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Introdução
No Brasil, o Presidente Jair Bolsonaro que é um político de direita. Essa nova direita,
que está pautada na disputa sobre o comportamento dos indivíduos, que organiza sua atuação
política em torno das pautas sociais, pode ser nomeada como direita radical. Essa direita
radical é compreendida como uma forma particular e atual da direita, que tem três aspectos
principais:
1
Horário Político Gratuito Eleitoral.
i)em relação à economia, por visão de orientação neoliberal, marcada por
uma postura radicalmente não intervencionista do Estado no mercado; ii) em
relação às desigualdades socioculturais, por pautas conservadoras no âmbito
comportamental e pela defesa da ingerência do Estado nas escolhas privadas
de indivíduos e famílias em questões relativas à orientação sexual, religiosa,
cultural e educacional; iii) no âmbito da democracia, por hostilidade ao
sistema político e à forma pela qual a representação política é desempenhada
no país, buscando suprimir discursos e partidos políticos oposicionistas.
(SANTOS E TANSCHEIT, 2018).
Outro aspecto fundamental da ascensão da nova direita é a “emergência de uma nova retórica
nesse debate: a supressão histórica ou a subversão factual da realidade - o uso da
argumentação fake - como base de uma discussão que se pretende legítima” (CEPEDA,
2018).
Como objeto de análise, foi utilizado o banco de dados do site do Governo Federal,
com dois diferentes tipos de repositório de discursos oficiais - o “Pronunciamento do Senhor
Presidente da República, Jair Bolsonaro, em cadeia de rádio e televisão” 2 e os “Discursos
oficiais do Presidente da República”3.
Os Pronunciamentos em cadeia de rádio e televisão somaram um total de 10 discursos,
de março a dezembro, o que não é uma quantidade grande para a análise de contagem de
palavras. Contudo, com o decorrer da análise, achamos alguns aspectos interessantes, que se
sobressaíram nos pronunciamentos e que demonstraram sua força quando ampliamos a
amostra da pesquisa para todos os discursos oficiais. Os Discursos oficiais do Presidente da
República foram os feitos em eventos oficiais que totalizam 113 peças. Eles foram
organizados, para vias de análise, em Dia e Mês, de março a dezembro.
Uma ferramenta quantitativa utilizada nessa pesquisa é a identificação da frequência
de palavras mais ditas na totalidade dos discursos, a frequência de palavras mais ditas
divididas por mês e a dispersão de palavras importantes na disputa de sentidos nos discursos.
Esse conjunto de ações se transformam em um método de quantificar e assim complementar
as análise sobre o papel dos discursos das lideranças políticas.
Site https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/pronunciamentos
Acessado em 06.01.2021
3
Site -> https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/discursos?b_start:int=90
Acessado em 08.01.2021
Figura 1. Nuvem de Palavras Discursos em Rádio e TV
Do total de dez discursos proferidos, quatro foram feitos em março, dois em abril, um
em agosto, dois em setembro, um em dezembro. Em maio, junho e julho não foram feitos
nenhum discurso. Há quem diga que foi uma estratégia, pois nesse período houve importantes
acontecimentos envolvendo o Governo de Jair Bolsonaro e os componentes de sua família.
Esses eventos se concentraram nos meses de abril, maio e junho, podendo ser, assim, um dos
motivos do silêncio do Presidente em meio à crise do Coronavírus.
Além dos acontecimentos relatados acima, que podem ter influenciado o Presidente
Jair Bolsonaro a não se pronunciar, há uma mudança na percepção do brasileiro sobre a
responsabilidade das mortes pelo coronavírus4. Junto a isso ou até como consequência disso,
no início de agosto a aprovação5 do presidente da república começa a aumentar.
4
https://veja.abril.com.br/politica/pesquisa-aprovacao-de-bolsonaro-cresce-mesmo-em-meio-a-crise-da-covid-
19/ acessado em 09.01.2021
5
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pesquisas_de_opini%C3%A3o_sobre_o_governo_Bolsonaro visto em
20.01.2020
Tabela 1. Frequência de palavras mais ditas em Rádio e TV
A palavra que aparece nas duas frequências de palavras mais ditas é Brasil, que pode ser
interpretado a partir do caráter nacionalista, ou somente como uma palavra muito dita por
conveniência do Discurso. Se nos discursos em Rádio e TV a palavra saúde aparece em
segundo lugar, nos discursos oficiais ela não aparece na frequência de palavras mais
proferidas.
As palavras Deus e Povo são uma composição de interessante análise, ambas são
formas abstratas de representação, uma de uma figura simbólica religiosa com forte apelo no
Governo, e a outra a representação do sentimento coletivo de nação.
Cada uma das frases tem um contexto diferente, contudo evocam a filiação religiosa
do Presidente Jair Bolsonaro. Com o objetivo retórico, ou não, o que se passa de mensagem
em seu discurso é de que deus, a moral cristã, é um importante pilar de seu governo, de suas
crenças e, portanto, de sua relação com sua base de apoio.
Tabela 3. Frequência palavras mais dita por mês nos discursos gerais
Apesar de não aparecer nas palavras mais proferidas, ao fazer a dispersão lexical de
algumas palavras, pude perceber que a palavra pandemia também foi muito citada, obtendo
64 citações em um total de 42 discursos de 113 proferidos.
O discurso em que a palavra foi mais citada foi o discurso do dia 21 de novembro, na
“Cúpula do G20 (videoconferência) - Sessão I – Superação da pandemia e restauração do
crescimento e do emprego”. Nesse discurso dois temas ganham destaque no conteúdo da
argumentação de Jair Bolsonaro sobre o enfrentamento a pandemia – tratamento precoce e a
não obrigatoriedade da vacina:
Apesar do discurso sobre o tratamento precoce, a cloroquina não aparece como uma
das palavras mais faladas pelo Presidente. Fazendo a dispersão lexical da palavra cloroquina
vemos que ela é utilizada em cinco discursos nos meses de agosto e setembro.
6
O que se sabe até agora sobre cloroquina, droga defendida por Bolsonaro - 9 de Julho de 2020 -
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-53341198
7
Cloroquina contra coronavírus: por que OMS decidiu interromper testes com remédio em pacientes com
covid-19 - 26 de Maio de 2020 - https://www.bbc.com/portuguese/geral-52806209
8
'Tratamento precoce': governo Bolsonaro gasta quase R$ 90 milhões em remédios ineficazes, mas ainda não
pagou Butantan por vacinas 21 de Janeiro de 2021. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55747043
9
Aplicativo do Ministério da Saúde recomenda tratamentos que não funcionam para Covid-19. 20 de Janeiro
de 2021. https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2021/01/20/aplicativo-do-ministerio-da-saude-
recomenda-tratamentos-que-nao-funcionam-para-covid-19.ghtml
10
RECOMENDAÇÃO Nº 053, DE 14 DE AGOSTO DE 2020. http://conselho.saude.gov.br/recomendacoes-
cns/1320-recomendacao-n-053-de-14-de-agosto-de-2020
A vacina, que é uma medida defendida pelos organismos de saúde internacionais e nacionais,
não estava entre as palavras mais faladas pelo Presidente Jair Bolsonaro. Fazendo o gráfico da
dispersão pelos discursos dessa palavra, observamos que ela foi utilizada em doze discursos.
Os dois discursos em que ela foi mais utilizada foram nos dias 18 de dezembro e 16 de
outubro de 2020. Mapeando os discursos, podemos identificar a opinião política do Presidente
Jair Bolsonaro sobre a utilização das vacinas:
Essa opinião política tem um efeito imediato na disputa dos sentidos do combate à
pandemia. A mensagem que o Presidente Jair Bolsonaro busca passar é de que as medidas de
restrições e de isolamento podem trazer mais consequências negativas do que o próprio
coronavírus, com o desemprego, vem a violência e com isso mais mortes. “Quando ela [taxa
de desemprego] cresce a violência também aumenta, tem aumentado com a questão do
isolamento, a violência doméstica, questões que têm a ver com a saúde e com o bem-estar do
cidadão. (05/06/2020)”.
Nos discursos em que aparecem a palavra ciência, ela não compõe o sentido de valorização da
opinião e dos estudos da comunidade cientifica. Ao contrário disso, o Presidente da República
visa pressionar a ciência a reconhecer o valor do remédio Hidroxicloroquina que é utilizado
no Kit de Tratamento Precoce divulgado pelo Governo Federal:
Então meus senhores, este Brasil é fantástico, nós devemos nos empenhar,
botar a cara a tapa como a Raissa botou, o vídeo chegou para mim, liguei para ela,
nunca vi ela na minha vida, quer hidroxicloroquina como? Tem que chegar
diretamente aqui, se não tiver por outro lugar, não vai chegar, vai ficar retido no
caminho, fizemos isso, tenho certeza que a história, a ciência vai reconhecer o
trabalho dela que salvou, dezenas, centenas junto com seus colegas milhares de vidas
no Brasil. (Jair Bolsonaro – 18/12/2020)
CONCLUSÃO
Esse trabalho existe pela necessidade de se compreender cada vez mais os sentidos da
intervenção como discurso das lideranças políticas. O discurso político sempre foi uma
estrutura fundamental na persuasão política e no convencimento dos indivíduos. A
democracia sempre teve na discussão, dos cidadãos, dos representantes, um pilar de
sustentação. Na contemporaneidade, a democracia vem adquirindo novos contornos, e um
deles é a centralidade do papel dos meios de comunicação de massa e a consequente
transformação do canal de comunicação entre os sujeitos, os indivíduos, e os seus
representantes.
Essa transformação não pode deixar de ser estudada pois não diz respeito somente a
representação política, mas a toda a organização da sociedade. A criação de redes sempre foi
importante e é uma maneira de recrutamento dos partidos e do sistema político, contudo a
atual utilização da internet fecha os grupos em si e com isso potencializa a criação de
informações falsas (fake News) e com isso capacidade de disputa da verdade.
Quando o indivíduo recebe uma informação em um canal de comunicação fechado,
como um grupo de Whatsapp ou grupo de Facebook, postado e divulgado por pessoas de sua
confiança, pessoas que você mantém sua rede de comunicação e relação, fica mais difícil de
denunciar e reconhecer uma notícia ou evidência falsa. Junto a isso, há o crescente papel
ideólogo da religião, que foi um fator observado nessa pesquisa, nas declarações do
Presidente Jair Bolsonaro.
Apesar de não figurar entre as palavras mais ditas, a disputa de sentido que foi feita
pelo Presidente Jair Bolsonaro durante o combate a pandemia do coronavírus tem a ver com
as medidas que devem ser tomadas pelo governo para preservar a vida, a saúde e a economia
da nação. Os seus discursos buscavam construir sentido positivo ao tratamento precoce,
posicionamento contrário a obrigatoriedade da vacina e críticas ao isolamento social.
Ele utilizou os seus espaços de discursos para questionar, mesmo que indiretamente, a
ciência, e defender a cloroquina, defender a não vacinação obrigatória e enfrentar os
governadores e prefeitos que praticaram medidas de isolamento mais duras.
BIBLIOGRAFIA
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THOMPSON, John B. Ideologia e Cultura Moderna: teoria social crítica na era dos
meios de comunicação de massa. Editora Vozes. 2011
Últimos Pronunciamentos. Acessado pela última vez em 21.01.2021-> Últimos
Pronunciamentos — Português (Brasil) (www.gov.br)
Últimos Discursos. Acessado pela última vez em 21.01.2021-> Últimos Discursos —
Português (Brasil) (www.gov.br)