Você está na página 1de 10
‘wo2/2021 Envio | Revista dos Tribunals sown wine Tipo, sistema e conservagao dos negécios juridicos, Gp vmcsisais LEGAL ONE TIPO, SISTEMA E CONSERVACAO DOS NEGOCIOS JURIDICOS Revista de Direito Privado | vol. 35/2008 | p. 9 - 23 | Jul - Set / 2008 DTR\2008\437 Alexandre Pimenta Batista Pereira Doutor e mestre em Direito pela UFMG, Professor na UFV, Pesquisador-Visitante na Universidade de GieBen, Alemanha, Area do Direito: Civil Resumo: A reducdo e a conversao designam mecanismos de reestruturacao do negécio juridico, capazes de promover a necesséria adaptacdo quantitativa e qualitativa dos requisitos de validade. Estudar 0 principio da conservacao dos negécios juridicos é estabelecer a importancia do pensamento tipolégico nas dimensées sistémicas do direito, de forma a destacar o ajuste da qualificacdo abstrata (quaestio juris) nas particularidades da vida (quaestio facti). Palavras-chave: Pensamento tipolégico - Sistema juridico - Principio da conservago dos negécios juridicos ‘Abstract: The reduction and the conversion assign mechanisms of reorganization of the legal transaction, capable to promote the necessary quantitative and qualitative adaptation of the validity requirements. Studying the principle of the conservation of the legal transactions is to establish the importance of the typologic thought in the systemics dimensions of the right, of form to detach the adjustment of the abstract qualification (quaestio iuris) in the particularities of the life (quaestio facti). Keywords: Typologic thought - Legal system - principle of the conservation of the legal transactions Sumario: 1, Introdugo - 2. Da jurisprudéncia dos conceitos a jurisprudéncia dos tipos - 3. Para uma agregacdo da tépica na sistematica - 4, Negécio juridico e ideologia - 5. Utile per inutile non vitiatur - 6. Por um significado técnico do vocdbulo parte - 7. Entre a reducao e a conversao - Bibliografia 1. Introdugio Dizer que a aplicagao da lei ndo se esgota num mecanismo de subsunc&o formal, mas exige ainda ponderacées valorativas do aplicador, tornou-se mesmo um truismo. O papel da dogmatica moderna volta-se decerto para um pensamento de orientacdo valorativa - wertorientiertes Denken - em superacdo a assertiva de neutralidade do aplicador - wertungsneutrale Begriffsarbeit. * ‘A pergunta central da ciéncia juridica endereca vetores de um padrdo de legitimidade para utilizaco de modelos juridico-conceituais. 2N&o é por acaso que o principio da ponderag8o - Abwéigungsprinzip - assume destaque na aplicagao da lei, uma vez que ele firma a dimensao holistica do direito estabelece uma caracterizag3o pragmatica da linguagem. > Neste contexto, o tipo procura ajustar a realidade da vida ao encontro da qualificag3o juridica; ele ostenta a funcionalidade de concretizac3o do jogo linguistico - Sprachspiel - sendo capaz de apresentar © preceito de sistematicidade por meio da reflexéo argumentativa. “Um exemplo da forca adaptativa e maledvel do tipo se faz presente no brocardo utile per inutile non vitiatur - 0 principio da conservacéo dos negécios juridicos - que confere eficdcia ao negécio, a despeito de uma macula quantitativa ou qualitativa. A diretiva de aproveitamento das declaragées sobreleva a dimensdo social dos negécios e fomenta os predicados de mobilidade e abertura do sistema. 2. Da jurisprudéncia dos conceitos a jurisprudéncia dos tipos ‘A estruturagSo Iégica de conceitos expressa a marca de objetividade no direito. O confiar na lei consolida 0 anseio de seguranca social: "A certeza de orientacdo exige que a vida comum siga regras gerais de ordenacéo”, § As classificagées juridicas sdo estabelecidas pela divisdo conceitual - Begriffseinteilung - de sorte a reconhecer uma combinag3o de categorias de género - Gattungsbegriff - sujeitas a um cotejar de proporcéo menor - membra divisionis. °Conceitos e classes cumprem um papel de representagio (Darstellungsfunktion), a ordenar coisas e fenémenos, Nos atos de execucdo processual, nas obrigagées civis, nos direitos reais de garantia percebem-se disposicdes légicas que agregam diferencas e semelhancas das relacées juridicas. A classificacéo - genus proximum, differentiam specificam - hitpsrevistedostribunais.com brimatfappidelveryidocument ato ‘wo2/2021 Envio | Revista dos Tribunals propicia o matiz de cientificidade ao direito, de sorte a conferir uma proposico uniforme de principios, institutos e regras. 7 Os conceitos sdo assim definidos por um elenco preciso de requisitos, nao sendo permitido ao aplicador confeccionar um elastério dos seus pressupostos. Vale dizer que o principio da reserva legal, no direito penal € no direito tributério, imputa a obrigatoriedade de conferir, apenas pela lei, a imposicéo do fazer ou deixar de fazer. Ndo & permitido ao aplicador ampliar as caracteristicas tipificadoras, nem mesmo utilizar-se da analogia como mecanismo de integracdo. © tipo, ao contrario, é descrito e permite um procedimento de certa matizagéo de seus pressupostos; ele supera 0 pensamento Idgico-formal de subsungao dos conceitos e tenta alcangar os entretons das realidades. ® "O conceito ¢ fechado; o tipo, aberto, O conceito conhece apenas a preciséo Entweder-Oder (ou isso ou aquilo); 0 tipo contenta-se com a realidade miltipla do Mehr-oder-Minder (do mais ou do menos)." ° ‘Ao passo que as classes séo construidas pela assertiva do verdadeiro ou falso, o tipo é conferido pela agregagao de singularidades, adaptaveis em conformidade & relevancia social. Em atencdo ao Progresso econémico-social, surgem novos tipos contratuais a partir de um mesclar de requisitos e proposicées. O leasing, por exemplo, combina aspectos da compra e venda, locagdo e financiamento; 0 factoring permite despontar alguns elementos da cessao de crédito, locacao e prestacao de servicos. Nao é dificil perceber que tanto mais complexo for o sistema social, mais sofisticados sero os modelos contratuais. "9A maleabilidade do tipo propicia conferir azo 4 evolucdo e alcangar a concretizacao de novos valores sociais. !"Ao trabalhar com o juizo da matizagio - Abstufbarkeit - o tipo vai ao encontro das transigées fluidas da vida - flieSende Ubergange; "ele busca néo um enfoque de identidade, mas um cotejo de semelhanca. “7A conjugaco tipolégica é fundamentalmente um exercicio de correspondéncia - Ubereinstimmung - que deveras potencializa a eclosio de uma ponderaco valorativa. 40 entendimento dos pensamentos tépico e sistemético permite fundamentar aspectos da maleabilidade do tipo. 3, Para uma agregacao da t6j ‘A marca de objetividade do direito, calcada na construgSo de categorias légicas, deve estar apta para congregar um padrao de uniformidade e coeréncia, a servico da deciséo. Deve-se proceder a um encontro do modelo abstrato, generalizante, com a particularidade da vida. a na sistematica Por meio de métodos ordenados da argumentagéo juridica, o pensamento tépico estabelece premissas de orientag&o de solucéo de problemas. ‘50 processo de reconhecimento e fundamentagdo ( Erkenntnis- und Begriindungsverfahren), moldado na articulaggo de axiomas da ars inveniendi, coneretiza um instrumento da ars iudicandi. ° A tépica prope um rompimento com o normativismo-légico, centrado nas acepgées sintatica e seméntica do discurso, e passa a aferir a funco pragmatica, voltada para a deciso. Para desenvolver as raizes de uma estrutura argumentativa racional, 0 pensamento situacional - ou tépico - transcende 05 limites da ldgica dedutiva. *7 Como destaca Viehweg, a retérica do modelo tépico proporciona a solugéo de problemas ndo s6 por conceitos, como ainda por assertivas que superam a categorizacao incisiva de uma configuracao axiomatica-dedutiva. © pensamento juridico nao se esgota, porém, em poucos axiomas; ao contrério, 6 capaz de se adaptar 2 um niimero variavel de solugées. A sistematizagao dissolve-se por situacées miltiplas, pelas quais se podem observar nao apenas uma predicagéo ordenadora e classificatoria de premissas gerais, senao ainda preceitos teleolégicos que obedecam a uma relacao meio-fim. 19 ‘A conjugacao de diretrizes valorativas e conceitos gerais adquire pois um preceito de sistematicidade no direito. Pela diviséo de classes, a ciéncia congrega pontos de vista comuns capazes de ser interligados uniformemente na aplicacao, 2° © pensamento sistematico estabelece a assertiva geral de evitar contradicées e concretizar a dimensao holistica do direito. Como percebe Zippelius, a ferramenta do viés sistémico concretiza-se no pensamento comparativo - vergleichendes Denken - pela correcdo e diferenciagio de principios ajustaveis nos casos concretos: reasoning from case to case. 24 Pelos predicados de ordenacdo e unidade, 0 pensamento sistematico questiona a modelagdo tépica, de modo a evitar um dispersar de "singularidades desconexas" e propiciar a confeccao de conceitos indeterminados e a integrag3o de lacunas. ”? hitpsrevistedostribunais.com brimatfappidelveryidocument 20 ‘wo2/2021 Envio | Revista dos Tribunals A sistematica n&o exclui, porém, a tépica; ambas se completam por meio da permanente busca de concretude da eqilidade. "Nessas dreas, a tépica é, por um lado, um mero recurso e um primeiro passo para determinaggo sistematica, representando também, por outro, 0 Unico processo justificado. Este Ultimo caso verifica-se, sobretudo, onde a prépria lei remeta, em branco, para o common sense e deixe ao juiz a determinagao das maximas da atuagao correta." 3 ‘A necessaria conjugacao entre a tépica e a sistemdtica esté centrada na mutabilidade dos valores juridicos e na confeccio das cldusulas gerais. "0 tipo revela-se instrumento capaz de realizar as premissas de abertura e mobilidade sistémicas e romper com a dimenséo estética do conceito, "A idéia do sistema médvel conhece uma semelhanca interna com o tipo, & medida que congrega as caracteristicas de variabilidade, graduacées de requisitos, possibilidade de entretons, combinages de pressupostos." ?5 © principio da conservacao dos negécios juridicos ostenta uma das mais importantes manifestacdes da reestruturacao tipica, por meio de um mecanismo adaptativo quantitativo e qualitative das classificagées juridicas. 4. Negécio juridico e ideoloy © negécio juridico figura que existe em sociedade, independentemente da concessdo do Estado, e para além da outorga juridica; ele consubstancia o predicado da circulacdo de bens e servicos pelos particulares, mediante associacao de forca e trabalho. 76 A par disso, Junqueira de Azevedo esclarece que "tribos primitivas realizam atos negociais sem que haja, acima delas, essa instituicdo, que é 0 Estado. (...) Ha uma juridicidade insita no negécio juridico que nao é dada pels lei, que existe antes da chamada incidéncia da lei, A mesma sociedade que cria 0 Estado - e a lei como expresso da vontade do Estado - cria também o negécio juridico". 2” Betti destaca que a funcao do negécio é essencialmente dindmica: ao passo que o direito subjetivo visa configurar um predicado estatico de preservacio das relacdes juridicas, o negécio objetiva um impulso renovador e fundamentalmente de criacio. 780 negécio ultrapassa, pois, o foro interno da vontade para tornar-se "um fato social, susceptivel de interpretacao e avaliacao. Declarages e comportamentos sao entidades socialmente reconheciveis, de sorte que podem constituir objeto de interpretagdo ou instrumento de autonomia privada”. ?° Para Luhmann, 0 contrato evolui com o propésito de configurar um mecanismo de estabilidade, inserido na complexidade sistémica: das formas primarias de negociacdo mao a mao - von Hand zu Hand - 0 contrato ostenta hoje um sofisticado expoente sinalagmatico, regido por principios. °° Com efeito, a autonomia funciona, segundo a percepcdo de Flume, como “principio de auto-regulacio das relagées juridicas” ( Selbstgestaltung) e meio de autodeterminacao (Selbstbestimmung) de interesses; #ela nao se destina a um campo meramente individual, mas fundamentalmente a um processo de interface social, consideradas conseqléncias a terceiros - Drittwirkung. 2? Neste quadro de reconhecimento ( Anerkennung) - e no de concessao - seria mesmo injusto impor a sangao de nulidade absoluta ao negécio que ndo satisfaca, na integra, os requisites legais; quando for possivel aproveitar os elementos da declaracao, a ordem juridica procura encontrar um meio eficiente de superaco do formalismo, a fim de reconhecer primazia da autonomia como valor de realizacio humana: Na seara processual, Bezerra Leite informa que "durante muito tempo persistiu a idéia de que a falta de alguma formalidade dos atos processuais implicava a nulificacdo de todo o processo, Era 0 chamado sistema legalista ou formalista. Felizmente, com a nova fase de instrumentalidade do proceso, passou- se a mitigar o rigor das formalidades dos atos e termos do processo e, conseqiientemente, das nulidades processuais. © moderno sistema processual prestigia, pois, os fins sociais do proceso”. 23yigora hoje um sistema teleolégico das nulidades, marcado pelo principio da utilidade. *40 art. 248 do CPC (LGL\1973\5) é um exemplo significative da nova roupagem processualistica no que se refere & valoracao das formalidades, j4 que "a nulidade de uma parte do ato nao prejudicard as outras, que dela sejam independentes" Em sede negocial, 0 aproveitamento das declaragées revela importante marca de superaco do rigor formalista, a0 encontro de um viés que consagre a primazia do caréter social do negécio juridico, principio da conservagao dos negécios é responsdvel por sobrepor o espirito a letra. °° 5. Utile per © principio da conservagao dos negécios juridicos - utile per inutile non vitiatur - disciplina um mecanismo de retirada da parte viciada, mantendo, porém, vilido e eficaz o restante do negécio. utile non vitiatur hitpsrevistedostribunais.com brimatfappidelveryidocument sito ‘woz2021 Envi | Revista dos Thibunais A parémia, que atingiu a consagracao no medievo, teve em Ulpiano seu ponto de partida: "(...) non si tot sunt stipulationes, quot corpora, duae sunt quodammodo stipulationes, una utilis, alia inutilis, neque vitiatur utilis per hanc inutilem" (D. 45,1,1,5). °° Para 0 negécio manter uma parte valida, Seiler percebe que devem ser tomadas como arrimo estipulacdes em conjunto - duae sunt quodammodo stipulationes - e, a0 mesmo tempo, independentes = neque vitiatur utilis per hanc inutilem. *”Assim, a representacao da parte - Teil - & concretizada pelo raciocinio - tot stipulationes quod res - de sorte que cada estipulagdo tenha existéncia auténoma. * Seiler explica que 0 testamento é 0 campo privilegiado de aplicagéo do preceito de aproveitamento. 3°Segundo ensinamento de Gaio, a disposic&o legatéria inuitil no ocasiona a contaminagéo do testamento: "Ante heredis institutionem inutiliter legatur, scilicet quia testamenta vim ex institutione heredis accipiunt, et ob id velut caput et fundamentum intellegitur totius testamenti heredis institutio" (Gai Inst. Com. 2, 228). ‘Ademais, 0 problema da condigéo impossivel apresenta, no direito romano, a caracterizagéo pro non scripta (D. 28,7,20). As conhecidas formulas favor testamenti, favor contractus representam no menos que uma tendéncia de manter intacta a parte do negécio passivel de ser aproveitada. “° Se 0 vicio alcangar a causa principal, tem-se um contrato invdlido, como expée Paulo: "cum principalis, causa non consistit, ne ea quidem quae sequuntur locum habent" (D, 50,17,129,1). © raciocinio & deveras considerado a matriz estrutural do §139 BGB - Cédigo Civil (LGL\2002\400) alemao: "Se uma parte do negécio juridico for nula, entéo todo 0 negécio juridico € nulo, se nao for suposto que também fosse concluido sem a parte nula". Hd que perceber, pois, que vigora a previsio geral de nulidade total como sango. 2 © sistema suigo determina, ao contrério, a suposiggo de permanéncia da validade. Nesse sentido, dispde o art. 20, inc. 2, do Cédigo das Obrigacdes que, "caso 0 defeito diga respeito a partes singulares do contrato, so apenas estas nulas, se ndo se supusesse que [0 contrato] nao fosse concluido sem a parte nula” A priori haveria que perceber uma diferenca de sentido entre a regra da nulidade total - Gesamtnichtigkeit - e a previso de validade remanescente - Restgiiltigkeit. Quanto a primeira teoria, uma das partes que padece de vicio 6 capaz de determinar, por consequiéncia, a nulidade do todo; em relacdo a0 segundo enunciado, "o principio da nulidade parcial significa isolamento de cada elemento contratual, eventualmente ameacado de nulidade”, 3 No entanto, como pondera Mayer-Marly, ocorre hoje verdadeira relativizaco da dicotomia, havendo necessariamente que se cogitar o sentido objetivo das tratativas contratuais, ao encontro de uma averiguacao do comportamento dos participantes. Tanto assim é verdade que o art, 1.419 do Codice Civile direciona o preceito de nullita parziale, procurando aglutinar o cardter de suposicao do vicio, combinado ao telos de aproveitamento negocial: "a nulidade parcial de um contrato ou a nulidade de cléusulas singulares importa a nulidade do contrato por inteiro, se resultar que os contratantes nao o teriam concluido sem a parte do seu contetido que padece de nulidade". ‘A opcao pela validade remanescente ou mesmo pela nulidade total designa uma forma de decisdo externa que deve estar combinada & forca da vontade - Willensmacht. “°Neste diapasio, ao prever o procedimento de separagao entre a parte contaminada e a disposicao passivel de ser aproveltada, o art. 184 do CC/2002 (LGL\2002\400) brasileiro procura estruturar o sistema da invalidade parcial “respeitada a intengdo das partes" 6. Por um significado técnico do voc4bulo parte Um problema central na nulidade parcial - Teilnichtigkeit - diz respeito 8 valorago de abrangéncia de contaminacao do vicio, em cujos alicerces ganha evidéncia a proposicéo de salvaguarda da parte remanescente. * A parte ( Teil) do negécio é entendida ndo apenas em relagdo a pluralidade de cldusulas, mas também em ateng&o as redes contratuais, levando-se em conta uma causa comum de um conglomerado de declarages. Na primeira referéncia, vem & tona o negécio composto - zusammengesetztes Rechtsgeschaft - consagrado pela multiplicidade de cléusulas; na segunda enumeracéo emergem os negécios coligados - verbundene Rechtsgeschafte - estruturados por uma teia intercomunicante. ‘7 Decerto, a manifestaggo do negécio simples e unitario exclui a possibilidade de aplicacdo da teoria da nulidade parcial. O conjunto de cldusulas no negécio e os contratos interligados por uma rede causal comum sao exemplos de transposicaio do matiz unitario. hitpsrevistedostribunais.com brimatfappidelveryidocument 4n0 ‘wo2/2021 Envio | Revista dos Tribunals A pluralidade de partes do negécio juridico tem em vista, de um lado, a insercéo de elementos acidentais - accidentalia negotii - v.g. condig&o, termo - ou, de outro, a incidéncia de elementos naturais - os naturalia negotii - por exemplo, a cldusula penal. “*Consoante o art. 184 do CC/2002 (LGL\2002\400), @ nulidade da parte acesséria (elementos acidentais e naturais) ndo contagia a obrigacao principal: "a invalidade da obrigagao principal implica a das obrigaces acessérias, mas a destas no induz a da principa A relag&o entre obrigac&o principal e acesséria pode ser observada ndo sé no regime das nulidades, mas também na forca de eficdcia comum. Exemplificando: 0 valor da cominaco imposta na cléusula penal n&o pode exceder o da obrigacdo principal (art. 412 do CC/2002 (LGL\2002\400)); apurado o excesso, deve o juiz reduzir equitativamente o valor da clusula acessoria, decotando a sua manifestacao de eficdcia, Por outro lado, a teoria das redes contratuais considera a formacdo intercomunicante de contratos estruturalmente diversos, a partir de um nexo econémico e social comum. Apesar da independéncia, um contrato singular pode ser visto por parte de uma rede. A ocorréncia estd adstrita as seguintes caracteristicas: "conexao entre contratos; surgimento de uma causa sistematica; verificagéo de um propésito comum", “°Permite-se entdo superar uma dimensdo setorial e individualizada do contrato - parte - em atenc3o ao alcance de uma abrangéncia de efeitos de declaragées inseridas em uma série comunicativa. Assim, "nas operagées em redes, pode-se sustentar a propagacao de invalidades ineficdcias entre contratos unidos em um todo negocial", *°Averiguada, pois, a urdidura comum, pie-se em mira verdadeira irradiagdo de efeitos juridicos. Nesse sentido, 2 Sumula 308 (MIX\2010\1557) do STJ determina o n&o-contagio de efeitos da joteca, firmada entre a construtora e o agente financeiro, perante os adquirentes do imével. Integrando uma dimensdo estrutural coligada, os poderes da hipoteca permanecem inécuos em relacso & compra e venda, independentemente da obrigagéo de impor o levantamento da garantia real. Com isso, forma-se um sistema de rede contratual, proveniente da conexao entre os contratos-elemento. ** A parte, neste caso, assume uma acepgao prépria em relagao a qual "é preciso considerar a existéncia de um vinculo associativo, que estabelece, entre os contratos que compéem [a rede], uma relac3o intra-eficacial quase-societaria". 5 Se, na rede contratual, efeitos comuns podem ser observados a partir da configuraggo de uma tessitura uniforme, no contrato de miltiplas cléusulas 0 predicado de particao - Teifbarkeit - permite sedimentar a nulidade parcial por meio da retirada de declaracdes contaminadas. 5*No primeiro caso, buscam-se conseqiiéncias abrangentes, a partir do predicado de relacdes comuns; no segundo, almeja-se recortar 05 efeitos das disposicées secundarias. A par disso, Flume ensina que a aplicagao da nulidade parcial pressupée o conceito de parte contratual Haveria, por assim dizer, um caminho légico a ser considerado: buscar a particularizac&io dos efeitos das partes do contrato, superando a possibilidade de estender o vicio ao restante, & vista da constatagéo da forca parcial da nulidade. “€ necessdrio que 0 negécio represente "uma unidade consoante o seu contetido", para além do querer interno. 5° Flume destaca ainda a necessidade de previséo da vontade hipotética que, necessariamente, nao revela @ vontade em si, mas "o que os contratantes racionalmente tivessem pretendido em conformidade & boa-fé e pela consideracdo do tréfego"; ele chega inclusive a admitir a necessidade de uma ponderacao racional - in verntinftiger Abwagung ~ da base negocial - Geschaftsgrundlage - independentemente de preceitos féticos. °°E arremata: se a nulidade nao apresenta grande significado para a totalidade do contrato, "permanece intocdvel a regulacao negocial da parte remanescente". 57 7. Entre a reducao e a conversao - Bibliografia ‘A redugio e a conversao revelam significativos exemplos de aplicacao do principio da conservacéo dos Negécios juridicos - utile per inutile non vitiatur. Com efeito, busca-se uma remodelacao das declaracdes para encontrar uma dimensao de justica e proveito social. Cum grano salis, pode-se dizer que a redugao seja um caso de nulidade parcial quantitativa, ao passo que @ conversdo ostente um Mecanismo qualitativo de aproveitamento. °° Quer no direito material, quer em Ambito processual, a reducio encontra um fecundo campo de manifestaco. Ocorre assim, por exemplo, na colagdo, ao se ter em mente que as doacdes excedentes 20 que 0 doador poderia dispor no momento da liberalidade devem ser reduzidas (art. 2.007 do CC/ 2002 (LGL\2002\400)); do mesmo modo, as disposicées testamentdrias que excedam a porcao disponivel do testador esto sujeitas & redugo na proporgao de seu valor (art. 1.967, § 1.°, do CC/ 2002 (LGL\2002\400)); pari passu, no caso da venda ad mensuram, provado que tinha o vendedor motivos para ignorar a medida exata da area vendida, o comprador deve completar o valor ou devolver © excesso (art. 500, § 2.2, do CC/2002 (LGL\2002\400)). hitpsrevistedostribunais.com brimatfappidelveryidocument 5110 ‘wo2/2021 Envio | Revista dos Tribunals Pelo que concerne a0 processo, 0 art. 745, III, do CPC (LGL\1973\5) autoriza a possibilidade de embargos do devedor que digam respeito ao excesso de execucao, quando o credor pleiteia quantia superior ao titulo. N3o é demasiado lembrar que vigora na execucdo 0 principio de ndo-prejudicialidade do devedor, segundo 0 qual a constricéo deve ser estabelecida de modo menos gravoso (art. 620 do CPC (LGL\1973\5)). O preceito de coibir o excesso da pretensdo inicial do exeqiiente, autorizando o decote da execugao pelo juiz, estd deveras inserido no telos de a execucao ser realizada de modo a importar menor gravidade Ao lado da reduco, a conversao, "instituto posto a meio caminho entre as exigéncias formais do Direito e as exigéncias substanciais da Justica", permite atenuar “os rigores do direito estrito, conforme o principio da conservagéo dos negécios juridicos". 59 Determina, portanto, o art. 170 do CC/2002 (LGL\2002\400) que, "se, porém, 0 negécio juridico nulo contiver os requisitos de outro, subsistird este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que © teriam querido, se houvessem previsto a nulidade". Pelo procedimento de qualificaco leva-se em conta o grau maximo de correspondéncia entre os elementos faticos e 0 modelo juridico, a designar um preceito de enlace homélogo ou isomérfico. ®°apurada falha no procedimento de subsunc&o, entra em cena uma busca de menor grau de correspondéncia, como tentativa de salvaguardar a eficdcia negocial. Tem-se aqui a configurac3o de um novo enquadramento tipico, 0 chamado Ersatzgeschaft - negécio substitutivo. Exemplificando: a dispensa imotivada sem concesséo do aviso prévio converte-se em proposta de resilicéo do contrato de trabalho; “ta falsa declaracao de paternidade pode ser convertida em legitimacao adotiva; a compra e venda de imével por instrumento piiblico, sendo nula, poderia valer como contrato preliminar para afirmar compromisso; as disposicées de pouca monta so reputadas codicilos, deixe ou nao testamento o autor (art. 1.882 do CC/2002 (LGL\2002\400)). © cotejo das mencionadas figuras nao fica, porém, adstrito a um quadro de qualificagdo. Na reducao, por exemplo, podem ser vislumbradas tanto ‘a caracterizacéo quantitativa (a envolver uma reestruturacdo dos limites do objeto negocial) quanto uma veste qualitativa que estabelece um predicado de supressao da cléusula afetada pelo vicio. Um exemplo paradigmatico pode ser visto no direito do trabalho. Provada a nulidade de cléusula que viole liberdades ou direitos individuais indisponiveis dos trabalhadores, 0 Ministério Publico do Trabalho - como prevé 0 art. 83, IV, da LC 75/93 - tem legitimidade para propor acéo anulatéria de cléusula do acordo ou da convencdo coletiva: decota-se a singularidade contaminada, sem jamais fomentar a destruigio total do instrumento coletivo. O mecanismo da retirada (reduco) da cldusula viciada ¢ feito no mediante parametros quantitativos da porgio em excesso, mas por meio de um novo enfoque tipolégico como tentativa de ajuste da parte em relacdo ao conjunto contratual. & Inserido num contexto de maleabilidade do tipo, o principio da conservacao dos negécios juridicos Proporciona a concretizaco da dimensao sistémica do direito. As possibilidades de ajuste quantitative e qualitative conferem uma adequacdo aos predicados de justica. O enfoque social do negécio exige atenuacao dos rigores da nulidade, ao deixar de lado a porcao viciada, a luz da preservacéo maxima das declaragées. As figuras da redugao e da conversdo séo manifestacdes do principio da conservacio que é fiel a um atributo mitigador da forca de nulidade. Preservar as declaragdes - seja por uma remodelacao qualificadora, seja por uma reestruturacao quantitativa - é reconhecer a funcionalidade da subsungdo pela maleabilidade do tipo, em vista do predicado de sistematicidade do direito. Bibliografia ANDRE, Fr. Einfache, zusammengesetzte, verbundene Rechtsgeschafte: Ein Beitrag zu §139 des Burgerlichen Gesetzbuchs. Marburg: Elwert, 1913. BETTI, Emilio. Teoria generale de! negozio giuridico. 2. ed. (ristampa). Napoli: Scientifiche, 1994. BEZERRA LEITE, Carlos Henrique. Curso de direito processual do trabalho. 6. ed. S40 Paulo: LTr, 2008 BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Tépica e argumentacao juridica. Revista de Informacao Legislativa, n. 163, p. 153-165, jul--set. 2004, CANARIS, Claus-Wilhelm. Pensamento sistemético e conceito de sistema na ciéncia do direito. Trad, Anténio Menezes Cordeiro. 3. ed. Lisboa: Fundagao Calouste Gulbenkian, 2002. CARVALHO FERNANDES, Luis A. A conversdo dos negdcios juridicos civis. Lisboa: Quid Juris, 1993. CHRISTENSEN, Ralph; LERCH, Kent D. Dass das Ganze das Wehre ist, ist nicht ganz unwahr, Juristenzeitung, Tubingen, S. 438-444, 4. mai 2007. DEL NERO, Jodo Alberto Schiitzer, Conversdo substancial do negécio juridico. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. bits: evistadostibunais.com brimatlappideveryldocument sno ‘wo2/2021 Envio | Revista dos Tribunals DINAMARCO, C&ndido Rangel. A instrumentalidade do processo. 5. ed. So Paulo: Malheiros, 1996. ENGISCH, Karl. Begriffseinteilung und Klassifikation in der Jurisprudenz, In: PAULUS, von Gotthard; DIEDERICHSEN, Uwe; CANARIS, Claus-Wilhelm (Hrsg.). Festschrift fiir Karl Larenz zum 70. Geburstag. Miinchen: Beck, 1973 FLUME, Werner. Das Rechtsgeschéift. Berlin/Heidelberg/New York: Springer, 1965 HORN, Norbert. Zur Bedeutung der Topiklehre Theodor Viehwegs fiir eine einheitliche Theorie des juristischen Denkens. Neve Juristische Wochenschrift, Miinchen u. Frankfurt am Main, Hf. 14, 5. 601- 608, 1967. JUNQUEIRA DE AZEVEDO, Anténio. A converséo dos negécios juridicos: seu interesse teérico e pratico. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo, S80 Paulo, v. 69, p. 181-190, 1974 Apresentacio. In: DEL NERO, Jo&o Alberto Schiitzer. Converséo substancial do negécio juridico. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. IL Ciéncia do direito, negécio juridico e ideolagia. In: FRANCESCO, José Roberto Pacheco Di et al. Estudos em homenagem ao Professor Silvio Rodrigues. Sao Paulo: Saraiva, 1989 KAUFMANN, Arthur. Analogie und Natur der Sache: Zugleich ein Beitrag zur Lehre vom Typus. 2. auf. Heidelberg: Decker & Miller, 1982. LARENZ, Karl. Grundformen wertorientierten Denkens in der Jurisprudenz. Walter Wilburg zum 70. Geburtstag: Festschrift. Graz: Leykam, 1975. LEENEN, Detlef. Typus und Rechtsfindung: Die Bedeutung der typologischen Methode fur die Rechtsfindung dargestellt am Vertragsrecht des BGB. Berlin: Duncker & Humblot, 1971. LEONARDO, Rodrigo Xavier. A teoria das redes contratuais e @ fungdo social dos contratos: reflexdes a partir de uma recente decisdo do ST), RT, Sao Paulo, v. 832, p. 100-111, fev. 2005. LUHMANN, Niklas. Das Recht der Gesellschaft. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1995. MAYER-MALY, Theo. Uber die Teilnichtigkeit. In: FAISTENBERGER, von Christoph; MAYRHOFER, Heinrich (Hrsg.). Privatrechtliche Beitrage: Gedenkschrift Franz Gschnitzer. Wien: Scientia Verlag Aalen, 1969. MEDICUS, Dieter. Allgemeiner Teil des BGB. 9. aufl. Heidelberg: Miller, 2006. NAENDRUP, Peter-Hubert. Die Teilnichtigkeit im Recht der Allgemeinen Geschaftsbedingungen. Bielefeld: Ernst und Werner Gieseking, 1966. PENTEADO, Luciano de Camargo. Redes contratuais e contratos coligados. In: HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes; TARTUCE, Flavio. Direito contratual - Temas atuais. Sdo Paulo: Método, 2007, RADBRUCH, Gustav. Klassenbegriffe und Ordnungsbegriffe im Rechtsdenken. Revue internationale de la théorie du droit - Internazionale Zeitschrift fur Theorie des Rechts, Brinn, Bd. 12, S. 46-54, 1938. SEILER, Hans Hermann. Utile per Inutile non Vitiatur: Zur Teilunwirksamkeit von Rechtsgeschaften im rémischen Recht. In: (Hrsg.) MEDICUS, von Dieter; SEILER, Hans Hermann, Festschrift fiir Max Kaser zum 70. Geburtstag. Munchen: Beck, 1976. SKOURIS, Wassilios. Teiinichtigkeit von Gesetzen. Berlin: Duncker & Humblot, 1973. VIEHWEG, Theodor. Topik und Jurisprudenz. 2. aufl. Miinchen: Beck, 1963. VILLELA, Jodo Baptista, O Plano Collor e a teoria da base negocial. Repertério IOB de Jurisprudéncia, S30 Paulo, n. 19, p. 379-385, out. 1990 [paginacao irregular]. WESTERMANN, Harm Peter. Vertragsfreiheit und —Typengesetzlichkeit im Recht der Personengesellschaften. Berlin/Heidelberg/New York, 1970. ZIPPELIUS, Reinhold. Rechtsphilosophie. 2. aufl. Minchen: Beck, 1989. 1, Cf.: LARENZ, Karl. Grundformen wertorientierten Denkens in der Jurisprudenz. Walter Wilburg zum 70. Geburtstag: Festschrift. Graz: Leykam, 1975. p. 217. 2. Cf: LARENZ, Grundformen wertorientierten... cit., p. 217-218. 3. Cf: CHRISTENSEN, Ralph; LERCH, Kent D. Dass das Ganze das Wahre ist, ist nicht ganz unwahr. Juristenzeitung, Tubingen, 4 mai 2007, p. 438 4. Cf: CHRISTENSEN; LERCH. Dass das Ganze... cit., p. 440. hitpsrevistedostribunais.com brimatfappidelveryidocument m0 ‘wo2/2021 Envio | Revista dos Tribunals 5, ZIPPELIUS, Reinhold. Rechtsphilosophie. 2. aufl. Miinchen: Beck, 1989. p. 168. 6. Cf.: ENGISCH, Karl. Begriffseinteilung und Klassifikation in der Jurisprudenz. In: PAULUS, von Gotthard; DIEDERICHSEN, Uwe; CANARIS, Claus-Wilhelm (Hrsg.). Festschrift fiir Karl Larenz zum 70. Geburstag. Munchen: Beck, 1973. p. 126-127. 7. Cf: ENGISCH. Begriffseinteilung und... cit., p. 149. 8, Cf.: RADBRUCH, Gustav. Klassenbegriffe und Ordnungsbegriffe im Rechtsdenken. Revue internationale de la théorie du droit - Internazionale Zeitschrift fur Theorie des Rechts 12/47, Brinn, 1938. 9. KAUFMANN, Arthur. Analogie und Natur der Sache: Zugleich ein Beitrag zur Lehre vom Typus. 2. auf. Heidelberg: Decker & Miiller, 1982. p, 47-48. 10. Quanto ao problema da complexidade social, recomenda-se a leitura de Niklas Luhmann, Das Recht der Gesellschaft, Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1995, p. 54 et seq. 11. Westermann analisa a conjugacéo do pensamento tipoldgico na estruturacdo das espécies societérias (cf.: WESTERMANN, Harm Peter. Vertragsfreiheit und Typengesetzlichkeit im Recht der Personengesellschaften. Berlin /Heidelberg/New York, 1970. p. 112 et seq.). 12. Cf.: RADBRUCH. Klassenbegriffe und... cit., p. 46. 13. Cf: LEENEN, Detlef. Typus und Rechtsfindung: Die Bedeutung der typologischen Methode fiir die Rechtsfindung dargestellt am Vertragsrecht des BGB. Berlin: Duncker & Humblot, 1971. p. 177. 14. Cf, LEENEN. Typus und... cit., p. 183. 15. Cf: HORN, Norbert. Zur Bedeutung der Topiklehre Theodor Viehwegs fur eine einheitliche Theorie des juristischen Denkens. Neue Juristische Wochenschrift 14/604, Munchen u, Frankfurt am Main, 1967. 16. Cf: HORN. Zur Bedeutung der... cit., p. 602. 17. Cf: BUSTAMANTE, Thomas da Rosa de. Tépica e argumentacao juridica. Revista de Informacao Legislativa 163/160-162, jul.-set. 2004 18. Cf.: VIEHWEG, Theodor. Topik und Jurisprudenz. 2. aufl. Miinchen: Beck, 1963. p. 66 et seq 19. Zippelius cita 0 procedimento classificatério dos direitos reais e das relagdes obrigacionais; quanto & caracterizacao meio-fim, 0 autor lembra preceitos de organizacao do direito processual, cumpridores de um caminhar ordenado de satisfacao do crédito (cf. Rechtsphilosophie... cit., p. 251). 20. Cf.: LARENZ. Grundformen wertorientierten... oy Ps 229 21. Zippelius menciona a dimensio pldrima de adaptacao do principio pacta sunt servanda (cf. Rechtsphilosophie... cit., p. 269-270). 22. Cf.: CANARIS, Claus-Wilhelm. Pensamento sistemético e conceito de sistema na ciéncia do direito. Trad. Anténio Menezes Cordeiro, 3. ed. Lisboa: Fundagao Calouste Gulbenkian, 2002. p. 12 et seq. 23. Pensamento sistemético... cit., p. 288. 24. Cf: CANARIS. Pensamento sistematico... cit., p. 281-282. 25. LARENZ. Grundformen wertorientierten... cit., p. 228. 26. Cf.: BETTI, Emilio. Teoria generale del negozio giuridico. 2. ed. (ristampa), Napoli: Scientifiche, 1994, p. 44, 27. JUNQUEIRA DE AZEVEDO, Anténio. Ciéncia do direito, negécio juridico e ideologia. In: FRANCESCO, José Roberto Pacheco Di et al. Estudos em homenagem ao Professor Silvio Rodrigues. S80 Paulo: Saraiva, 1989. p, 17-19. hitpsrevistedostribunais.com brimatfappidelveryidocument arto ‘wo2/2021 Envio | Revista dos Tribunals 28. Cf.: BETTI, Teoria generale... cit., p. 49. 29. Idem, p. 56. 30. No tocante & hermengutica contratual, Luhmann, com certo pessimismo, admite que a ponderagéo de interesses é 0 Cavalo de Troia da dogmatica juridica (LUHMANN. Das Recht... cit., 5. 268). Talvez, com a mencionada referéncia, queira criticar 0 cotejo subjetivo de uma férmula que sirva para autopoiese sistémica 31. FLUME, Werner. Das Rechtsgeschaft, Berlin/Heidelberg/New York: Springer, 1965. p. 7 32. Cf.: FLUME. Das Rechtsgeschaft cit., p. 17. 33. BEZERRA LEITE, Carlos Henrique. Curso de direito processual do trabalho. 6, ed. Sao Paulo: LTr, 2008. p. 381. Dinamarco utiliza-se do sentido negativo da instrumentalidade para exprimir 0 combate ao formalismo estéril ( A instrumentalidade do processo. 5. ed. S40 Paulo: Malheiros, 1996. p. 267) 34, Cf.: BEZERRA LEITE. Curso de direito processual... cit., p. 381. 35. A expressao é utilizada segundo a classica referéncia do apéstolo Paulo: "a letra mata, mas 0 espirito vivifica” (2 Cor. 3, 6) 36. Além da conhecida passagem - D, 45,1,1,5 -, André cita também a referéncia D. 22,1,20 como meno do preceito utile non debet per inutile vitiari (cf.: ANDRE, Ft. Einfache, zusammengesetzte, verbundene Rechtsgeschafte: Ein Beitrag zu §139 des Burgerlichen Gesetzbuchs. Marburg: Elwert, 1913. p. 11) 37. Cf.: SEILER, Hans Hermann. Utile per Inutile non Vitiatur: Zur Teilunwirksamkeit von Rechtsgeschaiften im rémischen Recht. In: MEDICUS, von Dieter; SEILER, Hans Hermann (Hrsg.). Festschrift fr Max Kaser zum 70. Geburtstag. Munchen: Beck, 1976. p. 132. 38. Cf.: SEILER. Utile per Inutile... cit., p. 133. 39. Idem, ibidem 40. Seiler acrescenta que a vertente de manutengo da parte remanescente encontra-se na passagem de Ulpiano: "(...) itaque si res quindecim venit quinque, nunc autem sit decem, quinque tantum praestanda sunt" (D. 24,1,5,5) (cf. Utile per Inutile... cit., p. 143). 41. 0 termo causa é tomado aqui, na esteira de Betti, segundo a justificagao objetiva da funcéo econémico-social, deixando de lado o interesse subjetivo da vontade privada ( Teoria generale... cit., p. 181 et seq.) 42. A regra geral da nulidade plena do sistema aleméo é contraposta & preceituacdo de ineficécia parcial do testamento do § 2085 BGB: "A ineficdcia de uma das muitas disposicoes de um testamento tem por conseqiiéncia a ineficacia das remanescentes apenas se for suposto que estas sem a disposicao ineficaz nao fossem encontradas pelo testador". 43. Cf. MAYER-MALY, Theo. Uber die Teilnichtigkeit. In: FAISTENBERGER, von Christoph; MAYRHOFER, Heinrich (Hrsg.). Privatrechtliche Beitrége: Gedenkschrift Franz Gschnitzer. Wien: Scientia Verlag Aalen, 1969. p. 266. 44. Cf: MAYER-MALY, Uber die Teilnichtigkeit... cit., p. 267-268. 45. Cf.: Idem, p. 268. 46. Cf.: NAENDRUP, Peter-Hubert. Die Teilnichtigkeit im Recht der Allgemeinen Geschéftsbedingungen. Bielefeld: Ernst und Werner Gieseking, 1966. p. 41 47. Cf.: ANDRE. Einfache, zusammengesetzte... cit., p. 7 et seq. 48. Ao levar em conta a caracterizacao de reforco do vinculo obrigacional, entendemos que a natureza da cldusula penal, embora no corriqueiramente admitida, 6 de elemento natural. A partir da hitpsrevistedostribunais.com brimatfappidelveryidocument arto ‘woz2021 Envi | Revista dos Thibunais conjugacao de sua dupla fungio - intimidacao e ressarcimento -, a cléusula penal atua como elemento secundario do negécio. 49. LEONARDO, Rodrigo Xavier. A teoria das redes contratuais e a funcao social dos contratos: reflexdes a partir de uma recente decisdo do Superior Tribunal de Justica. RT 832/103, Sao Paulo: RT, fev. 2005. 50. Idem, p. 105. 51. Cf.: LEONARDO. A teoria das redes contratuais... cit., p. 107. 52. Penteado lembra que, nos contratos de plano de satide, interliga-se uma pluralidade de relacdes juridicas: "a prestago de servigos entre paciente e clinica, outra relacdo entre paciente e operadora e uma terceira entre a operadora e a clinica. Ao se fazer uso do plano, as trés relacdes sao atuadas de modo unitario" (PENTEADO, Luciano de Camargo. Redes contratuais e contratos coligados. In HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes; TARTUCE, Flavio. Direito contratual - Temas atuai Paulo: Método, 2007. p. 483). S30 53. Cf.: SKOURIS, Wassilios. Teilnichtigkeit von Gesetzen. Berlin: Duncker & Humblot, 1973. p. 22. 54. Das Rechtsgeschaft... cit., p. 570. 55. Cf.: FLUME. Das Rechtsgeschaft cit., p. 571 56. A teoria da base negocial ocupa lugar de destaque na dogmatica alema do negécio juridico; constatada alteracao significativa das circunstancias originais, a partir da perturbacao na base negocial = Stérung der Geschaftsgrundiage -, 0 § 313 BGB determina a possibilidade de ajuste pela distribuicao dos riscos entre os contratantes, No Brasil ganham félego a tematica da teoria da imprevisao e a outorga da revisao contratual. Sobre o tema confira: Jogo Baptista Villela, O Plano Collor e a teoria da base negocial, Repertério IOB de Jurisprudéncia, p. 379 et seq., S80 Paulo, out, 1990. 57. Cf.: FLUME. Das Rechtsgeschaft cit., s. 585. Junqueira de Azevedo critica 0 requisite da vontade hipotética, chegando a admitir que "somente um preconceito tedrico poderia criar a necessidade de imaginar uma vontade presumida. (...) O intérprete, para aplicar o preceito em causa, tera que partir de uma base hipotética que foge ao bom senso. (...) 0 preceito obriga o juiz a raciocinar em bases falsas, 0 que, além de inittl, é inconveniente” (A conversao dos negécios juridicos: seu interesse teérico e pratico. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo 69/187-188, S30 Paulo, 1974) 58. Cf.: FLUME. Das Rechtsgeschaft cit., p. 589-590. 59. JUNQUEIRA DE AZEVEDO, Antonio. Apresentacao. In: DEL NERO, Joao Alberto Schiitzer. Conversdo substancial do negécio juridico. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. II 60. Cf.: DEL NERO, Jodo Alberto Schiitzer. Conversdo substancial do negécio juridico. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. 40 et seq 61. Cf.: MEDICUS, Dieter. Allgemeiner Teil des BGB. 9. aufl. Heidelberg: Milller, 2006. p. 205 62. Cf.: DEL NERO, Conversdo substancial... cit., p. 422 63. Idem, ibidem 64. Cf.: CARVALHO FERNANDES, Luis A. A converséo dos negécios juridicos civis. Lisboa: Quid Juris, 1993. p. 555. 65. No mesmo sentido, pode-se pensar na possibilidade de retirada de cléusula que viole os bons costumes, remanescendo eficaz 0 negécio. hitpsrevistedostribunais.com brimatfappidelveryidocument t0n10

Você também pode gostar