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vol 07

ago 2012

ISSN 2176-3445

Comportamento e cognição:
Um dualismo superado?

Resenha do livro Clínica analítico-comportamental:


Aspectos teóricos e práticos

Paradigma entrevista
Maria Amalia Pie Abib Andery

História de vida: Dr. Isaias Pessotti

O papel do analista do comportamento


sobre o fenômeno bullying:
Algumas considerações

Comportamento em cena: Adaptação


www.nucleoparadigma.com.br
especialização em
clínicA AnAlítico-compoRtAmentAl
curso credenciado junto ao Conselho Federal de Psicologia
Uma publicação do Núcleo Paradigma,
Ensino e Consultoria em Psicologia Ltda.
São Paulo, vol. 7, agosto de 2012. coordenação Inscrições abertas
Coordenação Editorial
RobeRto Alves bAnAco para as turmas de
Roberta Kovac YARA clARo nico agosto de 2012
Assistentes Editoriais
Dante Marino Malavazzi
Jan Luiz Leonardi Integração entre filosofia, teoria e técnica
Revisão para uma formação de excelência
Dante Marino Malavazzi Corpo docente de altíssimo nível público-alvo
psicólogos e médicos
Ilustração da capa: Silvia Amstalden Comissão executiva Conteúdo apresentado de forma gradual em com residência em
Roberta Kovac 12 disciplinas psiquiatria
Joana Singer Vermes
Denis Zamignani
Roberto Alves Banaco
Candido Pessôa
Quem somos
Projeto gráfico e diagramação
O Núcleo Paradigma é um centro de pesquisa,
Silvia Amstalden
ensino e assistência, localizado na cidade de
São Paulo, no bairro de Perdizes. Fundado em programa
2005, o Paradigma tem como objetivo a busca quatro módulos semestrais com
550 horas, distribuídas em:
de soluções para problemas relacionados ao
comportamento humano, nas mais diversas
120 horas de supervisão (30 horas por módulo) Veja nossos planos de
60 horas de atendimento clínico
áreas de atuação da psicologia e oferecendo os Núcleo Paradigma, Ensino e
370 horas de disciplinas teóricas e
bolsa-atendimento e
seguintes serviços e atividades: Consultoria em Psicologia Ltda.
orientação de monografia bolsa-pesquisa
Formação e atualização de terapeutas e acom- Rua Wanderley, 611
panhantes terapêuticos para o atendimento das Perdizes, São Paulo-SP
mais diversas populações. CEP: 05011-001
TEl: 55 11 3864 9732
Clínica composta por terapeutas e acompa-
nhantes terapêuticos (ATs) que trabalham sob
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a perspectiva analítico-comportamental no
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atendimento de crianças, adolescentes, adultos,
idosos, casais, famílias, pessoas com desenvol- Agosto 2012 dias e horários
vimento atípico e transtornos psiquiátricos. Tiragem: 5.000 exemplares aulas quinzenalmente, sextas
Eventos culturais que promovem o diálogo ISSN 2176-3445 das 19h15 às 22h15 e sábados das 8h30 às 18h30
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da psicologia com diferentes áreas do conheci- Rua Wanderley, 611
horário de supervisão quinzenalmente, sextas
mento e da arte. das 16h às 19h ou terças ou quartas ou quintas, Perdizes São Paulo/SP
Tel. 11 3864 9732
das 19h às 22h CRP 06/3118-J
Sumário

Editorial  2

Agenda 2012  4
Teoria e aplicação   6
Comportamento e cognição: Um dualismo superado?
Clarisse Zamith e Yara Nico

Na estante  17
Resenha do livro Clínica analítico-comportamental: Aspectos teóricos e práticos,
organizado por Nicodemos B. Borges e Fernando A. Cassas. Editora Artmed
(Porto Alegre), 2012.
Dante Marino Malavazzi

Paradigma entrevista  21
Candido V. B. B. Pessôa e Jan L. Leonardi entrevistam
Maria Amalia Pie Abib Andery

História de vida  29
Dr. Isaias Pessotti
por Fabiana Guerrelhas

Aplicação  32
O papel do analista do comportamento sobre o fenômeno bullying:
Algumas considerações
Joana Singer Vermes e Roberto Alves Banaco

Comportamento em cena  36
Adaptação
Antonio Carlos Pacheco e Silva Neto
Editorial
Caros amigos,

É com muita satisfação que sobre Isaias Pessotti, um dos precursores da


levamos até você esta sétima edição do Boletim disseminação da análise do comportamento no
Paradigma. Mantendo sua proposta de divulgar a Brasil. Isaias é presença importante em nossa
análise do comportamento por meio de textos de literatura e nos principais eventos da análise do
leitura fácil e agradável, o Boletim aborda temas comportamento, além de um consagrado autor
de interesse para a prática e para a formação. de obras de ficção. Nós nos sentimos honrados
Temos duas importantes notícias que gos- em levar a história dele a vocês.
taríamos de compartilhar com vocês: a primei- Esta edição traz também uma entrevista
ra diz respeito à entrada de um novo sócio no com Maria Amalia Andery, realizada pelos
Paradigma, Candido Pessôa. Quem mais ga- colegas Candido Pessôa e Jan Leonardi. Nela,
nha com isso são nossos alunos e professores. Amalia oferece um importante panorama sobre
Candido vem para agregar novas propostas e a análise do comportamento em nosso país e
um outro olhar ao nosso trabalho. avalia o posicionamento da abordagem quanto
A segunda notícia que festejamos é a eleva- às interfaces com outras ciências. A professo-
ção da nota da revista Perspectivas em Análise ra discorre ainda sobre as estratégias políticas
do Comportamento para B3, resultado do tra- para a ampliação do alcance do trabalho de-
balho do editor Ricardo Martone, dos edito- senvolvido pelos analistas do comportamento
res-associados Nicodemos Borges, Roberto e sobre diálogos possíveis e necessários com
Banaco, Jan Leonardi e Dante Malavazzi, além outras disciplinas que já foram e estão sendo
dos secretários de editoração Emerson Simões conduzidos.
Filho e Marília Sampaio. Parabéns à equipe, Uma discussão sobre o tema cognição e
que agora conta também com a colaboração de seu tratamento pela análise do comporta-
Denis Roberto Zamignani como novo editor- mento é apresentada por Clarisse Zamith e
-associado. Yara Nico. O artigo foi elaborado a partir do
Nesta edição do Boletim, Fabiana Guerre- trabalho final da aluna Clarisse, na disciplina
lhas conta na seção História de Vida um pouco Pressupostos Filosóficos e História da Prática

2 boletim paradigma
Clínica Analítico-Comportamental, minis- autores propõem uma breve discussão sobre os
trada pela professora Yara em nosso Curso desafios do analista do comportamento ante
de Especialização em Clínica Analítico- um problema tão sério e atual.
Comportamental de Adultos. Encerramos este editorial com um convite:
A resenha escrita por Dante Malavazzi é sempre buscando o aperfeiçoamento de nossos
um convite à apreciação do livro organizado cursos, alunos e dos profissionais que aqui tra-
por Nicodemos Borges e Fernando Cassas, balham, traremos a Professora Dra. Carmen
Clínica Analítico-Comportamental: Aspectos Luciano (ESP) para um curso de capacitação
Teóricos e Práticos. Lançado em 2011 pela edi- interna. Ela também ministrará um curso
tora Artmed, a obra é um excelente material aberto aos demais interessados na Terapia de
para a formação introdutória de terapeutas Aceitação e Compromisso (ACT), para o qual
analítico-comportamentais e apresenta as mais todos serão muito bem-vindos.
recentes práticas e estratégias utilizadas na clí-
nica por analistas do comportamento. Aguardem: em breve, anunciaremos novos
Na seção Comportamento em Cena, projetos...
Antonio Pacheco discute o tema comportamen-
to verbal e analisa possíveis desdobramentos Por ora, desejamos a todos uma boa leitura!
desse tipo especial de comportamento, quando
relacionado ao sofrimento e à busca de valo- Joana Singer Vermes
res. O texto traz a análise realizada pelo autor Roberta Kovac
a partir do filme Adaptação, de Spike Jonze, Roberto Alves Banaco
apresentada num dos encontros da atividade Denis Roberto Zamignani
Cinema Paradigma. Candido Pessôa
Joana Singer Vermes e Roberto Banaco, na
seção Aplicação, analisam um tema importan-
te para terapeutas e educadores: o bullying. Os

editorial 3
Agenda 2012

MARÇO JUNHO
30 e 31 I Jornada de Análise do Comportamento do 15 a 17 II Encontro do Sudoeste Goiano de Análise do
Espírito Santo Comportamento

28 a 30 V Encontro Maranhense de Análise do Com-


ABRIL
portamento
12 a 14 IX Congresso da Associação Latino-Americana
de Psicoterapias Cognitivas JULHO
19 a 21 I Encontro Científico de ACT e FAP no Brasil 5 a 8 IX Congresso Brasileiro de Psicopedagogia e I
Simpósio Internacional de Neurociências, Saúde Men-
20 e 21 III Encontro de Análise do Comportamento do
tal e Educação
Vale do São Francisco

20 a 22 XI Jornada de Análise do Comportamento da AGOSTO


Universidade Federal de São Carlos 15 a 18 XXI Encontro Brasileiro de Psicologia e Medi-
cina Comportamental
MAIO
9 a 12 XVI Encontro Cearense de Análise do Com- SETEMBRO
portamento e IV Encontro Nordestino de Análise do 22 I Jornada de Análise do Comportamento da
Comportamento Universidade Anhembi Morumbi
18 e 19 VI Jornada Brasiliense de Análise do Com-
portamento OUTUBRO
18 e 19 I Congresso Brasileiro de Terapia por Contin- 1 a 5 III Jornada de Análise do Comportamento de
gências de Reforçamento e Encontro de Terapeutas Belém
Comportamentais
26 e 27 XIII Jornada Mineira de Ciência do
23 a 25 I Encontro Brasileiro de Análise do Compor- Comportamento
tamento e Terapia Cognitivo-Comportamental com
Casais NOVEMBRO
24 a 26 II Congresso de Psicologia e Análise do Com- 8 e 9 III Jornada de Análise do Comportamento da
portamento, VI Encontro Paranaense de Análise do Universidade de São Paulo
Comportamento e II Encontro Brasileiro de Estudos
sobre as Psicoterapias Analítico-Comportamentais da JANEIRO DE 2013
Terceira Onda.
7 a 15 IV Curso de Verão em Psicologia Experimental:
26 I Jornada de Análise do Comportamento da Univer- Análise do Comportamento da PUC-SP.
sidade São Judas Tadeu

4 boletim paradigma agenda


AcompAnhAmento terApêutico e
Atendimento extrAconsultório

coordenação
robertA KovAc
FernAndo AlbreGArd cAssAs

público-alvo
psicólogos, médicos psiquiatras,
terapeutas ocupacionais,
fonoaudiólogos, fisioterapeutas
e alunos de graduação a partir
horário
do terceiro ano em qualquer uma
quinzenal, aos sábados,
dessas áreas.
das 8h30 às 18h30
objetivo
O curso visa a oferecer uma sólida
carga horária total de 190 horas,
formação para o desempenho da
distribuídas em dois semestres
prática terapêutica fora do setting
120 horas
tradicional do consultório. Propicia ao
disciplinas teórico-práticas
aluno o desenvolvimento profissional
40 horas a partir da consolidação da base
supervisão clínica teórica da Análise do Comportamento
30 horas e da relação desta abordagem com as
prática questões da prática profissional.

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Rua Wanderley, 611
Perdizes São Paulo/SP
Tel. 11 3864 9732
Teoria e aplicação
Comportamento e cognição: Um dualismo superado?1
Clarisse Zamith e Yara Nico

Ao longo da história da te- Atualmente, segundo o dicionário


rapia comportamental, a cognição tem sido um Merriam-Webster, cognição define-se como
termo de difícil enfrentamento. Dada a heran- processos mentais e, também, como produto
ça de um vocabulário de origem não científica, desses processos. O fato de uma palavra ser
Skinner (1945/1999) enfatizou a necessidade de usada para descrever dois eventos (i.e., o pro-
analisar as variáveis que instalaram e mantêm cesso e seu produto) já sinaliza a dificuldade
o uso de determinados termos psicológicos. em diferenciar um do outro. Morris, Higgins
Cognição é exemplo de uma palavra de difícil e Bickel (1982) discutiram a imprecisão das
definição, amplamente usada na psicologia. Ela definições dos processos cognitivos no próprio
permanece, de alguma forma, na comunidade campo da psicologia cognitiva – visto que tais
verbal de analistas do comportamento. Vemos definições costumam enfatizar o que a cogni-
que as diferentes concepções de cognição ti- ção não é, ao invés de afirmar o que ela é.
veram diversas implicações na prática clínica Conforme a revisão de Kohlenberg e Tsai
identificada como comportamental. (1991/2006), na perspectiva comportamental,
Skinner (1989) revelou, por meio de estudo o produto do processo cognitivo equivaleria
etimológico, que termos cognitivos surgiram a comportamento, tal como pensar. Já o pro-
como referências a comportamentos (e.g., con- cesso cognitivo que o origina não teria parale-
templar originalmente significava olhar para lo na análise do comportamento, sendo uma
um plano ou template das estrelas). Mas como estrutura mental desnecessariamente inferida
se perdeu o sentido comportamental da pala- com base em seus produtos, ou seja, uma fic-
vra? Uma hipótese é a de que: ção explicativa. Para Skinner (1989), “proces-
sos cognitivos são processos comportamen-
ao longo dos séculos comportamento
tais; são coisas que as pessoas fazem”2 (p. 23).
humano tem tornado-se mais comple-
Acrescentando a definição de Catania (1999),
xo na medida em que foi sendo contro-
podemos dizer que, para a análise do compor-
lado por ambientes mais complexos. O
tamento, cognição é “o saber e as maneiras pelas
número e a complexidade das condi-
quais ele ocorre. Os processos ditos cognitivos,
ções corporais sentidas ou observadas
geralmente, são variedades de comportamento
introspectivamente têm aumentado
que não são manifestadas como movimentos
correspondentemente e, com elas, tem
e assim devem ser medidas indiretamente” (p.
aumentado o vocabulário cognitivista.
390). Mas como chegamos ao ponto de poder
(Skinner, 1989, p. 22)
afirmar que cognição é comportamento? Isso é

6 boletim paradigma
prova de que superamos o paradigma mentalis- humano; a posição não era a de que a mente
ta? Para começar a pensar nessas questões, pre- não existe, mas a de que ainda não haviam sido
cisamos rever o papel do conceito de cognição encontradas formas científicas de estudá-la.
na história do behaviorismo. Como indica Matos (2001), há ainda a contra-
dição inerente ao método de observação con-
Behaviorismo Metodológico sensual, pois o comportamento de observar é
Em seus primórdios, o behaviorismo tentou “um comportamento que, em si, não é obser-
evitar as armadilhas que pareciam inerentes vável direta e consensualmente e, portanto, não
ao tradicional objeto da psicologia, os cha- poderia ser objeto de estudo do behaviorista
mados fenômenos cognitivos. Para Watson metodológico; torna-se, não obstante, fonte
(1913/1994), a introspecção e o uso de medi- de dados para a construção da ciência deste
das comportamentais como meios para infe- behaviorista” (p. 68). Ou seja, o critério con-
rir estados mentais levam a um cul-de-sac de sensual não elimina o fato de que o método,
especulações teóricas, revelando a impotência ao se apoiar no comportamento de observar,
de tal método como caminho para a produção faz parte do âmbito do mental (definido como
de conhecimento. Prezando pela objetividade de natureza não diretamente observável) que
científica, algo só poderia ser objeto de ciên- os behavioristas propunham excluir. Pode-se
cia se fosse passível de observação consensual. argumentar, portanto, que a psicologia com-
Tanto na teorização quanto na prática experi- portamental até aquele momento não havia de
mental, isso resultou na proposta de exclusão fato se divorciado completamente dos fenôme-
radical dos fenômenos ditos cognitivos. nos cognitivos, seja por uma negação filosófica
Hayes (2004) denomina de primeira gera- ou metodológica.
ção (first wave) as práticas clínicas que surgi-
ram nesse contexto. Elas representaram uma Behaviorismo Mediacional
retaliação às terapias psicanalíticas e humanis- Contraditoriamente, foi o dogmatismo meto-
tas da época e se caracterizaram pela aplicação dológico dos primeiros behavioristas que per-
de intervenções específicas e cientificamente mitiu o resgate de noções mentais por psicó-
fundamentadas, limitando-se à modificação logos como Tolman (Dougher & Hayes, 2000;
de comportamentos observáveis. Contudo, se- Perez-Álvarez, 1996). O behaviorismo media-
gundo Dougher e Hayes (2000), o recorte me- cional de Tolman reintroduziu o conceito de
todológico dos primeiros behavioristas não foi cognição (entendido como processos internos
tão preciso. Para os autores, Watson continuava não observáveis) como variável central na ex-
engajado no estudo do pensar e das emoções, plicação do comportamento, afirmando que
apoiando-se na definição formal de comporta- faltava um elo na relação entre estímulo e res-
mento como movimentos musculares e secre- posta. Em teoria, o comportamento não seria
ções glandulares, os quais constituiriam a base mais o foco do estudo, e sim um caminho para
de toda atividade humana. acessar os fenômenos cognitivos que medeiam
Vale ressaltar que a adesão de outros psi- a relação estímulo-resposta. Tem-se agora um
cólogos americanos ao behaviorismo metodo- novo objeto de estudo, a cognição, enquanto o
lógico “puro” (o que não incluía a metafísica comportamento é deslocado para servir como
Watsoniana) mantinha a visão dualista do ser base do método (o caminho de acesso ao ob-

teoria e aplicação 7
jeto). Persiste, assim, o impasse de separar o os que haviam sido fonte de legitimação das
mental do comportamental, pois essa psico- terapias comportamentais de primeira geração
logia que diz lidar com fenômenos mentais (Woods, Kanter, Landes & Adcock, 2007).
efetivamente estuda apenas o comportamento A imprecisão do modelo cognitivo sur-
observável (especificamente, o comportamento giu em trabalhos da própria área na década
de animais de laboratório). de 1990. Costa (2002) ressalta os questiona-
De fato, Tolman, hoje considerado o primei- mentos acerca da função causal dos esquemas
ro psicólogo cogniti-
vista, rejeitava o mé- Mesmo produzindo resultados desejáveis, não há como sustentar as
todo da introspecção e intervenções das terapias cognitivas sem desestabilizar o pressuposto
defendia com veemên- da estrutura cognitiva como fator causal.
cia que seu interesse
residia exclusivamente no comportamento ma- cognitivos, presentes nas publicações de Beck,
nifesto (Schultz & Schultz, 2008). Como ressal- Dobson e Franche. A tensão epistemológica
tou Skinner (1989), o retorno da cognição como encontrada no trabalho de Tolman agora ad-
objeto de estudo da psicologia não significou o quiria dimensões práticas para os terapeutas
retorno da introspecção. Enxerga-se a contradi- dessa nova geração. Mesmo produzindo resul-
ção entre investir em uma concepção de mente tados desejáveis, não há como sustentar as in-
e, ao mesmo tempo, ater-se a fenômenos com- tervenções das terapias cognitivas sem deses-
portamentais observáveis. tabilizar o pressuposto da estrutura cognitiva
Trata-se de uma tensão que persistiu na como fator causal.
segunda geração de terapias comportamentais,
definida por Perez-Álvarez (2006) como uma Behaviorismo Radical
época caracterizada pelo alinhamento ambí- O behaviorismo radical de Skinner tampou-
guo de técnicas comportamentais e cognitivas. co evitou certas tensões conceituais acerca da
Kohlenberg e Tsai (1991/2006) também desta- problemática dos fenômenos cognitivos, como
cam a relação paradoxal entre teoria e prática apontam Tourinho (2009) e Torneke (2010).
no cognitivismo. Com base na suposição de Skinner (1945/1999) inicialmente contor-
que cognição é produto da estrutura cognitiva, nou o dualismo metafísico, que proliferou no
sendo esta o verdadeiro fator causal do com- behaviorismo metodológico, introduzindo os
portamento, a intervenção do terapeuta cog- conceitos de comportamentos públicos e en-
nitivo deveria incidir nessas estruturas. Mas, cobertos. Os fenômenos cognitivos (e.g., pen-
conforme Kohlenberg e Tsai, intervenções samentos, lembranças e verbalizações) seriam
cognitivistas limitam-se à mudança dos pro- respostas operantes, em geral encobertas (e.g.,
dutos, justificando que esta seria a maneira de pensar, lembrar e verbalizar), regidas pelos
modificar as estruturas. O que segue, então, é mesmos mecanismos que respostas diretamen-
um impasse teórico: se mudar o produto altera te observáveis. Para Skinner (1945/1999), a dis-
a estrutura, como se pode sustentar a estrutura tinção entre público e privado não equivale a
como fator causal? Além disso, na segunda ge- uma separação entre físico e mental, o que sig-
ração, faltavam pesquisas experimentais sobre nifica que “o behaviorista radical pode em al-
cognição para fornecer dados empíricos como guns casos considerar eventos privados (talvez

8 boletim paradigma
por inferência, mas ainda de forma significati- vos importantes de manipulação: “Felizmente,
va)” (p. 429). Não é o critério de consenso que raramente o assunto [evento privado] é de
garante a objetividade, mas o nível de controle importância vital no controle do comporta-
que certa variável tem sobre o comportamento mento humano. O leitor cujos interesses são
verbal do cientista. essencialmente práticos e que talvez prefira
Com o conceito de comportamento verbal, agora avançar para os capítulos seguintes pode
Skinner (1945/1999) permitiu que eventos pri- fazê-lo sem sérios prejuízos” (p. 282). Não é
vados se tornassem objeto de estudo de uma surpreendente, portanto, que as práticas dos
ciência do comportamento. São as contingên- modificadores de comportamento da primei-
cias verbais de reforçamento que possibilitam ra geração de terapia comportamental tenham
o relato sobre eventos privados, permitindo sido restritas a variáveis passíveis de observa-
a inclusão desses eventos na análise de variá- ção e manipulação direta.
veis envolvidas nas relações comportamentais. Torneke (2010) aponta outra tensão na
Em relação a respostas encobertas, entretanto, obra de Skinner, tomando como foco de análi-
Skinner (1974) alerta que elas são sempre ad- se o conceito de comportamento governado por
quiridas em condições públicas. regras. Por um lado, constata-se na teoria que
Tourinho (2009) identifica, contudo, uma eventos privados, como autorregras, podem
tensão nas obras de Skinner em relação à di- exercer controle sobre comportamentos. Por
cotomia público-privado: “Sua rejeição da ca- outro, eventos privados são comumente ca-
tegoria de mental serve apenas para afastar o racterizados como produtos colaterais de con-
dualismo metafísico, mas não funciona para tingências, compostas por variáveis públicas,
instituir uma perspectiva totalmente consisten- sendo estas, portanto, os alvos lógicos de inter-
venção. O que fazer,
Apenas quando comportamento verbal e comportamento simbólico então, da preocupa-
viraram campo de pesquisa experimental é que a análise do ção de Skinner (e.g.,
comportamento começou a produzir dados sobre fenômenos 1989) com a lingua-
comportamentais ditos cognitivos, tema que antes era domínio das gem da ciência?
terapias cognitivas. Segundo Branch
e Malagodi (1980),
te de análise” (p. 117). Skinner (e.g., 1974) de- há uma preocupação não apenas com as va-
fendia que estímulos e respostas privadas têm riáveis que controlam o comportamento do
sempre uma relação com o ambiente externo. cientista, mas também com os efeitos das re-
Para Tourinho (2009), ao analisar fenômenos gras geradas por ele sobre o comportamento
comportamentais como relações do organismo dos membros da sociedade. Pode-se dizer que
com o mundo, “deixam de fazer sentido as ca- uma mudança no comportamento verbal do
tegorias de interno e externo” (p. 146). A dico- cientista ocasionaria uma mudança em com-
tomia inevitavelmente gerou implicações para portamentos verbais e não verbais não apenas
a aplicação da teoria. de cientistas, como também daqueles cuja prá-
Embora Skinner (1953/2007) reconhecesse tica depende de suas formulações.
a existência de variáveis privadas controlando Contudo, a análise aplicada do compor-
o comportamento, ele não as considerava al- tamento, enquanto vertente operante da pri-

teoria e aplicação 9
meira geração, limitou-se a práticas restritas simetria e transitividade entre estímulos arbi-
a contingências não verbais, com enfoque nas trariamente relacionados atesta a constituição
populações com incapacidades severas e insti- de uma classe de estímulos equivalentes e ser-
tucionalizadas (Dougher & Hayes, 2000). Em ve de critério para verificar que determinadas
parte, isso se deveu ao processo de produção relações arbitrárias são também simbólicas
de conhecimento bottom-up, no qual conheci- (Sidman & Tailby, 1982).
mento é construído do simples ao complexo. Dizer que estímulos arbitrários podem se
Na época dos modificadores do comportamen- tornar substituíveis no controle do comporta-
to, comportamento verbal estava apenas sendo mento humano significa que, em alguns con-
discutido (Skinner, 1957/1992), havendo ape- textos, podemos ser afetados por símbolos
nas pesquisas experimentais incipientes sobre (e.g., palavras escritas, gestos, sons e imagens)
o assunto. Mas há quem afirme que essa res- como seríamos afetados pelas coisas a que es-
trição da prática também é fruto das inconsis- tão arbitrariamente relacionados (tradicional-
tências teóricas presentes nas obras de Skinner. mente denominados de referentes, cf. de Rose
Segundo Wilson e Blackledge (2000) e Torneke & Bortoloti, [2007]). Tal fenômeno tem sido
(2010), nunca ficou claro como o conhecimen- estudado pela área de equivalência de estímu-
to de eventos privados poderia influenciar a los, sendo denominado transferência de função.
atuação do analista do comportamento, o que Muitos experimentos têm documentado que
pode ter refletido no desenvolvimento tardio se um dado estímulo pertencente a uma classe
das práticas clínicas de consultório. de equivalência adquire determinada função
Apenas quando comportamento verbal comportamental (e.g., discriminativa, elicia-
e comportamento simbólico3 viraram cam- dora, reforçadora positiva ou negativa), outros
po de pesquisa experimental é que a análise estímulos pertencentes à classe podem adquirir
do comportamento começou a produzir da- a mesma função indiretamente (e.g., de Rose,
dos sobre fenômenos comportamentais ditos McIlvane, Dube, Galpin & Stoddard, 1988; para
cognitivos, tema que antes era domínio das uma revisão, ver Dymond & Rehfeldt, 2000).
terapias cognitivas (Catania, 1999; Dougher No final da década de 1980, experimentos
& Hayes, 2000). da área de RFT (do inglês, relational frame
theory) começaram a investigar outros tipos
Transferência de Função e de relações arbitrárias entre estímulos além
Transformação de Função das relações de equivalência (segundo essa
A área de equivalência de estímulos, que teve área, relações de coordenação ou igualdade).
início com o trabalho de Sidman na década de Relações arbitrárias de oposição, diferença,
1970, desenvolveu um modelo experimental comparação, hierarquia, entre outras, passa-
potente para fornecer critérios operacionais ram a ser estudadas, ampliando o escopo de
de estudo do comportamento simbólico (cf. de análise de fenômenos relacionados à cogni-
Rose & Bortoloti, 2007). Dado que a “substi- ção e à linguagem (Hayes, Barnes-Holmes &
tutabilidade” nas funções entre estímulos ar- Roche, 2001). Uma vez que as relações esta-
bitrariamente relacionados é o aspecto básico belecidas entre os estímulos não são de igual-
do comportamento simbólico, a verificação dade, a função apresentada pelos estímulos
da emergência de relações de reflexividade, arbitrariamente relacionados não é partilhada

10 boletim paradigma
ou transferida, e sim transformada. Dessa for- rente elétrica. Após sucessivos pareamentos, os
ma, um estímulo em relação de oposição com autores mediram a magnitude dos responden-
um reforçador positivo, por exemplo, adquire tes eliciados (condutância galvânica da pele)
a função de reforçador negativo, indiretamen- diante dos Estímulos A, B e C, constatando
te (Whelan & Barnes-Holmes, 2004; para uma que esta variou em função da relação arbitrária
discussão detalhada acerca do uso dos termos estabelecida. Assim, o Estímulo C, que nunca
transferência e transformação, ver Dymond & foi diretamente pareado com a corrente elétrica
Rehfeldt, 2000). (aversivo incondicionado), adquiriu maior va-
Dados experimentais sobre transferência lor aversivo do que o Estímulo B, diretamente
e transformação de função de estímulos, por pareado com o aversivo incondicionado. Os
participação em redes de relações arbitrárias, autores concluem que o estabelecimento da re-
conferiram à análise do comportamento poder lação arbitrária “maior que” fez com que os su-
explicativo ainda maior sobre comportamen- jeitos tivessem maior magnitude de responden-
to humano complexo e forneceram ao clínico tes eliciados na presença de C – função aversiva
analítico-comportamental novas ferramentas transformada indiretamente – do que diante de
para compreender e delinear estratégias de B, função adquirida por contingências diretas
intervenção sobre comportamentos consi- de condicionamento respondente4.
derados, tradicionalmente, como cognitivos Dados como esses parecem indicar que,
(Torneke, 2010). assim como o responder relacional arbitraria-
Dougher, Hamilton, Brandi, Fink e mente aplicável “maior que”, uma ação verbal
Harrington (2007), por exemplo, investigaram de relacionar arbitrariamente estímulos pode
como a função dos estímulos de uma rede re- produzir a constituição de novos estímulos
lacional pode ser afetada por relações arbitrá- aversivos, por vezes até mais potentes do que
aqueles original-
Dizer que estímulos arbitrários podem se tornar substituíveis no mente pareados com
controle do comportamento humano significa que, em alguns contextos, aversivos incondi-
podemos ser afetados por símbolos (e.g., palavras escritas, gestos, cionados. Pesquisas
sons e imagens) como seríamos afetados pelas coisas a que estão como essas demons-
arbitrariamente relacionados. tram possíveis rela-
ções entre sofrimen-
rias de comparação. Para isso, três estímulos to clínico e comportamento verbal – no caso,
de dimensões similares (A, B e C) foram ar- respostas verbais que poderiam ser facilmente
bitrariamente relacionados do seguinte modo: referidas ao campo da cognição, do pensar,
A, como sendo o menor; B, o mediano e C, lembrar e relacionar.
o maior (em termos descritivos, A < B < C). A relação entre fenômenos ditos cognitivos
Uma vez que os estímulos tinham o mesmo e a produção de sofrimento humano não tor-
tamanho, a relação de comparação entre eles na, por si só, a análise do comportamento uma
foi estabelecida arbitrariamente, e não em ter- ciência cognitivista. Uma vez que o responder
mos das propriedades físicas desses estímulos. relacional arbitrariamente aplicável (Hayes,
Depois de estabelecidas tais relações arbitrá- Barnes-Holmes, & Roche, 2001) é um operante
rias, o Estímulo B foi pareado com uma cor- – uma abstração relacional – cuja aquisição de-

teoria e aplicação 11
pende de uma longa história de treino de múl- pias no âmbito da análise do comportamento,
tiplos exemplares com reforçamento mediado para cuidar de sofrimento clínico experimen-
socialmente, a análise do comportamento pode tado por sujeitos verbalmente competentes.
lidar com fenômenos considerados cognitivos Tais práticas incluíram em suas estratégias de
sem reverter a uma linguagem e a uma filoso- intervenção novos conhecimentos sobre com-
fia mentalista – a qual, segundo a revisão de portamento verbal (e.g. Dougher & Hayes,
Costa (2002), estava se tornando uma crescente 2000; Luciano, Valdivia, Gutiérrez, & Páez-
e preocupante tendência de analistas do com- Blarrina, 2006; Wilson & Blackledge, 2000;
portamento nas últimas décadas do século XX. Woods, Kanter, Landes & Adcock, 2007), sen-
Assim, cabe perguntar: por que, apesar do denominadas de clinical behavior analy-
dos esforços do movimento behaviorista desde sis, por Dougher & Hayes (2000), de clínica
a época de Watson, o uso do termo cognição analítico-comportamental, por terapeutas
provou-se resistente à extinção, mesmo dentro brasileiros, e de terceira geração de terapias
da comunidade verbal de analistas do compor- comportamentais, por Hayes (2004). Entre
tamento? Uma dica encontra-se no artigo de elas, destacam-se: a psicoterapia analítica
Morris, Higgins e Bickel (1982), que compa- funcional (FAP), a terapia de aceitação e com-
rou o número de palavras-chave cognitivistas promisso (ACT), a terapia comportamental
(e.g., memory, cognition, intelligence e informa- dialética (DBT) e a ativação comportamental.
tion processing) presentes em artigos do JEAB5 Por exemplo, enquanto alguns pratican-
antes de 1976 ao número vigente entre 1976 e tes consideram a ACT uma terapia cognitivo-
1981: respectivamente, 5 e 26. Embora algumas -comportamental (e.g., Heffner, Sperry, Eifert &
palavras pertencessem a artigos argumentando Detweiler, 2002), seus proponentes afirmam que
contra o cognitivismo, outras surgiram como não se trata de uma terapia baseada no modelo
descritores dos eventos estudados ou como cognitivo tradicional, e sim numa abordagem
explicações desses eventos. Os autores concluí- pós-Skinneriana da linguagem e da cognição –
ram que a tendência de recorrer a termos cog- a qual considera os princípios básicos descober-
nitivistas refletia a dificuldade em se conduzir tos pela análise do comportamento e incorpora
análises experimentais rigorosas sobre fenôme- novos processos verbais, sem descaracterizar o
nos complexos (sobre os quais não havia con- que há de central na proposta teórica da ciên-
trole imediato por variáveis ambientais obser- cia do comportamento (e.g., Hayes, Strosahl &
váveis) e a aparente elegância das explicações Wilson, 1999, 2012; Wilson & Soriano, 2002).
mentalistas culturalmente herdadas. Surge, pois, a questão: essas descobertas estão
realmente produzindo novas práticas, estamos
Terceira Geração apenas sustentando práticas já desenvolvidas nas
Ainda não se sabe se o uso inconsistente de terapias cognitivas ou, o que talvez seja mais te-
termos cognitivistas por analistas do com- merário, estamos desenvolvendo ou importando
portamento será superado por dados expe- técnicas de outras abordagens sem compreender
rimentais sobre comportamentos tidos como os processos comportamentais que sustentam
cognitivos, como o responder relacional arbi- sua suposta eficácia?
trariamente aplicável. A partir da década de Vale atentar para o risco, como profissio-
1990, passaram a ser divulgadas novas tera- nais da psicologia, de cairmos novamente nas

12 boletim paradigma
armadilhas teóricas que atordoavam nossos behavioristas radicais (e.g., Skinner, 1974).
precursores. Da mesma forma que Holland Falar de cérebro coloca os fenômenos estuda-
(1983) apontava para as sérias implicações da dos no plano do físico, mas isso não necessaria-
dissonância entre teoria e prática na análise mente muda a direção de análise: o fator causal
do comportamento, vemos hoje autores (e.g., continua sendo interno, e não relacional. Será
Woods, Kanter, Landes & Adcock, 2007) aler- que a posição monista, vista nessa perspectiva
tando sobre os perigos de deixar a prática fugir proposta por Tourinho (2009), é tão diferente
da sua ciência de base. Profissionais da área que desse shift mente-cérebro? Talvez seja neces-
não acompanham a produção de novos dados sário reconsiderar o que de fato caracteriza e
experimentais sobre comportamento simbóli- distingue as novas terapias de terceira geração.
co e governância verbal, bem como as recentes Uma vez que agora estamos começando a re-
discussões filosóficas e teóricas na análise do conhecer a complexidade dos fenômenos ditos
comportamento, podem facilmente incorrer no cognitivos como processos comportamentais
erro de criar ficções explicativas sustentando que influenciam outros comportamentos, é
suas técnicas ou, o que talvez resulte no mes- possível que estejamos em melhor posição
mo, de se tornarem meros tecnicistas. para resgatar, como fez Skinner (1989), o sen-
Por outro lado, a aderência ao dogmatismo tido etimológico de certos termos cognitivos,
antimentalista e, com ela, a recusa a investigar tornando claras as suas referências a compor-
os fenômenos ditos cognitivos (como se esta tamentos operantes. 
empreitada necessariamente implicasse a ado-
ção de uma posição cognitivista) emperram, a 1 A elaboração deste artigo teve como ponto de partida o
um só tempo, o avanço da ciência do compor- trabalho final realizado pela primeira autora para a disci-
tamento e não garantem a qualidade da inter- plina Pressupostos Filosóficos e História da Prática Clínica
venção do terapeuta. Segundo Tourinho (2009): Analítico-Comportamental, da qual a segunda autora foi
docente no Curso de Especialização em Clínica Analítico-
A superação das dicotomias clássicas
Comportamental de Adultos (Núcleo Paradigma). As auto-
não se dá pela afirmação dos pólos que
ras agradecem a leitura atenciosa e as valiosas contribuições
atendem a critérios de uma visão mo-
do colega William Perez.
nista. Não é afirmando que sentimen-
2 Skinner utiliza termos diferentes para se referir aos fenô-
tos, emoções e pensamentos são todos
menos ditos cognitivos. Por exemplo, behavior e behavior
eles fenômenos públicos, objetivos, fí-
process (Skinner, 1989), response to private stimuli (Skinner,
sicos ou externos que se visualizam as
1945/1999) e covert behavior (Skinner, 1974). Embora dis-
dimensões relacionais funcionais des-
tintos, vale notar que os termos dizem respeito a compor-
ses fenômenos. No lugar dessa lógica,
tamento ou resposta (geralmente privados), e não à esti-
podemos indagar quais são as novas
mulação encoberta. Esta costuma ser expressa por meio de
relações que dão origem à autoimagem
termos ligados a sentimentos/emoções, e não a cognições.
do homem autônomo e enclausurado
Para mais detalhes sobre a utilização de termos relacionados
em si mesmo. (p. 184)
a eventos privados, ver Tourinho (2009).
Considera-se a proposta de alguns cientis- 3 Vale ressaltar, na literatura especializada (e.g., Chase &
tas cognitivistas de substituir mente por cére- Danforth, 1991), a defesa de que comportamento verbal é
bro um movimento comumente criticado por comportamento simbólico.

teoria e aplicação 13
4 Os autores relatam ainda que, quando C aparecia, al-
guns participantes retiravam os eletrodos do braço. Eis Dymond, S. & Rehfeldt, R. A. (2000). Understanding
um dado anedótico que indica que tal estímulo também complex behavior: The transformation of stimulus
adquiriu função de estímulo aversivo, controlando res- functions. The Behavior Analyst, 23, 239-254.
posta operante de esquiva. Hayes, S. C. (2004). Acceptance and commitment
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Copely. (Trabalho originalmente publicado em 1945.)
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mente publicado em 1953.)
Torneke, N. (2010). Learning RFT: An introduction to
relational frame theory and its clinical application.
Reno, EUA: Context Press.
Clarisse Zamith é graduanda de Psicologia na
Tourinho, E. Z. (2009). Subjetividade e relações com-
Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e ba-
portamentais. São Paulo: Paradigma.
charel em Ciência Política e Governo pela Brandeis
Watson, J. B. (1994). Psychology as the behavio- University. Membro da equipe Pró-estudo, fez cursos
rist views it. Psychological Review, 101, 248-253. de extensão em clínica analítico-comportamental no
(Trabalho originalmente publicado em 1913.) Núcleo Paradigma.
Whelan, R. & Barnes-Holmes, D. (2004). The trans-
Yara Nico é psicóloga e mestre em Psicologia
formation of consequential functions in accordance
Experimental pela PUC-SP. No Núcleo Paradigma, é
with the relational frames of same and opposite.
coordenadora do Curso de Especialização em Clínica
Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 82, Analítico-Comportamental de Adultos, docente,
177–195. supervisora clínica e terapeuta, além de integrar a
equipe de Pesquisa sobre Responder Relacional.

teoria e aplicação 15
especialização em
PsiCologia ClíniCa: análise CoMPortaMental
aPliCada ao transtorno do esPeCtro autista
e atraso no desenvolviMento

coordenação e supervisão
Carolina Martone
Cassia leal da Hora
daniel del rey
lygia dorigon

aplicação de intervenções
analítico-comportamentais com
indivíduos com diagnósticos de
autismo e de desenvolvimento atípico.

público-alvo
psicólogos, profissionais da área da saúde
e profissionais da área da educação

programa
Carga horária total de 502 horas,
divididas em 162 horas de prática supervisionada e
340 horas de aulas teóricas e orientação de
monografia

Rua Wanderley, 611


Perdizes São Paulo/SP
Tel. 11 3864 9732
CRP 06/3118-J
Na estante
Resenha do livro Clínica analítico-comportamental: Aspectos
teóricos e práticos, organizado por Nicodemos B. Borges e
Fernando A. Cassas. Editora Artmed (Porto Alegre), 2012.
Dante Marino Malavazzi

expressivas promessas de jovens pesquisadores


e pensadores que inovam e renovam teoria e
prática” (pp. 9-10). O objetivo desta resenha
é descrever brevemente o conteúdo das nove
seções da obra, ilustrando-as com trechos de
alguns capítulos. Assim, espera-se incentivar o
leitor a um contato direto com o livro.

Parte I
Subdividida em duas seções, a Parte I da obra
apresenta as contribuições da análise do com-
Às vésperas do XXI Encon- portamento e do behaviorismo radical à prática
tro Brasileiro de Psicologia e Medicina Com- do clínico analítico-comportamental.
portamental, a ser realizado em Curitiba (PR),
de 15 a 18 de agosto, o livro Clínica Analítico- Seção I: As contribuições da análise do
-Comportamental: Aspectos Teóricos e Práticos comportamento.
está prestes a completar um ano. No Prefácio, Esta seção inclui seis capítulos. Eles abordam,
Roberto A. Banaco define o objetivo da obra: em grau crescente de complexidade, os seguin-
“sistematizar e organizar o conhecimento pro- tes conteúdos: comportamento respondente,
duzido nas últimas décadas a respeito de nossa comportamento operante, operações motiva-
prática clínica dentro da abordagem, aqui no doras, interação operante-respondente, con-
Brasil” (p. 8). Para isso, o livro foi dividido trole aversivo e operantes verbais. No Capítulo
em três partes: As Bases da Clínica Analítico- 4 (Episódios Emocionais como Interações en-
-Comportamental (Parte I), Clínica Analítico- tre Operantes e Respondentes), Cassia R. C.
-Comportamental (Parte II) e Especificidades Thomaz adverte:
da Clínica Analítico-Comportamental (Parte
Olhar para os comportamentos respon-
III). No total, são 32 capítulos1. Entre os auto-
dente e operante separadamente teria
res, ressalta Roberto A. Banaco, há aqueles “já
um caráter principalmente didático,
consagrados na abordagem, bem como as mais

na estante 17
uma vez que um evento ambiental an- Seção II: Intervenções em clínica analítico-
tecedente pode evocar respostas refor- comportamental.
çadas em sua presença . . . , alterar a efe- Esta seção inclui cinco capítulos. Eles discutem
tividade momentânea de um estímulo . o uso de técnicas, a relação terapeuta-cliente, a
. . e, ao mesmo tempo, eliciar respostas modelagem, o controle por regras e o trabalho
reflexas. (p. 42) com sentimentos na clínica analítico-compor-
tamental. No Capítulo 15 (O Uso de Técnicas
Seção II: As contribuições da filosofia
na Clínica Analítico-Comportamental),
behaviorista radical.
Giovana Del Prette e Tatiana A. C. de Almeida
Esta seção inclui três capítulos. Eles tratam
alertam:
do modelo causal de seleção por consequên-
cias, da concepção behaviorista radical sobre Aplicar a “técnica pela técnica” é
o conceito de liberdade e de discussões filo- aquiescência; . . . é restringir as possi-
sóficas acerca dos transtornos psiquiátricos. bilidades de ação. Já aplicar a técnica a
No Capítulo 8 (O Conceito de Liberdade e partir da análise de contingências é ras-
suas Implicações para a Clínica), por exem- treamento, combinando as vantagens de
plo, Alexandre Dittrich expõe três maneiras uma regra de conduta (a técnica) com a
pelas quais é possível compreender o conceito riqueza e a complexidade das variáveis
de liberdade, sem renunciar ao determinismo: presentes em um processo terapêutico.
(a) Liberdade como Sentimento, (b) Liberdade (pp. 158-159)
como Diminuição ou Eliminação da Coerção e
(c) Liberdade como Autocontrole (pp. 92-93).
Seção III: Psiquiatria, psicofarmacologia e
clínica analítico-comportamental.
Parte II
Esta seção inclui dois capítulos. Eles defen-
Subdividida em quatro seções, a Parte II do
dem o intercâmbio entre psiquiatras e clíni-
livro aborda os encontros iniciais e as inter-
cos analítico-comportamentais. No Capítulo
venções em clínica analítico-comportamental,
21 (Considerações da Psicofarmacologia para
bem como o diálogo com a psicofarmacologia
a Avaliação Funcional), por exemplo, Felipe
e alguns subsídios para o exercício clínico.
Corchs refuta a “consideração frequente, po-
rém precipitada, de que questões ‘biológicas’
Seção I: Encontros iniciais, contrato e
são tratadas com medicações e questões ‘psico-
avaliações do caso.
lógicas’, com psicoterapias” (p. 192).
Esta seção inclui cinco capítulos. Eles orientam
o clínico sobre como proceder à avaliação fun-
Seção IV: Subsídios para o clínico analítico-
cional, indicando eventos aos quais se deve aten-
comportamental.
tar e comportamentos necessários à formação
Esta seção inclui dois capítulos. Eles mostram
do vínculo terapêutico. No Capítulo 12 (A que
como a formação pessoal do clínico pode (ou
Eventos o Clínico Analítico-Comportamental
não) favorecer o processo terapêutico e apon-
Deve Estar Atento nos Encontros Iniciais?),
tam contribuições da prática de pesquisa ao
Alda Marmo sugere abertura à individualidade
exercício clínico. No Capítulo 23 (Subsídios
de cada cliente (p. 124).
da Prática da Pesquisa para a Prática Clínica

18 boletim paradigma
Analítico-Comportamental), Sergio V. Luna Seção III: A atuação clínica analítico-
ressalta que não se deve “olhar seletivamente comportamental em situações específicas.
para os dados que falam a favor de hipóteses Esta seção inclui três capítulos. Eles tratam
preferidas, mesmo que isso implique não poder do atendimento em ambiente extraconsul-
oferecer resposta no momento para o problema tório, do desenvolvimento de hábitos de es-
sob investigação” (p. 207). tudo e de intervenções na área da Psicologia
da Saúde. No Capítulo 30 (O Atendimento
Parte III em Ambiente Extraconsultório: A Prática do
Subdividida em três seções, a Parte III da obra Acompanhamento Terapêutico), por exemplo,
versa sobre o atendimento de crianças, casais Fernando A. Cassas, Roberta Kovac e Dante M.
e famílias – além da atuação em contextos es- Malavazzi narram o desenvolvimento histórico
pecíficos. do acompanhamento terapêutico, cuja origem
remonta à modificação do comportamento e ao
Seção I: A clínica analítico-comportamental movimento antipsiquiátrico, na década de 1960.
infantil.
Esta seção inclui cinco capítulos. Eles se refe- Considerações Finais
rem à estrutura, às entrevistas iniciais, ao uso Obviamente, esta breve descrição de Clínica
de recursos lúdicos para avaliação/intervenção Analítico-Comportamental: Aspectos Teóricos e
e à participação da família no atendimento Práticos não esgota e talvez sequer faça jus à
infantil. No Capítulo 24 (Clínica Analítico- obra. No entanto, conforme afirmado inicial-
Comportamental Infantil: A Estrutura), Joana mente, seu objetivo é apenas o de estimular o
S. Vermes observa: “É fundamental que o pro- leitor à apreciação do livro. Enquanto clínico
fissional planeje antes da sessão quais das brin- analítico-comportamental, testemunho: sua
cadeiras serão utilizadas e com qual objetivo. leitura representou fonte de aprendizagem teó-
Dessa maneira, evita-se que a atividade tenha rica, contribuindo à minha prática profissional.
um valor puramente recreativo, mesmo que Concordo, pois, com Roberto A. Banaco – para
seja conduzida de forma muito agradável e di- quem a obra “cumpre com sua função: atualizar
vertida” (p. 220). e sistematizar, de maneira bastante cuidadosa,
criteriosa e competente, a prática da terapia
Seção II: A clínica analítico- analítico-comportamental que se observa hoje
comportamental e os grupos. no Brasil” (p. 10). 
Esta seção inclui um capítulo, reservado às
vantagens do trabalho com grupos. Portanto, 1 Dois capítulos adicionais estão disponíveis em www.gru-
no Capítulo 29 (O Trabalho da Análise do poa.com.br.
Comportamento com Grupos: Possibilidades
de Aplicação a Casais e Famílias), Maly Delitti
e Priscila Derdyk destacam a semelhança com Dante Marino Malavazzi é jornalista, psicólogo e
mestrando em Psicologia Experimental pela PUC-SP.
o ambiente natural dos clientes e a oportuni-
Especialista em clínica analítico-comportamental,
dade especial de utilizar modelação e ensaio terapeuta e monitor de supervisão clínica no Núcleo
comportamental. Paradigma. Editor-associado da revista Perspectivas
em Análise do Comportamento.

na estante 19
evento internacional
aCCeptanCe and Commitment therapy
(TERAPiA DE ACEiTAçãO E COmPROmissO)
méTODOs, COmPOnEnTEs E DiREçõEs

com a Professora Dra.


vagas limitadas Carmen LuCiano
Catedrática de Psicologia da Universidade de Almería,
onde é coordenadora do doutorado em Psicologia.
Diretora do instituto ACT, em madrid, e do primeiro
programa de mestrado em Terapia Contextual na
Espanha. Autora de inúmeros livros, artigos, capítulos
e pesquisas na perspectiva funcional sobre temas
relacionados ao comportamento humano complexo e à
prática clínica.

conteúdo
• A condição humana. O contextualismo funcional.
Cultura, contingências e linguagem.
• RFT: teoria e evidências por trás da prática.
• A evitação experiencial destrutiva como uma análise
funcional de inflexibilidade psicológica.
• Características da ACT. Promoção de flexibilidade.
Alterando funções e gerando novos repertórios.
• Os métodos de intervenção da ACT: múltiplas perguntas,
exercícios experienciais e metáforas.
Os ingredientes dos métodos: o que são e por que
eles funcionam?
• Os componentes da intervenção. Estabelecer
um contexto para o trabalho terapêutico. Gerando
desesperança criativa, clarificando a direção de valores
pessoais e estabelecendo o contexto do eu.
• Aplicação de métodos para: (a) estabelecer um
contexto para o trabalho, (b) a desesperança criativa,
(c) a diferenciação das dimensões do eu ou o processo
de autorreforço para a geração de perspectiva e (d) a
clarificação das direções.
• Análise funcional de casos, aplicação da ACT e discussão.

carga horária
16 horas Rua Wanderley, 611
Perdizes São Paulo/SP
Tel. 11 3864 9732
CRP 06/3118-J
Paradigma entrevista
Candido V. B. B. Pessôa e Jan L. Leonardi entrevistam
Maria Amalia Pie Abib Andery

Uma das analistas do com- falamos de diálogos, penso mais em interações


portamento mais respeitadas do Brasil, Maria concretas entre paradigmas científicos ou entre
Amalia Pie Abib Andery é coordenadora disciplinas, que podem ou não acontecer. De um
adjunta da área de psicologia na CAPES e lado, estamos falando de supostos, corpo teóri-
diretora da Faculdade de Ciências Humanas co, epistemologia; de outro, estamos falando de
e da Saúde da PUC-SP – instituição na qual é ciência, de produção científica e tecnológica.
professora desde 1971, tendo participado da
Paradigma: Podemos começar pelas interfaces?
criação dos cursos de mestrado e de douto-
Amalia: Quando dizemos que a análise do com-
rado em Psicologia Experimental: Análise do
portamento é uma ciência natural podemos
Comportamento. Pesquisadora de destaque
cometer um engano, pois lhe falta uma orien-
sobre comportamento verbal, processos de
tação/tendência ao mecanicismo e à produção
variação e seleção da cultura e práticas cultu-
de modelos matemáticos que foram típicos das
rais, ela discute nesta entrevista as interfaces e
chamadas ciências naturais nos séculos XVIII
os diálogos da análise do comportamento com
e XIX. Mas a análise do comportamento tam-
outras áreas do conhecimento.
bém não é propriamente uma ciência das hu-
Paradigma: Amalia, você poderia falar da sua im- manidades, pois lhe falta uma certa inclinação
pressão sobre os diálogos ou interfaces da análise a explicações de base teleológica ou “intencio-
do comportamento? nalista”, que foi marcante nas humanidades.
Amalia: Talvez diálogos e interfaces sejam coi- Modernamente, fala-se em ciências exatas,
sas diferentes. Interface evoca falar de recor- ciências humanas, ciências sociais/compor-
tes epistemológicos. Toda ciência tem alguma tamentais e ciências da vida. De um lado, a
correlação ou interface com algum ramo da análise do comportamento tem uma interface
filosofia, tem dependência, digamos assim, de necessária com as chamadas ciências da vida,
um pensamento filosófico ou de vários. A aná- já que o modelo de seleção por consequências
lise do comportamento não é exceção. Quando orienta nosso olhar sobre nosso objeto de estu-

paradigma entrevista 21
do, o comportamento. Este é um fenômeno tí- nos bancos universitários, nos laboratórios
pico do ser vivo, portanto, tipicamente estamos de pesquisa, nos programas de pós-gradua-
no ramo da biologia. A análise do comporta- ção, nos congressos e nas relações pessoais e
mento também tem interfaces com aquelas áre- profissionais. Mas nos esquecemos que todo
as do conhecimento que tratam especificamen- este fazer é parcial porque diz respeito a uma
te do comportamento humano em sociedade, parte do mundo apenas e a um olhar, uma
porque esta é uma característica tipicamente perspectiva, particular. Não nos damos conta
humana: da espécie humana emergiu um ní- de que a análise do comportamento poderia
vel de seleção por consequências, a cultura. ganhar fazendo parte de um contexto mais
Homens se produzem em sociedade. Então, de geral. Por exemplo, nós não ensinamos para
outro lado, há uma interface necessária entre o nosso aluno e nós mesmos não (re)conhe-
a análise do comportamento com o que pode- cemos nem mesmo a nossa interface com a
mos chamar genericamente de ciências sociais, biologia, com as ciências da vida. Somos ig-
com aquelas disciplinas que se dedicam a es- norantes desse ponto de vista e exploramos as
tudar a sociedade ou o homem em sociedade. biologias menos do que deveríamos e do que
poderíamos. Com isso, acho que empobrece-
Paradigma: Como a análise do comportamento lida
mos e considero que nossa parca exploração
com essas interfaces?
das interfaces é uma característica da análise
Amalia: Falar dessas interfaces não signifi-
do comportamento, tanto com relação às ci-
ca dizer que nós sabemos lidar com elas,
ências da vida como com relação às ciências
que sabemos exatamente como elas se dão.
sociais. O mesmo vale para as bases epistemo-
A formação que damos ao analista do com-
lógicas e filosóficas de que somos devedores.
portamento e que a maior parte de nós teve
Por outro lado, é preciso que se esclareça que
enquanto estudante de análise do comporta-
as proposições da análise do comportamento
mento é uma formação muito pobre do pon-
não podem ser desconsideradas pela biologia
to de vista filosófico e de nossa possibilidade
e pelas ciências sociais. Nossa compreensão
de avaliação da produção de conhecimento
sobre comportamento individual e sobre com-
científico. Tomamos a produção de conheci-
portamento operante contribui para a solução
mento científico como tarefa disciplinar (e,
de problemas conceituais e para a construção
de certa forma, ela é disciplinar). O problema
de conhecimento tanto na biologia como nas
é que essa perspectiva diante da produção de
ciências sociais. E, ainda que não se dê o de-
conhecimento supõe que cada disciplina dá
vido crédito, parece-me indiscutível que tais
conta de si, ou seja: produz seu conhecimento
proposições já influenciaram autores impor-
e tecnologia próprios, trabalha – metodologi-
tantes nessas disciplinas.
camente – de certas maneiras peculiares sem
qualquer preocupação ou interesse em relação Paradigma: Como essa característica – de pouca
ao que outros fazem e como fazem. Esses mo- exploração das interfaces entre disciplinas – se ex-
dos de trabalho e seus produtos (tanto os da pressa?
análise do comportamento como os de outras Amalia: Vou dar um exemplo. Há muitos anos,
disciplinas) são práticas culturais seleciona- eu tive alguns orientandos de iniciação científi-
das e transmitidas nos periódicos e livros, ca que fizeram trabalhos sobre o que os alunos

22 boletim paradigma
de graduação de psicologia sabem e pensam Por quê? Por conta desse mesmo mito. É como
da análise do comportamento. Estávamos in- se a explicação do comportamento individual
teressados em tratar dos mitos sobre a análise por si só desse conta de explicar tudo: as leis
do comportamento, ou seja, das crenças sem sobre o comportamento operante seriam mais
base na realidade sobre a disciplina. Nossos re- que suficientes para explicar a formação cultu-
ral, a história, a socieda-
Somos uma comunidade científica pequena, que fala de si/para si e de. Entretanto, o conhe-
que não conversa com quase mais ninguém. Além disso, acha que cimento dessas questões
não precisa conversar com mais ninguém. faz falta para a análise
do comportamento.
sultados apontaram, reproduzindo resultados Essas outras ciências são interfaces no sentido
norte-americanos (o que não se deu por aca- de que a produção de conhecimento na nossa
so, dada a nossa formação intelectual), que um área depende de termos uma perspectiva de
dos mitos mais comuns dos estudantes sobre a como a cultura molda, modela, limita e pro-
análise do comportamento era a ideia de que o duz comportamento individual. Tudo isso nos
indivíduo nasce como uma tábula rasa, ou seja, remete, em certo sentido, ao assunto dos diá-
que todo comportamento seria igualmente mo- logos da análise do comportamento.
delável. Um dado importante sobre o mito é
Paradigma: Como se dão os diálogos da análise do
que ele parece aumentar com os anos de estudo
comportamento nos dias de hoje?
de análise do comportamento. O que esse dado
Amalia: Ciência é uma prática cultural.
indicava? Que o aluno estava sendo desforma-
Atualmente, estou preocupada com a análise
do. Ele iniciava seus estudos na análise do com-
do comportamento enquanto prática cultural
portamento com o conhecimento generalizado
porque acho que os analistas do comportamen-
de que uma parte das determinações do com-
to, enquanto grupo, manobraram-se para uma
portamento seria genética ou filogenética. No
posição em que nós estamos em um canto iso-
decorrer de seus estudos, de sua formação, ele
lado. É como se todo o mundo da ciência e da
vai sendo levado a acreditar que tudo é igual-
tecnologia pudesse nos ignorar, sem nenhum
mente modelável, que nossa tecnologia para
prejuízo para suas áreas e seu conhecimento.
mudança comportamental pela manipulação
O que temos hoje na análise do comportamen-
de condições ambientais vigentes é ilimitada. É
to? Pequenos grupos ou um pequeno grupo
como se acreditássemos que poderíamos ensi-
de cientistas e tecnólogos com pouco ou ne-
nar o homem a bater asas e voar. Esse é um pro-
nhum impacto em termos científicos gerais.
blema que não é do aluno; é um problema de
Somos uma comunidade científica pequena,
quem ensina a análise do comportamento. Esse
que fala de si/para si e que não conversa com
é um problema da análise do comportamento:
quase mais ninguém. Além disso, acha que não
enquanto disciplina não reconhecemos, de fato,
precisa conversar com mais ninguém. (Eu não
uma interface que é afirmada no modelo de se-
estou me excluindo dessa perspectiva, acho
leção pelas consequências. O mesmo vale para
que também sou um pouco assim. Nos últimos
as ciências sociais. Muitos analistas do compor-
anos, tenho tentado fazer um pouco diferente,
tamento talvez saibam muito pouco ou nada de
mas acho que não tenho conseguido.) O que
antropologia, sociologia, economia ou história.

paradigma entrevista 23
pode acontecer? Mesmo que a análise do com- como o ambiente social selecionador dessas
portamento consiga persistir por mais 20, 30, variações. O que percebemos, de maneira ge-
50 anos publicando seus JEABs e JABAs, tendo ral, é que, aparentemente, a análise do com-
um pedacinho aqui de intervenção possível, portamento pode desaparecer sem desesta-
um tantinho ali de publicação, um lugar ou bilizar o sistema como um todo: se todos os
outro em algum departamento de universida- departamentos de psicologia dos EUA ou do
de, o impacto da produção de conhecimento e Brasil deixarem de ter professores de análise
de tecnologia que emerge daí sobre a sociedade do comportamento, como isso afetará a psico-
é muito pequeno para ser reconhecido como logia como profissão? Parece que muito pou-
relevante. Em certo sentido, a posição atual co. Esse desaparecimento seria impossível no
da análise do comportamento enquanto práti- caso da biologia, por exemplo. Uma coisa é ser
ca cultural é pior do que há 30 ou 40 anos. A parte integrante ou constituinte de um sistema
análise do comportamento era vista como uma maior; então, se você desaparece, todo o resto
abordagem reacionária, “americanófila”. Mas do sistema sofre com isso; outra é estar isola-
pelo menos estava na cultura. Era um pólo de do no sistema: se você desaparecer, o sistema
discussão. As pessoas sabiam falar: “Skinner, continuará funcionando e, exceto por alguma
Deus me livre!”. Hoje em dia, sequer desper- pequena oscilação, permanecerá intacto. Esse é
tamos reação emocional. Esse isolamento, que o risco que corremos, de termos nos transfor-
percebemos como isolamento científico, isola- mado em um grupo isolado dentro do sistema.
mento tecnológico, isolamento social em rela-
Paradigma: Você vê origens ou razões desse iso-
ção ao impacto acadêmico, é produto também
lamento?
da ausência de diálogo com as disciplinas que
Amalia: Acho que a análise do comportamen-
constituem nossas interfaces. De certa forma,
to já foi muito melhor. Skinner não era assim.
existe uma recusa na análise do comportamen-
Quando entrou para Harvard, ele foi parar
to em reconhecer que nós temos um tanto de
em um laboratório de biologia, apropriou-
conhecimento que deveria de fato ser transfor-
-se do conhecimento de então da biologia.
mado por outros tantos de conhecimento e essa
E fez algo semelhante com outras discipli-
postura pode ser fatal.
nas em toda a sua obra. É uma ingenuidade
Vamos pensar em termos de variação
achar que Skinner falou tudo o que falou por
e seleção. Vivemos em culturas complexas.
causa do rato pressionando a barra. O que
Consideremos a cultura ocidental, o mundo
ele escreveu derivou, sim, do que ele viu no
capitalista contemporâneo, as pessoas que
laboratório, mas foi informado por muitas
leem, que fazem a ciência ocidental. Nesse
interfaces. Skinner era muito culto e era um
contexto, cada abordagem, cada perspectiva
leitor incansável. Faz referências indiretas à fi-
em ciência, cada ciência, pode ser vista como
losofia, à biologia, à paleontologia, à geografia,
uma prática cultural. Então, existem muitas
à economia, à sociologia, à história, à linguís-
variações acontecendo. Na psicologia, muitas
tica e a mais algumas ciências. Conviveu – e
variações estão sendo ofertadas ao público
fez questão disso – com filósofos da ciência.
leigo, ao cliente, ao editor científico, aos de-
Desse ponto de vista, Skinner seria um mode-
partamentos nas universidades. Vamos pensar
lo de cientista muito diferente do analista do
nesses últimos (departamentos, universidades)

24 boletim paradigma
comportamento hoje. Mas é um modelo di- científica que, de uma maneira ou outra, mar-
fícil de seguir, pelas exigências que impõe ao cou e mudou muitas proposições em ciência,
cientista. E Skinner foi importante não apenas mesmo daqueles que a ela se opunham. No en-
porque reconheceu outras disciplinas, mas tanto, persiste a dificuldade de que tal variação
porque reconheceu nelas lacunas e problemas seja mais frequente a cada geração. E esta di-
para os quais propôs alternativas. E, ao fazê-lo, ficuldade aumenta porque nós nos colocamos
tornou a ciência do comportamento operante em uma posição de isolamento.
uma prática a ser de algum modo considerada Ciência, na sociedade contemporânea, é
por/em outras disciplinas. duas coisas. Em primeiro lugar, ciência é ideolo-
Apesar disso, embora tivesse essas caracte- gia, discurso. Constituir-se em um discurso co-
rísticas, Skinner apresentou a análise do com- erente é fundamental. Uma boa parte das nossas
portamento ao público, muitas vezes, como instituições é puro discurso. Em segundo lugar,
uma sistema acabado que não precisa de mais ciência é força produtiva. Ciência é produção
nada para se completar. Obviamente ele não de riqueza e talvez seja o maior vetor para pro-
fazia isso, obviamente ele dialogou com outras dução de riqueza. A análise do comportamen-
to tem um primeiro
Corremos o risco de ver nossa prática ser descaracterizada ou ser problema de ter um
extinta, como já ocorreu antes. Precisamos estar atentos para esses discurso que não
riscos e encontrar maneiras de ampliar o escopo de nossa atuação e de conseguiu tornar-se
enraizar socialmente as proposições e tecnologias derivadas da análise socialmente hegemô-
do comportamento. nico. Se tivéssemos
conseguido conven-
pessoas. Mas é possível ler Skinner como se ele cer o público com nosso discurso, teríamos tra-
estivesse propondo um sistema que se autocon- zido transformações sociais importantes para
tém e se autolimita, constituindo-se em uma a cultura. Agora, vamos pensar que ciência é
explicação que a tudo engloba e a tudo supera. também força produtiva. Nesse sentido, talvez,
E muitos analistas do comportamento leram- a análise do comportamento esteja em situação
-no assim. Ao fazê-lo, passaram a ignorar e a melhor, tomando-se como base algumas tecno-
ser ignorados em outras disciplinas. logias que ganharam força nos últimos anos,
A essas dificuldades soma-se outra. Não como, por exemplo, o atendimento de pessoas
é fácil para uma prática cultural fazer parte diagnosticadas com autismo. Entretanto, mes-
do sistema cultural maior quando se trata de mo nesse caso, nosso sucesso é apenas em su-
uma prática que se opõe ao mainstream, que se báreas isoladas e muito recente. E nosso histó-
confronta com a maneira tradicional de ver o rico não é muito bom. Corremos o risco de ver
homem, que se propõe a explicitar as variáveis nossa prática ser descaracterizada ou ser ex-
que condicionam o comportamento, que de- tinta, como já ocorreu antes. Precisamos estar
terminam o comportamento. Como tal prática atentos para esses riscos e encontrar maneiras
poderia ser socialmente transmitida? Este é um de ampliar o escopo de nossa atuação e de en-
tema da obra de Skinner e é também uma de raizar socialmente as proposições e tecnologias
suas grandes realizações. Com Skinner, a aná- derivadas da análise do comportamento.
lise do comportamento tornou-se uma prática

paradigma entrevista 25
Paradigma: Como seria mais fácil de se estabelecer visto com uma conotação negativa: reforço,
diálogos da análise do comportamento com outras por exemplo, significaria que mecanizamos os
disciplinas hoje? indivíduos e que não acreditamos em liberda-
Amalia: Um psicanalista chamado Sérvulo de. Não sei como exatamente estabelecer um
Figueira escreveu um artigo nos anos 1970 diálogo com a sociedade e com outras disci-
em que argumentava que a psicanálise é uma plinas, mas sei que esta é uma tarefa urgente.
explicação do fenômeno psicológico, do in- Precisamos convencer o público de que nossa
dividuo, que é tão importante porque virou linguagem não é detratora da individualidade e
parte da cultura cotidiana. Termos como das possibilidades do engenho humano.
trauma, ego, inconsciente são parte da cultura,
Paradigma: Como reverter o quadro?
da maneira como descrevemos os fenômenos
Amalia: Sabemos coisas do laboratório de análi-
mais corriqueiros. Como tal, são termos que
se do comportamento que seriam importantes
viraram termos cotidianos, mas que também
e poderiam ser utilizadas pelo bem de todos e
se deterioraram conceitualmente e perderam
da cultura. Por exemplo: se o profissional que
substância científica. Esse é o sucesso e o pro-
trabalha com ensino por computador entender
blema da psicanálise, todo mundo age como se
de comportamento operante, possivelmente
estivesse falando da mesma coisa quando não
ele será melhor programador do que se ele não
está. Mas, de toda forma, Freud e os psicana-
entender. Para isso acontecer, acho que a pri-
listas construíram uma concepção de mundo
meira coisa seria aprendermos a falar de outro
e essa concepção tem penetração social, tem
jeito. Não adianta dizer em todos os lugares:
penetração cultural para muito além daquilo
a imediaticidade do reforço é importante. O
que a psicanálise em si, como disciplina, tem
ouvinte não me ouve mais depois dessa frase.
a dizer. Tal penetração em parte garante a so-
Mas se eu tratar de como os homens são susce-
brevivência da produção de conhecimento em
tíveis ao atendimento imediato de suas neces-
psicanálise. O mesmo vale para certas escolas
sidades, talvez o público se disponha a ouvir
da economia, antropologia, etc. Outra pessoa
a frase seguinte. Essa regra geral vale para o
que tratou do tema, agora especificamente do
público leigo e para nossos colegas cientistas.
ponto de vista da análise do comportamen-
Precisamos aprender a mudar nosso discurso,
to, foi Sigrid Glenn em um artigo de 19931.
sem comprometer nossos conceitos, para criar
Seu artigo é excelente e merece ser lido com
uma predisposição inicial ao diálogo. Também
atenção. Nele, ela discute as dificuldades de
é importante se fazer presente: publicar em pe-
penetração da análise do comportamento e
riódicos de outras áreas, assim como (e talvez
as graves consequências em termos de nossa
principalmente) aprender a captar, entender e
sobrevivência como prática cultural.
incorporar produções de outras abordagens.
Nós também temos a oferecer uma cons-
Talvez devêssemos também evitar a con-
trução conceitual que é importante e, acredi-
centração de produção de ciência normal bu-
to, pode transformar positivamente a socie-
rocratizada. Uma ciência em que a construção
dade. No entanto, o pouco que se reconhece
teórica, conceitual e empírica é ainda tão inicial
em relação à análise do comportamento como
como é a análise do comportamento, do meu
construção conceitual para fora de seus muros
ponto de vista, não pode se dar ao luxo de fa-
tende a ser criticado socialmente, tende a ser

26 boletim paradigma
zer só a ciência normal burocrática, e refiro-me ele está dizendo. Não importa que ele fale de
aqui tanto à pesquisa básica como à pesquisa intenção, de mente. É óbvio que do meu ponto
aplicada. Não podemos eleger um ou dois te- de vista melhor seria se ele não falasse, mas se
mas e procedimentos de pesquisa e investir se tratar de uma perspectiva realmente sele-
apenas na produção de pequenas variações cionista possivelmente o que há de comum ali
sobre tais temas por décadas, ao mesmo tem- com a análise do comportamento é mais im-
po que ignoramos e avaliamos negativamente portante do que o que há de diferença. Essas
tudo o mais. Como uma disciplina emergente, são as interfaces importantes com a análise
recente, numericamente pequena e em relativo do comportamento. Esses são os diálogos, es-
isolamento, não podemos nos dar ao luxo de sas são as áreas, esses são os indivíduos com
evitar ou desfazer do novo e do diferente. os quais precisaremos dialogar: aqueles que
assumem um modelo selecionista para tratar
Paradigma: Voltando às interfaces, quais você tem
das bases biológicas do comportamento, para
privilegiado? Como estabelecer o diálogo hoje?
tratar da linguagem, das culturas e sociedades,
Amalia: Acredito que daqui a um século os
da política, da economia, etc. 
historiadores da ciência vão dizer o seguinte:
a grande contribuição conceitual e epistemo-
1 Glenn, S. S. (1993). Windows on the 21st Century. The
lógica do século XX para a ciência foi a produ-
Behavior Analyst, 16, 133-151.
ção do modelo selecionista. Esse modelo só se
instalou de maneira importante na ciência na
segunda metade do século XX. Havia pessoas
com uma perspectiva “selecionista” antes disso?
Sim. Mas a biologia sofreu uma reviravolta com
esse modelo na segunda metade do século XX
e as ciências sociais em geral também. Isso vale
na antropologia, na linguística, na história. O
chamado modelo selecionista produziu mudan- Candido V. B. B. Pessôa é administrador de empre-
ças importantes na concepção de causalidade sas pela FGV-SP, mestre em Psicologia Experimental
em ciência, nas construções teóricas e metodo- pela PUC-SP e doutor em Psicologia Experimental
pela USP. Pós-doutorando no Programa de Estudos
lógicas em muitas ciências. Uma área em que
Pós-Graduados da PUC-SP, com financiamento pela
tais mudanças foram fundamentais são as ci- FAPESP (2011/19125-2), é professor do Núcleo
ências do comportamento individual. Skinner Paradigma e da Escola de Sociologia e Política de
não é o único selecionista na psicologia, mas São Paulo.
ele é do nosso ponto de vista o melhor deles.
Jan L. Leonardi é psicólogo e mestre em Psicologia
Por isso, a análise do comportamento é tão im-
Experimental pela PUC-SP. Especialista em clínica
portante. Ela é parte de uma grande e impor- analítico-comportamental, terapeuta e docente
tantíssima revolução científica. do Curso de Especialização em Clínica Analítico-
O selecionismo é um marco que delimita Comportamental de Adultos, no Núcleo Paradigma.
nossos interlocutores. Ao ler um autor, se eu Editor-associado da revista Perspectivas em Análise
acho que suas proposições combinam com o do Comportamento. Idealizou e elaborou o Curso
de Verão em Psicologia Experimental: Análise do
selecionismo, quero parar para pensar no que
Comportamento da PUC-SP.

paradigma entrevista 27
especialização em
Psicologia do EsPortE E da atividadE Física
coordenação
Eduardo cillo
carla di PiErro

professores
Eduardo Cillo, Sâmia Hallage, Carla Di Pierro,
Roberto Banaco, Roberta Kovac, Yara Nico,
Felipe Corchs, Antonio Herbert Lancha Jr,
Irineu Loturco, Luis Riani, Gustavo Campelo,
Márcio Andraus, Virgílio Franceschi e
professores convidados.

público-alvo
psicólogos, educadores físicos, médicos,
fisioterapeutas, nutricionistas e profissionais
da área esportiva.

objetivo geral
formar especialistas em psicologia do esporte
de orientação analítico-comportamental.

objetivo específicos
estabelecer competências e habilidades para:
• a compreensão dos processos básicos de análise
dos comportamentos, aplicada ao esporte, atividade
física e áreas correlatas das ciências do esporte;
• preparar os alunos para análise e intervenção multi
e interdisciplinar em ambientes esportivos de alto
rendimento, prática de atividade física e iniciação
esportiva;
• contribuir para a produção científica brasileira em
psicologia do esporte por meio das monografias de
conclusão de curso.

www.nucleoparadigma.com.br
Rua Wanderley, 611 horário
Perdizes São Paulo/SP
quinzenalmente, às sextas e sábados
Tel. 11 3864 9732
CRP 06/3118-J
História de vida
Dr. Isaias Pessotti
por Fabiana Guerrelhas

Escrever sobre a vida do Paulo. Estudou em um seminário franciscano,


Professor Doutor Isaias Pessotti é para mim um em Piracicaba (SP) – experiência que, segundo
grande desafio1. Primeiro, pela necessidade de ele próprio, determinou sua visão do mundo. De
incluir no texto toda uma vasta e importante acordo com a psicóloga Vera Otero, amiga pesso-
produção científica nas áreas de psicologia, psi- al e colaboradora em suas pesquisas experimen-
quiatria, filosofia e análise do comportamento. tais na década de1970, Pessotti bacharelou-se em
Segundo, por ter de falar sobre um escritor de Filosofia, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e
renome na literatura brasileira, ganhador de um Letras da Universidade de São Paulo (USP), em
Prêmio Jabuti, em 1994, pela obra Aqueles Cães 1955. (Sei que o professor Isaias orgulha-se de
Malditos de Arquelau – livro duplamente pre- dizer que se graduou em Filosofia pela “Maria
miado nas categorias Melhor Romance e Livro Antônia”.) Obteve o título de Especialista em
do Ano, da Câmara Brasileira do Livro. Esta é, Educação, pela Universidad de Chile em um
portanto, uma tarefa de muita responsabilidade. curso oferecido pela Organização das Nações
Como residente na cidade de Ribeirão Unidas, para a Educação, Ciência e Cultura
Preto (SP), convivo constantemente com vá- (UNESCO), em 1959. Doutorou-se em Ciências,
rias facetas do professor Isaias: o escritor, mui- com distinção, também pela Universidade de São
tas vezes citado pela imprensa local e sempre Paulo, em 1969. Sua carreira acadêmica centrali-
homenageado nos eventos literários; o profes- zou-se no Departamento de Neuropsiquiatria e
sor, muito ativo na difusão do conhecimento; Psicologia Médica da Faculdade de Medicina de
o peregrino, sempre visto fazendo longas cami- Ribeirão Preto-USP, onde ingressara em 1967. . .
nhadas e a figura social, encontrada facilmente . Paralelamente obteve outros importantes títulos
em bares e restaurantes. como Professor Titular do Centro de Educação
Como analista do comportamento, te- e Ciências Humanas, da Universidade Federal
rapeuta analítico-comportamental e aluna, de São Carlos, em 1982; Professor Titular de
aprendo e admiro seus trabalhos ligados à Psicologia Educacional da Faculdade de Filosofia,
pesquisa básica, à saúde mental e à história da Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP, em
loucura. Como leitora, me delicio com suas 1983; Professor Titular da cátedra de Metodologia
histórias e personagens intrigantes. Como ami- Científica (em Psicologia) da Universidade de
ga, me divirto com seu humor, ora alegre, ora Urbino (Itália), em 1997, título esse obtido por
ácido e irônico, mas sem dúvida interessante. “notório saber” (chiara fama), reconhecido pe-
Conviver com o professor Isaias é sempre uma los colegiados da Universidade, pelo Consiglio
experiência enriquecedora. Universitário Nazionale (CUN) e pelo Ministero
Nasceu no dia 28 de setembro de 1933, em delle Universitá e della Ricerca Scientifica e
São Bernardo do Campo (SP), estado de São Tecnologica, da Itália (Otero, 2006, p. 9).

história de vida 29
Sua formação acadêmica e vinculações bre aprendizagem em abelhas. A importância
institucionais expressam uma sólida carreira. científica de sua obra foi merecidamente reco-
Participou ativamente de lutas políticas e edu- nhecida quando foi capa da revista Scientific
cacionais. Foi professor da UnB logo após o American, na década de 1970, com o artigo
golpe militar em 1964 e era membro do grupo “Come Apprendono le Api. A convite de Le
de 270 professores que se demitiram coletiva- Scienze” (Pessotti, 1977).
mente em 1965. Naquele momento, relata que Entre os anos 1970 e 1990, impressionado
viveu num contexto de revolução e se orgulha com a transitoriedade das verdades científicas
disso. Com um olhar crítico dos pressupostos e das descobertas experimentais, dirigiu seus
behavioristas radicais, questiona uma possível estudos para o conhecimento da História da
aplicação dos conceitos analítico-comporta- Psicologia e da evolução histórica de conceitos-
mentais como ferramenta de mudança social. -chave da psicologia. Nessa época, foram publi-
Fez parte do grupo inicial da análise do cados: Pré-História do Condicionamento (1975),
comportamento no Brasil, em companhia dos Ansiedade (1978), Pavlov (1979), Deficiência
professores Carolina Bori, Rodolfo Azzi, Mario Mental: Da Superstição à Ciência (1984),
Guidi, Maria Amelia Matos, Dora Selma Fix Filosofia e Comportamento (1985), Psicologia
Ventura e Maria Ignez Rocha e Silva e, poste- Aplicada à Odontologia (1985), A Loucura e as
riormente, de João Claudio Todorov e Rachel Épocas (1994), O Século dos Manicômios (1996)
Kerbauy. e Os Nomes da Loucura (1999).
Em entrevista à Vera Otero para um docu- A partir da década de 1990, desencantado
mentário produzido pela Associação Brasileira com o trabalho científico e com a vida universi-
de Psicologia e Medicina Comportamental tária, tornou-se escritor – atitude que rendeu a
(ABPMC), em 2010, relata ter tido contato com produção de Aqueles Cães Malditos de Arquelau
escritos de Skinner em 1956, quando ficou en- (1993), O Manuscrito de Mediavilla (1995) e A
cantado com a possibilidade de “produzir com- Lua da Verdade (1997), aventuras históricas
portamentos”. Ainda na década de 1970, por que misturam realidade e ficção, com toques
iniciativa da professora Carolina Bori e com a co- de saudade dos anos 1970, vividos na Itália.
laboração de Geraldina Porto Witter, organizou, Esta é a história de um cientista que tran-
em Rio Claro, a primeira tentativa de um curso sitou entre a filosofia e a psicologia – o que lhe
de instrução programada, ministrado no Brasil. permite, por excelência, avaliar criticamente a
A partir daí se engajou no ensino da aná- prática do psicólogo, tanto em termos concei-
lise experimental do comportamento, por tuais quanto em relação à aplicação. É mem-
meio do desenvolvimento de experimentos bro ativo da Sociedade Brasileira de Psicologia
de condicionamento operante, principalmen- (SBP) e da ABPMC. Costuma dar bastante valor
te na área de discriminação. Inovou ao estu- à aplicação clínica, apesar de sua trajetória ser de
dar o comportamento de insetos, já que até cunho experimental e conceitual. Mantém uma
então os experimentos de laboratório eram postura contestadora, contundente, polêmica e
predominantemente realizados com ratos e questionadora de dogmas. Em matéria sobre sua
pombos. Além de livros, possui mais de 70 vida, publicada por Dario de Negreiros no jornal
trabalhos publicados em importantes perió- Folha de S. Paulo, em 06 de maio de 2012, faz
dicos brasileiros e italianos, muitos deles so- uma definição a seu respeito:

30 boletim paradigma
Se você quiser um denominador do
meu pensamento, de tudo o que eu te- Referências
nho feito e dito como professor, como Moraes, A. B. A. & Pessotti, I. (1985) Psicologia apli-
pesquisador, como ‘filosofinho’, este cada à odontologia. São Paulo: Sarvier.
denominador é o meu ódio ao poder. De Negreiros, D. (2012, 6 de Maio). Meu deus é a
. . . A ciência é importantíssima, mas questão. Folha de S. Paulo. Recuperado de http://
gráficos e tabelas já não me dizem mais www1.folha.uol.com.br/fsp/ribeirao/41178-meu-
nada. (De Negreiros, 2012, para. 23, 32) -deus-e-a-questao.shtml
Otero, V. R. L. (2006). Homenagem a sócio-honorário:
É descrito por amigos e familiares como
Isaias Pessotti. Temas em Psicologia, 14(1), 9-12.
culto, perfeccionista, solidário, leal, perseve-
rante, sério, versátil, ativo e erudito. Com sua Pessotti, I. (1975). Pré-história do condicionamento.
São Paulo: Edusp.
multiplicidade de interesses, ofícios e habilida-
des (e.g., cozinheiro, marceneiro, mecânico de Pessotti, I. (1977). Come apprendono le api. A con-
automóveis, etc.), formou e forma pessoas em vite de Le Scienze. Scientific American, 33, 11-21.

diversos níveis. Pessotti, I. (1978). Ansiedade. São Paulo: EPU.


Nas palavras de Otero (2006), todo esse ca- Pessotti, I. (1979). Pavlov. São Paulo: Editora Ática,
minho descreve uma pessoa com Pessotti, I. (1984). Deficiência mental: Da supersti-
ção à ciência. São Paulo: Edusp.
imensa capacidade em harmonizar ci-
ência, literatura, história e criatividade, Pessotti, I. (1993). Aqueles cães malditos de
Arquelau. Rio de Janeiro: Editora 34.
atributos imprescindíveis a um pesqui-
sador que é também um “formador de Pessotti, I. (1994). A loucura e as épocas. Rio de
profissionais da Psicologia” em vários Janeiro: Editora 34.

sentidos: científico, humanista, histó- Pessotti, I. (1995). O manuscrito de Mediavilla. São


rico e político. . . . Há o pesquisador, o Paulo: Editora 34.
cientista brilhante, o historiador crítico Pessotti, I. (1996). O século dos manicômios. São
– o filósofo da psicologia – e o “inven- Paulo: Editora 34.
tivo relojoeiro”. Todas essas caracterís- Pessotti, I. (1997). A lua da verdade. São Paulo:
ticas são sempre úteis para os fazeres da Editora 34.
ciência psicológica e para o desenvolvi- Pessotti, I. (1999). Os nomes da loucura. São Paulo:
mento do saber científico, em geral. . . . Editora 34.
Trata-se de um caso cuja imaginação e Prado Junior, B., Pessotti, I., Abib, J. A. D., de Rose,
entendimento espontaneamente se har- J. C. C., Prado, L., & Trevisan, P. (1985). Filosofia e
monizam. (pp. 9-11)  comportamento. São Paulo: Brasiliense.

1 As informações apresentadas neste texto foram extraídas Fabiana Guerrelhas é psicóloga pela PUC-SP e mes-
tre em Psicologia Clínica pela USP. Terapeuta analíti-
de artigo publicado sobre o professor Isaias, de entrevista
co-comportamental do Instituto de Neuropsicologia
concedida à ABPMC, de documentários divulgados na ci- e Biofeedback (Inbio), docente e supervisora do
dade de Ribeirão Preto (SP), além de conversas casuais entre Instituto de Estudos do Comportamento (Psicolog),
ele e esta autora. ambos na cidade de Ribeirão Preto (SP).

história de vida 31
Aplicação
O papel do analista do comportamento sobre o fenômeno
bullying: Algumas considerações
Joana Singer Vermes e Roberto Alves Banaco

Não é necessário muito derando que há graves consequências para os


esforço para recordarmos de cenas de infância indivíduos e para o grupo como um todo, a
ou adolescência que remetem ao que hoje é de- abordagem do problema merece ter vários en-
nominado bullying. Essa facilidade não se dá à foques: o enfoque do enfrentamento individual
toa: o fenômeno – que se refere à prática siste- e o cuidado às práticas culturais que o mantêm.
mática de violência, provocações, intimidações, Estudar o fenômeno do bullying é impor-
insultos, exclusão e depreciação a pertences – tante e urgente. O problema tem sido relacio-
sempre existiu na vida em grupo composta por nado a um conjunto de comportamentos de
crianças, adolescentes e, ainda que de forma fuga e esquiva envolvendo faltas excessivas aos
mais controlada e menos exuberante (portanto, compromissos, adoecimentos e desistência dos
menos identificável), adultos. estudos. Observa-se, ainda, o desenvolvimen-
Psicólogos, educadores e assistentes sociais to de transtornos psiquiátricos e, em muitos
vêm concentrando alguns esforços para en- casos, de comportamentos de agressividade e
tender o fenômeno e desenvolver estratégias revolta – casos clássicos de contracontrole. De
envolvendo prevenção e combate. A preocu- fato, histórias como a de Columbine (ocorrida
pação não se limita à vida escolar (que pare- em 1999, no Colorado, EUA) e a de Realengo
ce ser o ambiente mais propício ao bullying), (deflagrada em 2011, no Rio de Janeiro) nos
mas se estende a outros contextos, tais como contam sobre a gravidade que é a união entre
condomínios, clubes, presídios, ambientes transtornos psiquiátricos sérios e uma história
de trabalho e até asilos (Fante, 2005). Muitos de bullying.
profissionais têm também dedicado atenção Alguns autores têm buscado identificar
ao cyberbullying, que costuma acompanhar a aspectos comuns entre as vítimas de bullying.
violência presencial. Sem dúvida, com a parti- Embora não seja uma regra, mais frequente-
cipação cotidiana das pessoas em redes sociais, mente, essas pessoas apresentam característi-
o bullying tornou-se ainda mais fácil, já que cas físicas pouco valorizadas pelo grupo e/ou
viabiliza o “contágio” da prática a muitas pes- muito diferentes da maioria (e.g., obesidade,
soas. Dado que esta forma de comportamento pouca altura, presença de espinhas, cabelo
parece ser muito frequente (se não típica) do crespo, uso de óculos, deficiências físicas, en-
comportamento humano em grupo e consi- tre outras). Características comportamentais

32 boletim paradigma
como timidez, ótimo ou péssimo desempenho bre a minha pessoa, significa, em tese, reforçar
escolar e imaturidade em comparação ao grupo o comportamento de atentar à vítima e não a
parecem, com frequência, fazer parte do reper- mim, independentemente da atitude da vítima.
tório de muitos indivíduos que sofrem bullying. Esse fenômeno é tão verdade que, muitas vezes,
Ainda, uma condição socioeconômica inferior aqueles que praticam o bullying, quando estão
à apresentada pelo pares também parece ser sozinhos, não apresentam esse tipo de compor-
mais um gerador do problema (Fante, 2005). tamento. Observa-se também que, após algum
Apesar de características “negativas” da tempo, sequer importa a presença da vítima
vítima estarem comumente relacionadas ao para que alguns comportamentos continuem
bullying, é interessante notar que, em alguns sendo apresentados.
casos, especialmente no gênero feminino, a Pelas razões apresentadas, o trabalho do
vítima é escolhida justamente por apresentar analista do comportamento pode incidir sobre
características muito valorizadas pelo grupo. o nível individual ou grupal. É provável que a
Entre os que agridem, são comuns verbaliza- maioria dos terapeutas que atendem crianças
ções tais como: “Ela está se achando”, “Vamos e adolescentes já tenha recebido no consul-
baixar a bola dela”, etc. (Simmons, 2004). Esses tório casos relacionados ao bullying. Nessas
dados indicam que a variável mais importante condições, o trabalho tende a ser individual.
está relacionada à competição e à escassez de O profissional é incumbido de ajudar a vítima
reforçadores, que tendem a aumentar a agres- de bullying a lidar com o problema de forma a
sividade interna do grupo. minimizá-lo, produzindo redução nos danos e
Um dos maiores problemas do bullying, no sofrimento. Nesse caso, ensina-se a vítima
que torna seu manejo tão difícil, diz respeito a mapear situações a serem evitadas, identi-
aos reforçadores que mantêm a prática: embora ficar possíveis comportamentos que podem
a reação da vítima possa fortalecer os compor- exacerbar ou suavizar o problema, escolher
tamentos daqueles que cometem as agressões, formas de esquiva que tragam menos conse-
é mais frequente observar que não há conexão quências negativas em sua vida, desenvolver
funcional direta entre esses elementos – as habilidades para que seja possível estabelecer
relações satisfatórias
Embora a reação da vítima possa fortalecer os comportamentos com pessoas que
daqueles que cometem as agressões, é mais frequente observar não participam das
que não há conexão funcional direta entre esses elementos - as agressões e, even-
contingências que eliminam reforçadores negativos de ambos os lados tualmente, orientar
(agressor e agredido) são dificilmente demonstráveis. para uma mudança
radical de ambiente
contingências que eliminam reforçadores ne- social. Algumas vezes, ainda no nível individu-
gativos de ambos os lados (agressor e agredido) al, o profissional realiza a intervenção sobre o
são dificilmente demonstráveis. Isso significa praticante do bullying. Nesses casos, procura-se
que os membros do grupo tendem a fornecer (a) analisar, junto ao indivíduo, consequências
as consequências reforçadoras uns aos outros, de seu comportamento a médio e longo prazos,
especialmente enquanto o “dar risada sobre um (b) avaliar maneiras de se obter reforçadores
comentário maldoso”, desde que não seja so- sociais de forma alternativa e (c) desenvolver

aplicação 33
empatia pela vítima. O trabalho de Gomide refletir se não constituem a origem do proble-
(2010) pode ser um excelente caminho para ma. Parte expressiva dos agressores já passou
se observar e instalar repertórios de comporta- por agressões e limitações afetivas sérias nas
mento moral nesses praticantes. relações com adultos. Mudar nesse contexto as
Embora o trabalho focado no indivíduo práticas culturais, revertendo as contingências
seja importante, seria fundamental que o ana- geradoras de competição interna, é papel do(s)
lista do comportamento também pudesse lan- adulto(s) ou gestor do grupo e envolve colocar
çar mão da teoria e de técnicas para realizar limites aos comportamentos indesejados, sem
um trabalho em um nível mais grupal, espe- deixar de oferecer alternativas saudáveis para
cialmente na educação. todos os membros do grupo.
A incorporação de analistas do compor- Como se vê, o analista do comportamento
tamento em ambientes nos quais ocorrem o deve se debruçar sobre esse fenômeno social
bullying pode apresentar uma série de ser- tão nefasto e desenvolver tecnologia de condu-
ventias. A primeira delas é a de mapear, via ção de grupo, assumindo assim o papel já deli-
observação e relato de indivíduos, onde estão neado por Skinner em Walden II. 
os focos de problema e as contingências que
os formam. Isso significa compreender quais
configurações de contingências de grupos são Referências
perigosas, quais são as vítimas reais e poten-
ciais e de que forma o bullying acontece em Fante, C. (2005). Fenômeno bullying: Como prevenir
cada caso. A partir disso, o profissional pode a violência e educar para a paz. São Paulo: Verus.
Gomide, P. I. C. (2010). O comportamento moral:
recomendar reorganizações do grupo, de for-
Uma proposta para o desenvolvimento das virtudes.
ma a minimizar padrões sociais nocivos, tan-
Curitiba: Juruá.
to dos agressores quanto das vítimas. Seria
Simmons, R. (2004). Garota fora do jogo: A cultura
também tarefa do analista do comportamento de agressão oculta nas meninas. São Paulo: Rocco.
auxiliar no desenvolvimento de contingências
que contribuíssem para que novas formas
de interação no grupo envolvessem empatia,
aceitação pelas diferenças e, especialmente, Joana Singer Vermes é psicóloga e mestre em
a construção de habilidades que trouxessem Psicologia Experimental pela PUC-SP. No Núcleo
reforçamento social imediato similar ao que Paradigma, é coordenadora do Curso de Formação
o bullying proporciona, mas sem haver sofri- em Clínica Analítico-Comportamental Infantil, do-
cente e supervisora clínica, além de terapeuta in-
mento de um indivíduo.
fantil e de adultos.
Cabe ainda àquele que realiza a interven-
ção ensinar formas de se tratar o problema Roberto Alves Banaco é psicólogo pela PUC-SP,
(que envolve tanto controle aversivo) fazen- mestre e doutor em Psicologia Experimental pela
do o menor uso possível de controle aversivo. USP. No Núcleo Paradigma, é coordenador do
Curso Tópicos Avançados em Terapia Analítico-
Para isso, professores, educadores, pais e outras
Comportamental, docente e terapeuta (adultos,
pessoas que ocupam um papel de conduzir um casal, família e grupo). Editor-associado da revis-
grupo devem ser ensinados a detectar sinais ta Perspectivas em Análise do Comportamento e
do bullying antes de ele se cristalizar e, ainda, Professor Titular da PUC-SP.

34 boletim paradigma aplicação


2012 ISSN 2177-3548

Nota B3, pela avaliação Qualis/CAPES.

Análise do comportamento
Behaviorismo radical
Ciência do comportamento
Práticas culturais
Clínica analítico-comportamental
Áreas de aplicação da análise do comportamento
Ensino de análise do comportamento
Interface com ciências biológicas
Metodologia em análise do comportamento

Agora indexada no Index Copernicus Journals Master List.


Comportamento em cena
Adaptação
Antonio Carlos Pacheco e Silva Neto

O filme Adaptação (Demme & Jonze, 2002) para o roteiro e espera o momento ideal para
conta a história de Charlie Kaufman (Nicolas se aproximar da mulher por quem está inte-
Cage) debatendo-se com a tarefa de adaptar ressado; ou suas tentativas são julgadas por ele
um livro para um roteiro de filme. O livro que como fracassadas e indicadores de sua vergo-
ele deve adaptar é O Ladrão de Orquídeas, es- nhosa incompetência.
crito por Susan Orlean (Maryl Streep), a partir Em contraste, o irmão gêmeo de Charlie,
de sua reportagem sobre John Larroche (Cris Donald Kaufman (Nicolas Cage), é despreo-
Cooper), processado por coletar orquídeas cupado e brincalhão. Inscreve-se num curso
numa reserva indígena na Flórida. de roteirista e começa a escrever um roteiro,
Charlie Kaufman é um indivíduo extrema- que Charlie critica como sendo ingênuo e in-
mente preocupado: preocupa-se com o que a coerente. Donald não se afeta com as críticas,
produtora que o contratou vai pensar sobre ele, continua agindo, criando seu roteiro, apro-
temendo que ela o despreze ao constatar que ximando-se das pessoas e conquistando uma
é careca e que fica nervoso, suando copiosa- nova namorada. Por fim, Donald ajuda Charlie
mente quando se encontram para se conhecer; em seu roteiro – juntos vão investigar a vida
preocupa-se com o que sua paquera está pen- de Susan Orlean, momento em os irmãos se
sando sobre ele quando saem juntos. Indeciso, aproximam.
modifica o roteiro diversas vezes, sempre insa- A dificuldade de Charlie para escrever
tisfeito com sua produção; intensamente auto- o roteiro remete à questão da motivação. O
crítico, fica paralisado ao tentar se aproximar que a psicologia discute como sendo motiva-
de sua paquera – que então acaba desistindo ção – considerada uma causa interna para o
dele e passa a se relacionar com outro homem. comportamento –, o behaviorismo discute em
Ele tem a expectativa de ter a ideia perfeita termos de variáveis ambientais que controlam

36 boletim paradigma
o comportamento. Ou seja, em vez de consi- a sensação ou os sentimentos de que seria bom
derar a motivação como causa do comporta- assistir a um filme – deve ser explicado pela
mento, o behaviorismo explica a motivação do história de reforçamento.
indivíduo (ou sua tendência a se comportar de Por outro lado, para que um aspecto do
determinado modo) como função de fatores ambiente funcione como reforçador e então
ambientais. motive o indivíduo a agir, é necessário consi-
Um organismo age e sua ação produz con- derar outros aspectos da relação entre o orga-
sequências (mudanças no ambiente) que, por nismo e o ambiente. Operações estabelecedoras
sua vez, podem afetar a probabilidade de ele (Michael, 1993) é um conceito que se refere a
eventos que (a) alteram a efetivi-
O filme, além dos excelentes atores e do roteiro instigante, dade reforçadora de outros even-
permite exemplificar aspectos importantes comentados tos e (b) modificam a frequência
pela terapia comportamental de última geração, sobretudo de ocorrência do comportamento
a importância do comportamento verbal, tanto para o que foi reforçado por esses even-
sofrimento quanto para a mudança positiva. tos. Assim, se estou há oito horas
sem comer, esse evento (i.e., a pas-
apresentar respostas da mesma classe no fu- sagem do tempo) aumenta o valor reforçador
turo. Reforçamento é o processo que ocorre da comida e me motiva a comer.
quando uma ação do organismo produz uma Uma boa parte das operações estabelecedo-
consequência que aumenta a probabilidade ras ocorre por meio do comportamento verbal.
de respostas da mesma classe serem emitidas Por exemplo, ouço dizer que um novo restau-
no futuro. Por exemplo, abro a janela e então rante é muito bom. Confiando nessa informa-
a luz do sol ilumina o lugar onde estou, faci- ção, ela aumenta o valor reforçador da comida
litando eu visualizar o local e realizar minhas desse restaurante para mim, motivando-me a
tarefas cotidianas; em situações semelhantes, ir comer lá.
provavelmente abrirei a janela, porque, no pas- A cultura, por meio do comportamento
sado, abrir a janela produziu a iluminação do verbal, cria noções como felicidade, perfeição
local. Comportamentos que foram reforçados e sucesso, e um dos problemas que podem sur-
apresentam então uma tendência (ou probabi- gir é o indivíduo comparar-se com esses ideais
lidade maior) de serem novamente emitidos. e sofrer por não os ter alcançado. Isso ocorre
Portanto, a motivação depende da história de com Charlie Kaufman, que busca o roteiro ide-
reforçamento. al e sofre com o seu roteiro real.
Motivação pode referir-se também à ex- A Terapia de Aceitação e Compromisso
periência do indivíduo, ou seja, corresponde a (ACT; Hayes, Strosahl & Wilson, 1999) discute
determinados eventos privados, notadamente a questão dos ideais. Para a análise do compor-
associados à tendência a se comportar de de- tamento, os ideais são produtos do comporta-
terminado modo. Por exemplo, se eu desejo ir mento verbal, isto é, os ideais são pensamentos,
ao cinema, isso significa um aumento da pro- e pensamentos podem influenciar comporta-
babilidade de eu emitir a resposta de ir ao cine- mentos, o que seria um caso do comportamen-
ma. Também o aspecto “subjetivo” – a “vonta- to governado verbalmente. Um dos problemas
de” de ir ao cinema, o pensar em ir ao cinema, ocorre quando determinados pensamentos

comportamento em cena 37
levam a comportamentos-problema e aumen- Esse diálogo parece ter produzido mudan-
tam o sofrimento. Charlie Kaufman pensa que ças no comportamento de Charlie. Quando se
os outros vão julgá-lo negativamente, vão ob- reencontra com sua antiga paquera, que esta-
servar sua careca e sua insegurança e achá-lo va namorando outro homem, comporta-se de
ridículo. Esses pensamentos são tomados lite- modo mais próximo, chegando a beijá-la e a
ralmente, como se fossem fatos, gerando sofri- dizer que a ama. Ela retribui e, embora o des-
mento. A ACT propõe exercícios que ajudam o fecho do relacionamento dos dois permaneça
cliente a quebrar o contexto da literalidade (no em suspenso, Charlie já se mostra mais feliz.
qual os pensamentos são tomados como fatos), Seu roteiro está pronto e, mesmo questionan-
fazendo com que o cliente passe a observar do-se se suas escolhas foram corretas, decide
seus pensamentos como sendo pensamentos e que o roteiro vai ficar assim e que tê-lo escrito
não como fatos – desse modo, buscando alterar valeu a pena.
o controle verbal que esses pensamentos têm O filme, além dos excelentes atores e do
sobre outros comportamentos. roteiro instigante, permite exemplificar as-
Se por um lado o comportamento verbal pectos importantes comentados pela terapia
pode gerar sofrimento – quando cria ideais comportamental de última geração, sobretudo
como felicidade, perfeição e sucesso, frente aos a importância do comportamento verbal, tan-
quais estamos sempre aquém –, por outro lado, to para o sofrimento quanto para a mudança
pode ajudar a criar outros tipos de ideais – os positiva. 
valores –, que favorecem ações no sentido de
gerar consequências desejadas pelo indivíduo.
Por exemplo, estabelecer relacionar-se como
um valor pode contribuir para fazer com que
o indivíduo aproxime-se dos outros, mesmo
que se sentindo inseguro e pensando que po-
dem não gostar dele. Nesse sentido, uma pas- Referências
sagem do filme é exemplar. Charlie conversa
com Donald, relembrando Sarah, uma colega Demme, J. (Produtor) & Jonze, S. (Diretor). (2002).
Adaptation. Estados Unidos da América: Columbia-
de escola de quem Donald gostava. Conta que
TriStar.
uma vez, após Donald ter conversado com
ela, viu Sarah conversando com uma amiga e Hayes, S. C., Strosahl, K. D., & Wilson, K. G. (1999).
Acceptance and commitment therapy: An experien-
ridicularizando-o. Donald conta que ele tam-
tial approach to behavior change. New York: Guilford
bém viu essa conversa. Charlie surpreende-se e
questiona Donald: “Mas, mesmo depois de ela Michael, J. (1993). Establishing operations. The
Behavior Analyst, 16, 191-206.
te ridicularizar, você estava tão feliz”. Donald
diz: “Aquele amor era meu. Nem mesmo Sarah
podia tirar isso de mim”. Charlie continua:
Antonio Carlos Pacheco e Silva Neto é psicólogo
“Mas ela achava você ridículo”. Donald respon-
pela PUC-SP, mestre em Saúde Mental pela UNIFESP
de: “Isso era problema dela, não meu. Você é o e doutor em Psicologia pela USP. Especialista em
que você ama, não quem ama você. Isso foi o clínica analítico-comportamental e terapeuta do
que eu decidi um longo tempo atrás”. Núcleo Paradigma.

38 boletim paradigma comportamento em cena


tópicos AvAnçAdos em clínicA
AnAlítico-compoRtAmentAl
coordenação
RobeRto Alves bAnAco
O curso visa a um aprofundamento teórico sobre temas
tradicionais em análise do comportamento, sempre com
uma meta de aplicá-los a casos clínicos. Com este propósito,
pretendemos, em encontros periódicos, dar subsídios para que
terapeutas e estudantes possam reciclar seus conhecimentos e
se apropriar de ferramentas para a produção de conhecimento a
partir de sua prática clínica.

data
as datas são informadas no site www.nucleoparadigma.com.br
Rua Wanderley, 611
horário Perdizes São Paulo/SP
das 8h30 às 12h30 Tel. 11 3864 9732

livRARiA viRtuAl do núcleo pARAdigmA


de Análise do compoRtAmento

somente títulos relacionados


ao behaviorismo Radical,
à Análise do comportamento
e a áreas afins.

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formação em
ClíniCa analíTiCO-COMPORTaMEnTal inFanTil

coordenação
JOana SingER VERMES E
MiRiaM MaRinOTTi

objetivos
O curso tem como objetivo desenvolver o estrutura
profissional para a prática da clínica infantil, O curso é composto por 45 horas de
com base na Análise do Comportamento. Serão aulas teóricas (que podem ser cursadas
oferecidos conhecimentos teóricos, técnicos e de forma independente), 54 horas de
éticos que capacitarão o terapeuta para um trabalho supervisão e, no mínimo, 25 horas de
de qualidade com o público infantil. prática clínica.

professores
Ana Beatriz Chamati, Ana Carolina Macchione, Daniel Del Rey, Cássia Leal da Hora, Giovana
Del Prette, Jaíde Regra, Jan Leonardi, Joana Singer Vermes, Lygia Dorigon, Miriam
Marinotti, Pedro Zuccolo, Sueli Amaral, Tauane Gehm

temas das aulas teóricas


• Caracterização da infância e da terapia infantil
• Condução de primeiras sessões
• A relação terapêutica na clínica infantil
• A orientação de pais
• Relação com escola e com outros profissionais
• Aspectos éticos da terapia infantil
• Contribuições da neuropsicologia no atendimento a crianças
• Técnicas da clínica infantil
• Aspectos do desenvolvimento infantil
• Depressão infantil
• O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
• Dificuldades escolares
• Enurese e encoprese
• Questões relacionadas às habilidades sociais
• Problemas de ansiedade
• Agressividade e comportamento opositor
• Problemas relacionados à alimentação e ao sono

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Perdizes São Paulo/SP
Tel. 11 3864 9732
especialização em
clínicA AnAlítico-compoRtAmentAl
curso credenciado junto ao Conselho Federal de Psicologia
Uma publicação do Núcleo Paradigma,
Ensino e Consultoria em Psicologia Ltda.
São Paulo, vol. 7, agosto de 2012. coordenação Inscrições abertas
Coordenação Editorial
RobeRto Alves bAnAco para as turmas de
Roberta Kovac YARA clARo nico agosto de 2012
Assistentes Editoriais
Dante Marino Malavazzi
Jan Luiz Leonardi Integração entre filosofia, teoria e técnica
Revisão para uma formação de excelência
Dante Marino Malavazzi Corpo docente de altíssimo nível público-alvo
psicólogos e médicos
Ilustração da capa: Silvia Amstalden Comissão executiva Conteúdo apresentado de forma gradual em com residência em
Roberta Kovac 12 disciplinas psiquiatria
Joana Singer Vermes
Denis Zamignani
Roberto Alves Banaco
Candido Pessôa
Quem somos
Projeto gráfico e diagramação
O Núcleo Paradigma é um centro de pesquisa,
Silvia Amstalden
ensino e assistência, localizado na cidade de
São Paulo, no bairro de Perdizes. Fundado em programa
2005, o Paradigma tem como objetivo a busca quatro módulos semestrais com
550 horas, distribuídas em:
de soluções para problemas relacionados ao
comportamento humano, nas mais diversas
120 horas de supervisão (30 horas por módulo) Veja nossos planos de
60 horas de atendimento clínico
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370 horas de disciplinas teóricas e
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Formação e atualização de terapeutas e acom- Rua Wanderley, 611
panhantes terapêuticos para o atendimento das Perdizes, São Paulo-SP
mais diversas populações. CEP: 05011-001
TEl: 55 11 3864 9732
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a perspectiva analítico-comportamental no
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da psicologia com diferentes áreas do conheci- Rua Wanderley, 611
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mento e da arte. das 16h às 19h ou terças ou quartas ou quintas, Perdizes São Paulo/SP
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das 19h às 22h CRP 06/3118-J
vol 07
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ISSN 2176-3445

Comportamento e cognição:
Um dualismo superado?

Resenha do livro Clínica analítico-comportamental:


Aspectos teóricos e práticos

Paradigma entrevista
Maria Amalia Pie Abib Andery

História de vida: Dr. Isaias Pessotti

O papel do analista do comportamento


sobre o fenômeno bullying:
Algumas considerações

Comportamento em cena: Adaptação


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