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Direitos autorais: Reservados, segundo legislacto er vigor, a Editora Dois de Julho. Capa: Diagramagio eletrénica: ‘Valnei Mota Alves de Souza, Couto Coelho - coutovsk:iyahieo.com.br Bditora Dois de Julho + wun editoradoisdejulho.com.br Consethe Baitori + Andrea Gastron (Universidade de B + Antonio Adonias Aguiar Bastos + Carlos Ramos Nies (Pontificia Universidacle Catdica do Peru - Per + Cynthia de Araujo Lima Lopes (Universidade Federal da Bahia ~ Brasil) lego M. Papayannis (Universidade de Girona ~ Espanha) Fabio Periandro de Almeida Hi 108 (Universidade Federal da Bahia~ Brasil) + Luiz Antonio des Santos Bezerra (Universidade Estadual Santa Crus Brasil) * Maria José Oliveira Capelo Pinto de Resende (Universidade de Coin. ra Por tu + Marta Biagi (Universidade de Buenos Aires ~ Argentina) + Paulo Cesar Santos Bezerra (Universidade Federal da Bahia ~ Brasil versidade de Buenos Aires ~ Argentina) * Valnei Mota Alves de Souza [Instituto Baiano de Pesquisa e Estudos Juri cos - Brasil) + Vallisney de Souza Oliveira (Universidade de Brasilia - Brasil) *+ Wagner Mota Alves de Souza (Instituto Baiano de Pesquisa e Estudos Jutidi cos ~ Brasil + Washington Luiz da Trin lversidade Federal da Bahia ~ Brasil) + Wilson Alves de Souza (Universidade Pederal da Baba ~ Brasil) ~ Presidente. homenagem a unt Baano SuMARIO. Prologo do coordenador ~ Ricardo Rabinovich-Berkman Primeira parte DIREITOS HUMANOS Prefiicio do coordenador — Ricardo Rabinovich-Berkman Capitulo f Progreso cientifico y tecnoldgico y derechos humanos ‘con especial referencia al derecho a Ia salud = Eduatdo Luis Tinant 1. Progreso, cientifico y teenolos gico ¥ nuevas necesidades... juridico- las generaciones de derecho: derecho a -y el valor sociologico de la amistad A mode de conclusién . encias, . ‘Trafico de pessoas: a redugio do ser humano para aquém do minimo ético universal e humanitario. = Aaréo Miranda da |. Do conceito de tritico de pessoas fe, guna sola?) smistad .. Capitulo 1 JUDICIALIZACAO DAS POLITICAS PUBLICAS: LIMITES REFLEXIVOS E A PERSPECTIVA DA DECISAO Wéther Araujo Carneiro* walber.carneiro(@gmail.com SUMARIO: 1. Invodugdo ~ 2. © macromedelo positivist - 3. 0 inados casos e legitimam intervengGes judi De outro, questionando a validade de tais dica e reconhecendo os limites orgamentérios na concretizacao da dimensio positiva de direitos fundamentais, restringe-se a possibilidade de intervengao Pés-Doutor em Teoria da Consttigo pela Universidade do Val do Rio dos Sings ~ UNI- oa Walber Araujo Carneiro do Judicidrio*, Tal cenério reduz o problema da realizagtio do Estado Sociat ‘a uina tenso que permanece entre o ““compromisso irresponsavel” de uma constitucional, gerando um éficits na autonomia do sistema juri ympromisso irrespon- surgem decisdes stas que enfrentam o problema no mbites i a frente a questdes que exi-~ ‘uma cidadania aut curso da “esperangé 6 possivel em razto de uma mudanga de plano na observaglo. Somente uma perspectiva eapaz de obervarasintepenerades entre policae ; Judicializagio das politicas publicas: limites reflexives... 99 juridic ter consciéncia das limitages deste Poder, bem como da importéncia ‘do bom funcionamento da polit ito do Poder Legislativo, no Ambito da Administragio Piiblica”®. Mantendo esse diagndstico, a questo ‘Antecipando algumas hipéteses, é importante ressalvar que a avaliagao um determined PROT aeCi- da jurisdigdo no controle de nto do problema io indevida, 0 uso de tais standards ndo apenas se faz necessério em espaciais deste trabalho, mas também porque é justamente tal generalizaco paz de dar conta , 2006, ps. 25. Ver tannin CARNEIRO, Walber Araujo. Heterorreflexiva, 2011, p. 124-125. 100 Walber Araujo Carneiro dos macromodelos apresentados, os efeitos “diabélicos” decorrentes das deci de intervencao nas ‘il ave para a questio esta n veapicleade de contribuir para a autonomia do mento do ssiema ao seu entomo = ampouco abertura incondi um movimento de abertura e fechamento em condigdes espe to da autonomia assumira um lugar central na andlise dos macromadelos te6ricos. t Por fim, embora aqui nio seja possivel desenvolver ou apresentar al nativas de modo satisfat digmaticos que, a nosso ver, devem ser considerados, a fim de que a at dade jurisdicional de intervengo nas politicas piblicas néo seja corrompida, atenda & necesséria autonomia do sistema e, consequentemente, corrobor ‘com uma concretizaciio democritica e isonémica da cor 2. O MACROMODELO POSITIVISTA / 10 nfo se edifica sob a perspectiva da decisto. revolucionirio burgués, a cigncia do direito oito- © positivism pri fe que visam & construcio de um sistema abstrato e logicamente coerente. Mesmo se considerarmos a importincia do historicismo alemao na edifica- ‘so do positivismo (eis aqui o problema da generalizagdo), a Jurisprudén de Conceitos, que seguiré apés os trabalhos do jovem Savigny, sucumbiré 4 perspecti a de sistema''. Puchta e Windscheid, guardadas as devi- das diferengas, trabalharam para edificar um sistema que obedece a enlaces 9. CE PASSOS, JJ. Calon de. Cidadania tuclada, 2014 10, FERRAZ JR, Téxcio Sampaio. ciéncia do dtcito, 1980, pg. 22°26. CE. WIEACKER, Franz. Historia do direitoprivado moderno, 200, pg. 365-395. M1, CELARENZ, Kae. Metodologia da Cieia do iret, 1997, pa. 21-39 judicializagao das politicas publicas: limites reflexivos... 101 conceituais que formam uma estrutura cexegeta dos franceses, teremos as matrizes 10 “generalista” que perfaz.o macromodelo posi I que se desenvolve na formagio fas a ponto de formar um sistema e, consequentemente, tomar pos- ivagilo, a criago de um cédigo claro e completo”. Doce ilusio. A Escola de Exegese surgird, justamente, como uma resposta darwiniana as imperfeigBes do cédigo, embora com o intuito de corris sem afetar a vontade do legislador. Nesse modelo, encontraremos uma total cisio entre a interpreta- fo (esclarecedora) do cédigo ou da formulagdo légica de conceitos ¢ 0 momento da aplicagao". O positivismo primitivo oitocentista ndo voltava sua metodologia para a “aplicaco”, embora todo seu intento estivesse — especialmente no caso da Exegese francesa — voltado para preparar a pre- missa do silogismo aplicativo. A aplicacao em si, uma vez clarificada a premissa normativa, seria resultado de uma relagio simbiética entre lin- guagem e realidade, uma relagdo que poderiamos considerar ultrapassada, até mesmo para aquela época, se considerarmos os avangos na filosofia da Jinguagem desde 0 “Cratilo” de Platéo'’, Mas, crendo nessa relagao espect- ,€ sendo a linguagem juridica o resultado de um cAlculo verdadeiro, seria ide quem deveria sucumbir ao direito, € nao 0 contrério. Por essas € hoje temos dificuldades em avaliar a validade dos milhées de celebrados por adolescentes. O célculo envol= do contrato”, nos mantém na esquizofrer {ja que a economia e 0s adi quando celebram seus contratos. ipica dos estudantes e professores de Dit ndo esto muito preocupados com Para a perspectiva positiviste primitiva, a democracia surge uma possibilidade sustentada na mitica manutengio da vontade do le dor, enquanto que a isonomia entre os destinatdrios do direito ¢ resolvida mediante a colocagio de regras gerais interpretadas abstratamente mediante conclus6es contrafticas (sem contaminagio da realidade), Se o resultado do 12, CE dem. idem, 1B. CE NEVES, A. Castanheira Digesta, 1995, pg. 182. 14. CE STRECK, Lenio. Verdade ¢consens0, 2011 1S. CL GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método, judicializagao das politicas piblicas: limites reflexivos, 103 Judicializagéo das politicas publicas: limites reflexivos_—‘103. parte! —acentuam 0 feito diabélico da funglo simblica da jurisdi¢fo. Atwo- ‘iam a5 possibilidades de abertura do sistema juridico medi ia 102 Walber Araujo Carneiro AO a __ WAIRTAIS Cileg calculo da premissa no resulta de processos concretizadores, nflo sabere. jonariedade seri encoberta por uma metafisica despétic, que diz controlar com seus mecanismos cognitivas um ato de inexorével positivos que elas produzam. 3, 0 MACROMODELO NEOPOSITIVISTA essas criticas ja derivam do prépri ismo. Em uma palavra, Kelsen, Basta ele para derrubar o castelo de cartas das teorias do séc. XIX. Todavia, ‘enquanto a mé formagio teérica,do jurista permi como um exegetapreccupado coh toda palavra seré poucal”. jonomia do direito e, conse- igico ~ que consideram, por exemplo, desnecessério, just 10, responder a todos 0s argumentos da 16, KELSEN, Hans. Teoria Pu 17. CEL-CARNEIRO, Wilber 1998, ps. 392.393, eaten Fi 20, CE KELSEN, Hans. Teoria Pura do Dirt, 1998. trorteflexiva,2011, pg. 161 104 Walber Araujo Carneiro e silogistica na cadeia de fundamentagao e derivagao. Democracia ¢ isonomia podem set pretensdes saudaveis no ambito politico-ideolégico — certamente figura de Kelsen -, mas no sio condigées de validade dade. O problema da democracia ¢ da isono- icamente, tomam-se no direito um problema a ser resol- imagdo procedimental, nZo sendo controlivel mediante {que reproduzam a vontade do legislador e, consequen- verdade_proposicional e do exercicio. do poder) e obedeceré 1a sanidade ¢ disposigao para a luta), Os_ ifoloperagdes fechadas, mesmo quando aten- ns neo ser opr pa polis no acompanhado de incluso generalizada (de todos os vetores eriticos) na irritagao do sistema. Dir Ross que “nosso ponto de partda é que a tarefa do juiz € um problema pritico, 0 © conheeimento de diversas coisas (os fats do caso, 0 contetdo da norma jrieas, et) ‘deserpentia um pape nessa dcis foe, nessa medida, 2 administragdo da justia se funda em ‘Speci KELSEN, Han ert Parco Do, 1998p 390-391 Jadicializagao das politicas piblicas: limites reflexivos, 105 vista nos revela que 0 positivisme juridico é, a0 con- modelo neapasi iri € de sua forma pri- ‘juridico. A terceira via, mas aturalismo e.do.positivismo, que, por falta de um nome melhor, amos chamar de p6s-positivismo. 4, O MACROMODELO POS-POSITIVISTA Devo confessar que nio gosto do nome pés-positivismo”. Talvez por- ‘que, ao conviver com as ditas propostas, sinto mais de perto a angistia decorrente de uma generalizagio indevida que, na verdade, esté presente em todos os macromodelos. Talvez porque presencie © modo como algu- , normalmente tomadas por p6s-positivistas, sto deturpadas no ico brasileiro”, embora isso ocorra também com as formas istas. Ou talvez porque as correntes que denominamos p6s-posi- ‘quanto & efetiva capacidade de evi modo, se quisermos evitar mal-en igar” chamado pés-po: ids, no podemos , a partir dele, iniciar nossa desconstrugzo. Nao_¢ possivel dissoci que se_chama de pbs- smo" do péi-guerra, Para alguns, 0 tule puede denominarpostposvista preisamente porque muchas dels enseanzas 4 pstven a op y hy Toe eto se ses 2 2 247-248. CARBONEL, Miguel. Nuevos tiempos para el 106 Walber Araujo Cameigg str rato Came 6s-positivismo é a doutrin filos6fica equivalente a essa nova forma de yep 8 constituigao®, por um lado permitindo as novas leituras substanciaise gist gentes, por outro como resultado da demanda por ‘mutagdo consttuei titucional. E 0 horizonte te6rico alemAo é, certamente, Se Viehweg acusou a histéria da metodo tas vezes, esquecidos. No contexto lus0-hi : oe ‘como a de Castanheira Neves™, Carlos Cos: prio Dworkin", autor multirreferenciado no Brasil, é lembrado, na maioria fas ve7es, em razio de sua resposta 20 neo para além da distingdo forte entre regras e prin sessenta (¢ aqui jé deixamos de lado as policies) seumodelo de integridade e coeréncia, esquecidos até mesmo nas acessiveis eomoliteratura™, abertura dialégica de Haberle” e a analitico-argumentativa d riam o circulo da associagdo entre pés-positivismo e neocon No Brasil, fortemente influenciada pela chamada “nova herm cons. de uma cigncia “normativa” ced Tugar a uma ciéncia “con- cretizadora”, Admitindo ou ndo a inexorabilidade da relagdo entre interpretar € aplicar, seria possivel, a partir desses novos modelos, ir além quanto as pretenses de racionalidade, se considerissemos que a resposta estava semdo dada em face de um caso concret. veis no macromodelo pés-positivista, mi do 0 debate diretamente relacionado ao “método de interpretagdo constitucional”, sfo, Com esse novo cenirio concreto-problematico-2j concretizagdo deixava de ser vista como porta de entrada para digo de pos: >, Luis Roberto, Interpret iagto da Const tncio Martie. Interpretago constituciona, 2007. ESSER, Joseph. Grundsar und Non sma.¢o seu senti- thodentehre der Rechuewigsenschaf, 1969. Wilhelm. Systemdenken wnd Systembegrif in der Theorie der Rechtsgewinmung: Ent 37. KAUPMANN, Antur. Belirige sur jurisischen Hermeneutk: sowie weltere rechspht- losophische Abhandtungzn, 198. 108 Walber Araujo Carneiro Judicializagio das politicas publicas: limites reflexivos... 109 Judicializagio das politicas publicas: limites refexivos.._109. inovador. 0 ee 1a, a partir de entdo, sobrecarregado. A.adequagdo problematico-concretizadora do direito legislado, no movi- Interesses de Heck, para além da equagao valorativa do legislador, encon- , de algum modo e com 0 auxilio da indispensa- \de promovida pelo problema, ajustar com razoa- ‘ase falar —embora “aberto” (Canaris), cont do sone plc. fee cam ridico as solugdes magicas da * de interpretago constitucional. Solugdes deturpadas que niZo idas por nenhum dos autores que, em tese, teriam sido 05 ‘esse modelo. — uma vez consideradas as condigdes auténticas das teorias pos- deverfamas estar atentos ao seu excesso de heterorreferéncia pensados em uma estrutura compl -gumentativo, a exemplo de Perelms e atravessados por uma critica di , Ferraz Jr e Adeodato®. No dade aberta de inuérpretes de Tab ica, comprometeriio 0 ideal democrético 2003, 54, HABERLE, Peter. Die ofine Gesellchaft der Vrfassungsnterpreten in JZ, 1975 2a 110 Walber Araujo Cameiro ‘qual autores, como Mi constitucional na cone: Streck*, acentuam o papel da estrutura do vexto Por outro lado, se desconsiderarmos uma percepgio autntica das teo- rrias réferidas como pés-po “a partir do modelo, no apenas mata as possi decisdes, como jamais garantica igonomia, ja que nfo co coeréncis. As decisBes no sero fmto da autonomia do de razio moral, econéi tica,religiasa-ete. Uma corrugao velada pela falsa impressao de fechamento. Uma democracia arruinada pela falsa impres S80 de que 0 TudicTrio as: da transformagao” e da realizagao das promessas tardias da modemidade. Besse 0 cer 40 simbélico-dial manutengdo desse “senso comum epistémico”, leituras substanciais ¢ concretizadoras da c frgmenta 6 sistema, 0 volatiza e 0 condena a desfuncionalidade. Mas, antes de fragmentar-se por completo, deixard 0 Judiciério abarrotado de proces- sos, incentivard reformas processuais que destruirdo garantias processuais, ‘em nome da necesséria solugdo de demandas de massa, las Cortes-fast Food wm cassino, onde jo; + emocionante, mas, como todo jogo

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