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Dr. Marcos Minello - Auriculoterapia 2.

Aula 39. Ficha de Avaliação

Um ponto importantíssimo que se tem que ter dentro de um bom


tratamento é sempre a ficha de avaliação. A ficha de avaliação é basicamente
o ponto principal, o ponto inicial para o sucesso da terapia. O que consiste uma
ficha de avaliação? A primeira coisa que a gente tem que ter em uma boa ficha
de avaliação é identificação do paciente, então parece uma coisa boba, mas eu
já peguei fichas de avaliação em que não se tinha a identificação do paciente,
no final, quem era aquele paciente? Como entrar em contato com ele. Então
um ponto importante é sempre coletar todos os dados de identificação do
paciente: nome, documento, telefone, como entrar em contato com ele, contato
de algum parente próximo, ou seja, caso aconteça alguma coisa com esse
paciente ou no seu consultório, ou você tome ciência de que aconteceu alguma
coisa com o seu paciente indo ou saindo do seu consultório, para quem eu
devo ligar, isso é importante também.
Um dos passos mais importantes da ficha de avaliação vem logo
abaixo da identificação, que se chama HDA, história da doença atual. Então o
que é o HDA? É identificar, primeiro, o seguinte... Antes do HDA, melhor
dizendo, vem a queixa principal, queixa principal, a gente comumente pede
para o paciente qual é a principal queixa que o aflige. Então é muito comum os
meus alunos chegarem para mim por algum grupo ou mesmo dentro da sala de
aula e me perguntarem como tratar 10 doenças ao mesmo tempo. Então,
comumente, as terapias não vão tratar 10 doenças ao mesmo tempo,
principalmente se essas doenças não tiverem ligação entre si. A gente só trata
doenças secundárias e terciárias quando elas estão envolvidas com a queixa
principal do paciente.
Então qual é a queixa principal do paciente, antes de entender o
HDA? Queixa principal do paciente, comumente, eu falo para o meu paciente
da seguinte forma: “se eu fosse um gênio mágico e pudesse resolver apenas
um problema da sua vida terapeuticamente, qual seria?”. Aí o paciente que tem
uma dor em vários lugares, ele vai optar em tratar uma ou então: “eu não vou
tratar dor, acho que a ansiedade, para mim, é o pior problema”. Então na
queixa principal, a gente tem que conseguir passar um filtro pelo paciente e,
nesse filtro, identificar qual é uma queixa que é a mais importante na vida dele.

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Se ele não conseguir identificar, a gente vai ter que usar outros filtros, como,
por exemplo: “qual dessas deixas que você me colocou gera mais disfunção
dentro do seu dia? Qual dessas queixas que você me colocou traz mais
aporrinhação? Traz mais desgaste para o seu dia? Demanda mais tempo seu
para melhorar disso, para você poder fazer suas tarefas?”. Então a gente vai
ter que passar outros filtros, até conseguir identificar a queixa principal, se a
principal é apenas uma queixa.
E aí depois que a gente identificar a queixa principal, a gente vai
construir a história da doença atual, ou seja, o HDA. O que é o HDA? É toda a
história, desde que começou até hoje. Então um paciente, “me conta do
primeiro dia que você descobriu que você tinha uma dor no joelho”, “ah, eu
descobri há 5 anos atrás, quando eu caí de bicicleta” e o terapeuta deve
escrever toda essa narrativa. Dentro da história da doença tem o início, o meio
e o fim. O fim é o dia que ele está com você, ou seja, dentro dessa história, o
que foi feito? Que tipos de tratamento? Que tipos de medicamento ele tomou?
O que ele sente que melhora, o que ele sente que piora? O que no cotidiano,
se está frio, se está calor, o que melhora, o que piora? O que ele já tomou de
medicamento, que ele sentiu alguma melhora, mas piorou em alguma outra
coisa?
O grande lance é o seguinte: dentro do HDA, quanto mais pergunta
o terapeuta fizer, a ver com a queixa principal, e quanto mais o paciente
espontaneamente narrar a sua queixa principal, é melhor para a evolução do
tratamento, por quê? Muitas das dificuldades do terapeuta estão na construção
do protocolo, por quê? Muitas vezes o paciente vem com uma queixa como,
por exemplo, vamos pensar em uma queixa que é comum, uma dor lombar.
Então o paciente vem com um diagnóstico ou de hérnia de disco ou de
lombalgia, diagnosticado por um médico ocidental, por um ortopedista, por um
exame de imagem. E o terapeuta, comumente, em vez de pegar a queixa do
paciente, ele pega o diagnóstico do médico. Não que eu não vá anotar o
diagnóstico do médico, também vou, mas é muito mais importante a forma com
que meu paciente relata a lesão do que como o médico relatou a lesão. “Qual é
a sua queixa principal?”, “a minha queixa principal é que meu joelho dói muito e
eu não consigo subir escada”, essa é a queixa principal, é dessa forma que eu
tenho que entender, porque quando eu entendo que ele sente dor quando ele

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sobe escada e não é uma gonalgia, ah, uma gonalgia, uma dor no joelho. Se é
uma dor no joelho, é muito inespecífico, a gente não entende se é uma dor
muscular, se é uma dor tendínea, se é uma dor articular, se é uma dor por
alguma lesão interna, ah, com alguns exames pode (ininteligível - 00:06:24),
sim, mas qual é o maior problema do paciente? É que ele tem uma dor no
joelho quando ele sobe escada, essa é a queixa principal dele. Então qual é a
solução do problema? É fazer de novo ele subir a escada.
Então a queixa principal, junto com o HDA, vai evoluir para uma
coisa que você vai colocar no final do seu HDA: qual é o objetivo do tratamento
do paciente. Ah, o objetivo é diminuir a dor no joelho. Não, não é, quando ele
falou explicitamente para você que ele tinha dor no joelho ao subir escada e ele
precisava subir escada porque onde ele trabalha tem escada, a função não era
diminuir a dor no joelho, a função era poder voltar a poder descer e subir
escada, mesmo que seja de uma forma adaptada.
A gente tem que ligar, muitas vezes, o filtro para entender o que o
paciente precisa dentro dessa história toda para conseguir transcrever isso em
um bom protocolo de tratamento. Então a princípio, quando você for construir o
HDA, terminou de construir a história da doença do paciente, pegou toda a
história do paciente, terminou a avaliação toda, que a gente ainda vai falar um
pouco mais dos outros pontos da avaliação, pega o HDA do paciente e dentro
do HDA você vai fazer o seguinte: todos os sintomas e sinais que o paciente
narrou, você vai tentar classificá-los como excesso ou deficiência de Yin,
excesso ou deficiência de Yang e tentar classificá-los dentro dos 5 elementos.
“Ah, eu sinto uma dor que lateja”, uma dor latejante é uma dor de excesso de
Yang. “Ah, é uma dor bem fininha, lá no final, que quase eu não percebo, mas
ela nunca me larga”, é uma dor de deficiência de Yin. “Ah, eu não consigo
movimentar o meu braço, eu não tenho mais força para levantar meu braço”,
deficiência de Yang. Então se você não lembra desses quadros de Yang, de
Yin, volta lá em uma das primeiras aulas de medicina tradicional chinesa, a
gente fala muito bem, explica muito bem o Yin e o Yang e faz toda a narrativa
de Yin e Yang, tirando também todas as suas dúvidas.
Mas é importante tentar encaixar essa queixa principal do paciente
junto com HDA dentro dos 5 elementos e dentro do Yin e Yang, por quê?
Dessa forma, na hora que a gente for construir o protocolo, a gente vai utilizar

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os pontos dos 5 elementos e se for excesso, a gente vai sedar e se for quadro
de ineficiência, a gente vai tonificar. Então, dessa forma, é muito importante o
HDA, porque em cima do HDA que eu vou construir um bom protocolo.
Terminou de construir a história toda do seu paciente, não coube lá
na janelinha disposta dentro da ficha, faz um apêndice, cola uma contracapa,
uma contrafolha e coloca lá no HDA: “continua na próxima folha” e continue
transcrevendo lá. Não importa quanto tempo você demore para a avaliação, a
avaliação é que leva a qual é o tratamento. Então chega de ter terapeutas que
ficam procurando protocolos, por quê? Não é todo mundo que vai ter o mesmo
tipo de lesão, então por isso os protocolos são falhos, porque não é todo
mundo que tem dor na lombar que vai ser tratado com os mesmos pontos. Não
é todo mundo que tem obesidade que vai ser tratado com os mesmos pontos,
porque você pode ter paciente que come muito e paciente que tem dificuldade
de perder peso por sedentarismo. Ou o outro tem um metabolismo mais
eficiente. É o mesmo protocolo? Não é, aí é importante entender: “eu quero
tratar minha obesidade”, “mas em que momento você se percebeu obeso? O
que te leva? Como é seu dia? Como é que é sua alimentação, descreva um
pouco mais. Se eu pudesse te ajudar, qual seria a ajuda? Seria na sua
alimentação? Seria em diminuir sua ansiedade? Seria o quê?”. Então a boa
conversa do terapeuta com o paciente ajuda muito na hora de formulação dos
pontos do protocolo. Por isso que protocolo, muitas vezes, é uma das coisas
mais procuradas pelos auriculoterapeutas.
Ao terminar o HDA, você vai partir para um ponto muito importante
que é entender quais são as doenças que o paciente tem, de base. O que é
isso? O paciente pode estar vindo tratar, como o exemplo que a gente está
dando, a dor no joelho, mas o que esse paciente tem de doença? Ah, o
paciente apresenta hipertensão, ele apresenta obesidade, ele é tabagista, ele é
etilista, ele bebe, então tudo isso eu vou colocar tanto em padrões sociais,
quanto doenças pré-existentes. Então a história de patologias pregressas,
HPP, é tudo o que o paciente traz de bagagem, a mochila dele, o que
aconteceu de importante, quais cirurgias você já passou, já fez cirurgia na
coluna? Já fez retirada de vesícula? Já teve infecção respiratória? Infecção
urinária?

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Então, muitas vezes, o paciente, conforme você peça quais são


todas as patologias importantes que já aconteceram, quais as doenças
importantes que já aconteceram na sua vida, aí a gente coleta, por quê? Muitas
das vezes, esse HPP, essa história da doença pregressa ajuda a gente em
duas coisas, primeiro: evitar o uso de alguns pontos que possam piorar outras
coisas do paciente, por exemplo, eu posso utilizar um ponto de suprarrenal,
que é um ponto que ajuda a patologias autoimunes, porém se o paciente for
hipertenso, a suprarrenal libera adrenalina, ou seja, ela vai fazer a hipertensão
do paciente subir, então eu não vou poder usar o ponto da suprarrenal, como a
gente falou lá em pontos e funções.
A gente tem que entender quais são as patologias de base do
paciente para evitar o uso de pontos que não façam sentido ou até que piorem
outras patologias do paciente. O que é importante também é que algumas
doenças podem levar a algumas alterações, por exemplo: a paciente já se
encontra em menopausa, teve uma menopausa bem jovem e ela está agora
com 60 anos, ela teve uma menopausa aos 40 anos, ou seja, ela tem 20 anos
de menopausa, nunca fez uso de reposição hormonal, ela é sedentária e está
com muita dor no joelho e dor na coluna. Aí você pergunta: “paciente, você já
fez alguma densitometria óssea?”, ou seja, pode ser que essa paciente esteja
com uma doença comum na menopausa evoluída de sedentarismo sem o uso
de hormônio, que é a osteopenia, osteoporose. Então a gente tem que
entender um pouco mais de todas as doenças, para conseguir entender o que
está acontecendo com o paciente.
Então a história de patologias pregressas dá um pouco de base, às
vezes, para a gente fundamentar a história da doença atual, o que aconteceu
no passado pode estar refletindo no futuro ou simplesmente não foi nada a
ver? Foi um trauma, ela caiu, machucou o joelho e não tem nada a ver com as
outras doenças, mas na hora de colocação de pontos, eu vou ter que tomar o
cuidado no HPP, principalmente nas patologias que ainda estão presentes no
paciente, para evitar piora de quadro secundário do paciente.
Esses são os pontos mais importantes e também entender que
exames já foram feitos, que tratamentos já foram colocados nesse paciente,
que tipo de medicamento ele toma hoje e o que fazem esses medicamentos,
para que ele toma esses medicamentos, qual é o ciclo que ele toma esses

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medicamentos? Um ponto importante, quantidade de água que esse paciente


bebe. Quantas horas de sono. Esses são pontos importantíssimos, então não
adianta a gente tentar trabalhar, por exemplo, um paciente que tenha
problemas emocionais, um paciente que tenha problemas psíquicos, um
paciente com dores crônicas, se o paciente não dorme, ele não tem um bom
nível de hormônios no corpo. Então muitas vezes a gente vai trabalhar o sono
como um trabalho principal nesse tipo de paciente. Ou então um paciente que
não bebe água. Ou então um paciente que vive em stress. A gente tem que
entender um pouco da vida do paciente para conseguir, a cada sessão,
construir uma terapia mais fundamentada.
Esses são os pontos mais importantes, a gente coleta outras
informações, sempre que aparecer uma informação nova que, para você, lhe
parece importante, coloque, anote na evolução do paciente também. E dentro
do quadro do seu paciente, sempre faça uma escala visual analógica de dor,
de preocupação, de ansiedade. A escala visual analógica comumente é
utilizada para dor, mas ela pode ser utilizada para tudo, para o paciente dar
uma nota para a lesão dele. Então, ah, o paciente veio por insônia, “o quanto,
hoje, essa insônia causa problema na sua vida, de zero a 10? Sendo zero não
causa problema nenhum e 10 é o maior problema da sua vida e você não vê
solução?”.
Então a gente pode usar uma escala visual analógica não só para
dor, mas para classificar qualquer problema na vida do paciente e a gente
tendo uma nota, a gente tem uma quantificação e com essa quantificação, a
gente entende muito bem como é que está acontecendo a vida do paciente, o
que fazer para melhorar e, nas próximas sessões, entender como é que está
essa insônia, como é que está essa preocupação, essa ansiedade e classificar,
a cada sessão, na evolução, a vida do paciente.

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