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TEMA 1.

HISTÓRIA ECONÓMICA E DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO (PÁG 21 – 38)


Por que são algumas nações ricas e outras pobres?
Devido a um desenvolvimento económico desigual, ocorreram revoluções, golpes de estado, governos totalitários e dita-
duras militares que privaram nações inteiras da liberdade política e muitos da sua liberdade pessoal. Milhões morreram mísera-
velmente de fome, subnutrição e doença. Algumas nações foram colónias, sem liberdade comercial, ao serviço das metrópoles.
Várias nações ricas (E.U.A) gastaram milhares de milhões de dólares para auxiliar os menos afortunados, mas apesar desse
esforço o fosso entre nações ricas e pobres continua a aumentar ano após ano, agravado agora pelas enormes dívidas.
Por que não utilizam as nações pobres os métodos e políticas das nações ricas?
PRIMEIRO - Porque não existe um acordo generalizado sobre quais os métodos responsáveis pelos rendimentos mais
elevados das nações ricas. Mesmo que esse acordo existisse, não é certo que métodos e políticas semelhantes produzam os
mesmos resultados nas diferentes circunstâncias geográficas, culturais e históricas das nações.
SEGUNDO - Os criadores de políticas e os seus peritos, quando têm que propor ou executar políticas de desenvolvimento,
desprezam frequentemente a análise histórica para ajudar a solucionar os seus problemas, com a observação de que a situação
contemporânea é única e que, portanto, a história é irrelevante para os seus interesses.
A análise histórica pode focar, duma forma que as outras abordagens não podem, as origens dos níveis de
desenvolvimento desiguais que existem presentemente.
Ao concentrar-se em momentos de crescimento e declínio no passado, a abordagem histórica isola os fundamentos do
desenvolvimento económico. É uma ajuda à objectividade e clareza do pensamento.
A posição de alguns perante a observação de que a situação contemporânea é única, e por isso, a história é irrelevante
para os seus interesses, estão a cometer 2 erros:
1. Aqueles que ignoram o passado não são qualificados, para sobre ele generalizar.
2. Nega implicitamente a uniformidade da natureza, incluindo o comportamento humano e o comportamento das
instituições sociais – uma presunção sobre a qual se funda qualquer pesquisa científica.
Tais atitudes revelam como é fácil, sem perspectiva histórica, confundir os sintomas de um problema com as suas causas.
ALGUNS CONCEITOS ESSENCIAIS
O Rendimento per capita é um indicador que ajuda a perceber o grau de desenvolvimento económico de um país ou
região e consiste na divisão do Rendimento Nacional pela sua população total. Embora o rendimento per capita seja um indicador
importante, ele apresenta algumas limitações: por representar uma média, esconde desigualdades na forma como a riqueza de
um país está distribuída pela população, ou pelas diferentes regiões do país.
O Produto Interno Bruto (PIB) refere apenas à Produção Interna, isto é, feita dentro do País. Normalmente um valor
intermédio entre o PNB e o rendimento nacional.
O Produto Nacional Bruto (PNB) Se considerarmos bens e serviços produzidos no País e os recursos que entram e saem,
temos o Produto Nacional Bruto (PNB) medido por ano em cada País. Portanto, o PNB é igual à Produção Interna mais os recursos
vindos do exterior menos os que saem do País.
DESENVOLVIMENTO E SUBDESENVOLVIMENTO (PÁG 22)
DESENVOLVIMENTO. Um país desenvolvido, segundo os padrões das sociedades consumistas contemporâneas, possui um
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) elevado. Esta é uma medida comparativa que engloba 3 factores: Riqueza, Educação e
Esperança Média de Vida. É uma maneira padronizada de avaliação e medida do bem-estar de uma população.
SUBDESENVOLVIMENTO é o estado de um órgão ou organização que não alcançou a sua maturidade. O termo é usado
com frequência para definir Subdesenvolvimento Económico de um País, cujos sintomas incluem a falta de acesso da população
em geral a oportunidades de emprego, saúde, água, alimentação, educação e habitação.
CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E PROGRESSO (PÁG 26)
Crescimento económico – é um aumento sustentado da produção total de bens e serviços produzidos por uma dada
sociedade. Esta produção total tem sido medida como rendimento nacional, ou produto nacional bruto (PNB). O crescimento
económico só é significativo se for medido em termos de produção per capita.
Desenvolvimento económico – é o crescimento económico acompanhado por uma mudança estrutural ou organizacional
substancial na economia. Estas mudanças podem ser a causa do crescimento, mas não necessariamente; por vezes a sequência
causal segue na direcção oposta, estas duas podem ser ainda o produto comum de outras, dentro ou fora da economia.
Crescimento económico - é um processo reversível, pode ser seguido de declínio, como de desenvolvimento económico.
Tanto o crescimento como o desenvolvimento são, em princípio termos isentos de valor, na medida em que podem ser
calculados e descritos sem referências a normas éticas. Tal não é obviamente, o caso com o termo progresso económico, a não
ser que se lhe dê uma definição altamente restritiva. Na ética secular moderna, crescimento e desenvolvimento são
frequentemente equacionados com progresso, mas não existe necessariamente uma ligação entre eles.
DETERMINANTES DO DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO (PÁG 28)
Factores de produção: terra; mão-de-obra; capital; dinâmica empresarial (opcional)
A produção total duma economia é determinada pela quantidade de empregados. Esta classificação e diversas fórmulas
que dela se podem extrair são indispensáveis para a análise económica moderna e, também extremamente útil para o estudo da
história económica.
Ao passar-se da análise económica a curto prazo para o estudo do desenvolvimento económico, os parâmetros tornam-se
as variáveis mais importantes. Uma classificação mais alargada dos determinantes da produção é, necessária para analisar a
mudança económica no tempo histórico.

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Uma classificação deste tipo considera a produção total num dado período de tempo e a sua taxa de mudança através do
tempo como funções da «mistura» de populações, recursos, tecnologia e instituições sociais. Estes quatro factores não são
variáveis únicas; cada um é um aglomerado de variáveis.
Os recursos são a vasta «terra» dos ditames da economia clássica. O termo abarca não apenas a quantidade de terra, a
fertilidade do solo e os recursos naturais convencionais, mas também o clima, a topografia, a disponibilidade de água e outras
características do ambiente natural, incluindo a localização.
Em séculos recentes, a inovação tecnológica tem sido a fonte mais dinâmica de mudança e desenvolvimento económicos.
O inter-relacionamento da população, recursos e tecnologia na economia é condicionado por instituições sociais, incluindo
valores e atitudes. Este conjunto de variáveis é por vezes, também chamado contexto sociocultural ou matriz institucional da
actividade económica. Instituições mais frequentemente relevantes:
 Estrutura social (nº, dimensão relativa, base económica e fluidez das classes sociais).
 A natureza do Estado ou regime político.
 Propensões religiosas ou ideológicas dos grupos ou classes dominantes.
Teoria institucionalista – considera que o desenvolvimento económico é o produto duma tensão ou luta permanente
entre a mudança tecnológica e as instituições sociais. Segundo esta teoria, a tecnologia é o elemento dinâmico e progressivo,
enquanto as instituições resistem uniformemente às mudanças.
PRODUÇÃO E PRODUTIVIDADE (PÁG. 31)
Produção - é o processo pelo qual os factores de produção são combinados para produzir os bens e serviços desejados
pelas populações humanas. A produção pode ser medida em unidades físicas ou em termos de valor (monetários).
Produtividade – é a relação entre o resultado útil dum processo produtivo e a utilização dos factores de produção. Pode
ser medida em unidades físicas ou em termos de valor. Para medir a produtividade de factor total – isto é, a produtividade
combinada de todos os factores – são necessários termos de valor.
O capital humano (não escravos) resulta de investimento em conhecimento e capacidade ou especialização. O
investimento pode assumir a forma de ensino normal ou formativo, de estágio, de aprendizagem do ofício. Embora o capital
humano seja adquirido, as diferenças nos níveis de capital humano per capita entre as economias mais ou menos avançadas
fazem parte dos factores mais notáveis e importantes a serem analisados.
A produtividade de todos os factores de produção aumentou consideravelmente ao longo dos tempos. A que se deve tal
aumento? Deve-se a certas determinantes sendo as mais importantes os avanços em tecnologia, as melhorias na organização
tanto a macro como a micro nível e em especial, maiores investimentos em capital humano.
Lei dos rendimentos decrescentes – um único trabalhador, utilizando uma determinada tecnologia, seja ela simples ou
complexa, é capaz de realizar alguma produção. À medida que vão sendo acrescentados trabalhadores, até um certo ponto, o
produto marginal aumenta. Todavia, à medida que vão sendo acrescentados trabalhadores, estes poderão imiscuir-se no
trabalho uns dos outros, diminuindo o produto marginal: é este o conceito da lei dos rendimentos decrescentes.
Produto marginal – é a diferença entre o trabalho realizado por ex: entre um trabalhador que produz 10 alqueires, ao
juntar-se outro trabalhador produzem 25 alqueires, o produto marginal é de 15 (25-10=15).
THOMAS R. MALTHUS (PÁG 32)
Em 1798, Thomas Malthus, ao observar o grande crescimento da população, teorizou que o aumento da produção de
alimentos não conseguiria acompanhar o CRESCIMENTO da população – a produção aumentava numa proporção aritmética, ao
passo que a população aumentava numa proporção geométrica – facto que levaria a uma situação de miséria e fome. Nesse
sentido, Malthus propôs uma série de medidas intervencionistas para conter o crescimento da população, medidas essas que
incidiam essencialmente nas camadas mais desfavorecidas. O Malthusianismo ficaria assim conhecido como as medidas de acção
social que visam promover equilíbrios populacionais c/ base na contenção de nascimentos. A solução defendida por Malthus era:
• A sujeição moral de retardar o casamento; • Ter apenas o número de filhos que se pudesse sustentar;
• A prática da castidade antes do casamento; • Restrição dos programas assistenciais públicos de carácter caritativo.
Concluiu ainda que, a Lei dos Rendimentos Decrescentes, as guerras, fomes e pestes, condenariam a grande maioria das
pessoas a um padrão de vida de mera subsistência.
ESTRUTURA ECONÓMICA E MUDANÇA ESTRUTURAL (PÁG 33)
A Estrutura Económica trata as relações entre os vários sectores da economia, especialmente o primário, secundário e
terciário. Existem contudo algumas ambiguidades:
 a mineração é sector primário, mas é frequentemente integrado no secundário,
 o transporte é um serviço e é frequentemente tratado como parte do secundário,
 a caça, antes actividade primária importante é agora vista como actividade recreativa, consumo em vez de produção.
Até menos de 100 anos atrás, a agricultura foi a ocupação principal da vasta maioria do género humano, devido à
necessidade de assegurarem a subsistência.
O aumento da produtividade agrícola levou a que os trabalhadores fossem dispensados para outras actividades produtivas.
Iniciou-se o processo de Industrialização, desde o fim da Idade Média até meados do Século XX. A percentagem de mão-
de-obra dedicada ao sector secundário subiu. Desde aproximadamente 1950, as economias mais avançadas sofreram uma nova
mudança estrutural, do sector secundário para o terciário.
A MUDANÇA DA AGRICULTURA PARA ACTIVIDADES SECUNDÁRIAS É UMA CONSEQUÊNCIA:
Do aumento da produtividade;
Da 1ª. Mudança Estrutural. A Lei de Engel diz que à medida que o rendimento do consumidor aumenta, a proporção desse
rendimento que é gasta em alimentação diminui e que pode estar relacionada com a Lei da Utilidade Marginal Decrescente, que

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refere que quanto mais se tem de um determinado bem, menos se valoriza a unidade adicional desse bem;
Da 2ª. Mudança Estrutural, a da mudança relativa da produção de bens para os serviços. Segundo Engel, à medida que o
rendimento cresce, a procura de todos os bens aumenta, mas numa razão menor que o rendimento, com uma procura maior de
serviços e lazer a substituir, em parte, a procura de mercadorias.
Ou seja, mudanças na tecnologia, c/ produtividade acrescida, e nos gostos são basicamente responsáveis por tais Mu-
danças Estruturais, mas a força motivadora imediata das mudanças é, normalmente, a mudança nos preços e salários relativos.
A LOGÍSTICA DO CRESCIMENTO ECONÓMICO (Pág 34)
Na Europa foram identificadas diversas vagas de longos ciclos de crescimento populacional, cada uma seguida de um
período de relativa estagnação ou mesmo declínio:
 A Primeira Logística teve início no século IX ou X e atingiu, provavelmente, os índices mais altos no século XII,
começando a abrandar no século XIII e terminando abruptamente com a Grande Peste de 1348, quando a Europa
perdeu um terço ou mais da sua população.
 A Segunda Logística corresponde ao crescimento da população desde meados do século XV e atingiu o seu pico no
Século XVI, estabilizando e decrescendo no século XVII.
 A Terceira Logística, a partir meados do século XVIII, retomou o crescimento da população a taxas sem precedentes,
até ser interrompido pelas Guerras Mundiais e outros infortúnios ocorridos na primeira metade do século XX.
Existem indícios de uma Quarta Logística com início depois da 2ª. Guerra Mundial, à escala planetária.
É praticamente certo que cada fase aceleradora de crescimento da população na Europa, foi acompanhada por um
crescimento económico, no sentido de que, tanto a produção total, como a produção per capita, estavam a aumentar.
 (1ª Logistica) Durante os Séc. XI, XII, XIII, a civilização Europeia expandiu-se nas Ilhas Britânicas, Europa Central e Oriental.
 (2ª Logistica) No Século XV e durante o Século XVI, a exploração marítima, a descoberta e a conquista, levaram os
Europeus até à África, ao Oceano Índico e ao Hemisfério Ocidental.
 (3ª Logistica) Por fim, no Século XIX, através da migração, conquista e anexação, os Europeus estabeleceram a sua
hegemonia política e económica em todo o Mundo.
TEMA 2 – 7. O DESPONTAR DA INDÚSTRIA MODERNA (Pág. 188-218)
No início do século XVIII a Europa Ocidental tinha atingido um nível de desenvolvimento da indústria agrícola apreciável,
com elevados rendimentos da terra e no sector têxtil.
No começo da década de 70 do mesmo século, verificou-se uma nova expansão desta indústria, que foi denominada proto-
industrialização, termo que foi primeiramente usado na indústria de linho da Flandres, devido aos seus elevados níveis de
produção e exportação, principalmente para a Espanha. As unidades produtivas eram células familiares, que, para além disto,
cultivavam a terra: o domestic system. Com o tempo, esta foi-se estendendo a outras indústrias, principalmente de bens de
consumo, especialmente têxteis, que originam depois protofábricas, sob a supervisão de um patrão ou capataz.
Por outro lado, os grandes proprietários de terras agiam também como empresários da indústria do carvão, explorando as
jazidas existentes nas suas propriedades, de que é exemplo o duque de Bridgewater. As siderurgias, que empregavam por vezes
milhares de trabalhadores, localizavam-se normalmente perto dos recursos naturais necessários à sua actividade, para evitar
custos com o transporte.
CARACTERÍSTICAS DA INDÚSTRIA MODERNA (PÁG 189)
A sociedade industrial moderna caracteriza-se por uma redução do peso da agricultura, face às sociedades pré-industriais,
com a sua actividade de subsistência. De realçar que, no contexto industrial, a agricultura é caracterizada por uma elevada
produtividade que permite não só satisfazer necessidades presentes como futuras, com capacidade de alimentar as cidades e,
com menor quantidade de mão-de-obra, que assim era libertada para o sector secundário e terciário. Este fenómeno é
especialmente visível a partir da segunda metade do século XVIII, na Grã-Bretanha, até meados do século XIX e deveu-se
essencialmente à emergência de novas formas de produção e da sua escala, apoiadas pela:
 ampla utilização de maquinaria accionada por força mecânica, e não pela força humana ou animal;
 introdução de novas fontes de energia, especialmente combustíveis fósseis; Abraham Darby (1709) substituiu o
carvão vegetal pelo carvão mineral.
 utilização generalizada de materiais desenvolvidos pelo homem.
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: UM TERMO INCORRECTO (PÁG. 191)
O termo “revolução industrial” não tem base científica, mas o que é um facto é que foi amplamente aceite e utilizado pelo
público em geral, especialmente para designar as mudanças ocorridas num período da história britânica que testemunhou a
introdução de maquinaria accionada mecanicamente e, que assistiu à introdução da máquina a vapor de James Watt (1769). Este
termo foi também utilizado noutros países para designar o começo da industrialização, embora com pouco consenso quanto a
datas, devido à sua natureza um pouco difusa. Em Inglaterra, em pouco mais de 20 anos todas as grandes invenções se tinham
concluído. Em França o termo só foi usado em 1820.
Contudo o termo “revolução industrial” tem também uma conotação pejorativa, devido:
• À utilização de trabalho infantil em larga escala; • À Insalubridade das cidades industriais;
• Às condições de trabalho muitas vezes desumanas • À substituição das artes tradicionais por maquinaria;
(insalubridade e horas de trabalho a mais)
Conforme referiu Ashton, as mudanças introduzidas pela revolução industrial não foram meramente industriais, mas
também sociais e intelectuais. De realçar ainda que o termo “revolução” aponta para uma ruptura súbita que, na verdade, não é
muito aplicável a processos económicos. O capitalismo teve as suas origens antes de 1760 e só atingiu o seu pleno
desenvolvimento muito depois de 1830.
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PRÉ-REQUISITOS DA INDUSTRIALIZAÇÃO (PÁG 193)
As mudanças trazidas pela industrialização não foram meramente industriais, mas também sociais, intelectuais,
comerciais, financeiras, agrícolas e até políticas, pelo que é difícil destrinçar de entre elas a mais importante. Contudo há motivos
para pensar que as mudanças intelectuais foram as mais importantes, uma vez que impulsionaram todas as outras. Destacam-se
aqui os feitos científicos associados a Copérnico, Galileu, Descartes, Newton, entre muitos outros, que reforçaram ideias que já
vinham da Idade Média. Alguns estudiosos consideram que a aplicação da ciência à indústria é a característica que distingue a
indústria moderna, na medida em que forneceu as bases para novos processos e indústrias.
Se por um lado é indiscutível o contributo da Revolução Científica na Revolução Industrial, por outro constata-se que os
primeiros inventores não eram propriamente cientistas; detinham actividades muito diversas e não especializadas: era a
necessidade que fazia o engenho. Com este enquadramento, destacam-se nomes como: James Hargreaves, o inventor da
máquina de fiar spinning-jenny (1764-1767), Richard Arkwright, inventor da spinning-frame (1768), e Samuel Crompton (1779), o
inventor da máquina de fiar, entre muitos outros. Para estes “engenheiros autodidactas” o método experimental de Bacon
parecia demasiado formal. Eram demasiado pragmáticos e optavam apenas pelo processo de tentativa e erro. A vontade de
inventar e inovar espalhou-se a todos os extractos da sociedade, até à população agrícola, tradicionalmente mais conservadora.
O modo como a Inglaterra se desenvolveu em termos agrícolas deveu muito à experimentação:
 A alternância de culturas;  A vedação dos campos (enclosures);
 A introdução de plantas forrageiras;  O apuramento das raças animais;
 O pasto dos animais, que forneciam o necessário estrume.
Na segunda metade do século XIX foi então introduzida maquinaria agrícola a vapor, tais como ceifeiras, debulhadoras,
segadeiras e arados. O aumento progressivo da produção agrícola libertou mão-de-obra que migrou para as cidades, onde se
situavam as indústrias, reforçando o aspecto produtivo industrial.
De referir também o papel da Revolução Gloriosa (1688), pela euforia que provocou e que deu origem à criação duma série
de sociedades anónimas na década de 1690, algumas das quais, como o Banco de Inglaterra, titulares de alvarás de concessões
de monopólio. Outra importante consequência da Revolução Gloriosa foi a de colocar as finanças públicas do reino sob a
responsabilidade do Parlamento, o que reduziu o custo das obrigações públicas e libertou dinheiro para a iniciativa privada. Por
esta via ou por via dos lucros, o capital contribuiu indiscutivelmente para o processo de industrialização, nomeadamente pelo
investimento em infra-estruturas de transportes, que contribuíram para a distribuição de matérias-primas e de energia, assim
como para o alargamento dos mercados.
A dimensão do mercado foi outro dos factores determinantes para o sucesso da industrialização, na medida em que o
mercado alargado, devido à melhoria dos transportes e das vias de comunicação, incentivou a produção em larga escala. Para
este fenómeno contribuíram, a partir de meados do século XVIII, as companhias privadas de construção de estradas, que
cobravam portagens como forma de financiamento (turnpike trusts). O desenvolvimento dos transportes marítimos e fluviais
teve também um papel relevante, na medida em que as cargas mais pesadas e volumosas eram encaminhadas por essa via.
Alguns rios foram alargados e aprofundados e foram construídos canais de ligação, especialmente entre 1750 e 1820 (os cursos
navegáveis foram estendidos 3000 milhas), altura a partir da qual os caminhos-de-ferro se destacaram, pelo alargamento da rede
e pela sua maior rapidez.
TECNOLOGIA E INOVAÇÃO INDUSTRIAIS (PÁG. 201)
Entre as principais inovações técnicas precursoras da industrialização encontramos:
 o processo de fundição do minério de ferro com carvão de coque, que libertou a indústria do ferro da dependência
exclusiva do carvão vegetal, contributo de Abraham Darby (1709);
 a invenção do motor atmosférico a vapor, que constituiu uma nova e poderosa força motriz, substituindo outras formas
de energia geradas pelo vento e pela água.
Para além do contributo de Darby, registam-se, também os importantes contributos de John Smeaton, que melhorou o
abastecimento de ar quente aos altos-fornos (1761) e de Henry Cort, que converteu o ferro-gusa (ferro não purificado) em ferro
ou aço, através do processo de pudlagem (1783). Inglaterra destaca-se como produtora e exportadora de ferro e artigos de ferro.
A energia a vapor foi primeiro utilizada como apoio às indústrias mineiras: bombas para a extracção das águas que
inundavam as galerias. Em 1698, Thomas Savery registou a patente de uma bomba a vapor, que ficou conhecida por “o amigo do
mineiro”. A máquina a vapor, um invento de Newcomen, era grande, dispendiosa e com pouco rendimento, dada a quantidade
de combustível que consumia em relação à quantidade de trabalho produzido. Na década de 1760 foi pedido a James Watt que
reparasse um pequeno modelo duma máquina de Newcomen utilizada em demonstrações. James Watt efectuou experiências e
desenvolvimentos na máquina, que conduziram ao registo de uma patente, em 1769, de um condensador separado que eliminou
a necessidade de aquecimento e arrefecimento alternado do cilindro. A primeira máquina de fiação a ser accionada directa-
mente por uma máquina a vapor iniciou a produção em 1785, contribuindo para o processo de industrialização em curso.
Destacam-se ainda nomes como: James Hargreaves, o inventor da máquina de fiar spinning-jenny (1764-1767); Richard
Arkwright, inventor da spinning-frame (1768) e Samuel Crompton (1779), o inventor da máquina de fiar, e muitos outros.
Por volta de 1790, a máquina a vapor de Watt seria aplicada à generalidade dos engenhos, fornecendo força motriz.
Sempre que a fiação se desenvolvia, os teares tinham que evoluir para aproveitar o fio, e vice-versa. A procura era crescente,
devido à necessidade de vestuário para uma população em franco desenvolvimento.
Em suma, as inovações técnicas envolvendo os têxteis de algodão, a indústria do ferro e a introdução da energia a vapor
constituem o aspecto central da industrialização. Mas não será de excluir outros aspectos como a especialização e a divisão do
trabalho, como referiu Adam Smith em “A riqueza das nações”, e o desenvolvimento das vias-férreas que em 1848 já se estendia
por cerca de 8000 milhas.

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VARIAÇÃO REGIONAL (PÁG 212)
No contexto da Revolução Industrial é importante reconhecer as grandes diversidades regionais da industrialização.
Em Inglaterra o desenvolvimento foi mais evidente junto às bacias carboníferas, localizadas sobretudo no nordeste do país,
no triângulo industrial, formado por Birmingham, Liverpool e Newcastle, devido à dependência de matérias-primas, como o
minério de ferro e o carvão mineral. O sul manteve-se agrícola, por possuir os solos mais férteis e as técnicas mais avançadas. Em
Londres imperava a Industria de bens de consumo (cervejeira).
O País de Gales, conquistado pelos ingleses na Idade Média, era visto como o parente pobre. Contudo, na última parte do
século XVIII, as extensas regiões carboníferas do sul do país constituíram as bases para uma grande indústria do ferro, que, por
volta de 1800, produzia cerca de um quarto do ferro britânico, mais orientado para a exportação. No entanto, a maior parte do
país, montanhoso e infértil, manteve-se pastoril e pobre.
A Escócia, ao contrário do País de Gales, manteve a sua independência face a Inglaterra até à união voluntária dos
Parlamentos em 1707. Apesar disto, em meados do século XVIII a Escócia era ainda um país pobre e atrasado. A maioria da sua
parca população continuava a dedicar-se à agricultura de quase sobrevivência. Contudo, em menos de um século depois, a
Escócia estava com a Inglaterra no topo das nações industrializadas do mundo. Com um sétimo da população da Inglaterra,
produzia um quinto do valor dos têxteis de algodão e mais de um quarto do ferro-gusa.
A Irlanda, em contraste com a Escócia, falhou quase por completo a industrialização. Apesar disto, a população da Irlanda
mais do que duplicou, tal como a Inglaterra, entre meados do séc. XVIII e 1840, mas sem urbanização ou industrialização
apreciáveis. Ainda nos anos 40, uma sequência de maus anos agrícolas levaram à emigração de 2 milhões de irlandeses para
Inglaterra, entre 1845 - 1855, enquanto 1 milhão morreria de fome durante os chamados hungry forties.
ASPECTOS SOCIAIS DO COMEÇO DA INDUSTRIALIZAÇÃO (PÁG 215)
Entre 1700 e 1850 verifica-se um crescimento rápido da população da Grã-Bretanha, coincidente com as duas primeiras
etapas da industrialização, começando efectivamente a crescer a partir de 1740, acelerou em 1780 e atingiu um pico entre 1811-
1820, declinando um pouco até 1850.
Este crescimento da população não terá estado exclusivamente relacionado com o advento da industrialização da Grã-
Bretanha, na medida em que a generalidade dos países europeus registou o mesmo nível de crescimento, em igual período. A
industrialização foi, pelo menos, um factor que permitiu e sustentou o crescimento continuado da população.
Diversas razões têm sido apontadas para justificar o crescimento demográfico:
 O aumento da taxa de natalidade e o decréscimo da mortalidade, em especial da infantil;
 Progressos feitos na medicina (estudos de anatomia e vacinas, nomeadamente da varíola);
 Melhoria das habitações e na higiene;
 Série de anos de boas colheitas leva à diminuição do preço dos cereais, a uma melhor alimentação e ao aumento
da procura de trabalho.
 A redução do custo de vida e a maior facilidade em encontrar emprego;
 Declínio do sistema de aprendizagem, que impunha restrições à liberdade dos aprendizes, constituiu um incentivo
ao casamento mais cedo.
A imigração e a emigração foram também factores que influenciaram a população total.
Ao longo do século XVIII e início do século XIX, as maiores oportunidades económicas da Inglaterra e da Escócia atraiam
trabalhadores irlandeses, mesmo antes dos hungry fourties, devido à carência de batata.
Por outro lado, mais de um milhão de ingleses, galeses e escoceses, deixou a sua terra natal com destino principalmente às
colónias britânicas, em busca de oportunidades, ao mesmo tempo que delinquentes e criminosos eram deportados para a
Austrália, principalmente.
Todavia, talvez ainda mais importante para o processo de crescimento económico, a migração interna alterou muito a
distribuição geográfica da população. As migrações ocorriam do campo para as áreas industriais em expansão, essencialmente do
sudeste para noroeste, alterando muito as densidades populacionais das respectivas áreas. O censo de 1851 classificou mais de
metade da população como urbana, e em 1901 a proporção tinha aumentado para três quartos.
Contudo, o enorme crescimento das cidades teve imensos aspectos negativos. As enormes aglomerações de casas, onde as
famílias das classes operárias se amontoavam em condições deploráveis, sem condições de salubridade: os esgotos a céu aberto,
a falta de recolha do lixo despejado na rua e a sobrelotação das habitações eram factores que contribuíam para uma elevada
mortalidade, especialmente da infantil, devido à proliferação da cólera e de outras epidemias. A taxa de crescimento natural era
negativa. Apesar disto, parece consensual que se registou uma melhoria gradual do nível de vida das classes trabalhadoras entre
1750 e 1850, não obstante a distribuição da riqueza ser muito desigual.
TEMA 3 - 8. DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO NO SÉC XIX: DETERMINANTES BÁSICAS (PÁG. 219 – 253)
A POPULAÇÃO (PÁG 219)
A população começou novamente a crescer a partir de 1740, tendo o crescimento acelerado no séc. XIX. Tais taxas de
crescimento, tanto na Europa como no mundo, não têm precedentes pois a população mundial tinha duplicado de mil em mil
anos desde a invenção da agricultura até o séc. XVIII. No séc. XIX a população duplicou em 100 anos e no XX a taxa foi excedida.
A Rússia um dos países menos industrializados tinha a taxa de crescimento mais alta de todos os maiores países europeus,
e a França outro pais industrial que tinha a maior população da Europa ocidental no começo do século estava atrás dos demais na
segunda metade do século.
Por isso não há uma correlação clara entre industrialização e crescimento populacional, devem ter-se em conta outros
factores causais. Antes da melhoria dos transportes que permitia a importação de produtos alimentares do ultramar, um dos
obstáculos ao crescimento populacional eram os recursos agrícolas da Europa.
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A produção agrícola aumentou muito devido:
 Ao aumento da quantidade de terra cultivada (abolição do pousio e o cultivo de terras antes marginais ou improdutivas);
 À introdução de técnicas novas e mais científicas;
 Ao melhor conhecimento da química e maior utilização dos fertilizantes, primeiro natural e depois artificial,
 À utilização de ferramentas e utensílios melhores e mais eficazes.
A maquinaria agrícola, debulhadoras a vapor e ceifeiras mecânicas apareceram na segunda metade do séc. XIX.
O transporte barato possibilitou a migração da população interna e externa, 60 milhões de pessoas deixaram a Europa
rumo aos EUA, Canadá, América latina, Austrália, Nova Zelândia.
RECURSOS (PÁG. 225)
Da Europa Pré-Industrial para a Industrial não existiu nenhum aumento mágico na quantidade ou qualidade dos recursos
naturais, mas com a Mudança Tecnológica e a pressão da procura crescente, os Recursos que antes eram desconhecidos ou
tinham pouco valor, adquiriram, de repente, uma grande importância. O caso do carvão e as regiões europeias dotadas de
abundantes jazidas tornaram-se as localizações privilegiadas da indústria pesada do séc. XIX. No final de séc. XIX a introdução da
hidroelectricidade, as regiões abundantemente fornecidas por força hidráulica obtiveram uma nova fonte de vantagem
comparativa. A Europa, no todo, estava bem fornecida de recursos minerais como o minério de ferro, sal e enxofre. À medida que
as fontes internas se esgotavam a procura de novas fontes estendeu-se além-mar onde o capital e a tecnologia europeus
facilitaram o desbravamento de novos territórios como no Oeste americano. No fim do séc. XIX a procura de matérias-primas
levou a que as nações europeias estendessem o domínio político a zonas pobremente organizadas ou debilmente governadas
como em África ou na Ásia.
DESENVOLVIMENTO E DIFUSÃO TECNOLÓGICA (PÁG. 225)
A inovação da época do começo da idade moderna foi o desenvolvimento de técnicas de navegação e afins que permitiram
a descoberta da América e duma rota exclusivamente marítima para oriente, proeza que Adam Smith considera ser um dos mais
importantes acontecimentos da história da humanidade, pois uma grande parte da história económica e mesmo da história
política, social e cultural pode ser explicada por referência ao progresso da exploração e descoberta, ao comércio marítimo,
crescimento das marinhas e afins.
A época económica moderna é melhor caracterizada como a do artesão-inventor, sendo daí em diante as teorias científicas
a formarem a base dos processos produtivos nas indústrias novas como a electricidade, a óptica e a química orgânica. Devemos
ter em conta na análise do processo de mudança técnica na moderna época económica, três termos relacionados mas
conceptualmente diferentes:
 A invenção de tecnologia - refere-se a uma novidade patenteável de natureza mecânica química ou eléctrica, não
tendo em si um significado económico;
 A inovação - é quando uma invenção assume um significado económico;
 A difusão - refere-se ao processo pelo qual uma inovação se dissemina numa dada indústria, entre indústrias e
internacionalmente.
FONTES DE ENERGIA E PRODUÇÃO DE ENERGIA (PÁG. 227)
Novas fontes de produção de energia foram:
 a máquina a vapor (em navios e locomotivas, com consequências profundas para a indústria dos transportes),
 a roda hidráulica (principal concorrente da máquina a vapor),
 a turbina hidráulica (altamente eficaz na conversão da força da água em energia útil).
O desenvolvimento da energia hidroeléctrica foi muito importante em países com falta de carvão e que anteriormente se
encontravam na cauda do desenvolvimento industrial. A electricidade além de servir na iluminação seria usada com a invenção
do carro eléctrico, com consequências para o transporte de massas nas metrópoles superlotadas da época. Também era usada
para gerar calor na fundição de metais.
O petróleo é outra fonte de energia. Como a electricidade, o petróleo líquido e o seu subproduto o gás natural, começaram
por ser utilizados como fontes de iluminação. O motor de combustão tinha também aplicações industriais e no XX tornou o
desenvolvimento da indústria aeronáutica possível.
AÇO BARATO (PÁG. 230)
A fundição com coque e o processo de pudlagem para produzir ferro e aço eram praticamente universais na Grã-Bretanha
do séc. XIX, o que proporcionava uma vantagem competitiva sobre os seus pares estrangeiros. Os primeiros altos-fornos
accionados a coque foram construídos na Bélgica. A grande inovação técnica na indústria do ferro foi o jacto de ar quente. As
inovações mais substanciais a atingir a indústria do ferro relacionam-se com o fabrico do aço, uma variedade especial de ferro já
fabricada há muitos séculos mas em pequenas quantidades e custo elevado. Henry Bessemer foi o inglês que patenteou um novo
método para produzir aço directamente do ferro fundido, eliminando o processo de pudlagem, conseguindo um produto
superior, o que aumentou a produção, destronando o ferro vulgar em muitas utilizações.
Mais tarde seria inventada a fornalha de soleira aberta ou forno Siemens-Martin, que foi um aperfeiçoamento do processo
de Bessemer. Resultado destas e doutras inovações, a produção do aço mundial subiu espectacularmente e a expansão desta
indústria teve um impacto profundo sobre outras indústrias, quer nas que abasteciam a indústria do aço (como a do carvão), quer
nas que empregavam o aço.
Os carris em aço para os caminhos-de-ferro duravam mais e eram mais seguros do que os de ferro e a placa de aço para a
construção naval permitira navios maiores, mais leves e mais rápidos e podiam ser usadas como pesadas armaduras para vasos
de guerra. A utilização de vigas mestras e suportes em aço possibilitou a construção de arranha-céus e de inúmeras estruturas.
TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES (PÁG. 232)

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A locomotiva a vapor e os seus acessórios, os carris de ferro ou aço, foram os símbolos e instrumentos da industrialização.
Antes deles os transportes inadequados foram o maior obstáculo à industrialização na Europa continental e nos EUA. Sem
os cursos de água naturais da Grã-Bretanha e com distâncias maiores a percorrer, os industriais continentais e americanos
estavam confinados aos mercados locais. O caminho-de-ferro e, em menor escala, o navio a vapor alteraram isso. Os caminhos-
de-ferro ofereciam transporte mais barato mais rápido e fiável e durante a sua construção, as suas necessidades de ferro, carvão,
madeira, tijolos e maquinaria foram poderosos estímulos para as indústrias que os abasteciam. No fim do século XVIII as minas de
carvão britânicas possuíam muitos quilómetros de caminhos-de-ferro, em que os vagões eram propulsados pela gravidade, por
cavalos e por seres humanos. A linha Liverpool - Manchester concebida para a locomotiva a vapor foi inaugurada em 1830. Os
engenheiros britânicos construíram alguns dos primeiros caminhos-de-ferro no continente e foram também responsáveis pela
maior parte da construção na Índia, América latina e África.
A segunda metade do século XIX foi a grande era da construção de caminhos-de-ferro na Europa e fora dela:
 Os EUA viriam a tomar a dianteira à GR e rivalizaram com toda a Europa na construção de linhas férreas: atraíram capitais
europeus, fornecedores e o apoio de governos estatais e locais para vencer as vastas distâncias do país.
 A Bélgica foi o primeiro dos países continentais a evidenciar-se no planeamento e construção de vias férreas. O governo
de classe média decidiu construir uma grande rede à custa do Estado para facilitar a exportação das indústrias belgas.
 A França e a Alemanha foram as únicas nações continentais a fazer progressos importantes nos caminhos-de-ferro, tendo
sido a Alemanha a mais bem sucedida.
O navio a vapor desempenhou um papel menor na expansão do comércio e da indústria, tendo o veleiro de madeira
atingido o seu máximo de perfeição para o tráfico oceânico. Os navios a vapor deram o seu maior contributo no desenvolvimento
do comércio interno. A invenção do navio a vapor é atribuída a um americano. A era do navio só chegou com o aperfeiçoamento
da hélice, do motor composto, dos cascos de aço e da abertura do canal de Suez em 1869.
Talvez nenhuma invenção isolada se compare com a da imprensa no século XV e quanto ao seu efeito no campo da
comunicação. Mas os efeitos cumulativos das inovações do séc. XIX foram comparáveis. A maquinaria para o fabrico de papel e a
impressora rotativa reduziram o custo dos livros e dos jornais. A polpa de madeira substituiu os farrapos como matéria-prima
para o fabrico de papel. As reduções dos impostos de selo e sobre o papel baixaram o preço e o material de leitura passou a estar
ao alcance das massas contribuindo para uma cada vez maior alfabetização. Mais importante seria a invenção do telégrafo pelo
americano Samuel Morse. Em 1850 as cidades europeias mais importantes encontravam-se ligadas por fios telegráficos e o
primeiro cabo submarino foi colocado no canal da mancha. Mais tarde seria colocado um cabo no atlântico norte proporcionando
uma comunicação quase instantânea entre a Europa e a América.
O telefone tornou as comunicações à distância ainda mais pessoais, mas visou sobretudo facilitar as comunicações locais.
Marconi inventou a rádio e em 1901 uma mensagem sem fios foi transmitida através do Atlântico. Na altura do Titanic o rádio
tinha um papel importante na navegação. No campo dos negócios a invenção da máquina de escrever ajudou os executivos no
acompanhamento e tratamento de mais informações e permitiu a introdução de mão-de-obra feminina nos escritórios.
O EMPREGO DA CIÊNCIA (PAG. 239)
As evoluções baseavam-se agora mais do que as primeiras inovações tecnológicas no emprego da ciência nos processos
industriais. A indústria eléctrica requeria conhecimentos e experiência científicos, o que significou uma maior interacção entre
cientistas, engenheiros e empresários. Cada vez mais o desenvolvimento tecnológico exigia a colaboração duma série de
especialistas em ciência e engenharia cujo trabalho era coordenado por executivos que compreendiam as potencialidades da
nova tecnologia. A da química revelou-se profícua no nascimento de novas soluções a diversos níveis:
 a soda artificial, o ácido sulfúrico e um substituto sintético do quinino;
 corantes sintéticos;
 drogas e fármacos, explosivos, reagentes fotográficos e fibras sintéticas;
 a mistura de dois ou mais metais permitiram a feitura de ligas;
 a conservação de alimentos;
 fertilizantes agrícolas.
A "NOVA" ESTRUTURA INSTITUCIONAL. (PÁG. 240)
A estrutura institucional da actividade económica na Europa do séc. XIX deu grandes oportunidades à iniciativa individual,
permitiu a liberdade de escolha ocupacional e a mobilidade geográfica social. Contou com a propriedade privada e o domínio da
lei e realçou a utilização da racionalidade e da ciência na prossecução de fins materiais. Não eram elementos novos mas a
justaposição e o reconhecimento explícito fizeram deles contributos poderosos para o processo de desenvolvimento económico.
FUNDAMENTOS JURÍDICOS (PÁG. 240)
O código do comércio distinguia três tipos principais de organizações empresariais:
 meras sociedades, nas quais os sócios eram individual e colectivamente responsáveis por todas as dívidas do negócio;
 sociedades limitadas, em que os sócios assumiam a responsabilidade ilimitada de todo o negócio enquanto os sócios
comanditários ou limitados arriscavam apenas as quantias que tinham investido; e
 sociedades anónimas com responsabilidade limitada para todos os sócios. Eram companhias anónimas na medida em
que os nomes dos particulares não podiam constar na designação oficial da companhia, estes anónimos tinham de ser
autorizados pelo governo.
Uma comandita criada através de simples registo notarial rapidamente se tornou a forma preferida de empreendimento.
Finalmente uma lei criou depois a livre constituição com responsabilidade limitada de empresas, cujo capital em acções não
excedesse um dada quantia. Uma outra lei viria a eliminar essa mesma restrição.
POLITICA E PENSAMENTOS ECONÓMICOS (PÁG 243)

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No ano da declaração da independência dos EUA (1776), Adam Smith publicou A riqueza das Nações, que viria a tornar-se
uma declaração da independência económica individual. A maior preocupação de Smith no seu livro foi o de mostrar que a
abolição das restrições e limitações à iniciativa privada promoveriam a concorrência dentro da economia e por sua vez
maximizaria a riqueza das nações.
Esta descrição, preconizada por economistas clássicos, originou o mito do laissez-faire (deixar fazer) que no entendimento
popular equivalia que as pessoas que tinham negócios deviam ser libertadas de todas as restrições governamentais para
desempenhar os seus interesses egoístas. O liberalismo apesar de ter no continente defensores nunca chegou a atingir o sucesso
dos britânicos e uma das razões foi a tradição e o paternalismo estatal estar muito enraizado no continente.
ESTRUTURA DE CLASSES E LUTAS DE CLASSES (PÁG 246)
O Antigo Regime estava organizado em três ordens, nobreza, clero e terceiro estado (povo e demais), ou seja todos os
outros, como as pessoas comuns e vulgares. Numa análise funcional moderna colocar-se-iam no topo da pirâmide social uma
classe governante de proprietários de terras, que incluía alguns não nobres, o alto clero e a nobreza. A base económica do seu
poder político e estatuto social era a propriedade da terra que lhes permitia viver nobremente sem trabalhar.
A transição da agricultura para as novas formas de indústria e o crescimento das cidades fomentaram o aparecimento de
novas classes sociais. O aumento da industrialização aumentou a dimensão da classe média, de trabalhadores de colarinho
branco, de especializados e de empresários individuais. As formas usuais de solidariedade e entreajuda da classe trabalhadora
eram os sindicatos e, nalguns países, os partidos políticos da classe trabalhadora.
EDUCAÇÃO E ALFABETIZAÇÃO (PÁG. 249)
Característica do desenvolvimento económico do século XIX, pouco menos notável que o crescimento das cidades, dos
trabalhadores industriais e dos rendimentos, foi o crescimento da alfabetização e da educação. Existe uma correlação entre os
níveis e taxas de industrialização e a realização educacional.
Antes do séc XIX quase não existiam instituições educativas com apoios públicos. Os abastados contratavam tutores
particulares para os filhos, enquanto as instituições religiosas e de caridade e as escolas particulares que cobravam uma propina
providenciavam educação elementar a uma fracção da população, sobretudo nas cidades. Ninguém previa a alfabetização
universal. Muitas opiniões se opunham à alfabetização dos pobres trabalhadores, uma vez que tal era considerado incompatível
com a sua posição de vida. A educação técnica era feita apenas pela aprendizagem, enquanto os estudos secundários estavam
reservados aos filhos das classes privilegiadas principalmente a rapazes. Excepções eram as universidades antigas: há muito que
tinham deixado de ser centros de desenvolvimento do conhecimento (Escócia e Países Baixos), privilegiavam os clássicos,
formavam funcionários para as igrejas e estado. A revolução francesa introduziu o princípio da educação gratuita financiada pelo
estado mas na França, assim como em outros países, este princípio foi ignorado pelos governos praticamente até ao séc XX.
Os vários estados alemães, escandinavos e americanos eram os que melhor beneficiavam de uma tradição de educação
primária alargada, tendo criado sistemas de funcionamento público embora ainda não universais.
RELAÇÕES INTERNACIONAIS (PÁG 252)
No congresso de Viena, em 1814-15, os vencedores de Napoleão tentaram restabelecer o Antigo Regime, política, social e
economicamente, mas os seus esforços revelaram-se vãos. As forças ideológicas da democracia e do nacionalismo,
desencadeados pela Revolução Francesa, juntamente com as forças económicas da industrialização incipiente, minaram os seus
esforços. A queda final do Antigo Regime, excepto na Rússia e no Império Otomano tornou-se evidente nas revoluções de 1830 e
1848 no Continente. Em todas essas revoluções, o nacionalismo foi uma força potente. Este como ideologia não pertencia a uma
classe social enquanto tal. Era principalmente abraçado por membros das classes médias instruídas, mas também reflectia as
aspirações dos povos divididos da Itália e da Alemanha de verem as suas nações unificadas e as aspirações das nacionalidades
súbditas dos impérios austríaco, russo e otomano.
O séc. XIX não assistiu a quaisquer guerras generalizadas e devastadoras como as Guerras Napoleónicas que lhe deram
início ou a I Guerra Mundial que o fechou. As guerras relativamente curtas e limitadas que entretanto ocorreram tiveram por
vezes, importantes resultados políticos, com implicações para a política económica, mas não prejudicaram seriamente a
acumulação de capital num processo de mudança técnica.
Perto do final do século, as tensões políticas, por vezes exacerbadas pela rivalidade económica, tornaram-se mais agudas e
extravasaram para o reflorescimento do imperialismo europeu, que alargou grandemente o sistema mundial de mercado, com a
Europa no seu centro.
TEMA 4 (PARTE 1) - 9. PADRÕES DE DESENVOLVIMENTO: OS PRIMEIROS INDUSTRIALIZADORES (PÁG. 253 - 279)
O Processo de industrialização do século XIX foi um fenómeno à escala europeia, apesar das inúmeras flutuações a curto
prazo, o certo é que o crescimento manteve-se regular a longo prazo. Por outro lado, podemos também concluir que a
industrialização verificou-se no início como um fenómeno regional, com um quadro institucional da actividade económica e as
políticas tendentes a influenciar a direcção e o carácter dessa actividade, de cariz nacional.
GRÃ-BRETANHA (PÁG 254)
Foi a primeira nação industrial, produzindo cerca de um quarto da produção mundial total, no fim das guerras
napoleónicas. A sua primazia na indústria e a sua preponderância marítima aliaram-se ao seu emergente papel de principal nação
comercial, sendo responsável por um quarto do comércio internacional total. Esta posição de domínio industrial e comercial foi
mantida ao longo da maior parte do séc. XIX. Após 1870, foi perdendo a sua primazia para outras nações que se industrializaram
rapidamente (EUA-1880 e Alemanha no início séc. XX).
Os têxteis, o carvão, o ferro e a engenharia foram as bases da prosperidade precoce Inglesa, que esta soube manter como
trunfos. A engenharia desenvolveu-se a par das necessidades das indústrias de têxteis, carvão e ferro. A necessidade da indústria

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mineira em conseguir transporte barato resultou no desenvolvimento da máquina a vapor e do caminho-de-ferro, com esta
última a ser a mais importante das novas indústrias do séc. XIX.
Depressa se verificou por parte de outros países, uma procura externa dos conhecimentos, equipamento e capital
britânicos, representando assim um enorme estímulo para toda a economia. A evolução da indústria naval foi também um
estímulo enorme para a economia.
Apesar da crescente industrialização do país, o recenseamento de 1851 confirmou que a agricultura continuava a ser a
maior empregadora de mão-de-obra.
Sendo as décadas de entre 1850 e 1870, o pico comercial britânico, as últimas décadas do séc. XIX e o início do XX, vieram
assistir a uma diminuição do PIB per capita Inglês. À medida que outras nações começaram a se industrializar, a Grã-Bretanha foi
perdendo a sua primazia. Sendo uma pequena nação insular, facilmente foi ultrapassada pelos EUA ou pela Rússia em termos de
produção total. Outros factores como o do esgotamento de minérios nativos, o fornecimento mais barato de matérias-primas
além-mar e uma certa letargia empresarial. Como caso paradigmático temos a introdução lenta do processo de fabrico de aço de
Thomas-Gilchrist ou do alto-forno de Siemens-Martin.
O atraso do sistema educativo britânico faz parte deste conjunto de factores de abrandamento industrial (última nação a
adoptar a escolaridade elementar universal pública) assim como uma teimosa perpetuação dos valores aristocráticos, invertendo
as realidades económicas europeias. Sendo a Grã-Bretanha uma nação dependente de importações e exportações para o seu
bem-estar material, as políticas comerciais e aduaneiras e a economia internacional tinham importantes repercussões na
economia Britânica. Apesar das vicissitudes, em 1914, o britânico médio desfrutava do padrão de vida mais elevado da Europa.
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA (PÁG. 258)
O exemplo mais espectacular de rápido crescimento económico nacional. No espaço de cerca de um século (1790-1870) a
sua população passou de 4 milhões para 40 milhões, a par da forte imigração, principalmente europeia, e a taxa de crescimento
natural extremamente elevada, explicam os 100 milhões atingidos em 1915, fazendo deste o país com mais população. Os
imigrantes da Europa eram atraídos pelos salários mais altos e um nível de vida melhor, assim como pelas oportunidades de
realização individual e liberdades religiosa e política dos cidadãos americanos. Os factores deste enorme crescimento foram:
 A terra abundante e a riqueza de recursos naturais;
 O rápido progresso na tecnologia e a especialização regional crescente;
 A permanente escassez e elevado custo da mão-de-obra que incentivavam o uso de maquinaria, quer na agricultura,
quer na indústria;
 As enormes dimensões físicas dos EUA com climas e recursos diferentes que permitiram um grau de especialização
superior ao Europeu;
 Grande mercado interno praticamente livre de barreiras aduaneiras;
 A construção de uma boa rede de caminhos-de-ferro que permitia a circulação de mercadorias, pessoas e bens.
O movimento populacional para o oeste continuou, encorajado pela Lei da Herdade (que incentivava os colonos a se
fixarem nas novas terras) e pela abertura do Trans-Mississipi Ocidental, pelos caminhos-de-ferro.
Em 1890 os EUA tinham-se transformado na nação mais industrializada do mundo. Os produtos agrícolas continuaram a
dominar as exportações americanas, e embora a mão-de-obra agrícola fosse ainda considerável tinha, em 1880 já sido
ultrapassada pela mão-de-obra industrial.
BÉLGICA (TORNOU-SE O REINO DA BÉLGICA EM 1830) (PÁG 262)
A primeira da Europa continental a adoptar o modelo britânico de industrialização, demonstrando ao longo do percurso
histórico conturbado uma notável continuidade no seu padrão de desenvolvimento económico, devido aos seguintes factores:
 Proximidade da Grã-Bretanha que permitiu uma bem sucedida imitação da industrialização britânica;
 Região de longa tradição industrial desde a Idade Média (Flandres, Vale de Sambre-Mosa) Ex: o primeiro complexo
industrial integrado em grande escala no continente de William Cockerill;
 Bruges e Antuérpia foram as primeiras cidades do Norte a assimilar as técnicas comerciais e financeiras italianas no
final da Idade Média;
 A riqueza dos recursos naturais da Bélgica tinha semelhanças com a britânica (carvão e minérios);
 Devido à sua localização e ligações políticas, a Bélgica recebeu importantes injecções de tecnologia, investimento e
capital estrangeiros e desfrutou de uma posição favorável em certos mercados externos, especialmente franceses;
 A rede de canais e doutros cursos de água que ligavam a França Setentrional às regiões da Bélgica, iniciada durante o
Antigo Regime mas continuada pelos regimes seguintes, que facilitava o transporte comercial e de matérias-primas;
 A decisão governamental do Governo Belga (após 1830) de construir uma extensa rede de caminhos-de-ferro à custa
do Estado (beneficiava as indústrias do carvão, ferro e engenharia);
 Uma notável inovação institucional no campo da banca e da finança que estimulou um aumento sem precedentes dos
investimentos no Continente. Ex: criação privada do Banque de Belgique, em 1835.
No séc. XIX a Bélgica mantém-se como a mais industrializada do Continente, com indústrias de carvão, ferro, aço, metais
não ferrosos, engenharia, têxteis, química (introdução do processo de soda amoniacal de Solvay) e construção mecânica. A sua
indústria dependia também do mercado internacional e metade do PIB provinha das exportações (principalmente para França).
FRANÇA (PÁG 267)
Teve um padrão de crescimento aberrante com uma baixa taxa de crescimento demográfico e um crescimento industrial
mais lento que nos restantes países industrializados, embora o seu PIB per capita fosse muito bom. O lento crescimento
demográfico da França é em grande parte responsável pelo crescimento aparentemente lento da economia no seu todo. A França
não possuía jazidas abundantes de carvão, mas em termos tecnológicos estava bastante avançada, com cientistas, inventores e
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inovadores franceses que tomaram a dianteira em várias indústrias: energia hidroeléctrica, aço, alumínio, automóveis e mais
tarde na aviação.
A Revolução Francesa foi um dos factores de atraso no desenvolvimento industrial e económico do país.
Com a mão-de-obra envolvida em guerras contínuas e o domínio marítimo britânico, as exportações francesas ficaram
muito reduzidas e limitadas. Em 1871, com o término da guerra Franco-Prussiana, a Alsácia e a Lorena, duas províncias
economicamente muito dinâmicas, passaram a fazer parte do novo Império Alemão. Embora o desempenho global da economia
francesa fosse bastante respeitável, sofreu várias variações na taxa de crescimento. Na primeira metade do século as artes
mecânicas, o artesanato e a indústria doméstica representaram uma boa parte da produção industrial. Na segunda metade do
século, melhoramentos nos transportes e nas comunicações (caminhos-de-ferro, telégrafo eléctrico) incentivaram novas
indústrias (gás de iluminação, fósforos, fotografia, cromagem, galvanização, fabrico de borracha vulcanizada) e facilitaram o
crescimento do comércio interno e externo. Com as crises políticas e económicas de 1848-51, os seus índices económicos
voltaram a cair, porém a proclamação do II Império em 1852 trouxe de novo a retoma e o crescimento económico. A depressão
de 1882 teve graves consequências com as doenças das vinhas e da seda, assim como avultadas perdas de investimento
estrangeiro, porém mesmo no final do séc. XIX voltou a dinamizar-se e a florescer com a extensão dos campos de minério da
Lorena e novas indústrias como as da electricidade, alumínio, níquel e automóveis, foi a Belle Époque, período que ficou marcado
por uma taxa de crescimento muito positiva, prosperidade material e cultural.
Manteve ainda assim a mais baixa taxa de urbanização, relativamente a outros países industrializados, e uma escala
relativamente pequena das empresas e indústrias, relacionadas com a baixa taxa de crescimento demográfico, a relativa escassez
do carvão, a dispersão geográfica, o uso da energia hidráulica que era mais limitada e o elevado valor acrescentado (artigos de
luxo). A alta proporção de mão-de-obra na agricultura foi também um dos factores que manteve as populações rurais nos seus
locais de origem não permitindo o aumento das cidades, mas em contrapartida manteve-a auto-suficiente em alimentos.
ALEMANHA (PÁG. 273)
Foi a última a juntar-se ao grupo dos primeiros países industrializados. Pobre e pouco desenvolvida na primeira metade do
séc. XIX, era uma nação politicamente dividida, rural e agrária. As pequenas concentrações industriais (Renânia, Saxónia, Silésia e
Berlim) eram de tipo artesanal ou proto industrial. Possuía uma rede deficiente de transportes e comunicações, que impediu o
desenvolvimento económico.
Nas vésperas da I Guerra Mundial o Império Alemão Unificado era a nação industrial mais poderosa da Europa com as suas
indústrias de produção de ferro e aço, de energia eléctrica e maquinaria, de químicos, com uma produção de carvão só superada
pela Grã-Bretanha, um dos maiores produtores de vidro, de têxteis, de instrumentos ópticos, e de vários outros artigos. Tinha
uma das mais densas redes de caminhos-de-ferro e um elevado grau de urbanização.
Como se deu esta espantosa transformação?
Zollverein é o nome da aliança aduaneira que teve como meta a liberdade alfandegária para os 39 estados alemães, em
1833, e testemunhou um despertar gradual para as mudanças económicas que decorriam na Inglaterra e na Bélgica e a criação de
condições jurídicas e intelectuais necessárias ao desenvolvimento. Até 1870 surgiu um período de imitação e apropriação
deliberado e foram moldadas as fundações materiais da indústria, transportes e finanças modernos.
Com a unificação do país na guerra Franco-Prussiana, em 1871, a Alemanha ascendeu rapidamente à posição de
supremacia industrial na Europa Ocidental Continental que ainda hoje ocupa.
Em cada um destes períodos as influências estrangeiras foram importantes: da Revolução Francesa, da reorganização
napoleónica da Europa, de um fluxo de capital e tecnologia dinâmica, e por fim a expansão da indústria alemã para mercados
estrangeiros dominou o panorama. O Zollverein tornou possível uma economia alemã unificada e a forte implementação dos
caminhos-de-ferro transformou-a numa realidade. A chave da rápida industrialização na Alemanha foi o crescimento célere da
indústria carbonífera (região do Ruhr).
A produção de aço de Bessemer (1863) e o processo de Siemens-Martin foram adoptados. O processo de Gilrichrist-
Thomas (1881), que permitia a utilização do minério de ferro fosfórico da Lorena, veio galvanizar a produção de aço alemã que
aumentou drasticamente. A indústria alemã era grande, não só na sua produção total mas também nas suas unidades de
produção. As empresas alemãs adoptaram rapidamente a estratégia da integração vertical, adquirindo as suas próprias minas de
carvão e minério, fábricas de fundição, altos-fornos, fundições e laminadores, oficinas de fabrico e máquinas, etc.
O desfecho auspicioso da guerra franco-prussiana e a indemnização de reparação francesa acrescentaram euforia à
expansão alemã. Um dos sectores mais dinâmicos da indústria alemã foi a produção de bens de capital ou intermédios para
consumo industrial, o que explica o divergente padrão de crescimento relativamente à França. A indústria química teve também
um papel relevante, impulsionado por Hoffmann e pelo seu papel determinante no ensino, tal como a indústria eléctrica.
As suas indústrias caracterizavam-se, ao invés das francesas, pelas grandes dimensões, ditadas por economias técnicas de
escala (grande volume de produção para baixar os custos). A existência de cartéis (mais competitivos e com tarifas
proteccionistas), a proximidade entre o sistema bancário e as indústrias foram também factores que ditaram o sucesso alemão.
TEMA 4 (PARTE 2) – 10. PADRÕES DE DESENVOLVIMENTO: RETARDATÁRIOS E AUSENTES (PÁG 280 - 307)
Em todo o resto da Europa, antes de 1850, exceptuando a Boémia, não estava ainda em curso o processo de industria-
lização. Este teve início na 2ª. Metade do séc. XIX, marcadamente na Suíça, Países Baixos, Escandinávia e império austro-húngaro,
mais debilmente em Itália, países ibéricos e império russo e quase nada em todas as nações dos Balcãs e do Império Otomano.
Onde e quando ocorreu, foi em circunstâncias muito diferentes das dos primeiros países industrializados e com padrões
diferentes. Na medida em que o começo da industrialização esteve associado ao carvão (Grã-Bretanha, Bélgica, Alemanha), os
últimos países a iniciarem a industrialização tinham pouco ou nenhum carvão no seu interior. A Rússia tinha grandes jazidas, mas
antes de 1914 a sua exploração quase não tinha começado a desenvolver-se. Todo o carvão dos últimos industrializados tinha que

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ser importado e era utilizado para combustível de locomotivas, navios a vapor e máquinas a vapor fixas. Assim, o aumento do
consumo do carvão, nos países de desenvolvimento mais tardio, era resultado de industrialização e não a sua causa.
SUÍÇA (PÁG 281)
A Alemanha foi o último dos primeiros industrializados e a Suíça o primeiro dos últimos. Embora esta já tivesse um elevado
nível de alfabetização adulta, que teve um papel importante na sua rápida industrialização, a sua estrutura económica era
largamente pré-industrial.
Em 1850, mais de metade da sua mão-de-obra era principalmente agrícola, e poucos trabalhavam em fábricas. A grande
maioria dos operários industriais trabalhava em casa ou em pequenas oficinas sem máquinas, e mal tinha entrado na era dos
caminhos-de-ferro e tinha menos de 30kms de trilhos. Faltava-lhe uma estrutura institucional adequada ao desenvolvimento
económico. Só em 1850 conseguiu uma união aduaneira monetária efectiva, um sistema postal centralizado e um padrão
uniformizado de pesos e medidas. País pequeno, em território, população e em recursos naturais convencionais, sem ser água e
madeira, não tem quase carvão nenhum e um quarto da sua área, devido às montanhas, é incultivável e inabitável. Apesar disto
os suíços conseguiram alcançar um dos mais elevados padrões de vida na Europa, no inicio do séc. XX e no último quartel do
mesmo, do mundo.
Mas como conseguiram?
A população cresceu de pouco menos de 2 milhões no início do século XIX, para quase 4 milhões em 1914, uma taxa média
inferior à da Grã-Bretanha, Bélgica e Alemanha, mas mais alta que a da França. A sua densidade populacional era inferior à destes
4 países, o que se explica pela natureza do terreno.
Devido à escassez de terra arável, os suíços há muito praticavam a combinação de indústria doméstica, com a agricultura e
a criação de gado. Fizeram-no em grande parte com matérias-primas importadas e, na última parte do século XIX também com
produtos alimentares importados, assim, a Suíça, como a Bélgica e a Grã-Bretanha, dependiam dos mercados internacionais.
O sucesso suíço nos mercados internacionais deveu-se à combinação de tecnologia avançada, com indústrias de mão-de-
obra intensiva e especializada (devido à alta taxa de alfabetização existente). Esta combinação deu origem a produtos de alta
qualidade, muito apreciados e de grande valor acrescentado, como os tradicionais relógios de sala e de pulso suíços, os delicados
têxteis, a intrincada maquinaria especializada e os requintados queijos e chocolates.
Provavelmente, nenhum outro país se transformou tão radicalmente com o advento dos caminhos-de-ferro como a Suíça,
mas era possivelmente a rede ferroviária menos lucrativa.
As tendências firmadas na segunda metade do século XIX, mantiveram-se no século XX: o declínio da importância relativa
da agricultura; o crescimento da indústria e dos serviços; e a dependência permanente da procura internacional, especialmente
do turismo (a partir da década de 1870) e dos serviços financeiros (a partir da 2ª. Guerra mundial).
Na década de 1960, as indústrias de máquinas e metalúrgia, representavam quase metade dos lucros de exportação,
seguida pela química e a farmacêutica, a relojoeira, a têxtil e a alimentar e bebidas.
PAÍSES BAIXOS E ESCANDINÁVIA (PÁG 285)
Estes 4 países atrasados em relação aos primeiros na 1ª metade do século, dispararam rapidamente na 2.ª metade, em
particular nas últimas 2 ou 3 décadas. A Suécia, no período de 1870 a 1913, teve a maior taxa de crescimento per capita da
produção de todos os países da Europa, seguida pela Dinamarca e, pela Noruega. Os Países Baixos, também tiveram uma elevada
taxa de crescimento. Juntamente com a Suíça, tinham atingido padrões de vida comparáveis à dos primeiros industrializados.
Devido ao começo mais tardio e carência de carvão, a que se deve o seu sucesso?
Durante o século XIX e até 1900, todos tinham duplicado a sua população, a densidade populacional variava, tendo os
Países Baixos uma das mais altas da Europa, a Noruega e a Suécia das mais baixas e a Dinamarca a meio.
Ao nível do capital humano, estavam muito bem apetrechados, com taxas de alfabetização das mais altas da Europa. Este
facto foi importantíssimo para ajudar as economias a encontrarem os seus recantos nas correntes de expansão e em constante
mutação, da economia internacional.
Quanto às fontes, foi devido à falta de jazidas de carvão que não estiveram entre os primeiros industrializados e não
desenvolveram um sector industrial pesado apreciável.
Quanto a outros recursos naturais, a Suécia tinha depósitos de minérios, tanto fosfóricos, como não fosfóricos e também
minérios metálicos não ferrosos, vastas extensões de madeira virgem e energia hidráulica.
A Noruega também tinha madeira, alguns minérios metálicos e grande potencial hidroeléctrico. A energia hidroeléctrica foi
na Suécia e Noruega um factor importante do seu desenvolvimento no início do século XIX. A Dinamarca e os Países Baixos
tinham pouca energia hidráulica, carvão e pouca eólica que, contudo, não podia ser a base de um grande desenvolvimento.
A localização foi um importante factor para todos os quatro países pois tinham acesso ao mar, o que foi relevante para um
importante recurso natural internacional (o peixe), bem como para os transportes baratos, as marinhas mercantes e a indústria
de construção naval.
As instituições políticas dos quatro países não colocaram barreiras significativas à industrialização ou crescimento
económico. Eram países razoavelmente bem governados, sem corrupção notória, nem projectos estatais grandiosos. Como países
pequenos, dependiam de mercados estrangeiros e seguiram essencialmente uma política comercial liberal. Outro factor essencial
do sucesso destes países, a par da elevada alfabetização, foi a capacidade de adaptação à divisão internacional do trabalho,
determinada pelos primeiros industrializadores e de demarcação das áreas de especialização em mercados internacionais para
que estavam particularmente ajustados. Isto significou uma grande dependência do mercado internacional, mas também grandes
lucros.
Embora estes países tenham entrado em força no mercado mundial em meados do século XIX, com a exportação de
matérias-primas e bens de consumo ligeiramente refinados, tinham desenvolvido indústrias altamente sofisticadas no começo do

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século XX. Tem-se chamado a isto “industrialização contra a corrente”, isto é, um país que antes exportava matérias-primas,
começa a processá-las e a exportá-las sob a forma de bens semi-fabricados e acabados . O comércio de madeira da Suécia e da
Noruega é um exemplo excelente. No início, a madeira era exportada em troncos para serem serrados em pranchas no país
importador, depois esses países construíram serrações a energia hidráulica e depois a vapor para converter os troncos em
tabuado, depois na década de 1860 foram introduzidos processos de fabrico de papel a partir da polpa de madeira, essa
produção cresceu muito durante o resto do século.
A indústria do ferro (fundido a carvão) seguiu padrão semelhante, embora o seu preço não pudesse competir com o do
produzido a coque ou do aço Bessemer, pois a sua qualidade superior tornou-o especialmente valioso para produtos como
rolamentos de esferas. Nas 2 décadas antes da 1ª guerra mundial, as taxas de crescimento já boas, aceleraram muito.
Três motivos, entre outros destacam-se:
 O período foi de uma prosperidade geral, com preços em ascensão e viva procura;
 Este período foi, na Escandinávia, marcado por importações de capital em larga escala e neste período os Países
Baixos foram exportadores de capital;
 O período coincidiu com a rápida expansão da indústria eléctrica.
A electricidade foi uma grande bênção para a economia dos 4 países. A Noruega e a Suécia foram especialmente
favorecidas devido ao seu vasto potencial hidroeléctrico, mas mesmo a Dinamarca e os Países Baixos que podiam importar carvão
a preços relativamente reduzidos da Grã-Bretanha e do Ruhr, beneficiaram com a electricidade gerada pelo vapor.
Os 4 países desenvolveram rapidamente importantes indústrias para o fabrico de maquinaria e produtos eléctricos.
A Suécia foi o primeiro país a fundir ferro em larga escala, recorrendo à electricidade, sem necessitar de carvão.
Estes, tal como a Suíça, mostraram que foi possível desenvolver indústrias sofisticadas e um elevado nível de vida, sem
recursos internos de carvão ou indústrias pesadas e que não existe modelo único para a industrialização de sucesso.
IMPÉRIO AUSTRO-HÚNGARO (PÁG 289)
O império teve no séc XIX, de certa forma injustificada, a reputação de um atraso económico, provocada em parte pelo
facto de algumas regiões do império o serem de facto e pela associação errada de desempenho económico com desaire político
(desmoronar do império como consequência da 1ª. Guerra mundial). Mas a má interpretação do seu desempenho económico
deve-se à falta de pesquisas rigorosas; recentemente revelaram um processo de desenvolvimento mais equilibrado e contínuo.
O império caracterizava-se pela diversidade e disparidade regionais, estando as províncias ocidentais (Boémia, Morávia e a
própria Áustria) economicamente muito mais avançadas que as de leste. Dentro das províncias ocidentais já existiam indícios de
crescimento económico moderno na segunda metade do século XVIII, caracterizando-se ainda por uma topografia que tornou os
transportes e as comunicações internos e internacionais difíceis e caros e, por uma escassez e deficiente localização dos recursos
naturais, especialmente do carvão.
Os começos de industrialização no império, no século XVIII, baseavam-se nas indústrias têxteis, do ferro, do vidro e do
papel. Na década de 1840, o império, no continente, era só superado pela França na produção de artigos de algodão.
O processo de industrialização do império, desde o século XVIII até à 1ª Guerra Mundial foi lento e trabalhoso.
Alguns obstáculos, o terreno difícil e a falta de recursos naturais, foram impostos pela natureza; outros, como as
instituições inimigas do crescimento, foram obra do homem como o foi a servidão legalizada até 1848, mas não foi um factor
demasiado determinante, pois as reformas de José II, na década de 1780, permitiram aos camponeses deixar as propriedades dos
seus senhores sem penalizações e comercializar as suas colheitas como quisessem.
A abolição, em 1850, da fronteira aduaneira do império, foi vista por uns como uma realização progressista e por outros
como uma perpetuação do estatuto colonial da metade oriental. Embora a união possa ter facilitado a divisão territorial do
trabalho, o padrão de exportação austríaca de produtos fabris para a Hungria e a exportação de produtos agrícolas húngaros para
a Áustria, estava bem definido antes de 1850.
Outro obstáculo institucional a um crescimento económico mais rápido foi a política comercial externa da monarquia,
muito proteccionista ao longo do século, o que facilitou o objectivo da Prússia de a excluir do Zollverein. As elevadas tarifas
limitavam as importações e as exportações, pois as indústrias protegidas produziam a elevados custos e não podiam competir nos
mercados internacionais.
A sua topografia e posição geográfica contribuíram para a sua fraca imagem no comércio internacional.
Isto tudo contribuiu para o seu desempenho relativamente fraco, mas não é sequer o motivo mais forte, mas antes os
níveis de educação e alfabetização, componentes da maior importância do capital humano. Os níveis de alfabetização na parte
austríaca eram iguais aos da França ou Bélgica em meados do século XIX, mas a parte húngara era muito mais fraca e, estavam
muito mal distribuídos. Existia, dentro do império, uma correlação entre níveis de alfabetização e de industrialização e de
rendimentos per capita. Apesar dos obstáculos, quer naturais, quer institucionais, houve industrialização e crescimento
económico na Áustria e na Hungria, ao longo do século.
Os transportes tiveram um papel crucial no desenvolvimento económico, muito do país era montanhoso, ou rodeado por
montanhas e o transporte marítimo inexistente nas regiões montanhosas. Tinha poucos canais e só em 1830 com o advento das
embarcações fluviais a vapor é que os rios puderam ser navegados contra a corrente. Tinha alguma indústria pesada: nas regiões
alpinas uma indústria do ferro alimentada a carvão vegetal; na Boémia uma longa tradição de metalurgia, tanto em metais
ferrosos, como não ferrosos. Na metade ocidental da monarquia, a indústria continuou a crescer, regular se não mesmo
espectacularmente, ao passo que a da metade oriental disparou depois de aproximadamente 1867, após o compromisso.
No começo do século XX, a parte ocidental estava sensivelmente no mesmo nível da média da Europa ocidental; a região
oriental, embora atrás da ocidental, estava bem à frente do resto da Europa oriental.
EUROPA MERIDIONAL E ORIENTAL (PÁG 293)

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Uma 1ª característica comum, é o insucesso em se industrializarem significativamente antes de 1914, com os
consequentes baixos níveis de rendimento per capita e uma grande incidência de pobreza.
Uma das razões para tal é uma 2ª característica comum, níveis abissalmente baixos de alfabetização do capital humano.
Encontravam-se entre as últimas nações ao nível de taxas de alfabetização adulta e em termos de frequência da escola primária.
Os mais atrasados ainda partilhavam uma 3ª característica comum, que teve um peso importante nas suas possibilidades
de desenvolvimento económico: a falta de qualquer reforma agrária significativa, com consequentes baixos níveis de
produtividade agrícola. Em meados do século XIX, a proporção de mão-de-obra empregada na agricultura, variava de entre uns
20% na Grã-Bretanha a 80% na Rússia, e em inícios do século XX de entre 10% na Grã-Bretanha a 70% na Rússia e Balcãs.
A 4ª. Característica comum; todas sofreram de governos autoritários, autocráticos, corruptos e ineficientes.
Também tinham características distintivas. Quanto às suas respostas, ou não, à oportunidade de industrialização e de
desenvolvimento económico.
PENÍNSULA IBÉRICA (PÁG 295)
No século XIX, as histórias económicas da Espanha e de Portugal resumem-se assim:
 Ambas emergiram das guerras napoleónicas com sistemas económicos primitivos, arcaicos e regimes políticos
reaccionários. Este último aspecto fomentou sublevações revolucionárias em ambos os países em 1820; embora as
revoluções acabassem por se frustrar, conduziram a guerras civis endémicas que interferiram com a actividade
económica normal e impossibilitaram qualquer política económica coerente;
 Padeciam ambos de finanças públicas deploráveis. Durante as guerras civis, ambos os países, contraíram elevados
empréstimos no estrangeiro para suportarem os seus esforços militares.
Em Espanha, a seguir aos prejuízos e destruição das guerras napoleónicas, a perda de quase todas as colónias americanas,
resultou numa redução drástica das receitas públicas, entre 1800 e 1830. Défices governamentais crónicos levaram a manipulações
do sistema bancário, à inflação monetária e à contracção de empréstimos externos, mas a reputação de solvabilidade do governo
era tão fraca, que os termos em que podia contrair empréstimos, eram extremamente onerosos.
A baixa produtividade agrícola permaneceu uma fraqueza estrutural de ambas as economias. Mesmo em 1910, o sector
primário, sobretudo a agricultura, empregava cerca de 60 % da força de trabalho em Espanha e, pelo menos, o mesmo em
Portugal. Mas não se tratava, na sua maior parte, duma agricultura comercial.
Um estudioso caracterizou a economia espanhola do século XIX como uma economia dual, com um extenso sector agrícola de
subsistência, por um lado e um pequeno sector agro-comercial interagindo com um ainda mais pequeno sector urbano industrial,
comercial e terciário, por outro lado a Espanha ensaiou uma reforma agrária, que resultou em fiasco completo. Como o governo
da França revolucionária, confiscou também as terras da igreja, das municipalidades e dos aristocratas que se opuseram nas guerras
civis, com a intenção de as vender aos camponeses; mas as exigências das finanças públicas eram tão grandes, acabando por vender em
leilão aos melhores licitantes (que puderam pagar com obrigações do tesouro desvalorizadas, a valor facial); o resultado foi a maior
parte das terras acabar na posse dos que já eram abastados, tanto a aristocratas como a burguesia urbana. Os camponeses
limitaram-se a suportar a substituição de uma série de proprietários absentistas por outra, sem qualquer melhoria da tecnologia
ou investimento em bens de equipamento, ao passo que Portugal nem sequer tentou uma reforma agrária.
Entretanto, o aumento da população de ambos os países resultou no cultivo de mais cereais (o meio de subsistência), em solos
inferiores e em menos pastagem para o gado, provocando uma queda acrescida da produtividade.
Apesar desta perspectiva globalmente deprimente, existiram alguns casos interessantes - variações regionais sobre um
tema de atraso. Na Catalunha, em Barcelona e seus arredores, desenvolveu-se uma moderna indústria algodoeira na década de 1790
que, graças a tarifas proteccionistas e a um mercado colonial protegido em Cuba e Porto Rico, floresceu até à perda das últimas
colónias, em 1900. Existiam indústrias vinícolas vocacionadas para a exportação na Andaluzia e, em Portugal, na região do Porto
(vinho do porto). Em finais do século XIX, os vinhos e as aguardentes representavam um quarto das exportações espanholas, mas
devido à filoxera, em 1913, os vinhos não chegavam a pouco mais de um décimo das exportações espanholas.
Entretanto, uma nova fonte de comércio externo, os minerais e os metais, desenvolveram-se para substituir as verbas
perdidas com o vinho. As famosas minas de mercúrio de Almadén estavam em exploração desde o século XVI, e embora lucrativo, não
teve grande influência na balança de pagamentos. Na década de 1820, a crescente procura externa de chumbo para canalizações
resultou na abertura de jazidas de chumbo extremamente ricas no sul da Espanha. Foi durante algum tempo a maior produtora
mundial de chumbo até ser ultrapassada pelos EUA em 1898. Em 1900, as exportações de minérios e de metais representavam
cerca de 1/3 do total das exportações. Infelizmente para a Espanha, a maior parte das exportações eram efectuadas em bruto
(chumbo e cobre) ou em minério (ferro), com poucos benefícios para a economia interna.
O capital estrangeiro também predominou noutros sectores modernos da economia, especialmente na banca e nos caminhos-
de-ferro. Antes de 1850, apenas tinham sido construídos alguns quilómetros de via-férrea. Na década de 1850, numa das
frequentes mudanças de governo, o novo regime deu um encorajamento especial aos investidores estrangeiros (sobretudo
franceses) para criarem bancos e construírem ferrovias. Fizeram-no, com garantias governamentais de dividendos sobre o capital
investido nos caminhos-de-ferro, durante o período de construção. Infelizmente, quando as principais linhas foram construídas e a
garantia de dividendos terminou, os caminhos-de-ferro não tinham desenvolvido um tráfego suficiente para fazer face aos custos
de operação e a maioria entrou em falência. Os caminho-de-ferros foram principalmente construídos com materiais e equipamento
importados por engenheiros estrangeiros e assim, como as minas, poucas vantagens trouxeram para a economia interna. Só no final
do século é que os caminhos-de-ferro se tornaram um negócio rentável. Entretanto, a maior parte dos bancos tinha sido liquidada,
com lucros maiores ou menores para os seus proprietários estrangeiros, deixando o caminho aberto aos empresários nacionais.

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Portugal inaugurou em 1856 a primeira via-férrea, uma curta linha a partir de Lisboa e a história dos caminhos-de-ferro
portugueses é ainda mais triste que a espanhola. Construídas com capital estrangeiro (principalmente francês), as suas vias-férreas
sofreram com a fraude e corrupção, bem como com falências e pouco beneficiaram o desenvolvimento da economia.
A Espanha tinha algumas jazidas de carvão (Portugal nenhuma), mas não eram de boa qualidade e estavam mal localizadas
para fins de exploração industrial. Apesar disso, nas 2 últimas décadas do século XIX, cresceu uma pequena indústria do ferro e do
aço ao longo da costa setentrional, nas proximidades de Bilbau. Recorrendo aos ricos minérios de ferro da região e a algum carvão e
coque importados, a indústria foi reduzindo lentamente a importação de ferro, aço, ferragens e maquinaria, que não conseguiu,
porém, eliminar. No século XX, a região tornou-se uma das mais ricas e economicamente desenvolvidas da Espanha. Nada de
semelhante se verificou em Portugal.
ITÁLIA (PÁG 297)
Antes de 1860, não existia uma economia italiana. Guerras e intrigas dinásticas tornaram-na um campo de batalha para
exércitos estrangeiros e alvo de pilhagem de tesouros artísticos de valor incalculável e de formas mais utilitárias de riqueza,
enquanto repetidas perturbações monetárias esgotaram as poupanças acumuladas e abalaram a confiança dos investidores.
O congresso de Viena repôs o desconcertante mosaico de principados nominalmente independentes, mas a maior parte,
incluindo os estados papais e o reino das duas Sicílias, estava sob o domínio ou influência do império Habsburgo.
A Áustria anexou directamente a Lombardia e Veneza, duas das províncias economicamente mais avançadas e antigas sedes de
famosas indústrias e comércio, sendo separadas do resto da Itália pelas elevadas barreiras tarifárias da Áustria.
O reino da Sardenha, o único estado genuinamente independente, era uma mistura curiosa, uma nação artificial composta por
quatro grandes subdivisões com diferentes climas, recursos, instituições e até línguas. A ilha da Sardenha, de onde a união recebeu
o nome, definhava-se na estagnação do feudalismo, onde os senhores absentistas não tinham qualquer interesse em melhorar as
suas propriedades e, consequentemente, a população iletrada vivia nas condições mais primitivas.
A Sabóia, que deu ao reino e mais tarde à Itália, a dinastia reinante, pertencia cultural e economicamente à França.
Génova, o centro comercial, mantivera-se uma república independente durante vários séculos, antes de Napoleão.
O Piemonte, rodeado de picos montanhosos por três lados, formava uma continuação geográfica da planície lombarda, mas a
sua altitude e clima separavam-no também da Lombardia. Continha sensivelmente 4/5 da população total do reino.
Antes de 1850, tinha pouca indústria, além da fiação de seda e de alguns pequenos estabelecimentos metalúrgicos, mas, sob
a chefia de alguns proprietários fundiários dinâmicos, a sua agricultura tornou-se a mais avançada e próspera da península.
Em Itália, a clivagem norte-sul, ainda hoje evidente, existia desde a idade média. A produtividade agrícola era mais elevada
no norte, especialmente no Piemonte e no Vale do Pó e, havia também alguma indústria. Foi no norte, economicamente mais
desenvolvido, que se iniciou o movimento de unificação nacional.
Depois das prematuras revoluções e tentativas de unificação, terem sido suprimidas pelos Habsburgos, um homem notável
destacou-se no reino na sardenha. Foi o Conde Camillo Benso di Cavour, proprietário fundiário e agricultor progressista que também
patrocinara um caminho-de-ferro, um jornal e um banco e, em 1850, tornou-se ministro da marinha, do comércio e da agricultura,
na recentemente criada monarquia constitucional do seu pequeno país. No ano seguinte acumulou a pasta das finanças e tornando-
se depois primeiro-ministro. Afirmou repetidamente que a ordem financeira e o progresso económico eram as duas condições
indispensáveis para o Piemonte assumir, aos olhos da Europa, a supremacia da península itálica. Para alcançar estes objectivos,
defendeu o auxílio económico externo, incluindo o investimento de capitais estrangeiros. Imediatamente após a tomada de
posse, negociou tratados de comércio com todas as nações, comercial e industrialmente mais importantes da Europa.
As exportações aumentaram, enquanto as importações quase triplicaram; os investimentos franceses financiaram a balança
comercial altamente deficitária. Os franceses, com o estímulo de Cavour, construíram caminhos-de-ferro, criaram bancos e outras
sociedades anónimas e investiram na crescente dívida pública do reino. Parte desta tinha sido contraída para saldar as mal
sucedidas guerras e ainda para preparar a, agora triunfante guerra onde o reino da Sardenha, com o auxílio militar e financeiro da
França, derrotou o império austríaco e preparou o caminho para o reino unificado da Itália.
A nova nação, com uma população total de cerca de 22 milhões, com uma grande densidade média de habitantes por
quilómetro quadrado - já uma das maiores da Europa. Tinha a maior parte da mão-de-obra empregada na agricultura de baixa
produtividade. A unificação mitigou um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento económico, a fragmentação do mercado.
Mas sem a exploração das vantagens dos transportes e das comunicações, até esta realização teria sido ilusória.
A extensão da legislação progressista e do sistema administrativo do Piemonte ao reino alargado, não conseguiu alterar
imediatamente o carácter atrasado das instituições ou o analfabetismo e ignorância da população do resto da península. Nenhuma
lei podia remediar a pobreza de recursos naturais e apenas a legislação mais sensata e a administração mais judiciosa poderiam
superar a escassez de capital. Infelizmente para a Itália, os esforços de Cavour durante esses anos alucinantes levaram à sua morte
prematura, apenas três meses depois da proclamação do reino, assim privando o país da sua sensata e inspirada chefia. Aos seus
sucessores, embora não fossem menos patriotas, faltava a sua experiência, delicadeza e, acima de tudo, compreensão subtil das
questões económicas e financeiras.
A Itália continuou dependente do investimento estrangeiro, especialmente francês e das relações económicas externas, mas
medidas governamentais afastaram repetidamente os investidores estrangeiros acabando por mergulhá-la numa dramática guerra
tarifária de 10 anos com a França, com consequências desastrosas para ambas as economias. Perto do fim da década de 1890, após
a guerra tarifária com a França e com uma nova injecção de capital estrangeiro, desta vez da Alemanha, a Itália vivenciou um
pequeno crescimento industrial que durou, com flutuações, até depois do início da 1ª. Guerra mundial. A Itália não era ainda uma
nação industrial, mas tinha feito um começo tardio.
SUDESTE DA EUROPA (PÁG 299)

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Os 5 pequenos países que ocupavam o extremo sudeste do continente europeu (Albânia, Bulgária, Grécia, Roménia e Sérvia)
eram, com a possível excepção de Portugal, os países mais pobres da Europa a ocidente da Rússia. Todos tinham conquistado a
independência ao império otomano em diferentes datas, sendo que a herança deste domínio pesou muito nas suas economias.
No princípio do século XX, eram todos predominantemente rurais e agrários, com 70 ou 80 % da mão-de-obra empregada na
produção primária e uma proporção semelhante da produção total consistindo em produtos agrícolas, além do mais, a tecnologia
era primitiva e a produtividade e o rendimento per capita correspondentemente baixos.
Em média, o rendimento per capita era inferior ao da vizinha Hungria, cerca de metade do da boémia e cerca de um terço do
da Alemanha, estando a Roménia ligeiramente melhor que os outros e a Albânia na cauda.
Apesar da sua pobreza, taxas de natalidade elevadas, combinadas com taxas de mortalidade moderadamente decrescentes,
engendraram um crescimento acentuado da população a partir de meados do século XIX. No meio século que antecedeu a 1ª.
Guerra mundial, a população cresceu, tendo uma das mais elevadas taxas de qualquer país ou grupo de países europeus. A pressão
da crescente população conduziu a preços mais elevados da terra de cultivo, à fome nos campos, à migração para áreas urbanas,
para os países mais desenvolvidos do ocidente e a alguma migração para outros continentes, especialmente de gregos para os
Estados Unidos.
Não havia uma abundância de recursos naturais que aliviasse a pressão populacional. Grande parte da terra era montanhosa
e inadequada para cultivo, especialmente na Grécia e, menos na Albânia, na Bulgária e na Sérvia, a Roménia estava mais bem
dotada de terra arável, mas, empregava técnicas primitivas de cultivo, não sendo ainda especialmente produtiva.
Existiam algumas pequenas jazidas de carvão muito dispersas, mas não o suficiente para tornar qualquer um destes países
independente das importações, mesmo considerando a reduzida procura. Também existiam pequenas jazidas de metais não
ferrosos, mas mal tinham começado a ser exploradas, pelo capital estrangeiro, quando eclodiu a 1ª. Guerra Mundial. O recurso
mineral mais importante era o petróleo da Roménia e, várias empresas estrangeiras, sobretudo alemãs, começaram a fazer
perfurações na última década do século XIX.
De acordo com o seu carácter agrário, o comércio externo de todos estes países consistia na exportação de produtos
agrícolas e na importação de produtos fabricados, principalmente bens de consumo. Os cereais, sobretudo o trigo, representavam
cerca de 70 % das exportações da Roménia e da Bulgária. A Sérvia, com menos terra arável, exportava principalmente porcos vivos e,
pouco antes da guerra, produtos suínos processados, ameixas frescas e secas e a sua famosa aguardente de ameixa. A Grécia, com
ainda menos terra arável e não muito adequada ao cultivo de cereais, exportava sobretudo uvas e passas de uvas, bem como
algum vinho e aguardente.
Em contraste com a lenta difusão de tecnologia agrícola e industrial, a tecnologia institucional de bancos e dívidas externas
espalhou-se rapidamente. Em 1885, todos os então 4 estados dos Balcãs tinham criado bancos centrais com poderes exclusivos de
emissão de notas. Bancos comerciais e outras instituições financeiras desenvolveram-se rapidamente, mas com poucas ligações à
finança industrial. Os novos governos contraíram empréstimos externos, principalmente em França e na Alemanha, em primeiro
lugar para construir vias-férreas e outros tipos de infra-estruturas, mas também para adquirir equipamento militar, pagar
estruturas administrativas intumescidas e, cada vez mais, pagar os juros das dívidas anteriormente contraídas. Em 1898, a Grécia
chegou a um ponto tão grave de endividamento ao estrangeiro, que teve de concordar com uma comissão financeira internacional
criada pelas grandes potências para supervisionar as suas finanças.
Por fim, todos os outros estados dos Balcãs, com excepção da Roménia, tiveram de aceitar uma verificação estrangeira
semelhante. Grande parte dos empréstimos externos foi contraída para a construção de redes ferroviárias, principalmente por
conta do estado. Em 1870 a extensão total de vias-férreas no sudeste europeu era menos de 500 Kms, sobretudo na Roménia e
Bulgária. Em 1885, chegou aos 2.000 Kms, em 1900 a mais de 6.000 Kms e em 1912 a mais de 8.000 Kms. Infelizmente, devido à
ausência de indústrias complementares, os caminhos-de-ferro tinham pouca articulação c/ a indústria. Depois, aproximadamente em
1895, emergiu um pequeno sector industrial em cada um dos países, principalmente de indústrias de bens de consumo, mas nada
comparável aos desenvolvimentos industriais anteriormente verificados na Europa ocidental no séc. XIX.
Podia dizer-se que a indústria moderna não tinha ainda penetrado no sudeste da Europa, antes da 1ª. Guerra mundial.
RÚSSIA IMPERIAL (PÁG 301)
No princípio do século XX, o império russo era geralmente considerado como uma das grandes potências, devido ao seu
território e população, de longe maiores que os de qualquer outra nação europeia, mereciam aquele estatuto e, também em termos
económicos brutos a Rússia destacava-se na produção industrial total ocupando o 5º. lugar mundial, depois dos EUA, da Alemanha,
da Grã-Bretanha e da França. Tinha grandes indústrias têxteis, especialmente de algodão e linho e também indústrias pesadas:
carvão, ferro e aço. Era a 2ª. Maior do mundo (depois dos EUA) em produção de petróleo e, durante alguns anos, no fim do século
XIX, esteve em 1º. Lugar. Porém, estes elevados valores absolutos são enganadores enquanto indicadores do poderio económico da
Rússia. A produção e o consumo per capita de carvão na Rússia eram substancialmente inferiores aos da Áustria e passava-se o
mesmo em quase qualquer outra categoria de produção.
Continuava a ser uma nação predominantemente agrária, com mais de metade da sua mão-de-obra ligada à agricultura e a
produzir mais de metade do rendimento nacional, o rendimento per capita não ascendia a mais de metade do da França e da
Alemanha e a cerca de um terço da dos EUA e da Grã-Bretanha. A produtividade, especialmente na agricultura, era abissalmente
baixa, devido a uma tecnologia primitiva e pela escassez de capital. O constrangimento institucional da servidão legalizada, pesava
grandemente contra as possibilidades de crescimento da produtividade, mesmo depois da emancipação.
Os começos da industrialização russa têm sido detectados no reinado de Pedro, O Grande e mesmo antes, mas,
exceptuando a indústria oitocentista de ferro do Ural, estas primeiras empresas industriais eram empreendimentos, relacionados
com as necessidades do estado russo e não eram economicamente viáveis. Na primeira metade do século XIX, a industrialização
tornou-se mais visível; calcula-se que o número de trabalhadores industriais tenha aumentado de menos de 100 mil no princípio

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do século, para mais de 500 mil nas vésperas da emancipação, sendo a maioria destes trabalhadores servos formais que
descontavam dos seus salários, pagamentos em dinheiro aos seus senhores, em vez dos habituais pagamentos em trabalho.
Paradoxalmente, havia igualmente uma série de empresários servos.
A indústria mais dinâmica e de crescimento mais rápido foi a dos têxteis de algodão, principalmente na região de Moscovo e
as refinarias de açúcar de beterraba da Ucrânia, ocupavam um distante 2º. Lugar. São Petersburgo vangloriava-se de várias fábricas
de algodão grandes e modernas e também de algumas oficinas metalúrgicas e de maquinaria, como também a Polónia russa. A
guerra da Crimeia revelou singelamente o atraso da indústria e agricultura russas e, preparou, assim, indirectamente, o caminho
para uma série de reformas, sendo a mais notável a emancipação dos servos em 1861, simultaneamente, o governo encorajou um
programa de construção de vias-férreas com base em capital e tecnologia importados e reorganizou o sistema bancário para
permitir a introdução de técnicas financeiras ocidentais. Os sinais da eficácia das novas políticas tornaram-se evidentes em meados
da década de 1880 e no grande arranque da produção industrial na década de 1890. Muito do mérito deste grande arranque deve-se
ao programa de construção de redes ferroviárias, especialmente a linha transiberiana e à expansão associada das indústrias mineira
e metalúrgica. Esta última, por sua vez, ficou a dever muito a empresários e capitais estrangeiros, que contribuíram decisivamente
para o desenvolvimento do grande centro mineiro e metalúrgico do sudeste da Ucrânia, nas proximidades da bacia do Donetz.
Em Donbas, nome pelo qual a bacia é conhecida, possuía grandes jazidas de carvão, mas estava muito longe dos principais
centros populacionais. Antes do aparecimento do caminho-de-ferro, a extracção de carvão não era lucrativa. A ocidente, nos
arredores de Krivoi Rog, descobriram-se jazidas muito ricas em minério de ferro, mas, pelo mesmo motivo não puderam ser
economicamente exploradas. Na década de 1880, empresários franceses persuadiram o governo czarista a construir uma via-férrea
que ligasse as duas zonas e instalaram altos-fornos em ambos os locais, criando assim a primeira união metalúrgica de extracção
cruzada, do mundo o que aumentou a produção de carvão e de ferro de forma célere.
O governo procurou, por vários meios, encorajar a industrialização. Contraiu empréstimos externos para financiar a
construção de caminhos-de-ferro estatais, garantiu as obrigações dos pertencentes a empresas privadas, encomendou carris,
locomotivas e outros equipamentos para os estatais a companhias sedeadas na Rússia (pertencessem elas a russos ou a
estrangeiros), e instruiu as sociedades comerciais privadas para fazerem o mesmo, onerou altamente as importações de produtos de
ferro e aço, mas, ao mesmo tempo facilitou a introdução do equipamento mais recente de fabrico de ferro e aço e de produtos de
engenharia. Os produtores da Silésia polaca e de São Petersburgo, bem como do sudeste da Ucrânia, beneficiaram isto.
A explosão da indústria russa na década de 1890, foi seguida de uma queda súbita nos primeiros anos do século XX, por sua
vez seguida pela desastrosa (para a Rússia) guerra russo-japonesa e, depois, pela revolução. Embora a insurreição tivesse sido
reprimida, impôs várias reformas políticas e económicas. A mais importante destas últimas foi a reforma agrária de Stolypine, que
conduziu à produtividade acrescida na agricultura.
No meio século que antecedeu a 1ª. Grande Guerra, a economia russa passou por mudanças substanciais no sentido de um
sistema mais moderno e tecnologicamente proficiente, mas, manteve-se bastante atrás das economias ocidentais mais avançadas,
em particular da alemã. A sua fraqueza económica agudizou-se durante a guerra, contribuindo para a derrota russa e abrindo
caminho às revoluções de 1917.
JAPÃO (PÁG 304)
Na primeira metade do século, o Japão manteve a sua política de exclusão da influência estrangeira, em especial a
ocidental, mais eficazmente que qualquer outra nação oriental. Desde o começo do séc. XVII, o governo dos Tokugawa tinha proibido
o comércio com o exterior (os holandeses estavam autorizados a enviar um navio por ano) e interditado os japoneses de viajarem
para o estrangeiro.
A sociedade estava estruturada em rígidas classes sociais, ou castas, nalguns aspectos semelhantes ao feudalismo da
Europa medieval. O nível de tecnologia era semelhante ao da Europa do princípio do século XVII. Apesar destas limitações, a
organização da economia era surpreendentemente sofisticada, com mercados activos e um sistema de crédito. O nível de
alfabetização era substancialmente mais elevado que o dos países da Europa meridional e do leste.
Em meados do séc. XIX, o comodoro Matthew Perry, um comandante naval norte-americano, entrou na baía de Tóquio e,
ameaçando bombardear a cidade, forçou o governo a encetar relações diplomáticas e comerciais com os EUA, em breve, outras
nações ocidentais conseguiram privilégios semelhantes aos que foram oncedidos aos EUA. Uma notável particularidade destes
tratados desiguais, foi a proibição ao governo japonês a cobrança de direitos ad valorem superiores a 5 %, os estrangeiros também
conquistaram direitos de extra-territorialidade (isto é, não estavam sujeitos ao direito japonês).
A fraqueza dos Tokugawa, face às usurpações ocidentais, deu origem a motins nacionalistas e a um movimento para repor
o imperador. Em 1868 o Xógum abdica e o imperador instala-se em Tóquio, a capital de facto. Este acontecimento, que marcou o
nascimento do Japão moderno, é chamado restauração Meiji (meiji significa governo iluminado e foi escolhido por Mutsu-Hito para
designar o seu reinado). A era Meiji durou desde 1868 até à sua morte em 1912.
Imediatamente depois de conquistar o poder, o novo governo mudou o tom do movimento nacionalista. Em vez de tentar
expulsar os estrangeiros, o Japão cooperou com eles, mas mantendo-os a uma meiga distância.
O antigo sistema feudal foi abolido e substituído por uma administração formalista altamente centralizada, moldada no
sistema francês, com um exército de tipo prussiano e uma marinha à inglesa e, métodos industriais e financeiros importados de muitos
países, particularmente dos EUA. Homens jovens e inteligentes foram para o estrangeiro para estudar métodos ocidentais de
política e governação, ciência militar, tecnologia industrial, comércio e finanças, com o objectivo de adoptar os métodos mais
eficientes. Criaram-se no Japão novas escolas, segundo os modelos ocidentais e convidaram-se peritos estrangeiros para
formarem os seus homólogos japoneses.
Um dos problemas mais incómodos que esperava o novo governo era o das finanças. Pois tinha sido uma das causas de
descontentamento para com o antigo regime e, o novo governo Meiji herdou uma imensidão de papel-moeda inconvertível, que foi

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forçado a aumentar nos primeiros anos da transição. Decretou um imposto sobre a terra, calculado com base na produtividade
potencial da terra agricultável, sem atender à produção real. Isto teve um efeito duplamente benéfico: em primeiro, assegurou ao
governo uma receita segura (à custa dos camponeses, é bom não esquecer ); em segundo, garantiu que a terra seria usada da
melhor forma, pois todos os que fossem incapazes de maximizar os rendimentos, a perderiam ou seriam forçados a vender aos que o
conseguissem. Também em virtude dos seus problemas financeiros, o governo decidiu criar um novo sistema bancário para
substituir a informal rede de crédito do tempo dos Tokugawa. Mantendo-se fiel à sua política de seleccionar o melhor de tudo tomou
como modelo o sistema bancário nacional dos EUA, criado pelo Governo da União, nos últimos anos da guerra civil, como medida
orçamental de guerra. Segundo este sistema, os bancos podiam ser constituídos, utilizando obrigações do Estado como caução para
a emissão de notas, que deviam ser convertíveis em numerário (não despropositadamente, o Governo Meiji tinha acabado de
emitir uma grande quantidade de obrigações para os antigos senhores e samurais feudais, em substituição das suas pensões anuais).
Sob este sistema, tinham-se constituído mais de 100 bancos nacionais. Infelizmente surgiu a rebelião do Satsuma, uma revolta de
um dos maiores clãs ocidentais contra o governo, e embora tenha sido esmagada, foi a grande custo, com novas emissões de
moeda inconvertível e de notas de bancos nacionais, causando uma inflação galopante.
Um novo ministro das finanças, o Conde Matsukata, decidiu que o sistema bancário era imperfeito, e, além de causar uma
deflação drástica da moeda, reviu completamente a estrutura bancária. Criou um novo banco central, o banco do Japão, segundo o
modelo da última moda em bancos centrais, o Banque Nationale de Belgique, que, embora fosse essencialmente de capitais privados,
estava sujeito a uma rigorosa fiscalização governamental. Foi-lhe concedido o monopólio da emissão de notas, tendo os todos os
outros, perdido esse direito, sendo convertidos em simples bancos comerciais de depósitos, segundo o modelo inglês. O banco do
Japão também actuava como agente fiscal do tesouro.
Desde o tempo da restauração Meiji que o governo pretendia introduzir e aclimatar praticamente, toda a gama de indústrias de
estilo ocidental. Com este objectivo, construiu e pôs em funcionamento estaleiros navais, arsenais, fundições, oficinas de construção
de máquinas e fábricas modelo ou experimentais para a produção de têxteis, vidro, químicos, cimento, açúcar, cerveja e muitos
outros produtos; também importou técnicos ocidentais para instruírem a mão-de-obra nativa e a hierarquia de gestão na utilização
de equipamento ocidental, este foi, porém, claramente um projecto a longo prazo. Entretanto, houve que encontrar recursos para
pagar as importações de maquinaria, outro equipamento e os salários dos peritos estrangeiros. Sendo uma economia
predominantemente agrária na época da restauração (e uma economia sem praticamente nenhuma experiência no comércio
externo), não foi tarefa fácil. Para mais, o Japão tinha poucos recursos naturais. Mais pequeno que o estado da Califórnia, o
território da ilha é também bastante montanhoso, pelo que a proporção de terra arável era também menor, que a da Califórnia. O
arroz era a cultura principal e também o alimento básico, complementado com peixe e mariscos das ricas águas costeiras.
O Japão tinha algumas jazidas de minério de carvão e de cobre e, antes da década de 1920, elas contribuíram para as
exportações e também para o consumo interno. Todavia, na maior parte dos casos, coube ao sector agrário carregar a
responsabilidade de obter as receitas de exportação que financiassem as necessárias importações.
As indústrias têxteis tradicionais do Japão, baseadas em matérias-primas nacionais, a seda e o algodão, tiveram destinos
muito diferentes. Pouco depois da liberalização do comércio, a indústria do algodão foi completamente aniquilada pelos produtos
fabricados no ocidente, especialmente na Grã-Bretanha. A indústria da seda, por outro lado, sobreviveu e a parte mais próxima do
sector agrário, a produção de fio de seda em bruto a partir de casulos, até floresceu. Apoiada pela introdução de equipamento
moderno trazido de França, a produção de seda em bruto cresceu, sendo parte para exportação e, tendo chegado a representar cerca
de um terço das receitas de exportação; mas a cobrança de elevados impostos sobre os tecidos, nos países que eram os principais
mercados da seda em bruto (especialmente os EUA), prejudicaram o desenvolvimento daquela indústria.
A outra grande exportação agrária era o chá, que nos primeiros anos da era Meiji foi tão importante como a seda; porém, a
sua importância relativa baixou gradualmente com o aumento da população e do rendimento nacional. O mesmo aconteceu, em
grau mais elevado, com o arroz; embora nos primeiros anos da era Meiji se exportassem pequenas quantidades, o crescimento
populacional foi tal, que antes do final do século o Japão dependia parcialmente de importações para o seu consumo total.
Embora a iniciativa governamental tenha sido responsável pela introdução da maioria dos elementos tecnológicos
ocidentais, não foi intenção do governo proibir a iniciativa privada. Pelo contrário, uma das suas palavras de ordem era desenvolver
a indústria e promover a iniciativa . Logo que as minas, as fábricas modelo e outros estabelecimentos modernos (com excepção
dos arsenais e de uma fábrica de aço, que estavam sob dominação militar) começavam a funcionar satisfatoriamente, o governo
vendia-os (frequentemente com prejuízo, em termos estritamente contabilísticos) a empresas ou sociedades privadas.
A indústria do algodão (sobretudo a fiação, mas com alguma tecelagem mecanizada) foi a que progrediu mais rapidamente. A
tecnologia era relativamente simples e empregava mão-de-obra barata e não especializada, em particular de mulheres e
raparigas. Conquistou o mercado interno , sendo que no início do séc XX a exportação de fio e tecidos de algodão representava mais
de 10% do total das exportações. Os maiores mercados eram a China e a Coreia, que importavam fio barato e imperfeito para
tecelagem manual, em casas de camponeses.
As indústrias pesadas (ferro, aço, engenharia e químicos), desenvolveram-se mais lentamente e fizeram-no recorrendo a
grandes subsídios e à protecção, mas o Japão era já auto-suficiente no fabrico dos seus produtos por volta em vésperas da 1ª. Guerra
mundial, que fez aumentar, em muito, a procura desses produtos e ao mesmo tempo abriu novos mercados. De facto, em termos
globais, a guerra representou um grande benefício para a economia japonesa. O défice na balança comercial dos últimos anos, antes
da guerra, tinha sido grande, mas a procura acrescida, em tempo de guerra, juntamente com a canalização da produção europeia
para utilizações de guerra, permitiu aos produtores japoneses expandirem-se rapidamente para mercados externos. Ao entrar na
guerra ao lado dos aliados, o Japão teve também a possibilidade de se apropriar de colónias alemãs no pacífico e de concessões na
china. Globalmente, a transição económica do Japão, de uma sociedade atrasada e tradicional em meados do século XIX, para uma
importante nação industrial no tempo da 1ª. Guerra mundial, foi um feito espantoso. A taxa de crescimento do produto nacional

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bruto até vésperas da guerra foi de cerca de 3 % ao ano, tanto ou mais que a de qualquer nação europeia. Além do mais, a taxa de
crescimento manteve-se relativamente estável; embora flutuasse um pouco, nunca caiu abaixo de zero, como acontecera
frequentemente na Europa e na América durante graves recessões ou depressões.
A transição económica do Japão teve também consequências políticas. Em 1894-1895, o Japão derrotou rapidamente a China
numa curta guerra e juntou-se ao grupo das nações imperialistas ao anexar território chinês e demarcando uma esfera de
influências na própria china. Ainda mais surpreendentemente, apenas 10 anos depois, o Japão derrotou decisivamente a Rússia,
tanto em terra, como no mar. As recompensas desta proeza foram a metade meridional da ilha de Sacalina, os interesses russos
em Port Arthur e na península chinesa de Liaodong, bem como o reconhecimento russo da predominância japonesa na Coreia, que
o Japão anexou. Os japoneses provaram, assim, que podiam jogar o jogo do homem branco. AQUI
TEMA 5 - 11. O CRESCIMENTO DA ECONOMIA MUNDIAL (PÁG 308 - 337)
Embora o comércio a longa distância tenha existido desde pelo menos os primórdios da civilização, a sua importância
cresceu rápida e enormemente no século XIX.
Para o mundo no seu todo, o volume de comércio externo per capita em 1913, foi mais de 25 vezes superior ao de 1800.
Ao longo do século, a Europa foi responsável por 60 % ou mais do total das importações e das exportações.
O período de crescimento mais rápido ocorreu entre o princípio da década de 1840 e 1873, quando o comércio total
aumentou anualmente mais de 6 % (5 vezes mais rapidamente que o crescimento populacional e 3 vezes mais que o aumento da
produção). No início do século XX era já possível falar significativamente de uma economia mundial, na qual praticamente todas
as partes habitadas tinham participação, ainda que mínima, embora a Europa fosse, de longe, a mais importante: era o centro
dinâmico que estimulava o todo.
No princípio do século, existiam 2 tipos principais de obstáculos (naturais e artificiais):
 obstáculos naturais - o custo elevado dos transportes, especialmente do transporte terrestre, deu origem aos
caminhos-de-ferro e aos aperfeiçoamentos na navegação, culminando no navio oceânico a vapor.
 obstáculos artificiais - tarifas sobre as importações e exportações e também algumas proibições totais à importação de
certos bens foram diminuindo e até desapareceram, embora no final do século, um regresso ao proteccionismo tivesse
resultado numa imposição de taxas de importação mais elevadas em vários países.
A GRÃ-BRETANHA OPTA PELO COMÉRCIO LIVRE (PÁG 308)
A importância do comércio livre (e o papel do proteccionismo). A riqueza das Nações (1776) de Adam Smith, veio realçar a
importância do comércio internacional livre através da análise dos ganhos, da especialização e divisão do trabalho. As proibições
e tarifas elevadas foram assim reconsideradas pelos governos. No fim do séc XVIII o governo britânico tinha já começado a
proceder a algumas alterações legais, mas a Revolução Francesa e as guerras Napoleónicas protelou os seus esforços.
David Ricardo, nos seus Princípios de Economia Política (1819), explicou o princípio da vantagem comparativa (vantagem
de especialização num determinado produto em detrimento de outro ou outros, por parte de um país para aumentar os seus
lucros) que era a base da teoria do moderno comércio internacional.
A Reforma Parlamentar de 1832 veio assegurar um comércio mais livre. Mais tarde as Corn Laws (impostos sobre a
importação de cereais panificáveis) foram finalmente abolidas, começando a tomar forma o moderno sistema político inglês
através da abolição de tarifas de exportação e a eliminação de muitas de importação. A esta nova legislação, de carácter anti-
proteccionista, foi ainda acrescentada a revogação das Leis de Navegação. Esta legislação deu frutos com um aumento do
comércio total.
A ERA DO COMÉRCIO LIVRE (PÁG 310)
O grande desenvolvimento que se seguiu no movimento para o comércio livre foi um notável tratado de comércio, o
Tratado de Cobden-Chevalier, ou Tratado Anglo-Francês de 1860.
Este Tratado veio libertar um pouco a França, tradicionalmente proteccionista e foi o primeiro de muitos Tratados
estabelecidos entre os vários países europeus, levando a uma reorganização por parte da indústria, imposta pela maior
concorrência; empresas ineficientes que tinham sido protegidas por tarifas e proibições tiveram de se modernizar e melhorar a
sua tecnologia, ou fechavam as portas. Assim, os Tratados promoveram a eficiência técnica e aumentaram a produtividade. Outra
consequência da integração da economia internacional e do comércio livre foi a sincronização dos movimentos de preços ao
longo das fronteiras nacionais. As flutuações deixaram de ser por causas naturais (secas, cheias) e passaram a dever-se a
flutuações na procura, transmitindo-se de país para país através dos canais comerciais.
A GRANDE DEPRESSÃO E O REGRESSO AO PROTECCIONISMO (PÁG 312)
À medida que o século XIX foi avançando as flutuações de natureza cíclica, tornaram-se mais frequentes e mais graves até
atingirem a chamada Grande Depressão, com início em 1873 e que durou até finais da década de 90, na qual se verificou uma
grave queda dos preços.
Esta depressão foi entendida como tendo origem na intensificada concorrência internacional decorrente dos tratados de
comércio. Por outro lado, os EUA afirmavam-se já como um dos maiores produtores e ofuscavam o comércio Europeu. Várias
vozes se levantaram de novo a exigir protecção para os seus produtos e os seus mercados e tomando a iniciativa o Chanceler do
novo Império Alemão, aprovando leis tarifárias, introduzindo o proteccionismo na indústria e na agricultura. Ao exemplo Alemão
seguem-se vários países europeus, excepção feita à Grã-Bretanha e aos Países Baixos que especializaram os produtos de
comércio internacional (açúcar, tabaco, chocolate) e obtiveram dividendos avultados, e a Dinamarca que conseguiu adaptar-se.
Apesar do proteccionismo, o crescimento do comércio internacional manteve-se até ao início da I Guerra Mundial, com a
representação do rendimento nacional total dos maiores países europeus e EUA entre 15 a 20%. A economia mundial do
princípio do séc. XX estava assim mais integrada e interdependente do que alguma vez estivera ou voltaria a estar.
O PAPEL DA BANCA E DA INTERNACIONALIZAÇÃO DOS CAPITAIS. O PADRÃO-OURO INTERNACIONAL. (PÁG 318)

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De acordo com alguns peritos, o elevado grau de integração alcançado na economia mundial no final do século XIX,
dependeu decisivamente da adesão geral ao Padrão-Ouro Internacional uma vez que no princípio do século XX praticamente
todas as grandes nações mercantis tinham-no já adoptado. De acordo com outros, essa integração dependeu essencialmente do
papel central da Grã-Bretanha e de Londres e do seu capital financeiro e político na economia mundial.
Ao longo da história, vários bens (por exemplo, terra, gado e trigo), serviram como padrões monetários, mas o ouro e a
prata foram sempre os padrões mais destacados. A Função de um Padrão Monetário é a de definir a unidade de valor dum
sistema monetário, a unidade na qual todas as outras formas de dinheiro são convertíveis. A moeda de conta (padrão de valor)
era assim o soberano de ouro, ou libra de ouro, observando 3 condições:
 A Real Casa da Moeda foi obrigada a comprar e vender quantidades ilimitadas de ouro a um preço fixo;
 O Banco de Inglaterra, e por extensão, todos os outros bancos, ficaram obrigados, sob solicitação, a resgatar por
outro as suas obrigações monetárias (notas bancárias, depósitos);
 Não se podiam impor quaisquer restrições à importação ou exportação de ouro.
A movimentação de ouro para dentro e fora do país (uma função da balança de pagamentos) causou flutuações na oferta
total de moeda, que, também provocou flutuações no movimento dos preços, surgindo assim a inflação e os pânicos financeiros.
O aumento do movimento internacional de pessoas, principalmente com a migração ultramarina, e capitais foi também
importante. Os salários mais elevados fomentaram a emigração e os laços humanos e culturais, bem como económicos,
promoveram a integração da economia internacional, com a exportação de capitais e o investimento estrangeiro.
O aumento de riquezas e rendimentos promovidos pela aplicação das novas tecnologias influenciaram o saldo de
exportações de comércio de mercadorias, as exportações invisíveis (serviços de navegação), ganhos da banca e seguros
internacionais, remessas de emigrantes, juros e dividendos de anteriores investimentos externos.
Durante o século XIX, os mecanismos de investimento no estrangeiro para a transferência de fundos de um país para outro
cresceram grandemente: mercados cambiais, accionistas e obrigacionistas, bancos centrais, privados de investimento e
comerciais, correctores e muitos outros, desenvolvendo a economia mundial e promovendo a dinamização dos mercados
internacionais. Assim, os investimentos externos foram de grande importância porque proporcionaram infra-estruturas e
superstrutura que permitiram às economias dependentes participarem na economia internacional.
MIGRAÇÃO E INVESTIMENTO INTERNACIONAIS (PÁG 320)
Além do movimento mais livre de mercadorias, simbolizado pela era do comércio livre, também se verificou no século XIX
um grande aumento no movimento internacional de pessoas e capitais, os factores de produção, além da Terra.
Ocorreu alguma migração internacional dentro da Europa, mas o movimento mais significativo envolveu a migração
ultramarina. Ao longo do século, cerca de 60 Milhões de pessoas deixaram a Europa para destinos ultramarinos.
 35 Milhões para Estados Unidos;
 10 Milhões para as áreas do Império Britânico recentemente colonizadas;
 12 ou 15 Milhões de pessoas foram para a América Latina.
O RENASCER DO IMPERIALISMO OCIDENTAL (PÁG 327)
Os vastos continentes da África e da Ásia participaram apenas residualmente na expansão comercial do século XIX até a
isso serem forçados pelo poderio militar do Ocidente. As políticas britânicas, especialmente a abolição da escravatura em todo o
Império, em 1834, enfureceram os Bóeres levando-os a um conflito que durou durante todo o século XIX. Com a descoberta de
diamantes (1867) e ouro (1886) no continente africano surgiu uma grande invasão de caçadores de tesouros provenientes de
todo o mundo. Estes factos alteraram completamente a base económica das colónias e intensificaram as rivalidades políticas.
ÁFRICA (PÁG 328)
Vários países solidificaram as suas posições colonialistas em território africano e em 1869, a abertura do Canal do Suez por
uma empresa francesa, veio revolucionar o comércio mundial, pondo em perigo o “corredor vital” britânico para a Índia. Os
Britânicos apressaram-se na tentativa de dominar o canal e os seus acessos para evitarem que caíssem nas mãos de uma potência
estrangeira inimiga. Umas após outra, várias regiões africanas foram sendo dominadas por forças estrangeiras.
Esta súbita procura de territórios criou fricções que poderiam ter levado à guerra e para o evitar Bismark e Jules Ferry
(primeiro-ministro Francês) convocaram uma Conferência Internacional sobre Assuntos Africanos, que se realizou em Berlim, em
1884. As 14 nações reunidas (incluindo os EUA) acordaram várias resoluções, incluindo uma que apelava à supressão do comércio
de escravos e da escravatura, ainda florescente em África. Reconheceram ainda o Estado Livre do Congo, encabeçado por
Leopoldo, rei dos Belgas, e lançaram as regras básicas de posteriores anexações. O continente africano foi assim dividido, qual
manta de retalhos, e apenas a Etiópia e a Libéria mantiveram a independência.
ÁSIA (PÁG 332)
Quanto ao continente asiático, a dinastia manchu chinesa encontrava-se enfraquecida e os ocidentais aproveitaram esse
facto para forçarem a entrada no Império Chinês. Os interesses comerciais britânicos proporcionaram a ocasião inicial para a
intervenção, iniciando-se a Guerra do Ópio (1850-1864). A guerra terminou e o Tratado de Nanquim (1842), estipulou que a China
daria à Grã-Bretanha o território de Hong Kong. Outras nações, perante este sinal de fraqueza chinesa tentaram também
estabelecer Tratados (Portugal - Macau, 1887) o que acabou por gerar uma onda de protestos por parte dos chineses e levou à
Rebelião dos Ta’i-p’ing (1850-64). A anarquia geral permitiu que as potências ocidentais interviessem e tomassem posições
ocupando cidades e territórios no Oriente. Finalmente, em 1899, as grandes potências que detinham territórios e concessões
chinesas concordaram em seguir uma política de “porta aberta” não fazendo discriminações ao comércio doutras nações nas suas
próprias esferas de influência. Em 1912 a Revolução conduzida por Sun Yat-sen transformou a China numa República.
Em 1910, o Japão anexou formalmente a Coreia seguindo políticas imperialistas muito semelhantes às dos países
europeus. À semelhança de África, várias potências ocidentais foram ocupando territórios asiáticos.

19
EXPLICAÇÕES DO IMPERIALISMO (PÁG 335)
O domínio imperialista caracterizava-se pelo estabelecimento de colónias e posições em territórios estrangeiros contra a
vontade expressa dos povos indígenas. Os defensores do imperialismo alegavam que, além da oferta de novos mercados e de
escoadouros para o capital em excesso, as colónias proporcionavam novas fontes de matérias-primas e poderiam albergar as
populações em rápida ascensão das nações industriais (argumentos estes que eram falaciosos). A interpretação económica do
imperialismo não se justificava. Na realidade foi o puro oportunismo político, combinado com um crescente nacionalismo
agressivo que deu origem ao surto de imperialismo no final do séc. XIX. As políticas de força e o expediente militar
desempenharam também papéis importantes. O clima intelectual do final do séc. XIX, fortemente colorido pelo Darwinismo
Social (“sobrevivência dos mais aptos”), favoreceu de igual modo a expansão europeia. O imperialismo, em última análise, deve
ser encarado como um fenómeno psicológico e cultural.
AS CAUSAS DO IMPERIALISMO FORAM MUITAS E COMPLEXAS.
Não há uma única teoria que explique todas as causas. Uma das explicações mais populares do imperialismo moderno
envolve a necessidade económica. De facto, o imperialismo moderno tem sido chamado Imperialismo Económico, como se
formas anteriores de imperialismo não tivessem conteúdo económico.
Uma dessas explicações diz o seguinte:
1. A concorrência no mundo capitalista torna-se mais intensa, resultando na formação de grandes empresas e na
eliminação de empresas pequenas;
2. Nas grandes empresas, o capital acumula-se mais e mais rapidamente e, como o poder de compra das massas é
insuficiente para adquirir todos os produtos da indústria de larga escala, a taxa de lucro decai;
3. À medida que o capital se acumula e a produção das indústrias capitalistas não é escoada, os capitalistas recorrem ao
imperialismo para obterem domínio político sobre regiões nas quais podem investir o excedente de capital e vender
os seus produtos em excesso.
TEMA 6 - 12. SECTORES ESTRATÉGICOS (PÁG 338 - 359)
Há três áreas que têm de ser analisadas com alguma profundidade para que o processo de industrialização seja inteligível –
agricultura, finanças e banca e o papel do Estado nos assuntos económicos.
AGRICULTURA (PÁG 338)
Uma das maiores mudanças estruturais ocorridas na economia do séc. XIX foi o declínio da dimensão relativa do sector
agrícola. Isso não implica, que a agricultura tivesse deixado de ser importante; muito pelo contrário. O pré-requisito dum declínio
na dimensão relativa foi o aumento da produtividade, sendo a dimensão do declínio da primeira proporcional ao aumento da
última. O aumento da produtividade agrícola pode contribuir para o desenvolvimento económico global, de 5 formas possíveis:
1. Este sector pode fornecer um excedente de população (mão-de-obra) que se ocupa de actividades não agrícolas;
2. Este sector pode fornecer produtos alimentares e matérias-primas para o sustento da população não agrícola;
3. Este sector pode servir como mercado para a produção das indústrias e para o sector terciário;
4. Tanto através de investimento voluntário como de impostos, este sector pode fornecer capital para investir em
sectores não agrícolas;
5. Através das exportações agrícolas, Este sector pode fornecer moeda estrangeira que permita aos outros sectores
obterem as entradas necessárias de bens de capital ou de matérias-primas que não estão internamente disponíveis.
Não é necessário que o sector agrícola desempenhe todas estas cinco funções para uma sociedade se desenvolver
economicamente, mas é difícil imaginar uma situação na qual o desenvolvimento possa verificar-se sem o apoio da agricultura
em, pelo menos, duas ou três delas e, para que isso aconteça a produtividade tem de aumentar.
O próspero sector agrário também proporcionou um pronto mercado para a indústria britânica. Na verdade, a população
rural da nação de antes de meados do séc. XIX constituiu, para a maior parte das indústrias, um mercado maior que o das nações
estrangeiras. Embora apenas uma porção ínfima da receita agrícola fosse investida na indústria, a riqueza agrária contribuiu
substancialmente para a criação de infra-estruturas económicas e sociais: canais e portagens no séc. XVIII e vias-férreas no séc.
XIX. Globalmente a agricultura britânica desempenhou um papel decisivo na ascensão da indústria britânica.
O papel da agricultura no Continente diferiu do da britânica, e também de região para região. Houve uma estreita
correlação entre produtividade agrícola e industrialização de sucesso, com um gradiente de noroeste para sul e leste. A reforma
agrária foi frequentemente um pré-requisito da melhoria substancial na produtividade.
Basicamente a reforma agrária envolve uma mudança no sistema da propriedade fundiária. O movimento de vedação dos
campos em Inglaterra, que resultou na criação de explorações compactas e relativamente grandes no lugar do sistema de campos
abertos, pode ter-se por uma espécie de reforma agrária. A Revolução Francesa, que aboliu o Antigo Regime e confirmou aos
camponeses autónomos franceses a posse das suas pequenas quintas, foi um tipo diferente de reforma agrária. A Suécia e a
Dinamarca aboliram a servidão na última parte do séc. XVIII e instituíram procedimentos de vedação dos campos que, em
meados do séc. XIX, dando origem a uma classe de verdadeiros proprietários camponeses.
Noutros países, a reforma agrária teve um resultado menos feliz. Na Monarquia Habsburga, José II tentou, na década de
1780, aliviar os fardos que pesavam sobre o campesinato, com resultados medíocres; a emancipação total teve de esperar pela
revolução de 1848.
Em Espanha e em Itália, tentativas de reforma agrária colidiram com as necessidades governamentais de receitas, e foram
eficazmente reprimidas.
Os Estados Balcânicos herdaram os seus sistemas de propriedade fundiária do período do domínio turco, mas não fizeram
tentativas sérias para os alterarem.

20
A Rússia Imperial distinguiu-se por passar por dois tipos muito distintos de reforma agrária em duas gerações sucessivas. A
emancipação dos servos, empreendida relutantemente em 1861, os antigos servos, embora libertados dos seus senhores,
pertenciam agora compulsivamente à comuna camponesa, e para dela saírem, tinham de obter um passe especial, mas mesmo
que partissem, eram ainda obrigados a pagar a sua parte de impostos e pagamentos liberatórios. A seguir à Revolução de 1905-6,
o Governo aboliu outros pagamentos liberatórios e decretou a Reforma, que previa a propriedade privada da terra e a
consolidação de parcelas em quintas compactas. Em resultado desta «aposta nos fortes», a produtividade da agricultura russa
começou a ascender, mas todo o país foi, pouco depois, submerso pela guerra e pela revolução.
O desempenho da agricultura francesa é, à primeira vista, tão contraditório e paradoxal como o da sua indústria. Esta
frequentemente acusada de ser orientada para a agricultura de subsistência e tecnicamente atrasada, também tinha muitos
agricultores progressistas. Principalmente nas regiões mais férteis do Norte e do Leste, as quintas prósperas produziam um
excedente comerciável para alimentar a crescente população urbana a níveis de nutrição cada vez mais elevados. Há igualmente
alguns indícios de que as poupanças originadas na agricultura eram aplicadas em investimentos industriais ou pelo menos, em
infra-estruturas. Por fim, a indústria vinícola, que faz parte da agricultura, foi uma importante fonte de receitas de exportação.
Na Bélgica, nos Países Baixos e na Suíça, a agricultura há muito que estava orientada para o mercado. A produtividade
nestes três países situava-se entre as mais elevadas do Continente.
Uma grande variedade caracterizou o desempenho da agricultura nos diversos Estados alemães e, mais tarde, no novo
Império Alemão. A agricultura contribuiu muito para o desempenho económico tanto da Dinamarca como da Suécia, embora não
para o da Noruega. A forma mais espectacular por que os sectores primários dos países escandinavos contribuíram para o seu
desenvolvimento económico foi por meio das exportações.
A Finlândia, que era governada pelo czar da Rússia como um grão-ducado, é por vezes incluída nos países escandinavos.
Porém, ao contrário deles, não sofreu qualquer mudança estrutural substancial no séc. XIX. Continuou predominantemente
agrária com uma agricultura de baixa produtividade e baixas receitas médias. A sua maior exportação era a madeira.
A agricultura austro-húngara, assim como a sua indústria, reflectiu fielmente a localização do Império entre o ocidente e o
oriente. O crescimento da produção agrícola, parece ter sido razoavelmente satisfatório ao longo do século em ambas as
metades do Império. A população camponesa constituía um mercado adequado, e até dinâmico, para os têxteis e bens de
consumo. A metade húngara da Monarquia «exportava» produtos agrícolas, especialmente trigo e farinha, para a metade
austríaca, em troca de produtos fabricados e, também, de investimentos de capital. A incapacidade do Império como um todo em
desenvolver uma exportação agrícola substancial pode atribuir-se a dois factores: as dificuldades de transportes; e o facto de o
mercado interno absorver a maior parte da produção.
Espanha, Portugal, Itália, Grécia, não passaram por nenhuma reforma agrária significativa no séc. XIX. Com bem mais de
metade da população envolvida na agricultura, mesmo nos primeiros anos do séc. XX, a produtividade e as receitas mantiveram-
se entre as mais baixas da Europa. Embora estes quatro países exportassem alguma fruta e vinho, para que os seus climas eram
adequados, todos eles se mantiveram em parte dependentes de importações para as suas necessidades.
A agricultura desempenhou um papel dinâmico no processo de industrialização americana e na ascensão dos Estados
Unidos à posição de maior potência do mundo. Desde o período colonial, a agricultura forneceu em abundância não só a
alimentação e as matérias-primas, mas também a maior parte das suas exportações. A sua agricultura esteve orientada para o
mercado desde o princípio; embora houvesse, por ex: casos de produção doméstica de bens de consumo e de tecidos, os
agricultores americanos cedo contaram com alguns artesãos rurais e com pequenas indústrias para o fabrico das suas
ferramentas e doutros artigos. Os EUA nem tiveram nem necessitaram duma reforma agrária ao estilo europeu, mas
beneficiaram dum extraordinário estímulo à economia agrícola na disposição do domínio público. Desde o começo que o Governo
seguiu uma política de vendas a indivíduos particulares (e a algumas empresas) em propriedade aloidal - por outras palavras, um
mercado livre da terra.
Talvez em nenhum outro país a agricultura tenha desempenhado um papel tão vital no processo da industrialização como
no Japão. Através do imposto sobre a propriedade da terra de 1873, a agricultura também financiou a maior parte das despesas
orçamentais (94% na década de 1870 e quase metade ainda em 1900) e, deste modo, indirectamente, uma parte da formação de
capital. Apesar da sua pobreza, os camponeses japoneses constituíam o maior mercado para a indústria japonesa.
FINANÇA E BANCA (PÁG 345)
O processo de industrialização no séc XIX foi acompanhado por uma proliferação no número e variedade de bancos e
outras instituições financeiras necessárias ao fornecimento dos préstimos financeiros exigidos pelo mecanismo económico cada
vez mais complexo e alargado. Dum largo espectro de formas possíveis de interacção entre o sector financeiro e os outros
sectores económicos que carecem dos seus serviços, podemos isolar três casos-tipo: aquele no qual o sector financeiro
desempenha um papel positivo e indutor de crescimento; aquele no qual o sector financeiro é essencialmente neutro ou
meramente permissivo; aquele que o financiamento inadequado restringe ou impede o desenvolvimento industrial e comercial.
Os sistemas bancários inglês e escocês foram distintos até à segunda metade do séc. XIX, o sistema irlandês era também
distinto, ao passo que o do País de Gales estava agregado ao inglês. De acordo com a Lei Bancária de 1844, o Banco de Inglaterra
trocou o seu monopólio da banca comercial por um monopólio de emissão de notas. Manteve-se primordialmente um banco
estatal (embora de propriedade privada), fornecendo serviços financeiros ao Governo; no entanto, tornou-se também, cada vez
mais, um banco dos banqueiros, e em finais do século tinha conscientemente adoptado as funções dum banco central.
O sistema bancário francês, como o inglês, era dominado por um banco de inspiração política que fazia a maior parte dos
seus negócios com o Governo, o Banco de França. Criado por Napoleão em 1800, rapidamente adquiriu um monopólio de
emissão de notas e outros privilégios especiais. Antes de 1848, não tinha bancos comerciais nem bancos semelhantes aos bancos
ingleses de província. Era, com efeito, sub-bancária, pois os notários provinciais, que desempenhavam algumas funções de

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corretagem, não podiam suprir o papel dos bancos em falta. A França tinha, na primeira metade do séc XIX, outro tipo
importante de instituição financeira. Era a haut banque parisienne, banqueiros comerciais privados semelhantes aos de Londres.
As actividades principais destes bancos privados (referiam-se a si próprios como de «negócios») eram, como em Londres, o
financiamento do comércio internacional e as transacções em moeda e ouro e prata estrangeiros, mas, a seguir às Guerras
Napoleónicas, começaram a colocar empréstimos e outros títulos públicos, como os das empresas de canais e caminhos-de-ferro.
Os bancos franceses, quer aos privados, quer os comerciais, também abriram o caminho à promoção do investimento
francês no estrangeiro. Globalmente, o sistema bancário francês da primeira metade do século XIX, travado pelo
conservadorismo governamental e pelas políticas restritivas do Banco de França, não conseguiu explorar todo o seu potencial na
promoção do desenvolvimento da economia; na segunda metade do século foi um pouco mais expansivo, mas menos que os
sistemas da Bélgica e da Alemanha.
Na Bélgica a Société Générale de Belgique e o Banque de Belgique operaram maravilhas na promoção da industrialização
do seu pequeno país, mas a própria latitude dos seus poderes, juntamente com a sua intensa rivalidade, conduziu-os a
dificuldades. Em 1850, o Governo criou o Banque Nationale de Belgique como um banco central com o monopólio de emissão de
notas, libertando os demais e todos os que foram posteriormente autorizados para o exercício de funções bancárias comerciais e
de investimento normais. Globalmente, o sistema bancário belga atingiu elevadas marcas no seu papel de promoção e
desenvolvimento da sua economia.
Os Holandeses estavam muito longe da posição de primazia nas finanças e comércio europeus que tinham ocupado no séc.
XVII, mas continuavam a ter reservas de poder financeiro. Em 1814, o Reino Unido dos Países Baixos ocupou o lugar da defunta
República Holandesa, o Nederlandsche Bank ocupou o lugar do Banco de Amesterdão, que tinha sido extinto durante a ocupação
francesa.
A Suíça que veio a revelar-se um centro financeiro mundial de primeira grandeza no séc. XX, era muito menos importante
antes de 1914. Genebra foi, na Renascença, um dos centros financeiros chave da Europa e os banqueiros privados suíços eram
ainda importantes no séc. XVIII. No entanto, as bases da ulterior proeminência suíça foram lançadas no séc. XIX. Inúmeros novos
bancos foram criados segundo o modelo do Crédit Mobilier francês, incluindo vários dos que mais tarde se tornariam famosos.
Não se podia dizer que existisse um sistema bancário alemão na primeira metade do séc. XIX. Os vários Estados soberanos,
com os seus distintos sistemas monetários e de cunhagem, impediram a emergência dum sistema financeiro unificado. A Prússia,
a Saxónia e a Baviera tinham bancos com o monopólio da emissão de notas (primeiro deles, o banco da Baviera, fundado em
1835), mas eram rigorosamente fiscalizados pelos respectivos governos e estavam sobretudo ao serviço das finanças públicas.
Existiam inúmeros bancos privados, especialmente em importantes centros comerciais, mas a sua principal preocupação era o
financiamento do comércio local e internacional ou, nalguns casos, a colocação de fortunas pessoais. Da década de 1840 em
diante, alguns deles começaram a envolver-se nas finanças promocionais, fundando e participando no capital de novas empresas
industriais e, em especial, nas vias-férreas. Foi o prenúncio duma nova era na banca alemã. A característica distintiva do sistema
financeiro alemão tal como se desenvolveu na segunda metade do século, foi a banca comercial «universal» ou banca «mista»,
dedicada tanto ao crédito a curto prazo como a investimento a longo prazo, ou banca promocional. Uma outra importante
inovação institucional o Reichsbank, criado em 1875, encimou a estrutura financeira alemã. Também ele foi, em parte, uma
consequência da vitória da Prússia sobre a França e da avultada indemnização da reparação que aquela acarretou. Na designação,
foi meramente uma transformação do Banco Estatal Prussiano, mas os seus recursos e poderes foram grandemente alargados.
Detinha o monopólio da emissão de notas e agia como banco central. Como tal, podia sustentar os Kreditbank em tempos
difíceis, e permitiu-lhes, assim, assumirem riscos maiores aos que assumiriam em condições normais. O desenvolvimento da
banca alemã na segunda metade do séc. XIX foi uma das consequências mais decisivas – na verdade, como alguns diriam, uma
causa – do igualmente rápido processo de industrialização. Talvez se tenha sobrevalorizado o papel dos bancos; naturalmente,
muitos outros elementos contribuíram para o sucesso da indústria alemã e, por sua vez, esse mesmo sucesso contribuiu para o
sucesso e prosperidade do sistema bancário. É um facto que os bancos desempenharam um papel proeminente no
desenvolvimento industrial; globalmente, o sistema bancário alemão era, no princípio do século XX, talvez o mais poderoso.
A Áustria (ou Monarquia Habsburga) adoptou o seu moderno sistema bancário ao mesmo tempo que a Alemanha. O
primeiro banco comercial moderno foi o Creditanstalt austríaco, constituído em Dezembro de 1855. A sua fundação foi o
resultado directo da rivalidade dos irmãos Pereire e dos Rothschild. Os Pereire lançaram, por ele, uma oferta de compra, ao
mesmo tempo que conseguiam adquirir os Caminhos-de-ferro Estatais Austríacos para o Crédit Mobilier, mas os Rothschild, que
tinham sido os «judeus da corte» dos Habsburgos desde o tempo de Napoleão, inviabilizaram o negócio. Mantém-se, hoje, após
transformações profundas, uma das instituições financeiras mais poderosas da Europa Central.
Apesar de a economia da Suécia ser relativamente atrasada na primeira metade do séc. XIX, tinha uma longa tradição
bancária. O Svreiges Riksbank (o antecessor do Banco Nacional da Suécia), fundado em 1656, foi, na verdade, o primeiro banco a
emitir verdadeiras notas. No entanto, a história moderna da banca na Suécia, como a de muitos outros países europeus, data das
décadas de 1850 e 1860 e buscou a sua inspiração no exemplo do Crédit Mobilier. Poder discutir-se se a bem sucedida
transformação da economia sueca contribuiu para a prosperidade dos bancos, ou vice-versa, mas é evidente que ambos
progrediram juntos.
Na primeira metade do séc. XIX, a Dinamarca tinha um banco central, o National Bank, de capitais privados mas dominado
pelo Governo, e várias pequenas caixas económicas. Como a Suécia, a sua história bancária moderna remonta à década de 1850.
Financeiramente, a Noruega e a Finlândia estavam menos avançadas que a Dinamarca e a Suécia, mas nestes quatro países os
níveis gerais de alfabetização tornaram a população mais apta ao aproveitamento dos instrumentos bancários.
As nações latinas do Mediterrâneo também lograram obter modernas instituições financeiras nas décadas de 1850 e 1860,
mas principalmente por iniciativa francesa e empregando capital francês.

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A Espanha tinha um banco emissor, o Banco de San Carlos (mais tarde designado Banco de España), que datava de 1782,
mas a sua principal preocupação eram as finanças públicas. A importante cidade comercial e industrial de Barcelona tinha
também um banco emissor que remontava à década de 1840, mas não se envolveu em actividades promocionais. Em 1855,
depois de uma mudança de governo ter instalado uma facção «moderada», persuadiram o ministro das Finanças a apresentar um
projecto de lei nas Cortes autorizando o Governo a dar alvarás a entidades bancárias do modelo do Crédit Mobilier. No princípio
do ano seguinte, instituíram a Sociedad General de Credito Mobiliario Español. A lei que autorizava o Credito Mobiliario Español
permitiu ao Governo dar alvarás a instituições semelhantes sem qualquer outro consentimento das Cortes. O pouco
desenvolvimento económico que a Espanha alcançou no séc. XIX foi, em grande medida, um resultado das actividades destas
instituições de inspiração francesa.
Pouco depois de obterem o alvará para o Credito Mobiliario Español, os Pereire acordaram com o Governo Português uma
instituição similar em Lisboa. A câmara alta do Parlamento Português recusou-se a ratificar o acordo. Mais tarde nesse mesmo
ano, outro especulador financeiro francês, que tinha auxiliado o Governo na obtenção de um empréstimo, conseguiu um alvará
para um Crédit Mobilier português, mas foi de pouca dura. O investidor abriu falência na crise de 1857, e a instituição afundou-se
com ele. Subsequentemente, empresários franceses contribuíram para a formação de dois bancos hipotecários nos moldes do
Crédit Foncier, mas nenhum outro investidor considerou Portugal zona vantajosa para a banca de investimentos.
Os Pereire também pretendiam abrir uma filial no florescente estado do Piemonte (Itália). Cavour, o génio impulsor desse
desenvolvimento, recebeu de braços abertos o seu interesse como contrapeso da influência que os Rothschild exerciam sobre
todas as relações financeiras do pequeno reino; mas acabou por se decidir contra a alienação daquele poder financeiro, e
concedeu à Cassa del Commercio e delle Industrie, propriedade dos últimos, o único alvará dum banco de investimentos de
capitais privados do Piemonte. Devido a uma má administração resultaram grandes prejuízos, os Rothschild retiraram-se em
1860, o banco estagnou até 1863, altura em que os Pereire adquiriram a participação maioritária, aumentaram o seu capital
social e mudaram-lhe o nome para Società Generale de Credito Mobiliare Italiano. Nos anos seguintes, passou a estar associada a
praticamente todos os novos empreendimentos em Itália, incluindo vias-férreas, siderurgias e metalurgias. Mantinha relações de
proximidade com altas esferas do poder e era o segundo maior banco de Itália, logo a seguir à Banca Nazionale. Porém, em plena
crise de 1893, a revelação de graves escândalos na sua organização interna e nas suas relações com o Governo forçou-o a fechar.
A Guerra da Crimeia revelou dramaticamente o atraso económico da Rússia face ao ocidente e levou o governo do Czar a
uma campanha de construção de vias-férreas e à emancipação dos servos. Também o levou a um exame dos sistemas financeiro
e bancário. A maior instituição financeira era o Banco Estatal, fundado em 1860 era totalmente detido pelo Estado e estava sob
supervisão directa do ministério das Finanças. De início, não emitiu notas de banco – o papel-moeda inconvertível era emitido
directamente pela imprensa do Estado, mas quando, em 1897, a Rússia aderiu ao padrão-ouro, o Banco Estatal ficou com o
monopólio da emissão de notas.
Os financeiros europeus também colaboraram com a sua experiência com os seus vizinhos do Próximo e Médio Oriente. O
primeiro banco comercial fundado na região (e o primeiro banco britânico num país estrangeiro), o Banco do Egipto, começou a
funcionar em 1855.
Desenvolvimento semelhante ocorreu no venerável e decrépito Império Otomano. Em 1856, um grupo de investidores
britânicos organizou o Banco Otomano em Constantinopla como um simples banco comercial. Alguns anos depois solicitou um
alvará de único banco emissor, mas os ministros reformadores de formação francesa desejavam, ao tempo, uma ligação com o
mercado financeiro francês. Em 1863, obrigaram o Banco Otomano a unir-se a um grupo francês encabeçado pelo Crédit Mobilier
numa nova instituição, o Banque Impériale Otomane. Era uma instituição extremamente invulgar, combinando as funções de
banco central e o monopólio da emissão de notas com as dum regular banco comercial e de investimentos.
A Pérsia (actual Irão) tinha uma instituição semelhante, o Banco Imperial da Pérsia, fundado por interesses britânicos. Os
investidores tinham pretendido usar o banco para financiar a construção de caminhos-de-ferro, mas o Governo Russo, receoso da
penetração britânica no seu flanco sul, exerceu pressões diplomáticas sobre o Xá para impedir a construção de vias-férreas. O
banco, criado, assim, «por lapso» e gerido por não-profissionais da área financeira, pouco contribuiu para o desenvolvimento
económico da Pérsia.
O Banco de Hong-Kong e Xangai, fundado por comerciantes britânicos aí instalados, desempenhou um papel de relevo nas
finanças chinesas e é, hoje em dia, uma grande empresa multinacional. A principal função destes bancos era o financiamento do
comércio internacional, mas também colaboraram na emissão de títulos de empresas e governos estrangeiros.
No séc. XIX, a banca teve, nos Estados Unidos, uma carreira diversificada. Nos primeiros anos da república a luta entre os
Hamiltonianos, que defendiam um forte protagonismo do Governo Federal, e os Jeffersonianos, que preferiam deixar a política
aos Estados individuais, reflectiu-se na história da Banca. Durante a guerra civil, e em parte como medida de finanças de guerra, o
Congresso criou o Sistema Bancário Nacional, que permitia aos bancos munidos de alvará federal competir com bancos
constituídos ao abrigo do alvará estadual. A concorrência era injusta porque o Congresso também impunha um imposto
discriminatório sobre as emissões de notas pelos bancos estaduais, o que forçou muito deles a converterem-se em bancos
nacionais. Ambos os sistemas bancários, estadual e nacional, suportaram normas e regulamentos excessivamente restritivos. Por
ex: a ramificação bancária era, em geral, proibida. Os bancos não podiam envolver-se nas finanças internacionais, o que
significava que o grande volume de importações e exportações do país era financiado a partir da Europa e pelo número
relativamente pequeno de bancos comerciais privados. Alguns acreditavam que a ausência de um banco central também tornava
o país mais susceptível aos pânicos financeiros e às depressões que ocorreram. Para remediar esta falha, o Congresso criou, em
1913, o Sistema de Reserva Federal, que, entre outras coisas, aliviou os bancos nacionais da sua função de emissores de notas,
mas também lhes permitiu o envolvimento nas finanças internacionais.

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Em resumo, a experiência dos Estados Unidos, com um rápido crescimento económico e um sistema bancário em mudança
e de certa forma caótico, parece mostrar que, apesar de os bancos serem necessários ao crescimento económico em sociedades
industriais complexas, já um sistema racional não o é.
O PAPEL DO ESTADO (PÁG 355)
É possível ao Governo desempenhar diversos papéis em relação à economia. A função mais fundamental do Governo na
esfera económica, que não pode ser evitada ou dispensada, é a conformação do contexto legal do esforço económico. Esta pode
variar entre uma parte política de «não interferência» e uma de domínio estatal absoluto.
A segunda grande categoria de formas por que o Governo participa na economia inclui actividades promocionais que
excluam as directamente produtivas. Entre elas se contam tarifas, isenções fiscais, abatimento e subsídios, bem como medidas
como a criação de gabinetes de turismo ou imigração. Nem todas as actividades desta categoria são necessariamente
conducentes ao crescimento; por ex: uma tarifa proteccionista pode perpetuar uma indústria ineficiente.
Em alguns aspectos semelhantes às actividades promocionais, mas normalmente com um objectivo diferente em mente,
são as funções reguladoras de governo. Estas variam entre medidas para proteger a saúde e segurança de grupos específicos de
trabalhadores e fiscalizações rigorosas de preços, salários e produção. O objectivo de tais regulamentações pode ser o de
fomentar o crescimento, mas, mais frequentemente, o objectivo está relacionado com o crescimento; destina-se, antes, a
eliminar a injustiça ou a exploração. Neste último caso, os efeitos secundários e não desejados da regulamentação podem
retardar o crescimento.
Por fim, os Governos podem tomar parte em actividades directamente produtivas. Estas variam entre medidas benignas,
como o oferecimento de estruturas educativas, e a propriedade e domínios absolutos pelo Estado de todos os bens produtivos.
Essa participação governamental pode ser essencialmente empreendedora ou inovadora e, consequentemente, favorável à
iniciativa privada; ou pode competir com, ou suplantar a iniciativa privada, como no caso da propriedade estatal de empresas de
serviços públicos ou de instalações telegráficas.
Apesar da sua reputação de berço do governo minimalista, a dimensão da administração pública no Reino Unido (ou Grã-
Bretanha) foi provavelmente típica da Europa como um todo; quanto muito, foi ligeiramente maior, em termos relativos, que a
maioria das nações continentais. Antes do séc. XIX, os serviços postais privados coexistiam com serviços postais públicos pesados
e ineficientes, que eram mantidos mais com fins de censura, espionagem e receitas que por utilidade pública. O moderno serviço
postal teve início em 1840, quando Sir Rowland Hill, correio-mor do Reino Unido, introduziu a franquia pré-paga e uniforme. Em
poucos anos, a maioria das nações ocidentais tinham adoptado sistemas semelhantes. A mesma política foi mais tarde seguida,
no decurso do século, após a invenção do telefone. A maior parte dos países continentais seguiu o exemplo britânico, mas nos
estados Unidos tanto o telégrafo como o telefone foram deixados à iniciativa privada. Exemplo muito invulgar de empresa
privada foi a Companhia das Índias Orientais. Embora tivesse sido fundada no princípio do séc. XVII como empresa estritamente
comercial, no princípio do séc. XIX tinha-se tornado a governante da Índia, «um Estado dentro dum Estado».
Houve um sector em que a Grã-Bretanha correspondeu à sua reputação minimalista. Em campo algum se deixou ficar tão
atrás das demais nações ocidentais como no apoio público à educação. Até 1870, as únicas escolas disponíveis eram geridas por
fundações privadas ou religiosas, a maior parte das quais cobrava propinas, com excepção das escolas paroquianas da Escócia.
Em resultado disso, metade da população não recebia qualquer educação formal, apenas os ricos recebiam mais que os
rudimentar. Esse factor, mais que qualquer outro, servia para preservar a arcaica estrutura britânica de classes numa época de
rápidas mudanças sociais e contribuiu para o declínio relativo da primazia industrial britânica. A Lei de Bases da Educação de 1870
instituiu o apoio do Estado às escolas privadas e ligadas à Igreja já existentes que obedecessem a certos critérios. No entanto, só
em 1891 é que a educação se tornou, e em princípio gratuita e universal até aos 12 anos. Mesmo em 1920, apenas um oitavo da
população elegível frequentara uma escola secundária.
No ensino superior, a Inglaterra também ficava muito atrás do Continente e dos Estados Unidos. Até serem instituídas
bolsas de estudo estatais no séc. XX, Oxford e Cambridge apenas estavam abertas aos filhos dos abastados, sobretudo
aristocracia. Por contraste, a Escócia, com uma população muito inferior, tinha quatro universidades antigas e prósperas, abertas
a todos os candidatos qualificados.
A maioria dos países continentais tinha longas tradições de paternalismo estatal ou Estatismo. Em vários deles, o Estado
detinha florestas, minas e mesmo empresas industriais. No séc. XVIII, à medida que a superioridade da tecnologia britânica em
determinadas indústrias se tornou óbvia os outros Governos, patrocinaram esforços de obtenção de acesso a essa tecnologia,
pela espionagem ou por outras formas. A tecnologia em rápido desenvolvimento dos transportes – especificamente, a dos
caminhos-de-ferro – obrigou todos os governos ao envolvimento. O britânico, fiel à sua tradição minimalista, fez o mínimo,
deixando a promoção, a construção e a maior parte dos pormenores de funcionamento à iniciativa privada; mas mesmo o
Parlamento Britânico teve de aprovar legislação de base que permitisse às empresas comprar terras para servidões de passagem
e a Lei do Caminho-de-Ferro de 1844 fixou uma série de normas e regulamentos, incluindo uma tarifa máxima para passageiros
de terceira classe. Nos outros países, os Governos interessam-se muito mais pelos caminhos-de-ferro. Outros países, se não
começaram com redes estatais, mais cedo ou mais tarde aproximar-se-iam do princípio da propriedade pública.
Se, em retrospectiva, o séc. XIX parece ser um século em que o Governo foi menos usurpador que em séculos anteriores,
ou que o que se seguiu, isso não significa que o Governo não tenha desempenhado papel algum.
TEMA 7 - 13. VISÃO DE CONJUNTO DA ECONOMIA MUNDIAL NO SÉCULO XX (PÁG 360 - 381)
Estimulada pelo ritmo acelerado da mudança tecnológica, ferida pelas 2 Guerras mais destrutivas da história, a economia
mundial do século XX assumiu dimensões novas e sem precedentes e onde estas dimensões foram mais evidentes foi no
comportamento populacional.
PRINCIPAIS FACTORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA CARACTERIZAR O SÉCULO XX

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O crescimento demográfico, devido à diminuição da mortalidade, em virtude do progresso científico e tecnológico na
medicina, da melhoria nos cuidados médicos e da melhor nutrição devido ao aumento da produção agrícola. Em consequência
destas melhorias também a esperança média de vida aumentou.
O crescimento urbano, em consequência das fortes migrações vindas dos meios rurais em busca de melhores condições de
vida e, possibilitadas pela lei da migração que permite uma maior liberdade de movimentação de pessoas, nomeadamente após a
Segunda Guerra Mundial.
A interacção entre a ciência e tecnologia: com a tecnologia permitiram uma recuperação rápida de algumas faltas
temporárias de recursos, sobretudo no pós-guerra. Novas formas de produtividade agrícola permitiram aumentar a produção.
A nível de fontes energéticas, petróleo e gás natural vieram substituir o carvão. O desenvolvimento dos motores de
combustão permitiram aumentar potencialidades, competindo c/ o carvão e energia hidráulica no aquecimento interior e na pro-
dução de electricidade. Na indústria, a locomotiva a vapor, o aperfeiçoamento automóvel e outros meios de transporte propor-
cionaram uma maior flexibilidade e rapidez de deslocação. Ainda nesta área, surge a primeira linha de montagem como método
de produção, modelo que rapidamente é adoptado pela Europa, tornando esta indústria grande absorvente de mão-de-obra.
Os meios de comunicação como televisão, rádio, telégrafo facilitaram as comunicações até então difíceis e morosas.
Na química, surgiram inovações como os corantes e produtos farmacêuticos sintéticos. Surgem os tecidos sintéticos e o
plástico feito a partir do petróleo, que passa a substituir a madeira. Surgem os computadores electrónicos e as primeiras
calculadoras, acessórios que aliados à ciência e tecnologia têm grande impacto. A produção por trabalhador, ou por trabalhador-
hora, é a medida mais significativa da eficiência económica que resultou da tecnologia.
Ocorreram grandes mudanças a nível político, social e económico, nomeadamente a criação de novas políticas educativas,
o Governo passa a desempenhar um novo papel na economia e nas relações internacionais, ao mesmo tempo que surgem
organizações internacionais como FMI - Fundo Monetário Europeu ou o Banco Central Europeu, que desempenham importantes
papéis na resolução de assuntos económicos.
POPULAÇÃO (PÁG 360)
A população da Europa mais que duplicou no séc. XIX, mas a do mundo fora das áreas de colonização europeia aumentou
pouco mais de 20 %. No séc. XX, por outro lado, o crescimento populacional na Europa desacelerou, enquanto o do resto do
mundo acelerou a taxas sem precedentes. A maior parte desse crescimento ocorreu desde a II Guerra Mundial.
A causa do formidável aumento nos números foi o declínio das taxas brutas de mortalidade, especialmente em países não
ocidentais. As nações ocidentais sofreram uma «transição demográfica» (de um regime de elevadas taxas de natalidade e
mortalidade para um muito inferior) em finais do séc. XIX e princípio do séc. XX. Factor de maior importância contributivo para o
declínio da taxa de mortalidade global foi o declínio da mortalidade infantil (com menos de 1 ano).
Consequência da maior importância do declínio das taxas de mortalidade foi um aumento da esperança média de vida. Isto
é frequentemente medido pelo conceito «esperança de vida à nascença», o número médio de anos que as pessoas nascidas num
dado ano viverão.
No começo do séc. XX, este valor situava-se normalmente abaixo de 50, mesmo em países avançados. Há uma estrita
correlação entre estas estatísticas, em especial as da esperança de vida, e várias medidas de bem-estar – como o rendimento per
capita, os níveis nutricionais e os padrões de cuidados de saúde. Assim, em países, com altos rendimentos médios a população,
por regra, é mais bem alimentada e tem melhor assistência médica que a de países de rendimentos nitidamente inferiores;
consequentemente, as taxas de mortalidade são inferiores e a esperança de vida correspondentemente maior.
O processo de urbanização, tão marcado na Europa, no séc. XIX, continuou no XX, espalhando-se a outras regiões do
mundo. Em nações industriais avançadas, as cidades são normalmente centros de afluência, bem como de cultura, uma vez que a
produtividade e os rendimentos são geralmente mais elevados nas ocupações urbanas que nas ocupações rurais. Todavia, isto
não é necessariamente verdade nas nações do Terceiro Mundo.
Nelas, uma grande proporção dos habitantes urbanos consiste em migrantes desempregados ou sub-empregados vindos
dos campos e vivendo em miseráveis bairros de lata na orla dos centros citadinos.
O crescimento das cidades deu-se, em primeiro lugar, em resultado da migração interna, à medida que a população
excedente de áreas rurais e pequenas cidades procurava as melhores oportunidades e a liberdade da vida e sedução citadinas. A
migração internacional, característica tão destacada da história populacional do séc. XIX, também continuou, embora sob
circunstâncias de algum modo diferentes. A maior parte da migração do séc. XIX tinha sido motivada por pressões económicas
internas e oportunidades no estrangeiro. Estes factores mantiveram-se influentes no séc. XX, mas a opressão política (ou a sua
ameaça) na sequência das guerras e revoluções também desempenhou um papel de relevo.
O tipo de migração internacional do séc. XIX atingiu o seu auge nos anos imediatamente anteriores à I Guerra Mundial,
principalmente para os Estados Unidos. A depressão dos anos 30 reduziu drasticamente as oportunidades na América e a II
Guerra Mundial reduziu ainda mais a maré de imigração, muitos refugiados da devastação dos tempos de guerra e das novas
repressões políticas fizeram engrossar o número de imigrantes.
O carácter de imigração também mudou em décadas recentes. Anteriormente, os imigrantes eram, na sua esmagadora
maioria, europeus; hoje muitos mais chegam da Ásia e da América Latina. O carácter de imigração e emigração europeia tem-se
também modificado no séc. XX. No séc. XIX, a Europa forneceu o grosso dos migrantes internacionais, mas hoje em dia, a Europa
Ocidental tornou-se um abrigo de refugiados políticos e, pelo menos temporariamente, uma terra de oportunidades para as
multidões empobrecidas da Europa Mediterrânica, do Norte de África e de regiões do Médio Oriente.
A Alemanha Ocidental suportou o ímpeto da maré de refugiados, que a princípio pareceu um fardo pesado; mas, com a
reanimação económica da Europa Ocidental Continental, nos anos 50 e 60, com a sua grande procura de mão-de-obra
ultrapassou a oferta de refugiados, o fardo mostrou ser uma benção.

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Vários países nomeadamente a França, a Suíça, a Bélgica, bem como a Alemanha Ocidental, convidaram «trabalhadores
hóspedes» de Portugal, da Espanha, da Itália, da Grécia, da Jugoslávia, da Turquia e do Norte de África para complementarem a
sua mão-de-obra nativa. Na maior parte dos casos, estas migrações foram temporárias, ou assim se pretendia que fossem, mas
também levaram a alguma imigração permanente.
RECURSOS (PÁG 366)
O crescimento sem precedentes da população no século XX, bem como a fortuna crescente de pelo menos uma parte do
mundo, resultaram numa procura sem precedentes dos recursos mundiais. A economia mundial reagiu razoavelmente bem às
exigências que se lhe fizeram, em grande parte, à interacção crescente da ciência e da tecnologia, com a economia.
Os agrónomos descobriram novas formas de aumentar o rendimento das culturas, os engenheiros descobriram novas
maneiras de aumentar a produtividade dos minerais, os cientistas descobriram novas utilizações para os recursos existentes e, na
verdade, criaram novos recursos a partir dos velhos na forma de produtos sintéticos.
Em termos de recursos, o desenvolvimento mais importante no século XX, tem sido uma mudança da natureza e das
fontes da energia primária:
 no século XIX, o carvão tornou-se a principal fonte de energia nas nações em curso de industrialização,
substituindo em grande medida a madeira, o carvão vegetal, o vento e a energia hidráulica;
 no século XX, o carvão tem sido largamente, embora não completamente, substituído por novas fontes de energia,
especialmente o petróleo e o gás natural;
TECNOLOGIA (PÁG. 368)
Em épocas anteriores, a marca do sucesso das sociedades humanas foi a sua capacidade para se adaptarem aos
ambientes. No séc. XX, a marca do sucesso foi a sua capacidade para manipular o ambiente e adaptá-lo às necessidades da
sociedade. O meio fundamental de manipulação e adaptação é a tecnologia – especificamente a tecnologia baseada na ciência
moderna. Importante causa do ritmo mais acelerado da mudança social no séc. XX, é notória a aceleração do progresso científico
e tecnológico.
A história recente dos transportes e das comunicações proporcionam um exemplo da aceleração da mudança tecnológica.
No princípio do séc. XIX, a rapidez das viagens não tinha mudado significativamente desde o período helénico. Até à invenção do
telégrafo eléctrico, a comunicação com distâncias apreciáveis estava limitada pela velocidade dos mensageiros humanos.
A base científica da indústria moderna resultou em centenas de novos produtos e materiais. Depois da invenção da seda
artificial, criaram-se dúzias de fibras têxteis artificiais ou sintéticas. No séc. XX, os materiais plásticos feitos a partir do petróleo e
doutros hidrocarbonetos substituíram a madeira, os metais, as louças de barro e o papel em milhares de usos que vão desde os
pequenos contentores até às máquinas perfuradoras de alta velocidade. O emprego crescente de energia eléctrica e mecânica, a
invenção de novos dispositivos que poupam mão-de-obra e o desenvolvimento de instrumentos automáticos de gestão causaram
alterações nas condições de vida e trabalho de maior projecção que a chamada «revolução industrial» britânica.
No início do séc. XX, empregavam-se una quantos dispositivos mecânicos rudimentares, principalmente c/ fins comerciais,
mas a era do computador electrónico só teve início após a II Guerra Mundial. Desde então, o progresso tem rivalizado com a
velocidade a que opera. Sem ele, muitos outros avanços científicos, como a exploração do espaço, teriam sido impossíveis.
Outro requisito do avanço científico e técnico é uma considerável disponibilidade de mão-de-obra especializada – ou
«cérebro». No começo do séc. XX, praticamente todos os países ocidentais tinham elevadas taxas de alfabetização, em forte
contraste com as taxas baixas da maior parte do resto do mundo. O fosso técnico, cada vez maior entre regiões desenvolvidas e
subdesenvolvidas do mundo está patente em diferenças de níveis educacionais, bem como em diferenças de rendimento.
A mera alfabetização, por muito importante que seja para a iniciação e manutenção do desenvolvimento económico, não é
suficiente para o mundo de alta tecnologia do final do séc. XX. A capacidade dos indivíduos para participarem plena e
efectivamente na nova matriz científico-tecnológica da civilização quer como cientistas e técnicos, quer nas suas super-estruturas
comerciais e burocráticas, exige cada vez mais estudos avançados ao nível liceal ou universitário e além destes. Essa é outra razão
do fosso cada vez maior entre nações ricas e pobres.
Na agricultura, ainda hoje a principal fonte de abastecimento da maioria dos produtos alimentares e matérias-primas do
mundo, a produtividade aumentou grandemente nas nações ocidentais graças às técnicas científicas de fertilização, de selecção
de sementes e criação de gado e de contenção de pestes e à utilização de energia mecânica.
Infelizmente, estas técnicas ainda não são largamente utilizadas nos países do Terceiro Mundo, mantendo-se assim um
enorme fosso de produtividade entre países ricos e países pobres.
O aumento da produção de energia foi ainda mais notável. A maior parte do aumento verificou-se em regiões de
colonização europeia e sob formas ainda embrionárias no princípio do século. A preponderância da América do Norte
(principalmente, nos Estados Unidos) e da Europa em todos os tipos de electricidade, tanto em 1950 como nos anos 80, em
contraste com as minúsculas quotas da África e da América do Sul.
Petróleo e gás natural, que representavam no início do século, apenas uma diminuta fracção da energia total, ultra-
passaram o carvão como fonte de energia por volta de 1960, e anos 80 ascenderam a mais de 60% da produção mundial total.
O motor de combustão interna, o mais importante consumidor de petróleo, foi uma invenção do séc. XIX, mas apenas
gerou uma revolução quando foi aplicado aos dois dispositivos tecnológicos do séc. XX, o automóvel e o avião.
O automóvel veio a simbolizar o desenvolvimento económico do séc. XX da mesma forma que a locomotiva a vapor
simbolizou o do séc. XIX. A indústria da aviação comercial desenvolveu-se rapidamente nos anos 30, a par da tecnologia e, nas
vésperas da II Guerra Mundial, o serviço transatlântico ficou disponível.
INSTITUIÇÕES (PÁG 374)

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Modificada pela Mudança Tecnológica e por Alterações no Emprego dos Recursos Naturais, Pressionada pelo Crescimento
da População Mundial e alternadamente prejudicada e aliviada por Mudanças Políticas fora do âmbito da própria Economia, a
Estrutura Institucional da Economia Mundial de finais do Século XX diferiu grandemente do que fora no Princípio do Século.
A Enumeração dessas Mudanças Institucionais é praticamente impossível e variam entre a insignificância e o
sensacionalismo. Elas podem, no entanto, ser categorizadas sob uns quantos tópicos: Mudanças nas Relações Internacionais, nas
Instituições Nacionais e dentro das Próprias Nações, como sejam o Papel do Governo, a Natureza e Dimensão das Empresas e o Papel
da Educação.
RELAÇÕES INTERNACIONAIS (PÁG 375)
A economia mundial de antes de 1914 foi dominada, literal e figuradamente, pela Europa (especialmente a Ocidental) e
pelos Estados Unidos. A I Guerra Mundial e as suas concomitantes, as revoluções russas de 1917, trouxeram mudanças
fundamentais a esta estrutura. A Rússia Czarista desapareceu, sendo o seu lugar ocupado pela União Soviética, com uma forma
nova de organização económica. O Império Habsburgo, na Europa Centro-Oriental, também desapareceu, substituído por vários
Estados nacionais novos ou alargados, economicamente empobrecidos e instáveis. A Alemanha perdeu o seu império
ultramarino, bem como uma parte substancial do seu próprio território e população. Os restantes impérios europeus exploraram
as suas colónias com um fervor nacionalista crescente. O Japão, que antes da guerra tinha um pequeno império, alargou-o, e
tornou-se uma importante potência económica. A própria Europa sofreu um declínio da sua quota no comércio e nas produções
mundiais, principalmente para os Estados Unidos, para os domínios britânicos e Japão. Por fim, as décadas de 1920 e 1930
testemunharam a ascensão das ditaduras fascistas em Itália, na Alemanha e em várias outras nações europeias, também elas
com novas formas de organização económica.
A II Guerra Mundial trouxe consigo uma reorganização mundial das relações internacionais, com importantes
consequências económicas. A Europa perdeu a sua hegemonia, tanto na política como na economia. Em vez disso, uma rivalidade
entre as duas novas superpotências, os Estados Unidos e a União Soviética, substituiu a velha contenda entre as grandes
potências europeias tradicionais. Em consequência desta rivalidade, a Europa foi dividida mais clara e decisivamente que nunca
entre leste e ocidente: um bloco do Leste sob domínio soviético e um grupo ocidental de nações predominantemente
democráticas, a maior parte das quais política e economicamente ligadas aos Estados Unidos.
O Japão devastado pelo bombardeamento americano, que incluiu as duas únicas bombas atómicas, suportou quase cinco
anos de ocupação por forças militares americanas, praticamente todas as suas principais instituições (com a notável excepção da
dinastia imperial), emergindo como uma nação verdadeiramente democrática. A eclosão da Guerra da Coreia, que coincidiu com
a restauração da soberania japonesa, proporcionou um poderoso estímulo económico para o Japão, que o aproveitou muito
bem. Numas quantas décadas, o Japão tornara-se a segunda maior economia do mundo.
A China, que tinha resistido mais ou menos bem às incursões ocidentais durante mais de dois séculos, sofreu duas
mudanças radicais – revoluções – no séc. XX, bem como décadas de guerra civil e internacional. Em 1911, um grupo de jovens
reformadores com ideias ocidentais derrubou a venerável dinastia Ts’ing (Ch’ing) e tentou criar uma moderna república
democrática. Imediatamente após a II Guerra Mundial, o Partido Comunista Chinês começou o seu ataque ao Governo, que
acabaria por derrubar em 1949. Durante alguns anos, os Comunistas chineses aliaram-se à União Soviética e tentaram modelar a
sua economia de acordo com a orientação soviética. Depois de romperem com a União Soviética em 1960, ensaiaram várias
outras experiências sem sucesso. Pontualmente nos anos 70, restabeleceriam relações diplomáticas e económicas com os Estados
Unidos e outras nações ocidentais, e começou uma nova era de desenvolvimento económico com uma curiosa amálgama de
iniciativa pública e privada.
Algumas instituições internacionais datam do séc. XIX – por exemplo, a Cruz Vermelha Internacional, fundada em Genebra
em 1864, e a União Postal Universal, criada em 1874 e com sede em Berna, na Suíça -, mas o século XX tem sido prolífico na sua
criação. Existem literalmente centenas de organizações, a maioria das quais de pouco ou nenhum significado económico, mas
algumas afectam o desempenho da economia mundial de formas relevantes. A Sociedade das Nações, criada pelo tratado de
Versalhes em 1919, foi ideada por Woodrow Wilson para garantir a paz mundial e, deste modo, a prosperidade. A recusa do
Senado Norte-Americano em ratificar o tratado e dos estados Unidos em entrarem para a Sociedade, a par da fraqueza da sua
estrutura, condenou-a ao malogro. Uma das sub-agências da Sociedade, a Organização Internacional do Trabalho (OIT),
sobreviveu à Sociedade, e persiste como sub-agência das Nações Unidas.
A sucessora da Sociedade – as Nações Unidas – tem obtido uma marca ligeiramente melhor na manutenção da paz e tem
criado várias agências especializadas na resolução de assuntos económicos e afins. Duas delas precederam, na verdade, a criação
das Nações Unidas e têm desempenhado um papel de relevo na economia mundial: o Fundo Monetário Mundial (FMI) e o Banco
Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Banco Mundial) – ambas aprovadas numa conferência em Julho de 1944 em
Breton Woods no New Hamsshire, em antecipação da vitória aliada na II Guerra Mundial.
O PAPEL DO GOVERNO (PÁG 377)
Outra importante mudança institucional que afecta todas as nações no séc. XX é o papel muito mais alargado do Governo
na economia. O crescimento do Governo está em parte relacionado com as necessidades financeiras das duas guerras mundiais e
com outras considerações de defesa nacional – mas apenas em parte.
Na União Soviética, e noutras economias ao estilo soviético, o Governo assumiu total responsabilidade pela economia
através dum amplo sistema de planeamento e verificação económicos. Após a II Guerra Mundial, a maioria dos países adoptou
uma qualquer forma de planeamento económico, embora não tão abrangente ou compulsivo como o da União Soviética. Daí o
rótulo de «economias mistas» que se tem aplicado às nações da Europa Ocidental.
A outra grande razão do crescimento do Governo – os pagamentos de transferência – também têm raízes no final do séc.
XIX, mas não alcançou grandes proporções antes do fim da II Guerra Mundial. Na década de 1880, Bismarck, o chanceler alemão,

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introduziu o seguro obrigatório de doença e acidentes para trabalhadores e um sistema de pensões muito limitado para os idosos
e incapacitados, em grande parte por razões paternalistas.
Estas inovações foram gradualmente copiadas e alargadas noutros países, principalmente após a I Guerra Mundial; os
Estados Unidos, por ex: só adoptaram uma segurança social alargada (incluindo o subsídio de desemprego) depois das reformas
de New Deal, nos anos 30. Depois da II Guerra Mundial, devido a grandes pressões políticas, a maior parte dos estados
democráticos alargou em muito os seus sistemas de segurança social e outros pagamentos de transferência. Por este motivo,
tornaram-se conhecidos nalguns sectores como «Estados-Providência».
AS FORMAS DE EMPRESA (PÁG 379)
No início do séc. XX, a sociedade anónima de responsabilidade limitada, ou empresa moderna, estava já bem implantada
nos principais países industriais, mas, na maior parte das vezes, era apenas adoptada em indústrias de grandes dimensões e que
necessitavam de avultados investimentos de capital.
Estas tendências no emprego da forma societária de organização tiveram o seu início nos Estados Unidos na última parte
do séc. XIX, mas difundiram-se rapidamente pela Europa por todo o mundo no séc. XX. O motivo para tanto foi o de permitir às
empresas competirem com sucesso com outro fenómeno de origem norte-americana a empresa multinacional. As empresas
multinacionais não eram uma novidade absoluta, nem eram exclusivamente norte-americanas – o bando dos Médicis, no séc. XV,
sedeado em Florença, tinha filiais noutros países -, mas eram relativamente raras até ao séc. XX, sendo hoje bem frequentes, por
exemplo assinalável é o da Companhia Nestlé (produtos alimentares), com sede na pequena cidade de Vevey, na Suíça, mas com
instalações de produção e venda em todos os Continentes e em praticamente todos os Países do Mundo, que em anos recentes, o
seu volume total de vendas excedeu o orçamento de Estado da Suíça.
MÃO-DE-OBRA SINDICALIZADA (PÁG 380)
No princípio do séc. XX, o direito dos trabalhadores de se organizarem e negociarem colectivamente foi reconhecido (por
ex: na Grã-Bretanha e na Alemanha) a mão-de-obra sindicalizada exercia um poder considerável no mercado de trabalho. Mesmo
nesses países, a mão-de-obra sindicalizada era uma minoria. Os anos entre as duas guerras testemunharam um aumento da
adesão dos sindicatos nas nações industrializadas e uma difusão da sindicalização noutras nações menos desenvolvidas.
Desde meados da década de 1950, com o crescimento do sector terciário a das indústrias de alta tecnologia, a associação
sindical declinou, em termos de percentagem de mão-de-obra.
Na Europa Ocidental, as tendências de adesão sindical, embora distintas dos EUA, têm sido semelhantes. Diferença
significativa, é a de que na Europa as associações sindicais estão muito mais intimamente identificadas com os partidos políticos
que nos Estados Unidos.
Os nazis aboliram não só os partidos políticos como também os sindicatos. Todos os trabalhadores forma obrigados a
tornarem-se membros da Frente do Trabalho, uma organização conduzida por elementos do Partido Nazi para assegurar a
disciplina laboral.
Em Itália, na União Soviética e noutros países totalitários ocorreram desenvolvimentos semelhantes. Ao tempo da
Revolução de 1917, os membros das associações sindicais russas (que subsistiram ilicitamente no regime czarista) pensaram que
seriam chamados para desempenhar na reforma e reorganização da economia e da sociedade russas.
Ficaram profundamente decepcionadas quando o Governo se serviu dos sindicatos não como defensores dos direitos dos
trabalhadores mas como instrumentos para impor a disciplina laboral e partidária.
TEMA 8 - 14. DESINTEGRAÇÃO ECONÓMICA INTERNACIONAL (PÁG 382 - 407)
AS CONSEQUÊNCIAS ECONÓMICAS DA I GUERRA MUNDIAL (PÁG 382)
Antes de 1914, a economia mundial tinha funcionado livre e, no seu todo eficientemente. Apesar de algumas restrições
sob a forma de tarifas proteccionistas, monopólios privados e cartéis internacionais, o grosso da actividade económica, tanto
interna como internacional, foi regulada por mercados livres. Durante a guerra, os governos de todas as nações beligerantes e os
de algumas não beligerantes impuseram contenções directas dos preços da produção e da fixação da mão-de-obra. Estas
contenções estimularam artificialmente alguns sectores da economia e, do mesmo modo, restringiram artificialmente outros.
Embora a maioria das contenções tivesse sido eliminada no final da guerra, as relações anteriores à guerra não se restabeleceram
nem rápida nem facilmente.
Um problema ainda mais sério resultou da ruptura do comércio externo e das formas da guerra económica a que os
beligerantes – a Grã-Bretanha e a Alemanha, em particular recorreram. Antes da guerra, a Grã-Bretanha, a Alemanha, a França e
os Estados Unidos, na qualidade de principais nações industriais e comerciais do mundo, eram igualmente, entre si, os melhores
clientes e principais fornecedores. As trocas comerciais entre a Alemanha e as demais nações interromperam-se imediatamente,
embora os Estados Unidos, na sua fase neutral, tentassem manter relações, nisso foram impedidos pelas acções retaliatórias
tanto da Grã-Bretanha como da Alemanha.
Intimamente relacionada com a ruptura do comércio internacional e com a imposição de contenções pelos Governos, a
perda de mercados externos teve efeitos ainda mais duradouros. A Alemanha, foi completamente banida dos mercados
ultramarinos – e, sem o engenho dos seus cientistas e engenheiros, teria sido forçada a capitular muito mais cedo do que o fez.
Mesmo a Grã-Bretanha, com o seu domínio dos mares e uma grande marinha mercante, foi forçada a desviar recursos das suas
utilizações correntes para a produção de guerra. Em 1918, as suas exportações industriais tinham caído para cerca de metade do
seu nível de antes da guerra. Consequentemente, as nações ultramarinas começaram a fabricar para si, ou a comprar a outras
nações ultramarinas produtos que anteriormente adquiriam na Europa. Os EUA e o Japão, que tinham já desenvolvido
importantes indústrias fabris, que protegeriam, depois da guerra com tarifas elevadas. Os Estados Unidos também aumentaram
em muito as suas exportações para os países aliados e neutrais da Europa.

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A guerra também perturbou o equilíbrio da agricultura mundial. Ao aumentar grandemente a procura de géneros
alimentares e de matérias-primas, ao mesmo tempo que algumas regiões deixavam de produzir ou eram banidas dos mercados, a
guerra estimulou a produção, quer em zonas organizadas, como nos Estados Unidos, quer em áreas relativamente virgens, como
na América Latina. Isto levou à superprodução e à queda dos preços nos anos 20. o trigo, o açúcar, o café e a borracha revelaram-
se especialmente vulneráveis.
Além de perderam mercados externos, as nações beligerantes da Europa sofreram ainda uma quebra de receitas nos
transportes marítimos e noutros serviços. A marinha mercante alemã, completamente paralisada durante a guerra, teve de ser
cedida aos Aliados em pagamento de reparações de guerra.
O esforço de guerra submarina dos Alemães infligiu pesados danos à marinha mercante britânica, ao passo que os Estados
Unidos, com um programa subsidiado de construção naval em tempo de guerra, se tornaram, pela primeira vez desde a Guerra
Civil, grandes competidores no transporte marítimo internacional. Londres e outros centros financeiros europeus perderam
alguma da sua receita na banca, nos seguros e noutros serviços financeiros e comerciais, que, durante a guerra, foram
transferidos para Nova Iorque e para outros países (Suíça, por exemplo).
Outra grande perda provocada pela guerra foi a da receita de investimentos no estrangeiro. Antes da guerra, a França, a
Grã-Bretanha e a Alemanha eram os principais investidores externos. Uma vez que a Grã-Bretanha e a França importavam mais
do exportavam, a receita proveniente dos investimentos externos ajudava a pagar o excedente das importações. Foram ambas
obrigadas a alienar alguns dos seus investimentos externos para financiar a aquisição de material de guerra de que necessitavam
com urgência. O valor doutros investimentos diminuiu em resultado da inflação e de dificuldades monetárias com ela
relacionadas. Outros, ainda, sofreram grandes reveses ou a rejeição mais completa, nomeadamente os avultados investimentos
franceses na Rússia, que o novo poder soviético se negou a reconhecer.
Os investimentos da Alemanha em países beligerantes foram confiscados durante a guerra e, subsequentemente, todos
consignados a pagamentos de reparação. Os Estados Unidos, por outro lado, passaram de devedores líquidos a credores líquidos
em consequência do seu enorme excedente de exportação e dos avultados empréstimos aos Aliados.
A inflação provocou uma desarticulação final nas economias nacionais e internacionais. As pressões das finanças de guerra
forçaram todos os beligerantes (e alguns não beligerantes), com excepção dos Estados Unidos, a saírem do padrão-ouro, que
servira no período de antes da guerra para estabilizar, ou pelo menos sincronizar, os movimentos de preços. Todos os
beligerantes recorreram a empréstimos em larga escala e à emissão de papel-moeda para financiarem a guerra. Isto provocou
uma subida dos preços, embora nem todos tenham subido na mesma proporção. A grande disparidade nos preços e,
consequentemente, nos valores das moedas dificultou a retomada do comércio internacional, igualmente provocando graves
repercussões sociais e políticas.
CONSEQUÊNCIAS ECONÓMICAS DA PAZ (PÁG 385)
A Paz de Paris, como ficou conhecido o acordo pós-guerra, em vez de tentar resolver os graves problemas económicos
causados pela guerra, acabou por exacerbá-los. Os negociadores da paz não pretenderam que isso sucedesse; pura e
simplesmente, não conseguiam avaliar as realidades económicas.
Dos tratados de paz resultaram duas grandes categorias de dificuldade económica:
 o crescimento do nacionalismo económico;  problemas monetários e financeiros.
Os tratados da paz não foram os únicos culpados de ambas as dificuldades, mas a ambas acrescentaram problemas, em vez
de os minorarem. O Tratado de Versalhes com a Alemanha, restituiu à França e autorizou a ocupação francesa do Vale do Sarre,
rico em carvão, durante 15 anos. Concedeu à recentemente recriada Polónia a maior parte da Prússia Ocidental e uma parte da
Silésia Superior, rica em minérios. As suas colónias em África e no Pacífico já tinham sido ocupadas pelos aliados (incluindo o
Japão), que viram confirmadas as suas posses. Além disso, a Alemanha teve:
 de entregar a sua marinha de guerra  aceitar a ocupação aliada da Renânia durante 15
 aceitar restrições às suas forças armadas anos
 várias outras condições danosas ou meramente
humilhantes
A mais humilhante de todas foi a famosa cláusula de «culpa da guerra». Artigo 231º John Maynard Keynes, um
conselheiro económico da delegação britânica à conferência da paz, ficou tão perturbado, que se demitiu das suas
funções e escreveu um best-seller – As consequências Económicas da Paz – em que previa consequências terríveis, não
apenas para a Alemanha mas para toda a Europa, a menos que as cláusulas de reparação fossem revistas. Embora o
raciocínio de Keynes tenha sido contestado, o curso posterior dos acontecimentos pareceu apoiar a sua predição.
O desmembramento do Império Austo-Húngaro nas últimas semanas da guerra resultou em dois novos Estados, a Áustria e
a Hungria. A Checoslováquia, criada a partir de antigas províncias austríacas e húngaras, e a Polónia, recriada de antigas terras
austríacas, alemãs e (principalmente) russas, também se tornaram novos Estados-Nação. A Sérvia obteve as províncias eslavas
meridionais da Áustria-Hungria e uniu-se ao Montenegro para se tornar a Jugoslávia. A Roménia, aliada às potências ocidentais,
obteve muito território da Hungria, ao passo que a Bulgária, um inimigo vencido, perdeu terra para a Grécia, para a Roménia e
para a Jugoslávia. A Itália ficou com Trieste, o Trentino e o Tirol Meridional Austríaco, de língua alemã.
O nacionalismo económico não se limitou aos novos Estados que emergiram da desagregação de impérios. Durante a sua
guerra civil, a Rússia simplesmente desapareceu da economia internacional. Quando reemergiu sob o regime soviético, as suas
relações económicas foram conduzidas duma forma completamente diferente de qualquer outra anteriormente utilizada. O
Estado tornou-se o único comprador e vendedor no comércio internacional. Apenas comprava e vendia o que os seus
governantes políticos consideravam ser estrategicamente necessário ou conveniente.

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Um nacionalismo económico tão exagerado produziu o oposto ao que os seus formuladores pretendiam – níveis de
produção e rendimentos inferiores, e não superiores. As consequências adversas deste neo-mercantilismo, nome dado a tais
políticas, não cessaram com a aplicação das medidas legislativas. Cada nova medida de restrição provocava retaliação doutras
nações cujos interesses eram atingidos. As desordens monetárias e financeiras causadas pela guerra e agravadas pelos tratados
da paz acabariam por levar a um completo colapso da economia internacional.
A Grã-Bretanha tinha abandonado o padrão-ouro em 1914 como medida orçamental de guerra, como centro indisputado
dos mercados financeiros mundiais, fizeram-se sentir fortes pressões para um rápido regresso ao padrão-ouro, a fim de evitar
uma acrescida erosão, iniciada durante a guerra, da sua primazia financeira. Sob o sistema de antes da guerra, a libra equivalia a
4,86 dólares, mas os Estados Unidos tinham permanecido no padrão-ouro durante toda a guerra. A Grã-Bretanha tinha uma taxa
de inflação superior à dos Estados Unidos.
Em 1925, o ministro das Finanças Winston Churchill, que antes tinha trocado a sua lealdade aos Liberais pelos conser-
vadores, resolveu fazer regressar a Grã-Bretanha ao padrão-ouro à prioridade do ante-guerra. Para manter a indústria britânica
competitiva, era necessário baixar os preços cerca de 10 %, o que por sua vez exigiu uma descida equivalente dos salários. O
efeito global foi uma redistribuição do rendimento à custa dos trabalhadores e a favor dos que viviam de rendimentos fixos.
Quando confrontados com um corte de salários em resultado do regresso ao padrão-ouro os mineiros entraram em greve
em 1 de Maio de 1926 e persuadiram muitos outros sindicatos a juntarem-se-lhe no que deveria ser uma greve geral, mas a greve
só durou 10 dias, acabando com a derrota dos sindicatos. Por curta que fosse, a greve geral deixou um legado amargo da divisão
e ódio de classes que dificultou ainda mais uma acção nacional concertada contra os problemas internos e internacionais.
Apesar dos problemas da Grã-Bretanha, a maior parte da Europa prosperou no final dos anos 20. Durante cinco anos, de
1924 a 1929, parecia que a normalidade tinha de facto regressado. A maioria dos países, particularmente os Estados Unidos, a
Alemanha e a França, viveu um período de prosperidade. Porém, a base dessa prosperidade era frágil e dependia do continuado
fluxo voluntário de fundos da América para a Alemanha.
A GRANDE DEPRESSÃO, 1929-33 (PÁG 392)
Ao contrário da Europa, os Estados Unidos emergiram da guerra mais fortes que nunca. Embora tenham vivido, a par da
Europa, uma depressão aguda em 1920-21, a queda revelar-se-ia breve, e durante quase uma década a sua economia crescente
sofreu apenas pequenas flutuações.
No final do Verão de 1929, a Europa começava já a sentir a tensão da interrupção dos investimentos americanos no
estrangeiro, e mesmo a economia americana tinha deixado de crescer. Na Europa, a Grã-Bretanha, a Alemanha e a Itália estavam
já no meio de uma depressão. Mas, com os preços das acções em alta, os investidores americanos e os supervisores públicos,
pouca importância deram a estes sinais perturbadores.
Em 24 de Outubro de 1929 - «a Quinta-Feira Negra» da história financeira norte-americana, seguiu-se-lhe outra onda de
vendas em 29 de Outubro, a «Terça-Feira Negra» e continuou a cair. A retirada de capital da Europa, continuou ao longo de 1930,
provocando uma pressão intolerável em todo o sistema financeiro. Os mercados financeiros estabilizaram, mas os preços das
mercadorias eram baixos e continuavam em queda, transmitindo a pressão a produtores como a Argentina e a Austrália.
A derrocada do mercado bolsista não foi a causa da depressão – que tinha já começado, tanto nos Estados Unidos como na
Europa – mas foi um sinal evidente de que a depressão se estava a instalar.
O comércio internacional caiu drasticamente entre 1929 e 1932, induzindo quedas semelhantes, embora menos drásticas,
na produção fabril, no emprego e no rendimento per capita.
Uma característica maior das decisões de política económica de 1930-31 tinha sido a sua aplicação unilateral: as decisões
de suspender o padrão-ouro e de impor tarifas e contingentes tinham sido tomadas por governos nacionais sem consulta ou
acordo internacional e sem considerarem as repercussões nem as reacções das partes afectadas. Isto foi em grande parte
responsável pela natureza anárquica da desordem que se seguiu. O último grande esforço a fim de garantir a cooperação
internacional para acabar com a crise económica foi a Conferência Monetária Mundial de 1933. Oficialmente proposta pela
Sociedade das Nações em Maio de 1932 e adoptada por resolução na Conferência de Lausana em Julho desse ano, a ordem de
trabalhos da conferência previa acordos para restaurar o padrão-ouro, reduzir as pautas aduaneiras e os contingentes de
importação e incrementar outras formas de cooperação internacional. O papel dos estados Unidos, então envolvidos numa
eleição presidencial, numa tal conferência foi universalmente tido por essencial.
Roosevelt foi investido no auge da depressão; um dos seus primeiros actos oficiais foi a decretação de 8 dias de «feriado
bancário», para dar ao sistema bancário tempo para se reorganizar, e a maior parte das medidas dos famosos «cem dias»
envolveu acções de emergência para fortalecimento da economia interna.
Quando a conferência se efectuou em Londres, em Junho, Roosevelt fez saber que a primeira responsabilidade do Governo
Norte-Americano era a recuperação da prosperidade interna e que não poderia participar em quaisquer compromissos
internacionais que interferissem com essa tarefa. Desanimados, os delegados à conferência escutaram uns quantos discursos sem
qualquer importância e suspenderam os trabalhos em Julho sem tomarem qualquer medida significativa. Uma vez mais, a
cooperação internacional tinha falhado.
As consequências a longo prazo da depressão também merecem referência. Entre elas encontravam-se um crescimento do
papel do Governo na economia, uma mudança gradual nas atitudes em relação à política económica (a chamada revolução
Keynesiana) e os esforços de países da América Latina e de alguns outros do Terceiro Mundo para desenvolverem indústrias
orientadas para a substituição das importações. A depressão também contribuiu, através do sofrimento e inquietação que
provocou, para a ascensão de movimentos políticos extremistas, tanto da esquerda como da direita, nomeadamente na
Alemanha, contribuindo, indirectamente, para o germinar da II Guerra Mundial.
TENTATIVAS RIVAIS DE RECONSTRUÇÃO (PÁG 397)

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Franklin Roosevelt, durante os quatro anos do seu primeiro mandato, o volume de legislação ultrapassou o de qualquer
administração anterior. Lidou, sobretudo com a recuperação económica e a reforma social nos sectores da agricultura e da banca,
com o sistema monetário, os mercados de títulos, o trabalho, a segurança social, a saúde, a habitação, os transportes, as
comunicações, os recursos naturais – na verdade, com todos os aspectos da economia e da sociedade americanas. O acto
legislativo mais característico de todo o período talvez tenha sido a Lei da Reconstrução Industrial Nacional. Instituiu uma
Administração de Reconstrução Nacional (ARN) para supervisionar a preparação, por representantes da própria indústria, de
«códigos de concorrência leal» para cada indústria. Era um sistema de planeamento económico privado («autogoverno
industrial») com supervisão governamental, para proteger o interesse público e garantir o direito de os trabalhadores se
organizarem e reivindicarem colectivamente.
Nenhuma nação ocidental sofreu mais com a guerra que a França. A maioria dos combates na Frente Ocidental tinha
ocorrido na sua região mais rica. Mais aterradora foi a perda de vidas, por isso não é surpreendente que a França exigisse à
Alemanha que pagasse pela guerra. Contando com as reparações alemãs para pagar os custos, o Governo Francês iniciou
imediatamente um programa alargado de reconstrução física nas regiões danificadas pela guerra que teve o efeito incidental de
estimular a economia para novos máximos de produção. O franco desvalorizou-se mais nos primeiros sete anos da paz que
durante a guerra. Percebendo que os alemães não podiam ser obrigados a pagar, um gabinete de coligação constituído por seis
antigos primeiros-ministros estabilizou o franco em 1926 a cerca de um quinto do seu valor de antes da guerra, recorrendo a
drásticas opções económicas e a firmes aumentos nos impostos. Esta solução foi mais satisfatória que qualquer outra das
soluções extremas adoptadas pela Grã-Bretanha e pela Alemanha, mas ignorou quer a classe dos que viviam de rendimentos
fixos, que perdeu cerca de quatro quintos do seu poder de compra com a inflação quer as classes operárias, que suportaram a
maior parte do fardo da agravação fiscal. Assim, como na Alemanha, a inflação contribuiu para o crescimento do extremismo
tanto à direita como à esquerda. O franco quando se estabilizou, estava subvalorizado em relação a outras moedas importantes.
Isso estimulou as exportações, entravou as importações e conduziu a um influxo de ouro. Assim, a depressão atacou a França
mais tarde que os outros países – não antes de 1931 – e foi talvez menos severa, mas foi de maior duração.
Como acontecera noutros países, a depressão deu origem a protestos sociais e a uma nova onda de organização
extremistas. O governo da Frente Popular nacionalizou o Banco de França e os caminhos-de-ferro e aplicou uma série de medidas
de reforma laboral, como sejam o máximo de 40 horas de trabalho por semana, a arbitragem necessária de litígios laborais e
férias pagas aos trabalhadores da Indústria. No problema mais vasto da recuperação económica, a frente Popular não teve mais
sucesso que os Governos anteriores, franceses e estrangeiros, tinham tido, e cindiu-se em 1938, quando os assuntos externos
dominavam cada vez mais o universo político.
Na Europa Central e Oriental, e também em Espanha, os desenvolvimentos políticos – a ascensão das ditaduras fascistas –
obscureceram os fenómenos puramente económicos; mas mesmo aqueles tinham os seus aspectos económicos. A primeira
ditadura foi a de Itália. Benito Mussolini foi legitimamente empossado em 1922, mas rapidamente consolidou o seu poder com
métodos totalitários. Para acomodar os fundamentos do seu regime, Mussolini contratou o filósofo Giovanni Gentile para prover
a uma racionalização do Fascismo, que foi então publicitada como a própria filosofia de Mussolini. O Fascismo:
 Glorificava o uso da força
 Tinha a guerra pela mais nobre das actividades humanas
 Denunciava o liberalismo, a democracia, o socialismo e o individualismo
 Tratava o bem-estar material com desdém
 Considerava as desigualdades humanas não apenas inevitáveis como desejáveis.
Acima, de tudo identificava o Estado como a encarnação suprema do espírito humano. Como tentativa da reconstrução
total da sociedade, o Fascismo necessitava duma forma distinta de organização económica. Mussolini criou o Estado Corporativo,
uma das mais publicitadas e menos bem sucedidas inovações do seu regime.
Em princípio o Estado Corporativo era a antítese tanto do Capitalismo como do socialismo. Embora permitisse a
propriedade privada, os interesses quer de proprietários quer de trabalhadores estavam subordinados aos interesses mais
elevados da sociedade no seu todo tal como era representada pelo Estado. Na prática, e se é que as corporações funcionaram de
todo agiram sobretudo como sindicatos patronais capitalistas cujo propósito era o aumento dos rendimentos dos homens de
negócios e dos administradores do partido, à custa dos trabalhadores e consumidores.
Mais bem sucedida que a Itália no combate à depressão, a Alemanha Nazi, foi a primeira grande nação industrial a alcançar
a recuperação total. Desenvolveu o primeiro sistema moderno de auto-estradas e fortaleceu e expandiu grandemente as suas
indústrias, o que lhe conferiu uma vantagem decisiva sobre os seus inimigos nos primeiros anos da II Guerra Mundial.
Ao contrário do regime totalitário da Rússia, os Nazis não recorreram à nacionalização total da economia (embora a
administração das empresas confiscadas aos Judeus fosse frequentemente entregue a membros do partido); apoiam-se na
coerção e na autoridade para alcançarem os seus objectivos.
Um dos principais objectivos económicos dos Nazis foi o de tornar a economia alemã auto-suficiente em caso de guerra.
Não esqueceram os efeitos devastadores do bloqueio aliado na I Guerra Mundial e quiseram ficar imunes a isso no futuro. A
política de auto-suficiência também determinada a natureza das relações comerciais alemãs com outras nações.
A Espanha, tendo evitado o envolvimento na I Guerra Mundial, escapou a muitos dos problemas e dilemas colocados a
outros países europeus. A sua indústria beneficiou inclusivamente da procura em tempo de guerra, mas era ainda uma nação
predominantemente agrária, prejudicada por uma agricultura de baixa produtividade.
Durante a ditadura de Miguel Primo de Rivera, entre 1923 e 1930, a economia participou na prosperidade internacional da
época, mas a depressão que se seguiu foi factor determinante da queda da monarquia e do estabelecimento da II República, em
1931. O clima internacional desses anos não foi muito favorável às reformas que os Republicanos visavam empreender. Em 1936,

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o general Francisco Franco iniciou uma guerra civil sangrenta e destrutiva que terminou com o derrube da república em 1939 e a
instituição dum regime autárquico nalguns aspectos semelhante aos da Itália Fascista e da Alemanha Nazi, mas sem a tecnologia
avançada desta última.
AS REVOLUÇÕES RUSSAS E A UNIÃO SOVIÉTICA (PÁG 401)
A Rússia Imperial entrou na I Guerra Mundial na expectativa de uma rápida vitória sobre os Impérios Centrais. Essa ilusão
depressa se desvaneceu e, à medida que a guerra se arrastava, os tradicionais flagelos russos, a ineficiência e a corrupção,
cobraram os seus créditos. No início de 1917, a economia estava destruída. No início de Março, greves e motins eclodiram em
Petrogrado (novo nome de Petersburgo). No 12 de Março, aos chefes dos grevistas e soldados juntaram-se-lhe representantes de
vários partidos socialistas num soviete (conselho) de Delegados dos Trabalhadores e dos Soldados. No mesmo dia, uma comissão
da Duma (parlamento) decidiu formar um governo provisório e, em 15 de Março, conseguiu a abdicação do Czar. Assim terminou
o longo reinado dos Romanov, numa revolução curta, quase sem chefes e praticamente sem derramamento de sangue.
O Governo Provisório era uma mistura heterogénea de aristocratas, intelectuais e parlamentares. O novo regime
proclamou imediatamente a liberdade de expressão, de imprensa e de religião, anunciou que empreenderia a reforma social e a
redistribuição da terra e prometeu reunir uma assembleia constituinte para determinar a forma permanente de governo da
Rússia. Também tentou continuar a guerra contra a Alemanha; isso revelar-se-ia a sua desgraça.
Lenine, o chefe da facção bolchevique dos partidos socialistas russos, que tinha passado a maior parte da sua vida adulta
no exílio, regressou a Petrogrado com a conivência do Governo Alemão, que esperava que ele contribuísse para a agitação social
e para o caos político. Lenine assumiu rapidamente o seu domínio no Soviete de Petrogrado e levou a cabo uma incansável
campanha contra o Governo Provisório.
À Revolução de Outubro seguiram-se quatro anos de lutas e amarga guerra civil. Os Bolchevistas, que agora se chamavam
comunistas, introduziram uma política drástica designada Comunismo de Guerra. Implicava a nacionalização da economia
urbana, o confisco e a distribuição de terras aos camponeses e um novo sistema jurídico. A sua característica mais significativa foi,
a sua introdução dum governo de partido único, a «ditadura do proletariado» com Lenine à frente.
Pouco depois da Revolução de Outubro, o Governo acedeu à exigência de independência da Finlândia. Embora tenha
acedido às exigências dos estados bálticos da Estónia, da Lituânia e da Letónia, resistiu às da Ucrânia, da Transcaucásia e doutras
regiões. Em 1922, Lenine decidiu criar uma federação, pelo menos de nome contra o conselho do seu especialista nas questões
das nacionalidades, o georgiano naturalizado russo José Estaline, nascendo a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Confrontado com a estagnação económica e a possibilidade duma grande revolta camponesa, Lenine mudou radicalmente
a sua acção com a chamada Nova Política Económica (NEP), um compromisso com princípios capitalistas da economia que Lenine
considerou «um passo atrás para seguir um frente». Mas os chamados pilares dominantes da economia permaneceram na posse
e sob o domínio do Estado. A NEP também incluía um vigoroso programa de electrificação, a criação de escolas técnicas para
engenheiros e gestores industriais e a criação duma organização mais sistemática dos sectores estatais da economia. Apesar de
algumas dificuldades acrescidas com os camponeses, a produção aumentou tanto na indústria como na agricultura, e, por volta
de 1926 a 1927, os níveis de produção do ante guerra tinham sido substancialmente recuperados.
Em 1928, o domínio de Estaline sobre o parido e sobre o país era praticamente total. Em 1929, assim que passou a
dominar firmemente o aparelho do partido e dos órgãos do Estado, lançou o primeiro dos planos quinquenais. A este
acontecimento chama-se, por vezes «a segunda revolução bolchevique».
Todos os recursos do Governo Soviético foram directamente ou indirectamente empregados nesse esforço. Para assuntos
puramente técnicos, a Comissão do Planeamento Estatal (Gosplan) tinha a responsabilidade genérica da formulação de planos,
definição de objectivos de produção e emissão de directivas às diversas agências subsidiárias. Sem atender a custos, lucros ou
preferências dos consumidores, o mecanismo de planeamento substitui o mercado.
Os objectivos do I Plano Quinquenal foram oficialmente declarados cumpridos decorridos apenas quatro anos e três
meses. Na verdade, o plano estava longe de ser um completo sucesso. Apesar de em alguns sectores da indústria e da produção
terem aumentado prodigiosamente, a maior parte das indústrias não tinham conseguido atingir as suas quotas, que tinham sido
irrealisticamente elevadas a uma alta fasquia.
Em 1933, o Governo inaugurou o II Plano Quinquenal, no qual se deveria dar ênfase a bens de consumo. Apesar de grandes
aumentos na produção industrial, o país manteve-se essencialmente agrário. Uma particularidade notável do II Plano Quinquenal
deu-se em 1936-37 - a Grande Purga. Milhares de pessoas, desde trabalhadores não qualificados até importantes chefes
partidários e militares, foram levados a julgamento (ou executados sem julgamento) por alegados crimes que iam da sabotagem à
espionagem e traição. Naturalmente, isto teve um efeito significativo na produção. O III Plano Quinquenal, lançado em 1938, foi
interrompido pela invasão alemã de 1941, e a União Soviética recaiu em algo semelhante ao Comunismo de Guerra.
ASPECTOS ECONÓMICOS DA II GUERRA MUNDIAL (PÁG 405)
Verdadeira guerra global, envolveu directa ou indirectamente as populações de todos os continentes e de quase todos os
países do mundo. Ao contrário da sua antecessora, que tinha sido antes de mais, uma guerra de estratégia, esta foi uma guerra
de evolução – em terra, no ar e no mar. As capacidades económicas e, em especial, industriais dos beligerantes adquiriram uma
nova importância. Em última análise, a linha de produção tornou-se tão importante como alinha de fogo. A derradeira arma
secreta dos vitoriosos foi a enorme capacidade produtiva da economia americana.
Os prejuízos materiais foram muito superiores aos da I Guerra Mundial, em grande medida devido aos bombardeamentos
aéreos. As infra-estruturas de transportes, especialmente caminhos-de-ferro e portos e docas revelaram-se alvos tentadores.
Todos os combatentes recorreram à guerra económica, uma expressão nova para uma velha política. No fim da guerra, o
cenário económico era, na Europa, extremamente desolador. Em 1945, a produção industrial e agrícola foi de metade, ou menos,
da que tinha sido em 1938. Além dos prejuízos materiais e da perda de vidas humanas, milhões de pessoas tinham sido

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desenraízadas e afastadas das suas famílias e outros milhões ainda enfrentavam a perspectiva da fome. Para piorar as coisas, o
quadro institucional da economia tinha sido profundamente danificado. A reconstrução não iria ser tarefa fácil.
TEMA 9 (PARTE 1)- 15. RECONSTRUINDO A ECONOMIA MUNDIAL (PÁG 408 - 433)
No fim da guerra, a Europa estava prostrada, quase paralisada. Todos os países beligerantes excepto a Grã-Bretanha e a
união Soviética tinham sofrido derrota militar e ocupação inimiga. Apenas os poucos países neutrais europeus escaparam aos
prejuízos directos, mas mesmo eles sofreram de muitas carestias provocadas pela guerra.
O auxílio chegou por dois canais principais, sobretudo com origem na América:
 À medida que as forças aliadas avançavam pela Europa Ocidental no Inverno e Primavera de 1944-45, distribuíram
rações de emergência e medicamentos à população civil em risco, tanto à inimiga como à libertada.
 O outro canal foi a Administração das Nações Unidas para Auxílio e reconstrução (ANUAR). Os Estados Unidos
suportaram mais de dois terços dos custos, outros membros das Nações Unidas o restante.
Depois de 1947, o trabalho da ANUAR foi continuado pela Organização Internacional dos Refugiados, pela Organização
Mundial de Saúde e por outras agências especializadas das Nações Unidas, bem como agências nacionais voluntárias e oficiais.
Em contraste com s Europa, os Estados Unidos emergiram da guerra mais fortes que nunca. O mesmo se passou, em
menor grau, com o Canadá e as demais nações da Commonwealth e vários países da América Latina. Poupados aos prejuízos
directos da guerra, as suas indústrias e agricultura beneficiaram de grande procura em tempo de guerra, o que permitiu a
utilização total da sua capacidade, modernização tecnológica e expansão.
Apesar das dificuldades que a inflação trouxe a quem vivia de rendimentos fixos, ela manteve as indústrias a trabalhar e
permitiu aos estados Unidos alargarem a necessária ajuda económica à reconstrução da Europa e doutras regiões devastadas
pela guerra e flageladas pela pobreza.
PLANEAMENTO DA ECONOMIA DO PÓS-GUERRA (PÁG. 409)
Uma das tarefas mais urgentes que esperavam os povos europeus depois das suas necessidades de sobrevivência foi a da
restauração da lei, da ordem e da administração pública normal.
A própria magnitude do esforço de reconstrução apontou para um papel bem mais importante para o Estado na vida
económica e social que o que fora característico do período ante guerra.
A nível internacional, o planeamento do pós-guerra, tinha começado durante a própria guerra. Em Agosto de 1941,
Franklin Roosevelt e Winston Churchill assinaram a Carta do Atlântico, que comprometia os seus países (e, subsequentemente,
outros membros das Nações Unidas) a empreenderem a reconstrução dum sistema multilateral de comércio mundial na vez do
bilateralismo dos anos 30. Claro que foi apenas uma declaração de intenções e não obrigou a quaisquer acções concretas; mas
pelos menos, foi uma declaração de boas intenções.
Em 1944, numa conferência internacional na estância de Bretton Woods, no Newhampshire, na qual os delegados
americanos e britânicos tiveram os principais papéis, foram lançadas as bases de duas grandes instituições:
 O Fundo Monetário Internacional (FMI) seria responsável pela gestão da estrutura de taxas de câmbio entre as várias
moedas mundiais e também pelo financiamento de desequilíbrios a curto prazo das balanças de pagamento.
 O Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), também conhecido como Banco Mundial,
concederia empréstimos a longo prazo para a reconstrução das economias devastadas das nações mais pobres do
mundo. Estas duas instituições não se tornariam operacionais antes de 1946 e, por vários motivos, não foram
completamente eficazes durante vários anos; mas pelo menos tinha-se tomado uma iniciativa no sentido de
reconstruiu a economia mundial.
Os conferencistas de Bretton Woods também consideraram a criação duma Organização Internacional do Comércio (OIC)
que formularia regras de reciprocidade entre as nações. Foram efectuadas mais conferências com este fim, mas o melhor que se
conseguiu foi um Acordo Geral sobre Pautas Aduaneiras e Comércio (GATT), assinado em Genebra em 1947.
O PLANO MARSHALL E «MILAGRES» ECONÓMICOS (PÁG. 411)
Em 5 de Junho de 1947, o general George C. Marshall, que fora nomeado secretário do Estado Norte-Americano pelo
presidente Truman, proferiu uma alocução de investidura na Universidade de Harvard em que anunciou que, se as nações da
Europa apresentarem um pedido unificado e coerente de ajuda, o governo dos Estados Unidos daria uma resposta favorável. Foi
esta a origem do Plano Marshall.
Representantes de 16 nações reuniram-se em Paris em 12 de Julho de 1947, auto designando-se Comité de Cooperação
Económica Europeia (CCEE). Dele faziam parte todas as nações democráticas da Europa Ocidental (e a Islândia), mesmo as
neutrais Suíça e Suécia, bem como a Áustria (ainda sob ocupação militar), o não democrático Portugal, a Grécia e a Turquia. A
Finlândia e a Checoslováquia mostraram-se interessadas em participar, mas foram contidas pela União Soviética; nem a união
Soviética nem qualquer outro país do Leste da Europa se fizeram representar. A Espanha de Franco não foi convidada e a
Alemanha, ainda sujeita a ocupação militar, não tinha governo para se ver representada.
A Administração Truman lançou um forte programa de persuasão com esse fim, e, na Primavera de 1948, o Congresso
aprovou a Lei da Ajuda Externa, que criou o Programa da Reconstrução Europeia (PRE), que seria gerido pela Administração de
Cooperação Económica (ACE). Depois da deliberação do Congresso dos Estados Unidos, o CCEE converteu-se na Organização
Europeia de Cooperação Económica (OECE), que foi responsável, juntamente com a ACE, pela afectação da ajuda americana. Os
membros da OECE também tiveram de constituir fundos de contrapartida nas suas próprias moedas, a serem atribuídas sob o
consentimento da ACE.
A Conferência de Potsdam tinha aceite o abate de armamentos alemães e doutras indústrias pesadas (já iniciado pelos
Russos), reparações aos vitoriosos e às vítimas da agressão nazi, rígidas limitações à capacidade produtiva alemã e um vigoroso
programa de des-nazificação, incluindo o julgamento de dirigentes nazis como criminosos de guerra. Na verdade, apenas o último

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objectivo foi cumprido tal como se tinha pretendido inicialmente. Assim como o Zollerein serviu como percursor do Império
Alemão, a unificação económica das zonas ocidentais de ocupação delineou a futura República Federal da Alemanha.
Para estimularem a recuperação económica nas suas zonas, as potências ocidentais efectuaram uma reforma da moeda
alemã em Junho de 1948, substituindo os desvalorizados e desprezados Reichmarks nazis por marcos alemães numa proporção
de 1 marco novo por cada 10 marcos antigo. Á reacção imediata e esmagadora, chamou-se milagre económico.
A União Soviética, que não tinha sido consultada sobre a reforma monetária e que considerava uma infracção ao acordo de
Postdam (o que de facto era), retaliou fechando todas as ligações rodoviárias e ferroviárias entre as zonas ocidentais de ocupação
e Berlim Ocidental.
Entretanto, a Alemanha Ocidental estava a ser integrada no Programa de Reconstrução Europeia. De início, em 1948, o
auxílio às zonas ocidentais de ocupação foi recebido e distribuído pelo governo militar americano. Posteriormente, os estados da
Alemanha Ocidental foram autorizados a eleger representantes para uma convenção constitucional, e, em Maio de 1949, nasceu
a República Federal da Alemanha. Em Setembro, retirou o bloqueio a Berlim.
Com a Alemanha Ocidental agora perfeitamente integrada na OECE e no Plano Marshall, a recuperação económica da
Europa Ocidental podia considerar-se completa. O Plano Marshall chegou ao fim em 1952; tinha superado as expectativas de
vários dos seus participantes, e mesmo as de alguns dos seus criadores. Para lá do facto de a Europa Ocidental ter não só
recuperado como excedido níveis de produção do ante guerra, a OECE e outras instituições recém-criadas mantiveram-se e
estimularam a economia a novos extremos.
Uma das mais importantes dessas novas instituições foi a União Europeia de Pagamento (UEP). Este engenhoso dispositivo
permitiu um comércio multilateral livre dentro da OECE os resultados foram espectaculares. Sensivelmente nas duas décadas que
se seguiram à formação da UEP, o comércio mundial cresceu a uma taxa anual média de 8%, a mais elevada da História com
excepção de alguns anos que se seguiram aos tratados comerciais da década de 1860.
A OECE metamorfoseou-se na Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) à qual aderiram os EUA e
o Canadá (e, mais tarde, o Japão e a Austrália): uma organização de países industriais avançados para coordenar a ajuda a países
subdesenvolvidos, promover acordo sobre políticas macroeconómicas e debater outros problemas de interesse comum.
O termo «milagre económico» foi aplicado pela primeira vez ao notável arranque do crescimento da Alemanha Ocidental
após a reforma monetária de 1948. Foi então notado que várias nações nomeadamente a Itália e o Japão, tinham taxas de
crescimento tão ou mais altas que a alemã.
A ajuda americana desempenhou um papel crucial no início da recuperação. Daí em diante, os Europeus mantiveram-na
com elevados níveis de poupança e investimento. As economias europeias tinham estagnado durante toda uma geração. Além
de terem perdido o seu incremento potencial de crescimento, apenas dispunham de equipamento obsoleto e estavam muito
atrás dos Estados Unidos em progresso tecnológico. Assim, a modernização tecnológica acompanhou o chamado milagre
económico, para o que foi importante factor contributivo.
Os sistemas económicos da Europa Ocidental do pós-guerra estavam igualmente longe do antiquado capitalismo
estereotipado do séc. XIX e das economias de doutrina socialista da Europa do Leste. Nas economias mistas ou de Estado-
providência, que se tornaram características das democracias ocidentais, o Governo assumiu as tarefas de promoção da
estabilidade global, dum clima favorável ao crescimento e da protecção mínima aos economicamente débeis e desprivilegiados,
mas abandonou à iniciativa privada a tarefa fundamental de produção de bens e serviços desejados pelas populações.
Por fim, e a longo prazo, há que ter em grande conta a riqueza europeia de capital humano. As suas elevadas taxas de
alfabetização e instituições educativas especializadas, dos jardins-de-infância às escolas profissionais, universidades e institutos
de investigação, forneciam o pessoal especializado e os peritos que faziam a nova tecnologia funcionar com eficiência.
A EMERGÊNCIA DO BLOCO SOVIÉTICO (PÁG. 417)
De todas as nações que entraram na guerra, a União Soviética foi a que, em sentido absoluto mais prejuízos sofreu.
Segundo estimativas oficias, 30% da riqueza do período que antecedeu a guerra tinha sido destruída. Apesar dos sofrimentos do
seu povo, a União Soviética emergiu como uma das duas superpotências do mundo do pós-guerra. Embora fosse pobre numa
base per capita, os seus vastos territórios e população permitiram-lhe desempenhar esse papel. Para recuperar a economia
devastada e arremessar a produção a novos níveis, o Governo lançou o IV Plano Quinquenal em 1946. Como já os planos
anteriores tinham feito, favoreceu a indústria pesada e os armamentos, dando especial atenção à energia atómica. O novo plano
também recorreu extensivamente às indemnizações físicas e à tributação dos antigos países do Eixo e novos satélites da URSS.
Estaline, instituiu uma série de mudanças em altos cargos do Governo e da economia nos anos imediatamente a seguir à
guerra. Uma revisão constitucional em 1946 substituiu o Conselho de Ministros, no qual Estaline assumiu a posição de
presidente, ou primeiro-ministro.
Estaline morreu em 1953. Nikita Khruchtchev, sucedeu a Estaline como secretário-geral do Partido Comunista, emergiu
como chefe supremo. O Governo iniciou um programa oficial de «desestalinização», que inclui a remoção do seu corpo do
famoso Túmulo de Lenine na Praça Vermelha, em Moscovo. Apesar da mudança de chefia e dumas quantas reformas superficiais,
a natureza básica do sistema económico soviético não se alterou. Em 1955, o Governo anunciou o «cumprimento» dum plano
quinquenal e a inauguração doutro, embora altos funcionários se queixassem da ineficiência generalizada e de um terço das
empresas industriais não terem atingido as suas metas de produção.
A agricultura soviética manteve-se num estado de crise quase sem remédio durante o período pós-guerra, apesar dos
esforços maciços do Governo para aumentar a produtividade. O sistema de exploração colectiva não oferecia incentivos
suficientes aos camponeses.
Em Janeiro de 1949, na sequência dos sucessos iniciais do Programa de Reconstrução Europeia, a União Soviética criou o
Conselho de Assistência Económica Mútua (COMECON – raramente se emprega a sigla CAEM, preferindo em geral o acrónimo do

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inglês Council for Mutual Economic Assistance) numa tentativa de moldar as economias dos seus satélites leste-europeus numa
união mais coesa. Em vez de desenvolver um sistema de comércio multilateral, como na Europa Ocidental, a maior parte do
comércio tanto com a União Soviética como entre os outros países continuou a ser bilateral.
Embora não pertencesse ao Bloco Soviético, a República Popular da China esteve por pouco tempo aliada à União
Soviética. Objectivo fundamental da chefia comunista chinesa era a reestruturação da sociedade e a correcção dos processos de
análise, do comportamento e da cultura. Os vestígios da estrutura «feudal» e «burguesa» de classes foram eliminados pelos
expedientes simples da expropriação e da execução judicial.
A União Soviética tinha desde o início oferecido assistência económica, técnica e militar à RPC (República Popular da
China), mas os Chineses recusaram-se aceitar os ditames soviéticos. Em 1960, a URSS cortou toda a ajuda e retirou todos os seus
conselheiros e assistentes técnicos. Apesar da retirada dos técnicos e do auxílio soviético, a China alcançou o seu maior triunfo
tecnológico em 1964, com a explosão duma bomba atómica.
A União Soviética tinha três outros Estados satélites, ou clientes, na Ásia:
 República Popular da Mongólia  República Socialista do Vietname
 República Popular Democrática da Coreia ou Coreia do Norte
O único Estado socialista reconhecidamente aliado da União Soviética no Hemisfério Ocidental foi a República de
Cuba. Fidel Castro, o chefe revolucionário que derrubou o despótico ditador Fulgencio Batista, em 1 de Janeiro de 1959,
não se proclamou imediatamente marxista; mas a política anti-Castro dos estados Unidos, que culminou no apoio à
desastrosa invasão da baía dos Porcos em 1961, empurrou-o para os braços duma União Soviética encantada por
descobrir uma base de difusão das suas doutrinas no Hemisfério Ocidental. Tornou-se membro da COMECON em 1972.
A ECONOMIA DA DESCOLONIZAÇÃO (PÁG. 424)
A II Guerra Mundial assinou o atestado de óbito do imperialismo europeu. As palavras de ordem dos Aliados
Ocidentais em tempo de guerra, exigindo liberdade e democracia em todo o mundo, reforçaram a causa dos movimentos
independentistas, ao realçarem o contraste entre os ideais ocidentais e as realidades do colonialismo.
Quando a Grã-Bretanha concedeu a independência ao sub continente Indiano em 1947, emergiram quatro nações:
Índia, Paquistão, Sri Lanka e Bangladesh.
Os quatro países têm populações extremamente densas, poucos e pobres recursos naturais e baixos níveis de
alfabetiza-ção. Estão também sujeitos a perturbações raciais e religiosas e a governos instáveis, frequentemente
ditatoriais. A maior parte da mão-de-obra dedica-se em todos eles, à agricultura de baixa produção Todos estes países
são extremamente pobres.
A Índia é o menos desafortunado. Nos anos 60 e 70 valeu-se da «revolução verde» na agricultura e é hoje
praticamente auto-suficiente em provisões alimentares. Tem também mais indústria que os outros. Nenhum deles é um
estado de orientação socialista, mas em todos o Governo desempenha um papel fundamental na economia.
A Birmânia rebaptizada Myanmar, a Indonésia, o Laus, o Camboja, o Vietname do Norte, Singapura, Malásia e a
República das Filipinas. Todos estes países excepto Singapura, têm características em comum, incluindo o clima e a
topografia. São todos predominantemente rurais e agrários, dividindo-se a mão-de-obra entre explorações agrícolas de
subsistência e a produção agrícola de plantação para exportação. Alguns também possuem minérios estratégicos muito
procurados nos mercados mundiais petróleo na Indonésia e estanho na Malásia. Todos têm baixas taxas de alfabetização
e altas taxas de crescimento populacional. As correntes de democracia são fracas e a maioria desesperadamente pobre.
Singapura, porém, é altamente urbanizada e relativamente abastada. Situada na confluência de importantes rotas
comerciais, desenvolveu uma economia sofisticada, à semelhança de Hong-Kong, tendo como principal suporte o
comércio, bem como serviços bancários e financeiros, e mesmo alguma indústria.
O mapa político de África no final da II Guerra Mundial pouco diferiu do dos anos do entre guerras. As potências
imperiais do passado subjugavam ainda quase todo o Continente.
A antiga colónia italiana da Líbia tornou-se a primeira nação africana a conseguir a independência. Com a sua
escassa população, aparente falta de recursos naturais e economia atrasada, o futuro da nova nação estava longe de ser
promissor, mas subsídios ocidentais ajudaram-na a sobreviver até a descoberta de petróleo ter fortalecido a sua base
económica.
O Sudão com uma vasta área mas poucos recursos e uma população na sua maioria analfabeta, tem sido incapaz
de fazer funcionar quer uma democracia quer uma economia e tem sido governado por uma série de regimes militares. A
sua independência foi declarada a 1 de Janeiro de 1956.
Tunísia, Marrocos e Argélia (África Setentrional Francesa) eram países praticamente agrários, com uma
agricultura do tipo mediterrânico (cereais, oliveiras, citrinos, etc.), mas também possuem importantes depósitos
minerais. Em especial, as jazidas de petróleo e de gás natural da Argélia, descobertas pouco depois da independência,
proporcionaram-lhe meios para desenvolver a indústria e ter uma palavra na política mundial. Antes da independência
todos estes três países estavam comercialmente orientados para a França, e essa orientação manteve-se, embora um
acordo comercial com a Comunidade Europeia, em 1976, tenha alargado os seus mercados externos. A Argélia passou a
exportar muito do seu gás natural líquido para os EUA.
Em 1957, o estado do Gana emergiu como a primeira nação negra na comunidade Britânica, tornando-se membro
das Nações Unidas, seguido da Nigéria em 1960 e outros antigos domínios britânicos seguiram o mesmo exemplo.
Paradoxalmente, as primeiras colónias britânicas em África a conseguirem a independência total encontravam-se
entre as menos avançadas económica e politicamente. Porque eram essencialmente povoadas por africanos negros, não
houve problemas de minorias brancas.

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Embora o colonialismo estivesse a morrer, se é que não estava já morto, deixou um legado deplorável. Com
poucas excepções, largamente confinadas a áreas de colonização europeia, as novas nações eram desesperadamente
pobres. Em três quartos de um século de colonialismo, as nações da Europa tinham extraído fortunas imensas em
minérios e outros produtos mas partilhado pouco da sua riqueza com os Africano. Só tardiamente algumas potências
coloniais tinham feito qualquer esforço para instruírem os seus súbditos ou os preparem para uma autonomia
responsável.
A maioria dos governos das novas nações foi flagelada pela ineficiência e pela corrupção. Mesmo quando as suas
intenções eram benignas, poucos dispunham dos recursos, especialmente de capital humano, para as levarem a bom
termo.
AS ORIGENS DA COMUNIDADE EUROPEIA (PÁG. 429)
As Organizações Internacionais dependem da cooperação voluntária dos seus membros e não têm poderes
directos de coação. As Organizações Supranacionais exigem que os seus membros cedam pelo menos uma parte da sua
soberania e podem compelir na extensão dos seus mandatos. Tanto a Sociedade das Nações como as Nações Unidas são
exemplo de internacionais.
A continuada a bem sucedida cooperação poderá porventura, levar a uma fusão de soberanias, que é a esperança
dos pro-
ponentes da unidade europeia. Têm-se tornado, desde 1945, cada vez mais frequentes as propostas, formuladas pelos fortes
cada vez mais influentes, de algum tipo de organização supranacional na Europa.
As propostas decorrem de duas fontes distintas mas relacionadas – políticas e económicas:
 A motivação política esta enraizada na crença de que só pela organização supranacional se pode erradicar
permanentemente a ameaça de guerra entre as potências europeias.
 A motivação económica assenta no argumento de que mercados maiores promoverão uma maior especialização e
uma concorrência acrescida e, consequentemente maior produtividade e melhores níveis de vida.
As duas motivações fundem-se na ideia de que o poderio económico é a base do poder político e militar e de que
uma economia europeia plenamente integrada tornaria as guerras intra-europeias menos prováveis, se não impossíveis.
Devido à ideia profundamente enraizada de soberania nacional, a maior parte das propostas práticas de uma
organização supranacional tem encarado a unificação económica como preliminar de uma unificação política.
Em 1950, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros Robert Schuman, propôs a integração das indústrias
francesas e oeste-alemão do carvão e do aço e convidou outras nações a participarem. O Plano Schuman foi um artifício
para manter a indústria alemã sob vigilância e fiscalização. A Alemanha Ocidental, as nações do Benelux e a Itália
acederam. O tratado que criou a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) foi assinado em 1951 e entrou em
vigor no ano seguinte. Previa a eliminação de tarifas e de contingentes sobre o comércio intracomunitário de minério de
ferro, carvão, coque e aço, uma pauta externa comum sobre as importações doutras nações e fiscalizações sobre a
produção e as vendas.
Pouco depois de a Comunidade ter iniciado a sua obra, as mesmas nações ensaiaram um novo passo de gigante no
sentido da integração, com um tratado de uma Comunidade Europeia de Defesa.
Em 1957, os participantes no Plano Schuman assinaram dois outros tratados em Roma, criando:
 A Comunidade Europeia da Energia Atómica (EURATOM), para o desenvolvimento de usos pacíficos da energia atómica.
 A Comunidade Económica Europeia (CEE) ou Mercado Comum
O tratado do Mercado Comum previa a eliminação gradual de direitos aduaneiros sobre as importações e de
restrições quantitativas sobre todo o comércio entre os Estados membros e a sua substituição por uma pauta aduaneira
comum ao longo do período de transição de 12 a 15 anos. Os membros da Comunidade comprometeram-se à
implantação de políticas comuns em relação a transportes, agricultura, segurança social e uma série de outros sectores
críticos da política económica e à permissão da livre circulação de pessoas e de capitais dentro das fronteiras da
Comunidade.
O tratado do Mercado Comum entrou em vigor, em 1 de Julho de 1958 e, em poucos anos, a Comunidade frustrou
os pessimistas ao encurtar, em vez de alargar, o período de transição.
Depois da assinatura do tratado do Mercado Comum, a Grã-Bretanha, os países escandinavos, a Suíça, a Áustria e
Portugal criaram a Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA), os chamados «sete de fora», em contraste com os seis
Estados inseridos no mercado comum. O tratado da EFTA só previa a eliminação de tarifas sobre produtos industriais
entre os países signatários. Não abrangia os produtos agrícolas, não previa uma pauta aduaneira comum e admitia a
retirada a qualquer momento de qualquer membro. Era uma união muito mais fraca que a do Mercado Comum.
TEMA 9 (PARTE 2) - 16. A ECONOMIA MUNDIAL NO FIM DO SÉCULO XX (PÁG 434 - 444)
A longa prosperidade económica da Europa do pós-guerra teve a sua correspondência noutras zonas da economia
mundial, nomeadamente no Japão. De finais dos anos 30 até finais dos 40, a economia japonesa tinha estado isolada do
resto do mundo, e o Japão podia adoptar muitas inovações tecnológicas a um custo mínimo. Mais importante foi o alto
nível de capital humano, que lhe permitiu aproveitar a tecnologia superior. Depois de o Japão ter compensado o seu
atraso tecnológico, tornou-se pioneiro na introdução de nova tecnologia, especialmente na electrónica e na robótica.
Para isto, pôde contar não só com as suas reservas de capital humano mas também com os elevados níveis de poupança
e investimento do povo japonês.
Outro factor significativo é a sofisticação da gestão japonesa, que compreendeu o elevado retorno da investigação
e desenvolvimento industriais. Poderíamos citar o espírito ou mentalidade do povo japonês – colectivista (num sentido

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geral), cooperante e dado ao jogo em equipa. Isto é evidente tanto nas atitudes dos empregadores para com os
empregados (e vice-versa) como na política governamental.
No fim do séc. XIX e na primeira metade do séc. XX, os países da América Latina tinham tido uma participação
activa na divisão internacional do trabalho, com base na sua vantagem comparativa em produtos primários. Mesmo em
meados do séc. XX, alguns deles os países do cone meridional (Argentina, Uruguai e Chile), gozavam rendimentos per
capita comparáveis aos da Europa Ocidental. A partir daí, na despropositada suposição de que eram de certa forma
cidadãos mundiais de segunda classe, dada a sua especialização em produtos primários, várias nações da América Latina
aderiram a programas de «industrialização de substituição das importações», tentando produzir para si mesmos os
produtos fabricados que anteriormente importavam. Estes programas goraram-se por vários motivos:
1. os mercados internos eram demasiados pequenos 2. havia uma falta de cooperação internacional na região
3. ao contrário do Japão, faltava à região capital humano para empregar com eficiência a nova tecnologia.
Embora a produção total, tanto industrial como agrícola, tenha aumentado substancialmente abaixo da do resto do
mundo, excepto da África e a quota da região no comércio mundial total diminuiu continuamente. As desfavoráveis balanças
comerciais das nações individuais, especialmente da Argentina, do Brasil e do México, deram origem a níveis alarmantes de
endividamento internacional nos anos 80, que ameaçaram todo o sistema de pagamentos internacionais.
As condições económicas em África tornaram-se com o avanço do séc. XX para o seu fim, ainda mais deploráveis que as da
América Latina. Às novas nações que emergiram com o fim do colonialismo europeu faltavam recursos, naturais e, em particular
humanos, para fazerem face às complexidades duma economia moderna. As circunstâncias políticas entravaram, de igual modo,
esforços de desenvolvimento económico.
Outra região do mundo que adquiriu uma grande importância económica na última parte do séc. XX foi o sudoeste da Ásia
ou Médio Oriente. A razão desta crescente importância económica pode resumir-se sucintamente numa só palavra: petróleo.
O petróleo foi descoberto no Irão (então chamado Pérsia) na primeira década do séc. XX e, subsequentemente, em vários
Estados árabes das margens do Golfo Pérsico – Iraque, Arábia Saudita, Kuwait e emiratos mais pequenos.
Em 1960, os países do Médio Oriente juntamente com s Líbia e a Venezuela, formaram a Organização dos Países
Exportadores de Petróleo (OPEP) a que vários outros países aderiram mais tarde. Em 1970, as nações da OPEP eram
responsáveis por mais de um terço da produção mundial de energia.
Mudanças políticas e religiosas no Médio Oriente alteraram o equilíbrio económico do poder. Em 1979, no Irão, uma
revolta religiosa fanática expulsou o Xá e instituiu uma república islâmica.
O COLAPSO DO BLOCO SOVIÉTICO (PÁG 436)
No segundo semestre de 1989 desenrolaram-se na Europa do Leste vários acontecimentos tão significativos como
inesperados: o derrube de regimes comunistas num país após o outro. Uma mescla de motivos políticos e económicos subjaz à
revolta das massas nessas terras de antigo domínio dos Comunistas. Tivessem esses regimes sido capazes de cumprir as
promessas de condições materiais melhoradas e de um alto nível de vida, e o povo teria provavelmente aceitado a privação de
liberdade; mas não foram. Pelo contrário, as circunstâncias materiais, incluindo as condições de vida e de trabalho das gentes,
deterioraram-se claramente, em contraste com as facilidades e a abundância dos seus vizinhos ocidentais.
Um dos acontecimentos mais dramáticos e simbólicos de 1989 foi a destruição do marco de Berlim. Durante quase três
décadas, permaneceu como um símbolo da tirania e repressão comunistas.
Em 1964, os conservadores na hierarquia do Partido Comunista depuseram o exuberante Nikita Khruchtchev, colocando no
seu lugar Leonid Brejnev, que governou quase duas décadas. Sob Brejnev, a economia soviética estagna; a ineficiência e a
corrupção proliferaram. Tanto a taxa de crescimento económico como a produtividade declinaram.
Quando Mikhail Gorbachov – primeiro dirigente soviético nascido depois da Revolução de Outubro – subiu ao poder em
1985, a economia estava em crise. Gorbachov apercebeu-se, sem dúvida, de que a União Soviética já não estava em posição de
impor a sua vontade aos seus relutantes ex-satélites. A sua maior necessidade era a de se reformar a si própria, e daí o programa
de Gorbachov de reestruturação e abertura. Embora Gorbachov desse, maior ênfase à perestoika (reestruturação), foi a glasnot
(abertura) que teve o efeito mais imediato. Uma das justificações da glanost foi a de recrutar a iniciativa e o entusiasmo da
população para as tarefas da perestroika, ou reestruturação económica.
Gorbachov defendia, aparentemente, um regresso a algo como a Nova Política Económica de Lenine, na qual o Estado
manteria o domínio dos «sectores vitais» da economia mas permitiria uma iniciativa limitada nos restantes.
Em Agosto de 1991, nas vésperas dum novo tratado entre a união Soviética e algumas das suas repúblicas constituintes
que conferiria muito mais poder a estas últimas, um pequeno grupo da linha dura do Partido Comunista tentou um golpe de
Estado. Os condutores do golpe, colocaram Gorbachov, então de férias na Crimeia, sob prisão domiciliária, suspenderam a
liberdade de imprensa e declararam lei marcial. Porém, o povo russo, especialmente os cidadãos de Moscovo e de Leninegrado,
recusaram-se a serem intimidados. Sob a chefia de Ieltsin e com o apoio de algumas unidades militares que vieram em seu
auxílio, desafiaram abertamente os condutores do golpe, que rapidamente perderam a coragem e fugiram, vindo a ser presos.
Três dias depois, um Gorbachov triunfante regressou a Moscovo, mas esta para onde voltou não era a mesma que deixara.
As relações de poder tinham-se alterado drasticamente. A maior parte das repúblicas constituintes declarou a sua independência
do Governo Central. Gorbachov demitiu-se da Presidência no dia 25 de Dezembro, e a União Soviética deixou de existir.
Alguns economistas que estudaram a União Soviética nos anos 60 e 70 previram o fenómeno de «convergência» - que a
economia soviética e ocidental se tornaria parecidas.
A ESFOLIAÇÃO DA COMUNIDADE EUROPEIA (PÁG 441)
Após mais de 30 anos de existência, a comunidade Europeia ainda não tinha realizado os sonhos e visões dos proponentes
mais ardentes da unidade europeia, uns estados unidos da Europa. Apesar da remoção de barreiras aduaneiras internas não tinha

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conseguido abolir todas as restrições ao comércio intra-europeu nem abolir as fronteiras aduaneiras internas. A união monetária
estava longe da conclusão e as crises orçamentais eram um problema perene. A admissão dos países mediterrânicos menos
desenvolvidos, Grécia, Espanha e Portugal, introduziu uma série de novos problemas, em particular na esfera agrícola.
O objectivo final da união política evoluiu por uma luta entre dois grandes grupos partidários:
 À Comissão Europeia, com sede em Bruxelas e as hostes eurocratas; juntou-se o Parlamento Europeu na procura de
medidas cada vez maiores de unidade e dum papel mais relevante para o Parlamento.
 Os governos estavam representados no Conselho de Ministros, também conhecido como Conselho Europeu, que
detinha o poder final em todos os assuntos não cobertos pelos tratados que instituíram a Comunidade.
Em 1985, o Conselho Europeu (chefes de Estado ou de governo) decidiu, prosseguir para uma maior união, e, em Fevereiro
de 1986 assinou o Acto Único Europeu (AUE), que assumiu a forma de emendas e aditamentos aos trabalhos existentes.
O movimento para a unidade sofreu um impulso noutra direcção em 1986, quando os governos de França e do Reino
Unido concordaram com a construção dum túnel de caminho-de-ferro sob o Canal da Mancha. A sua conclusão foi agendada para
1993, pouco depois da entrada em vigor do Acto Único Europeu.
Outro desenvolvimento favorável, também agendado para 1993, foi a criação dum Espaço Económico Europeu (EEE)
através da fusão da Comunidade Europeia com a Associação Europeia de Comércio Livre.
Em 1991, a Comunidade decidiu criar o seu próprio banco central em 1994, a que se seguiria uma moeda única em 1999.
LIMITES AO CRESCIMENTO? (PÁG 443)
Em 1972, previa-se que os limites ao crescimento neste planeta serão atingidos algures dentro dos próximos cem anos.
Invocaram-se cinco grandes tendências de preocupação global:
1. industrialização acelerada 4. diminuição dos recursos não renováveis
2. rápido crescimento populacional 5. ambiente em deterioração
3. subnutrição generalizada
Muitos críticos acreditaram que os autores tinham sobre dramatizado as suas conclusões, quase todos concordaram que
eles tinham identificado de facto tendências de «preocupação global», nomeadamente o crescimento populacional e a
degradação ambiental.
Durante mais ou menos os últimos cem anos, as nações abastadas sofreram uma transição demográfica de um regime de
elevadas taxas de natalidade e de mortalidade para um muito menor, com consequente redução da taxa de crescimento
populacional. A expectativa é de que, à medida que as outras nações mais pobres aumentam o seu nível de bem-estar material,
também estas reduzem as taxas de natalidade e, consequentemente, as taxas de crescimento populacional.
A desigualdade na distribuição de recursos – entre indivíduos, grupos sociais e nações, está no âmago do problema do
desenvolvimento económico. A sua solução não será fácil.
Vai exigir estudo, pesquisa e mudança institucional generalizada. É esse o desafio que enfrentam tanto as nações
desenvolvidas como as subdesenvolvidas. A história contada neste livro mostra que o desafio pode ser ganho.

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