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Pregar aos Homens no séc.

XVII era corriqueiro, mas pregar aos peixes era “ser um


peixe fora de água”. Foi esta última a característica presente alegoricamente no Sermão de
Santo António aos Peixes, onde o padre António Vieira, no auge da Inquisição e do poder
absoluto da Igreja sobre a política e a sociedade, utilizou a sua influência e engenho no púlpito
para criticar os colonizadores maranhenses, representando-os como peixes.

De facto, este pregador era um influenciador, banal ao pregar a sua doutrina na igreja
em defesa dos autóctones, mas um verdadeiro imperador no modo como o fez: pregando aos
peixes. Este aspirava encantar e mover os fiéis através de argumentos de autoridade bíblicos e
recursos expressivos no seu discurso (paralelismo, interrogação retórica), incentivando-os à
mudança. Vieira era, de certo modo, um membro político, que difere dos atuais pelo modo
como transmitiu os seus ideais, através do púlpito, e não pela televisão e jornais.

Em suma, Vieira conseguiu, valorizando e criticando os peixes, projetar a sua doutrina


e promover a autorreflexão dos colonos, representando um verdadeiro mestre da persuasão e
um político de bons valores em pleno século XVII.

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