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As Manifestações no Brasil

AMÉRICA LATINA EM CAUSA

Bianca Maria Lima Simonsen

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo


FAU USP

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Introdução

As manifestações que ocorreram em junho de 2013 no Brasil retratam


uma onda de insatisfação que já vinha ocorrendo por uma série de fatores, seja
no âmbito político, educacional ou cultural os quais vinham sendo enclausuradas
historicamente. O ano de 2010 foi um marco inicial do levante da multidão em
protestos que se espalharam por todo o globo, ano em que inicia a Primavera
Árabe (ANTOUN, 2015, p. 144).
O mundo árabe estava insatisfeito com as tentativas de repressão e
censura na internet e as más condições de vida, o que levou a um extremo que
deu início às insurgências: a autoimolação de um jovem, dono de uma venda de
legumes que teve o seu único meio de trabalho caçado. Este caso gerou um
forte desconforto na população, jovens que viam a sua liberdade se afastando
cada vez mais. Já em maio de 2011 um movimento intitulado 15M tomou as ruas
da Espanha. No mesmo ano, nos Estados Unidos o movimento “Occupy Wall
Street” de fato ocupou diversas ruas no país. No Brasil não foi diferente. Em
meados de 2011, com a realização das marchas da maconha, de liberdade e
das vadias, os movimentos já anunciavam o desejo dos brasileiros de ir às ruas.
(ANTOUN, 2015, p.144). O Brasil tem um histórico de manifestações no qual a
juventude e os estudantes foram protagonistas relevantes ou principais
(WARREN, 2014, p.417).
Sendo assim, levando em consideração os recentes fatos que vinham
ocorrendo no Brasil e no mundo, o que desencadeou toda a movimentação da
população brasileira foi a notícia do aumento do preço das passagens de ônibus.
O Movimento Passe Livre (MPL) que atua desde 2005 não se restringe só as
passagens de transporte público, mas diz respeito e questiona os direitos do
cidadão e à mobilidade urbana de uma forma geral.
Em fevereiro de 2013 pôde-se considerar uma retomada do MPL quando,
em Porto Alegre, o Bloco de Luta por um Transporte Público reuniu cerca de 200
pessoas contra um novo aumento no preço das passagens. Foi obtido certo
sucesso nas reivindicações levando mais de 3.000 pessoas para a
comemoração. Já no mês de junho os protestos se espalharam para as
principais capitais do país. Como São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória e Belo
Horizonte.
A prefeitura da cidade de São Paulo e o governo do estado anunciaram
um aumento de 0,20 centavos na tarifa de transporte público urbano. No
momento em que houve manifestações a polícia reagiu fortemente levando à
embates entre policiais, manifestantes e jornalistas, os quais saíram feridos. No
Rio de Janeiro chegou a ter 300 mil pessoas nas ruas, em São Paulo 150 mil
pessoas e em Vitória 100 mil pessoas. Entretanto, o principal motivo (0,20
centavos) acabou mudando devido à repressão policial. Esta, gerou outros
enfoques e levou à população a necessidade de lutar pelos seus direitos e
liberdade.
Uma das reclamações da população era o investimento na Copa do
Mundo de 2014 que estava para acontecer no Brasil. Segregação da massa e
altos investimentos na construção de estádios que deveriam ser empregados à
saúde e educação, por exemplo.

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“A política adotada pelo neodesenvolvimentismo para os megaeventos
agravou a tendência de exclusão e repressão das culturas populares do universo
do futebol e excluiu a maioria da sociedade brasileira da festa da Copa do
Mundo. Assim, a expropriação territorial, causada pelos megaeventos, também
atingiu o terreno simbólico, isto é, o lugar do brasileiro no futebol e nos estádios.”
(FERREIRA, Andrey, 2018.)

América Latina em causa

Este é um momento em que a América Latina no geral está passando por


movimentações políticas. “América Latina em Causa”, pois vários países têm se
mobilizado em prol de seus direitos. O contemporâneo dos anos 2010 está
engajando os coletivos à uma cidade-subjetiva. A mudança na tecnologia
interfere na reterritorialização das ações sociais (MESQUITA, André, p.98). Com
isso, pela primeira vez a população se sentiu encorajada a ocupar o espaço que
lhe é de direito e, diferentemente das outras que haviam ocorrido anteriormente,
em 2013 as manifestações no Brasil foram maiores que no final do século XX,
ocorreram em massa.
No livro América Latina e a Modernidade Contemporânea: uma
interpretação sociológica, José Maurício Domingues diz que os desequilíbrios de
poder moldaram e seguem moldando os desdobramentos da vida social do que
ele chama de “Subcontinente”. Isso, pois não consegue ter as mesmas
condições de evolução se for comparar à países como Alemanha, Grã-Bretanha,
França e Estados Unidos.
As manifestações no Chile que vem ocorrendo neste ano de 2019
estouraram também por causa do aumento nas passagens do metrô. Jovens
questionando as privatizações e a mídia que esconde as informações da
população. O país passou por uma forte ditadura não mãos de um governo militar
autoritário que governou o Chile entre 1973 e 1990. Assim, a constituição advém
desde esse período. Milhares de jovens na rua, reprimidos, clamam por uma
nova constituição e aguardam uma Assembleia Constituinte para a realização de
novos acordos até 2020.
Independentemente do grau de evolução, outros países como a Bolívia,
Equador, Argentina e Venezuela têm enfrentado desafios. Seja por lutas de
classe ou grandes empresas Estatais. A Argentina lutando pela legalização do
aborto, Equador por meio revolução indígena, e na Venezuela a crise se dá pelo
petróleo, este que detém a maior reserva do mundo. Toda essa movimentação
em sua maioria tendo em vista a oposição Neoconservadorismo x
Neoliberalismo.
Em tempos de embate, dadas as circunstâncias citadas e as consecutivas
manifestações que vem ocorrendo no Brasil, na América Latina e no mundo, não
podemos negar que o saldo de tudo isso se dá positivamente para as futuras
gerações. A população não quer mais ficar calada e luta piamente a favor do que
acredita. O homem de hoje vive o contemporâneo sem esquecer as suas feridas.

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O homem contemporâneo, portanto, goza de sua liberdade e se insere,
para assim, viver em um mundo onde a desigualdade e a violência sejam
diminutas; através de práticas artísticas, ativismo ou novas políticas chegamos
aos novos tempos que são agora.
“[...] o contemporâneo é aquele que percebe o escuro do seu tempo como algo
que lhe concerne e não cessa de interpelá-lo, algo que, mais do que toda luz,
dirige-se direta e singularmente a ele” (AGAMBEN, 2009, p. 64).

Bibliografia

• SANDEVILLE JR., Euler, BASSANI, Jorge. “Paisagens Contemporâneas:


Contracultura e Resistência, AUP5883/2019”. A Natureza e o Tempo (o
Mundo), on line, São Paulo2019. Disponível em http://biosphera21.net.br/4-
ENSINO-PAISAGEMCONTEMPORANEA-2019.html, acesso em 26/12/2019.

• DOMINGUES, José Maurício. A América Latina e a Modernidade


Contemporânea: uma interpretação sociológica, Belo Horizonte. UFMG, 2009,
p.255.

• ANTOUN, H.; ROSEIRA, E. (2015) As jornadas de junho de 2013: O


#vemprarua no Brasil, v. 04, p. 144.

• WARREN, ILSE. (2014) MANIFESTAÇÕES DE RUA NO BRASIL 2013:


encontros e desencontros na política, v. 27, n. 71, p. 417-429

• MESQUITA, ANDRE (2005) Arte-ativismo: Interferência,coletivismo e


transversalidade, p.98.

• https://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/12/1390207-manifestacoes-nao-
foram-pelos-20-centavos.shtml?origin=folha, acesso em 15/12/2019.

• https://diplomatique.org.br/ecos-de-junho-insurgencias-e-crise-politica-no-
brasil-2013-2018/, acesso em 26/12/2019

• https://oglobo.globo.com/mundo/apos-quatro-semanas-de-protestos-chile-
mudara-constituicao-herdada-da-ditadura-24083035, acesso em 26/12/2019.

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