens do


corpo de Marta. Não houve um milímetro quadrado de suas saliências e
elevações que ele não tenha coberto com um beijo carinhoso ou um toque
apaixonado. Ela, como se estivesse num profundo transe espiritual,

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liberava suspiros em notas que Afim jamais ouvira antes. Era uma nova
sinfonia, na qual ele fazia um dueto, emitindo os sons do prazer que lhe
tomava todo o corpo, a mente e a alma.

Num momento luminoso, Afim sentiu a intensidade febril do corpo de Marta


a queimar-lhe os quadris. Teve sua alma fundida com a dela, e desdobrados
na frequência do amor, flutuaram unidos pelo espaço e as estrelas numa
explosão cuja luz lhes ofuscava os olhos que mantinham fechados a
resfolegar.

A noite desceu sobre eles, porém o cansaço não lhes tirava da


concentração que punham em seu sagrado ritual. Madrugada adentro
passaram a se amar, iluminados somente pela luz da lua cheia que
penetrava a janela da sala. A luz prateada tonou-se rosada. Era o sol que
raiava. Finalmente levantaram do carpete.

Foram para o chuveiro, e depois para a cama de seu quarto. Não para
descansar.
Não havia mais trabalho, não havia mais metas, não havia mais realidade fora
daquela casa. Estavam certos de que a única coisa real entre o céu e a terra era
o amor que ali praticavam.

Luas e sóis se apresentavam e se despediam passando sobre a casa,


contudo, os amantes não dormiam ou acordavam. Era um constante
sonho. O desjejum de uma fome que tinha esperado anos para ser
saciada.

No dia em que Afim acordou, passou vários minutos a contemplar o rosto de


Marta que descansava sobre seu peito. Tentava explicar a si mesmo como
teria sido concebida tamanha obra de engenharia genética. As pálpebras
que se encaixavam perfeitamente nas cavidades de seus olhos. O nariz cuja
ponta lhe afagava. Os lábios que guardavam o raríssimo marfim de sua
dentição.

Afim se decidiu. Demitiu-se da empresa. Não estava mais disposto a


passar seus dias olhando para um computador. Tinha sua musa para

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contemplar em casa. E ela o amava tanto... Como conseguiria ocupar-se de algo
mais na vida que não fosse o amor que conhecera?

Uma semana depois se casaram. O casamento mais rápido que as famílias dos dois
jamais tinham visto. Até mesmo o reverendo Paulo se espantou. Uma cerimônia
memorável selava o romance dos dois, que agora, em sagrado matrimônio,
mudaram-se para uma casa no subúrbio para viver uma lua de mel interminável.

Um ano se passou e Afim se dedicava agora somente à sua amada e aos trabalhos
de artesanato e marcenaria, que lhe davam menos dinheiro que a profissão
anterior, mas que lhe permitiam empregar o seu amor numa forma de arte que
lhe possibilitava passar mais tempo em casa. Marta, porém, declarou não querer
depender exclusivamente da renda de seu marido e arrumou um emprego mais
ao centro da cidade.

Os anos foram se passando, e Afim, que passava o dia todo sozinho em casa,
aprendeu a conviver com a saudade que tinha de sua esposa diariamente.
Todas as noites quando ela chegava do escritório, Afim montava a mesa e lhe
servia o jantar que preparava durante as horas anteriores.

Após 3 anos, Afim estava vivendo uma crise em seu relacionamento. Queria um
filho, mas Marta se negava a concebê-lo. Ele não conseguia entender a razão da
recusa dela em gerar seu descendente.

Numa manhã de outono, Marta se despediu de Afim e saiu de casa para trabalhar.
Ele olhou para o sofá e viu que ela tinha esquecido sobre ele o projeto da casa que
iria entregar de tarde. Afim pegou o trabalho, a chave do seu carro e saiu atrás
de Marta.
Tentava chamá-la pelo celular, mas ele devia estar dentro de sua bolsa, pois ela
não o atendia. Próximo à rua que dava acesso ao escritório onde ela trabalhava,
Afim avistou seu carro. Tratou de segui-lo. Mas algo estava errado. Aquela não era
a rota que a levaria para o trabalho. Será que ela iria passar em algum lugar
antes? Se fosse, iria acabar se atrasando.

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O trânsito não permitia que seu carro chegasse próximo ao dela. Por
muitos minutos seguiu-a distante pela marginal por um caminho muito
oposto ao destino que imaginava. Até que a viu entrar com o carro pelo
portão de uma mansão.
Parou o carro. O calor subiu á testa de Afim. Começou a esfregar seu rosto com
as mãos procurando uma resposta. O que ela fazia ali naquele lugar? Ainda
estacionado, Afim atendeu Marta ao telefone:
 Amor! Eu esqueci em casa o trabalho que ia entregar de tarde. Pode
deixar que eu vou passar a í na hora do almoço, tudo bem? — Ela pensava que
ele estava em casa.

Afim controlou sua respiração de maneira a encobrir a euforia que o


tomava:

 Si sim! Tudo bem! Chegou a tempo no trabalho? — respondeu testando-a.


 Sim. Já estou aqui.

Despediram-se.
Afim não queria acreditar, mas a verdade estava ali diante de seus olhos. Marta
estava escondendo algo. Sentiu-se traído. Chorou sobre o volante enquanto
seus pensamentos lhe torturavam. Reclinou-se. Decidiu esperar até que sua
esposa saísse de lá.
3 horas depois, o carro de Marta saiu pelo portão. Afim estava parado
poucos metros à frente, com os braços cruzados e uma expressão de
angústia. Marta logo o viu e saiu do carro para falar com ele:

-Afim, o que está fazendo aqui? — disse ela com espanto, mas com algo a mais
por trás dos olhos arregalados.

Ele não se moveu. Com os olhos vermelhos ficou ali a encará-la enquanto
coçava a barba com a palma da mão que tremia.
Ela não tinha o que falar. Baixou sua cabeça e escorou as costas na porta do
carro. Levou as duas mãos à face cobrindo-se de vergonha. Afim debruçou-
se sobre o teto de seu carro e enxugou lágrimas silenciosas. Estava tudo
esclarecido. Na mansão ela acabara de traí-lo. Seu silêncio confirmava aquilo
que o olhar de Afim estava a dizer.

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Afim entrou no carro e partiu. Marta o seguiu. Foram para casa.

Lá, Afim pegou duas grandes malas e encheu-as com suas roupas e
algumas coisas do banheiro. Marta, sobre o sofá, enxugava o rosto e olhava
para ele. Pedia-lhe que falasse com ela, mas ele estava mudo. Não que não
quisesse falar, mas simplesmente não conseguia.

-Afim! Fale comigo! Por favor! —soluçou Esse seu silêncio me mata! Me perdoe!
Por favor! — soluçou novamente — Me diz alguma coisa, nem que seja uma
praga! — Disse ela ao vê-lo cruzando a porta.

Com o olhar firme e injetado nos olhos de Marta, Afim cingiu a mão no ar e
disse:

-Acabou! Não me procure jamais! Fique com tudo! Nunca mais me


procure! A última coisa que te peço é que respeite esse meu último pedido:
não me procure jamais!
-Não! — Marta se lançou de joelhos ao chão — Por favor, me perdoe! Eu te amo
muito, Afim! Não faça isso comigo!

Marta tentava segurar-lhe a mala para que ele não saísse pela porta. Mas Afim
puxando a alça com força acabou por derrubar a mulher, que caiu com as
mãos sobre a soleira da porta.

Entrou em seu carro e saiu deixando Marta caída à porta chorando


convulsivamente.
Pela estrada, Afim finalmente pôde gritar e liberar toda a dor que lhe
queimava. Lacerante era a tristeza que sentia. Como se lhe tivessem retirado
o chão de uma vez. Tinha atribuído à Marta todo o significado de sua vida. E
agora sem ela, o que era a vida? Era como experimentar a morte.
Dirigiu errante passando por entre bairros e semáforos. Estava no extremo
oposto da cidade quando avistou uma pousada. Olhou-se no espelho,
respirou fundo, limpou o rosto e desceu do carro com suas malas.

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A recepcionista o olhava com espanto, pois sabia que algo de horrível se passava
por dentro daquele homem, mas não teve coragem de perguntar-lhe sobre. Sorte
de Afim, pois se tivesse que tocar no assunto, mesmo que brevemente, iria ruir em
lágrimas ali mesmo.
No quarto, com uma toalha na boca abafando a voz e encolhido sobre a cama em
posição fetal, Afim urrava. Não abriu a janela. Queria o escuro, pois talvez o
fizesse dormir.
Mas o sono relutava em chegar. Somente no meio da madrugada, após alguns
comprimidos, pegou um travesseiro seco e adormeceu.
Acordou no dia seguinte somente no período da tarde. Estava com uma dor de
cabeça insuportável. Mais comprimidos tomou. Foi ao chuveiro, vestiu-se, olhou
para o espelho. O rosto pálido e inchado não mais gotejava. Estava catatônico.
Desceu para a recepção e pagou sua segunda diária.

Já era chegada a hora do jantar e tratou de levar para o quarto algo que pudesse
comer. Seu estômago já estava a se corroer de tão vazio.
Em seu quarto, colocou a comida sobre a mesa e pegou os talheres. Porém, o
instinto do costume que criara nos últimos anos logo o fez montar. a mesa,
alinhado o copo, o garfo e a faca. Sentou-se para comer. Olhando para a cadeira
solitária à sua frente, começava a enxergar os olhos de Marta projetados na
parede adiante.
A cada porção que comia mais se lembrava dela e de como ela o fitava durante
as refeições. Era uma alucinação.
Comeu somente os brócolis que tinha em seu prato. Levantou-se da cadeira e
puxou a mão de sua miragem para dançar como sempre faziam. Por alguns
minutos dançou sozinho de pé sobre o assoalho. Foi ao banheiro e lá viu o
xampu que trouxera consigo na mala. Não tinha reparado, mas na pressa com
que se aprontou para sair, ao recolher seus produtos de cuidados pessoais, acabou
por pegar sem querer também o xampu de Marta.
Era um aroma tão refinado que se exalava até mesmo com a garrafa fechada.
Pegou-a e voltou para o cômodo onde estava. Agora abraçava a garrafa e a
cheirava como se estivesse a perder-se entre os cabelos de Marta.

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Abriu os olhos. A alucinação parecia ter acabado agora que já não sentia mais
fome. Porém não queria a realidade. Olhou para a mesa e viu-a vazia de novo.
Piscou os olhos com força. Olhou para a garrafa, olhou para a carteia de
comprimidos sobre o criado mudo... Abriu-os todos e os colocou na palma
da mão. Engoliu-os em seco. Contudo, não pareciam querer passar adiante
pela sua garganta. Ergueu a garrafa no ar, tocou-a nos lábios e verteu-a boca
adentro em goles fartos.

A camareira estava atrasada côa' seu serviço de arrumação dos quartos e


bateu à porta. Ninguém a atendeu. Persistiu, dessa vez também verbalmente.
Nada. Desceu ao saguão e conferiu com a recepcionista se realmente havia ali
algum hóspede. A atendente ao conferir o número do quarto logo se lembrou
do homem abatido que hospedara no dia anterior, cuja expressão
realmente a preocupava. Deu à camareira a chave mestra e acompanhou-a
até os aposentos onde Afim se instalara. Novamente bateram à porta, mas ao
silêncio que se seguiu decidiram adentrar pela porta de supetão.
Ali estava Afim desmaiado sobre o assoalho. Pernas e braços separados.
Bolhas e espumas lhe escorriam da boca para o piso. Próxima à sua mão, uma
garrafa de xampu vazia.

Uma equipe médica o socorreu prontamente e o levou para o hospital mais


próximo. A recepcionista da pousada relatou que ele já parecia morto
quando se hospedou, mas que naquele momento sobre o chão ele realmente
não dava qualquer sinal de vida.
Graças ao trabalho dos médicos, o intestino de Afim pôde ser lavado a
tempo, e graças às fibras dos brócolis que tinha comido antes do ato
suicida, as substâncias ingeridas tiveram dificuldade para serem
absorvidas. Be estava a salvo. Ainda desmaiado, mas não corria mais risco de
vida.

No dia seguinte após sua internação, foi encaminhado para um


tratamento emocional que era dado num Centro de Atenção Psicossocial. Ali
foi ouvido e ajudado pelo doutor Lanto.
Lanto era um homem de cabelos brancos e cavanhaque refinado. Era
evidente que tinha uma idade avançada, talvez estivesse às vésperas de

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aposentar-se. Contudo, a pompa com que se vestia e o cuidado que tinha com
a sua aparência o tornavam uma figura fascinante, pois dele irradiava energia e
juventude. A voz calma e serena. O olhar terno e meigo, porém firme. Vestia
sobre o braço direito uma faixa de cor vermelho escuro.

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Capítulo 3: A Irmandade

Hugo estava perplexo sentado sobre a cama a ouvira história de Afim. O


que acabara de ouvir era praticamente a mesma história pela qual passara
antes de tentar atirar-se do prédio. A mulher por quem se apaixonou tonou-
se o eixo sobre o qual sua vida girava. Após perdê-la, a vida não mais parecia
ter sentido. Contudo, como era possível que Afim tivesse passado por
tamanha dor e perda de controle e agora trouxesse
consigo tamanha serenidade e firmeza em sua postura? Olhar para ele era como
olhar alguém que nunca em sua vida sequer tinha conhecido outro estado
senão o de alegria e certeza. Hugo se animava:

 Obrigado por me contar a sua história! — Disse Hugo — Eu até então me


sentia mal pensando que não havia solução para isso que estava
sentindo... Eu achava que ninguém na minha situação poderia voltar a sorrir
algum dia. Mas vê-lo tão bem hoje me anima muito!

-Sabe, Hugo... Eu entendo bem o que você sente. Acontece que nesse exato
minuto, diferentes homens ao redor do mundo passam pela mesma situação
que você passa agora Afim o olhava agora com um sorriso paterno entre
os lábios - Nenhuma dor é maior do que a própria dor. Nenhuma rejeição
dói mais do que a rejeição. Nenhuma desilusão dói mais do que a desilusão.
No meio do caminho sempre haverá uma pedra. Porém, um homem pode
encontrá-la, tropeçar e praguejar. Outro pode juntá-la a outras e edificar
uma casa. Um menino pode usá-la como brinquedo. Um artista pode esculpi-
la... Sempre encontrará pedras... Mas é você quem decide o que fará delas.

Por uni minuto, Hugo manteve-se em silêncio absorvendo cada palavra do que
acabara de ouvir:

 Você disse que Lanto vestia uma faixa vermelha escura sobre o braço
direito... Era parecida com essa que você está vestindo agora? - Perguntou
Hugo apontando para o braço de Afim.
 Sim. Era igual a essa.

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-Isso me intriga. O que significa essa faixa?

A enfermeira entrou:
 Senhor, o horário de visitas terminou - Disse ela fitando Afim com os
olhos a brilhar.
 Obrigado por avisar-me, querida - disse Afim virando-se para trás para vê-
la.
Afim continuou de costas para Hugo e permaneceu penetrado nos olhos da
enfermeira. Be começava a ruborescer as têmporas. Era como se tivesse
acabado de ser acometida por uma febre instantânea.

Afim voltou-se para Hugo, tocou-lhe a cabeça e despediu-se: -


Tenho que ir agora.
 Mas como faço para encontrá-lo novamente? Quero saber mais sobre como
mudou sua vida!

Afim tirou um de seus cartões pessoais do bolso do paletó e deu-o a


Hugo:

 Guarde-o. Assim que sair do Centro de Atenção Psicossocial é só me


procurar. E qualquer coisa, somos vizinhos, lembra? - Deu uma piscadela a Hugo
e caminhou lentamente pela porta afora sendo acompanhado pelos olhos da
enfermeira.

Dois dias se passaram. Hugo estava ansioso para sair daquele centro de
reabilitação emocional. Como todo paciente suicida, foi colocado sob
observação e aconselhamento. A todo o momento refletia sobre o que
conversara com Afim. Sabia que se não fosse a sua visita em seu leito de
hospital, provavelmente teria dado a si mesmo como louco e teria o
mesmo fim daqueles com quem agora dividia banhos de sol pelo pátio
daquela instituição.
Estava em meio a pessoas psicóticas, deprimidas e que tinham cometido a si
mesmas coisas até piores do que a que quase cometera a si mesmo. Aquele
convívio doentio já estava a fartar-lhe.

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Quis ter a mesma sorte que Afim e ser atendido por Lanto, porém ele não
atendia naquele centro. Aliás, o mesmo já deveria ter se aposentado.

A entrevista final de avaliação mental foi muito rápida. Hugo parecia ter sido
colocado lá por engano. O psicólogo que o entrevistou, ao ver a clareza e a
vontade de recomeçar estampadas no rosto de Hugo, não hesitou em
assinar-lhe a carta de sanidade. Estava livre.

.
Hugo foi levado de volta ao se 0 apartamento. Chegou empolgado.
Arrumou a mobília que bagunçara anteriormente e deitou-se no sofá.
Dormiu.
Já era noite quando acordou cheio de energia. Queria dar os próximos passos
na vida nova que o aguardava. Acendeu as luzes, pegou o cartão que
recebera de Afim e ligou.

Por sorte, Afim estava também em casa e o atendeu prontamente.


Chamou Hugo para seu apartamento para que pudessem conversar. Uma
porta á esquerda e Hugo lá foi bater.
Hugo foi surpreendido. Esperava que Afim lhe atendesse à porta, porém quem
o atendeu foi uma mulher. Linda, por sinal:

 Você é o Hugo? — disse a morena, enrolando um de seus dedos em um dos


cachos de seus cabelos.
 Sim, sou eu. O Afim está?— Disse Hugo tentando conter a expressão de
surpreso.
-Sim. Ele pediu que entrasse. Venha. Vou chamar Afim e em seguida me vou.
Ele disse que tem assuntos delicados para tratar com você.

Hugo foi conduzido até a sala.


A casa de Afim era simplesmente exótica.
Logo próxima à entrada ficava uma armadura de samurai com uma espada
empunhada. Pela sala, ao redor dos sofás cor de vinho, ficavam expostas lindas
flores e pequenas árvores ornamentais. Todas feitas de origami pelas mãos
dele mesmo. Pelas paredes havia quadros belíssimos que o próprio Afim tinha
feito desenhando a si mesmo com asas de anjo. Em alguns quadros abraçado
a mulheres que também tinham asas, em

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outros, atirando flechas com pontas em formato de coração enquanto caçava
na companhia de um lobo azul celeste que tinha na cintura um punhal. Ao
fundo, a escultura do busto de um lobo cinzento trajado à rigor com uma
cartola na cabeça. Aquelas obras não transmitiam somente beleza, mas
também muita energia enquanto descreviam um mundo totalmente diferente
no qual Afim parecia viver.

Afim vinha do banheiro terminando de amarrar seu roupão de banho de cor


bordô.

 Hugo já chegou. Estou indo, Afim! — disse a morena que avançou sobre ele
dando-lhe um terno beijo na boca enquanto o abraçava despedindo-se.
 Semana que vem nos vemos de novo, ok?
 Ok! Boa viagem!

Ela virou-se e andou em direção à porta. Passou por Hugo e


simpaticamente se despediu dele também.

Afim aproximou-se de Hugo sorridente entendendo-lhe a mão:


 Sente-se — disse Afim apontando para o sofá.
 Era sua namorada?
-Não, não... — sorriu Afim- Eu a amo demais para namorá-la.

Hugo sentou-se, porém não parava com a cabeça. Corria os olhos


brilhantes pela sala mágica, tal qual uma criança numa loja de brinquedos.

 Quero dar os próximos passos. Quero que me conte como foi que
encontrou a luz — disse a Afim todo animado.
 Sim. Posso te contar. Porém, devo antes pedir-lhe que guarde segredo
sobre tudo o que vou lhe dizer disse Afim com uma seríssima expressão no
rosto.
 Sim. Posso guardar segredo.
 Ótimo. Bom... Na verdade, Hugo, já confio em você desde o primeiro
instante. Queria que pudesse enxergar também as coisas que enxergo, mas
agora pode ser que não as veja. Você é protegido. O amam muito...

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Do que Afim estava a falar? Hugo se perguntava, mas não ousava
interromper Afim, que prosseguiu:
-Eles me chamaram para salvar-lhe naquele dia em que se precipitou
sobre o parapeito da sacada.
-Eles quem?
 Seus mentores. Seus amigos espirituais. Principalmente um senhor
chamado Gaspar.
O rosto de Hugo congelou. Como poderia Afim saber o nome de seu
finado avô? Já não sabia que outras estranhisses poderia esperar daquele
homem. Novamente negou-se a interrompê-lo:
-Sabe Hugo, existe uma razão muito bem embasada e premeditada por
trás de tudo o que acontece em nossas vidas. E o nosso encontro não foge
à essa lei.
Hugo mexia a cabeça em concordância.

Afim prosseguiu:
 Sinto que devo compartilhar com você o segredo que me guiou das
trevas à luz. Você o merece e sei que não fará mau uso dele. Do contrário,
não estaria aqui na minha sala. Posso ver em sua aura o caráter que tem.
Não há como esconder isso de mim.

Hugo olhava para Afim e agora já acreditava em tudo o que Afim dizia.

 Perguntou-me sobre a faixa, não foi?


-Sim.
-Aquela faixa representa o degrau em que me encontro na Irmandade.
-Que Irmandade?
-Homo Seductus. Somos uma ordem mundial de Sedutores. Uma
fraternidade. Porém, entre nós, a chamamos de Alcateia.

Durante os minutos seguintes, Afim tentou explicar brevemente do que se


tratava a ordem Homo Seductus. A cada nova palavra Hugo se enchia de
ânimo e mais dúvidas. Ao fim de meia hora, Afim levantou-se e foi pegar
uma bebida para os dois na geladeira.

Enquanto bebiam, Hugo perguntava mais coisas:

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 E como posso ter acesso a esse conhecimento?
 Depois de amanha será a Conferência Internacional dos Sedutores, onde
poderá conhecer nossa Alcateia. Vá para seu apartamento. Arrume uma mala.
Iremos para Barcelona amanhã.
 Barcelona, Espanha? Amanhã? Amanhã tenho que voltar ao meu
trabalho! Já me encheram de mensagens. Estão preocupados com a
minha ausência— Disse Hugo com os olhos arregalados.
-Percebe? Eles estão preocupados com a sua ausência. No mundo do
trabalho somos percebidos por aquilo que produzimos. Quando não
produzimos percebem que estamos ausentes. Ninguém nunca se
preocupou com você, com o seu interior e com o que você estava a
passar... E nunca será diferente enquanto caminhar por esse mesmo
mundo externo, onde você não é visto como pessoa, mas sim como o
empregado.

Hugo silenciou-se refletindo. Afim continuou:


 Dê-se por feliz! Você era para estar morto a essa altura! O que tem a
perder? — disse Afim buscando uma resposta de Hugo, mas o mesmo
permaneceu calado — Se amanhã você volta para a mesma vida que tinha antes,
nunca começará uma nova. Você já viu esse filme antes. Sabe como termina. Se
quiser, pode vir comigo amanhã, e eu te mostro um novo mundo da
realidade mais doce que jamais sonhou.

Hugo levantou-se. Arrumou a camiseta, deu a mão a Afim. Estava


decidido! Iria viver outra vida. Combinou o horário em que se encontrariam
no dia seguinte e partiu para seu apartamento para arrumar sua mala.

No avião, sentado ao lado de Afim, Hugo se divertia olhando a imensidão azul


do mar que se fundia com o céu no horizonte. Passou as mais de dez horas de
voo conversando com Afim sobre infância, sonhos, metas e a experiência
fascinante que é ser Homem. Criaram entre si uma afinidade e conexão muito
fortes. Agora se sentiam como irmãos reunidos após décadas.

36
Chegados ao aeroporto, tomaram um táxi e foram para o Hotel Pulitzer onde
se hospedaram e esperaram a grande noite da conferência.

-Por que escolheram Barcelona como sede da Alcateia? — Perguntou Hugo.


-A Espanha é a terra onde se refugiaram alguns dos maiores Sedutores da
história.
 Se refugiaram?
-Sim. A igreja sempre nos perseguiu. Don Juan Tenório, que vivia em
Sevilha, era grão mestre da ordem na época em que o sul da Espanha era alvo
da inquisição católica. Muitos de nossos maiores antecessores foram queimados
vivos durante esse período.
 Don Juan Tenório? Eu pensava que ele fosse somente uma lenda criada por
escritores romancistas.
-Não! Ele foi um dos homens mais importantes na nossa história! Ele tinha
sérios problemas em conectar-se emocionalmente com as mulheres. No
começo conseguia envolver-se apenas sexualmente com elas, mas
conforme foi se desenvolvendo, adquiriu a capacidade de amar
profundamente cada uma das mulheres com quem tinha um romance.
Escreveu uma centena de pergaminhos antes de morrer, ensinando
verdades sobre a coragem e cantando o amor à mulher com suas palavras
apaixonadas. Morreu amado pela Alcateia e mais algumas mulheres da
Espanha, acho que 3 mil.

Afim fez uma pausa, sorrindo-se como se tivesse acabado de contar um


trecho de sua infância. Logo, conteve o sorriso e continuou:
 Tendo em vista o perigo que se precipitava sobre Andaluzia, os
Sedutores da Alcateia viram-se obrigados a se reunir em cidades mais
distantes. Por tempos eles usaram até mesmo outros países da Europa,
como a Rússia, por exemplo, onde o mestre era Grigori Rasputin. — disse Afim
deitando-se sobre os lençóis brancos de sua cama.

 Rasputin, o mago negro? — Perguntou Hugo com espanto.


 Ele não era mago negro, coisa nenhuma! Ele foi simplesmente um dos
maiores Sedutores que já caminharam sobre a Terra. Até hoje, os poucos que
chegam ao círculo ao qual ele chegou, são considerados magos

37
realmente. Ele chegou a vestir a última faixa de nossa irmandade e
estudou todos os pergaminhos mais raros. No nível em que ele se
encontrava, sua presença era realmente mística. Ele desenvolveu o seu
potencial a tal ponto, que conseguia afetar a realidade. Não só a dele, mas
também a de quem mais estivesse por perto. Por vezes ele curou pessoas
apenas canalizando suas energias e foi capaz de proezas que desafiavam as
leis da física, o que o marcou na história da humanidade como sendo um
mago negro. O que o marcou como um dos maiores líderes da Alcateia,
além dos conhecimentos de hipnose, magia, persuasão e engenharia social,
foi o fato de ele ter dormido com mais de 7mil mulheres diferentes antes
de morrer. Ele não era nenhum modelo de beleza... Então... Era de se
estranhar que um homem tão feio tivesse tanto sucesso com as mulheres. Isso
motivava todos os novatos que limitavam as suas mentes com crenças acerca
da pouca beleza que tinham. Quando Rasputin finalmente criou a Técnica dos
Cinco Pontos que Explodem o Coração, ele foi sublimado e vestiu a última
faixa.
-Técnica dos 'Cinco Pontos que Explodem o Coração? Eu pensava que isso
era coisa de filme de Artes Marciais! — Disse Hugo novamente espantado.
 Sim. Eu a vi sendo citada num filme assim também. Porém o diretor
apenas estava fazendo referência a uma das técnicas mais poderosas das Artes
Venusianas.

Afim virou-se arrumando o travesseiro:


 Mas, Hugo... Eu preciso descansar... Quanto mais eu falar, mais
perguntas lhe surgirão na cabeça. Guarde-as para mais tarde. Terá muitas
respostas.
 Sim, claro! — Hugo concordou, embora não quisesse. Queria continuar
ouvindo Afim. Estava admirado. A cada minuto lhe surgiam coisas mais
incríveis e interessantes que lhe aguçavam a curiosidade.

Nas horas que se seguiram cochilaram, banharam-se e vestiram-se para o


evento. Afim emprestou a Hugo um de seus elegantes blazers, o qual lhe caiu
no corpo como uma luva. Era uma ocasião especial. Contudo, Afim ao vestir-se
adequadamente não parecia mais elegante do que de costume. Afinal, desde a
semana passada, Hugo o tinha visto somente em trajes impecáveis.

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No táxi, Hugo se maravilhava com as luzes da Rua La Rambla, que à noite,
parecia um céu estrelado em Terra. Alguns quilômetros seguiram, até que
adentraram por uma rua cujas calçadas estavam ladeadas por numerosos
carros de luxo. Avistaram à frente uma enorme mansão de cores douradas e
lilases.

Desceram do carro e apresentaram-se ao porteiro. Porém, antes que o


funcionário terminasse de conferir os documentos de Afim, veio de
dentro do pátio de entrada um senhor a gritar cheio de alegria com os
braços erguidos:

 Afim! Como estás?


 Lanto! Mi Hermano! — disse Afim abraçando-o.
Hugo finalmente estava de frente com o mentor de Afim.
Aquele homem, com certeza era muito velho. Mas exatamente como Afim o
descrevera antes, tratava-se de um homem cuja energia era radiante. Os
cabelos brancos eram longos e estavam amarrados para trás, o que dava ao
seu rosto fino um ar oriental. Seu perfume era cítrico e ao mesmo tempo doce.
Estava trajando um smoking branco e sobre seu braço direito agora havia uma
faixa de cor violeta.

-Esse é o Hugo, de quem te falei! — disse Afim apresentando seu


convidado.
 É uma honra conhecê-lo, Hugo! — disse o mestre.
-A honra é minha, Lanto! — disse Hugo com visível satisfação em seu rosto. -
Entrem, meus queridos! Em breve se dará início à cerimônia! disse Lanto
já os encaminhando para a entrada da mansão.

Pelo caminho que cruzava o estacionamento, Hugo não pôde deixar de


reparar nos carros que ali estavam estacionados. Eram todos modelos de luxo,
alguns superesportivos que inspiravam poder e deles saiam homens que
também exalavam poder. Era uma espécie de presença ou campo energético
inexplicável, que fazia Hugo sentir-se mais forte à medida que avançava na
caminhada.
39
Finalmente chegaram às grandes portas de ébano entalhadas, onde havia dizeres em
uma língua que provavelmente era Latim.
Era um hall de entrada muito amplo e de decoração ímpar, que remetia a casa de
Afim em alguns aspectos.
Após as portas, havia duas colunas de um mármore que Hugo jamais vira. Eram de
um tom rosado e sobre a da direita, desde a base até o topo, subiam enroladas
duas serpentes Naja que faziam 7 voltas em torno dela e terminavam por
encarar-se de frente no alto.
Sobre a coluna da esquerda, subiam enroladas duas ramas de flores. Pareciam
rosas azuis que brotavam de dois vasos redondos ao chão que ladeavam a base da
coluna.
À frente, mais ao meio, ficava uma estátua idêntica ao busto que ficava na sala da
casa de Afim. Porém, era a escultura do corpo inteiro de um lobo cinzento apoiado
sobre duas patas, vestido à rigor dos pés à cabeça e em escala de tamanho humano.
Nas patas superiores havia uma bengala, cujo apoio de mãos era a cabeça de mais
uma serpente Naja cromada e com olhos de rubi cintilantes, na qual ele se
apoiava numa pose de pura elegância.

Pela sala se abraçavam e conversavam outros homens distintos, em cujos braços


direitos ficavam faixas de outras cores variadas, as quais Hugo não compreendia. Eles
se cumprimentavam usando um aperto de mãos que era diferente no
entrelaçar dos dedos. Hugo admirou-se de ver que ali entre eles estavam
também alguns artistas célebres da televisão e da música, que em qualquer
outro ambiente, estariam rodeados por uma legião de fãs, mas que ali, estavam
em paz como que numa reunião de família.

Hugo percebeu que não era o único novato à medida que foi adentrando o
recinto e vendo outros poucos homens que não usavam faixas. Talvez uns 3
além dele. Esses também o cumprimentavam como se já o conhecessem, em
outros idiomas que jamais ouvira antes.

Chegaram juntos até outro amplo ambiente onde havia retratos de alguns homens
pendurados pela parede. Os primeiros da parede eram fotos de esculturas
aparentemente muito antigas. Em seguida vinham fotos em

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preto e branco. Após essas, outras em cores. Alguns sozinhos, outros
abraçados a belíssimas mulheres. Abaixo de cada retrato havia o nome de cada
um deles. Hugo começou a ver alguns nomes que lhe eram familiares:
Ovídio, Lancelot, Leonardo da Vinci, Giacomo Casanova, Don Juan Tenório,
Grigori Rasputin, Sigmund Freud, dentre outros mais recentes na história
que eram celebridades da música e da arte que inclusive já tinha visto na
televisão, mas que jamais imaginara ver naquela parede.

Havia ali mais de mil cadeiras, sendo que as da frente tinham um estofado de
camurça vermelho.
Hugo estava na primeira fileira, ladeando Afim, que por sua vez ficava ao lado
de Lanto que estava numa cadeira à beira do corredor que dividia os dois
grupos de aproximadamente 500 cadeiras cada um.

Quando uma equipe de rapazes em cima do palco acenou para Afim, esse se
levantou e caminhou até eles. Agradeceu-lhes e posicionou entre a orelha e
a boca uma espécie de microfone sem fio, o qual testou dizendo algumas
palavras em inglês. Aquele seria o idioma no qual se seguiria a reunião, talvez
por ser o mais falado do mundo. Hugo não ouvira nada sobre isso, mas agora
via que Afim era um homem importante dentro da Alcateia, pois recebera a
incumbência de falar com todos, talvez por ser um dos que mais soubesse
ali dentro.

-Boa noite a todos! — Começou Afim em Inglês.


Todos lhe responderam. Em seguida formou-se um silêncio total. Algo que não
se poderia esperar em um grupo tão grande de pessoas. Afim começou a
falar com um leve sorriso:
-Muitos de vocês já me conhecem. Meu nome é Afim e sou um membro
brasileiro da Alcateia. Estou muito feliz hoje. Primeiro por poder rever
alguns de vocês que são meus incríveis e leais amigos, e também porque hoje
trago aqui um convidado que conheci essa semana, mas que descobri
tratar-se de uni irmão que apenas demorei a conhecer. É o Hugo que está
sentado ali ao lado de Lanto. Infelizmente, não pudemos reunir todos os
nossos membros aqui hoje, mas mesmo assim a casa ainda está cheia. Fico
feliz em ver que temos alguns outros que também se iniciam

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hoje nos conhecimentos de nossa arte. Sejam todos muito bem vindos! É a
vocês que dedico a primeira parte do meu discurso, pois sei que muitas são as
dúvidas que estão em suas mentes agora. Afinal, trata-se de uma sociedade
secreta, portanto, cheia de mistérios que até mesmo nós, veteranos, não
conseguimos desvendar em sua totalidade. Se estão aqui, sei que são de
confiança e sei também que não preciso lembrar-lhes de guardar segredo
sobre tudo o que ouvirem aqui hoje.

"Comecemos então, definindo o que é essa ordem à qual pertencemos.


Homo Seductus, é uma das, senão a, sociedades mais antigas da
humanidade. Nosso trabalho teve início muito antes de Cristo andar sobre a
Terra. Por ela passaram alguns dos homens mais notáveis da história mundial.

Originou-se entre homens que viveram em períodos muito remotos, mas que
tinham em comum entre si o amor pela mulher e a busca pelas habilidades e
poderes que as fariam desejá-los. Esse conhecimento que tinha o poder de
atrair qualquer mulher foi chamado de Sedução, e seus praticantes se
denominavam Sedutores. Sabemos que a mulher é o verdadeiro eixo sobre o
qual giram todos os esforços de realização do Homem.

Com o tempo, as reuniões que esses Sedutores tinham, foram se


tornando cada vez mais sérias e eles constataram que existia, sim, uma
equação quase matemática que descrevia os mecanismos de atração que
podem ser ativados em qualquer mulher. Contudo, a descoberta desse
conhecimento se estendia em ramificações que iam muito além do simples
ato de fazer amor com as mais belas mulheres.

Liderança, autoconhecimento, comunicação, raciocínio, carisma dentre outras


habilidades, foram alguns dos primeiros fatores que levaram esses praticantes a
entender que o conhecimento dessa arte trazia benefícios em todas as
outras áreas da vida, fossem elas de ordem material, emocional ou até
financeira. Conhecendo melhor a si mesmos e o seu potencial, esses homens
perceberam que dentro de si habitavam verdadeiros deuses capazes de
grandes realizações.
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Esses estudos foram mais longe e começaram a se aprofundar no lado
místico e metafísico da vida. Começaram a compreendera sua natureza
espiritual e a vida como um todo. Começaram a ver a si mesmos não como
poderosas armas de seduzir mulheres, mas sim, como ferramentas de cura.
Cura para a humanidade em vários aspectos. Da í o significado da faixa que
vestimos no braço direito: é o compromisso com o amor. Aonde quer que
chegasse um homem vestindo-a, ele era bem recebido e aos abraços lhes
recebiam todas as mulheres que os encontravam. Sabiam que se tratava de
um bom homem, que dedicara boa parte de sua energia a entender os
corações das mulheres, e sabiam que eles as amavam acima de tudo. O que
fazia de nós, seres altamente queridos e respeitados na antiguidade.

A força dos corações amorosos desses incríveis Sedutores estava a mudar o


mundo. Porém, isso chamou a atenção de alguns poderosos daquela época, e
eles começaram a perseguir os praticantes da nossa arte. Esses poderosos
sabiam que homens tão despertos jamais se submeteriam às leis e condições
que eles impunham à sociedade. Consequentemente, não poderiam ser
escravizados como os outros. Esses reis temiam que nosso conhecimento se
difundisse, pois se isso acontecesse, as pessoas que eles usavam iriam não mais
servir-lhes. Como um ser que tem consciência de sua natureza divina, que
sabe que é o próprio Deus em si, poderia aceitar curvar-se perante qualquer
outro humano?

Houve perseguição e muitos de nós fomos massacrados. Desde então, a


sociedade tornou-se secreta. Após a passagem de Jesus Cristo, houve
também uma manobra política desses mesmos perseguidores que
instalaram sobre o mundo uma religião de massa, a qual impunha seus
dogmas sobre a sociedade e definia qualquer outro conhecimento divino
como sendo bruxaria. Delito esse, que era punido com a morte.

A Alcateia continuou a proliferar-se e levar aos homens de boa vontade a


verdade a respeito de si mesmos e a respeito da verdadeira felicidade. Porém,
sempre às escondidas, de maneira a evitar que a irmandade fosse descoberta, e
assim dizimada.
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Desse trabalho persistente dos antigos Sedutores, tiveram origem
verdadeiros tesouros, que eram os pergaminhos que eles escreviam. Parte
deles era guardada a sete chaves na Biblioteca de Alexandria, aos cuidados de
alguns de nossos mais respeitados mestres. Contudo, os mesmos homens
poderosos que temiam perder o controle sobre a população, procuraram a
todo custo destruir nossos pergaminhos. Torturaram alguns de nossos
guarda-livros, mas ao ver que nada entregariam, decidiram atear fogo à
biblioteca inteira, queimando consigo não só pergaminhos de nossa arte, como
também vários outros brilhantes trabalhos que o Homem concebeu. A perda foi
incalculável.

Mas ainda assim, persistiram guardados em outros lugares do mundo outros


exemplares dessas obras que escrevemos, e é sobre eles que baseamos
aquilo que sabemos hoje.

Essa é a razão de termos algo tão bonito para compartilhar com a


humanidade, mas que temos que manter em segredo.

Imagine o que aconteceria se todos descobrissem dentro de si o potencial


divino que têm. Logo desmoronaria o poderoso sistema que rege a
sociedade desde o começo dos tempos. Acabariam-se as instituições que
tentam vender à pessoa a salvação, pois uma vez que ela entendesse que ela
mesma é Deus, ela não mais teria que sustentar essas instituições buscando
nelas uma divindade externa.
Muitos outros pilares da sociedade, principalmente os econômicos, seriam
profundamente afetados, pois o modelo de felicidade que os seres humanos
têm, baseia-se na busca material para posteriormente realizar-se no
casamento. Mas eles não percebem que dão todos os dias de sua vida
engordando os bolsos de alguns poucos que os usam como escravos e como
gado de corte até hoje, assim como fizeram com os seus antepassados.

Nós da ordem secreta dos Sedutores estávamos esperando o ano de 2012


para revelar ao mundo os princípios que nos guiaram por milênios. 2012 é

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um ano profetizado como sendo o ano das grandes revelações da
humanidade. O fim do mundo segundo os mais antigos calendários.

Porém o fim nada mais é que um recomeço.


Ao final do mês de dezembro, iremos nos revelar mundialmente
utilizando os meios de comunicação para mostrar quem somos e qual o nosso
propósito.
Esse será realmente o fim do mundo, pois muitos dos verdadeiros valores da
vida, que agora se encontrám invertidos, serão revelados a humanidade,
podendo ruir com os pilares falsos que sustentam esse mundo de
aparências onde a verdade já não reina há milênios.
Por séculos temos sido perseguidos e caçados devido ao nosso conhecimento
da verdade, por aqueles que detêm o poder e temem que a revelemos,
destruindo assim, o castelo de areia que ergueram.

Denegriram nossa arte de tal forma, que se hoje abrirmos o dicionário e


procurarmos pela palavra Sedução, veremos uma descrição que enegrece aquilo
que somos, como se aquilo que praticamos com todo nosso amor fosse nada
mais do que um conhecimento obscuro de manipulação.

Na sociedade atual, vivemos o patriarcado, onde o homem é o centro de tudo


e é a única força realizadora. Essa supervalorização do homem não tem a
função de enobrecê-lo, mas sim, de denegrir a mulher.
Esse rebaixamento da mulher se faz a todo tempo desde os primórdios da
covardia. Até o cumulo de dizerem que ela foi gerada a partir da costela do
homem, quando na verdade, homem nenhum jamais se gerou sem que por
uma mulher tivesse passado. Desde o momento em que se atribuiu a Deus um
sexo, tendemos a chamá-lo de pai, criador, quando na verdade,
a força geradora da vida é a mãe. Que por si só, sem o pai nada cria, mas que
apenas pelo lado paterno, muito menos criaria. E que se ainda criasse,
não cuidaria com o mesmo amor.
Libertaremos a mulher de uma vez por todas para que ela possa reinar sobre
o mundo assim como já o faz em nossos corações. E entraremos na era do
amor.

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As técnicas de sedução continuam sendo muito efetivas, mas aqui dentro não
focamos somente nelas, pois estudamos a lapidação de nosso ser a um nível que
qualquer um que a pratique torna-se atraente aos olhos de qualquer mulher.

Nossa Alcateia tem círculos internos divididos em 8 degraus, onde aprendemos


de tudo: hipnose, programação neuro linguística, dinâmica social, magia,
paranormalidade, física quântica, radiestesia, espiritualidade, dentre outros
conhecimentos poderosos.
Porém, o homem que adentra esses círculos deve primeiramente ser iniciado nas
verdades dos pergaminhos elementais. Depois, observado de perto pelos outros
membros da Alcateia, poderá dar sequência aos estudos ou não.
Alguns desses degraus são demarcados por faixas braceletes de diferentes cores.

Esse símbolo da faixa no braço sempre foi um dos mais poderosos da


humanidade. Muitos já a utilizaram.
Hitler, embora tenha tido um passado negro, era um homem cuja
inteligência não se pode negar.
Ele sabia do poder da faixa, sobre tudo a vermelha. Quis atrair para si todo o
poder do mundo, por isso uniu o nosso símbolo à divina cruz Hindu, formando
assim, a faixa da Suástica Hitlerista. Apenas mudando a faixa para o braço
esquerdo e girando a cruz também para a esquerda. Formou-se um novo
símbolo, mas de alguma maneira ele queria trazer para si a proteção Hindu e o
poder e liderança dos Sedutores antigos. Naquele período não utilizamos a faixa
porque seu significado poderia ser distorcido, e nós que somos seguidores do amor
poderíamos ser confundidos com seguidores de Hitler, mesmo usando a faixa no
braço oposto e sem a suástica.
Após a queda de Hitler, outros personagens da história também usaram a faixa.
Michael Jackson foi um deles. Junto com isso, ela se popularizou também no
jogo do futebol, no qual os capitães dos times também vestem o bracelete.
Mais uma vez se referindo ao poder ancestral dos Sedutores. Logo, usar a faixa
deixou de ser perigoso e voltamos a incorporá-la em nossa vestimenta.

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Hoje é um dia especial, pois teremos mais discursos especiais com as
descobertas de outros célebres integrantes de nossa Alcateia. Teremos
também mais tarde o Ritual Rôgona, no qual serão dadas as faixas que
alguns membros conquistaram ao longo desse ano. E por fim, ao mesmo
tempo em que se dará o Ritual Rôgona, se dará também o Ritual InaMaral,
no qual será feita a entrega dos primeiros pergaminhos para aqueles que
começam hoje suas novas vidas".

Afim prosseguiu contando mais detalhes sobre a Irmandade Homo


Seductus.
Era visível nas faces dos novatos a expressão de fascínio e maravilha. Hugo
sentia-se não somente fascinado, mas também honrado e sortudo em ter
conhecido a Alcateia diretamente através de um de seus integrantes mais
experientes.

Após o discurso de Afim, os já iniciados foram conduzidos ao Rôgona


enquanto os novatos permaneceram em suas cadeiras. Após sobrarem na sala
somente quatro novatos, um homem sem braba, com o rosto claro como
porcelana e usando uma cartola veio segurando um castiçal com 7 velas
acessas. Apresentou-se como sendo o Chaveiro da Alcateia. No rosto nenhum
traço de simpatia. Pediu a todos que o seguissem apenas acenando com o
braço no ar. Todos se levantaram intimidados e em silêncio, seguindo o som
do molho de chaves que se agitavam na cintura do homem que caminhava.

Passaram por um trecho de jardim muito florido, que de dia deveria ser
belíssimo, mas que naquele momento era iluminado apenas por apenas sete
tochas colocadas ao longo do caminho estreito. Havia adiante um enorme
casarão cujas paredes eram dominadas por trepadeiras que subiam mais de
10 metros de altura até o telhado. Nenhuma luz vinha de dentro. A única
iluminação de que dispunham eram as velas do castiçal carregado pelo
chaveiro. À medida que se aproximavam, ouviam latidos de cães que
pareciam vir de dentro da casa escura. Os latidos aumentavam cada vez
mais, até que chegaram à porta de entrada.

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O chaveiro, ainda inexpressivo, falou:
-Adiante se encontram três salas. Uma dá acesso à outra. Contudo, as portas
que dão acesso entre uma e outra estão trancadas. Tenho aqui uma chave
para cada um de vocês — disse erguendo quatro chaves douradas que
pendiam de cordões compridos — São Chaves Mestras, ou seja, a mesma
chave abre todas as portas. Ao passarem pela última porta, chegarão ao
santuário onde serão iniciados. Lá há um sino. Toquem-no oito vezes ao
chegarem lá e esperem.

Todos acenaram com a cabeça em concordância.

 Quem será o primeiro? — Perguntou o chaveiro oferecendo as chaves a


quem se prontificasse.

Todos ficaram parados por um instante. Os latidos vinham de dentro da casa,


isso era fato devido aos latidos incessantes que se ouviam de lá, e isso lhes
causava medo. O que encontrariam lá dentro? Um dos quatro novatos se
moveu adiante. Hugo não teve a mesma atitude e esperou.

 Eu! Quero ser o primeiro — disse o homem moreno e elegante que se


moveu adiante.

O homem pegou uma das chaves douradas e abriu a porta. Porém, o cômodo
que se mostrou estava totalmente escuro.

 Não tem nenhuma luz? — Perguntou ao chaveiro.


 Cada um pode levar uma vela. Use essa.

O chaveiro tirou uma vela do castiçal para dá-la ao homem. Mas antes de
entregá-la soprou sua chama apagando-a:
 Tome — disse o chaveiro ainda inexpressivo.

O homem titubeou ao receber a vela apagada. Que piada seria aquela? Não
teve coragem de perguntar ao chaveiro, pois pela expressão de seu rosto não
aparentava estar fazendo piada alguma. O homem inflou o peito e adentrou
o cômodo escuro.

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Os latidos aumentaram. O chaveiro fechou a porta que tinha sido aberta. Mais
latidos. Os segundos se passavam. Todos do lado de fora estavam apreensivos.
De repente ouviu-se um grito. Algo aconteceu.
Abrindo a porta desesperado saiu o homem com a roupa rasgada à altura do
ombro. Sua mão sangrava.

 Você está louco? Como poderei chegar ao final com tantos cães lá
dentro? Eu desisto! — disse ele ofegante ao chaveiro.
-Volte para o salão. Lá terá os devidos cuidados—disse o chaveiro sem mudar
a face.

O homem se retirou nervoso. Os restantes deram um passo atrás.

 Quem será o próximo?

Todos se entreolharam. O medo era visível. Hugo, de tão amedrontado, não


conseguia se mexer.
Rapidamente, os outros dois que lhe acompanhavam também se
entreolharam, e, sem dizer palavra, viraram-se e voltaram pelo caminho pelo
qual vieram, cabisbaixos e diminutos.
Hugo foi tomado pelo nervosismo. A desistência dos últimos dois homens o
abalou novamente tanto quanto ver o homem que saiu ferido da casa escura.
Não podia ser. Se empenhara tanto em superar seus receios para estar ali
naquela noite, e agora toda a vida fantástica que esperava viver lhe parecia
impossível diante daquela prova.

O chaveiro o encarou. Estendeu-lhe uma chave e disse:


 Se tens medo, não vais adiante.

Hugo refletiu brevemente. O que seria a sua vida a partir dali, se voltasse para
casa sabendo que falhara com a maior oportunidade que jamais tivera? A
vida que experimentaria ao desistir não lhe parecia melhor do que a que
poderia viver se conseguisse chegar ao final da prova, mesmo que ferido.
Respirou fundo, pegou a chave e entrou sem pegar a vela apagada que o
chaveiro lhe estendeu.

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No cômodo em que adentrou não parecia haver nada. A porta se fechou atrás
dele. A escuridão era sólida. Ali parado, ficou alguns segundos a ouvir os
latidos dos cães que lhe aguardavam no cômodo seguinte. O medo era
tanto, que pensou em voltar. Mas lembrou-se de Afim e pensou: "se ele
conseguiu, eu também consigo!". Caminhou adiante, tocou na maçaneta da
porta e ela se abriu. Estava ainda destrancada graças ao homem que tinha
se ferido.
Hugo adentrou o cômodo seguinte. Seu coração parecia estar batendo na
garganta. Os latidos eram furiosos e ele sentia que podia ser atacado a
qualquer momento. Seu corpo estava começando a paralisar-se novamente.
Pensava em tatear as paredes em busca de algum interruptor com o qual
pudesse acender a luz, mas os latidos o faziam recuar com as mãos. Ali
naqueles breves segundos de pé viu que os cães não o atacavam, embora
não parassem de latir. Aquilo lhe deu algumas gotas de conforto, mas sem
demorar-se, rumou na direção em que estava, caminhando lenta e
retamente. Hugo bateu sua testa numa superfície, que pelo som, parecia ser
de madeira. Ele não podia acreditar. Seria a porta que daria acesso ao
cômodo seguinte? Correu as mãos pela superfície e encontrou uma maçaneta.
Com as mãos tremulas pegou a chave, colocou-a na fechadura e a girou.
Estranhamente, a porta não estava trancada. Será que o candidato anterior
tinha conseguido cruzá-la? E se mesmo ao cruzá-la ele ainda tinha sido
mordido, será que ali haveria mais cães ferozes?
Após essa reflexão, o seu medo aumentou. Mas agora já era tarde para voltar
atrás. Avançou adentrando o próximo cômodo.
Ali não parecia haver mais cães. Fechou a porta e escorou-se de costas nela
como que se deitando. Sentia-se aliviado. Os latidos vinham de trás, o que lhe
aliviou um pouco, pois o próximo setor poderia não ser mais tão perigoso quanto
o anterior. Caminhou retamente mais uma vez, dessa vez com uma mão à
frente procurando alguma porta, e logo encontrou. Mais uma vez, usou sua
chave, mas a porta não estava trancada como pensava. Abriu-a e cruzou-a.

Ali, diante de seus olhos estava um caminho iluminado por velas. Seguiu
andando ainda trêmulo, e mais velas foi encontrando. Candelabros, depois
tochas e tudo agora estava nitidamente iluminado. Até que chegou

50
a um altar. Era a belíssima escultura de um corpo feminino seminu com
enormes asas abertas, que numa mão segurava uma serpente e na outra um
cajado que na ponta tinha formas desconhecidas circundando um cristal
ovalado. Na cabeça uma coroa de cinco pontas. Atrás dela havia flores e
arbustos de todos os tipos e cores. Aos seus pés estavam depositadas lindas
rosas vermelhas e incensos de aromas tão doces e florais que inundavam as
narinas de Hugo que se inebriava com seu perfume. Olhou para cima e viu
um sino dourado. Pegou o seu badalo e tocou-o com firmeza oito vezes.
Sentou-se no chão e esperou.

Os latidos foram reduzindo, até que cessaram. Atrás dele vinha o


chaveiro. Em seu rosto uma nova expressão. Parecia satisfeito.

-Meus parabéns, irmão! Conseguiu chegar ao altar de Inanna — Olhou nos


olhos de Hugo, tocou-lhe no ombro e continuou Ela é a deusa do amor, da
fertilidade e da sensualidade. Chegar até ela é a recompensa justa a todos os
homens, que por amor verdadeiro à mulher, conseguem caminhar na
retidão, pois reto é o caminho do homem de coração puro. Nosso poder
jamais será compartilhado com um homem que não tenha boas intenções e
uma conduta retilínea. Os oito cães que o receberam agora a pouco estavam
todos amarrados à parede. Poderiam morder-lhe caso se desviasse. Mas você
se manteve no caminho. Não havia luz alguma, e, ainda que pegasse uma
de minhas velas, eu haveria de apagá-la para que entendesse que você é o
único que pode encontrar o seu próprio caminho. Você enfrentou seus medos
e foi das trevas à luz. As chaves que eu tinha para dar a todos, não eram
chaves mestras. As portas nunca sequer estiveram trancadas. A única chave
que abre todas as portas na vida de um homem é a sua coragem e
determinação.

Hugo sorriu. Não sabia o que dizer, mas estava orgulhoso de saber que
passara num teste sagrado cujos significados lhe enalteciam tanto o
caráter.
O chaveiro continuou:
-O número oito representa o infinito. O sino representa a vitória e o
nascimento. Chegar aqui e tocá-lo oito vezes é morrer para o passado e
renascer para uma vida de infinitas glórias e conquistas.

51
Fez uma pausa e caminhou para o altar:
- Peguemos essas rosas — disse ele estendendo um ramalhete a Hugo —
vamos oferecê-las à nossa rainha. Você agora vai receber a energia da "Fila
das Mulheres". Nos ajoelhemos.

Hugo seguiu os movimentos do chaveiro. Ajoelhou-se aos pés de !narina, e


ainda sorrindo de satisfação, depositou seu ramalhete aos pés do
monumento.

-Agora repita comigo os votos que selarão o seu contrato de compromisso para
com o amor — Disse o chaveiro.

Hugo seguiu-o.

"Sagrada presença feminina que me ama e faz amar. Curvo-me diante de ti


para minha vida lhe ofertar. Assim como o fizestes por mim através de minha
mãe quando nasci. Renasço agora em teu seio, do sagrado feminino,
onipresente e onisciente, para o amor multiplicar. Pois teus são os meus
dias, teu és o meu sangue e o meu suor. Sei que estás em tudo e a ti prometo
o meu amor amando a tudo que criastes".

Levantaram-se. O chaveiro o abraçou:


-Seja bem vindo à Alcateia, irmão! — disse sorrindo a Hugo.

Dos pés de !narina, retirou um pequeno saco de couro para dar a Hugo. Ali
estavam os primeiros pergaminhos que poderia estudar.

O Rôgona, que ocorreu em outro ambiente da mansão, terminou no exato


momento em que Hugo e o chaveiro terminaram de voltar para o interior da
mansão. Os mestres, os membros e o único aprendiz se reuniram na mesma
sala de convenções.
Hugo foi conduzido pelo chaveiro para cima do palco. Lá, recebeu de seu
mentor Afim a faixa branca que agora lhe envolvia o braço direito. Ali
recebeu os aplausos de todos e quase chorou de tão emocionado. Todos
confraternizaram abraçando-se muito felizes. Após isso, foram então
conduzidos ao hall de entrada. Lá, cada membro antes de sair curvava-se

52
ligeiramente em direção à escultura do lobo cinzento, como que se
despedindo de uma entidade espiritual.

Terminara-se o evento. Lanto se dispôs a levar Afim e Hugo para o hotel em


seu Porsche. Durante todo o caminho, Afim e seu mentor conversavam
sobre suas últimas conquistas sorridentes e animados. Lanto inclusive tirou da
carteira fotos de algumas de suas mulheres. Hugo não podia acreditar, mas
aquele senhor de idade avançada já havia se envolvido com algumas das
mulheres mais célebres do mundo artístico. Algumas das mulheres com quem
ele se encontrava eram pessoas que Hugo jamais havia imaginado sequer
um dia se aproximar. Ao ver a surpresa no rosto de Hugo, Lanto lhe confortou
contando trechos de seu passado, que por sinal, não eram nada gloriosos.
Hugo confortou-se ouvindo partes da história de Lanto, assim como fizera
com a história de Afim. Ambos haviam saído do insucesso e alcançado o êxito.
Isso o enchia de esperança.

Passaram algumas horas no hotel a conversar. Hugo não conseguia dormir de


tanta empolgação. Lanto seguiu para a noite de Barcelona. O velho adorava
festas onde pudesse conhecer belas mulheres.

No dia seguinte, bem nas primeiras horas de sol, partiram para o


Aeroporto de Barcelona. Afim, belíssimo. Hugo, de olhos vermelhos, pois não
os fechara a noite toda.

Mais de dez horas os separavam de seu destino. Agora Afim escrevia seu diário
calma e silenciosamente. Hugo dormia de boca aberta na poltrona ao lado.
Precisava recarregar suas energias. Nos dias seguintes daria início a uma
incrível jornada rumo a tornar-se um Sedutor.

53
Pergaminho 1: Teoria do Homem Interno
Quem sou EU?

Todo homem vive a vida de dois indivíduos diferentes.

Um desses indivíduos é o Homem Externo. Provavelmente o único que muitos de


nós chegamos a perceber até o final da vida.

Esse é o homem que vivenciamos enquanto trabalhamos, estudamos, pagamos


nossos tributos e festejamos com nossos amigos.

Ele é resultado da educação que recebemos. Moldado pelo que a sociedade


ensina, ou seja, o comportamento de "manada" ou "rebanho". Realiza suas tarefas
sempre em modo automático sem prestar atenção e nem questionar o porquê das
coisas.

Até hoje o chamamos erroneamente de EU.

Já o segundo homem, tem um estilo de vida totalmente diferente do primeiro.

Sempre que o vemos, ele está sorrindo e brindando à vida. Claro! Ele é rico, e
cheio de amigos. Be simplesmente tem tudo aquilo que qualquer homem sempre
sonhou ter.

É um homem aventureiro e para ele nada parece impossível. Ele faz as coisas
mais ousadas que se pode imaginar. Coisas que o, até então, chamado EU,
jamais seria capaz de fazer.

Enquanto fazemos grandiosos esforços tentando conquistar aquela mulher em


especial, ele já a conquistou desde aquele dia em que nos encantamos por ela. E
desde então, sempre que o vemos, ele está na

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companhia dela, beijando-a, amando-a e recebendo dela todo o amor e
carinho que sonhamos receber.

Esse é o admirável Homem Interno. Aquele que usamos para viver as


aventuras que permeiam nossa mente, coração e nossos sonhos.

Estamos acostumados a pensar que o mundo externo é mais verdadeiro do


que o interno. Como se a realidade fosse tudo o que acontece fora da caixa
onde se encontra o observador. Essa é a ilusão que devora os anos das vidas
de milhares de pessoas, que por vezes, nascem e chegam à

morte sem despertar em si o poder divino que têm de criar a própria vida que
querem experimentar.

A essência da realidade é um segredo guardado há milênios. Poucos o


conheceram, mas quase todos os que o conhecem, fingem não conhecer.
Afinal, o poder da criação não o torna imune à fogueira nem à espada.

O que fazemos aqui fora acontece de verdade. O que o Homem Interno faz
também acontece. Porém, nossas ações podem ser vistas aqui, do lado de
fora. Já as ações dele, por enquanto só podem ser vistas do "Seu" lado de
dentro.

Ele vive uma realidade. Nós vivemos outra. Ele parece irreal, pois tudo o que
ele tem desaparece assim que acordamos pela manhã.

Mas se fosse possível escolher em que realidade viver... Qual


escolheríamos?

Essa aqui, onde tudo parece impossível, ou aquela, onde tudo o que se
pode sonhar já está lá, esperando por nós?

Não conseguiremos ir para lá, mas podemos construir tudo aquilo aqui.

55
Porém, conhecemos o limitado poder que temos sendo o Homem
Externo. A única pessoa no mundo que tem poder suficiente para
transformar essa vida num sonho lúcido é o nosso eminente Homem
Interno. Ele sabe como se faz, afinal, já o fez tantas vezes...

Agora me encho de ânimo! Trago-o para a superfície do meu ser e dou-lhe a


única oportunidade de que precisa. Que eu preciso.

Termina agora o Rascunho da Minha Vida que escrevi até agora!

O fracasso não mais será o tributo pago pelos meus esforços, pois a partir de
agora se inicia uma nova vida! Inicia-se um novo homem!

Não mais saberei a diferença entre o que verei ao fechar os olhos pela noite
e o que verei ao abri-los de novo pela manhã, pois construirei meus sonhos
pelas mãos daquele que os vive. Tirá-lo-ei de seu sono! Assumi-lo-ei! Sê-lo-ei!

Nova vida, novo homem! Aliás, ótima hora para escolher um novo nome!

Revestindo-me de todo amor, humildade e respeito, entrego minha vida


agora nas mãos de meu verdadeiro mestre.

Nele confiarei e seguirei à risca tudo o que me designar.

A derrota não mais será minha companheira, pois agora tenho minhas
mãos firmemente unidas às do meu experiente mentor.

Aceito os fracassos que a labuta há de trazer-me, porém não mais


aceitarei a derrota.

O fracasso é um degrau para a vitória. Já a derrota, é um estágio terminal que


só vive aquele que a aceita e prefere.

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O que diferencia um homem de vitórias de um homem de derrotas são seus
hábitos.

Bons hábitos constroem vencedores. Maus hábitos destroem o que quer que
os pratique.

Má saúde, tristeza, angústia, lágrimas, insucessos...

Até ontem essa era a colheita que tinha sendo escravo de meus maus hábitos
que eram ditados por meus impulsos.

Como passageiro de uma carruagem sem condutor puxada por dois cavalos
fortes, assim estava eu indo aonde quer que os meus cavalos me levassem. Eu
seguia a vida ditada pelos impulsos dos meus cavalos, que bebiam,
descansavam e corriam ao seu bel prazer.

Não mais permitirei tamanho descontrole.

Hoje sai de dentro da carruagem o homem que assumirá as rédeas desses


poderosos cavalos. Utilizando-me de suas pernas fortes, conduzirei por
caminhos novos e chegarei a distâncias que nenhum passageiro jamais
alcançou.

Sentirei com imenso prazer os afagos do vento no meu rosto, que até então
não podia sentir estando do lado de dentro.

Apreciarei a beleza do caminho que se abre até a montanha que demarca meus
objetivos certeiros e bem definidos.

Ninguém jamais tocará nas rédeas que agora seguro. Nunca mais seguirei o
caminho de ninguém além do meu.

Avisto ao longe o vertiginoso pico da montanha cuja luz me atrai, e é para lá


que estou indo. Mas entre mim e meu objetivo existem campos, florestas,
serras, rios e precipícios.

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Como farei para manter minha direção em meio a terrenos tão tortuosos e
que por vezes serão escuros?

Tenho agora comigo uma bússola. Bússola essa, cuja agulha aponta para o meu
polo magnético. Não o do mundo, mas o meu. Essa bússola que me orientará
são os meus novos hábitos. Minha disciplina.

Eu lerei cada pergaminho por 7 dias seguidos da maneira prescrita, antes de


passar ao pergaminho seguinte.

Primeiro lerei em voz alta ao acordar. Será o tom desse decreto que criará o
dia que vou viver.

Depois, o lerei de novo em voz alta ao meio do dia. Nesse momento hei de
refletir sobre o quanto apliquei daquilo que me propus ao levantar.

Por fim, antes de dormir, o lerei mais uma vez em voz alta. O tom desse
decreto ecoará em minha mente, fazendo assim parte de meus sonhos, de
maneira que não perderei meu foco, mesmo estando a dormir. Pois sei que
a consciência de um homem sábio é também sábia até mesmo enquanto
dorme.

No dia seguinte repetirei o processo todo outra vez e assim farei por mais 6
dias. Só então, abrirei o pergaminho seguinte e repetirei esse processo com
ele por outros 7 dias.

Continuarei assim até viver intensamente cada um dos pergaminhos por 7 dias,
construindo assim o meu primeiro novo hábito, que será a leitura e o decreto.

Essa singela atitude é o segredo escondido pelos poucos homens da Terra que
realizaram alguma coisa, mas que principalmente, se realizaram.

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A repetição dessas palavras e o eco de seus sons me empreguiçarão e se
tornarão parte da minha mente consciente, até que aos poucos, irão
tornar-se parte da minha outra mente, a inconsciente, que frequentemente
trabalha contra a minha vontade.

Tão logo meu lado inconsciente assuma esses novos condicionamentos, eles
passarão a ser a minha verdade. Não mais me lembrarei de meu passado
indigno, pois realmente, terei morrido para ele.

Esse é o início de um novo hábito. E assim será com os muitos novos bons hábitos
que virei a cultivar com os pergaminhos seguintes. E desse cultivo amoroso e
disciplinado colherei as frutas mais doces da árvore da sabedoria.

Cada novo hábito, uma nova colheita. Novas frutas, novos sabores.

Com a prática, colher as frutas mais altas e difíceis passará a ser natural, fácil
e prazeroso. E se prazer eu sentir, é normal que eu queira repetir.

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Pergaminho 2: O Corpo Fala
Essa é a verdade escondida por traz de quase toda falha ou sucesso
aparentemente inexplicável.

Aquilo que por vezes me sabota ou faz-me triunfar numa conquista, em


muito se deve ao uso que faço do meu corpo.

O pergaminho que lerei agora me traz do alto os detalhes que farão do meu
corpo uma poderosa ferramenta de comunicação.

Superestimada por aqueles que não sabem o que falam, a boca com suas
palavras é vista pelo homem comum como a mais poderosa arma de
Sedução. Contudo, mal sabem que a Sedução começa muito antes de se
começar a falar.

Desde o primeiro momento em que seleciono o meu alvo, estou a ser


avaliado por ela. O que falo, pode sim, fazer-me mais valioso aos olhos dela,
mas devo manter-me muito atento ao que o meu corpo fala de mim.

Os maiores erros da linguagem corporal são facilmente corrigidos com o


conhecimento da postura, dos gestos, das expressões faciais e de seus
significados.

"A naturalidade é mais importante do que a regra"

Essa anti-regra é a base desse conhecimento. Por vezes o Sedutor pode sentir-
se tentado a usar-se de seu conhecimento corporal em ambientes e situações
onde eles não são cabíveis. Logo, deve nortear-se pela naturalidade que seus
gestos apresentam. O natural é sempre bem vindo. O extravagante muitas
vezes não causa boa impressão.
60
O primeiro de todos os exercícios que devo praticar diz respeito ao que o meu
corpo fala enquanto estou simplesmente parado. Não posso jamais me iludir:
estou a dizer algo de mim mesmo enquanto nada estou a fazer.

De hoje em diante, por quantos dias forem necessários, praticarei a


"Postura de Parede".

Pela manhã, logo após abrir os olhos, me dirigirei à parede e nela, de


costas, conectarei meus calcanhares, nádegas, costas, os ombros em
especial e a parte posterior de meu crânio, acima da nuca. Ali
permanecerei no mínimo 3 minutos absorvendo a parede em minha
postura. A superfície fria da parede me fará mais consciente dos pontos de
meu corpo que à ela eu conectar. Sem exageros e atendo-me à
naturalidade.

Após esses minutos de incorporação, sairei da parede andando para frente


como se ainda estivesse com ela em minhas costas. Os pontos frios de meu
corpo me farão consciente da minha nova postura.

A postura ereta é responsável por demonstrar quase metade do valor de um


homem.

A atenção especial que dedicarei aos meus ombros se deve ao fato de eles
serem o centro da postura de todo corpo. Os ombros para trás trazem
consigo todos os outros elementos que por ventura persistam em manter-se
arqueados para frente.

O ombro fechado tende a arquear a clavícula e acorcundar as costas. Isso,


internamente, dificulta a respiração e o funcionamento dos órgãos. Já o
ombro aberto para trás termina por abrir meu canal posterior, dando-me mais
saúde e protegendo minha coluna vertebral.

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Externamente, os ombros abertos são responsáveis por efeitos na mente
feminina que poucos conhecem, mas que agem em seu subconsciente
inevitavelmente.

Os ombros fechados de uma postura arqueada indicam que o indivíduo em


questão é uma pessoa fechada, na maioria das vezes tímida e de baixa
autoestima. Já os ombros abertos de uma postura ereta indicam poder e
confiança. Com eles se obtém um respeito que pode transcender a idade ou
poder de um homem. Somente generais e cidadãos muito poderosos o utilizam.
Logo, frequentemente hei de ser considerado rico aos olhos de muitos, apenas
por incorporar em minha postura esse simples, porém poderoso, conceito de
postura.

A postura ereta traz consigo também a cabeça.


Uma cabeça baixa em direção ao chão é sinal de subserviência. Junto a isso
existe o fato de a posição da cabeça e dos olhos indicar a frequência de
pensamentos que dentro dela existem. Bons pensamentos conectam com o
alto. Os maus conectam às profundezas.

Contudo, a cabeça é responsável também pela primeira impressão que


causamos. Uma cabeça baixa força os olhos de um homem a olhar para as
pessoas de baixo para cima. Assim, ele indica que a pessoa à sua frente é mais
importante do que ele. Já a cabeça demasiadamente erguida empina o nariz e
o faz olhar as pessoas de cima para baixo. Logo, ele demonstra que julga
inferior a ele a pessoa com quem interage. Ambas as impressões não são boas.

Mantendo a cabeça reta, com o queixo no mesmo nível de retidão que o


chão, o indivíduo põe-se numa postura igualitária, onde ele mostra
respeito por quem o vê e principalmente respeito por si mesmo.

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Outro motivo para trazer minhas costas para trás é o fato de que durante uma
interação, aquele que mais se inclina em direção ao outro, muitas vezes
demonstra estar necessitado de sua atenção. Seja em pé ou sentado, devo
estar sempre atento ao quanto me inclino para dentro das pessoas, pois muitas
das vezes, posso reduzir meu valor para com os desconhecidos, ou até mesmo
repeli-los por demonstrar-me necessitado demais.

Com todo o canal posterior devidamente nivelado, algo de muito


importante acontece com a caixa torácica: ela se estica. Esse espaço que se
aumenta traz benefícios à minha voz. Essa voz que pode vir de uma
profundidade maior em minha barriga pode tornar-se mais grave, o que na
Arte da Sedução é tido como um elemento fundamental para se causar empatia
instantânea a partir do subconsciente alheio, além de propiciar uma melhor
penetração de frases de comando e sugestão hipnótica na mente feminina.

Quanto se pode dizer sem ao menos movimentar-se...

Das esculturas e pinturas de nossos maiores antepassados Sedutores, pode-


se aprender muitos outros conceitos valiosos antes de se dar o primeiro
passo.

As mais belas obras que retratavam a beleza humana e divina em quadros e


pedras entalhadas tinham por base um profundo conhecimento a respeito
de outros 3 fatores: ângulo, largura e profundidade.

As pernas de um homem dizem muito a respeito de sua sexualidade. Mais uma


vez, a mulher que recebe essa mensagem, não há de racionalizá-la com sua
mente pensante, mas há de entendê-la com sua mente oculta, a qual a
domina.

63
Até hoje, o homem que ao sentar-se relaxa o seu corpo e deixa o peito à
mostra, é ainda tido como o Cacique da tribo. Os espíritos não morrem,
apenas pulam para novos corpos com o passar dos anos. Por isso, ainda
carregamos em nossas mentes ocultas muitos dos valores que tínhamos na
antiguidade.

Relaxar-se, ocupar espaço, abrir-se, são todos fatores da postura de um


homem que está pronto para o confronto. Nele não há um vestígio sequer de
medo ou desconforto. Ele é o dono do lugar. É um líder natural e tem o amparo
de todos que o querem bem, e não devem ser poucos.

Por isso, de hoje em diante, devo a todo o momento olhar para meu corpo
e fazer-me a seguinte pergunta: estou aberto para o confronto como o
Cacique que sou? E dessa reflexão me alinharei para uma postura que, de tão
relaxada, poderá agir sobre minhas emoções, melhorando até mesmo o
nervosismo que por ventura estiver a sentir no momento. O corpo influencia
a mente. Se me agito com nervosismo, logo sinto desconforto dentro de
mim. Se me relaxo e diminuo a movimentação, logo sinto calma e
tranquilidade.

E em se falando de movimento, devo estar sempre atento à minha velocidade.


Todo movimento sedutor tem por base uma velocidade muito reduzida, inclusive
nos gestos mais simples, como por exemplo, levantar um copo ou o ato de
caminhar.

Existe algo na sociedade que chamamos de mimetismo, ou seja, é como a


habilidade de camuflar-se em meio à multidão. A pessoa que não quer
chamar atenção para si tende a agir imitando os movimentos dos outros que
à sua volta estão.

Disso tiro a máxima: meus movimentos em terra devem ter a mesma


velocidade de meus movimentos debaixo d'água.

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O último ponto que pode tornar minha imagem mais bela diz respeito ao ângulo.

Existe um ângulo conhecido somente pelos maiores artistas, o qual de tão poderoso
é chamado de "divino", devido ao fato de nada explicar o porquê de tanta atenção
chamar.

É o ângulo de 45 graus.

Encarando uma pessoa de frente, com meu corpo totalmente voltado em sua
direção, estou a vê-la e a ser visto em O grau. Se eu me imaginar no centro de uma
circunferência com essa pessoa sendo um raio, posso dividi-la em mais 7 raios
formando assim uma circunferência com 8 partes de 45 graus. Ao encarar a mesma
pessoa sem interromper nosso contato ocular, mas com meu corpo voltado à
próxima parte dessa circunferência imaginária, estarei com meus olhos a O grau,
mas meu corpo a 45, o que fará de mim inexplicavelmente mais belo, assim como as
esculturas dos deuses gregos mais imponentes.

A abertura de um corpo pode fazer um acesso místico à memória das vidas


passadas de outras pessoas.

Nos tempos mais remotos em que ainda éramos uma sociedade tribal, éramos
guerreiros indígenas. Viver numa tribo nem sempre era tão pacífico. Existiam
tribos rivais que a qualquer momento podiam invadir nossas terras. As florestas
eram a nossa casa e existia o risco de sermos atacados por animais selvagens.
Esse clima nos deixava em constante alerta e por isso, todos os índios viviam em
guarda com suas lanças em mãos. Tinham a postura um pouco mais arqueada de
maneira a protegerem-se e a atacar ao menor sinal de perigo. Contudo, só existia
um índio dentre todos que podia sentar-se de peito aberto e reclinar-se em total
relaxamento: o Cacique. Se alguém o atacasse, ele como líder, tinha todos os
outros índios da tribo para lutarem por ele.

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Até hoje, o homem que ao sentar-se relaxa o seu corpo e deixa o peito à
mostra, é ainda tido como o Cacique da tribo. Os espíritos não morrem,
apenas pulam para novos corpos com o passar dos anos. Por isso, ainda
carregamos em nossas mentes ocultas muitos dos valores que tínhamos na
antiguidade.

Relaxar-se, ocupar espaço, abrir-se, são todos fatores da postura de um


homem que está pronto para o confronto. Nele não há um vestígio sequer de
medo ou desconforto. Ele é o dono do lugar. É um líder natural e tem o amparo
de todos que o querem bem, e não devem ser poucos.

Por isso, de hoje em diante, devo a todo o momento olhar para meu corpo
e fazer-me a seguinte pergunta: estou aberto para o confronto como o
Cacique que sou? E dessa reflexão me alinharei para uma postura que, de tão
relaxada, poderá agir sobre minhas emoções, melhorando até mesmo o
nervosismo que por ventura estiver a sentir no momento. O corpo influencia
a mente. Se me agito com nervosismo, logo sinto desconforto dentro de
mim. Se me relaxo e diminuo a movimentação, logo sinto calma e
tranquilidade.

E em se falando de movimento, devo estar sempre atento à minha velocidade.


Todo movimento sedutor tem por base uma velocidade muito reduzida, inclusive
nos gestos mais simples, como por exemplo, levantar um copo ou o ato de
caminhar.

Existe algo na sociedade que chamamos de mimetismo, ou seja, é como a


habilidade de camuflar-se em meio à multidão. A pessoa que não quer
chamar atenção para si tende a agir imitando os movimentos dos outros que
à sua volta estão.

Disso tiro a máxima: meus movimentos em terra devem ter a mesma


velocidade de meus movimentos debaixo d'água.

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Um movimento lento tende a roubar a atenção das pessoas. Mais atenção
é uma maneira de destacar-se. Essa exposição me torna mais belo, pois
subcomunico através disso que tenho dentro de mim conforto suficiente
para ser visto por muitas pessoas sem acanhar-me por isso.

Um lento caminhar adiciona valor à minha imagem pelo simples fato de


eu não estar correndo atrás de nada, como fazem todos os outros na rua.
Estou lento a caminhar, estou apreciando o passeio. Tenho paz interior.
"Por que será que esse homem não corre como os demais? Será que ele é
tão importante que o mundo pode esperar por ele?"

Num centro público com centenas de pessoas diferentes, todas as que ali
correm e se movimentam com pressa no mesmo ritmo, numa imagem de
macro, estão a fazer um papel. Contudo, não é um papel de protagonista.
São pessoas, mas não têm o papel de personagens. Têm o papel de
cenário.

Aquele que tiver um comportamento diferente de todos, mesmo que


sutil, acabará por chamar a atenção. Será então o único personagem dali.
O simples fato de reduzir minha velocidade torna-me personagem em
ambientes comuns onde as pessoas estão agitadas, como festas, por
exemplo. Por ser o único personagem do lugar, sou disparadamente um
dos homens de maior presença. Maior presença, maior atração.

Outra parte do mimetismo social diz respeito aos vícios de postura. Esses
pequenos gestos viciosos são de certa forma uma válvula de alívio para a
pressão social que o indivíduo sente, ainda que não se dê conta
plenamente.

As mãos nos bolsos indicam timidez. Logo, quanto mais dedos fora dele
eu puser, mais confortável parecerei estar. Os braços cruzados também
fecham minha postura. Logo, ao soltá-los, assemelho-me mais a um
Cacique por mostrar meu peito. O copo que ergo à altura do peito,

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embora sutil, demonstra medo, pois o uso como escudo para esconder-me
atrás dele. As mãos nas alças da bolsa também indicam que não sei o que
fazer com minhas mãos, o que mais uma vez subcomunica desconforto.
Olhar para o relógio com frequência torna-se também um costume vicioso,
pois já sabemos se estamos atrasados ou não, mas mesmo assim
conferimos o relógio, sendo que muitas vezes, se no instante seguinte um
estranho nos pergunta as horas, não sabemos lhe dizer qual é, pois não
consultamos o relógio para nos informar, e sim para cumprir com um vício de
postura.

A partir de agora, em qualquer ambiente farei a mim mesmo a seguinte


pergunta: como estaria se agora estivesse na sala de minha casa? Com essa
reflexão tirarei de minha linguagem corporal qualquer vício de postura,
porque no conforto de meus aposentos sei que nada disso faço, pois lá estou
seguro e á salvo de qualquer pressão social.

Quem me ver após isso, verá que estou relaxado, com meus braços
pendendo naturalmente ao longo do corpo, confortável comigo mesmo e com
o ambiente que me rodeia.

Por último, mas não menos importante, devo saber o que o meu rosto fala
de mim enquanto está a se comunicar.

Muitas pessoas recebem o título de "Símbolo Sexual", contudo, o que


significa tal título?

Símbolo Sexual é a pessoa que traz pensamentos de sexualidade à mente


alheia. Pessoas por quem a maioria que as vê nutre desejos sexuais. Como
Sedutor que sou, é natural que eu seja desejado sexualmente.

O que então pode trazer desejos sexuais às mentes de quem me vê?


Minhas expressões faciais.

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Minha boca e meus olhos são realmente muito perigosos. Por isso, devo saber
a hora certa de usar cada expressão.

O olhar Sedutor tem o nome de semicerrado, ou seja, semifechado. O olhar


que uso sob a luz do sol para proteger-me de seus raios não é o olhar que
devo expressar. Esse olhar usa minhas têmporas e minha testa franzindo todo
meu rosto num apertar de meus olhos. Essa expressão exige que eu force os
músculos de minha face, e aqui se encontra mais um segredo: tudo que eu fizer
usando força torna-me menos atraente, e isso vale para tudo que faço, seja
corporalmente ou até verbalmente. Então, o olhar que procuro é fechado,
porém de extrema leveza. É também conhecido como "olhar sonâmbulo",
pois é aquele que fazemos quando fechamos os olhos levemente num ambiente
de pouca luz, e em seguida, levemente os abrimos utilizando somente as
pálpebras e mais nenhum músculo. Sem chegar ao final, por volta da metade de
sua abertura total, podemos agora usá-los para olhar o alvo. Com muita
naturalidade.
A boca sedutora tem o nome de semiaberta, pois não chega a fechar-se
completamente. Nem por isso mantém-se aberta com o queixo a cair, como
fazem os débeis mentais. Apenas relaxando os lábios, deixando-os levemente
próximos, mas sem terminar o fechamento da boca.

Com os lábios e pálpebras relaxados acontece a magia. Minha expressão


fadai se completa e dela surgem ideias de sexo.

Pode parecer infundada a ideia de que alguém que me veja a usar tal
expressão facial venha a associar-me com sexo, mas agora vejamos o que a
ciência da Programação-Neuro-Linguística tem a dizer.

Nessa ciência, vemos que para o cérebro humano, descrever é igual a


dirigir. Logo, tudo aquilo que demonstramos, seja com palavras ou até
mesmo sem elas, está a comandar aquilo que os outros virão a pensar ou

69
sentir. Assim sendo, a face com lábios e pálpebras relaxados descreve algo:
o momento de um beijo ou de um êxtase sexual.

Tal expressão, embora não traga explicitamente tal memória, a traz de


maneira inconsciente. No momento em que estamos a fazer amor, entre um
beijo e outro, os amantes se olham com total relaxamento e entrega. Logo,
quando traços sutis desse momento meu rosto carregar, inevitavelmente
descreverei algo que fará as pessoas à minha volta sentirem uma forte
presença sexual.

Exemplo dessa descrição e direção é a maquiagem feminina.


Nos períodos de ovulação é que a mulher se encontra mais fértil e mais
propensa ao sexo. Nesse período, o fluxo sanguíneo aumenta, logo, a pele de
seu rosto torna-se ligeiramente mais corada e seus lábios também se
avermelham levemente levando o rosto da mulher a transformar-se. Sem saber
disso, as mulheres quando querem atrair o desejo sexual masculino, maquiam as
têmporas com pigmentos avermelhados e passam em seus lábios batons da
mesma cor. O que fazem com isso, não é apenas um exercício de asseio e
cuidados pessoais, mas também, um truque de presença sexual, pois no
inconsciente dos homens que as veem, a maquiagem imita e até exalta o
mesmo estado em que ela se encontra quando está fértil e propícia ao sexo.
Novamente, não se trata de um pensamento explícito de sexualidade, mas
sim, de algo que age no subconsciente.

Infinitas são as atitudes, expressões e até palavras que posso utilizar para
causar os mesmos efeitos de presença sexual na mente feminina.

O corpo de uma mulher também fala, e entender sua linguagem é de


fundamental importância para minha arte.

70
Seu corpo pode indicar-me o interesse ou o desinteresse que tem por
mim.

Assim como o ímã e o metal, um corpo que se direciona à outro está


dominado pela atração. Logo, se uma mulher estiver com a postura aberta em
minha direção, sei que algo de magnético existe entre nós. Mesmo que seja
quando ao sentar-se, ela apontar com os pés na minha direção. É o efeito da
bússola que aponta para aquilo que deseja.

Quando ela leva a mão aos cabelos para arrumá-los, quando ela alinha os
adornos que carrega, quando ela simplesmente toca a si mesma com uma
frequência maior, como que se coçando, posso saber: é interesse.

A mulher é tão divinamente amparada, que muitos dos fatores aqui


aprendidos já são automaticamente implantados em sua mente desde o
momento de seu nascimento.

Algumas conhecem até mesmo o ângulo divino, sem sequer nunca terem
ouvido falar dele. Quando uma mulher está atraída por um homem, ela
naturalmente procura o ângulo de exposição que melhor lhe permitir ser
visualizada. Geralmente é o de 45 graus.

Algumas conhecem o princípio do personagem e do cenário e põem-se a


destacar-se dos demais para chamar nossa atenção, também naturalmente.
Às vezes, reduzindo sua velocidade, às vezes até mesmo aumentando sua
voz.

Quando eu tiver plena consciência do que falo com o meu corpo, estarei apto
a receber as mensagens ocultas emitidas pelas mulheres, pois muitas vezes, o
que elas emitem inconscientemente é o mesmo que eu emito
conscientemente.

71
Pergaminho 3: Abordagem
Do céu só caem raios e galhos de árvore secos.

Jamais houve sobre a Terra Sedutor que tivesse êxito com as mulheres sem
ter que abordá-las. Por vezes elas podem até ter a atitude de tentar um
romance com um homem, porém, isso seria contar com a sorte. Já eu, que sou
criador de minha vida, sei que não posso contar com esse fator. Devo contar
apenas com aquilo que depende do meu esforço e não da graça dos deuses,
pois até mesmo eles, não têm o hábito de presentear aquele que não faz por
onde de ser merecedor.

O segredo para se ter ao lado as mais belas mulheres do mundo é simples: ir


lá, e pegar o que lhe pertence. Contudo, essa atitude não parece ser tão simples,
pois é inevitável sentir a venustrofobia, ou seja, o medo de se aproximar de
uma bela mulher.

Incontáveis são os homens que, dia após dia, morrem de amores por
mulheres que passam a vida inteira sem saber do amor que por elas
sentem. Esses homens levam para o túmulo seus desejos mais ardentes,
quando para o mesmo ataúde poderiam estar a levar as lembranças de uma
vida plena de amor, se assim tivessem a coragem para construí-la.

Sei que a realidade mais doce que posso degustar me espera lá fora.
Construi-la e vivenciá-la é a minha responsabilidade, e jamais hei de me iludir
pensando que tal maravilha me cairá do céu. Portanto, abordarei!

Assim se cria mais um novo, sagrado e saudável hábito: a abordagem.

A Sedução não começa quando vou para a caça. Começa quando abro meus
olhos pela manhã. O caçador não é o personagem que visto quando me
apronto para uma festa. É o resultado dos meus genes e de minhas atitudes.
Assim como o lobo, que não escolhe ser predador somente

72
quando sente fome. O realizador nesse mundo, independente de que área escolhe
para empreender, é sempre aquele que almeja, fareja e busca aquilo que
deseja, com tamanho foco e ferocidade, que seu objetivo não vê outra
alternativa, senão realizar-se. Nada resiste à Atitude.

Na Arte da Sedução, a abordagem que mais se assemelha à abordagem do lobo


sobre sua presa é o Estilo Direto. Nesse estilo, o alvo não tem dúvidas a
respeito da intenção -que o Sedutor lhe projeta.

A abordagem direta consiste em ser transparente com a mulher a respeito de suas


intenções desde o início da interação, utilizando-se de linguagem corporal e verbal
para fazê-la saber o que se pensa.

É ideal para alvos que se encontram sozinhos, pois para uma mulher que está só,
pode ser desconfortável ficar na presença de um desconhecido sem saber o real
motivo de sua presença. O que também é uma vantagem para o Sedutor, pois se
ao abordar ele vai direto ao ponto e ela o rejeita, nem ele nem ela perdem
tempo. Já se o contrário acontece e ela o aprecia, ele percebe que ganhou o
tempo que teria que investir trabalhando pela sua afeição.

O ponto falho da abordagem direta é que, devido à sua natureza fulminante, o


Sedutor tem pouco tempo para mostrar qualidades atraentes ao seu alvo. O
que pode facilitar-lhe a rejeição, pois uma mulher intimidada por alguém que não
lhe seja atraente tende a fugir. Já o Sedutor que tiver o conhecimento da
Postura e da Linguagem Corporal, consegue subcomunicar essas qualidades com
seu corpo e usar sua boca para conduzir os assuntos, usando-se de dois canais, o
que lhe poupa tempo.

Um Sedutor, seja ele direto ou indireto, deve ter em sua mente a seguinte verdade:
"não tenho a obrigação de fazê-la gostar de mim". Ele jamais se preocupa com o
resultado de sua interação, pois sabe que o romance para

73
acontecer, depende não somente dele, mas também dela, e essa parte lhe foge
do controle. Nunca se é possível saber todos os motivos pelos quais uma
mulher pode não gostar de um homem. Às vezes, seu rosto é idêntico ao de
algum inimigo dela, ou ela não gosta de homens, ou está simplesmente de
mau humor.

Estar preso ao resultado de uma interação é a principal maneira de se tornar


um Sedutor Paralítico. Por querer saber o que vai acontecer após sua
abordagem, ele não aborda. Trava-se com medo de falhar, não toma
nenhuma atitude, e consequentemente não tem romance algum em sua vida.

Muitos homens dizem não ter problemas na hora de abordar, mas sim, na
hora de manter uma conversa. O que eles não percebem é que estão a iludir-
se, pois quando sentem que não conseguirão conversar, já nem iniciam uma
interação com uma desconhecida. Novamente, o problema não é a habilidade
de conversar, e sim, a incapacidade de abordar.

Outro fator que acorrenta um homem à sua zona de conforto é a timidez.

Assim como a Venustrofobia, a timidez não tem caminho fácil para se


combater. Aliás, ambas são como uma rocha enorme posta no meio de um
corredor estreito. Não existe acesso lateral que lhe permita passar por ela
confortavelmente. É preciso escalá-la e passar por cima dela com esforço, para
só então ver-se o que há além.

A timidez de um homem é proporcional à sua Zona de Conforto. As tarefas


normais que executamos em nossas vidas nos desprendem uma certa
quantidade de desconforto. Porém, não percebemos esse desconforto porque
estamos habituados a ele. Esse perímetro onde nossas atitudes ainda são
confortáveis é o que chamamos de Zona de Conforto. Tudo aquilo de novo que
experimentamos realizar, termina por expandir essa zona a cada novo
desconforto. Logo, quanto mais coisas

74
novas e desconfortáveis tivermos coragem de realizar, maior se tornará essa
zona e logo, nada mais será capaz de abalar nossa tranquilidade, pois tudo
nos será confortável.

Assim é com as belas mulheres. Num primeiro instante é realmente difícil


simplesmente estar próximo a elas. Mas com o tempo e a prática, estar em
sua presença não mais causa aflição. Até mesmo o ato de abordá-las torna-se
natural e fluído, permitindo assim, que o Sedutor assuma sua natureza de
caçador a qualquer momento do dia.

Quando a Ansiedade de Aproximação eu sentir, me firmarei nos meus pés e


tomarei consciência de meus passos, estando presente no meu corpo físico.
Perceberei a sensação que me toma, e a classificarei como um desconforto
comum, tal qual uma cólica intestinal, que me incomoda e desanima, mas que
não me impede de trabalhar.

O direto está habituado a elogiar as mulheres, contudo, diferente do pedreiro


que faz seus elogios estando distante no alto de uma construção, o Sedutor
tem a coragem de fazer os mesmos elogios de frente à uma mulher, com total
coragem e olhado-a nos olhos. Essa atitude destemida faz parte do cartão de
visitas de um homem de verdade, pois essa masculinidade se apresenta à
mulher de uma forma tão firme, que ela o respeita, e na maioria das vezes,
embora se intimide, também se atrai.

O simples gesto de dizer a uma mulher o quanto seu vestido lhe cai bem, para
muitos pode consumir tanta coragem, que pode também parecer impossível
de se fazer. Mas que diferença faz... Um elogio sincero muda o dia de uma
mulher, porém mais do que mudar o dia dela, muda também os genes do
homem que o proferiu, pois ele se torna cada vez mais destemido à medida
em que pratica o ato de falar aquilo que pensa sem medo da reação dela.

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Um belo romance pode ter seu início com o simples gesto de um homem dizer
a uma mulher que jamais viu olhos tão bonitos em toda a sua vida. Quantos
romances deixam de florescer diariamente pela simples ausência de uma
atitude assim...

Contudo, por diversas vezes uma bela mulher não estará sozinha.
Comumente as mais belas se encontram integrando outros grupos de
pessoas também desconhecidas.

Nesse momento se vê a astúcia de um caçador, pois sua ovelha se encontra


em meio a um rebanho. Conhecedor da Linguagem Secreta, o Sedutor pode se
comunicar exclusivamente com o seu alvo sem que ninguém mais além dele
e dela se dê conta da Sedução que entre eles se manifesta. Mas em alguns
casos, essa comunicação pode ainda encontrar dificuldades em ser
estabelecida, o que o leva a tomar novas atitudes.

Em casos como esse, a abordagem direta pode ser a pior forma de se


abordar um alvo porque as amigas e amigos que estão a circundá-la
também se intimidam com a investida, tornando-se verdadeiros
obstáculos, pois eles farão o possível para que ela não seja atingida.

Uma mulher jamais deixará de prestar atenção em suas amigas para


prestar atenção em um desconhecido. Assim sendo, ou esse homem
encontra maneiras de desarmar essas amigas, ou encontra maneiras de não
ser um desconhecido. Ambas as maneiras parecem não existir, mas é justamente
nisso que consiste a Arte da Sedução: criar.

A Arte de se desarmar obstáculos é também conhecida como Dinâmica


Social.

Se ao abordar uma mulher que está em meio a amigos, essas pessoas tendem
a trabalhar contra nosso amor, devo então começar por fazê-las trabalhar a
meu favor, tornando-as aliados.

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Com a Linguagem Corporal Indireta, posso alinhar o meu corpo
ligeiramente para fora do grupo, sem apresentar-me totalmente de frente
para eles, de maneira a não declarar intenções de nele adentrar,
parecendo que estou de passagem. Somado a isso, devo ter sempre na
manga uma desculpa que tornará minha passagem aparentemente anda mais
rápida, como por exemplo, estar atrasado para me encontrar com os meus
amigos que estão logo ali.

Posso usar qualquer assunto para abrir um grupo de pessoas, mas por
base, pode ser uma pergunta de opinião, como também pode ser um
simples comentário situacional. Independente do assunto escolhido, ele deve
ser dirigido a todo o grupo, de maneira que ninguém se sinta excluído da
conversa e venham assim a me absorver melhor, pois sei que se algum dos
obstáculos se sentir excluído ou desconfortável em minha presença, logo
acionará os outros que se voltarão, fazendo assim com que eu seja o
excluído.

Após a primeira resposta do grupo, é importante que eu retome o quadro


lançado pela abordagem de maneira a reforçar a interação com todos e
assim, firmar de uma vez por todas a ideia de que não estou em busca de um
alvo específico, e que tampouco tenho a intenção de desuni-los, mas sim de
interagir com todos.

Desde o início, o meu alvo já deve estar claramente selecionado em minha


mente.

Com o decorrer dos assuntos, demonstro minhas qualidades atraentes ao


grupo todo, como se não estivesse a seduzir alguém em específico. Logo,
quando esse grupo inteiro por mim se fascina, sou parte dele. Não são mais
meus obstáculos e podem agora trabalhar a meu favor.

Posso finalmente escolher aumentar o nível de contato com o alvo


selecionado e mover-me de lá com ela para um lugar mais reservado onde

77
possamos nos conectar mais profundamente, sem que haja a
interferência de ninguém.

Via de regra, grupos mistos, com homens e mulheres são raros. Geralmente
as mulheres se reúnem preferencialmente com outras amigas mulheres.
Contudo, em grupos onde há a presença de outros homens, é válido dar
atenção primeiro a eles, pois eles quase sempre se sentem na condição de
autorizar o acesso às mulheres do grupo.

Dominar um grupo de pessoas traz consigo a vantagem de enaltecer a


liderança e a dominância do homem que o domina. Logo, qualquer mulher
desse grupo passa a admirar esse homem, que consegue o apreço de todos e
se instala como o Cacique da tribo. O alvo não foge à essa lei e tende a atrair-
se.

Porém, todo o processo da Dinâmica Social depende de tempo para ser


realizado. E nisso mora a má fortuna de um Sedutor Indireto, pois durante todo
o tempo de sua interação com um grupo, o seu alvo pode sair e perder-se
em outros lugares ou grupos.

A segunda parte de se lidar com situações grupais é quando não afetamos o


grupo transformando obstáculos em aliados, mas ao invés disso,
encontramos uma maneira de parecermos conhecidos.

A mente feminina funciona através de gavetas onde guarda imagens e suas


respectivas emoções devidamente etiquetadas.

O desconhecido desperta o sentimento da hostilidade simplesmente por ser


uma pessoa cuja imagem apresenta uma etiqueta nunca antes vista. Então,
como mudar essa etiqueta de maneira a obter uma imagem de conhecido?

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Toda mulher tem uma gaveta mental onde guarda imagens dos homens que
já rejeitou na vida. Cada uma dessas rejeições tem uma etiqueta.

A etiqueta comum que define o homem mais rejeitado, é aquela que se dá


quando o homem a olha muito brevemente, se põe a andar na direção dela, lhe
diz algo com medo e em seguida introduz algum assunto nada interessante. A
parte mais desastrosa desse tipo de abordagem se dá quando o homem
demonstra-se desinteressante através daquilo que fala. Porém, para a maioria
das mulheres, a parte mais fácil de memorizar desse desastre é justamente a
aproximação, e não o assunto falho. Logo, quando ela vê qualquer homem
aparece de maneira retilínea em sua direção, ela rapidamente acessa a
lembrança dos outros tantos que foram mal sucedidos. Todos começaram da
mesma maneira. Cada um teve um assunto diferente para condenar-se. Disso,
o cérebro feminino tende a reconhecer o padrão que mais se repete, que é o
da aparição retilínea, e tende a classificá-lo como sinal de que uma péssima
abordagem está por vir. Não somente o alvo, mas também todas as outras
mulheres do mesmo grupo podem também ter o mesmo sistema de
arquivamento mental. Logo, as chances de sucesso de um homem que se
aproxima do nada em direção a um alvo protegido, são sempre menores por
mais que ele saiba conduzir uma boa conversa após apresentar-se.

Tenho nesse pergaminho agora o conhecimento elaborado pelos maiores de


todos os caçadores.

Se a imagem do reto caminhar é o gatilho que dispara a má lembrança,


posso assumir uma imagem diferente. Não somente em meu caminhar, mas
principalmente em minha expressão facial.

O desconhecido olha com os olhos que apreciam aquilo que nunca viu
antes. Já o conhecido tem um olhar tremendamente diferente.

79
Quando amigos distantes se veem novamente, após décadas separados,
ambos se confundem ao verem os rostos um do outro. É uma expressão facial
de confusão na qual ambos tentam acessar a memória de seu passado
tentando encontrar a semelhança dos rostos atuais com os rostos antigos que
têm arquivados em suas mentes.

Essa é a expressão facial que me põe distante da gaveta dos rejeitados. Para
começar, não é uma caminhada, é uma parada. Paro com os meus pés
abruptamente como se estivesse surpreso e a reconhecê-la de algum lugar. Em
seguida, cerro meus olhos ligeiramente, como que focando um pouco mais a
minha visão de maneira a conferir imagem com lembrança. Também posso
levar a mão ao queixo exprimindo a ideia de confusão enquanto reforço isso
com um leve tombar de minha cabeça para um lado como se estivesse a
pensar. Essa expressão facial de "acho que te conheço...", deve ser treinada
no espelho, pois se bem executada como um verdadeiro ator,
inevitavelmente desperta sobre meu alvo a dúvida em questão. Assim, ela se
torna muito mais receptiva, pois estará agora curiosa para saber se já me
conhece.

No canal da Linguagem Corporal, essa técnica surte efeitos imediatos.


Contudo, no canal da Linguagem Verbal, ela pode ser ainda melhor
incrementada, se eu lhe perguntar "como foi a sua semana?", ou "o que me
conta de novidades?".

Nesse momento em que a voz completa a dúvida previamente causada pelo


corpo, os obstáculos que ali estiverem vão se desarmar
instantaneamente. Afinal, ninguém quer praticar a grosseria de
interromper uma conversa entre duas pessoas que já se conhecem.

Os assuntos seguintes podem revelar que ambos não se conheciam


realmente, mas apenas o simples fato de se contornar obstáculos e

80
impedir seu alvo de colocá-lo na gaveta dos rejeitados, já contribui, e
muito, para que a interação tenha sucesso.

Sabendo agora as maneiras mais efetivas de se abordar uma mulher, devo ter
em mente que num mesmo ambiente, eu posso não ser o único caçador.

Estou plenamente consciente do homem valioso que sou e tenho em


minhas mãos as ferramentas que podem fazer da minha arte a obra mais bela
do mundo. Contudo, jamais devo subestimar os homens que não conheço.
Eles podem ser também homens de alto valor, e por isso, podem se tornar
grandes concorrentes.

Na Sedução existe uma verdade elementar: "quem compete perde".

A abundância é a lei da vida. Logo, a competição é uma lei antinatural,


pois sugere que para cada um vencedor, há pelo menos um perdedor.

Como Homem Interno e divino que sou, devo me distanciar de tudo o que vai
contra o fluxo da vida. Assim sendo, quanto mais distante me mantiver da
competição, mais próximo estarei da riqueza e da plenitude.

Muitos caçadores se põem a digladiar entre si competindo pela afeição das


mesmas mulheres de um determinado ambiente. É como se não houvesse o
suficiente para todos.

O Mestre Sedutor não é aquele que vence todos os seus concorrentes. É


aquele que caça aonde eles não caçam, criando assim, um veio de
abundância para si mesmo. Tal qual o urso, que percebe ter menos peixes para
si quando está junto aos outros que também pescam no mesmo trecho do
riacho, mas que se usando de sua inteligência, procura novos trechos e novos
rios para pescar.

81
Muitos são aqueles que caçam em meio às festas. Porém, quantos são aqueles
que caçam em meio às prateleiras de um mercado? Talvez nenhum. Então é
para lá que eu vou!

À exemplo do urso pescador, devemos lembrar também do maior dos pescadores:


o homem.

O homem tornou-se o mais sofisticado dos pescadores por conhecer os hábitos de


sua presa, o peixe. Por estudar o comportamento de seu alimento, terminou por
criar maneiras de cultivá-lo, para que nunca mais tivesse que pescá-lo. Ao
contrário do urso, o homem conseguiu usar a sua inteligência para criar sistemas,
aonde os peixes entram, mas não conseguem sair. Ali se desenvolvem e na hora
certa são conduzidos para o abate.

Assim é com o Sedutor que conhece os hábitos das mulheres. Ele se utiliza da
Engenharia Social para criar oportunidades que tragam para perto dele novas
mulheres, as quais ele não precisará abordar, pois inevitavelmente o conhecerão.
Exemplo disso são os anfitriões que cedem suas casas para que nelas se façam
festas. As mulheres que lá forem, irão conhecê-lo através dos amigos em comum
que irão querer apresentá-las a ele. Logo, ele acaba por criar o seu viveiro de
novas mulheres.

Novamente, o Mestre Sedutor não é aquele que melhor aborda, mas sim, aquele
que cria as oportunidades que o farão ser abordado.

Com o devido conhecimento da Moeda do Verdadeiro Homem Rico, o Sedutor


firma contatos sólidos que o põem sempre no lugar certo, na hora certa. E ele é a
pessoa certa.

A partir de hoje, não mais me negarei ao impulso que me atrai para perto das
mais belas mulheres. Quando a "Ansiedade de Aproximação" me atingir, hei de
trocar seu significado para "Alarme para Agir".

82
Não mais me prenderei ao resultado de uma interação, pois sei que assim, nem
mesmo uma interação serei capaz de iniciar.

Como poderei conviver comigo mesmo, se pela noite, no meu diário eu só


puder escrever as histórias dos romances que nunca dou início? A
vergonha há de me tomar, e logo, meu diário será minha fonte de
motivação, pois como grande amigo que é, não me permitirá construir uma
vida de fracasso e procrastinação.

De hoje em diante, não terei a meta de abordar uma mulher por dia, mas em
verdade, não deixarei de dizer aquilo que quero a nenhuma que me despertar
interesse.

83
Pergaminho 4: Atração
Inúmeros antigos tentaram filosofar a natureza da atração e seus efeitos.

Que força é essa que move e aproxima corpos, desde as partículas


atômicas mais desprezíveis, até os mais titânicos planetas orbitam o Sol?
Giram anos e anos, com tamanho peso e velocidade, que me intriga que não
consigam atirar-se sozinhos espaço afora ou espaço adentro.

Que força é essa que move, aproxima e repele homens e mulheres, desde as
mais desprezadas castas da plebe, até as mais sultânicas famílias reais? Giram
em torno de semelhantes de mesma medida, mas que por vezes se unem a
corpos distantes, tanto em grandeza quanto em semelhança.

Essa é a força da Atração!

Força essa, que nas palavras de um cientista, não passa de uma grandeza
vetorial. Mas que na sabedoria de um Sedutor, é tida como um elemento
natural.

No mundo sólido de um homem externo e racional, os elementos que se pode


perceber são apenas 4.

Já no mundo divino de um homem interno e criador, pode-se perceber


elementos que até então não se dava atenção, mas que nem por isso
tornam-se menos reais.

O amor é a matéria prima que produz tudo aquilo que vemos e que não
vemos.

Já a atração é a força que une as partículas da matéria que o amor produz,


tornando-as sólidas e inquebrantáveis.

84
A observação desse aspecto da natureza universal é o segredo escondido por
trás das conquistas mais admiráveis dos maiores de nossos ancestrais
Sedutores.

A abelha não escolhe amar ou odiar a flor. Simplesmente sente-se atra ída por
seu aroma, cor e forma. Vai ao seu encontro apaixonada, mas de maneira
nenhuma teme pela rejeição de sua amada, pois seu frágil corpo está
permeado pela atração, que de tão natural, é correta e irrecusável.

O beija-flor dispõe dos mesmos pratos dos quais a abelha se serve, porém seu
corpo, também leve e frágil, supera em muito o peso da abelha, obrigando-o
a manter-se longe de sua flor amada, de maneira a não machucá-la.
Contentando-se apenas em beijá-la distantemente.

Ainda belo e sedutor, o beija-flor observa invejoso a abelha pousada sobre a


flor, que em sua total sorte e merecimento, pode tocar com 6 mãos a pele
de sua amada, mergulhar-se em seu perfume, contemplar de perto cada
milímetro de sua anatomia e embriagar-se com seu doce sabor.

Da natureza conflituosa das emoções humanas, surge o princípio chave que


orienta o sedutor sagaz:

"Não te deitarás com uma rainha se não fores um rei"

O Verdadeiro Sedutor sabe adaptar seu tamanho como amante e também o


de sua amada, de maneira que tanto ele, quanto a flor que ele aprecia, possam
unir-se, estando a abelha inteiramente na flor e estando a flor inteiramente
na abelha.

Essa habilidade de harmonização de valores sociais é o que faz do Sedutor um


elemento chave na criação: enquanto o amor cria as partículas e a atração
as une tornando sólidas, o Sedutor pode adicionar a flexibilidade.

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Por vezes me deparei preso ao olhar de uma bela dama. Que de tão linda e
fulgurante, parecia-me impossível de seduzir. Tal qual a mariposa noturna,
que deseja a luz, mas não se atreve a desejar a Lua. Talvez por julgar-me
pequeno demais.
Se ao menos eu fosse um conde, barão ou ministro._

Acabou!

Muitos foram os anos que passei iludido, julgando-me indigno das


maiores conquistas.

Ela pode ser muito mais do que uma bela e cobiçada dama. Ela pode ser uma
rainha. Mas eu não preciso temê-la, nem mostrar-me intimidado com seu
porte e beleza, pois eu sou um rei.

E de posse de tal poder posso ser compatível com qualquer dama que eu deseje,
pois esse reino é meu, assim como tudo o que nele há! Desde o pequeno
punhado de terra que agora seguro em minha mão, até as águas do rio que
corre por detrás da serra ao longe. Tenho parte nisso tudo! Sou filho do poder!
Sou dono da riqueza!

A partir de agora, quando a uma dama me dirigir, irei avaliar nossos


valores.
Devo estar sempre consciente de que o que atrai um semelhante é quase
sempre um outro semelhante. Portanto, não posso esperar deitar-me com
a rainha, sendo eu um plebeu. Precisa ela tornar-se plebeia ou preciso eu
tornar-me rei.
Tal ofício da Arte da Sedução chama-se Harmonização.
Consciente de quem é meu Homem Interno, estou seguro de que sou
digno do amor de qualquer mulher que eu deseje. Porém, sei que o

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homem que elas verão, será a princípio, o meu Homem Externo. Homem
Externo esse, que só pode atrair mulheres cujo valor seja igual ao dele.

Mas meu externo pode ainda não condizer com meu nobre interior. Como
poderia qualquer imagem expressar a imensidão de meu ser? Devo então
externalizá-lo, sabendo que elas irão atrair-se por ele inevitavelmente.

Surge agora um novo e saudável hábito: o hábito do diário.

Ele será agora o meu companheiro inseparável, e ao final de todas as


noites com ele me reunirei.

Ao final de cada dia nele escreverei tudo o que fiz, vi ou pensei. Com total
disciplina.

Um dia chuvoso que me obrigue a passá-lo em casa não será desculpa para
nada escrever. Pois simplesmente a experiência de passar um dia dentro de
meu corpo, pode-me ser rica o suficiente para dela tirar incríveis lições,
desde que a cada minuto eu lhe preste a devida atenção.

As histórias que de mim mesmo contar a ele serão as mesmas que


contarei a elas. Tornando-me um Sedutor cada vez mais autêntico, pois não
precisarei jamais valer-me de mentiras para conquistá-las. Não preciso ser
ninguém além de mim mesmo. O meu Eu já basta.

Quando ao meu próprio diário eu for capaz de contar as histórias que me


fascinarão por mim mesmo, estarei pronto para contá-las também às
mulheres, que por sua vez o mesmo fascínio terão por mim.

Demonstrando a elas o homem que sou, assim como farei ao meu diário,
harmonizarei os meus valores tornando-me tão nobre aos olhos delas como
elas já são aos meus. O plebeu torna-se um rei.

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Porém, a harmonização não se resume somente ao meu valor. Há também o
dela. Seu valor pode ainda estar a ofuscar-lhe a humildade que precisará para unir-
se a mim.

Nesse momento me lembrarei do menino que sou.

Elevada em seu alto pedestal, uma dama pode ser inatingível para a maioria
dos homens. Tamanha distância os separa, fazendo desistir até mesmo os mais
persistentes que se cansam de olhar para cima.

Bajulam-na e adoram-na pensando que com isso a farão descer a fim de escutar
mais de seus galanteios baratos. Porém, mal sabem eles que a cada doçura
proferida, mais alto ela sobe e mais distante fica do solo em que pisam.

Agora tenho o conhecimento capaz de fazer qualquer dama descer de seu pedestal a
fim de pisar o mesmo solo que eu piso.

Se a cada elogio mais alto ela sobe, irei agir ao contrário subtraindo pedaços de
seu pedestal a cada brincadeira que eu fizer. E para brincar com ela, devo
chamar a minha criança.

Tão logo eu perceba que a arrogância de uma mulher a põe distante de mim,
irei dizer-lhe tudo aquilo que um homem amedrontado não diria. Sem medo de
zombá-la pelo nariz que se mexe enquanto fala, pela voz esganiçada que tem,
pelas mãos grandes, pelos cabelos em desordem, ou pelos pés de galinha que lhe
aparecem enquanto sorri. Porei em cheque tudo o que a faz sentir-se perfeita, e
com isso a farei perceber que perto de mim ela é mais humana do que de
costume. Trazendo-a de volta ao nível do solo, onde finalmente podemos nos
amar. A rainha torna-se plebeia.

Contudo, o excesso de harmonização pode trazer a desarmonia.

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Fora da linha do equilíbrio nosso romance não pode acontecer. Eu não devo
estar mais alto do que ela, senão ela também não me alcançará. Devo então
saber não gabar-me demais de mim mesmo para não demonstrar-me mais
esnobe do que nobre, e também saber o limite de minhas brincadeiras, para
não rebaixá-la ou passar-me por infantil.

A abelha e a flor se tornam um só. Uma não é mais importante do que a outra.
.
Importante agora só Ihes é o amor.

89
Pergaminho 5: A Moeda do Verdadeiro Homem
Rico

O poder é realmente o maior afrodisíaco que existe, e como sedutor que sou,
preciso conhecê-lo muito bem.
Os montantes de ouro escondidos nos baús dos ricos nada mais são do que
um símbolo de seu poder. Mas por vezes o poder de um homem rico se
manifesta sem que ele precise apresentar moeda alguma. Percebo hoje a
diferença entre um símbolo e o seu verdadeiro poder.
Até ontem era pobre, pois baseava meu poder na moeda que movimenta o
mundo externo. Mas como poderia o ouro ser valioso o suficiente para cobrir
as numerosas transações que meu Homem Interno há de fazer? Nem
mesmo todos os diamantes mais rosados de toda a África poderiam custear a
obra que tenho a realizar sobre a Terra.

Mesmo que eu pudesse deter e ostentar todo o ouro desse mundo, tamanho
símbolo não seria nada mais do que uma mínima fração de meu verdadeiro
poder, que por ser divino, é infinito.

Ao contrário das moedas que o rico precisa esconder em cofres, minha


moeda não precisa de nenhum esconderijo, pois mesmo que a cobícem e
desejem, ela não pode ser levada de mim numa sacola. Ninguém me pode
subtraí-la.

O verdadeiro poder de um homem se vê na influência que ele tem entre


aqueles que podem realizar os objetivos que ele tem em mente. Ele sabe que
ser amado é a verdadeira fortuna. Pois desse amor e apreciação que têm para
com ele, surge-lhe todo o amparo e providência de que precisa, seja ela
humana, financeira ou até divina.

90
Contudo, devo saber a diferença entre a influência e a exploração para com
essas pessoas. Na primeira, utilizo-me do que tenho à disposição. Realizo
meus objetivos com a ajuda de outros que também enriquecerão com as
minhas ideias. Na segunda, induzo-as a fazerem o que quero tendo em vista
somente o meu ganho sem me importar com o coletivo. A exploração por sua
vez, é a mais egoísta de todas as manifestações do poder, estando,
portanto, contra o fluxo da verdadeira riqueza, tendo assim vida curta e
graves consequências.

Tenho agora nesse pergaminho o segredo oculto por trás da vida abastada dos
maiores avatares da história. É o segredo da conexão. Segredo esse que é
sustentado por 3 pilares principais.
1. Alma

O verdadeiro homem rico traz já no seu olhar a centelha que o distingue dos
demais: antes de enxergar sócios ou amantes, ele enxerga pessoas.

De hoje em diante, a cada nova interação, meu diálogo não mais se


baseará na busca de fatos sobre a vida de alguém. Os fatos serão somente a
porta pela qual adentrarei suas almas, para então, após recebido, poder
conhecer como são dentro de si. Tal qual fiz comigo mesmo, deixando de ser
externo a mim para tornar-me interno e íntimo.

Estando eu desperto, devo compreender que muitos dos que comigo


cruzarem estarão dormindo para a realidade. Enxergando a si mesmos da
mesma maneira que um dia eu mesmo me enxerguei. Não sabendo dizer
quem são se deles lhes retirasse o nome, a descendência, a pátria, a
religião, a escola, a cor e a profissão. Não se julgando ser nada mais do que
os fatos de suas vidas.
Estou seguro de que por vezes iremos conversar sobre sua família,
estudos ou trabalhos que fazem para ganhar a vida. Porém, ater-me a

91
esses fatos e explorá-los em meus assuntos fará de mim apenas mais um
estranho que lhes atravessou o caminho. A diferença se fará no momento em
que eu me interessar sobre como se relacionam com esses fatos. O que
sentem a respeito e como interagem com esses fatos. Só então saberei
como são como seres humanos.

Conheço uma professora. Posso perguntar-lhe o quê leciona, onde


trabalha, à qual faixa etária ensina, há quantos anos se ocupa disso. Assim
sustento vários minutos de conversa, mantendo-me educado e distante de
seu coração. Nessa postura estou apenas a cruzar-lhe o caminho.

Ela só sentirá que estamos andando juntos, quando do mesmo assunto eu


extrair aquilo que supera a realidade de um fato: aquilo que ela sente e é.

Conheço uma professora. Posso perguntar-lhe se ama sua profissão, o quê lhe
dá mais prazer em exercer sua função, se aquilo era seu real sonho e vocação
desde a infância. Be se sentirá a professora mais importante do mundo.
Nenhuma dessas respostas me poderá ser dada sem que nelas ela ponha pelo
menos um pouco do sopro de sua alma.

Conheço uma estudante. Poderia perguntar-lhe o que estuda, onde


estuda e há quanto tempo estuda. Mas sei que com isso me manteria
apenas à soleira de sua porta. Perguntar-lhe-ei então, se aquilo que
estuda é a carreira de seus sonhos, se é aplicada ou preguiçosa, que
diferença sente na sua vida após ter se iniciado nessa disciplina, como
descobriu essa paixão. Assim sento-me nas poltronas de sua sala.

Conheço uma comerciante. O faz pelo dinheiro ou pela alegria e liberdade de


trabalhar para si própria? Se pelo dinheiro, o que realizará após consegui-
lo? Se pela liberdade, que coisas gostosas faz com a liberdade que tem?

92
A pessoa que comigo conversar por um minuto, há de fascinar-se por si
mesma.

Um novo nível atingirei em minhas interações. Pois posso enxergar


através das máscaras das pessoas. E se minhas próprias máscaras eu
retirar, teremos então um canal puro e cristalino onde meu Homem
Interno poderá brilhar, pois permitirei que a pessoa interna diante de mim
também se manifeste.

2. Risco

Definitivamente não estou só a cruzar-lhe o caminho. Se nos conhecemos,


alguma importância haveremos de ter um para o outro. Senão, nosso
encontro seria mera obra do acaso.

Um homem medíocre trata as pessoas de maneira covarde. Importa-se tão


pouco com elas que não assume o risco de dizer-lhes a verdade, ou o que
pensa. Por vezes mente e omite, pois tem medo de perdê-las ao usar-se de
sinceridade. Mal sabe ele que por assim pensar já está a perder. Pois mesmo que
elas permaneçam em sua vida, nunca chegarão a ter um nível de significação
nela. Que riscos poderiam elas tomar por ele, se ele mesmo não assume
risco nenhum por ninguém?

Enquanto interajo dizendo somente aquilo que ela gostaria de ouvir,


posso lhe ser agradável, mas com certeza não lhe serei importante.

O risco de que aqui falo é o risco de perder sua afeição. Por vezes poderei
sentir-me tentado a mentir e concordar com tudo o que diz de maneira a
tentar me aproximar. Mas isso ainda seria mascarar a minha verdadeira
identidade. Assim sendo, as máscaras dela também não terão porque cair.
Continuaremos então como dois estranhos a conversar.

93
Mas eu me importo com as pessoas! Eu arrisco! Sei que para ganhar é preciso
estar disposto a perder!

Assim como o amigo que aprecio por tratar-me com sinceridade, serei também
apreciado por aqueles que, como eu, preferem uma verdade a um tapinha
falso nas costas. A sinceridade pode não ser a mais agradável das minhas
qualidades, mas com certeza mostrará para aqueles que me ouvem o quanto
me importo com eles. É a conduta que tenho especialmente para com
aqueles que amo.

Jamais temerei perder o apreço de uma pessoa usando-me de falsa


concordância com aquilo que me apresenta. Logo, se admito nossas
incompatibilidades, tornamo-nos mais compatíveis, pois as paredes se
derrubam, o que nos permite conexão.

Tendo em vista também os limites do ego alheio, agirei com cautela de maneira
a não machucar-lhes com minhas palavras. Sabendo a finíssima linha que
separa um amigo de um inimigo: ambos nos dizem verdades que os apenas
colegas não diriam. Mas um nos diz o que diz para no fim ver-nos bem. Ou
outro nos diz o que diz apenas para vem o nosso fim.

3. Troca

Nessa dimensão em que também vivo sei que tudo aqui se faz baseado numa
lei: a lei da troca.

Ninguém aceita bem aquilo que vem de graça.

Um bom conselho dado por um amigo pode não parecer tão valioso quanto
o mesmo conselho comprado de um conselheiro.

A abundância de minha vida me impele a dar e compartilhar minha riqueza


com todos à minha volta. Porém, sei que dela não farão grande proveito
enquanto dela receberem se por ela nada derem.

94
Portanto troco!

Por vezes peço. Então prontamente comprometo-me a retribuir aquilo que


recebo.

Por vezes ofereço. Nesse momento me recordo de que a generosidade


gratuita é a verdadeira generosidade. Porém, a generosidade justificada, é a
única que entendem. Posso dar-lhe algo, mas certamente saberá porquê lhe
dei. Logo não terá sido simplesmente dado, mas retribuído em troca daquilo
que me destes. Portanto lhe terá valor.

Dessa ajuda, circulação e troca, termino por firmar nossos laços e eles irão
embasar a relação que teremos por todos os anos que se seguirem. Por mais
que as décadas nos distanciem em tempo e espaço, ainda teremos algo a
lembrar daquilo que trocamos no passado, e saberemos que podemos
contar um com o outro sempre, pois haverá muito de mim contigo e muito
de você comigo.

Porém a troca à qual me refiro, é em essência aquela que não perece com
tempo, tal qual o anel que hoje lhe dou, mas que amanhã pode estar
envelhecido e enferrujado.

Troco com todos aquilo de mais duradouro que tenho: eu mesmo.

O valor da riqueza está na necessidade de quem a recebe. O valioso


conhecimento que tanto me interessa, pode para o outro que o detém, ser
apenas a escória daquilo de que dispõe. Então ofereço-lhe daquilo de que
disponho em troca daquilo que não lhe falta. Ambos damos e recebemos
aquilo que não nos custa, mas que nos conecta e enriquece.

O mesmo conhecimento que passarei a ter fará parte do meu valor que
cresce. Tornando-se assim, meu capital. Dele posso investir em outras

95
pessoas que ainda não o têm, mas que por ele dariam-me mais daquilo que
necessito. Seja essa necessidade uma moeda ou um favor.

A todo tempo estamos numa constante troca. Um viajante pode dar-me


transporte a longas distâncias. Para ele não custa nada colocar-me ao seu lado
em sua carruagem. Posso em outro dia ser seu anfitrião. Para mim não custa
nada hospedá-lo em minha casa. Trocamos novamente aquilo que não nos
custa, mas que nos enriquece e poupa nossos poderes materiais.
Assumimos um risco um com o outro. Juntos somos ricos.

Desses débitos, favores e saldos torno simples conhecidos parte de minha vida.

Os maiores avatares da história realizaram as maiores das obras terrestres sem


nelas investir um dobrão de ouro sequer. Ouro esse, o qual muitas vezes
passaram uma vida inteira sem tocá-lo com a mão.
Olhando de longe o grande quadro da minha vida, vejo que cada pessoa nele
é um ponto. Porém pontos dispostos aleatoriamente não compõem belas
figuras. É a conexão entre eles que forma os traços, ângulos e figuras que
põem sobre a tela toda a beleza, felicidade, liberdade e abundância da vida
que tenho. Tornando esse quadro minha mais bela obra de arte que
transcende a alma de quem em minha presença também a olhar.

Tenho e compartilho emoções humanas. Sou o homem mais rico do


mundo.

96
Pergaminho 6: Tudo Entre Eu e Ela é Secreto
Quer saber o que vou fazer com ela? Não vai saber. Ninguém nunca sabe.

Para quase todo homem, seu maior prazer não é conquistar uma bela
mulher, e sim, contar a todos que a conquistou.

Assim é com o Homem Externo. Ele se sente nutrido com a admiração das
outras pessoas e passa sua vida a divulgar suas façanhas. Pouco lhe
importa a exposição que fará das mulheres que nele confiaram.

Comigo não.

Eu sou o Homem Interno. Sedutor que se alimenta de amor somente, e que


não se nutre do ego. Auto-satisfeito, não preciso da aprovação de ninguém.
Logo, não vejo a necessidade de soltar aos quatro cantos meus gritos de
vitória. Vitoriosa já é minha vida em sua constância e meus sucessos
interessam somente a mim. Aquele que mais fala, é o que menos conquista.
Aquele que mais conquista, é o que menos fala.

Sei que por vezes serei protagonista de façanhas heroicas e de conquistas que
poderão me sublimar sobre os humanos comuns. Aplausos, confetes e
serpentinas! Mas para quem? Para meu ego somente.

Homem de poucas palavras, porém das palavras certas. Em minha


linguagem não há desperdício. Somente efeito. Sutil, suave, eficiente.
Capaz de caçar a ovelha mais rodeada do rebanho, sem que ninguém
além dela se dê conta da minha ação.

No pergaminho que agora leio, encontram-se os segredos por trás dessa


qualidade tão rara e tão desejada pelas mulheres: discrição.

97
As mulheres não são tão difíceis quanto se pensa. Em verdade, muito do que
elas não aceitam, não aceitam simplesmente por saberem que outras pessoas
ficarão sabendo. Elas não querem ser julgadas e por isso, tendem a aceitar
com maior facilidade aquilo que lhes propomos em reservado.

Desde o momento em que a vejo pela primeira vez estamos a nos


comunicar. A língua perdida mais utilizada e ao mesmo tempo menos
conhecida pelo ser humano permite-me conversar claramente com as
mulheres. Muitas irão me entender. Mas aquelas que não o conseguirem,
ainda assim reagirão da maneira que eu propuser.

Comunicar que sou discreto utilizando-me de silêncio é um grande


desafio. Porém, é também uma belíssima arte, a qual chamamos
"Comunicação Secreta".

A Comunicação Secreta é fundamentada em dois pontos:

Contato ocular e Toque.

Os olhos são a janela da alma. Muitas vezes os portões da alma.

Ninguém jamais olha duas vezes para algo que não lhe interesse. Assim
sendo, uma mulher jamais olha duas vezes para um homem que não lhe
tenha despertado algo.

Toda mulher sente uma profunda necessidade de ser apreciada.

Se ao entrar num ambiente qualquer, uma mulher me olha nos olhos


brevemente duas vezes, ela está disponível e quer ser abordada.

Tendo isso em mente, o primeiro olhar pode ainda ser um esbarrão de


olhares, mas o segundo demonstra que ela quer saber se ainda está sendo
olhada. Ou seja, meu olhar é importante para ela.

98
Assim sendo, posso ter total confiança antes de minha abordagem. Devo
abordar toda mulher que me interesse, tendo ela olhado para mim ou não.
Contudo, minhas chances de rejeição serão muito menores quando me dirigir
a uma mulher cujo olhar eu já tenha capturado pelo menos duas vezes.

Outra coisa importante sobre olhares diz respeito à duração do Contato


Ocular.

Dificilmente um homem consegue fixar seu olhar nos olhos de uma mulher
por muito tempo. Algo de desconfortável parecer querer transbordar e
acaba fazendo-o desviar. Os olhos de uma mulher são um portal místico pelo
qual poucos conseguem passar. E os que passam dificilmente saem ilesos.

Mas o que acontece àquele que mantiver o Contato Ocular? Sua


recompensa será proporcional ao desconforto superado.

Manter um Contato Ocular com uma mulher desconhecida é algo que precisa
de tanta coragem, que tende a ser o cartão de visitas de um homem de
verdade.

Contudo, encará-la por longos períodos ainda não quer dizer coragem. Às
vezes, muito pelo contrário, acaba por demonstrar falta de atitude. Ele tem
coragem suficiente para manter o olhar, mas não tem coragem suficiente
para aborda-la.

O Contato Ocular atinge o seu pico entre o quarto e quinto segundo. É nesse
momento que a abordagem deve acontecer.

Até o 2' segundo ela percebe que há algo acontecendo. É um Indicador de


Interesse do homem, pois ele indica que aprecia aquilo que vê.

99
No 3' segundo, ela identifica uma intenção dele. E se ela mesma conseguir
manter-se no mesmo Contato Ocular até então, isso é um Indicador de
Interesse da parte dela. Estão agora conectados. Ela também tem sua
coragem testada, pois a mesma sensação de desconforto começa a afeta-la.
Uma pressão começa a criar-se entre os dois.

No 40 segundo ela passa a admirá-lo pela coragem. Não importa a beleza desse
homem. Ela aprecia o que vê e já sente algo de força nele. Não é todo dia
que uma mulher vê um homem de tamanha coragem.

No 5° segundo, quando o homem se dirige à mulher e a aborda, é como ver


uma cena épica. Coragem e atitude se fundem tornando o momento mágico,
pois se aproveita muito da pressão criada e mantida até então.

Porém, logo no 6' segundo de Contato Ocular, se o homem não se dirige à


mulher, ela pode se decepcionar. Um homem que a aprecia mas não a aborda
é o tipo que ela não precisa em sua vida. Falta-lhe a Atitude, que por si só
descreve mais da metade do valor que uma mulher busca num homem.

Já a partir do 8° segundo, ela pode pensar que esse homem tem más
intenções. Tal qual o sequestrador que mira sua vítima e a aterroriza por
vários segundos, esperando o momento de sua maior fragilidade para
cometer seu crime.

A arte do Contato Ocular não depende de medidas. O Sedutor não precisa


contar os segundos calculando sua conquista. Ele apenas a olha
destemidamente e cria pressão com isso. Ele sente a conexão
acontecendo, o contato evoluindo, e sabe que o que ele sente é
provavelmente o mesmo que ela está a sentir. Passando de um simples
esbarrão de olhares a um Indicador de Interesse mútuo.

100
Se por ventura a situação não permitir uma abordagem instantânea logo após
o olhar mútuo, é viável que se interrompa o contato para retomá-lo
posteriormente, de preferência no momento em que surgir uma
oportunidade de abordagem. Preserva-se a pressão e mais sensações ela
pode criar e vivenciar durante os próximos minutos. O que contribuí muito
para a magia que se dará no momento da investida.

O olhar de um Sedutor é como a faca, que pode ser boa no preparo de


alimentos ou no esculpir de uma madeira, como também pode matar
qualquer um a quem lhe atravesse a carne do corpo. Pode ser usado para o
bem ou para o mal.

Os maiores de todos os Mestres da Sedução sabiam de verdades


metafísicas que punham em contradição as leis do mundo material.
Utilizando-se somente de seus olhares poderosos, eram capazes de seduzir
mulheres sem lhes proferir sequer uma palavra. Por vezes, esse mesmo olhar
era capaz de carregar consigo a energia que curava doentes, e que outras
vezes fazia pombas caírem do céu em pleno voo.

Um dos mais antigos e poderosos olhares de que se tem notícia consistia em


simplesmente focar-se num olho apenas, No esquerdo, mais precisamente.
O olho esquerdo de uma mulher faz conexões com as partes de seu cérebro
que mais utilidades têm para o propósito de seduzi-la. Ao se prestar atenção
à sua respiração, o Sedutor que conseguir sincronizar o seu respirar com o
dela enquanto a olha no globo esquerdo, criará uma conexão profunda, a qual
comprovará a eficácia dessa técnica milenar.

Um olhar é muito mais que uma imagem. É também um canal de


transporte. Transporte de energias e de sentimentos.

101
O olhar que marca um Sedutor na mente de uma mulher e que por vezes a
faz querer devorá-lo, não consiste somente na posição de suas pálpebras.
Consiste no que ele está a pensar enquanto a olha.

Durante os segundos em que estiverem conectados por suas pupilas, o


Sedutor deixa fluir seus pensamentos e sentimentos. Visualiza-se
praticando o amor e o prazer junto dela, deixando-lhe fluir à mente
imagens de paixão, e permite que esse sentimento tome toda força possível.
Ela vê em seus olhos aquilo que se passa dentro dele. Consegue sentir a
energia do romance que ele já está a viver dentro de si mesmo. Para ele
aquilo se torna tão real, que não é como estar pensando. É como estar criando.

Em suma, o romance que se sucede por fora foi antes perfeitamente


desenhado e vivido por dentro primeiro. Quando o Sedutor percebe o poder
disso, liberta-se de todo e qualquer pensamento de mau agouro, pois as
possibilidades que habitam sua mente passam a ser somente as melhores. Ele
se percebe como criador da realidade que vive. Logo, do treino da devida
mentalização durante o Contato Ocular, um novo mundo se cria e a vida do
Sedutor torna-se tão doce quanto um sonho lúcido.

Os mais antigos de nossos ancestrais Sedutores utilizavam a visualização de


raios em cores especificas que eles mentalizavam com diferentes
finalidades no transporte de energias às pessoas que os recebiam.

Na Arte da Sedução, há o desafio de se fazer uma mulher que está de costas


virar-se para frente sem sequer tocá-la ou chamá-la pelo nome. Basta
visualizar um raio de cor laranja indo de suas pupilas até a cabeça dela. Com a
prática desse exercício, a habilidade de se tocar pessoas à distância tende a
envaidecer aquele que o pratica, pois a partir de então, nenhuma mulher que
lhe interesse consegue passar sem comunicar-se com ele através do olhar.
Secretamente.

102
Por último, mas não menos importante, o segundo pilar da Comunicação
Secreta diz respeito ao corpo, em sua proximidade ou até mesmo em
toques.

As permissões de contato corporal que uma mulher concede a um homem


expressam claramente suas intenções para com ele.

Assim como o ímã e o metal, os corpos humanos não se tocam o seu


aproximam sem que haja atração entre eles. Disso, tiramos valiosas
lições na arte do amor.

Quando uma mulher está próxima a um homem, devido à visão periférica


que ela tem, ela muito provavelmente já o viu, mesmo que ainda não
tenha feito Contato Ocular. Em sua mente oculta, ela já sabe se ele
tem ou não chances com ela. Algo muito simples de se fazer é testar
essa possibilidade aproximando-se dela indiretamente.

Ela está em frente a uma tenda apreciando roupas para comprar. Ele
está por perto e a viu. Ela provavelmente também o viu. Se ele
simplesmente se aproxima como que também está analisando o mesmo
que ela, ele terá dela uma resposta perfeita sobre as possibilidades que
tem, Ela pode afastar-se sutilmente, o que indica menos chances, mas
não o impede de seduzi-la. Ou, ela pode permanecer no mesma lugar,
consciente de que ele se aproxima, mas sem distanciar-se dele.
Assim sendo, no subconsciente dela existe algo a favor daquele
homem. Em ambos os casos, a resposta que o Sedutor recebe é a mais
sincera possível, pois não se trata de algo que ela pensou antes de falar.
Ela não fala, mas reage. A resposta do corpo é a melhor de todas, pois é
a que vem da mente oculta da mulher, que é mais sincera e espontânea
do que sua mente racional.

Em casos onde a presença do homem já foi devidamente detectada pela


mulher que não se afastou, um próximo passo pode ser o toque. Se como
quem não quer nada ele permitir que seu corpo toque o dela como num

103
esbarrão prolongado e sutil, ela demonstra ainda mais interesse por ele, pois
além de permitir-lhe a proximidade, está agora também permitindo algo mais
físico. Esse toque pode ser o leve tocar de uma perna na outra enquanto
estiverem sentados lado a lado como desconhecidos numa
carruagem, ou o leve toque dos cotovelos enquanto viajam. Até mesmo o leve
roçar dos quadris enquanto olham juntos na mesma direção para algo que
estejam a apreciar. Tudo isso é comunicação.

O contato físico, seja ele de toque ou de proximidade, quando intercalado com


Contatos Oculares, cria e sela de uma vez a Comunicação Secreta. Ninguém
mais naquele ambiente se dá conta do que está a passar-se entre os dois.
Mas eles podem até estar a sorrir.

Verdade simples: sem o toque, não há conforto. Desde o princípio da


interação devemos nos tocar, sutilmente ou não. Se ela não estiver
acostumada ao meu toque de mãos ou corpo, não permitirá o toque de meus
lábios.

Por fim, o verdadeiro Sedutor sabe comunicar-se diretamente somente com


seu alvo mesmo que estejam em meio a outras pessoas. Ele é apreciado por
sua discrição. Contudo, é mais apreciado ainda pela sua Atitude.

Nessa hora, surge o chamado Isolamento, onde o Sedutor move-se com seu
alvo para um lugar mais reservado no qual ele possa efetuar a conclusão de
sua conquista. Ela pode apreciá-lo pela sua coragem e discrição, contudo,
mesmo que ele tenha a Atitude de abordá-la, ela pode ainda rejeitá-lo.
Porém, quase tudo o que uma mulher rejeita, ela só rejeita por estar
conectada com o externo.

Isolando-se com ela num local adequado, poderão agora conversar sobre si
mesmos e em maior profundidade. Não haverá nenhum acanhamento

104
por parte dela, pois de nada poderão julgá-la se ela não mais estiver sob o foco
da atenção alheia.

O comando que a isola pode muitas vezes ser dado quando o Sedutor se move
sozinho para outro espaço. Eles já estavam a conversar mudos antes, agora
indo para outro lugar, ela tende a segui-lo para que possam falar com suas
bocas. Outras vezes, após a abordagem, alguns minutos de conversa seguidos de
uma sugestão verbal para que caminhem também termina por isolá-los
devidamente.

Em suma, o Mestre Sedutor não é aquele que tem na ponta da língua as


melhores palavras. É aquele que só usa sua voz como último recurso.

E para terminar, a conduta de um Sedutor Discreto, não diz respeito


somente ao momento de Seduzir uma mulher. Essa conduta se firma no pós-
conquista. É a í que se consagra o maior de todos os amantes, pois quem o
conhece não sabe quem são ou quantas são suas mulheres. Ele não se
vangloria contando de suas conquistas a ninguém.

Ele sabe da verdade ancestral: quem come quieto come mais e sempre.

105
Pergaminho 7: Eu Arrisco
O que muitos consideram um fechamento é na verdade uma abertura. É um
novo romance que se inicia. Portanto, considerar um beijo como um
fechamento é sugar de um romance toda a glória que virá a seguir.

Nesse momento é que se concentram os maiores dotes artísticos de um


Sedutor, O momento da passagem de recém-conhecidos para amantes é onde
se mostra maior parte das habilidades no amor.

Nesse pergaminho vemos o quanto a Inteligência pode ser emocional,


contrariando os princípios acadêmicos, onde inteligência se reduz a
cálculos e conhecimento.

Por vezes o Sedutor que percorre o caminho da falha e do êxito há de se


deparar com uma triste realidade: a Zona da Amizade.

A Zona da Amizade é por demais temida pelos iniciantes, pois embora a


amizade de uma mulher seja um presente a nós dado pelo amor divino,
poucas coisas no mundo podem doer mais do que ser considerado apenas
amigo pela mulher que queremos como amante. Para muitos, essa
amizade é considerada o "troféu da derrota".

Os mais experientes de todos os Sedutores sabem maneiras de como sair


dessa zona a qualquer momento, e por isso, não temem tal condição. Muito
pelo contrário: ao entrarem nessa zona, sentem-se mais fortes e conectados,
podendo agir com mais força diretamente nos corações de suas amigas, que
ao estalar de seus dedos se tornam suas amantes.

Contudo, jamais devo subestimar a dificuldade que posso vivenciar


estando preso a essa condição. Mesmo o mais experiente dos Sedutores,
embora não tema a amizade de seu alvo, prefere escapar dela.

106
Os pergaminhos anteriores me explicaram exatamente a natureza da
atração. Uma amiga é uma conexão que não enxerga meu valor sexual. Já uma
amante que enxerga em mim somente o sexo, está longe de ser a parceira
ideal, pois para que caminhemos juntos, precisamos além de amantes,
sermos amigos, para que nos importemos devidamente um com o outro e
enxerguemos um caminho a percorrer além da cama.

Estando consciente daquilo que comunico com minha boca e com meu corpo,
sei exatamente o que uma mulher enxerga em mim. Posso a todo momento
conduzir nossa interação para níveis mais amistosos ou mais sexuais.

Se tiver cumprido corretamente com os preceitos descritos pelos outros


pergaminhos elementares, sei que terei causado a atração devida, com todo
o valor sexual de um amante, e que depois terei me amarrado às suas
emoções, atribuindo a mim uma importância que vai além do sexo que
podemos fazer.

Contudo, o passar do tempo pode corroer a atração causada


anteriormente, e logo, aquele que a pouco parecia o amante ideal, pode vir
a parecer "o amigo ideal".

Essa linha fina que separa o amante do amigo exige extremo cuidado e
atenção por parte do Sedutor. Mas não só isso: o mais fundamental é a
Atitude. Atitude para puxar o gatilho.

Tenho atração, tenho conexão. O que me falta então, Concluir o que


comecei.

Nesse momento da interação, ela atinge um pico. É a hora em que deve


começar o romance.

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É preciso ter muito claro na mente se realmente concluímos a atração. E
como saberei se já a criei suficientemente? Através dos Indicadores de
Interesse.

Os pergaminhos referentes à discrição, Linguagem Secreta e Linguagem


Corporal foram assertivos em exemplificar os sinais de interesse que uma
mulher pode me dar.

Hei de recapitulá-los agora:

 Contato Ocular.

Ninguém jamais olha duas vezes para algo que não lhe interessa. Disso
aprendemos que um primeiro olhar breve pode ser um esbarrão de
olhares. Já um segundo olhar indica que ela quer conferir se ainda estou a
observá-la. Se minha apreciação visual lhe é importante, é porque ela
também me aprecia. Se mantivermos um mesmo Contato Ocular por mais de
3 segundos, ela quer que eu a aborde.

 Direção.

Assim como a agulha de uma bússola, o corpo de uma mulher atraída por mim,
sutilmente aponta em minha direção. Quando em qualquer ambiente eu
visualizar uma mulher que esteja em minha direção a O grau ou próximo
disso, saberei que se trata de puro magnetismo. O mesmo saberei quando
mais próximos, ela se inclinar ou sutilmente cruzar suas pernas e apontar com
seus pés em minha direção.

 Proximidade e Toque.

Assim como o ímã e o metal, dois corpos que se aproximam têm entre si a
atração. É possível testar minhas possibilidades com uma mulher,
simplesmente me aproximando dela, desde que já tenha sido por ela
observado previamente. Se ela se afasta, é porque no seu inconsciente

108
não lhe sou atraente ainda. O que não me impede de agir, mas
demonstra-me que sua primeira resposta não é tão receptiva. Talvez porque
seja tímida, talvez porque seja comprometida. Já a mulher que se dá conta de
minha aproximação e permanece no mesmo lugar, dá-me a resposta sincera
de sua mente oculta que me é receptiva e minhas chances com ela são
maiores. Se somado a isso, sutilmente esbarro meu corpo com o dela
levemente corno que por um acidente, ela novamente pode me responder
sinceramente utilizando seu corpo, que, em sinal de desinteresse se afasta, em
sinal de interesse mantém o contato, criando entre nós um canal de
comunicação exclusivo e secreto que posso incrementar intercalando
Contatos Oculares.

 Ela toca a si mesma.

Quando toca a si mesma, o corpo dela está a dizer algo por ela.
Geralmente os primeiros toques que ela se auto-aplica, se dão no instante
seguinte a minha abordagem. Um toque no cabelo a arrumá-lo, alinhar os
adornos que carrega no corpo, retocar o batom, coçadinhas em si mesma, nos
braços ou no próprio rosto frequentemente, tudo isso, se divide em duas
explicações: asseio e sugestão. Como asseio, ela se arruma e isso indica que
procura ser apreciada. Logo, quer conquistar-me. Como sugestão, ela toca
a si mesma porque em sua mente passa-se o desejo que ela tem de ser
tocada. Ela descreve isso, mas sem saber sugere que a toque.

 Ângulo.

Assim como no tópico anterior, ela procura meios de parecer mais bonita, e
uma dessas formas é assumindo o ângulo que melhor nos permite observar
sua beleza. Geralmente, é o de 45 graus, que conhecemos como "ângulo
divino".

 Atenção e destacar-se.

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Agraciadas com o conhecimento natural da Sedução, algumas conhecem mais
dos princípios que temos que estudar para aplicar. Um desses conceitos
que muitas delas utilizam sem precisar sequer pensar é o conceito de
cenário e personagem. Elas tendem a agir de maneira completamente das
demais pessoas de um mesmo recinto, em geral mantendo Contato Ocular,
de maneira a se tornarem a única presença feminina do ambiente.

 Expressão Facial.

Não raramente, a expressão facial de uma mulher atraída muda quando é


dirigida a um homem que lhe interessa. Assim que o avista, ou em
determinados olhares durante a interação, ela imediatamente relaxa os lábios
e faz gestos sutis com eles, assim como faz também com os olhos em sua
direção. Muitas vezes, querendo apenas comunicar a natureza sexual de
suas intenções sem ser percebida pelos demais. Por vezes, fazem o
contrário com os olhos: ao invés de semicerrá-los, os abrem mais do que o
normal, demonstrando total atenção ao homem, mas também sugerindo que
faça o mesmo com ela, Algumas mulheres de olhos claros apresentam a
midríase, ou seja, a dilatação das pupilas, o que é um dos sinais mais genuínos
de que ela está fascinada com o que vê.

 Voz.

Ainda no sentido de chamar atenção, muitas vezes uma mulher aumenta o


volume de sua voz a fim de ser percebida pelo homem que deseja ou de garantir
que ele não se desfocará da conversa que estiverem a manter. Algumas usam o
truque inverso de falar mais baixo de maneira a forçar o interlocutor a
aproximar-se para ouvi-la melhor.

 Risos e sorrisos.

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A mulher interessada tende a agir com um humor mais agradável que o
normal. Ela sorri para aumentar a empatia e ri até mesmo das coisas mais
idiotas que falamos. É uma maneira que encontram de se afeiçoar com os
homens com quem interagem.

 Perguntas.
Qualquer pergunta a meu respeito, por mais simples que seja, é um Indicador
de Interesse. Alguns Sedutores utilizam-se tão bem do conhecimento desse
fato, que baseiam suas interações em conversas previamente programadas,
onde a mulher, sem perceber, passa a fazer perguntas sobre eles. Quando uma
mulher pergunta o nome de um homem, ou sua idade, algo nele lhe é
interessante. Não é preciso dizer que quando ela pergunta sobre sua vida
amorosa, isso indica que ela tem intenções românticas para com ele.

 Ela retoma a conversa.

Um truque também utilizado por Sedutores que querem testar o Interesse de


uma mulher é o Silêncio Proposital. Em dado momento da conversa, ele
propositalmente deixa um assunto morrer e fica quieto. Ela se sente obrigada a
continuar a coversa. Contudo, ela só o faz se estiver interessada.

 Mãos.

As mãos de uma mulher dizem claramente o que ela está sentindo pelo homem
que as segura. Um teste simples consiste em tentar segurar-lhe a mão. Se ela
não permitir esse toque, que é um pouco mais intimo, isso indica que o Sedutor
deve retomar os estágios anteriores. Se ela permite esse toque, ela quer
avançar na interação. Se do simples toque, o Sedutor tenta entrelaçar seus
dedos com os dela, ele novamente obtém a resposta de em que nível se
encontra. Contudo, a permissão ao toque não é a

111
única coisa que as mãos de uma mulher podem revelar. Algumas vezes, as
mãos de uma mulher se encontram suadas. O líquido que escorre pela palma
das mãos indica que as mesmas querem deslizar. Geralmente essa textura
molhada revela intenções sexuais fortíssimas por parte dela.

Todos os Indicadores de Interesse acima estudados são apenas exemplos


baseados nos princípios da Sedução. Esses Indicadores podem vir sob
diferentes formas, o que exige do Sedutor muita prática e atenção.
Habilidade essa, que em nossa arte se chama clarividência.

A clarividência a respeito daquilo que as pessoas sentem a nosso respeito é


algo que se adquire não somente da conscientização dos Indicadores de
Interesse de forma teórica, mas do convívio com a Arte em si. Logo, o
Sedutor não mais se atém a esses sinais. Consegue sentir o que se passa
dentro da mulher a todo instante e já não precisa raciocinar tanto. Sua Arte
se torna mais bela, pois nela se inclui uma natureza abstrata, não
matemática, a qual permite que o romance flua com a maior
naturalidade.

Sabendo da importância da discrição, o Sedutor que arrisca beijar uma


mulher deve ter em mente se está no lugar adequado para dar esse passo. Seja
para um simples beijo, ou para uma noite de amor em sua cama, é preciso
analisar a logística disso. A maior parte dos problemas na hora de se concluir
um romance advém da falta de preparo no que tange às condições físicas
para se efetuar essa conclusão.

O local do romance deve ser previamente estipulado e seu caminho


desobstruído, pois o tempo deve ser sabiamente utilizado, senão, o fogo pode
se apagar. O transporte para o ninho de amor também deve estar calculado e
à disposição à qualquer momento. Mesmo que esse local seja um simples
canto escuro do salão, o acesso a esse espaço precisa ser rápido e fácil.

112
Em se tratando de beijos, existem muitos pontos que os tornam mágicos. O
beijo mais mágico de todos ocorre quando a conexão e a atração estão tão
firmemente instaladas que os amantes nem sentem que precisam se beijar
para que o romance aconteça. Já sabem o que estão a sentir e já são gratos
por isso. É como se já estivessem a fazer amor.

A expectativa é o ingrediente mais excitante ao beijar, e também o mais


difícil de adicionar, pois muitas Vezes, o desejo entre o casal é tão grande,
que não conseguem esperar um segundo sequer. Contudo, após os
devidos testes de cumplicidade com o toque, com a devida proximidade dos
corpos e o Contato Ocular intenso, os amantes experimentam um momento
de envolvimento tão agradável, que muito pouco se tem a falar. O Sedutor
que conseguir manter-se calado e projetar esse silêncio sobre o seu alvo,
enquanto a olha nos olhos e toca o seu rosto suavemente, cria uma pressão
de extrema utilidade, causando nela uma ansiedade tremenda que a faz
desejar o seu beijo ardentemente. Após esses segundos de pressão, o beijo
mais artístico acontece.

O momento em que ocorre o primeiro beijo entre dois amantes é um


momento de risco. Muitas objeções podem ainda aparecer a qualquer
momento. Muitas mulheres são tímidas demais e não propiciam que a
pressão se desenvolva a tal nível. Em casos como esse é que se vê a
ousadia do Sedutor: ele pode roubar-lhe um beijo. Ao contrário do que
muitos pensam, roubar um beijo não é realmente um crime, e, a não ser que
ela tenha um namorado, as consequências desse ato não são mais severas
do que um simples tapa no rosto, o que para muitos homens tende a ser
mais excitante do que envergonhante. É preciso ter em mente a seguinte
máxima: "é melhor pedir desculpas do que pedir permissão". Portanto, se
sentir que se pode e que vale a pena, deve-se arriscar. Jamais se esquecendo
de que a persistência e a ousadia mostram qualidades que tornam o homem
cada vez mais atraente.

113
Pode também haver recusa. Nesse caso, uma estratégia simples pode ser a
simples punição. Fingindo estar decepcionado, o Sedutor a reprova e se afasta.
Isso permite à mulher que ela sinta a consequência de seu ato. Logo, o
sentimento de estar a perdê-lo pode atacá-la e ela percebe que recusá-lo não
é uma boa ideia. Após esse afastamento, ela tende a aproximar-se
rapidamente tentando ganhar sua atenção novamente, com muito mais doçura
do que antes.

A postura de punir o mau comportamento deve ser utilizada com


sabedoria e equilíbrio, pois muitas das vezes, o Sedutor envaidecido pode
passar da medida, machucando assim os sentimentos da mulher. Contudo,
essa postura deve estar sempre disponível, pois é fundamental para um
homem de valor que ele mostre o respeito com o qual espera ser tratado. Uma
mulher de má índole pode utilizar o desejo de um homem como alimento
para o seu ego. Ela o seduz, o espera demonstrar desejo por ela e em
seguida foge, fazendo com que ele a persiga. Nesse ciclo de fuga e
insistência, ela alimenta no homem a falsa esperança de que ele tem
chances com ela, e, agindo com total falta de caráter, essa mesma mulher o
induz a fazer certos favores como pagar-lhe coisas e pode acabar consumindo a
vida e o dinheiro de um homem sem nunca retribuir-lhe com nada daquilo
que ele espera em troca. Por isso, a firmeza do homem é o que lhe
pavimenta caminhos seguros longe das armadilhas de qualquer mulher mal
intencionada.

A psicologia do beijo é a mesma que se aplica ao sexo. Contudo, o sexo é um


investimento considerado de maior comprometimento, pois as complicações
que dele podem surgir são sempre mais pesadas para a mulher, que em caso
de gravidez, terá que trocar sua vida pela vida de seu filho.

Assim sendo, é de fundamental importância que o Sedutor jogue limpo com


a mulher e deixe bem ciaras as suas intenções para com ela, por mais

114
carnais ou sentimentais que sejam. Logicamente, se ele lhe revela essas
mesmas intenções logo de início, ela pode erguer-lhe escudos de
reprovação devido ao fato de que seu ego tenta a todo custo impedi-la de
parecer uma mulher fácil. Então, via de regra, quanto mais próximo do beijo
ou do sexo, melhor se torna o momento para expor a realidade. E ela há de
aceitar. Afinal, ser monogâmico, poligâmico, ou apenas fornicador é uma
questão de opção sexual que cabe ao homem escolher e à mulher respeitar.
Ela não é obrigada a aceitar, mas aceita melhor se perceber que aquilo é uma
real decisão do homem.

115
Pergaminho 8: A Escada Secreta
Mares serenos não fazem bons marinheiros.
Conquistas fáceis não fazem bons Sedutores.

Tenho agora em minhas mãos o conhecimento que há de me pôr na


pequena galeria de homens que conseguiram alcançar seus objetivos na vida.
Seu segredo consiste em apenas uma palavra: persistência.

Carrego em meu peito o amor que toda mulher pede a Deus em suas
orações antes de dormir.

Como o curandeiro que tem o remédio certo para toda doença, sou o
Sedutor que tem para cada mulher da Terra a cura de todos os seus males.
A cura para a solidão, para a angústia e para a tristeza advinda de não haver
encontrado em sua vida o amante que lhe preencherá o coração com
paixões, alegria e vontade de viver.

Contudo, mesmo de posse de tal bálsamo, sei que muitas das mulheres a
quem eu o oferecer, por vezes o rejeitarão. Nessa hora hei de lembrar-me dos
mais persistentes de meus antepassados, cuja decisão de amar a mulher era
tão forte que não lhes permitia sequer considerar a hipótese de desistir de
sua conquista.

Por vezes hei de encontrar-me com a rejeição, porém, minha postura


diante desse fato é o que pode fazer de mim um perdedor ou um
vencedor.

O fracasso é um degrau para o sucesso. Já a derrota é um estágio


terminal. Só a aceita aquele que a prefere.

Se pretendo tornar-me um verdadeiro Sedutor, devo acostumar-me com a


rejeição, pois ela é a companheira inseparável de todo homem que

116
arrisca, assim como seus irmãos: a Falha, o Erro e o Aprendizado. Nunca
chegarei a realizar-me como homem enquanto medo de falhar eu tiver.

Quanto mais direto e ousado é o homem, maior é o número de "nãos" que


ele ouve da mesma mulher, antes de beijá-la.

A cada nova rejeição, minha intenção romântica fica cada vez mais sólida. Até
que entre nós, o clima que se instala é de puro desejo. Prova disso, é que,
mesmo dizendo "não", ela não sai de perto. Nem tampouco tenta impedir que
a toque. Por vezes, nesses momentos ela passa a lançar os maiores
Indicadores de Interesse.

O homem que não se abate em face das rejeições de uma mulher,


termina por mostrar-lhe cada vez mais que é o homem perfeito para ela.

Mulheres sentem-se naturalmente atraídas pelos homens que elas sabem que
nunca vão poder dominar. A cada tentativa dela de fazer-me desistir, torno-me
mais valioso ao manter-me firme, mostrando que ela não me molda.

Aliás, nas mãos de uma mulher eu sou como a argila: quando ela terminar de
me moldar e eu me tornar o homem perfeito, eu sei que ela há de me pôr
numa prateleira junto às suas outras obras terminadas. Por isso mantenho-
me imperfeito e inacabado. Nunca chegará a concluir-me.

Um "não", só significa "não", por apenas 10 segundos.

O que agora é rejeição, no instante seguinte pode não mais o ser. E


como transformar o "não" em "sim"?

É preciso primeiro entender o mecanismo que coordena as decisões das


mulheres.

117
As mulheres não tomam suas decisões baseadas em argumentos lógicos. Elas
as tomam baseadas em suas emoções.

Raras são as mulheres que se entregam a um homem subitamente logo após


ele declarar suas intenções. É comum que as mais difíceis o rejeitem até três
vezes antes de beijar-lhe pela primeira vez. Aquele que desiste à primeira
rejeição, nunca colherá os frutos que colhe aquele que persiste.

Logicamente, existem diferenças entre o persistente e o inconveniente. O


primeiro termina por atrai-la. O segundo termina por repeli-la. Cabe ao Sedutor
utilizar-se de bom senso e manter-se sempre numa zona ousada, persistente,
porém segura.

Contudo, via de regra, uma mulher que ainda não deu as costas e saiu
andando, geralmente só não o fez ainda porque vê algo de interessante no
homem que acaba de rejeitar.

É preciso esperar. Ter paciência. Paciência é sabedoria. O Sedutor é o sábio


ao qual os sábios recorrem.

É necessário dar espaço para as reações dela.

Em muitos momentos, a maneira como o Sedutor se apresenta ou se


expressa pode causar espanto. É necessário deixar que se assuste. Que em
seguida se acalme, e que depois sorria.

Tenho a seguir alguns casos a estudar:

Quero beijá-la agora mesmo!

- Não posso! Estamos na rua!

Essa é uma objeção comum à tentativas diurnas em centros públicos.

118
A melhor maneira de se transformar esse "não" em um "sim" é não
querer mudar a opinião dela argumentando de maneira lógica. Ao invés
disso, conduzi-la para a solução de maneira sutil. Apenas absorvendo e
entendendo aquilo que ela apresenta como impedimento. Só então, deve-se
fazer algo que resolva o problema em questão.

Posso voltar a conversar com ela, caminhar com ela para algum local mais
reservado, e lá, tentar beijá-la de novo. Provavelmente nesse local
reservado, ela aceitará, pois sua objeção era com relação ao desconforto
que o local aberto lhe causava. Beijar-lhe é a simples recompensa que eu
não teria, se tivesse entendido o que ela me disse como sendo o fim de
minha tentativa. Sou eu quem define o fim.

Uma maneira muito boa de lidar com objeções é concordar com o que ela
diz e encarar isso como um problema que também é dela, e não somente
meu:

-Estou louco para te beijar agora mesmo!

-Não posso. Eu estou com as minhas amigas!

A atitude mais comum para muitos homens seria responder:

-Mas isso não é problema!


Ou:

-Me beije mesmo assim!


Ou:

-Elas não estão olhando!

Todas essas respostas aparentemente desprezam o que ela disse


anteriormente, e por diversas vezes resultam em mais rejeição.

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Agora imagine esse novo desfecho para a mesma interação: -

Estou louco para te beijar agora mesmo!

-Não posso. Eu estou com as minhas amigas!

-Nossa! Verdade! Ainda bem que você disse! Eu também não gosto de ser
observado pelos meus amigos. Vamos conversar ali que é mais reservado.

É necessário prestar muita atenção a esse tipo de manobra de


contingência, pois essa sutileza pode fazer a diferença entre um beijo e uma
nova fuga.

Devo reconhecer o problema, e ao invés de ignorá-lo„ devo tentar resolvê-lo


com a ajuda dela. Afinal, se não o solucionarmos, ambos sairemos perdendo.

Essa atitude é reflexo da postura de um verdadeiro Sedutor, na qual ele sabe


que não está jogando contra a mulher, e sim, junto à ela. Ele não ignora o
que ela diz. Ao contrário, ouve com muita atenção.

Em suma: eu persisto! Minha tentativa só termina quando ela estiver longe


do meu raio de alcance. Jamais tentarei convencê-la de nada. Ao invés
disso, tentarei mudar o seu humor.

A escada secreta que eleva os homens de boa vontade é subida pelos


degraus da rejeição. Ao invés de não falhar e manter-me seguro no
mesmo degrau como fazem todos os homens prudentes e covardes,
disponho-me a errar. Porém, a falha não me deixa no mesmo degrau onde eu
me encontrava. Tampouco me faz descer para o degrau anterior. Subo
novamente.

A rejeição é o que melhor pode me ensinar a não mais ser rejeitado.

120
O Mestre Sedutor, em verdade, não é aquele que nunca falha, e sim,
aquele que já falhou de todas as maneiras possíveis. Somente aquele que
viveu todas as formas erradas de se seduzir uma mulher, é que pode saber
todas as formas certas de fazê-lo. Ser aberto a novas falhas é questão de
sabedoria.

Tão cruel quanto a própria rejeição pode ser um simples teste. Antes de
aceitar-me em sua vida, uma mulher pode questionar a veracidade
daquilo que apresento de mim. Contudo, esse teste pode parecer uma
rejeição, pois por vezes eles porão em cheque aquilo penso saber de mim
mesmo.

O principal propósito dessa artimanha feminina é o de simplesmente testar


a congruência de um Sedutor. Ela quer mesmo ter certeza de que ele é o
que aparenta ser com sua presença e suas palavras.

Sobre testes, é preciso entender uma coisa: o teste só acontece porque a


mulher tem uma dúvida. Claro! Uma dúvida para tornar-se uma certeza deve
passar por um teste. Ela não abrirá as portas de seu coração se não tiver
certeza de que é realmente bom aquilo que pretende adentrar-lhe.

Contudo, a sedução entre uma mulher e um verdadeiro Sedutor não é


marcada por testes e artimanhas femininas. Isso não acontece porque a visão
de um Sedutor é diferente: ele não está competindo com a mulher. Eles
estão jogando juntos. Não há um lado que vença e outro que perca. Os dois
estão do mesmo lado.

Assim sendo, não há razão de aplicar-lhe nenhum teste. Ela sabe o que ele é e
sabe o que ele quer, pois desde o início da interação ele foi sincero e
congruente a respeito de suas intenções e foi sincero até mesmo em
relação aos seus pontos fracos.

Ele não tentou impressioná-la contando vantagens de si mesmo. Ele não

121
tentou parecer inabalável diante da beleza dela, nem tampouco parecer
imune à toda a fragilidade que o torna humano.

O Mestre Sedutor, não é aquele que sabe a resposta certa para escapar de cada
teste. É aquele que não os recebe. É aquele que conhece tão bem a si
mesmo, que em face de qualquer teste, embasa a sua resposta na simples
denotação da verdade. Sua maneira de apresentar-se é tão transparente
quanto o cristal, Não há uma só mancha nele que possa confundir a mulher
a respeito de sua pureza. Ele não tenta encobrir as imperfeições que por
ventura venha a ter. Isso tiraria do cristal aquilo que o torna mais belo além
de sua forma: a transparência.

De hoje em diante não mais tentarei maquiar minhas imperfeições, pois disso
virão os testes. Sou o que sou e não me desculpo por isso.

Ao exemplo dos grandes mestres, também não mais evitarei o fracasso


fugindo à luta. E também não mais porei minha fé em métodos que
tentem tornar fácil a minha passagem pelos obstáculos. Estou ciente de que
não há caminho fácil que traga recompensa, assim como não há sucesso
sem suor.

E se mesmo assim, rejeitado eu for, sairei sorrindo. Sabendo que estarei


novamente a subir um degrau. Pois o que eleva um Sedutor não é o
número de mulheres com que dorme, e sim, o número de experiências que
aprende com cada uma, conquistando-a ou não. A rejeição não mais será para
mim motivo de tristeza. Ao menos terei uma nova piada a contar para
aqueles que estão comigo nessa jornada.

122
Pergaminho 9: Como Funciona a Mente Feminina
Respeitável pergaminho. O seguro com honra e gratidão, seguro de que
foi para hoje nos encontrarmos que tanto me preparei por vidas e vidas.

Muitos antes de mim tentaram encontrar essa resposta. Primeiro entre


humanos. Porém eles não a sabiam. Buscaram-na então, na natureza, na flora,
na fauna... Porém ela não dava qualquer indício de que a soubesse. E já
cansados de procurar sobre a Terra, puseram-se a procurar fora dela. Nas
estrelas, na face dos deuses, deram-se conta de que até mesmo os do alto não
a sabiam.

Mas o espírito do verdadeiro amante é firme em sua decisão de tornar-se uno


com as mulheres.

Sagrado pergaminho... Sei que da busca de seu conteúdo deu-se origem a


heroica linhagem de homens da qual agora sou descendente. Que por
inúmeras odisseias, cruzaram os mares da rejeição e da insegurança,
matando com as próprias mãos as famigeradas feras da mágoa e do
desespero, chegando finalmente à terra prometida, onde foram coroados
Sedutores, deixando a condição de meros amantes.

Se entre o céu e a Terra ninguém sabia a resposta para o funcionamento da


mente feminina, quem seria então capaz de responder essa pergunta?

Com certeza não seria uma mulher.

Sagradas mulheres... Tão doces e ao mesmo tempo tão impiedosas...


Acabariam com quase todo sofrimento da humanidade, se de seus
corações nos entregassem as chaves que os abrem. Quanta impiedade... Mas
preservam-se doces. Pois a grande verdade é que não há mulher no mundo
cujo coração seja duro o suficiente para suportar o peso das súplicas e das
lágrimas de um homem apaixonado prostado aos seus pés.

123
Por vezes, em humildes tentativas, tentam nos orientar, dando-nos
algumas chaves. Porém, a maior parte delas não passa sequer pela
fechadura.
Por mais que digam o quanto gostam de flores, muitos são aqueles que ao
entregar-lhes tal presente, entregam também o sorriso e a alegria para nunca
mais esboçá-los em seus rostos de novo.

Por mais que digam o quanto gostam de um tratamento carinhoso, os


homens por quem se apaixonam, muitas vezes, utilizam-se de total rigidez e
asperidade para com elas. Tal qual aquele que busca conforto deitando-se
sobre uma cama de pregos.

Por mais que digam o quanto detestam ciúmes e amam a liberdade, parece
que só chegam a sentir-se livres quando encontram homens que as
prendam.

Quão contraditória e paradoxal é a mente da mulher.

Jamais haverá uma mulher que saiba realmente os segredos dos corações
femininos, a menos que ela mesma já tenha seduzido muitas.

Tenho hoje nesse pergaminho o segredo encontrado por meus


implacáveis ancestrais, que lhes custou suor, sangue, lágrimas e noites mal
dormidas, mas que persistentes, não esmoreceram diante da crueldade
com que seus próprios sentimentos os apunhalavam. Desfazendo-se da
carcaça de amantes não amados, para vestirem a merecida toga de
amados amantes.

Para conhecer a mente da mulher é fundamental conhecer a mente do


homem. Contudo, a mente do homem é um livro muito fino e de somente uma
página.

Desde sempre caçador, o homem funciona de maneira prática e objetiva. Suas


palavras e ações são frutos de pensamentos e raciocínios voltados ao resultado
somente.
124
Já a mente da mulher funciona de maneira aparentemente lenta e
confusa, pois suas ações são frutos de emoções e sentimentos voltados a
vivenciar e experimentar sensações. Por isso parecem perder-se no
caminho, quando na verdade não se perdem. Apenas param para apreciá-lo.

Simplificando diria: "o homem pensa. A mulher sente".


Por isso o homem é destinado a viver ao lado da mulher: enquanto ela lhe
ajuda a perceber a brisa e a beleza do caminho, ele a mantém na rota para
que não percam a direção e o destino.

Muitas são as explicações que tal verdade traz consigo.

Por que o homem aprecia tanto imagens de sexo, ao passo que a mulher não
se entretém com as mesmas figuras na mesma intensidade?
A imagem do sexo na mente do homem é apenas um "resultado". Por sua
tamanha objetividade é natural que seja mais interessante a ele do que à ela,
pois ela se agrada muito mais com tudo aquilo que vier antes do resultado, ou
seja, tudo aquilo que tiver ligação com o processo que antecede o sexo.
Tal processo é o flerte, o romance que se desenrola. É a história de amor.

Vejo agora, com os olhos clarividentes, a verdade escondida por trás da


compulsão que as mulheres têm por peças teatrais e livros que contam
histórias de amor aparentemente inocentes: aquilo lhes é puro prazer
sexual, tal qual as imagens da libido são para o homem.
Elas querem se sentir no papel da personagem principal e viver todas as suas
oscilações emocionais. Querem viver uma aventura idêntica a da
protagonista da história de amor que mais leem ou assistem.
Não existe obra mais carregada de sensações do que um romance vivido por
dois personagens sobre o palco ou papel.

Outra pergunta pode ser agora respondida: por que uma mulher demora tanto
na simples tarefa de ir às compras?

125
O homem vai direto à loja onde sabe que vai encontrar o que precisa. Ele é
objetivo e quer o resultado. Seu prazer só virá após a conclusão de sua tarefa.
Já a mulher passa por todas as lojas que encontra e entra por último
naquela que tem o que precisa. Ela prova todas as roupas e sapatos de uma
loja, mas muitas vezes, sai dela sem nada comprar, apenas para poder ir
para a próxima loja, com a desculpa de que ainda não encontrou o que
procurava.
Esse é o seu prazer: a experiência da compra. Aquilo que ela compra, em si
nem é tão importante. Muitas são as roupas, sapatos e adornos que elas
compram e nunca usam.

Por fim, respondemos aquela que permeia os corações dos homens mais
desiludidos: por que elas rejeitam o carinhoso e morrem de amores pelo
cafajeste?
Com o homem carinhoso ela pode sentir-se confortável, amada, segura,
respeitada e valorizada. Sentirá ao seu lado muita paz.
Com o homem cafajeste ela pode sentir-se confortável num instante, mas
desconfortável depois. Amada num momento, e abandonada em outro.
Segura no começo, e insegura depois. Respeitada e desrespeitada.
Valorizada e insignificante. Sentirá ao seu lado muitas coisas boas, mas
também muitas coisas ruins, como ódio, tristeza e medo da solidão.

O verdadeiro Sedutor está acima do bonzinho e do cafajeste. Não sendo nem


somente um nem somente o outro. Apenas completo.

Minha natureza de amante não me permite brincar com os sentimentos das


mulheres, mas preciso ter em vista a partir de hoje, que se quiser ser amado por
elas, precisarei estar atento às suas emoções e proporcionar-lhes a maior
variedade possível. Não somente das melhores, nem somente das piores.
Apenas lembrando-me do desenho da serra cujas montanhas sobem e
descem.

Quanto mais emoções variadas ela viver ao meu lado, mas ligada será a mim.

126
Essa verdade me será também útil não só ao seduzir diferentes mulheres, mas
também me valerá quando eu encontrar aquela a qual vou querer seduzir
novamente todos os dias.

Os romances fracassados geralmente começam quando o homem


proporciona à mulher uma vida pobre em sensações e emoções. Tal qual o
namorado que passa um ano a presentear e levar sua mulher a noites
divertidas dizendo que a ama dezenas de vezes num dia. Pode parecer
injusto que uma mulher dispense tal cavalheiro, porém seu abandono é certo
e iminente.

Que história de amor, seja ela em livro ou teatro, consegue manter-se


desde o início até o fim mostrando somente as maravilhas da vida de um
casal?
Mulher nenhuma se interessaria em ler ou assistir a tal história.

O que torna os romances dos personagens algo tão mágico e envolvente é


justamente a existência constante das forças que não os permitem que
fiquem juntos: famílias inimigas, maridos e esposas, inveja alheia,
distância... Em suma: o verdadeiro romance é aquele que não deveria
acontecer.
Esse é o foco de um Sedutor: ele dirige a mente da mulher como um
dramaturgo, e atua como protagonista. Sabendo que tudo, desde o
primeiro "oi", é parte de sua obra de arte.

Uma mãe ciumenta que não lhe permite sair de casa não me é motivo de
tristeza. É o primeiro vilão de nossa história. O qual nos forçará a viver uma
aventura nos escondendo e vigiando a retaguarda para proteger nosso
romance.

A diferença entre as castas às quais pertencemos não me é problema. É


apenas um fator que nos dificulta de ficarmos juntos, o que por sua vez nos
motiva a ficarmos juntos.

127
A diferença de idades que a faz pensar que poderia ser minha mãe não me
é motivo de desânimo. É o primeiro pecado que irá tornar o nosso romance
mais proibido e assim mais desejoso e cheio de paixão.

A distância que me separa dela numa outra cidade ao longe não me é


motivo para desistir. É o fator que nos fará sentir uma saudade tão
grande, que nos sentiremos como que injustamente separados, o que nos fará
querer estar unidos a todo momento. Estaremos ainda mais juntos.

Sabendo agora o quanto o antagonismo me é útil, hei de ter agora em


minha manga a sagrada carta secreta que se chama "pena que".

Logo ao avistar o primeiro fator que nos impede de ter um romance, hei de
levantá-lo como problema. Porém, quando eu sou o primeiro a levantar o
problema, ela automaticamente é impelida a encontrar uma solução.

"Sabe... Eu estou realmente fascinado com a mulher madura que você é.


Adoraria ter um romance com você... Pena que... Existe uma diferença de idades
muito grande entre a gente...".

Ela se sentirá impelida a dizer que idade não importa para o amor.

"Eu realmente gosto muito de você. Por mim a veria todos os dias... Pena que...
A sua mãe é muito ciumenta e pode nos atrapalhar o romance...".

Na mesma hora ela me dirá que isso não é problema desde que driblemos a
marcação de sua mãe. Nosso romance será uma aventura.

"Estou louco para beijá-la aqui mesmo! Pena que... Aqui na igreja é
proibido que nos beijemos".

Ela há de olhar para os lados e me beijar fervorosamente. O proibido lhe ferve


o sangue.

128
E assim farei com tudo o mais que me puder impedir de amar uma mulher.
Para um Sedutor, um impedimento nada mais é do que uma oportunidade, pois
é do seu aparente maior problema que surge a sua maior solução.

129
Pergaminho 10: Tristeza e Solidão
Entender a natureza da tristeza humana é a maior alegria que o Homem
poderia querer. Devo sorrir, e muito, ao receber tamanho conhecimento, pois
sei que muitos por não tê-lo, passam sua vida em plena lamúria.

Parece-me estranho que ao final de minha graduação como aprendiz de


Sedutor, a ciência que me levou a desenvolver a arte dos relacionamentos e a
ter ao meu lado tantas boas companhias, mostre-me agora o seu total oposto: a
solidão.

A vida é uma experiência que se começa e termina sozinho.


Quando se nasce, se nasce sozinho. Quando se interna no hospital, se
interna sozinho. Quando os negócios vão à falência, se vai à falência
sozinho. Por fim, ao morrer, se morre sozinho.

Mesmo hoje que tenho à minha volta os amigos e as amantes que sempre
sonhei, devo estar ciente de que quando da Terra eu partir, partirei sem eles
rumo ao desconhecido. Mais uma vez tão sozinho quanto eu era quando
cheguei a esse mundo.

Ciente dessa verdade, porque sou eu tão compelido a me relacionar com as


pessoas? O que me motiva a criar esses laços, que por mais fortes que sejam,
são tão efêmeros quanto a própria vida?

Nesse mundo de humanidade tão animalesca, existem apenas duas forças por
traz de toda e qualquer ação humana. A primeira pela qual agimos é o sexo.

A natureza se perpetua através de nós humanos, que somos criação de seu


amor, assim como o faz também com as plantas e com os animais.

130
Felizes são esses seres que julgamos inferiores, mas que em sua total
sabedoria vivem longe da racionalidade, da culpa e da vida urbana,
ocupando sua vida com a busca mais natural e sincera que pode vir de
qualquer. coração: o prazer.

Tal desejo se manifesta também em nós e direciona cada atitude de nossas


vidas, por mais singela e despretensiosa que possa parecer.

O que motiva o jovem que passa metade do seu dia a estudar?

Ele quer ser aceito pelas academias que podem torná-lo um profissional útil
à sociedade. Isso lhe dará o preparo e as oportunidades de que necessita
para assumir no futuro a profissão que tanto deseja.

Após isso, o que motiva o homem formado a passar metade ou até dois terços
do seu dia a trabalhar com afinco exercendo a profissão que aprendeu?

Ele quer ganhar o ouro pago por seus labores. Quer tornar-se rico e
abastado. A riqueza é a aparente razão que consome metade da vida de um
homem entre estudos e trabalhos exaustivos.

Rico, poderá ter os bens que sempre sonhou e cuidar daqueles que ama e que
vier a amar, sendo-lhes o provedor. Terá ao seu lado todos aqueles a quem
puder proteger e confortar com os benefícios que só o ouro pode conceder.

Mas com tudo isso, poderá ter ao seu lado algo muito valioso: uma
companheira. Poderá satisfazê-la com uma vida digna e supri-la em todas as
suas necessidades. Assim como fará com os filhos que virão após sua união
com ela.

Seu sangue continuará a correr através das veias de seus descendentes.


Assim estará garantida a imortalidade de sua espécie.

131
O mesmo faz o cantor, que embora diga fazer o que faz apenas por seu amor
à música, está a cada novo sucesso criando o caminho que o fará ter a vida
sexual que deseja em seu íntimo.

Assim também faz o poeta pintando quadros com palavras, que embora diga
fazer o que faz apenas por amor, na verdade procura tocar os corações das
pessoas que o leêm, afim de que alguma delas seja a mulher de seus sonhos,
a qual reconhecerá o teor de seus sentimentos e os tratará também com
amor e apreço.

A busca do sexo é a busca do prazer. Prazer esse que resulta em


procriação.

O que mais então motivaria o Sedutor, que se sujeita à rejeição, à


decepção, à angústia, ao medo e à superação e conquista de si mesmo?

Nos braços de uma mulher é que toda dor e suor de sua jornada se justificam.
Num momento de prazer divino onde todo o vale de chamas e pedras
pontiagudas, que percorreste a pés descalços, revela-lhe o tesouro que lhe
transcende a alma e cura-lhe como bálsamo as feridas de seu espírito.

Reconheço o sexo como uma das principais forças que me movem. Porém
tomo consciência agora da existência de outra: a solidão.

Se a mulher e seu calor são a meta da vida de um homem, o que gera então
essa necessidade? O que antecede a busca por sua companhia?

A busca de uma companheira não é um caminho que se percorre tendo em


vista apenas o prêmio que está adiante da linha de chegada. É um caminho no
qual nos aproximamos de algo que queremos, mas no qual, sem nos darmos
conta, também fugimos de algo que não queremos. Algo.

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que nos persegue. Essa é a razão de trilharmos um caminho retilíneo:
busca e fuga.

Fugimos daquilo que mais tememos. Isso desde o primeiro segundo em que
abrimos nossos olhos pela primeira vez. Importante então é entender esse
momento no qual conhecemos nosso primeiro medo. Para compreendê-lo é
preciso recordar dois fatos: o nascimento e a vida antes do nascimento.

Quando nos encontramos mortos aqui na Terra e vivos do outro lado da vida,
estamos conectados à nossa verdadeira natureza divina, como espíritos
livres e dissolvidos no absoluto, nos preparando para o próximo nascimento.
Experimentamos durante esse período de preparação uma liberdade e um
senso de unidade que são incompreensíveis para qualquer pessoa que esteja
dentro de um corpo agora. Nessa dimensão, a solidão não existe, pois nela
sentimo-nos parte de tudo, não separados daquilo que vemos, tocamos,
usamos, vestimos ou saudamos. Nem mesmo os outros espíritos nos são
estranhos. Apenas diferentes obras advindas da mesma matéria-prima.

Reduzimo-nos desse todo para cabermos dentro de um corpo humano, frágil


e minúsculo, o que por si só já nos daria o desconforto da vulnerabilidade.

Como se não bastasse o terror da mudança que é sair da liberdade


absoluta para enclausurar-se no corpo de um bebê, sob leis de gravidade e
sociedade, somos submetidos também à lei do esquecimento, tendo
apagadas de nossas mentes toda e qualquer lembrança da verdadeira
existência que tínhamos até então. Vendo até mesmo a Terra por onde
passamos centenas de vezes, como sendo um ambiente hostil e
desconhecido.

133
Em sua infinita sabedoria, a natureza nos dá nossa primeira mulher. Uma
mulher amorosa, a qual nos amará e confortará pelo resto da vida e até
mesmo depois da vida. Que nos protegerá e nos confortará usando-se de todos
os recursos que seu corpo e seu arredor lhe permitirem. Que trocará a vida
dela pela nossa e o fará sorrindo, por vezes em meio a lágrimas. Amá-la é
inevitável, pois da abrupta dor e fragilidade na qual somos submersos faz-se
também nossa fortaleza: a mãe.

Apegamo-nos ao calor, ao alimento e ao carinho de nossa mãe. Ela nos dá todo


o prazer de que podemos desfrutar. Porém, ela nos faz algo que vai muito além
de fornecer esses combustíveis: ela não nos deixa sozinhos.

Já aos primeiros anos após nosso desenvolvimento e readaptação ao


ambiente terrestre, ocorre algo doloroso, porém necessário: nos
separamos.

A partir do momento em que passamos a dormir noutro aposento e


fechamo-nos do lado de dentro de uma porta para dormir numa cama longe
dos braços de nossa mãe, percebemos a verdade: estamos sozinhos.

O quarto de uma criança torna-se seu mundo.

Os anos passam e toda a atenção e mimos que recebia dos adultos agora não
lhe são mais dirigidos. É como se de repente ela tivesse perdido o seu encanto,
pois as pessoas já não lhe sorriem mais de forma gratuita como faziam até
então.

A tristeza lhe consome, e isso tende a agravar-se ainda mais quando outro
viajante do tempo adentra a sua casa através da mesma porta pela qual entrou.
Surge-lhe um irmão.

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O amor inebriante que conhecera um dia, mas que lhe foi retirado, foi agora
passado a um novo integrante desconhecido. Toda a família se reorganiza de
maneira a suprir a fragilidade do recém-chegado, mas ao invés de entender o
que se passa com seu irmão, tende a invejá-lo.

Uma década se passa, e a solidão torna-se parte da sua vida. Contudo, ela tende
a agravar-se cada dia mais enquanto participa da sociedade. Ela começa seus
estudos, aprende linguagem, cultura e ciências. Mas na escola não lhe
ensinam nada sobre ela mesma e sobre o vazio que sente.

Mais anos se passam e surgem-lhe desejos sexuais. Os mesmos que a


guiarão pelo resto da vida. O vazio aumenta, pois agora, mais do que
nunca, ela precisa de alguém.

Ela frequenta templos religiosos buscando a paz de espírito que todos dizem
estar lá, mas ao invés de encontrá-la, encontra uma cultura repressora que a
faz olhar para seus desejos sexuais como sendo a fonte do pecado. Incutem-
lhe a culpa. E além de solitária, agora a criança se sente mal por ser
portadora do desejo, que não sabe ela, foi-lhe dado apenas com o propósito
de salvar-lhe.

Os anos se passam e o menino torna-se um jovem.

Submerso numa cultura que diariamente lhe prega valores externos, ele vê
que sua realização como ser, se dará somente quando ele concluir
graduação, patrimônio e matrimônio.

O jovem busca a todo o momento maneiras de fugir da solidão. Ele não quer
estar consigo mesmo. Pois se consigo mesmo estiver, sente o vazio. Porém em
todos os seus anos de vida, ele nunca se depara com as respostas a respeito
de sua verdadeira natureza. Nem os pais, nem os professores, nem o padre
lhe ensinaram a lidar com o vazio que o

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consome. Por não encontrar essas respostas, ele sente que não há
solução para a solidão.

Daí vemos pessoas, não somente jovens, mas adultos principalmente, que
passam a sua vida a distrair-se. Nunca se dispõem a enfrentar o vazio. Por isso
vivem a ludibriar-se, tentando não percebê-lo quando ele se apresenta.
Mas a quem estão enganando?

O costume de ouvir música em alto volume é muitas vezes, não um gosto pelo
som, mas sim, a busca por um ruído que lhe desconcentre e o distraia
impedindo de perceber o vazio.

A compulsão por trabalho, que leva um profissional a passar mais da


metade do seu dia preso em sua atividade, é novamente uma fuga.

O vício por bebidas e cigarros é novamente uma vontade de preencher o vazio


da solidão com a ilusão de que se está a colocar algo para dentro, tal qual os
distúrbios alimentares de mulheres desiludidas que as levam a comer além
da conta. Assim como acontece também com o afortunado que enche sua
casa comprando bugigangas das quais nunca fará uso. Todos esses vícios
têm por base a busca por preencher o vazio, tal qual o leite materno fazia.
Não pelo fato de entrar no corpo e preencher o estômago nutrindo-o, mas
porque tinha nele as únicas vitaminas essenciais à vida: amor e afeto.

A corrida em direção à mulher pode sempre terminar com uma derrota, pois
mesmo que cheguemos em primeiro lugar, podemos não cruzar a linha do
seu coração.

Se corrermos em direção a ela, movidos apenas pelo impulso sexual, ela há


de sentir a euforia desse instinto, e se ela não estiver na mesma frequência,
pode não aceitá-lo, por medo de sentir-se usada.

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Se corrermos em direção a ela, correndo apenas do medo que temos do vazio
que nos persegue, ela também há de sentir-se usada, pois saberá que ao
invés de ser acolhida, terá que acolher. Pode até dar-lhe a vitória, porém, seu
prêmio pode decidir abandoná-lo quando sentir sua carência e medo.

Por vezes são elas que correm até nós, e às vezes, tendo em mente o mesmo
objetivo.

Contudo, dois amantes que se unem procurando um no outro apenas um refúgio


para livrar-se da solidão, tornam-se apenas dois solitários juntos. Podem estar
unidos, mas nunca estarão plenos em seu relacionamento, pois ambos tendem
a apegar-se demais e a serem dominados pelo ciúme que terminará por tirar-
lhes a liberdade e a harmonia.

Outro fator importante refere-se ao prazo de vida que cada romance tem. Sabe-
se que mesmo os romances mais fortes um dia hão de acabar. Ou por
enxergarem claramente que têm caminhos distintos a seguirem separados, ou
até mesmo pela morte que implacavelmente há de separar todos os amantes da
Terra.

Nesse fim, que é certeiro, o amante abandonado vê-se sem chão. Como se a
razão de sua vida lhe tivesse sido tirada. O que acarreta depressão e outras
doenças emocionais.

Não posso basear minha felicidade nas coisas Terrenas, sejam elas materiais
ou afetivas, pois sei que um dia hei de deixá-las ou elas hão de me deixar. O
que farei então para sustentar a felicidade? Seria ela uma busca infindável por
algo incerto e passageiro como a vida?

Devo seguir nesse momento o exemplo dos grandes mestres da humanidade.


Que em sua busca pela felicidade e compreensão, ousaram enfrentar o vazio. De
frente e com total coragem. Pois sei que após uma

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vida inteira buscando fora algo que me preenchesse, sem encontrar, só
posso ter procurado no lugar errado. A resposta sempre esteve perto de mim.
Escondida no último lugar que ousaria procurar: dentro de mim.

Não que eu precise mover-me para as montanhas a fim de isolar-me como


faziam os sábios, mas devo mover-me para dentro de mim mesmo, assim
como eles inevitavelmente faziam ao colocarem-se fora do mundo
externo na sua busca pela verdade. Tirando o externo de minha frente
encontrarei meu verdadeiro interior.

Criarei hoje um dos meus mais importantes hábitos: a meditação.

Encontrar-me-ei comigo mesmo todos os dias e desse encontro vou obter as


respostas de que preciso. Pois sei que ninguém fora de mim me poderá dá-las.
Dentro de mim mesmo a solidão não mais me será nociva, pois nesse espaço
saberei que não estou mais enclausurado em um corpo, e sim, conectado ao
Universo.

Do encontro comigo mesmo entenderei finalmente o verdadeiro amor que


permeia o coração de um Sedutor. Amor esse que pode atingir a todas as
criaturas da Terra e multiplicar-se. Não como o semeador que joga as suas
sementes pelo campo a fins de vê-lo verde e florido, mas como o bonsai,
cujas raízes encherão o mesmo vaso, dia após dia, até que o mesmo se torne
pequeno demais para comportá-las, fazendo-as assim, tocar a terra e todos
os outros vasos que estiverem por perto.

O amor é a minha raiz. E quando em meu próprio vaso essa raiz não mais
couber, ela há de transbordar e finalmente poderei dar amor às pessoas. Não
como sementes fragilizadas, lançadas em vasos mal cuidados, expostos ao
mal tempo e às pragas que assolam cada pessoa, mas como extensões de
uma árvore gigante, imponente, saudável e sólida que nunca há de
tombar.

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Passarei pela fila das mulheres de minha família, e ao receber o amor delas,
terei finalmente entendido o que é ser um homem, e jamais procurarei
numa amante uma mãe, como fazem os homens solitários.

Estar comigo mesmo, há de tornar-se a melhor presença e companhia da qual


poderia dispor. Não mais evitarei o vazio, pois sei que em verdade, somente nele a
felicidade me será possível. No vazio e satisfeito com o vazio, deixarei de usar as
pessoas como muletas. Jamais estarei a usá-las de forma alguma como fuga. Tal
qual fazem os Sedutores que seduzem multidões de mulheres, mas que por fim
o fazem por não se amarem e por não suportarem ficar consigo mesmos.

Ame ao próximo como a ti mesmo.

Mestre Jesus deixou-nos antes que o verdadeiro significado de sua frase pudesse
ser entendido. Por falta de seu esclarecimento final, a humanidade tentou como
pôde seguir aquilo que disse. Porém, atendo-se apenas à primeira parte, que
compreende somente amar ao próximo. Sem perceber que o amor ao próximo é
apenas a semente, que podemos lançar em seu vaso, mas que não sabemos ao
certo se irá germinar ou não.

Ame a ti mesmo, e então poderá amar ao próximo.

Logo, o campo não será mais uma paisagem do cerrado, composto de poucas
árvores em meio a vastas pastagens. Será uma floresta, e abaixo de seu solo
todas as raízes se tocarão, tornando-se uma só.

Quando eu não mais precisar das mulheres, terei entendido a fundo o que é não
ser necessitado, e de mim emanará a abundância e a alegria. Elas estarão ao meu
redor e dentro de mim. Entender a natureza da tristeza e da solidão não é o
segredo de se dar bem com as mulheres. É o segredo

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da felicidade e do amor, que não se resume apenas a uma companheira, mas
sim, a estar uno com o todo.

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Capítulo 4: O Aniversário de Um Homem Morto
Cinco meses haviam se passado.

O rapaz sério e desajeitado que um dia tentara se matar havia realmente morrido.
Hugo era agora um novo homem, com uma nova vida. De anônimo passou a
conhecido e agora tinha em sua vida a presença de muitas pessoas especiais.
Dentre elas, muitas eram mulheres, que entravam e saiam de sua casa com
frequência.

Aquela era uma noite especial. Era o dia de celebrar o nascimento daquele
que havia morrido cinco meses atrás. Era o aniversário de Hugo.

Pela primeira vez na vida, Hugo via Afim vestindo uma camiseta. Seu mentor
era bom em se misturar, e para uma festa jovem como a de seu pupilo, não lhe
cairiam bem as roupas garbosas de sempre.

A festa de Hugo representava muito mais do que a data de seu nascimento.


Era para ele a abertura de uma nova temporada. Mais um ano de vida que se
encerrava, e mais dezenas de outros que tinha pela frente para viver
intensamente como viera vivendo nesses últimos meses.

As mulheres que lá foram prestigiar sua festa eram em boa parte seus novos
romances. Os amigos que lá foram, eram em grande parte novos em sua vida,
mas havia ali também aqueles antigos com quem brincava no parque desde a mais
tenra infância.

Ao seu lado estava um de seus mais novos e importantes amigos: Afim. Seu
irmão recém-chegado, que lhe conhecera tão tarde, mas que lhe dera o maior de
todos os presentes: uma nova vida.

Ambos celebraram naquela noite com muita alegria e satisfação.

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Quando a madrugada chegou, os convidados foram se despedindo à medida
em que se abaixava o som da música. Ao final da festa, restaram somente
copos sujos e desordem a se limpar. Seu vizinho Afim seria o último a deixá-
lo. Relaxaram, deixaram a varanda e foram para o sofá descansar ainda
sorrindo:

 Que noite, hein! — Disse Afim se derretendo sobre o canto do sofá de


Hugo.

 Meu. Deus! Acho que semana que vem farei outro aniversário como esse! —
Disse Hugo exausto, mas empolgado.

Ambos riram.

 Sabe, Afim... Eu tenho que te agradecer! — Disse Hugo meio sem jeito
olhando para o copo sobre o joelho.

 Não! Não há o que agradecer! — Disse Afim sorrindo.

 Tenho sim muito que agradecê-lo. Afinal, se não fosse por você, eu talvez não
tivesse chegado a ver o dia de hoje. Tudo o que fez por mim desde aquele dia
são coisas que não só me permitiram continuar vivo, mas principalmente,
viver de verdade. Coisa que mesmo vivo eu não fazia antes.

 Fico realmente muito feliz por você! Sinto muito orgulho de você! Você é
determinado e persistente! Já teve muitas conquistas nesse meio tempo, e
estou certo de que pelos próximos anos, muito mais ainda irá conquistar!
— Disse Afim endireitando-se sobre o sofá.

 Sim! Com certeza! E devo muito dessa mudança aos ensinamentos da


Alcateia. Sou muito grato por tê-la conhecido. Como mudei após me iniciar
nela!

142
-Realmente... Sei bem do que está falando, pois ela teve sobre minha vida o
mesmo efeito de mudança e melhoria.

-Hoje vejo o quanto mudei, não só no aspecto externo, mas principalmente em


meu interior — Hugo fez uma breve pausa e levantou a cabeça — quando entrei na
irmandade, eu estava completamente perdido em meus pensamentos. Eu estava
obcecado e cego por conta da Karisa. No início, tudo o que eu mais queria era
me vingar dela e vê-la implorando pelo meu amor... Queria que ela sofresse
pelo menos um pouco daquilo que sofri... Já hoje, não é isso que sinto...

 O que sente dentro de você hoje, Hugo? — perguntou Afim se apoiando sobre o
cotovelo.

 A Karisa era sim incrível, mas estar preso à ela me impedia de ver o quanto
mais a vida ainda podia ser gloriosa. Depois dela, tantas outras vieram... Mulheres
que hoje têm tanta importância na minha vida, que olhando para o passado, eu
não me perdoaria por não as ter conhecido. E jamais as conheceria se não fosse
pela atitude da Karisa de me abandonar e me dar essa oportunidade — Hugo riu-
se por um instante — Hoje não sinto mais nenhuma gota de rancor pela maneira
como ela me tratou. A liberdade que ela me deu foi o maior presente que já
me deu. Espiritualmente posso dizer que o amor dela por mim foi tanto, que
permitiu a ela que me libertasse, mesmo sabendo que isso me faria sofrer tanto.
Hoje tenho uma vida tão plena de significado, que me admira saber que um dia
pensei em acabar com ela.

Seguiu-se um silêncio. Afim estava a refletir com o mesmo semblante que Hugo
fazia ao ouvir as orientações de seu mentor. Hugo continuou:

 Os pergaminhos iniciáticos são a base do que vivo hoje. Mas muito da minha
nova atitude devo às suas orientações. Quando eu me senti fraco e quis tentar de
novo ter o amor da Karisa você me deu dicas valiosas.

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Então entendi que tudo aquilo que perseguimos tende a fugir. Que
sempre que corremos atrás de uma mulher, ela tende a correr adiante
escapando. Eu pensava em me reconciliar com ela, mas ouvi o seu
conselho. Tratei-me com respeito e dignidade, e dei a ela espaço para que
avaliasse a atitude que teve para comigo. Comecei a investir mais em mim
mesmo, pois você me ensinou que se eu continuasse sendo o mesmo rapaz
que ela havia rejeitado um dia, o tempo sozinho não seria capaz de fazê-la
querer de novo aquilo que um dia ela rejeitou. O caminho para que ela
pudesse se reatrair por mim era o de melhorar a mim mesmo, não só por
fora, mas principalmente por dentro. Cuidando de minha mente, meu espírito,
meu corpo e de minha vida social, que antes eu não tinha. Mas nessa jornada
em busca da melhor versão de mim mesmo, acabei por conhecer tantas
mulheres incríveis, que hoje já não fico mais sentado no sofá esperando a
Karisa me ligar.

Hugo se levantou. la começar a arrumar a bagunça de seu apartamento. Mas


no instante em que ficou de pé, o telefone tocou.

-Quem será a essa hora? — Disse Hugo a Afim que estava também
surpreso.

Tirou o telefone do gancho e atendeu:

 Alô.

 Alô, Hugo?

 Sim.

 -Aqui é a Karisa!

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Nota do Autor
Esse é o primeiro livro que público nessa vida.

Faz anos que me dedico a ajudar homens a seduzirem mulheres ao redor do


mundo através de meus trabalhos variados que divulgo na internet através do
meu blog puazara.wordpress.com

Contudo, muitas das vezes, a ajuda que leva um pupilo a seduzir uma mulher de
fato, não termina por dar-lhe a felicidade que sonhava ter. Como costumo dizer a
eles: "pegar mulher é a parte mais fácil da vida de um Sedutor". Devido a isso,
grande parte do meu trabalho como Consultor Amoroso consiste não somente
em ensinar os segredos da Sedução a um homem, mas principalmente em fazê-lo
conhecer a si mesmo, pois disso advém a plenitude que o fará feliz com ou sem
mulheres ao seu lado. Além de quê, a mulher isso os fazem tratar a mulher com
mais respeito e reverência. Logo, minha busca se ampliou, fazendo-me buscar
conhecimentos não só sobre Sedução, mas sobre a verdade.

O conhecimento de si mesmo implica no conhecimento de sua natureza espiritual.


Tendo em vista o quanto esse conhecimento me seria importante em ajudar a
humanidade, comecei por ajudar a mim mesmo aplicando em minha vida os
conhecimentos da espiritualidade.

Buscar a verdade é uma jornada árdua, pois conhecê-la nos força a mudar. O
que pode ser muito desconfortável.

Os conhecimentos mais ocultos a respeito da natureza divina da Humanidade nos


leva a conhecer uma nova história da Terra, com novos (mas antigos) deuses,
magias, conceitos e fatos que podem tornar louco aquele que não tiver base sólida.

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A Mulher é uma divindade que foi fatalmente suprimida pelos homens
covardes que ao longo dos milênios inventaram maneiras de torná-la
submissa, e que o fizeram através de suas estórias que construíram a
sociedade patriarcal na qual vivemos hoje.

O conhecimento do espírito, embora seja aberto, é ainda encoberto pelos


detentores da verdade. Já o conhecimento a respeito de como foi criado o
Homem e do papel da mulher na criação é ainda mais oculto, devido à
iluminação que traz.

Dos conhecimentos que obtive nessa jornada, descobri que a Sedução é um


dos melhores caminhos para o homem que busca a melhora de si mesmo.
Utilizando-me desses novos fatos, criei essa obra, na qual misturo elementos
técnicos sobre Sedução e psicologia com elementos históricos verdadeiros e
antiquíssimos desconhecidos da grande maioria.

Hoje meu trabalho é muito mais eficaz, pois não me atenho somente aos
princípios da Sedução. Porque sei que após seduzir todas as mulheres do
mundo, meu pupilo pode ainda não sentir-se completo, o que o levaria a ter
que buscar algo mais profundo e esclarecedor a respeito da felicidade que
pode ainda não ter conquistado.

E assim foi construída essa obra que tenta lapidar o leitor a fim de que o
sucesso com as mulheres não lhe seja mais do que a direta consequência de
melhorar a si mesmo.

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